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Resenha Dos delitos e das penas de Cesare Beccaria

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ASSOCIAÇÃO CARUARUENSE DE ENSINO SUPERIOR – ASCES 
BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESENHA DO LIVRO “DAS PENAS E DOS DELITOS” – CESARE 
BECCARIA 
 
 
 
 
GUSTAVO DE ALMEIDA LINS 
 
 
 
 
 
 
Resenha apresentada para a 
disciplina Criminologia, 
ministrada pelo Prof. Arquimedes 
Melo para fins de obtenção de nota 
parcial da 1a Unidade – 2o Período 
Noturno “3”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CARUARU 
2015 
 
 Para a boa compreensão da relevância do pensamento e da obra “Dos delitos e das 
penas” de Cesare Beccaria é necessário que seja apresentado o contexto sob o qual o autor 
viveu e escreveu. 
 Beccaria nasceu em 1738, período em que os ideais iluministas estavam em alta na 
Europa. Ele contribuiu disseminando os ideais de liberdade do século XVIII. A sua obra 
foi bastante revolucionária, a quem diga que ele introduziu o estudo de Direito Penal. A 
principal preocupação do autor está fundamentada na proporcionalidade e justiça das 
penas, o que confrontava diretamente as práticas brutais que o mundo estava acostumado 
a ver. Apresentado brevemente o contexto do autor, far-se-á uma análise dos principais 
pontos da sua obra “Dos delitos e das penas”. 
 O autor é adepto do Direito Natural e defende, no seu prefácio, que a Lei Revelada 
(por Deus) é imutável, pensamento que era predominante nas pessoas da época, temendo 
possíveis penas, ele expressa que vai contemplar sobre as convenções sociais, trazendo um 
esboço sobre o jusnaturalismo. 
 Dentro de uma concepção lógica, na sua introdução é tocado em um tema 
complexo, que hoje faria parte dos estudos da Sociologia do Direito não existente tal 
matéria no contexto do autor. Ele traz uma abordagem bastante profunda dizendo que 
somente as leis podem impedir que as classes elitizadas (clero e nobreza da época) abusem 
da massa popular. É um conceito notável em sociedades como a brasileira, onde alguns 
doutrinadores afirmam que o direito é um mecanismo de controle social que favorece às 
elites capitalistas. Não se pode porém, afirmar que é correta e absoluta tal afirmação. 
 Explana ainda, uma crítica ao modo de elaboração das leis, e o faz analisando 
historicamente, que foram criadas não para a finalidade de garantir o bem-estar social, mas 
para favorecer as minorias. 
 Beccaria demonstra que as verdades filosóficas, que foram difundidas pela 
imprensa, levaram a uma revolução, tanto no comércio como na relação entre súditos e 
soberanos. Porém, levanta uma questão fundamental que seria a negligência, por parte das 
pessoas, em acordar para a realidade penal, bem como, despertar e compreender a 
irregularidade presente nos processos criminais. Ainda produz uma crítica aos filósofos 
pelo fato de não terem voltado à sua atenção para essa realidade de crueldade presente no 
período. 
 No capítulo II, o autor considera que é a razão humana que deve garantir a justiça 
nas punições, porém essa racionalidade é o tanto quanto emocional. Observa-se isso 
quando ele utiliza a frase: “Consultemos, pois o coração humano; acharemos nele os 
princípios fundamentais do direito de punir”. Nota-se que, segundo ele, as punições para 
os delitos devem ser fixadas em leis que tenham por base fundamental o sentimento de 
humanidade presente exclusivamente no animal homo sapiens. 
 Ainda dentro deste capítulo, o autor versa a respeito de meios que são 
imprescindíveis para que os particulares (levando em consideração a teoria hobbesiana) 
não tenham um mando absoluto sobre a liberdade dos outros. Logo, esses meios foram a 
criação das penas estabelecidas para a punição de quem infringisse a(s) lei(s). 
 No próximo capítulo, é colocado expressamente que somente o texto legal pode 
delegar as penas para os delitos, e apenas o legislador tem o direito de escrever a matéria 
penal, visto que, ele representa o povo, logo, a vontade do povo estará presente na lei 
Título: Analogia do pensamento de Cesare Beccaria com a realidade contemporânea 
Autor: Cesare Beccaria 
Resenhista: Gustavo de Almeida Lins 
escrita pelo legislador. Porém, assim como em sua época, hoje é visto que nem sempre a 
vontade do povo está escrita nas leis legisladas. 
 No capítulo seguinte, fica evidente que o pensamento do autor é semelhante à 
doutrina da Hermenêutica Formal, que basicamente dita que a interpretação deve ser 
apenas aplicar a lei sem discuti-la, logo, como visto neste capítulo, Beccaria afirma que os 
juízes dos crimes não podem ter o direito de interpretar as leis penais, pela razão mesma 
de que não são legisladores. Portanto, fica claro que essa visão é bastante semelhante à 
Escola da Exegese que utiliza a Hermenêutica Formal como método interpretativo. Em 
suma, o capítulo IV foi reservado para defender a tese de que a lei é a única fonte do Direito 
(Kelsen) e dever ser aplicada ao pé da letra. 
 Prosseguindo, o aturo compreende que para que haja uma diminuição dos delitos 
deve-se primeiro fazer-se conhecidos os textos das leis para o maior número possível de 
cidadãos que por consequência saberão o que não fazer para não cometer delitos. Coloca 
ainda a importância da imprensa na divulgação das brutalidades dos crimes. 
 No capítulo VI, o autor continua colocando o Poder Judiciário com uma função 
apenas técnica, porém, dessa vez, ele afirma que os magistrados não têm o direito de 
decretar a prisão de outrem, somente a lei pode determinar tal ato, se ela não o fizer o juiz 
não poderá fazer. Há também uma crítica que pode-se aplicar ao nosso contexto. Cesare 
Beccaria demonstra indignação a respeito da ressocialização dos indivíduos anteriormente 
carcerários. Observa que no Império Romano os cidadãos que eram condenados por crimes 
hediondos mas posteriormente declarados inocentes, eram tidos como heróis do povo e 
recebiam cargos elevados no Estado. Coisa que não acontecia na época do autor e muito 
menos na atualidade. 
 Vale ressaltar um ponto que chama atenção nos escritos de Beccaria no capítulo X. 
Nele, é feita uma análise sobre os interrogatórios sugestivos, que seriam uma suposta 
forma do juiz fazer perguntas ao acusado fazendo com que as suas respostas o livrasse da 
condenação. No país onde ele viveu, não era permitido esse tipo de interrogatório mas 
autorizava as torturas, o que seria uma enorme contradição, pois o acusado chegava a um 
limite de dor física que o coagia a confessar o crime. Citar-se-á o artigo 1º da Convenção 
da ONU: 
 
“Qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais são 
infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira 
pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma pessoa 
terceira tenha cometido, ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir 
esta pessoa ou outras pessoas; ou qualquer motivo baseado em discriminação de 
qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um 
funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, por sua 
instigação, ou por seu consentimento ou aquiescência.” 
 
 No capítulo XIII o autor versa que deve ser determinado um prazo para o 
condenado trazer suas justificativas, porém se for um crime que passe muito tempo nas 
mentes das pessoas não deve ser concedido esse tempo em virtude de possível fuga. Ainda 
diz que esse tempo não pode ser muito longo, pois a penalidade deve ser próxima ao tempo 
de cometimento do delito. 
 Nota-se no capítulo XV que o autor utiliza de diversos argumentos para criticar os 
modelos de punições principalmente a tortura demonstrando que tais formas de 
aplicabilidade penal não eram viáveis e que não estavam sendo compatíveis com a justiça 
que todo Estado tem como compromisso garantir. 
 No capítulo em que o autor dedica à pena de morte, ele procura transparecer que 
uma pena que é brutal masrápida surte menos efeitos do que castigos que durem mais 
tempo com menor intensidade de crueldade. Logo, a pena de morte é menos eficaz do que 
os trabalhos sociais obrigatórios que um detento, privado de sua liberdade, terá que 
cumprir. 
 Posteriormente, no capítulo em que ele fala sobre o banimento das pessoas que 
perturbam a tranquilidade pública, se coloca em posição favorável a tal punição. Porém, 
hoje se sabe que tal atitude é totalmente desumana e no Brasil é considerada 
inconstitucional. 
 Um ponto interessante da obra é contemplado no capítulo XX onde é colocada a 
questão da vítima não ter o direito de se vingar do criminoso que lhe causou um dano. 
Socialmente falando essa é a visão que deve ser seguida para manter a coesão e evitar mais 
violência, porém, no Brasil, por exemplo, o Estado se faz ausente na grande maioria dos 
casos. Logo, a impunidade é evidente. Portanto, a vítima, por falta de um Estado que 
garanta a segurança, sente-se injustiçada e no direito de realizar a justiça com as próprias 
mãos. Claro que isso gera mais violência, mas é a forma que a vítima tem de satisfazer a 
sua justiça e retomar sua honra. 
 Não se pode deixar de comentar sobre a parte que o autor fala sobre a 
proporcionalidade das penas em relação ao grau dos delitos. Logo, uma pessoa que rouba 
para comer deve ser penalizada com proporção diferente daquele que rouba para alimentar 
um vício ou pagar uma dívida. Ou seja, não se pode aplicar uma pena a alguém que 
cometeu homicídio e aplica-la também a quem cometeu um furto, pois as outras pessoas 
irão optar por cometer homicídio já que a pena é a mesma. O grau da pena é medido de 
acordo com as consequências do delito cometido na sociedade. 
 De forma semelhante à realidade brasileira o autor faz uma crítica à aplicabilidade 
penal e observa que os ricos e os poderosos escapam das punições justamente pelo seu 
poder aquisitivo, nessas horas deve-se questionar a justiça que os homens atribuem às leis. 
Na realidade brasileira é o tanto quanto evidente que os grandes empresários e políticos 
são privilegiados no que diz respeito à impunidade e aplicabilidade penal. 
 Por fim, nada mais justo que falar sobre um tema que atualmente é discutido no 
Congresso Nacional Brasileiro, que é o porte de armas. Beccaria trata sobre o tema como 
alguém esclarecido, e observa que esse tipo de lei, que proíbe o cidadão de ter acesso ao 
porte de armas, só desarma o cidadão de bem deixando ao criminoso as armas nas mãos. 
Logo, os cidadãos ficam vulneráveis aos criminosos que estão armados. Como reforço, 
vale citar Bene Barbosa autor do livro “Mentiram para mim sobre o desarmamento” que 
falou, em uma entrevista, as seguintes palavras: 
 
“A defesa do desarmamento na maioria das vezes é feita sem qualquer 
embasamento lógico, sem coerência e não raras vezes ignora propositadamente 
os dados e os fatos.”

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