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Subestação Aula 6: Sobretensões, coordenação e aterramento de elétricas na rede Apresentação Nesta aula, abordaremos as sobretensões na rede, originada por descargas atmosféricas. Também veremos como a onda de tensão proveniente de uma descarga se comporta. Além disso, trataremos das sobretensões geradas por manobras de redes e defeitos monofásicos. Falaremos da seletividade da proteção, dos requisitos de uma proteção primária ou de primeira linha e da proteção de segunda linha ou de retaguarda. Abordaremos o aterramento e suas normas pertinentes, conheceremos os materiais que compõe um aterramento, suas bitolas mínimas, os tipos de conexão entre cabo e hastes de aterramento. Por último, conheceremos as metodologias para avaliação e medição do aterramento constantes na NBR 15479/2009. Objetivos Descrever as sobretensões e sua origem; Demonstrar as sobretensões por descargas atmosféricas, por chaveamento e por defeitos monopolares; Reconhecer as funções do aterramento e suas formas de medição. Sobretensões em sistemas elétricos Os sistemas elétricos estão sujeitos a sobretensões diversas, de origem natural (descarga atmosférica) ou não (defeitos, curtos-circuitos, chaveamentos), que, se não controlados, podem resultar em colapso do sistema elétrico. Para que o sistema elétrico funcione adequadamente, é necessário que sejam dimensionados sistemas de proteções adequados para cada evento indesejado. Estudo das sobretensões Os sistemas elétricos são projetados para uma tensão nominal: a tensão limite de trabalho ou operação da rede. Usualmente, os sistemas são projetados para suportar uma sobretensão de 10% da tensão nominal ou 1,1pu. Na ocorrência de uma sobretensão a partir desse valor, devem ser acionados os dispositivos de proteção da rede. As sobretensões podem ter origem nas descargas atmosféricas, nos chaveamentos e em circuitos monopolares. Fonte: Shuttershock por T VECTOR ICONS Sobretensões por descargas atmosféricas Anteriormente, tratamos um pouco sobre a formação das descargas atmosféricas, cabendo relembrar que se trata de um fenômeno de deslocamento de caras elétricas, com grande potencial elétrico e alta corrente, que ocorre no rompimento do dielétrico (neste caso, o ar), entre a nuvem, polarizada e o solo. Em 90% dos casos, os raios são tipo nuvem-solo, de polaridade negativa, com trajetória não retilínea, com ramificações até próximo ao solo em que a descarga em direção à terra encontra uma descarga ascendente, normalmente a poucas dezenas de metros do solo, constituída de cargas positivas na maioria das vezes (já que a descarga descendente é negativa). Fonte: Shuttershock por gui jun peng Na ocorrência da primeira descarga,ocorre a ionização do ar ao redor do fluxo de cargas,reduzindo ainda mais a rigidez dielétrica e transformando o percurso do raio em uma espécie de condutor elétrico, que facilita a ocorrência de sucessivas descargas em período muito pequeno de tempo. As sobretensões por descargas atmosféricas podem ser diretas ou induzidas, sendo o número de sobretensões induzidas na rede superior ao número de sobretensões por descarga atmosférica. A presença de um condutor de aterramento, ou neutro, reduz em 40% a amplitude das sobretensões por descargas atmosféricas induzidas. A onda de sobretensão originada por descarga atmosférica, direta na rede ou no solo próximo, se propaga ao longo dos condutores de fase no sentido do gerador e no sentido da carga. A onda de corrente também é análoga à onda de tensão. Quando a amplitude de tensão é superior à tensão suportável de impulso dos isoladores, ocorre uma disrupção, que percorre o isolador até a terra ou entre fases, o que causa a redução da amplitude da onda viajante desde o primeiro poste ou estrutura mais próxima do ponto de impacto da descarga ou do ponto de indução para descargas indiretas. As ondas de sobretensão possuem taxas de crescimento elevadas e alto módulo, porém, devido a essas disrupções nos isoladores, a forma de onda da sobretensão assemelha-se a um dente de serra. As ondas de tensão viajantes dependem de vários fatores, como a taxa de crescimento da onda. A amplitude da onda depende também da intensidade de corrente da descarga atmosférica, das disrupções que influenciam na forma de onda e do valor da resistência de aterramento de cada estrutura. A cada mudança de impedância da rede, ocorre uma reflexão de parte da onda modificando a onda resultante. Essa modificação é causada, principalmente, por emendas e trechos com cabos que possuem impedâncias diferentes. As redes de baixa tensão (BT) são afetadas da mesma forma que as redes de alta tensão com relação as sobretensões. A diferença é a existência do condutor neutro, instalado acima dos condutores de fase, onde normalmente são aterrados de 100 em 100 metros, o que influencia nas sobretensões, pois a resistência do aterramento de cada ponto, que possui valor médio entre 10 a 30 Ω. Dica Nas redes BT, onde existe a probabilidade de um surto entrar na unidade consumidora, a proteção é feita, principalmente, pelos dispositivos protetores de surto (DPS), cujas características técnicas de dimensionamento e instalação podem ser encontradas na NBR 5419/2015-4. Atividade 1. Complete as sentenças abaixo. Na maioria dos casos, ________, os raios são tipo nuvem-solo de polaridade negativa, com trajetória não retilínea. A presença de um condutor de aterramento, ou neutro, reduz em __________ a amplitude das sobretensões por descargas atmosféricas induzidas. A onda de sobretensão originada por descarga atmosférica direta na rede ou no solo próximo, se propaga ao longo dos condutores de fase no sentido do ___________ e no sentido da carga. As ondas de sobretensão possuem taxas de crescimento elevada e alto módulo, porém, devido a essas disrupções nos isoladores, a forma de onda da sobretensão torna-se um ____________. A sequência que completa corretamente as lacunas é: a) 90%, 40%, gerador, dente de serra. b) 80%, 40%, consumidor, degrau. c) 90%, 30%, aterramento, senoide. d) 60%, 30%, neutro, exponencial. e) 70%, 35%, disjuntor geral, degrau unitário. Sobretensões por chaveamento As sobretensões por chaveamento são originadas pela manobra de cargas, especialmente as de maior potência, quando esses desligamentos são intempestivos, ou seja, a carga entra e sai várias vezes em um curto período ou pela perda de sincronismo entre sistemas conectados. Outras sobretensões de menor amplitude podem ser geradas por ocasião de: Atuação da proteção na ocorrência de um curto circuito. Na entrada ou saída de banco de capacitores ou de reatores. Energização de transformadores (transformadores de potência elevada) e linhas de transmissão (na energização ou religamento). Em caso de ocorrência de ressonância. Proteção contra sobretensões por chaveamento Um bom projeto para proteção inclui a aplicação de premissas básicas para evitar a descontinuidade do fornecimento de energia, mesmo na ocorrência do evento indesejado. Os equipamentos utilizados para a regulação da tensão, como os reguladores de tensão e comutadores, devem atuar apenas para reduzir a sobretensão ao nível de 1pu ou no máximo de 1,1pu. A sobretensão tem valor máximo no local onde ocorre o evento e se atenua quando a onda trafega pela rede. Num ponto remoto do sistema, a proteção poderá atuar retirando um trecho pela atuação do seccionador, sem grandes prejuízos. Veja, a seguir, alguns critérios básicos para a proteção: Primeiramente, seccionar a fonte geradora de energia situada mais próximo ao ponto da ocorrência do evento gerador da sobretensão, de forma que a potência desligada seja o suficiente para reduzir a tensão ao nível nominal de trabalho. Retirar os bancos de capacitores do sistema. Normalmente, a injeção de capacitivo na rede causa um aumento natural da tensão do sistema, especialmente no ponto de conexão dos capacitores. Com a retirada dos bancos, é possível que a tensão caia a níveis satisfatórios,não sendo mais requerido qualquer outra ação. Bloquear religadores automáticos, principalmente se for a linha onde houve o evento. Transformadores dotados de comutadores automáticos devem estar ligados na unidade temporizada. Ajustar relés de sobretensão de forma seletiva (com intervalos diferentes para atuação somente do mais próximo ao defeito). Como os equipamentos normalmente suportam sobretensão de 1,2pu de tensão por um minuto, os relés de proteção instantâneos devem estar ajustados para valores iguais ou maiores que esse. O ajuste dos relés de sobretensão devem ser de 1,15pu de tensão e os comutadores para 1,1pu de tensão. fazendo com que a sobretensão seja atenuada pelo comutador. Considerar qualquer carregamento da linha (leve ou carga nominal) para ajuste dos relés. Defeitos monopolares Quando o sistema é aterrado com alta impedância, o defeito fase e terra pode gerar sobretensão que chega ao valor de amplitude da tensão nominal do sistema. Neste caso, os para-raios de linha devem estar dimensionados para não atuarem nessa condição. Atividade 2. Complete as sentenças sobre as sobretensões oriundas de chaveamentos: “Outras sobretensões de menor amplitude podem ser geradas por ocasião de: Atuação da _______ na ocorrência de um curto circuito; Na entrada ou saída de banco de capacitores ou de _____________ ; Energização de ____________ e linhas de transmissão (na energização ou religamento); Em caso de ocorrência de ____________ ;” A sequência que completa corretamente as lacunas é: a) Chave fusível, transformadores, redes, curtos. b) Religação, redes, capacitores; sobrecargas. c) Proteção, reatores, transformadores; ressonância. d) Chave de manobra, linhas, reatores; anomalias. e) Rede, transformadores, motores; curtos. Seletividade da proteção Podemos definir a seletividade como a capacidade do sistema quando um evento indesejado desligar somente a parte com a falta, deixando as demais partes não afetadas com tensão. As proteções são divididas por zonas sendo: Proteção de primeira linha ou principal Como diz o nome, é a primeira proteção que irá atuar no caso do evento. Para isso, deve ter ajuste bem definido para que, caso o defeito ocorra dentro de sua zona de proteção, este atue resguardando o resto do sistema. Proteção de segunda linha ou de retaguarda É uma proteção “reserva” para caso de falha da primeira, sendo responsável pela desconexão da parte afetada antes que o sistema protegido seja danificado. O sistema deve ser ajustado com um tempo que permita a atuação da proteção principal primeiramente. Diagrama unifilar com proteções. Fonte: Sba Controle & Automação vol.23 no.2 Campinas Mar./Apr. 2012.. A proteção de retaguarda pode ser do tipo local ou remota ou ambas, sendo bastante aplicada nas redes com tensão a partir de 230kV, onde a ocorrência de danos ao sistema pode causar desligamentos em áreas grandes do sistema elétrico nacional e os arranjos das subestações são mais complexos, exigindo projetos de proteção mais elaborados. A proteção remota é utilizada caso o projetista deseje que a proteção de primeira linha seja independente da proteção de segunda linha. Aterramento Como vimos até agora, a proteção é parte fundamental de um sistema elétrico. Para correto funcionamento da proteção das sobretensões, um bom aterramento é fundamental. Algumas das normas da NBR que tratam sobre aterramento são: NBR 5419/2015 Trata sobre proteção de estruturas contra descargas atmosféricas e é aplicável aos sistemas elétricos já que postes, estruturas e cabos podem ser atingidos por descargas atmosféricas. Esta norma não fixa valores máximos de resistência de aterramento, ficando este à cargo do engenheiro projetista ou do responsável pela medição de resistência de aterramento do sistema. As bitolas mínimas para a malha de aterramento nesta NBR são dadas pela tabela 7 do volume 3, sendo de 50mm2 para cabos encordoados de cobre e 70mm2 para cabos encordoados de aço galvanizado a fogo. A tabela a seguir apresenta a configuração e dimensões mínimas de eletrodo de aterramento de acordo com o material utilizado. Material Configuração Dimensões mínimas Comentários Eletrodo cravado (Diâmetro) Eletrodo não cravado Cobre Encordoado - 50 mm Diâmetro de cada fio cordoalha 3 mm Arredondado maciço - 50 mm Diâmetro 8 mm Fita maciça - 50 mm Espessura 2 mm Arredondado maciço 15 mm - Tubo 20 mm - Espessura da parede 2 mm Aço galvanizado à quente Arredondado maciço 16 mm Diâmetro 10 mm _ Tubo 25 mm _ Espessura da parede 2 mm Fita maciça - 90 mm Espessura 3 mm Encordoado - 70 mm _ f f c 2 c 2 c 2 a, b a, b a 2 2 javascript:void(0); Aço cobreado Arredondado Maciço Encordoado 12,7 mm 70 mm Diâmetro de cada fio cordoalha 3,45 mm Aço inoxidável Arredondado maciço Fita maciça 15 mm Diâmetro 10 mm 100 mm Espessura mínima 2 mm Bitolas mínimas para eletrodos de aterramento. Fonte: NBR5419/2015-3. d g 2 e 2 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal O projeto e arranjo do aterramento é trabalho para o projetista que, em função da resistividade do solo, determina o arranjo da malha para obter o valor desejado da resistência de aterramento. A norma também determina os tipos de conectores utilizados para conexão entre cabos de aterramento e entre cabos e eletrodos (hastes) de aterramento, que podem ser tipo: Pressão Onde é empregado um conector cujo contato é feito com auxílio de ferramenta manual. Compressão Onde o contato dos elementos é realizado com o uso de alicates hidráulicos, mecânicos ou elétricos e matrizes específicas para a conexão. Solda exotérmica com auxílio de molde e uma mistura de pó aluminotérmico Que faz a fusão dos cabos ou do cabo com a haste tornando-os um único corpo. Atenção Para esta norma, as inspeções no aterramento devem ser semestrais e as medições anuais em caso de regiões litorâneas ou de atmosfera agressiva. Nas demais condições, o prazo é de três anos. NBR15749/2009 Esta norma trata da medição de resistência de aterramento e de potenciais na superfície do solo. Ela define as características gerais dos equipamentos de medição e as metodologias de medição válidas, que podem ser feitas pelo terrômetro convencional (de 3 ou 4 terminais) ou pelo terrômetro digital tipo alicate. Na ocorrência de uma falta para a terra, a circulação de corrente pelo solo pode causar diferenças de potencial entre: Pontos na superfície do solo (dar origens a tensões de passo); Partes metálicas aterradas da instalação e o solo; Circuitos que estão ligados ao aterramento e pontos distantes do solo (circuitos de controle e comunicação, cabos para-raios etc); Terrômetro tipo alicate. Essa NBR estabelece metodologia para avaliação deste potencial no solo, conforme o esquema a seguir: Medição do potencial do solo pelo método da queda de potencial. Fonte: NBR15479 Para as medições, a NBR15479 recomenda: Utilizar calçados e luvas com nível de isolamento compatível aos valores de tensão do equipamento de medição. Evitar a realização de medições sob condições atmosféricas adversas, tendo em vista a probabilidade de ocorrência de uma descarga atmosférica. Evitar que pessoas estranhas e animais se aproximem dos eletrodos utilizados na medição. Os casos mais perigosos de potencial injetado no solo para o ser humano e animais é a ocorrência da tensão de passo. A NBR 15479, item 7.5, estabelece que a tensão deve ser medida entre dois eletrodos de potencial cravados no solo e afastados um metro, onde é aplicado no solo, tensão da ordem de 100V provida por gerador ou por transformador abaixador ou transformador isolador, cuja metodologia de medição encontram-se nos anexos dessa norma. Medição do potencial de passo. Fonte: NBR15479 Atividade 3. Complete as sentenças sobre os critérios básicos para proteção de sobretensão: A seguir alguns critérios básicos para a proteção. Primeiramente, seccionar a fonte geradora de energia maispróxima ao ponto da ocorrência do evento gerador da sobretensão, de forma que a potência desligada seja o suficiente para __________ a tensão ao nível nominal de trabalho. Retirar do sistema os ______________ . Bloquear ___________ automáticos principalmente se for a linha onde houve o evento. Transformadores dotados de __________ automáticos, devem estar ligados na unidade temporizada. A sequência que completa corretamente as lacunas é: a) Reduzir, bancos de capacitores, religadores, comutadores. b) Elevar, resistores, fusíveis, relés. c) Manter, indutores, disjuntores, chaveadores. d) Transformar, fusíveis, religadores, seccionadores. e) Manter, reatores, disjuntores, relés. Notas Título modal 1 Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográfica e de impressos. 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