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Súmula Vinculante

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www.professordanielneves.com.br 
SÚMULA VINCULANTE: HEROÍNA OU VILÂ? 
 
1 – INTRODUÇÃO 
 
 A Emenda Constitucional 45 trouxe algumas modificações que dizem respeito ao 
processo civil, dentre eles destacando-se a adoção, em definitivo e às claras, do 
instituto das súmulas vinculantes, ainda que de forma parcial e ainda pendente de 
sistematização. A intitulada Reforma do Judiciário passou a prever o instituto no art. 
103-A, CF: “O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante 
decisão de dois terços de seus membros, depois de reiteradas decisões sobre a 
matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa 
oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à 
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem 
como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei”. 
 
 A modificação, conforme se nota na nova redação do dispositivo constitucional acima 
mencionado, adota sem rodeios a súmula vinculante, limitando-a, entretanto, a espécie 
de objeto da demanda – matéria constitucional – e por conseqüência lógica ao órgão 
máximo de nossa estrutura judiciária – Supremo Tribunal de Justiça. As limitações 
demonstram que a modificação constitucional ainda não consagrou definitivamente o 
instituto da súmula vinculante entre nós, mas de forma bastante clara acena para uma 
maior receptividade da idéia no âmbito legislativo constitucional. Será, ao menos, um 
bom teste prático de aplicação do instituto, o que poderá demonstrar o acerto ou erro 
dos defensores e críticos da adoção desse mecanismo vinculativo.1 
 
 
1
 Criticando a ausência de dados estatísticos e afirmando só ser possível analisar eventual melhorar no 
volume de processos com o advento da súmula vinculante, as lições de José Carlos Barbosa Moreira, 
“Súmula, jurisprudência, precedente: uma escalada e seus riscos”, in Revista Dialética de Direito 
Processual nº 27, São Paulo, 2005, Dialética, pp. 54/57. 
 
 
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 Digna de nota a observação de que a mudança caminha em rumo já indicado pelas 
modificações mais recentes de nosso Código de Processo Civil, que vêm cada vez 
mais valorizando a força das súmulas e mesmo das jurisprudências dominantes de 
nossos Tribunais, em especial os de superposição. São novidades que aumentam o 
poder do relator em decidir sozinho quaisquer recursos que tenham como objeto 
matéria já pacificada nos Tribunais, tais como a possibilidade do relator decidir de forma 
monocrática o conflito de competência quando houver jurisprudência dominante do 
Tribunal (art. 120, par. Único, CPC), dar ou negar provimento a qualquer recurso 
fundado em súmula ou jurisprudência dominante (art. 557, CPC) e em especial no 
agravo contra decisão denegatória de seguimento de Recurso Especial e Extraordinário 
(art. 545, CPC).2 
 
 De qualquer forma, ainda não se possa afirmar peremptoriamente que o direito 
brasileiro adotou integralmente o instituto das súmulas vinculantes, a modificação 
constitucional certamente levantará questões que vem há muito tempo sendo discutidas 
pela melhor doutrina, tanto a favorável quando a contrária à adoção do instituto, sendo 
o momento propício de elencar, com necessárias remissões ao direito estrangeiro, os 
alegados benefícios e riscos que envolvem o tema das súmulas vinculantes, sempre 
com as ponderações que parecem mais acertadas. 
 
2- AS PRINCIPAIS CRÍTICAS À ADOÇÃO DA SÚMULA VINCULANTE 
 
2.1 – A separação de poderes 
 
 Uma das maiores críticas que a súmula vinculante enfrenta é aquela relacionada com a 
divisão clássica dos poderes. Nessa visão, a adoção da súmula vinculante causaria 
uma inconcebível invasão do Poder Legislativo por parte do Poder Judiciário, ruindo 
 
2
 Nesse sentido as lições de José Carlos Barbosa Moreira, “Súmula, jurisprudência, precedente: uma 
escalada e seus riscos”, in Revista Dialética de Direito Processual nº 27, jun/05, p. 51. 
 
 
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assim a necessária divisão dos poderes, conforme vislumbrada por MONTESQUIEU, como 
garantia básica da ordem democrática da nação. 
 
 A construção doutrinária de MONTESQUIEU teve o mérito de identificar os três poderes e 
demonstrar que essa divisão geraria um sistema de “freios e contrapesos” que serviria 
principalmente para possibilitar um maior controle do poder nas mãos do Estado, 
criando assim uma sistemática onde cada órgão exercesse suas competências e 
também o controle de um sobre o outro. A idéia clássica de separação de poderes era a 
de uma separação rígida, sem a permitir-se que as atividades típicas de um Poder 
pudessem ser desenvolvidas pelos demais.3 
 
 Não há como se negar que a nossa Constituição Federal, pelo menos do ponto de vista 
formal, estabeleceu o sistema constitucional brasileiro em respeito ao princípio da 
separação dos três poderes. Indubitável, também, que o princípio integra as chamadas 
cláusulas pétreas, quando instituído no Texto Maior de 1988, no artigo 60, § 4º, III: “Art. 
60, § 4º. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: III – a 
separação dos Poderes”. Com fundamento nessa idéia nuclear há corrente doutrinária 
que entende ser a adoção das súmulas vinculantes inconstitucional, considerando 
agredir cláusula pétrea ao permitir que o Poder Judiciário passe a desenvolver atividade 
legislativa privativa de outro Poder da Federação. 
 
3
 Paolo Biscaretti di Ruffia, Derecho Constitucional, Madrid, Tecnos, 1973, p. 217: “Según la expresión 
empleada por Montesquieu, es menester, en efecto, que “le Pouvoir arrête le Pouvoir – entendiéndose, 
en tal frase, por la expresión Poder, precisamente, “cada uno de los tres grupos de órganos 
respectivamente competentes para desarrollar (por lo menos, en linea prevalente, aunque no exclusiva) 
una de las tres funciones estatales, entendidas en sentido material” -, de manera que todo Poder 
(legislativo, ejecutivo y judicial) sea completamente independiente de los otros y, por consiguiente, sea 
capaz de poder controlar y limitar lo realizado”. Eugenio Raul Zaffaroni, Poder Judiciário – crises, acertos 
e desacertos, tradução de Juarez Tavares , São Paulo, RT, 1995, pp. 82-83: “ Não há em Montesquieu 
qualquer expressão que exclua a possibilidade dos controle recíprocos, nem que afirme uma absurda 
compartimentalização que acabe em algo parecido com “três governos” e, menos ainda, que não 
reconheça que no exercício de sus funções de outra natureza (o judiciário e o legislativo, em seu 
autogovernos, assumem funções administrativas; o executivo, ao regulamentar as leis, ao encaminhar 
projetos e ao vetá-los, exerce funções legislativas; algumas constituições reconhecem limitadas funções 
de iniciativa parlamentar aos judiciários, etc.). Sobre a necessidade política de tal pensamento, Rodolfo 
Camargo Mancuso, Divergência jurisprudencial e súmula vinculante, São Paulo, RT, 1999. ob. cit., p. 78. 
 
 
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 Ao editarem as súmulas e serem essas obrigatórias para os juízes de primeiro grau e 
para os Tribunais de segundo grau de jurisdição, restaria claro para essa corrente 
doutrinária que o Judiciário estará, ao editar regras com efeitos erga omnes e 
vinculativos, colocando essas súmulas ao lado da lei, conferindo-lhes característica 
particulares dessa, quais sejam, a generalidade e a força obrigatória.4 Assim sendo, o 
Judiciário estaria na verdade legislando, o que, pelo sistema de tripartição dos poderes, 
não pode ser permitido. 
 
 Essa interferência de poderes foi explorada, com a costumeira genialidade, por 
EVANDRO LINS E SILVA: “A independência recíproca dos Poderespressupõe, como é 
óbvio, que cada um deles exerça uma função exclusiva; caso contrário, haveria 
superposição funcional. A função precípua e exclusiva do Poder Legislativo, como 
estabelecido desde os primórdios do regime democrático moderno, é a de ditar as leis, 
entendidas como expressão da vontade geral do povo. Ora, a súmula com efeito 
vinculante absoluto para os juízes de primeira instância significa a introdução de um 
sucedâneo da lei em nosso sistema jurídico, produzindo a superposição ou conflito de 
atribuições entre os Poderes Legislativo e Judiciário”5 
 
 São esses, portanto, os pontos centrais das críticas à adoção da súmula vinculante à 
 
4
 A lição de Dínio de Santis Garcia, “Efeito vinculante dos julgados da Corte Suprema e dos Tribunais 
Superiores”, in Revista dos Tribunais nº 734, São Paulo, RT, 1996, p. 44, citando Castanheiras Neves 
que tratava dos antigos assentos, deve ser considerada por analogia: “Ora, a competência de expedir 
assentos implica na possibilidade conferida a um órgão judicial (a um tribunal) de prescrever critérios 
jurídicos universalmente vinculantes, mediante o enunciado de normas (no sentido estrito de normas 
gerais, ou de preceitos gerais e abstratos), que, como tais, abstraem (na sua intenção) e se destacam (na 
sua formulação) dos casos jurisdicionais que tenham estado na sua origem, com o propósito de 
estatuírem para o futuro, de se imporem em ordem a uma aplicação futura. Ora, a generalidade e a força 
obrigatória são os dois traços que caracterizam mais fortemente a lei, tomada em seu sentido genérico, e 
a eles podem ser reconduzidos todos os seus caracteres.” 
5
 “A questão do efeito vinculante”, ob. cit., p. 57. No mesmo sentido Fábio Konder Comparato, “Sobre a 
idéia de precedentes judiciais vinculantes”, in Publicação oficial Juizes para a democracia, ano 4, n.7, 
março, 1996, p. 03. Na doutrina argentina nesse sentido se manifestou Nestor Pedro Sagues, “Dos 
classicos problemas del control de constitucionalidad en la Argentina”, in El Derecho, n. 151, 1993, p. 
459. 
 
 
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luz da teoria da separação de poderes. Necessária a análise dos contra argumentos a 
essa tese. O principal ataque que certos doutrinadores, defensores da súmula 
vinculante, fazem a essa crítica é a de que essa separação de poderes deve ser 
entendida de uma maneira menos rígida do que aquela vislumbrada por Montesquieu e 
desejada por aqueles que calcam a crítica maior à adoção da súmula vinculante em tal 
instituto constitucional. 
 
 A rigidez de tal divisão não mais seria compatível com os nossos tempos e menos 
ainda como o nosso ordenamento. Sendo inegável que os Poderes devem manter 
independência em relação uns aos outros, por certo também devem interagir, sob pena 
do Estado não conseguir governar em sua plenitude, com nítido prejuízos dos Poderes 
considerados isoladamente. O exercício de algumas funções características a outros 
poderes seria então além de permitida, necessário ao bom andamento dos três 
Poderes e do Estado como um todo.6 
 
 De tal maneira que, hoje em dia, a presença de Poderes exercendo atividades que não 
fazem parte de sua função precípua pode ser constatada em diversas oportunidades, 
passando a ser até mesmo uma exigência prática para o bom funcionamento estatal. 
Percebe-se facilmente esse desempenhar atípico de função quando o Poder 
Legislativo, com o auxílio do Tribunal de Contas, tem o poder de fiscalizar toda a 
Administração; quando se concede ao Judiciário poder de auto reger-se através de 
seus Regimentos, ou ainda quando o Executivo edita sucessivas medidas provisórias - 
prática odiosa, diga-se de passagem - com profundo caráter legislativo. Esses são 
apenas alguns exemplos entre muitos presentes7, que demonstram não dever ser o 
 
6
 Nesse sentido Celso Ribeiro Bastos, Curso de Direito Constitucional, 19ª edição, São Paulo, Saraiva, 
1998, p. 159: “Hoje, no entanto, a divisão rígida destas funções já está superada, pois, no Estado 
contemporâneo, cada um destes órgãos é obrigado a realizar atividades que tipicamente não seriam 
suas.” Ainda, Paolo Biscarettti di Ruffia, Derecho Constitucional, ob. cit, p. 219. 
7
 Rodolfo de Camargo Mancuso, Divergência jurisprudencial e súmula vinculante, ob. cit., p. 90, tece mais 
alguns exemplos dessa interferência: “1) o Executivo tem o poder de veto, e o Legislativo o poder de 
rejeitá-lo (art. 66, § 5º); 2) o Executivo pode iniciar o processo de elaboração de lei (art. 84, III), mas o 
 
 
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fenômeno da separação dos Poderes algo que proíba, a priori, o desenvolvimento de 
alguma função legislativa e em algum grau, por parte do Poder Judiciário. 
 
 Não parece, entretanto, que a adoção das súmulas vinculantes cause qualquer afronta 
a divisão dos Poderes, por não se confundir a atividade judicial de criação de súmulas 
com a atividade legislativa de formulação de normas. Para aqueles que vêm agressão à 
separação de poderes, não resta dúvida de que a atividade do juiz, adotando-se a 
súmula vinculante, é a de legislar. Nesse caso “estariam os Tribunais ditando uma 
interpretação autêntica, com validade geral e abstrata, de acolhimento obrigatório em 
todo o país pelos juízes e pelos poderes públicos. Ocorre que non exemplis sed legibus 
judicandum est.”8 A conclusão, entretanto, não parece ser a mais acertada. 
 
 Muito embora se deva admitir que a súmula vinculante trará como consequência direta 
de sua aplicação uma nova modalidade de posicionamento dos Tribunais a respeito da 
aplicação de determinada norma jurídica com caráter genérico e obrigatório, não é 
correto afirmar que os Ministros dos Tribunais Superiores, ao promulgar essas súmulas, 
estariam funcionando como verdadeiros juízes legisladores.9 Não será dado a esses 
magistrados o poder de inaugurar a ordem jurídica, criando direitos e deveres, como 
 
Legislativo pode emendar o projeto (art. 64, § 3º); 3) os Tribunais, se propriamente não legislam, ao 
menos são livres para se auto-administrarem, detendo o poder de iniciativa da lei de organização 
judiciária (arts. 99, 125), e ainda, por deliberação plenária, podem declarar a inconstitucionalidade da lei 
ou ato (art. 97); 4) o Executivo nomeia os Ministros dos Tribunais Superiores, mas o faz ad referendum 
do Senado (art. 52, III, a0; 5) o Executivo pode baixar medidas provisórias com força de lei (art. 62) e a 
esse Poder podem ser delegadas atribuições legislativas (art. 68).” 
8
 Cfr Luiz Flávio Gomes, A dimensão da magistratura, São Paulo, RT, 1997, p. 210. 
9
 Mauro Cappelleti, “Juizes Legisladores?”, Porto Alegre, Sérgio Fabris Editor, 1993, já admitia que os 
juízes, ao interpretar normas, estariam na verdade criando o direito para aquele caso concreto. Não é, 
entretanto, nesse sentido que estamos a tratar a expressão no presente estudo. Na verdade, o termo 
aqui foi usado como uma comparação com o trabalho elaborativo de leis do próprio legislador, na 
verdade até podendo substituí-lo. Interessante a visão de Sérgio Sérvulo da Cunha, “Nota breve sobre o 
efeito vinculante”, in Revista da OAB, ano XXV, nº 61, 1995, p. 115: “... não me parece haver invasão de 
competência normativa originária quando o Judiciário explicita norma legal, ainda que o enunciado 
explicitador ganhe força obrigatória. Parece clara a analogia com os regulamentos, feitos pelo Executivo 
“para fiel execução das leis”, e que possuem força obrigatória geral. Aliás, isso já é, em parte, o que 
acontece hoje no controle difuso de constitucionalidade, com o concurso do Senado (v. Constituição da 
República, art. 52, X)” 
 
 
www.professordanielneves.com.brocorre com o legislador. Os magistrados estarão sempre limitados a questões que 
porventura cheguem a seu conhecimento por meio de sucessivas demandas judiciais, 
cabendo aos juízes somente a função de unificar interpretações conflitantes, dando um 
entendimento coeso a respeito da aplicação e interpretação da norma. 
 
 Diante dessa constatação parece perfeita a conclusão do prestigiado processualista 
CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO ao enfrentar o problema quando diz: “Como já se viu, as 
normas para as quais se pretende qualificar os juízes não dispõem de todo o caráter de 
generalidade e abstração que supostamente faria deles autênticos legisladores. Como 
dito, a eficácia vinculante de decisões judiciárias, seja pelo que já existe no sistema ou 
pelo que se propôs implantar de jure condendo, situa-se num plano intermediário entre 
o abstrato da lei e o concreto das decisões em casos concretos.”10 
 
 O problema, portanto, está colocado. Considerando a divisão de poderes como uma 
característica fundamental de nosso sistema de governo, inclusive a considerando 
como cláusula pétrea, ou seja, imodificável mesmo por emenda constitucional, e 
acreditando que a adoção das súmulas vinculantes possa se assemelhar à atividade 
legislativa, não haveria como se admitir a adoção da súmula vinculante. Para os 
defensores de tal entendimento, dando efeito erga omnes e vinculativo às súmulas 
editadas pelos ministros dos Tribunais Superiores se verificaria no caso concreto uma 
interferência do Judiciário no Legislativo, já que essas súmulas, com caráter geral e de 
obrigatoriedade, em muito se assemelhariam à própria lei, tarefa, dentro dessa visão, 
exclusiva do Poder Legislativo. 
 
10
 Cfr Nova era do Processo Civil, São Paulo, Malheiros, 2004, p. 18. Entendo não haver essa posição 
intermediária, Nestor Pedro Sagues, “Dos classicos problemas del control de constitucionalidad en la 
Argentina” , op. cit., p. 463.: “Tal vez la argumentación más contundente sea la de constatar que en un 
régimen de jurisprudencia vinculante, el tribunal ordenador está desempeñando papeles cuasi 
legisferantes (cuando se trata de la hermenéutica de una ley común) o cuasi constituyentes (si se trata de 
interpretar la Constitución.” E conclui, mais adiante: “Pero el Poder Judicial no puede ejercer poderes 
legislativos ni constituyentes. Y no se advierte una zona intermedia: no bien la sentencia judicial fuese 
dotada de imperatividad general, impersonal y objetiva resultaría provista, por esse sólo hecho, de los 
caracteres que nuestro sistema republicano reserva a la Constitución y a la ley” . 
 
 
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 Encarando o fenômeno de um ponto de vista diametralmente oposto, a conclusão 
alcançada seria a de que o princípio da separação de poderes deve ser entendido de 
maneira mais flexível, não sendo correto dizer que a edição das súmulas vinculantes 
feriria esse conceito. A flexibilização dessa separação, verificada em inúmeros 
exemplos ocorrentes nos dias atuais, seria o maior exemplo disso. Além disso, e 
principalmente, restaria claro que, por não se tratar de inauguração da ordem jurídica, a 
atividade de sumular entendimentos, ainda que com força vinculativa, não se 
confundiria em sua integralidade com a atividade legislativa. 
 
2.2 – Engessamento do direito 
 
 Outra feroz crítica que se faz às súmulas vinculantes em nosso país é a de que sua 
adoção levaria a um engessamento do direito, já que com a cristalização das posições 
jurisprudenciais dos Tribunais Superiores o direito perderia sua mobilidade, principal 
característica atribuída ao Poder Judiciário quando interpreta as normas editadas pelos 
outros Poderes, em especial no tocante às decisões proferidas pelos juízes de primeiro 
grau de jurisdição. 
 
 Já não é de hoje esse medo do engessamento do direito. Já em 1963, quando foi 
editada a primeira súmula do antigo Tribunal Federal de Recursos, o Ministro 
HAHNEMANN GUIMARÃES já “receava a estagnação da jurisprudência com a tendência a 
manter a submissão dos casos futuros, por comodismo ou por uma espécie de fetiche, 
ao precedente, como, por exemplo, no direito anglo-saxão”.11 Como visto, a 
 
11
 Evandro Lins e Silva, “A questão do efeito vinculante”, ob. cit., pp. 53-54. Lênio Luiz Streck, Súmulas 
no direito brasileiro – eficácia, poder e função, ob. cit., pp. 112-113, faz menção a emenda apresentada 
pelo senador Accioly Filho, opinando pela supressão do capítulo que instituía o ressurgimento dos 
assentos obrigatórios no CPC de 1973. Na verdade Carlos Maximiliano, Hermenêutica e aplicação do 
direito, ob. cit., pp. 94-95, nos mostra que a preocupação já era anterior a essa data, já que nessa obra, 
de 1940, afirma: “Outra corrente aventara a idéia de tornar as decisões da Corte Suprema 
compulsoriamente aplicáveis a todos os casos semelhantes em todos os tribunais do país. Isto 
 
 
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preocupação já vem de longa data, antes mesmo de se cogitar dar eficácia obrigatória e 
vinculante às súmulas. 
 
 Como é de conhecimento geral essas preocupações não vieram a se confirmar, sendo 
que as súmulas como hoje são, funcionando como paradigma da jurisprudência 
assentada dos tribunais, não ocasionou a tão temida ossificação do Direito. O problema 
ressurge agora com mais intensidade, acreditando parcela da doutrina que uma vez 
atribuindo-se caráter vinculativo às súmulas, a petrificação do Direito seria inevitável e 
extremamente prejudicial à melhor qualidade da prestação jurisdicional. 
 
 Não há como se deixar de admitir que o Direito é uma ciência viva, que se modifica 
conforme as mudanças sociais, políticas, e econômicas. Não há, portanto, como se 
ossificar o Direito, permanentemente em evolução. Não menos verdade que muito 
embora o Direito sempre seja modificado, ao sabor dos tempos, o mesmo não ocorre 
com a lei material. A dificuldade em se modificar um estatuto legal inviabiliza 
completamente uma espera por parte dos juízes pelas modificações legislativas, por 
vezes sendo obrigados a flexibilizar ao máximo a norma para que a mesma se coadune 
com as exigências do tempo vivido no momento da prolação da decisão. Assim, resta 
ao juiz a interpretação das normas à luz das condições do tempo no qual ocorre o fato 
de direito material.12 
 
contrariaria o princípio universal consubstanciado na parêmia – res inter alios acta vel judicata aliis non 
nocet nec podest; demais, mudando, com o tempo, os componentes da consulta, ou da Corte de 
Cassação, seria de esperar que se modificasse também a orientação interpretativa dos textos 
peremptórios.” E conclui o saudoso mestre, no ponto que mais nos interessa: “As três sugestões 
envolviam um grande inconveniente: a ossificação do Direito. É incompatível com este a imobilidade; ele 
é essencialmente dinâmico, acompanha a sociedade, que não pára, e, portanto, não pode ficar tolhido 
por fórmulas petrificadas.” 
12
 João Carlos Pestana de Aguiar Silva, “A súmula vinculativa”, in Boletim Legislativo, Rio de Janeiro, v. 
31, n.10, abril 1997, p. 288: “O dinamismo e estado de mutação do direito repousa em sua própria 
essência, fonte que é do fato social, tanto que, milenarmente, ex facto oritur jus. A jurisprudência de 
nosso país, podemos afiançar, é a mais fecunda do mundo jurídico da civil law neste século que está se 
encerrando em quantidade e qualidade, pelo avanço científico, sabedoria, linguagem escorreita e 
equidade, ostentando elevado número de acórdãos eruditos e acurado senso de justiça, tais e tantas 
foram as oportunidades de encontrarmos julgados profundos na ciência do direito e sensíveis na 
 
 
www.professordanielneves.com.brDaí então surge o problema. Se ao modificar a lei encontramos tamanha dificuldade, e 
sendo a súmula aparelhada à lei, teríamos que supor que a mesma dificuldade seria 
constatada quando necessária a modificação ou revogação de súmula. Estaria morto o 
melhor caminho para a mudança de um entendimento caduco; a das decisões de 
primeiro grau e de tribunais de segundo grau, que levando em vista novas condições, 
modificam a jurisprudência, adaptando o Direito a uma nova realidade.13 
 
 A preocupação é nobre, mas é preciso registrar que o próprio art. 103-A aponta 
expressamente para a possibilidade do Tribunal revisar ou cancelar a súmula, de forma 
a evitar a temida estagnação do Direito. Apesar da necessidade de lei para 
regulamentar os aspectos procedimentais, o art. 103-A, § 2º, CF, já atribui competência 
para a instauração de tal procedimento de revisão ou revogação de súmulas aos atuais 
legitimados à propositura da ação direita de inconstitucionalidade. Ainda que se possa 
discutir a efetiva eficácia de tal previsão, ao menos deve se reconhecer a preocupação 
do legislador com o indesejável efeito de ossificação do Direito. 
 
 Paralelamente a essa discussão, alguns doutrinadores acreditam que esse 
engessamento do Direito também aniquilará o poder criativo do juiz. Segundo essa 
concepção o julgador, obrigado a seguir um entendimento que não é seu, vindo de cima 
para baixo, se veria compelido a como uma “máquina”, carimbar com o selo vinculante 
suas decisões. Estar-se-ia, então, como chamam alguns críticos da súmula vinculante, 
 
persecução do ideal de justiça.” No mesmo sentido Antônio Carlos Villen e Dirceu Aguiar Dias Cintra 
Júnior, “Controle externo e interno do judiciário. O controle político-ideológico e as súmulas vinculantes”, 
in RT 720, 1995, pp. 344-345. 
13
 Hugo Nigro Mazzili, “A reforma da magistratura”, in Estado de São Paulo, 18 de junho de 1999, ao 
comentar a impropriedade da adoção da súmula vinculante: “Ademais, ainda deixaria o STF de receber a 
saudável influência de decisões mais progressistas, que não raro vêm das bases do Poder Judiciário, em 
contato mais direto com a realidade social do País. Tanto assim que muitas mudanças de jurisprudência 
só ocorreram depois que a reação começou com os juízes das comarcas (como no reconhecimento da 
inconstitucionalidade do bloqueio dos ativos financeiros no Plano Collor)” 
 
 
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colocando camisas-de-força nos juízes, os privando de sua criatividade.14 
 
 Não parece ser essa a mais correta visão acerca do fenômeno. Primeiramente, o juiz 
ainda teria a obrigatoriedade de verificar se aquela súmula é cabível ao caso concreto 
em particular. A idéia de “carimbo com o selo vinculante” não parece correta, cabendo a 
todos os magistrados a cuidadosa e retida análise acerca do cabimento ou não da 
súmula ao caso concreto.15 
 
 Por outro lado, os juízes de primeira instância devem estar preocupados com teses 
jurídicas novas, que são tantas em nosso dia a dia jurídico, e não com entendimentos já 
assentados. O processo não pode servir de palco para experimentos por parte do juiz. 
Posições que conflitem com o entendimento majoritário - já fixado em inúmeros 
processos pelos Tribunais Superiores - não podem ser vistas com bons olhos pelo 
Judiciário. Naqueles processos análogos a outros, onde a jurisprudência já se 
posicionou, deve o juiz decidir da maneira já assentada, ainda que fazendo constar seu 
entendimento particular contrário (como, aliás, já ocorre mesmo sem a súmula 
vinculante), deixando para as novas teses jurídicas ou mesmo para aquelas onde não 
há ainda posição consolidada, todo o seu poder criativo.16 
 
 Os que consideram que a súmula vinculante irá de fato engessar o Direito, não aceitam 
nem as considerações de que na common law esse sistema seria o utilizado e o Direito 
norte-americano está em constante modificação. Tem alguma razão nesse 
 
14
 É esse o pensamento de Luiz Flávio Gomes, “Súmulas vinculantes e independência judicial”, ob. cit., p. 
27, também citando o Plano Collor. 
15
 No mesmo sentido Germán J. Bidart Campos, “Un tema de jurisprudencia vinculatoria en la Provincia 
de San Juan”, ob. cit., p. 500. 
16
 Marco Antonio Botto Buscari, Súmula Vinculante, ob. cit., p. 74: “Em segundo lugar, a gratificação 
intelectual vem com a análise de teses jurídicas novas (quantas há entre nós a cada ano!), que ainda não 
chegaram às instâncias máximas, com o que se poderá inclusive enriquecer os debates e argumentos 
sobre os quais irão, mais tarde, debruçar-se os integrantes dos tribunais superiores. Nas palavras de 
Carlos Mário da Silva Velloso, “os juízes poderão dedicar-se às questões novas e não estarão, o que é 
frustrante, copiando sentenças já proferidas.”” 
 
 
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pensamento, já que o sistema da stare decisis não é tão rígido quanto possa parecer, e 
exatamente por essa razão é possível a evolução do Direito.17 
 
 No tocante ao sistema da common law, CHARLES D. COLE18 informa não ser tão 
imprescindível o respeito a um precedente pelo juiz de primeira instância. Segundo 
esse autor, o juiz de primeira instância não teria poder para revogar um precedente 
anterior, mas percebendo que o precedente a ser usado no caso em particular, tiver 
sido muito desgastado com o passar do tempo, ou mesmo por outro casos 
precedenciais, poderá decidir em confronto com o precedente. Por certo, poderá a parte 
que sair derrotada alegar erro naquele decisório por ter deixado de aplicar certo 
precedente, mas a realidade é que não se nota um respeito cego aos precedentes na 
praxe forense norte-americana. 
 
 
17
 Dalmo de Abreu Dallari, O poder dos juízes, São Paulo, Saraiva, 1996, p. 71: “Outro autor norte-
americano, Lawrence Baum, trata da doutrina do precedente em seu livro A Suprema Corte americana, 
fazendo considerações que é bastante oportuno transcrever: “a norma do precedente dificilmente elimina 
toda ambiguidade na interpretação jurídica. A maioria dos casos levados à Corte Suprema envolve 
questões pelo menos marginalmente diferentes daquelas decididas em casos anteriores. Assim, 
raramente o precedente determina uma decisão de um modo rigoroso. Os precedentes pertinentes a um 
caso apresentam a probabilidade de apontar em mais de uma direção. Segundo um adágio antigo, de 
modo geral podem ser encontrados precedentes para apoiar ambos os lados de um caso. Além do mais, 
como a Corte não é, absolutamente, obrigada a seguir precedentes, os juízes, em certos casos, precisam 
considerar se seria desejável um afastamento de interpretações anteriores da lei.” 
18
 Cfr “Precedente judicial – a experiência americana”, ob. cit., pp. 80-81. Guido Fernando Silva Soares, 
Common Law – introdução ao direito dos EUA, ob. cit., pp. 42-43, nos traz a possibilidade das Cortes 
Superiores mudarem os precedentes. Após a explicação do que seria o holding e do que seria o dictum, 
conclui: “Podem as cortes superiores, igualmente, desconsiderar um precedent e decidir com novas 
razões um caso semelhante: é o overruling (autêntica ab-rogação do precedente, ou, no que é mais 
comum, sua derrogação, continuando válido para certos aspectos da questão examinada – o que nada 
mais é do que transformar um holding num dictum!)” Ainda sobre o tema Rodolfo de Camargo Mancuso, 
Divergência jurisprudencial e súmula vinculante, ob. cit., pp. 172-173: “Essa triagem praticada pelo juiz 
anglo-saxão, justifica o diagnóstico feito por Edward Re: “ A doutrina do stare decisis, consequentemente, 
não exige obediência cega a decisões passadas. Ela permite que os tribunais se beneficiem da sabedoriado passado, mas rejeitem o que seja desarrazoado ou errôneo. Antes de mais nada, é necessário que o 
tribunal determine se o princípio deduzido através do caso anterior é aplicável. Em seguida, deve decidir 
em que extensão o princípio será aplicado.” Para separar, num precedente, o que é nuclear e o que é 
periférico, o magistrado pode valer-se das técnicas do overruling e do distinguishing. Conforme esclarece 
Gilmar Ferreira Mendes, “overruling é a superação de determinado entendimento jurisprudencial 
mediante a fixação de outra orientação”; já o distinguishing, segundo esse autor, “é a prática utilizada 
pelos Tribunais para fundamentar a não aplicação do precedente a determinado caso.” 
 
 
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 Conclui-se, portanto, que “a doutrina do stare decisis já não é mais aplicada 
rigidamente nos Estados Unidos, e mesmo na Inglaterra vem se tornando mais 
flexível.”19 Nem se cogita falar, portanto, em qualquer punição ao juiz que se distancia 
do precedente, a não ser a reforma de sua decisão quando esse distanciamento não for 
justificado. 
 
 Muito embora seja necessário considerarem-se as profundas diferenças entre os dois 
sistemas, não sendo, portanto, cabível a argumentação de que o engessamento do 
Direito não ocorreria por não ser tal fenômeno verificado no direito norte-americano, 
parece que esse receio apontado pelos críticos da súmula vinculante não pode vingar. 
Os meios para modificação de uma súmula serão, portanto, estabelecidos em lei, o que 
nos preveniria da tal ossificação do direito.20 Preferível seria ampliar a legitimidade para 
a instauração do procedimento de revisão de súmulas, conferindo a norma 
infraconstitucional a ser formulada para regulamentar procedimental tal pedido incluir 
entre os legitimados a entidade representativa dos juízes, AMB, e dos advogados, OAB. 
Também seria interessante que os próprios tribunais de segunda instância, também 
pudessem pleitear a revogação de uma súmula. A simples determinação de 
mecanismos de revogação das súmulas, teria o mérito de impedir essa ossificação. 
Além desses legitimados, não podem ser esquecidos os próprios ministros, que, 
observando ter sido o entendimento modificado, poderiam revogar ou modificar suas 
próprias súmulas. 
 
19
 Dínio de Santis Garcia, “Efeito vinculante dos julgados da Corte Suprema e dos Tribunais Superiores”, 
ob. cit., p. 41. 
20
 Marco Antonio Botto Muscari, Súmula Vinculante, ob. cit. p. 79.; Saulo Ramos, “Efeito vinculante de 
decisões dos Tribunais Superiores”, in Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 4, n. 15, 
1996, p.161: “Claro está que na adoção da súmula vinculante deverá ser previsto processo de sua 
revisão, motivado por alterações constitucionais, legais ou composição das Cortes Julgadoras. Evita-se a 
petrificação, que venha a chocar-se com situações futuras e alteradas pelo tempo, pelas normas 
supervenientes, ou pelo intérprete do direito nos tribunais. A revisibilidade é princípio indispensável, 
diante da incontinência legislativa brasileira, da dinâmica do direito e dos fatos sociais, renovados, 
alterados e mudados em cada época.” Com relação à mudança dos membros do tribunal e sua 
consequente mudança de posicionamento, o problema já vem sendo enfrentado na Argentina, na já 
citada Província de San Juan, segundo nos informa Germán J. Bidart Campos, “Un tema de 
jurisprudencia vinculatoria en la provincia de San Juan”, ob. cit., p. 501. 
 
 
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 Ademais, poderiam os juízes de primeira instância expor as razões que os levam a 
divergir do entendimento sumulado, mas decidir conforme àquela súmula, em razão de 
seu cunho obrigatório. Tratando-se de casos isolados, o entendimento manifestado pelo 
juiz de primeira instância nunca prevaleceria. Já num outro panorama, em que muitas 
fossem as decisões combatendo o entendimento consolidado em súmula, a própria 
magistratura, através de seus órgãos de representação, teria meios para sua revisão ou 
revogação.21 
 
 Essa atitude dos juízes de primeiro grau não seria conflitante com a obrigatoriedade 
das súmulas, pois decidiriam conforme a súmula, apenas deixando consignado seu 
entendimento particular contrário àquele já consolidado a respeito da aplicação e 
interpretação de determinada norma jurídica. Por outro lado, não estaria tolhida a 
liberdade dos juízes para se manifestarem contra o entendimento consolidado, de modo 
que, se realmente esse novo entendimento fosse encampado por grande número de 
magistrados, e mesmo juristas, o antigo entendimento poderia vir a se modificado. 
Agindo dessa forma, os julgadores de primeiro grau estariam ao mesmo tempo 
cumprindo a lei (força obrigatória da súmula) e lutando contra a tão temida ossificação 
do Direito. 
 
2.3 – A autonomia do juiz 
 
21
 Conforme nos informa Marco Antonio Botto Muscari, Súmula Vinculante, ob. cit., pp. 95-97, tais 
situações são presenciadas já hoje em dia, mesmo sem conter as súmulas caráter obrigatório: “Assim é 
que, no julgamento do Mandado de Injunção n. 362-0-RJ, o Ministro Ilmar Galvão consignou: “Senhor 
Presidente, conquanto com ressalva de ponto de vista em contrário, em face da reiterada jurisprudência 
do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria, peço vênia ao eminente Relator para acompanhar o voto 
do eminente Ministro Francisco Rezek, acolhendo o pedido. Dizendo-se vencido, porém não convencido, 
o Ministro Carlos Velloso: “Não devo, entretanto, na Turma, afrontar o decidido pelo Plenário. Ajusto-me, 
então, ao decidido, com a ressalva do meu ponto de vista pessoal a respeito do tema.”. No mesmo 
sentido Fernando da Costa Tourinho Neto, “Efeito vinculante das decisões do Supremo Tribunal Federal: 
uma solução para o Judiciário”, in Revista de Informação Legislativa, ano 32, n. 128, out/dez 1995. p. 
187. O mesmo fenômeno também pode ser verificado na Argentina, Enrique Aníbal Ferraris, “?Deber 
moral ou deber legal? Acerca de la obligatoriedad de la jurisprudencia de los Tribunales Superiores”, in 
La Ley C, Buenos Aires, 1994, pp.943-944. 
 
 
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 Tema muito ligado ao tratado no item anterior é aquele relacionado à autonomia do juiz 
em sua atividade jurisdicional. Para os críticos à adoção da súmula vinculante a 
obrigatoriedade de aplicação das súmulas a processos com objeto análogo, vincularia o 
julgador de primeiro grau, retirando-lhe toda a autonomia, inerente ao próprio cargo. 
Seria, para esses críticos, o fim da independência dos juízes, preceito básico de nossa 
ordem constitucional. Institucionalizado estaria a estranha e indesejável figura do “juiz 
robótico”. 
 
 O juiz, principalmente o de primeira instância, estaria obrigado a seguir não mais a lei, 
mas sim um entendimento majoritário de um tribunal que se encontra acima de sua 
posição por ordem hierárquica. Como primeira crítica, estaria que a eventual adoção da 
súmula vinculante modificaria profundamente os próprios fundamentos de nosso 
ordenamento jurídico. 
 
 Ao julgar uma situação concreta o magistrado não mais estaria adstrito somente à lei e 
a Constituição (que nada mais é que uma lei, embora com força suprema).22 Estaria 
agora também obrigado a decidir de uma determinada maneira no tocante à 
interpretação de norma jurídica específica, da mesma maneira que seus superiores 
hierárquicos já decidiram. Na verdade, esse juiz nada estaria a decidir; seus superiores 
já teriam decidido por ele. 
 
 
22
 Luiz Flávio Gomes, “Súmulas vinculantes e independência judicial”, ob. cit., pp. 19-20: “Mais 
precisamente, a independência pessoal interna ou “funcional”, que é instrumento do Estado Democrático 
de Direito que visa preservá-lo de ingerências que possam ocorrer dentroda própria instituição, 
principalmente de “cima para baixo”. A independência judicial, diz a sétima conclusão (2ª conferência) do 
Seminário Internacional sobre a Independência Judicial na América Latina, “exige que os juízes e 
Tribunais gozem de um estatuto de verdadeira independência dentro da própria organização judicial, que 
situe sua atividade jurisdicional a salvo de interferências hierárquicas e administrativas”. A segunda 
conclusão da 3ª “conferência”, por seu turno, afirma: “A garantia de independência dos juízes deve 
consistir na previsão de mecanismos institucionais capazes de assegurar que o juiz seja efetivamente 
sujeito somente à Constituição e à lei” 
 
 
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 É conseqüência dessa conclusão a segunda crítica relativa a autonomia e 
independência do juiz. A independência do juiz deve ser encarada sob dois aspectos: 
interno e externo. O aspecto externo é aquele relativo a pressões vindas de fora do 
Poder Judiciário, seja das partes, de interessados, ou até mesmo dos outros dois 
Poderes. O juiz, naturalmente, deve ser imune a essas pressões externas, sob a pena 
de perder sua imprescindível imparcialidade para decidir o caso concreto, o que 
proporcionaria verdadeira afronta aos mais basilares princípios do Direito. Não é, 
porém, o único aspecto da independência do juiz que deve ser analisado. 
 
 A independência do juiz também tem que ser interna, ou seja, não devem, e na 
verdade, não podem, existir pressões internas, provenientes dos próprios juízes, só que 
hierarquicamente superiores. O juiz deve ter liberdade total ao decidir o caso concreto, 
não se admitindo que tribunais superiores a ele no plano hierárquico, e mesmo seus 
companheiros de mesma instância possam influenciar em sua decisão.23 Se o juiz não 
pode aceitar pressões externas ao Poder Judiciário, da mesma forma deve ocorrer com 
relação a pressões vindas de dentro desse próprio Poder. 
 
 
23
 Eugenio Raúl Zaffaroni, Poder Judiciário – crise, acertos e desacertos, ob. cit. p. 88: “A independência 
do juiz, ao revés, é a que importa a garantia de que o magistrado não estará submetido às pressões de 
poderes externos à própria magistratura, mas também implica a segurança de que o juiz não sofrerá as 
pressões dos órgãos colegiados da própria judicatura. Um juiz independente, ou melhor, um juiz, 
simplesmente, não pode ser concebido em uma democracia moderna como um empregado do executivo 
ou do legislativo, as nem pode ser um empregado da corte ou do supremo tribunal. Um poder judiciário 
não é hoje concebível como mais um ramo da administração e, portanto, não se pode conceber sua 
estrutura na forma hierarquizada de um exército. Um judiciário verticalmente militarizado é tão aberrante 
e perigoso quanto um exército horizontalizado. Quando em nossa região se aspira estruturar poderes 
judiciários democráticos, evidentemente que uma das premissas consistirá em evitar que sofram as 
pressões dos fortíssimos executivos que conhecemos em nossos direitos constitucionais, não apenas 
concebidos unipessoalmente em sentido formal, mas de seus poderosíssimos aparelhos administrativos. 
Contudo, deve-se ter o mesmo cuidado em preservar a independência interna, isto é, a independência do 
juiz relativamente aos próprios órgãos considerados “superiores” no interior da estrutura judiciária.” No 
mesmo sentido Fábio Konder Comparato, “Sobre a idéias de precedentes judiciais vinculantes”, ob. cit.: 
“A Segunda garantia institucional afrontada pela súmulas vinculantes é a liberdade-poder de todos os 
magistrados de decidir os litígios segundo a lei, conforme o seu convencimento pessoal. Essa 
independência da magistratura não poder ser suprimida nem mesmo reduzida, não só, como é óbvio, 
pelos demais Poderes, mas também pelos tribunais superiores ou órgãos dirigentes do Poder Judiciário.” 
 
 
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Com relação à autonomia do juiz de primeira instância, não parece ser a adoção da 
súmula vinculante responsável pela criação de uma barreira intransponível à atuação 
com certa liberdade, mesmo obrigando que esse juiz decida conforme assentado nos 
tribunais superiores. É necessário encarar essa nova realidade através de uma 
relativização dessa autonomia, analisada por outro ângulo, que demonstrará que a tão 
temida falta de independência interna não ocorreria. De fato, essa somente se 
verificaria quando, em casos particulares, sofresse o juiz pressões para julgar conforme 
vontade de seus superiores, o que é possível ocorrer mesmo sem qualquer instituto 
vinculativo de súmulas editas pelos Tribunais. 
 
Imprescindível registrar que as súmulas serviriam como norma de caráter geral, não se 
verificando essa pressão – externa ou interna -, tolhendo a independência do juiz no 
caso concreto, analisada de forma individualizada. O magistrado estaria somente 
respeitando entendimento consolidado, observando no caso concreto posicionamento 
para resolver a situação atualmente colocada sob seu julgamento, análoga àquelas que 
proporcionaram o surgimento das súmulas. Não haveria, portanto, aquela pressão 
particular, caso a caso, mas sim uma outra forma de pressão, genérica e aplicável a 
todos os juízes que estivessem na mesma posição, sem qualquer discricionariedade. O 
entendimento sempre no mesmo sentido não pode ser considerado como afronta à 
independência do juiz. Agressão à autonomia existiria se, em cada caso concreto, os 
superiores hierárquicos pressionassem os juízes para decidir conforme suas vontades 
pessoais, o que não ocorre quando o juiz é compelido a seguir entendimento sumulado. 
 
Como síntese conclusiva do exposto cumpre registrar as palavras do magistrado 
MARCO ANTONIO BOTTO MUSCARI, quando diz: “Na verdade, é tempo de pensarmos no 
jurisdicionado, naquele que paga tributos e faz jus a uma prestação jurisdicional célere 
e segura. Fala-se muito em independência do juiz, mas não se lembra que essa 
garantia é instrumental, ou seja, não constitui privilégio de uma categoria e sim garantia 
 
 
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para o cidadão. Sob o pálio da independência do juiz não há como albergar-se conduta 
que vulnere os interesses dos jurisdicionados, impondo-lhes morosidade e incerteza”24 
 
2.4 – Ofensa à obrigatoriedade de motivação das decisões – “selo com efeito 
vinculante” 
 
Para alguns doutrinadores críticos da adoção da súmula vinculante, o instituto viria a 
constituir a lei do menor esforço,25 dispensando os juízes de motivarem suas decisões, 
bastando para fundamentá-las apenas a menção a determinada súmula.26 Sob essa 
perspectiva os juízes dariam um selo com efeito vinculante e assim decidiriam, sem 
maiores preocupações com a exigência constitucional prevista pelo art. 93, IX, do Texto 
Maior. 
 
O temor demonstrado por tal parcela da doutrina é insustentável, não sendo possível 
pensar na atividade do juiz como uma mera atividade mecânica, mesmo se adotada a 
súmula vinculante. O julgador deverá, antes de aplicar determinada súmula ao caso 
concreto, examinar com cuidado e retidão se naquela decisão é cabível a aplicação da 
súmula. Uma vez assim procedendo, e chegando a conclusão que deve utilizar-se da 
súmula, deve fundamentar sua decisão, explicitando os motivos que o levaram a 
considerar aquela súmula aplicável ao caso concreto. Ademais, a matéria fática sempre 
seria apreciada pelo juiz, dependendo de sua valoração individual no caso colocado à 
 
24
 Súmula Vinculante, ob. cit., p. 60. 
25
 Antonio Carlos Villen e Dirceu Aguiar Dias Cintra Júnior, “Controle externo e interno do judiciário. O 
controle político-ideológico e as súmulas vinculantes”, ob. cit., p. 345, faz crítica aos que chamam de 
burocratas: “Entre estes, sem dúvida estarão confortados com a idéia de vinculação osque 
desprestigiam a função jurisdicional, exercendo-a de maneira meramente burocrata. Os juízes que assim 
atuam poderão definitivamente esquecer qualquer preocupação com os ideais de justiça, pois existirão 
súmulas que dispensarão maiores indagações a respeito do acerto de tal ou qual decisão. Serão 
poupados de muito trabalho, o que, absolutamente, não significará que a população será poupada de 
sobressaltos causados por súmulas eventualmente editadas para satisfazer interesses escusos de 
grupos organizados de pressão.” 
26
 Cfr Djanira Maria Radamés de Sá, Súmula Vinculante – análise crítica de sua adoção, Belo Horizonte, 
Del Rey, 1996, p. 106. 
 
 
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sua apreciação, que naturalmente deverá justificar suas opções quando ao conjunto 
fático da demanda. 
 
Seria como hoje em dia ocorre quando o juiz aplica súmula, que mesmo não tendo 
caráter obrigatório, tem caráter persuasivo, não se abstendo de motivar sua decisão 
quando faz uma simples menção à súmula, dando essa como fundamento de decidir. 
Deve o magistrado fundamentar sua decisão, explicitando o porque da utilização de 
determinada súmula após a fixação do conjunto fático da demanda. Já hoje em dia, se 
não observadas essas formalidades, a decisão será considerada nula por ofensa ao 
princípio da motivação das decisões judiciais, em nada se modificando esse panorama 
com a adoção do efeito vinculativo às súmulas. 
 
Vê-se a importância da fundamentação dos pronunciamentos judiciais decisórios que o 
próprio Texto Maior, em seu artigo 93, inciso IX, determinou a obrigatoriedade dessa 
fundamentação, sendo que sua inocorrência, com ou sem a súmula vinculante, deve 
acarretar a nulidade absoluta da decisão. Logo, se o magistrado apenas menciona a 
súmula como razão de decidir - seja vinculante ou não - faltará a essa decisão a 
necessária fundamentação, sendo, portanto, passível de anulação.27 
 
 
27
 Tratando do tema da motivação das decisões judiciais, conferir José Rogério Cruz e Tucci, A 
motivação da sentença no processo civil, São Paulo, Saraiva, 1987, p. 107: “A exteriorização das razões 
de decidir revela, desse modo, o prisma pelo qual o juiz interpretou a lei e os fatos da causa, devendo 
aquelas, por via de consequência, vir expostas com clareza, lógica e precisão, visando à perfeita 
compreensão de todos os pontos controvertidos, bem como do resultado da demanda.” No mesmo 
sentido, Nelson Nery Jr., Princípios do processo civil na Constituição Federal, 3ª edição, São Paulo, RT, 
1996, pp.169-170: “A motivação da sentença pode ser analisada por vários aspectos, que vão desde a 
necessidade de comunicação judicial, exercício de lógica e atividade intelectual do juiz, até sua 
submissão, como ato processual, ao estado de direito e às garantias constitucionais estampadas no art. 
5º, CF, trazendo consequentemente a exigência da imparcialidade do juiz, a publicidade das decisões 
judiciais, a legalidade da mesma decisão, passando pelo princípio constitucional da independência 
jurídica do magistrado, que pode decidir de acordo com sua livre convicção, desde que motive as razões 
de seu convencimento (princípio do livre convencimento motivado.” Assim, para utilizar, ou não uma 
súmula ao caso concreto, deverá o juiz motivar sua decisão. 
 
 
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Conclui-se que o argumento utilizado de que o advento da súmula vinculante 
funcionaria como afastamento da obrigatoriedade de fundamentação das decisões não 
pode ser considerada como uma crítica válida a tal adoção no direito pátrio. 
 
3 – PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DA SÚMULA VINCULANTE. 
 
3.1. – A igualdade jurídica 
 
O artigo 5º, caput e o inciso I da CF de 1988, estabelecem que todos são iguais perante 
a lei, constituindo a igualdade como garantia constitucional, assegurando-se a todos 
uma paridade no tratamento. No atual estágio da ciência jurídica – em especial na área 
do direito constitucional – o principio da paridade entre as partes não é mais tratado 
como sendo uma característica estática, com profundo caráter formal e sem qualquer 
preocupação com as especialidades do caso concreto. Contemporaneamente busca-se 
uma igualdade real, que será obtida por meio de um tratamento desigual para os 
objetivamente diferentes, na medida de suas desigualdades. Somente assim estará 
superada a ultrapassada idéia de igualdade meramente formal, por meio da obtenção 
de uma igualdade substancial.28 
 
Ao se pensar na igualdade prevista no dispositivo constitucional mencionado deve-se 
ampliar seu campo de atuação, atribuindo-lhe a maior abrangência possível para que 
 
28
 Nelson Nery Jr., Princípio do processo civil na Constituição Federal, ob. cit., p. 43: “Entretanto, o que o 
princípio constitucional quer significar é a proteção da igualdade substancial, e não a isonomia 
meramente formal. Essa igualdade real, explicada e demonstrada cientificamente pelo direito 
constitucional e também pelo direito processual civil está servindo de fundamento básico para recente 
corrente político-jusfilosófica denominada no Brasil de “aplicação alternativa do direito” ou justiça 
alternativa, desenvolvida por setores da magistratura do Rio Grande do Sul, que vê na igualdade 
substancial o instrumento para a busca da segurança e do justo” Essa também a visão dos mais 
renomados constitucionalistas, como José Afonso da Silva, Curso de direito constitucional positivo, 8ª 
edição, São Paulo, Malheiros, 1992, p. 200: “Formalmente, a igualdade perante a Justiça está 
assegurada pela Constituição, desde a garantia à acessibilidade a ela (art. 5º, XXXV). Mas realmente 
essa igualdade não existe, pois está bem claro hoje que tratar como igual a sujeitos que econômica e 
socialmente estão em desvantagem não é outra coisa senão uma ulterior forma de desigualdade e de 
injustiça.” 
 
 
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se verifique tanto nos casos de direito material como também nos casos de direito 
processual. Teríamos, portanto, que verificar o princípio da isonomia presente tanto nas 
relações jurídicas materiais como nas relações jurídicas processuais, e mais do que 
isso, no resultado obtido pelo processo, que dependerá da aplicação e interpretação da 
norma geral ao caso concreto. 
 
Dentro do âmbito processual vários são os dispositivos existentes em nosso 
ordenamento que buscam a efetiva isonomia, tratando diferentemente os desiguais, 
como, por exemplo, na gratuidade de acesso à justiça, ou ainda os prazos 
diferenciados previstos nos arts. 188 e 191, ambos do Código de Processo Civil, 
concedendo prazos diferenciados para a Fazenda Pública e para os litisconsortes 
passivos com patronos diferentes. Esse são apenas alguns exemplos que, dentre 
vários outros, tentam conferir no processo um tratamento de paridade real entre as 
partes, considerando suas próprias diferenças. 
 
 Ocorre, entretanto, que não basta que as normas processuais e materiais tratem com 
igualdade as partes, sendo necessário que tal igualdade também se verifique na 
aplicação de tais normas, com conseqüência no resultado do processo. Assim, não é 
saudável à vida judiciária brasileira que juízes – de órgão singular ou colegiado - 
cheguem a conclusões diametralmente opostas quando analisem casos materiais 
análogos ou idênticos. Esse tratamento diferenciado para pessoas em situação igual, 
gera uma ofensa ao princípio da isonomia.29 
 
29
 Rogério Lauria Tucci e José Rogério Cruz e Tucci, Constituição de 1988 e processo, São Paulo, 
Saraiva, 1989, p. 40. Os autores, mesmo já se posicionando contra a vinculação ao precedente, já 
observam a necessidade de igualdade na aplicação da lei: “Tal concepção – de que a igualdade abrange 
não só o campo da criação da lei, mas também,o da sua aplicação – implica que o juiz, no exercício da 
função jurisdicional, a despeito de não estar vinculado ao precedente judiciário, deve decidir de idêntico 
modo questões análogas. Quando, porém, a consciência do agente do Poder Público divergir da 
jurisprudência dominante (o que é plenamente possível, uma vez que não está obrigado a interpretar no 
mesmo sentido ad eternum a lei), deverá expor os motivos da ratio decidendi, de forma a demonstrar que 
não visou a uma diferença de tratamento.” Tais conclusões também podemos verificar na doutrina 
argentina com German J. Bidart Campos, “Relaciones de la jurisprudencia vinculatoria com la división de 
poderes y la igualdad jurídica”, in La Ley, 749, Buenos Aires, p. 98: “La igualdad que se debe proteger es 
 
 
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 Resta claro que o princípio da isonomia deve ser observado indiscriminadamente por 
todos os três Poderes. Assim, o Legislativo, ao exercer sua função precípua, a de criar 
a lei, deve naturalmente estar atento a esse princípio. Mas não só ele; também o 
Judiciário deve zelar pelo princípio ao julgar as demandas, ou seja, ao aplicar o direito 
ao caso concreto. Pensamento diverso nos levaria a conclusão de ser permitido ao 
Poder Judiciário desrespeitar o próprio texto constitucional, o que, por óbvio, é 
inconcebível, já que é dele que se espera a tutela e aplicação do Texto Maior.30 
 
 Conforme ensina o eminente processualista JOSÉ IGNÁCIO BOTELHO DE MESQUITA, a 
“uniformidade contemporânea é uma exigência óbvia da igualdade de todos perante a 
lei. Não será igual para todos a lei que, para alguns, seja interpretada num sentido e, 
para outros, seja interpretada em sentido oposto. A unidade do sentido da lei é 
pressuposto da igualdade perante a lei. Por essa razão, constitui imperativo 
constitucional e dever indeclinável dos tribunais uniformizar a sua própria 
jurisprudência.”31 
 
la igualdad juridica, que es algo más que la igualdad ante la ley... Trasladándonos al tema de nustro 
estudio, diremos que si la misma ley es aplicada o inerpretada por los tribunales en forma contradictoria o 
diferente para situaciones idénticas, la igualdad jurídica carece de vigencia... Aparte de que ello provoca 
inseguridad jurídica, consideramos necesario remediar en lo posible la discrepancia jurisprudencial 
porque va en detrimento de la igualdad jurídica... Frustar la igualdad en el derecho judicial por 
aplicaciones desiguales de la misma ley es atentar contra la justicia... La uniformidad jurisprudencial en 
esos supuestos salva incólume la garantia de la igualdad jurídica que de outro modo, no pasa de ser una 
de las tantas ficciones conque se entretiene la teoria, a espeldas de la vida.” 
30
 Rogério Lauria Tucci e José Rogério Cruz e Tucci, Constituição de 1988 e processo, ob. cit., p. 39: 
“Tecidas essas indispensáveis considerações, bem é de ver, em sequência, que o regramento da 
igualdade de todos perante a lei, ou da isonomia, dirige-se, indistintamente, a todos os poderes do 
Estado. Como veementizando-o, expressa Pontes de Miranda, é ele “cogente para a legislatura, 
administração, e para a Justiça”. Por via de consequência, a qualquer dessas funções estatais, 
especialmente a judiciária, não é dado estabelecer privilégios, nem discriminações, sejam quais forem as 
circunstâncias, devendo tratar equitativamente todos os cidadãos: “este é o conteúdo político-ideológico 
absorvido pelo princípio da isonomia e juridicizado pelos textos constitucionais em geral, ou de todo 
assimilado pelos sistemas normativos vigentes.” 
31
 “Uniformização de Jurisprudência”, in LEX: Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, São Paulo, 
v.19, n.226, 1997, p. 08. No mesmo sentido parece caminhar Marco Antonio de Barros, “Anotações sobre 
o efeito vinculante”, ob. cit., p. 105: “Antes de mais nada é preciso consignar que o crescimento 
vertiginoso da população, o rápido desenvolvimento dos grandes centro urbanos e a multiplicação 
 
 
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 É conclusão irrefutável que o fato de haver interpretações díspares de situações 
análogas levadas ao conhecimento do Poder Judiciário é altamente prejudicial tanto 
aos jurisdicionados que procuram esse poder para tutelar seus interesses como 
também ao próprio Poder Judiciário, que acaba se vendo desprestigiado frente a todos 
como instituição já que não consegue estabelecer uma unidade, decidindo de forma 
coesa. Não há como negar que a adoção da súmula vinculante viria a sanar essa 
problemática, passando a tratar, de forma acertada ou errada, com isonomia os 
jurisdicionados. 32 
 
 Fica claro que no concernente ao Poder Judiciário o desencontro de decisões 
proferidas em casos análogos, se já causam mal estar entre os operadores do direito, 
ainda pior impressão deixam entre aqueles que não entendem perfeitamente os 
trâmites processuais e mesmo a possibilidade legal para tais divergências ocorrerem. É 
nefasta a consequência para o Poder Judiciário, considerando-se que tais desencontros 
 
geométrica dos inconformismos e descontentamentos às decisões exaradas pelos Juízos inferiores 
convergem para o surgimento daquilo que pode ser chamado de coletivização dos conflitos, cujo 
movimento depende, para sua pacificação, de uma resposta equivalente, qual seja a inserção no 
ordenamento jurídico de medidas que promovam a “cletivização da tutela jurisdicional””. Ainda Geraldo 
Brindeiro, “Brindeiro defende súmula vinculante”, in Tribuna do Direito, 38, 1996, p. 15, quando se 
manifesta “francamente favorável à adoção do efeito vinculante das súmulas dos Tribunais Superiores, 
especialmente do STF e do STJ, não apenas para evitar o acúmulo absurdo de processos repetidos, nos 
quais as questões jurídicas já foram anteriormente decididas inúmeras vezes, prejudicando o acesso ao 
Judiciário e a qualidade da prestação jurisdicional, mas também, e principalmente, em respeito ao 
princípio constitucional da isonomia, pois é inaceitável dar-se tratamento diferenciado com base na 
mesma lei, a pessoas em situações jurídicas idênticas” 
32
 Rodolfo de Camargo Mancuso, Divergência Jurisprudencial e Súmula Vinculante, ob. cit., pp. 135-136: 
“Com efeito, são de tal modo conectadas e pressupostas as expressões direito e certeza que o 
descontrolado dissenso pretoriano, ao distanciar aqueles valores, coloca em xeque a credibilidade do 
sistema judiciário e a eficácia real de suas produções, decepcionando o jurisdicionado, como consumidor 
final desse serviço estatal. È tão crucial para a população a necessidade de segurança jurídica que, 
muita vez, entre a angústia de esperar por uma “verdade incerta e remota”, prenunciada por uma 
jurisprudência instável, e o desencanto presente do “erro consumado e conhecido”, o cidadão acaba por 
se conformar com esta última alternativa, por mais patético e paradoxal que seja. Tais ponderações 
devem ter influído na significativa afirmação de José Alberto dos Reis: “Antes jurisprudência errada, mas 
uniforme, do que jurisprudência incerta. Perante jurisprudência uniforme, cada um sabe com o que se 
pode contar; perante a jurisprudência incerta ninguém está seguro do seu direito.”” 
 
 
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levam a população em geral a um ter um total descrédito com relação à própria 
distribuição de justiça. 
 
 Tomemos um exemplo das maléficas conseqüências geradas pro essa diversidade de 
entendimentos da mesma questão jurídica. A problemática acerca da executividade ou 
não do contrato de abertura de crédito.33 Há muito tempo o Segundo Tribunal de Alçada 
Civil do Estado de São Paulo –hoje órgão extinto em razão da Emenda Constitucional 
nº 45 - vinha decidindo acerca da executividade de tal contrato, restando inclusive a 
matéria sumulada. Ocorre, entretanto, que o Superior Tribunal de Justiça, em razão de 
reiteradas decisões, fixou entendimento de que o contrato de abertura de crédito não 
pode ser considerado como título de crédito, também sumulando a questão (Súmula 
233). A parte que tinha em seu poder um contrato de abertura de crédito chegava a um 
beco sem saída. Se ingressasse com a ação de execução, quando o processo 
chegasse à Brasília a inicial seria considerada inepta e se, por outro lado, atento a 
orientação do STJ, ingressasse com monitória, a inépcia seria declarada em segunda 
instância. A situação entre os juízes de primeiro grau era caótica, recebendo os 
jurisdicionados, em idênticas posições jurídicas, tratamentos diametralmente opostos. 
Não há dúvida que tal situação constituía-se em afronta ao princípio da isonomia34, o 
 
33
 Acerca do tema, interessante a análise realizada por Humberto Theodoro Jr., “O contrato de abertura 
de crédito e sua natureza de título executivo”, in Processo de execução e assuntos afins, coordenação 
Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo, Saraiva, 1998, pp. 268-295, chegando a conclusão já 
sumulada pelo 2º Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo: “Nada há no sistema do Código de 
Processo Civil que impeça o reconhecimento ao contrato de abertura de crédito da qualidade do título 
executivo, desde que se refira a um valor definido, a ser utilizado e reposto pelo creditado e esteja 
subscrito por este e por duas testemunhas” 
34
 Os exemplos são vários. Cfr Saulo Ramos, “Efeito vinculante de decisões dos Tribunais Superiores”, 
ob. cit., pp. 151-152, ao tratar do entendimento diverso ao do Supremo tribunal Federal adotado pelo TRF 
da 5ª Região quanto a auto-aplicação dos §§ 5º e 6º do artigo 201 da Constituição Federal., concluindo: 
“O TRF da 5ª Região considerou o Supremo Tribunal Federal errado na interpretação da Constituição 
Federal e, à falta de lei de concreção, continuou a negar esse direitos fundamentais, embora mínimos na 
expressão econômica, para os aposentados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, enquanto 
todos os demais brasileiros, na mesma situação jurídica, passaram a tê-los respeitados no resto do 
território nacional.” Outro exemplo nos é trazido pelo magistrado Marco Antonio Botto Muscari, Súmula 
Vinculante, ob. cit., pp. 55-56: “Logo após o advento da Constituição de 1988, inúmeros cidadãos 
ajuizaram ações visando ao reconhecimento da aquisição de terrenos por força do usucapião especial 
urbano, instituído pelo art. 183 da Carta Magna. Desde o primeiro instante adotamos a orientação de que 
 
 
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que felizmente restou superado pela adoção do entendimento do Tribunal Superior 
pelos juizes hierarquicamente inferiores. Mas durante o largo lapso temporal de 
incerteza o estrago já havia sido feito. 
 
 No direito argentino, por exemplo, é tamanha a preocupação com o Poder Judiciário 
como instituição forte, unificada e coerente, que parte da doutrina, mesmo admitindo 
não haver uma obrigação legal de respeitarem-se em grau inferior as decisões da Corte 
Suprema, afirma haver um dever institucional por parte dos juízes nesse sentido. Para 
essa corrente, decisões divergentes enfraquecem o Poder Judicial frente aos 
jurisdicionados, fazendo com que sua supremacia e o próprio respeito a ele devido 
fiquem abalados.35 
 
 Ademais, para a corrente argentina do “sometimiento condicionado como deber 
institucional”, a uniformização de decisões por parte do Judiciário traz consequências 
positivas à ordem institucional como um todo. Toda a ordem das instituições repousa 
sobre a interpretação dada à lei material por parte do Judiciário. Se essa resposta é 
unificada, se terá uma maior estabilidade das instituições, já que os clientes desse 
Poder (os jurisdicionados) saberão como o problema jurídico concreto será resolvido. 
 
a Cidadã criara direito novo, de sorte que a norma constitucional não poderia retroagir e m prejuízo do 
titular de domínio. No Tribunal de Justiça formaram-se duas correntes a respeito do tema, entendendo 
alguns que o lapso prescricional aquisitivo só poderia fluir a partir da promulgação da Lei Maior, ao passo 
que outros sustentavam a possibilidade de se levar em conta a posse anterior ao advento da 
Constituição. Pois bem. Vários autores sucumbentes apelaram, argumentando que não tinham que 
esperar até 5 de outubro de 1993 (quando a CF completaria um quinquênio) para o ajuizamento das 
ações de usucapião. Algumas das sentenças por nós proferidas foram “reformadas”, enquanto outras 
subsistiram na Corte. Imagine-se agora, a situação daqueles perdedores que viram seus vizinhos 
obterem ganho de causa, com direito ao tão sonhado registro na Serventia Predial. Como explicar-lhes 
que, apesar de haverem ocupado os terrenos na mesma época, em situações fáticas idênticas, a 
orientação jurisprudencial era dividida” 
35
 Osvaldo Alfredo Gazaini, La justicia constitucional, Buenos Aires, Depalma, 1994, p. 34: “En vez de ser 
influídos por valores morales, la incidencia puede manifestarse en el “deber constitucional” de acomodar 
las reflexiones presentes com las efectuadas por los tribunales superiores en pronunciamientos firmes y 
reiterados. En estos casos no se priva a los magistrados inferiores de expedirse conforme a sus 
convicciones; simplesmente se sugiere que existe una superioridad institucional que, maguer los 
incovenientes de los sistema de subordinación jerárquica, determinan una suerte de autoridad 
obligatoria.” 
 
 
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No contrário, a própria ordem institucional restaria abalada, em decorrência do que 
ficou conhecido na doutrina por “loteria judiciária”.36 
 
 Por outro lado, o tratamento sem isonomia, tratando diferentemente pessoas que se 
encontram na mesma situação jurídica é extremamente prejudicial aos próprios 
jurisdicionados. Importante frisar aqui que, obviamente, devido à própria característica 
do Direito, decisões conflitantes poderão ocorrer, como, por exemplo, assim que 
promulgada lei com enunciado lacunoso ou duvidoso (e são tantas as leis com esses 
defeitos...), é passível de compreensão uma certa disparidade no entendimento e 
também das decisões acerca dos temas tratados por esse novo texto legislativo. 
 
 O que não se pode admitir é que, após decisão do tribunal, que tem por competência 
funcional, a última palavra do Poder Judiciário sobre a matéria, alguns juízes continuem 
a expor entendimento isolado, discordante da posição majoritária adotada, proferindo 
decisões isoladas e incompreensíveis para a parte que acredita que seria favorecida 
em virtude do entendimento pacífico a respeito do tema.37 Não há como se aceitar que 
se prospere divergência fundada em erro ou em razões de ordem meramente subjetiva, 
 
36
 Nestor Pedro Sagues, “Eficacia vinculante o no vinculante de la jurisprudencia de la Corte Suprema de 
Justicia de la Nacion”, ob. cit., p. 893: “Un segundo resultado de la doctrina predicha es – según la misma 
Corte en los autos “sara Pereira Iraola c. Provincia de Córdoba” – que la efectiva prescindencia de los 
fallos de la Corte Suprema de Justicia, “cuyo leal acatamiento es indispensable para la tranquilidad 
pública, la paz social y la estabilidad de las instituciones, importa un agravio al orden institucional. Un 
tercer efecto es determinar que el respeto a los fallos de la Corte Suprema de Justicia de la Nación 
importa no solamente un deber moral sino también un deber institucional porqueel orden de las 
instituciones reposa sobre la interpretación que hace la Corte de la Constitución.” No mesmo sentido 
Marcelo Julio Navarro, “Actualidad de jurisprudencia de la Corte Suprema acerca del acatamiento de su 
propria doctrina”, in La Ley, Buenos Aires, 1997-C, p. 1140: “Asimismo, en un expediente relativo a la 
imposición a magistrados de Segunda instancia de sanciones por apartarse de la sentencia de la Corte, 
el tribunal virtió los seguintes conceptos: “La institución de un tribunal al que le es encomendada como 
función exclusivamente propria de él, la decisión final de “las causas que versen sobre puntos regidos por 
la Constitución” (art. 100 de ésta) importa atribuir a la interpretación que este tribunal haga de ella una 
autoridad que no és sólo moral sino, como se la llamó en el pronunciamiento recurrido, institucional, es 
decir que el ordem de las instituciones repousa en ella.” 
37
 Saulo Ramos, “Efeito vinculante das decisões dos Tribunais Superiores”, ob. cit., p. 150, analisa 
algumas nefastas razões para tal procedimento: “E também por um segundo “a não ser”: o aumento de 
rebeldias na magistratura, estimuladas, em casos vários, não pela ciência jurídica, mas por simples 
motivação política, nem sempre fundada em divergência doutrinária.” 
 
 
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apoiando o juiz que, mesmo sabendo que a posição majoritária é uma, decide de 
maneira contrária, impondo grave prejuízo ao jurisdicionado, que, ao ingressar com 
ação judicial tinha a perspectiva de que sairia vencedor em razão de ter a seu favor 
tanto o posicionamento doutrinário como decisões reiteradas dos Tribunais no sentido 
de sua tese jurídica. 
 
 Não causará surpresa a ninguém dizer que aqueles que dispõe de maiores recursos 
financeiros sofrem menos com a duração do processo. Tendo uma posição privilegiada 
em termos financeiros, a parte vai ter condições de esperar quanto tempo for até a 
decisão final a ser dada pelo Poder Judiciário. Além dessa possibilidade maior de 
esperar o resultado do processo, poderá ainda ingressar com todos os recursos 
cabíveis, até o esgotamento total da via recursal, inclusive perante os tribunais 
superiores, na – para a maioria dos jurisdicionados - distante e cara Brasília.38 
 
 Por outro lado, para o litigante sem muitas condições financeiras, cada dia do processo 
é mais um dia de sofrimento e sacrifício, considerando-se que a distância do bem da 
vida pleiteado é mais penosa para aquele que necessita do amparo do direito para 
satisfazer sua pretensão de maneira rápida e eficiente. Para esse, o tempo 
definitivamente é seu maior inimigo. E ainda pior, não tem ele meios financeiros para 
esgotar todos os recursos possíveis, ficando totalmente alijado dos tribunais superiores, 
devido a todos os obstáculos materiais existentes para se pleitear a tutela desses 
tribunais.39 
 
 
38
 Nesse sentido José Rogério Cruz e Tucci, Tempo e processo, São Paulo, RT, 1997, p. 111: “Já no que 
se refere às partes, além de sofrerem diretamente os sérios riscos advindos dessa inescondível 
possibilidade (decisão errada), a intolerável duração do iter processual constitui “fenômeno que propicia a 
desigualdade..., é fonte de injustiça social, porque a resistência do pobre é menor do que a do rico: este, 
e não aquele, pode, via de regra, aguardar, sem sofrer grave dano, uma injustiça lenta... Um processo 
longo beneficia, em última análise, a parte rica em detrimento da parte desafortunada.” 
39
 Temos entre esses obstáculos os portes de remessa e de retorno dos recursos, além é claro, do maior 
de todos os obstáculos, a localização geográfica da capital brasileira, já que é inegável que as partes 
sem recursos não tem como pagar um advogado para que esse cuide de seus recursos em Brasília. 
 
 
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 Como são os tribunais de superposição competentes para dizer a palavra final de 
temas federais e constitucionais, cabe o questionamento do porque deveria o litigante 
sofrer todos os percalços processuais para, ao final, ver tutelado seu direito. Seria justo 
com esse litigante - “vítima” de uma decisão isolada - forçá-lo a despender tempo e 
dinheiro para conseguir uma decisão que mesmo antes do ingresso do processo todos 
já sabiam que lhe seria favorável? Não parece crível que a resposta a tal 
questionamento deva ser dada de forma positiva.40 
 
 Mais uma vez com amparo no direito comparado, traz-se à discussão forte corrente 
doutrinária existente na vizinha Argentina. Nesse país, temos uma corrente conhecida 
como corrente do “sometimiento como deber moral”. Essa corrente da doutrina 
portenha se divide em duas frentes, sendo que é a segunda que mais vai interessar 
para a presente discussão. A primeira explicação para esse “dever moral” de respeito 
pelas instancias inferiores às decisões dos tribunais superiores, no caso argentino, da 
Corte Suprema de la Nación, residiria na presunção de verdade e justiça dos julgados 
daquela corte, intimamente ligado à sabedoria e integridade de seus membros.41 
 
40
 Com o mesmo entendimento na doutrina nacional Fernando da Costa Tourinho Neto, “Efeito vinculante 
das decisões do Supremo Tribunal Federal: uma solução para o Judiciário”, ob. cit., p. 186: “Não se pode 
conceber uma questão decidida pelo Supremo Tribunal Federal, a Corte mais alta do País, o Tribunal que 
dá a última palavra, receba decisão diferente, em causas idênticas, nos tribunais e juízes inferiores, 
obrigando o vencido a interpor recursos, percorrendo um caminho difícil, penoso, demorado, para, depois 
de anos e anos, chegar ao Supremo a fim de obter a reforma daquela decisão.” O magistrado conclui 
com um exemplo: “Lembremos que juízes e tribunais, em milhares de questões, decidiram que os 
funcionários teriam direito à incorporação do reajuste de oitenta e quatro por cento em seus salários, 
contrariando decisão do Supremo. Qual o resultado? Centenas e centenas de recursos, a crença dos 
pobres dos desacreditados funcionários de que seriam vitoriosos, anos de esperança, para, afinal, o 
Supremo, sem mais estudar esses recursos, porque já analisara detidamente o caso, negar-lhes 
provimento. Tempo perdido, dinheiro gasto à toa, honorários advocatícios desembolsados sem 
necessidade. De antemão já se sabia qual seria o desfecho do julgamento.” Percebe-se que o exemplo é 
contrário ao exposto, quando as decisões de primeiro e segundo grau criam uma falsa esperança ao 
jurisdicionado, sendo certo que a decisão final lhe será desfavorável. No exemplo, o litigante é o Estado, 
que pode ser tratado não só como o maior cliente da justiça brasileira, como também aquele que, pelas 
facilidades instrumentais e própria grandeza da instituição que representa, não sofre sérios prejuízos com 
eventual demora no processo, e, sempre, com razão ou sem, vai à Brasília. 
41
 Nesse sentido, já também tratando do segundo aspecto defendido pela doutrina, Osvaldo Alfredo 
Gozaini, “La doctrina del precedente obligatorio (stare decisis) y el valor de los pronunciamientos de la 
Corte Suprema de Justicia”, in Jurisprudencia Argentina, Buenos Aires, 1993-II, p. 804: “Lo cierto es que 
 
 
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 O segundo ramo da corrente do dever moral é o que mais interessa aos objetivos 
pretendidos com o presente artigo, já que o pensamento esboçado pelos doutrinadores 
que a defendem está intimamente ligado à problemática do tempo e custos do 
processo. Existe na Argentina, por parte de considerável doutrina, a preocupação com 
os jurisdicionados, não parecendo justo que seja ele forçado a gastar tempo e dinheiro 
para conseguir uma decisão que, invariavelmente, conseguirá, só que, em alguns 
casos, somente após o penoso trâmite processual até as últimas instâncias.42

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