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aula01_dos_direitos_e_garantias_fundamentais

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Dos Direitos e Garantias Fundamentais 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, 
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
 Esse artigo enumera a maior parte dos direitos fundamentais constantes 
em nosso ordenamento jurídico constitucional – embora, alguns, não sejam somente 
individuais mas também coletivos. 
 Direito à vida – o direito à vida é o mais elementar dos direitos fundamentais, 
pois, sem a vida, nenhum outro direito pode ser cogitado. A Constituição protege a vida, 
de forma genérica, não só a extrauterina, mas também a intrauterina. A proteção que o 
ordenamento jurídico brasileiro concede à vida intrauterina tem como exemplo principal a 
proibição da prática do aborto, somente permitido em casos de aborto terapêutico – que 
é o caso em que se tenta salvar a vida da gestante – ou o chamado aborto humanitário, 
no caso de gravidez resultante de estupro – Código Penal, artigo 1281. Assim, esse 
direito individual fundamental à vida possui dois aspectos importantes: sob a ótica da 
biologia, ele traduz o direito à integridade física e psíquica, o direito à saúde, o direito à 
vedação à pena de morte etc.; em outra ótica, em sentido mais amplo, significa o direito 
e condições materiais e espirituais mínimas necessárias a uma existência com dignidade 
referente à natureza humana. 
 Torna-se oportuno frisar que o Supremo Tribunal Federal decidiu pela 
legalidade de pesquisas com a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de 
embriões humanos produzidos por fertilização “in vitro” e não utilizados, nos termos do 
artigo 5º da Lei 11.105/20052. Nessa ocasião, entendeu a Corte Suprema que essas 
pesquisas não ofendem o direito à vida, tampouco violam a dignidade humana 
constitucionalmente assegurada. – VIDE ADI 3510 – relator Ministro Carlos Brito. 
29/05/2008. 
 
 Direito à liberdade – Tratam os doutrinadores esse direito como a própria 
essência dos direitos fundamentais de primeira geração – por isso mesmo também 
denominado liberdades públicas. A ideia de liberdade de atuação do indivíduo perante o 
 
 
 
 
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 Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: 
 Aborto necessário 
 I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
 Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
 II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando 
incapaz, de seu representante legal. 
 
2 Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco 
embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não 
utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: 
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta 
Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 
(três) anos, contados a partir da data de congelamento. 
 
 
 
 
 
 
 
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Estado vem carregada da ideologia liberal, na qual temos como expoentes as revoluções 
do final do século XVIII e do início XIX. Uma doutrina se destaca nesse âmbito, a 
chamada “laissez faire”, que exigia a redução da atuação do Estado e de sua ingerência 
nos negócios privados a um mínimo absolutamente necessário. A Revolução Francesa – 
com seu lema liberdade, igualdade e fraternidade – tem na liberdade seu axioma mais 
nítido junto ao Liberalismo. 
 Essa liberdade determinada no caput do artigo deve ser analisada da forma 
mais ampla possível; ela compreende não só a liberdade física de locomoção mas 
também a de crença, a de convicções, a de expressão de pensamento, a de reunião, a de 
associação etc.. 
 
 I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta 
Constituição. 
 A base fundamental do princípio republicano é a igualdade e a democracia. 
A abrangência desse princípio é tão importante que dele inúmeros outros decorrem 
diretamente, como, por exemplo, a proibição ao racismo – Artigo 5º, CF, XLII3, a 
proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por 
motivos de sexo, de idade, de cor ou de estado civil – Artigo 7º, CF, XXX4, a proibição de 
qualquer discriminação no tocante a salário e a critérios de admissão do trabalho do 
portador de deficiência física – Artigo 7º, CF, XXXI5, a exigência de aprovação prévia em 
concurso público para investidura em cargo ou emprego público – Artigo 37, CF, II6, etc. 
 
 O princípio constitucional da igualdade determina que se dê tratamento 
igual aos que se encontram em situação equivalente e que se dê tratamento desigual na 
medida de suas desigualdades. Esse princípio não proíbe que a lei estabeleça tratamento 
diferenciado entre pessoas que tenham distensões de grupo social, de sexo, de profissão, 
de condição econômica ou de idade, não se admitindo que o parâmetro diferenciador seja 
de critério arbitrário, desprovido de razoabilidade. VIDE Sumula 683-STF. Detalhe 
 
 
 
 
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 XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos 
termos da lei; 
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 XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de 
sexo, idade, cor ou estado civil; 
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 XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador 
portador de deficiência; 
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 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e 
eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou 
de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, 
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (Redação 
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 
 
 
 
 
 
 
 
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importante é observar que não se pode cogitar de ofensa ao princípio da igualdade 
quando as discriminações são previstas no próprio texto da Carta Magna. Existem 
hipóteses que o próprio legislador constituinte determinou, de forma bastante clara, que 
um dado critério deve ser adotado para efeito de desigualdade jurídica entre as pessoas. 
Temos como exemplo o artigo 7º da Constituição Federal, em seu inciso XX7, 
aposentadoria da mulher com menor tempo de contribuição – CF, artigo 408, reserva de 
certos cargos públicos para brasileiros natos – CF, artigo 12, §3º9, previsão de 
favorecimento às micro e pequenas empresas – CF, artigo 17910. 
 
 
 II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em 
virtude de lei. 
 
 
 
 
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 XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; 
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 Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo 
e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos 
pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. 
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) 
a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e trinta 
de contribuição, se mulher; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) 
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 Art. 12. São brasileiros:§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos: 
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; 
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; 
III - de Presidente do Senado Federal; 
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; 
V - da carreira diplomática; 
VI - de oficial das Forças Armadas. 
VII - de Ministro de Estado da Defesa(Incluído pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999) 
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 Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às 
empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las 
pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela 
eliminação ou redução destas por meio de lei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 Trata-se, nesse inciso, do princípio da legalidade, uma das bases da 
própria noção do Estado de Direito, implantada com o advento do constitucionalismo, 
porquanto acentua a premissa de “governo das leis”, sendo assim a expressão da 
vontade geral, e não mais apenas o “governo dos homens”, em que o capricho e o 
arbítrio de um governante seria a vontade predominante. Assim, o citado inciso, em 
relação aos particulares, tem como corolário à afirmação de que somente a lei pode criar 
obrigações. 
 III – ninguém poderá ser submetido à tortura nem a tratamento desumano ou 
degradante. 
 
- Liberdade de expressão 
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da 
indenização por dano material, moral ou à imagem. 
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem 
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar 
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. 
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, 
quando necessário ao exercício profissional; 
 
Nos incisos acima, analisaremos suas referências sobre a questão do direito à 
liberdade de expressão. No inciso IV do artigo 5º da CF, está consagrado que “é livre a 
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” trata-se de regra de grande 
amplitude e não dirigida a destinatários específicos. Toda e qualquer pessoa, a princípio, 
pode manifestar sua opinião, desde que não o faça sobre o manto do anonimato; essa 
proteção constitucional engloba não só o direito a expressar-se oralmente ou por escrito 
mas também o direito de ouvir, assistir e ler. A proibição ao anonimato que está ligada a 
todos os meios de comunicação tem o cerne de possibilitar a responsabilização de quem 
cause danos a terceiros em decorrência da expressão de juízo ou opiniões ofensivas, 
levianas, caluniosas, difamatórias etc. Esta proibição impede, também, como regra geral, 
o acolhimento de denúncias anônimas. Vide voto do Ministro, do STF, Celso de Mello no 
inquérito 1957/PR. 
Em aresto11, que acompanhou a orientação acima – HC 84.827 de 07/08/2007 – o 
Supremo Tribunal Federal ao deferir “hábeas corpus” para trancar, por falta de justa 
causa, notícia-crime instaurada, por requisição do Ministério Público, com base 
unicamente em denúncia anônima. Determinou a Corte Suprema que a instauração de 
procedimento de caráter criminal tendo como ponto de partida apenas uma denúncia 
 
 
 
 
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 Apreensão judicial dos bens de um devedor, necessários à garantia de uma dívida, cuja cobrança foi ou vai 
ser ajuizada; embargo. 
 
 
 
 
 
 
 
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anônima seria contrária à ordem jurídica constitucional, ofendendo o princípio basilar da 
dignidade da pessoa humana que poderia permitir a prática de inescrupulosos 
denuncismos e a eventual impossibilidade de indenizações por danos morais ou 
materiais, contrariando, assim, princípios consagrados no artigo 5º, incisos V e X12, CF. 
Os direitos da pessoa que possa vir a sofrer um dano em razão de manifestação 
indevida por parte de outrem estão elencados no inciso V do artigo 5º da CF, nos 
seguintes termos: 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por 
dano material, moral ou à imagem; 
Em complemente ao inciso transcrito acima, acerca do direito de liberdade de expressão, 
outro inciso, do mesmo artigo 5º, estabelece a garantia de vedação à censura prévia: 
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, 
independentemente de censura ou licença; 
 
Importante ressaltar que a liberdade de expressão, mesmo com o fim de censura 
prévia, não dispõe de caráter absoluto, ou seja, pode encontrar limites em outros 
institutos protegidos constitucionalmente, sobretudo na inviolabilidade da privacidade e 
da intimidade do cidadão. Merece igual importância comentar o inciso XIV do artigo 5º, 
que versa: 
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando 
necessário ao exercício profissional. 
Esse inciso nos remete ao direito constitucional do direito à informação, mas, 
como outros, esse direito não é absoluto. Sua real importância está ligada 
essencialmente a informações que possam ser de interesse público ou geral, não 
cabendo dele cogitar quando se tratar de informações de caráter particular que digam 
respeito à intimidade e à vida privada da pessoa; as informações que são objeto de 
proteção estão elencadas – proteção constitucional – no artigo 5º, X13. Sendo assim, 
todos têm o direito ao acesso à informação que possa ser de interesse geral, mas existe, 
juridicamente falando, um tipo de direito que permite o acesso a informações que só 
interessem à esfera privada. A citada informação ao sigilo da fonte da informação – 
aquela de interesse público ou geral – está assegurada na parte final do inciso XIV14 do 
 
 
 
 
12 V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização 
por dano material, moral ou à imagem; 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, 
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua 
violação; 
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 X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a 
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 
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 XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao 
exercício profissional; 
 
 
 
 
 
 
 
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artigo 5º, tendo relação direta com a atividade jornalística, uma vez que possibilita a 
esses profissionais obter informações que, sem essa garantia, certamente não seriam 
reveladas. 
Importante ressaltar que a garantia do sigilo da fonte não abre o conflito com o 
princípio constitucional à vedação do anonimato. O jornalista ou profissional que 
trabalhe com divulgação de informações, ao veicular a informação (notícia) em seu 
nome, está sujeito a responder pelos eventuais danos indevidos que ela possa vir a 
causar; apesar de a fonte ser sigilosa, a divulgação da informação não será feita de 
forma anônima. 
- Liberdade de crença religiosa e convicção pública e filosófica 
 VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades 
civis e militares de internação coletiva; 
 
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção 
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e 
recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; 
 
 O inciso VIII determina e consagra o direito à denominada “recusa de 
consciência”, possibilitando que a pessoa possa recusar-se a cumprir determinadas 
obrigações ou praticar atos que possam conflitar com suas convicções de caráter 
religioso, público ou filosófico, sem que essa recusa implique algum tipo de restrição a 
seus direitos. Esse instituto– “recusa de consciência” – não permite, entretanto, que a 
pessoa simplesmente deixe de cumprir a obrigação legal a todos imposta e nada mais 
faça. Nessa situação – quando existe uma obrigação legal geral cujo cumprimento 
afronta convicção religiosa, filosófica ou política – o Estado poderá impor a quem alegue 
imperativo de consciência uma prestação alternativa, compatível com suas crenças ou 
convicções, fixadas em lei. No caso do indivíduo que se recusar a cumprir essa prestação 
alternativa, estabelecida pela lei, estará sujeito à suspensão de seus direitos políticos, 
nos termos do artigo 15, inciso IV15, da Constituição Federal. 
 Importante salientar que, tratando-se da questão referente ao serviço militar 
obrigatório, o artigo 143, §1º, CF determina: 
 Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. 
§ 1º - às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em 
tempo de paz, depois de alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o 
decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades 
de caráter essencialmente militar. 
 
 
 
 
 
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 Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: 
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII. 
 
 
 
 
 
 
 
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 A análise desses dispositivos reporta ao fato de que o Brasil é um Estado laico, 
conforme determinado no inciso I16 do artigo 19 da Constituição Federal, que veda à 
União, aos estados, ao Distrito Federal e aos Municípios subvenção junto a cultos 
religiosos ou igrejas. 
 
 
 
 
 
 
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 Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: 
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com 
eles ou suas representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de 
interesse público;

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