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Artigo Guarda Compartilhada de Animais

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Prévia do material em texto

Michelle Sanches Barbosa Jeckel 
 Mestre em Direitos Difusos e Coletivos. 
Advogada. 
 
 
Guarda Compartilhada de Animais no Divórcio 
 
Sumário: 1. Introdução – 2. Breve Histórico sobre o Divórcio no Brasil – 3. Os 
Animais e o Direito – 4. Guarda Compartilhada de Animais - 4.1 Decisões – 5. 
Conclusão. – 6. Bibliografia. 
 
1. Introdução 
 
Desde os primórdios a família ocupa um papel essencial na sociedade, na 
formação dos seres humanos e na evolução do Direito, acompanhando as mudanças no 
decorrer dos anos, positivando e disciplinando condutas relevantes que acabam por 
ultrapassar a moral individual em prol do bem comum, a fim de manter o equilíbrio e a 
ordem entre as pessoas. 
 
Nesse sentido, é importante dizer que, justamente em decorrência da evolução 
social, viu-se o Direito frente à necessidade de abarcar diversos tipos de famílias que 
foram se formando e solidificando ao longo do tempo, enfrentando o desafio de oferecer 
a todas elas igualdade e justiça. Assim, dentre os diversos tipos de famílias que 
surgiram, algumas delas trouxeram à baila ao mundo jurídico a figura daqueles que 
sempre foram colocados à margem e classificados como bens móveis pelo Direito: os 
animais. 
 
Desta forma, os animais adentraram no âmbito de convivência e proteção das 
famílias, sendo considerados como membros destas e não raras vezes, sendo tratados 
como filhos, haja vista que a ciência já provou que os animais são seres sencientes, 
dotados de consciência1 e capazes de sentimentos de toda espécie, assim como os 
animais humanos. 
 
1 http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/nao-e-mais-possivel-dizer-que-nao-sabiamos-diz-philip-low 
 
2 
 
Por tais razões, os Tribunais têm-se deparado com situações que, embora ainda 
não estejam positivadas em qualquer lei, devem ser enfrentadas, como é o caso de casais 
que optam pelo divórcio, pela dissolução dos vínculos que os uniram, no entanto, 
possuíam um animal de estimação e não chegaram a um acordo acerca de quem deteria 
a posse do animal, razão pela qual a lide tem chegado aos Tribunais. 
 
Contudo, muito embora ainda não exista lei que disponha acerca da guarda 
compartilhada e regulamentação de visitas de animais de estimação, tramita perante a 
Câmara dos Deputados em Brasília, o Projeto de Lei nº 1.058/2011, que se baseia nos 
dispositivos do Código Civil que discorrem sobre guarda de crianças humanas, servindo 
estes como norte para a elaboração do projeto em comento. 
 
Assim, o presente artigo visa abordar tal problemática, trazendo algumas 
decisões proferidas pelos Tribunais brasileiros acerca do tema. Todavia, é chegado o 
tempo de mudanças para o Direito no que tange ao tratamento dispensado aos animais, 
tendo em vista que não podem mais ser classificados como coisas ou objetos, devendo 
ser detentores, não de direitos da personalidade, mas sim de direitos que o protejam 
como espécie. Tal proteção não deve levar em conta a questão antropocêntrica, 
colocando o homem como centro de todo o sistema, mas sim deve ser focada no 
biocentrismo, onde todos os seres são interdependentes e possuem valor em si2. 
 
2. Breve Histórico do Divórcio no Brasil 
 
O Código Civil de 1916 definia o conceito da indissolubilidade do casamento, 
no entanto, trazia em seu artigo 318 o denominado desquite por mútuo consentimento, 
que constituía uma forma para que o casal efetivasse a separação, para colocar fim à 
relação conjugal, o que posicionava as pessoas na categoria de desquitados e os impedia 
de contrair novo casamento. Isso porque, com o advento do desquite o vínculo da união 
permanecia entre os cônjuges, mesmo após acertarem questões como alimentos, guarda 
dos filhos e partilha de bens. 
 
2 A utilização de animais como “coisas” ainda se perpetua na sociedade de diversas formas, no entanto, o 
presente artigo ficará adstrito ao âmbito sentimental do valor dos animais na esfera do Direito de Família 
e não abordará questões culturais e psicológicas, tais como: “porque amamos alguns animais e matamos 
outros?”. 
3 
 
Desta forma, o casamento permaneceu indissolúvel ainda com a chegada das 
Constituições de 1934 e 1967, contudo, sobreveio a Emenda Constitucional nº 9 de 
1977, que alterou o texto constitucional de modo a permitir a dissolução do casamento 
sob a condição prévia da separação judicial pelo prazo de três anos. Nesse sentido, 
coube ao legislador ordinário a regulamentação do texto constitucional, fato que 
originou a Lei nº 6.515, de 26 de dezembro de 19773. 
 
Posteriormente, com a chegada da Constituição Federal de 1988, sobreveio 
evidente avanço no campo do divórcio, haja vista que o artigo 226, § 6º, estabeleceu que 
o divórcio poderia ser efetivado após a prévia separação judicial por mais de um ano 
nos casos expressos em lei ou se comprovada a separação de fato por mais de dois anos. 
 
Vale destacar que “até 1977, o Brasil era o único país do mundo a adotar, na 
Constituição, a regra da indissolubilidade do vínculo matrimonial. O prestígio 
desfrutado por esse princípio devia-se, em grande parte, à forte penetração do 
Catolicismo na sociedade brasileira. Naquele ano, em meio a intenso debate, aprovou-se 
a emenda constitucional introduzindo o divórcio. A ordem jurídica somente conseguiu 
livrar-se de certa ambiguidade no trato do tema com a Emenda Constitucional n. 66, de 
julho de 2010.”4 
 
Nesse sentido, em 2007, significativa alteração foi realizada pela Lei nº 11.441, 
que instituiu o divórcio e a separação extrajudicial, ou seja, pela via administrativa, 
bastando para tanto, o comparecimento das partes ao Cartório de Notas juntamente com 
um Advogado para apresentação da petição de separação ou divórcio, que gera os 
mesmos efeitos da sentença judicial, desde que o casal esteja de comum acordo e que 
não haja filhos menores ou incapazes. 
 
Já no ano de 2010, outra importante alteração legislativa foi realizada através 
da Emenda Constitucional nº 66, alterando o artigo 226, § 6º da Constituição Federal, 
com vistas a suprimir qualquer menção a prazos e formas de concessão do divórcio, o 
que culminou na seguinte redação: “o casamento civil pode ser dissolvido pelo 
 
3 MELO, Nehemias Domingos de. Lições de Direito Civil - Família e Sucessões, pág. 55. 
4 LOBO, Paulo, Direito de Família, p. 97. 
4 
 
divórcio”. De tal modo, atualmente não existe mais óbice para a efetivação da separação 
ou divórcio quando este constituir a vontade do casal. 
 
3. Os Animais e o Direito 
 
A Constituição Federal de 1988, em seu Título VIII (Da Ordem Social), 
Capítulo VI (Do Meio Ambiente), artigo 225, inciso VII5, positivou o direito que todos 
possuem ao meio ambiente equilibrado, sendo este um bem de uso comum, entretanto, 
disciplinou que cabe ao poder público, bem como à coletividade o dever de defendê-lo e 
preservá-lo. 
 
Antes do advento da Constituição Federal, já vigoravam alguns dispositivos 
que tratavam sobre os animais, a exemplo do artigo 64 da Lei de Contravenções Penais, 
todavia, com o advento da Lei 9.605/98, um feliz progresso ocorreu com a chegada da 
“Lei da Natureza”, como também ficou conhecida ao trazer as condutas lesivas à 
natureza e suas penas correspondentes oriundas de violação das normas previstas neste 
dispositivo. 
 
No âmbito internacional temos a Declaração Universal dos Direitos dos 
Animais, que foi proclamada no ano de 1978, em uma sessão realizada pela UNESCO, 
em Bruxelas, visando reconhecer proteçãoaos animais, a fim de que estes tenham o 
reconhecimento por meio dos seres humanos ao direito à vida, à dignidade, respeito e ao 
amparo contra maus-tratos e qualquer tipo de crueldade que ignore o direito à existência 
dos quais os animais são detentores. 
 
Por outro lado, no Brasil, no âmbito do Código Civil, o tratamento dado aos 
animais não se coaduna com a realidade social com a qual eles se encontram, haja vista 
que ainda são classificados como “coisas, bens móveis” pelo Direito, ainda nos 
 
5 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo 
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo 
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 
 § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: 
 VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função 
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. 
 
5 
 
encontramos atrasados com tal pensamento, enquanto outros países já evoluíram em tal 
quesito, a exemplo do Projeto de Lei francês que alterou o status jurídico dos animais, 
reconhecendo-os como seres sencientes6. No entanto, vale salientar sobre a existência, 
aqui no Brasil, do Projeto de Lei do Senado Federal n. 351/2015, que visa acrescentar 
ao parágrafo único do art.82, e inciso IV ao art. 83 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 
2002 (Código Civil), a determinação de que os animais não serão mais considerados 
coisas7. 
 
 No entanto, felizmente a Constituição Federal de 1988, amparou juridicamente 
os animais, ultrapassando a visão limitada da proteção ao meio ambiente adstrita ao 
tradicional antropocentrismo, ainda que o arcabouço jurídico seja construído com base 
no ser humano, o artigo 225 nos permite ultrapassar a visão civilista limitada a fim de 
defender os animais e inclui-los na esfera de proteção do Direito, haja vista que a vida, 
dignidade ou bem-estar não constituem atributos exclusivos da espécie humana. 
 
Some-se a tais fatores, a tendência atual da constitucionalização do Direito 
Civil, de tal modo que as normas contidas na Constituição Federal atraem para sua 
esfera de atuação todas as demais normas pertencentes aos ramos do Direito 
infraconstitucional, como é o caso do Direito Civil, que deixou de ser o eixo jurídico, o 
que acarretou uma espécie de potencialização constitucional, sendo aplicada de formas 
diretas e indiretas, indicando princípios e parâmetros no mundo jurídico a servir de 
norte para a aplicação do Direito, como vem ocorrendo na proteção aos animais. 
 
Deste modo, muito embora os casos envolvendo guarda de animais de 
estimação no divórcio tenham como base o bem-estar do ser humano, não há como 
negar o reconhecimento, ainda que de forma branda, da mudança de paradigma e o 
papel social ocupado pelos animais de estimação. 
 
 
 
 
 
6http://www.anda.jor.br/03/02/2015/decisao-historica-franca-altera-codigo-civil-reconhece-animais-seres-
sencientes 
7 http://www.senado.leg.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=121697 
6 
 
4. Guarda Compartilhada 
 
O divórcio de muitos casais tem trazido à baila uma situação incomum para o 
Judiciário, mas corriqueira frente ao crescente número de Animais de estimação no país, 
bem como do crescimento de sua importância no âmbito das famílias brasileiras. Em 
muitos processos de divórcio, os animais de estimação, que ainda são tratados como 
bem móvel pelo Código Civil, alcançam status de membros da família, não raras vezes 
assumindo papel de filhos, inclusive no momento em que os casais chegam à decisão de 
romper o vínculo matrimonial. 
 
Nesse sentido, faz-se necessário ressaltar que não temos uma lei que verse 
sobre o tema, no entanto, o Projeto de Lei nº 1.058/11, que reproduz, em grande parte, 
os dispositivos do Código Civil que versam sobre a guarda compartilhada tem como 
objetivo regular a guarda dos animais de estimação nos casos de dissolução litigiosa da 
sociedade e do vínculo conjugal entre os casais. 
 
Se aprovada, a Lei concederá autorização para que o juiz proceda à análise de 
fatores como ambiente adequado, disponibilidade para os cuidados com o animal etc., 
informações que o auxiliarão a decidir quem será o detentor da guarda do animal de 
estimação. 
 
O Projeto de Lei considera animais de estimação todos aqueles pertencentes às 
espécies da fauna silvestre, exótica, doméstica ou domesticada, mantidos em cativeiro 
pelo homem, para entretenimento próprio ou de terceiros, capazes de estabelecerem o 
convívio e a coabitação por questões de companheirismo, afetividade, lazer, segurança, 
terapia e demais casos em que o juiz entender cabíveis, sem o propósito de abate. 
 
Nesta esteira, a guarda dos animais foi classificada em unilateral e 
compartilhada. A guarda unilateral é caracterizada pela concessão do animal a uma das 
partes, que deverá fazer prova da propriedade através de documento de registro do 
animal onde conste seu nome e que seja idôneo. Já a guarda compartilhada ocorrerá 
quando o exercício da posse responsável for concedido a ambas as partes. 
 
7 
 
Nesse ponto, faz-se necessário destacar a questão da prova, haja vista, a grande 
variedade de situações pelos quais os animais de estimação podem ser adquiridos, desde 
sua compra, doações e resgates nas ruas. A maioria das decisões tem levado em 
consideração a propriedade do animal, analisando em nome de qual cônjuge ele foi 
registrado, assim como tem admitido provas por meio de fotos da convivência com o 
animal. 
 
Entretanto, há muito a ser enfrentado ainda no que tange aos meios de prova e 
isso somente poderá ser feito em cada caso concreto e em consonância com a 
sensibilidade do julgador. Isso porque, muito embora o casal que esteja dissolvendo seu 
vínculo conjugal demonstre sentimentos profundos pelo animal de estimação, há que se 
considerar que cuidados com um animal ultrapassam a esfera do simples “dar um 
carinho” e alimentação. 
 
Cuidar de um animal de estimação exige não somente oferecer um lar, abrigo, 
comida, carinho e proteção, mas também o cuidado do acompanhamento veterinário, o 
convívio familiar, os gastos diários e a atenção, o tempo que poderá e deverá ser 
dedicado ao animal, pois, os animais que foram levados para o âmbito doméstico, assim 
como as crianças, dependem exclusivamente do ser humano e essa relação deve ser 
pensada a longo prazo, como é a vida do animal, de menor duração que a vida humana, 
mas que deve ser protegida até o fim, não devendo ser tratada como mero objeto como 
pensou o filósofo René Descartes8 ou como simples soma de uma divisão patrimonial 
ou como instrumento de manipulação de outra pessoa, haja vista que tirar um animal de 
estimação do lar pode caracterizar um dano ao próprio animal e àquele que fica privado 
da vida que ama e que convive. 
 
8 O filósofo René Descartes, acreditava na afirmação: “penso, logo existo”, tal máxima limitava o homem 
à sua mente. Sua obra “O Discurso do Método” originou a teoria do animal máquina. Para ele, homens e 
animais guardavam grande separação, pois aos últimos não foi dado o poder de falar e expressar 
sentimentos, sendo isentos de razão, desta forma, os animais podem ser imitados por máquinas, não eram 
detentores de um espírito ou sentimentos, afirmava que a natureza que atua nos animais através de seus 
órgãos é como um relógio que é composto de molas. Por outrolado, filósofos como Montaigne, Voltaire 
e Rosseau defenderam um pensamento não manipulador da natureza. Voltaire se indagava porque os 
mestres se questionavam onde estaria a alma do animal, para ele, tal discussão não teria sentido, pois, o 
homem não tem base ou autoridade para definir o que é alma. 
 
Disponível em: http://odireitodosanimais.blogspot.com.br/2013/11/os-animais-nao-existem-em-funcao-
do_4586.html 
 
8 
 
Nesse sentido, de acordo como Projeto de Lei, caberá ao magistrado a 
observação de algumas condições para que a guarda do animal seja deferida, quais 
sejam, posse responsável, ambiente adequado para moradia do animal, disponibilidade 
de tempo, condições de trato, de zelo e de sustento, o grau de afinidade e afetividade 
entre o animal e a parte, dentre outros requisitos que o Juiz considerar imprescindíveis 
para a manutenção da sobrevivência do animal, de acordo com as suas características. 
 
 Ademais, nada impede que os gastos sejam divididos, assim como a guarda, o 
que proporcionará aos seres humanos e ao animal o direito ao convívio familiar, porque 
não é somente o homem que sente o pesar do afastamento com aqueles com os quais 
convive, prova disso é o modo como os animais de estimação recebem seus protetores 
após chegarem do trabalho ao final do dia, quem tem animal sabe o tamanho do carinho 
e da saudade externados pelo animal, tal afirmação dispensa maiores fundamentações. 
 
Por outro lado, enquanto não há efetivamente uma lei que discorra sobre o 
tema, o Judiciário tem recorrido à analogia para solucionar as questões afetas à guarda 
dos animais de estimação, valendo-se das regras que disciplinam a guarda 
compartilhada das crianças, previstas nos artigos 1.583 a 1.590 do Código Civil. 
 
No caso de uma das partes já ser detentora do animal de estimação antes da 
celebração do matrimônio ou união estável e o levar para a convivência do casal, a 
regulação, em caso de desentendimento do casal quanto à guarda, fica relativamente 
mais fácil, haja vista que o protetor do animal pode ter feito o registro em seu nome, 
assim como possuir carteira de vacinação e fotos do seu convívio com o animal de 
estimação, provando que o animal já era seu antes do casamento devendo permanecer 
com o seu protetor. De outro lado, há a possibilidade de elaboração de pacto antenupcial 
que inclua cláusula relativa à guarda do animal em caso de divórcio. 
 
4.1 Decisões 
 
O tema da guarda e regulamentação das visitas envolvendo animais de 
estimação é desafiador e constitui algo novo para os Tribunais quando o assunto versa 
9 
 
sobre ações de divórcio e dissolução de união estável, todavia, muitas lides já chegaram 
ao Judiciário e vêm sendo decididas de maneira muito acertada. 
 
É o caso de uma decisão proferida em sede de apelação cível interposta na 
Sétima Câmara Cível do Tribunal do Rio Grande do Sul, onde o marido recorreu para 
que a decisão de primeira instância fosse modificada em alguns pontos, entre eles a 
determinação de que o cachorro de estimação do casal ficasse sob a guarda da mulher, 
para tanto, sustentou que o animal foi um presente paterno, razão pela qual ele deveria 
deter a guarda do cãozinho, contudo, não obteve êxito, já que os desembargadores 
negaram o pedido alegando que na caderneta de vacinação do cão chamado Julinho, não 
constava o nome do homem como proprietário, mas sim da mulher, o que levou a 
concluir que era ela quem cuidava do animal de estimação, devendo a guarda 
permanecer com ela. 
 
Animal de Estimação. Mantém-se o cachorro com a mulher quando 
não comprovada a propriedade exclusiva do varão e demonstrado 
que os cuidados com o animal ficavam a cargo da convivente. Apelo 
desprovido. 
 
...Igualmente não merece acolhida o recurso no que diz com o pedido 
do varão de ficar com o cachorro que pertencia ao casal. Alega que 
este foi presente de seu genitor, mas não comprova suas assertivas. E, 
ao contrário, na caderneta de vacinação consta o nome da mulher 
como proprietária (fl. 83), o que permite inferir que Julinho ficava 
sob seus cuidados, devendo permanecer com a recorrida. 9 
 
No mesmo sentido: 
 
Decisão agravo regimental – modificação de guarda. Inconformismo 
contra decisão que determinou a entrega do cão de estimação do 
casal à mulher, no prazo de 48 horas, sob pena de multa. Em recurso 
de agravo de instrumento anterior foi autorizada a guarda do animal 
pela agravada, no entanto, entre junho de 2012 e fevereiro de 2013, a 
agravada não deu mostras de possuir interesse em ficar com o 
animal, evidenciado pela ausência de diligência. Autorizada a 
manutenção da situação fática. Recurso provido. Agravo regimental 
improvido. 10 
 
9 Apelação Cível. 7ª Câmara Cível Nº 70007825235: Comarca de Caxias do Sul. 
 
10 Agravo Regimental-Dissolução.Nº0072779-02.2013.8.26.0000. Relator James Siano. Comarca: Mogi 
das Cruzes. Órgão julgador: 5ª Câmara de Direito Privado. Data do julgamento: 23/07/2013 
 
10 
 
O comportamento evidenciado pela agravada, portanto, não 
demonstra o efetivo interesse em reaver o animal de estimação, que 
conforme já restou consignado pelo recurso de agravo de instrumento 
fora doado para ambos, uma vez constante no título de propriedade 
do animal o nome, não só da agravada, como também do agravante, 
ainda que em menor destaque, podendo-se inferir sua igual 
titularidade para o domínio. Verificados elementos que demonstram a 
ausência de interesse da agravada em reaver o animal de titularidade 
do casal, justifica-se sua manutenção sob a titularidade do agravante 
que dele tem cuidado desde a separação fática dos litigantes. 
 
 
Em outra decisão, proferida na Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do 
Rio Grande do Sul, a Relatora do julgamento de agravo de instrumento oriundo de ação 
de divórcio com busca e apreensão de animal de estimação, entendeu que o cachorro 
que antes era de convivência comum no âmbito da família, deveria ficar sob a guarda da 
mulher, pois, a agravante anexou nos autos fotos do animal de estimação, comprovando 
o longo relacionamento dela e seu filho com o animal. 
 
Destacou que, foi acrescido às provas colacionadas nos autos, o fato de o 
marido, em sua inicial, ter conseguido ver deferida a medida que determinada a busca e 
apreensão do animal que se encontrava na casa da requerida, contudo, alegou a ex-
esposa, em sede de recurso, que jamais fora comprovado que o cachorro era de 
estimação do ex-cônjuge, pois ele sequer juntou as características do animal ou provou 
que era seu proprietário.11 
 
 Nesse sentido, a decisão de regulamentação de visitas proferida pelo Tribunal 
de Justiça de São Paulo: 
 
Animal de estimação. Mantém-se o cachorro com a mulher 
quando não comprovada a propriedade exclusiva do varão e 
demonstrado que os cuidados com a animal ficavam a cargo da 
convivente. Apelo desprovido.12 
 
 
 
11 Agravo de Instrumento nº 70064744048, 7ª Câmara Cível, TJ/RS, Relatora Liselena Schifino Robles 
Ribeiro, Julgado em 12/05/2015. 
12 Apelação Cível nº 70007825235, 7ª Câmara Cível, TJ/RS, Relator José Carlos Teixeira Giorgis, 
Julgado em 24/03/2004. 
11 
 
 Trata-se de Ação de regulamentação de visitas de animal de estimação que foi 
indeferida por impossibilidade jurídica do pedido. Em sede de recurso, sustentou o autor 
que o tratamento de semovente ao animal é inadequado, haja vista que constitui algo 
indivisível e infungível, não podendo ser partilhado. Alegou também que o Judiciário 
não pode deixar de analisar uma questãopor ausência de legislação específica do 
assunto. 
 
De forma brilhante e consciente, sustentou o Desembargador Relator José 
Carlos Teixeira Giorgis que no caso não havia nenhuma lei vedando a pretensão, de tal 
modo que a impossibilidade jurídica do pedido ocorre quando há expressa proibição do 
pedido no ordenamento jurídico, exemplificando o tempo em que o casamento era 
indissolúvel (artigo 175 da Constituição Federal de 1969), o que impossibilitava o 
pedido de divórcio. 
 
Assim, a sentença do Juízo a quo foi cassada, muito embora tenha ressaltado 
que não há ainda entendimento pacífico acerca do tema, contudo, salientou que não 
haveria necessidade de estudo social ou psicológico, não dependendo o desfecho da 
causa, de perícia, justamente por se tratar de um animal. 
 
Por fim, citou entendimento análogo em decisão proferida no Tribunal de 
Justiça do Rio de Janeiro, fixando regime de visitas envolvendo animal de estimação13. 
 
Tal decisão traz grande inovação no que tange aos animais em sede de 
divórcio, pois levou em consideração o contexto sócio jurídico da dignidade da pessoa 
humana inserida na Constituição Federal de 1988, frente à importância da atualidade do 
tema acerca dos animais de estimação, salientando que tal tema é desafiador frente aos 
conceitos e dogmas clássicos do Direito Civil, entretanto, é inquestionável a 
importância que os animais de estimação vêm ostentando em nossa coletividade, razão 
pela qual, ainda que falte ao nosso ordenamento jurídico disciplina legal sobre o tema, 
este não pode passar desapercebido aos olhos do operador. Afirma ainda o 
 
13 Apelação nº 0019757-79.2013.8.19.0208, 22ª Câmara Cível, Relator Marcelo Lima Buhatem, julgada 
em 27/01/2015. 
12 
 
Desembargador, que não custa dizer que há animais que compõem afetivamente a 
família dos seus donos, a ponto da sua perda ser extremamente penosa. 
 
Outrossim, discorreu em sua fundamentação que, em casais, jovens ou não, 
muitas vezes o animal “simboliza” uma espécie de filho, tornando-se, sem nenhum 
exagero, quase como um ente querido, em torno do qual o casal se une, não somente no 
que toca ao afeto, mas construindo sobre tal toda uma rotina, uma vida. 
 
A apelação cível foi interposta pelo ex-marido contra a sentença de que, em 
sede de dissolução de união estável c/c partilha de bens, julgou parcialmente procedente 
o pedido para reconhecer e dissolver a união estável entre as partes e determinou ainda, 
que a autora ficasse com a posse do cão de estimação do casal. 
 
O recurso interposto insurgiu-se unicamente com relação à posse do animal de 
estimação, muito embora houvesse na inicial, o pedido de divisão de diversos bens 
móveis adquiridos durante a união. Nesse sentido, ressaltou o Relator que o semovente 
não pode ser tratado como simples bem, muito embora, a solução buscada não tenha o 
condão de conferir direitos subjetivos ao animal, mas que traduz, por outro lado, mais 
uma das manifestações do princípio da dignidade humana. 
 
Desta forma, em razão da ausência de normativa regente do tema, sopesou os 
elementos colacionados aos autos e manteve a guarda do cão de estimação com a 
mulher frente às provas e motivos constantes no processo, no entanto, levou em 
consideração os vínculos emocionais e afetivos construídos em torno do animal no 
tempo de convivência em comum. 
 
Para tanto, permitiu ao recorrente que, se fosse de sua vontade poderia ter a 
companhia do cão, exercendo a sua posse provisória, devendo tal direito ser exercido no 
seu interesse e em atenção às necessidades do animal, sendo-lhe facultado buscar o cão 
em fins de semana alternados e nos horários estabelecidos na decisão. 
 
 
 
13 
 
5. Conclusão 
 
 
 O Direito e a sociedade mudam de acordo com a evolução que os moldam 
com o decorrer do tempo e das circunstâncias. As leis não são estáticas, pelo contrário, 
devem se movimentar para acompanhar a sociedade e ouvir os clamores de tudo que é 
relevante para o mundo jurídico. A lei precisa estar ao lado daqueles que dela 
necessitam, razão pela qual se mostra tão relevante a inclusão, no âmbito por enquanto 
do Direito de Família, da regulamentação de guarda e visitas no que tange aos animais 
de estimação nos casos de dissolução de sociedade conjugal. 
 
Os animais não são meros bens móveis, não temos como ouvi-los com os 
meios de comunicação que achamos comuns para nós humanos, contudo, sabemos que 
podem se expressar. Os Animais são seres dotados de atributos semelhantes aos dos 
seres humanos, são capazes de sentir alegria, medo, fome, dor, assim como de doar 
amor e carinho, direcionando tais sentimentos, não raras vezes, aos homens, 
principalmente àqueles que sabem compreender que toda espécie de vida possui 
particularidades e merece respeito. 
 
Por estas e dentre tantas outras razões, ainda que inicialmente para atender aos 
clamores antropocentristas, a atenção do Judiciário para com as causas que envolvem 
animais no divórcio merece aplausos. Sinal de que o Direito está evoluindo junto com a 
sociedade e tornando a caminhada em busca de justiça mais branda àqueles que dela 
necessitam, ainda que determinadas situações não estejam positivadas em lei, o 
Judiciário está valorizando a vida, temperando a rigidez do Direito com a sensibilidade 
da experiência da vida. 
 
Estamos caminhando para novos entendimentos, novas visões e novas 
decisões, dando ensejo a esferas inclusivas em todos os sentidos e espécies. Assim, o 
fato de duas pessoas não conseguirem mais dividir o mesmo teto, não significa que não 
possam compartilhar algum tipo de amor, e este muitas vezes se perpetua na forma de 
um animal de estimação, que mesmo sem poder se comunicar no padrão que 
conhecemos, ensina muito aos seres humanos sobre convivência, paciência e amor. 
Ainda estamos caminhando, mas tudo indica que estamos na direção certa. 
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6. Bibliografia 
 
LOBO, Paulo. Direito Civil – Famílias. De acordo com a Emenda Constitucional n. 
66/2014 (Divórcio). 4ª Edição. Editora Saraiva: 2011. 
 
MELO, Nehemias Domingos de. Lições de Direito Civil - Família e Sucessões. 
Volume 5, Editora Atlas. 2014: São Paulo. 
 
Links: 
 
 http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/nao-e-mais-possivel-dizer-que-nao-
sabiamos-diz-philip-low 
 
 http://www.anda.jor.br/03/02/2015/decisao-historica-franca-altera-codigo-civil-
reconhece-animais-seres-sencientes 
 
 http://www.senado.leg.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=121697 
 
 http://odireitodosanimais.blogspot.com.br/2013/11/os-animais-nao-existem-em-
funcao-do_4586.html

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