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O papel da Comunicação, Poder e Cultura organizacional Gestão de projetos complexos de TI Nicolau Reinhard Professor Titular Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo e Coordenador do curso MBA Gestão de Tecnologia de Informação da FIA - Fundação Instituto de Administração 2 de dezembro de 2013 São Paulo Prof. Nicolau Reinhard A complexidade não é uma característica inerente de um sistema, mas depende de como são percebidos os seus atributos e da conveniência de tratar o sistema como sendo complexo. Uma definição: “projetos complexos tem um alto grau de incerteza, ambiguidade, interfaces dinâmicas e influência política ou externa” (ICCPM). A complexidade pode ser Estrutural (do problema) Técnica (da solução) Direcional (dos objetivos, da gestão e dos stakeholders) Temporal (da dinâmica do ambiente e do projeto) “conspiração do otimismo”: a maior causa de fracasso de projetos complexos (ICCPM 2009): patrocinadores e fornecedores aceitam propostas irreais para aprovar o projeto, esperando corrigi-lo mais tarde através do “scope creep”. Prof. Nicolau Reinhard Neste sentido todo projeto não trivial de TI que envolve pessoas e organizações terá certo nível de complexidade. Caberá ao gestor escolher se quer tratá-lo mais como “complicado” ou como “complexo”. • Projetos apenas complicados podem ter uma gestão linear; • projetos complexos requerem gestão adaptativa, com novas visões e abordagens. Sistemas complicados distinguem-se dos complexos pela sua previsibilidade e possibilidade de auto-organização. O contínuo de controle para o caos (Snowdon 2002) Fonte: Remington, K, Leading Complex Projects, Gower, Farnham, UK, 2011 Prof. Nicolau Reinhard David Parnas, um conhecido cientista de computação e precursor do que hoje é a orientação a objetos em software, criou o grupo CSSR (Computer Scientists for Social Responsibility), que se opôs publicamente a este programa. Demonstrou não seria possível desenvolver o software para este programa com a confiabilidade condizente com o risco para a humanidade. O programa acabou sendo cancelado. Às vezes é possível antecipar e evitar o caos. A Strategic Defense Iniitiative (SDI), também conhecida por “guerra nas estrelas” proposta no governo Reagan, para criar um escudo espacial contra mísseis para os EUA. Prof. Nicolau Reinhard Da Teoria de controle: A variedade do sistema de controle deve ser igual ou superior à do sistema a ser controlado. Alternativas para tratar o aumento de complexidade: 1. aumentar a complexidade do sistema de controle, através de • mais informação, • mais comunicação entre os subsistemas, • modelos de controle mais elaborados . A Teoria Institucional demonstra a importância de organizações profissionais, como o PMI, de benchmarks, dos valores culturais, do legislador, etc. na criação, difusão e manutenção destes modelos. 2. Reduzir a complexidade, através de • desacoplamento de subsistemas (descentralização, encapsulamento, padronização de interfaces e desempenho) ou • imposição de uma visão e abordagem de intervenção reducionista: • uso de soluções padronizadas, como pacotes, • abordagens gerenciais definidas “a priori”, como o gerencialismo, • virtualização da organização, • imposição legal, adoção de padrões de entidades profissionais ou da organização. Prof. Nicolau Reinhard Outro conceito semelhante ao de problemas complexos: Segundo Horst Rittel (pesquisas de planejamento urbano): há “problemas perversos (wicked problems)” e “problemas mansos (tame problems)” Problemas mansos podem ser definidos a partir de uma proposta única de solução, o que torna o projeto gerenciável de acordo com práticas estabelecidas. Problemas perversos, envolvem múltiplos stakeholders que não chegam a um consenso quanto à definição e forma de solução do problema, o que implica em visões diferentes de encaminhamento e de avaliação do sucesso da intervenção. Problemas perversos ocorrem em contexto social dinâmico e com muitas interações. “Todo problema complexo (ou perverso) tem uma solução simples ............... e obviamente errada (lei de Fang) Prof. Nicolau Reinhard Cada problema perverso pode ser visto como sintoma de um problema de ordem superior .Exemplo: violência urbana pode ser vista como sintoma de má distribuição de renda, que pode ser sintoma de problema de governança, etc. PROBLEMAS “PERVERSOS” (WICKED PROBLEMS) (II) Esta cadeia causal pode ser usada como um argumento de fuga para stakeholders que querem se furtar de tratar o problema em seu próprio nível de alçada. O gestor experiente de projetos complexos estará atento para este jogo e buscará meios para evita-lo. Estas considerações nos remetem às dimensões de exercício de poder, confiança, comunicação e uso de informação. Prof. Nicolau Reinhard CONFIANÇA Confiabilidade é o atributo que vemos em outra pessoa ou instituição e que nos leva a nela confiar. A confiabilidade é caracterizada pela percepção (subjetiva) de: 1. Competência: a percepção do confiante de que o confiado tem as competências necessárias para realizar a ação 2. Benevolência: a percepção do confiante de que o confiado age em benefício do confiante 3. Integridade: a percepção do confiante de que o confiado age conforme um conjunto de princípios aceitáveis para o confiante 4. Previsibilidade: a percepção do confiante de que o confiado efetivamente realizará as atividades previstas A perda de confiança contribui para aumentar a complexidade de um projeto. Prof. Nicolau Reinhard • Na medida em que aumenta a incerteza no projeto, os participantes podem passar a se sentir inseguros quanto à capacidade do gestor de conduzir o projeto, duvidando então da sua competência e previsibilidade. • Podem também ter dificuldade em entender a ligação entre causas e efeitos ou a não- linearidade do sistema. “Quando o exército estiver intranquilo e desconfiado, é certo que outros príncipes feudais causarão problemas. Isso significa simplesmente levar a anarquia para dentro do exército e arruinar a vitória.” (Sun Tzu, A arte da guerra, III,13) A Teoria da Agência fornece orientação para desenhar sistemas de controle eficientes ou sistemas de incentivos que harmonizam interesses conflitantes e podem transformar uma situação de disputa em colaboração. • Isto poderá motivá-los a buscar de modo independente caminhos alternativos, o que solapa a estrutura de poder necessária para manter a consistência das ações. • Havendo conflito de interesses ou divergência quanto aos objetivos e visões entre os participantes (ex: como reduzir o custo), a sua percepção de benevolência e integridade do gestor em relação aos seus objetivos também fica prejudicada. Prof. Nicolau Reinhard TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA (Jürgen Habermas): 1. Ação instrumental : ação técnica que aplica ( racionalmente) meios para obtenção de fins. Está institucionalizada no sistema político e no sistema econômico. “se um general demonstra confiança em seus homens, mas sempre exige que suas ordens sejam obedecidas, o ganho será mútuo” (Sun Tzu, A arte da guerra, IX,45) As nossas comunicações e documentações em projetos em geral pressupõem esta ação. 2. “Ação estratégica” (quando cada um está interessado no seu benefício próprio – a ação é baseada no uso do poder (barganha, cooptação, coerção, etc.) 3. “Ação comunicativa” – busca de entendimento mútuo, harmonização de interesses, busca de consenso através de discussão.4. Caso particular: “Ação discursiva”: busca cooperativa de novos conhecimentos: “Quando não há conselhos os planos se dispersam, mas havendo muitos conselheiros eles se firmam”. (Provérbios 15:22). Prof. Nicolau Reinhard Em situações de conflito a ação comunicativa não produz consenso, antes pode aumentar o nível de conflito, aumentando o nível de complexidade do projeto. Comunicação estratégica: Os agentes podem explicitar o conflito ou ter agenda oculta, caso em que usarão a informação de modo político (fornecendo, retendo ou interpretando as informações de modo a privilegiar seus interesses): “Todas as operações militares baseiam-se no engano (Sun Tzu, A arte da guerra, I,18) Prof. Nicolau Reinhard CULTURA ORGANIZACIONAL Há situações nas quais as atitudes do grupo perante a inovação é determinada por características especiais da cultura da sua organização. Se a inovação não lhes puder ser imposta, suas reações podem não são previsíveis e tampouco controláveis pelo gestor externo do projeto. A implantação irá requer um processo gradual de “hospedagem da inovação”. Por exemplo, no caso de grandes modificações em que a adoção não pode ser imposta, mas precisa ser voluntária: Será necessário recorrer a abordagens “soft”, de construção gradual de consenso, comprometimento e cooperação. Estes são os pressupostos de teorias como • a Teoria de Redes de Atores (ANT), • a metáfora da hospedagem de inovações (C .Ciborra), • a metodologia de “soft systems” de P. Checkland ou • a construção social da realidade (Berger e Luckemann) ou • o processo social de sense-making de Karl Weick. Teoria da Rede de Atores: Os momentos do processo de tradução Prof. Nicolau Reinhard AGRAVAMENTO DE PROJETOS DE TI NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Pesquisa realizada na FEA-USP (tese de doutoramento de Enock Godoy de Souza) Definição de agravamento “O contínuo comprometimento de recursos, apesar da existência de feedback negativo a respeito da possibilidade do projeto atingir seus objetivos” (Keil, 1995). Taxonomia da complexidade do desenvolvimento de sistemas de informação Fonte: adaptado de XIA e LEE (2004) Prof. Nicolau Reinhard Riscos consolidados de um projeto que entrou em agravamento Recomendações resultantes da pesquisa 1. Avaliar os fatores de risco (usar métrica) e adotar modelo de governança adequado 2. Gerenciar as expectativas de prazo dos stakeholders e proteger o projeto de interferências externas excessivas 3. Comprar ou fazer: avaliar os riscos secundários de transferir o risco do projeto para agente externo 4. Usar metodologia de gestão e desenvolvimento adequada às condições do projeto 5. Simplificar e priorizar os requisitos Prof. Nicolau Reinhard
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