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15 CAPÍTULO 14 CONCEITOS BÁSICOS DE PESQUISAi Nesta obra apresentamos alguns dos recursos estatísticos empregados em pesquisas. Os exemplos desenvolvidos a título de ilustração, sempre associados a pesquisas realizadas, dão margem a um questionamento essencial: O que é uma pesquisa? Esta pergunta pode ser assim desdobrada: Quais as etapas de uma pesquisa? Quais os conceitos que necessitamos para compreender como se realiza uma pesquisa? Segundo Cervo & Bervian (1983), “pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas, através do emprego de procedimentos científicos" (p. 50). Seqüencialmente, iremos definindo e exemplificando os outros conceitos envolvidos no planejamento, execução e análise de pesquisas. A pesquisa começa com a formulação de um problema, solucionado tentativamente sob a forma de uma hipótese. Na hipótese, relacionamos variáveis - tudo que pode variar quantitativa ou qualitativamente. O pesquisador coleta os dados de campo a fim de determinar se sua hipótese é provavelmente verdadeira ou falsa. A coleia dos dados remete à seleção de uma amostra, de acordo com determinada estratégia. A amostra selecionada é então estruturada segundo um plano de pesquisa, cujos resultados serão analisados por meio das Estatísticas Descritiva e lnferencial. Os resultados discutidos dão margem a conclusões e sugestões, que irão despertar o interesse por novas investigações. No presente capítulo, detalharemos cada um dos conceitos aqui mencionados, procurando clarificá-los por meio de exemplos; a compreensão destes conceitos auxiliará no entendimento dos capítulos referentes à Estatística lnferencial. Cabe observar que a pesquisa não precisa necessariamente envolver a coleta de dados em campo. Pode ser feita em termos teóricos, por meio da consulta bibliográfica ou do estudo histórico, nos quais se recorre a documentos. O problema Uma pesquisa começa com a formulação de um problema, ou seja, um questionamento, uma dúvida dentro do campo de conhecimentos, qualquer que este seja: Psicologia, Educação, Biologia, Medicina, etc. A 16 título de exemplo, tomemos um assunto bastante estudado e discutido atualmente: a Aids, suas causas, formas de contágio e possibilidades de cura. Como, até o presente momento, nos falta informação acerca de como curar essa doença, configura-se aí um problema, que pode ser assim formulado: Qual a maneira mais eficaz de curar a Aids, ou seja, qual dentre os tratamentos atualmente disponíveis é capaz de eliminar o vírus causador da doença? Um problema se apresenta sempre que procuramos relacionar variáveis. No exemplo em questão, estamos falando de métodos de tratamento (uso do AZT, do interferon, etc.) e de resposta ao tratamento (tempo e qualidade da sobrevida). A partir dessa relação entre variáveis é que vamos formular as hipóteses a serem testadas por meio da pesquisa. Hipóteses Abordemos um outro assunto de pesquisa: a possibilidade de alterações na sexualidade da mulher histerectomizada, tendo em vista a alta incidência desta cirurgia, atualmente, em nosso meio. Resultados contraditórios a respeito da influência do nível socioeconômico no ajustamento psico-sexual pós-histerectomia levaram Loureiro & Bunchaft (1991-1994) a empreender um estudo comparativo entre as classes baixa e média em relação a este ajustamento. O problema, que é geralmente formulado sob a forma de uma pergunta, foi o seguinte: "Existem alterações na sexualidade, após a histerectomia, em função da classe social?" A resposta a esta pergunta, denominada hipótese - que é aquilo que esperamos encontrar após a coleta de dados -, foi a seguinte: "Mulheres de classe baixa estão mais propensas a apresentarem alterações em sua sexualidade após a histerectomia do que as de classe média, devido ao fato de que, no primeiro grupo, as mulheres têm menos informações sobre este tipo de cirurgia do que no segundo". Ao destacar o termo esperamos, pretendemos enfatizar que a hipótese é estabelecida antes de se sair em campo; a hipótese constitui apenas uma proposta para responder ao problema, calcada em informações teóricas e empíricas revisadas. Outra definição de hipótese é de que ela é uma "afirmação comprovável de uma relação potencial entre duas (ou mais) variáveis" (Mc Guigan, 1976, p. 53). Variáveis independente, dependente e estranha Uma variável, como o próprio nome indica, é algo que muda de valor, que varia, é "tudo que pode assumir diferentes valores numéricos” (Idem, p. 17). A formulação mais simples de uma hipótese é relacionando apenas duas variáveis, chamadas de Variável Independente (V.I.) e Variável Dependente (V.D.). A V.I. é controlada pelo pesquisador, seja pela sua manipulação intencional, seja pela seleção ou mensuração dos valores a 17 serem introduzidos no estudo. Como exemplos de V.I. temos os medicamentos escolhidos para tratamento, as estratégias psicoterápicas, a intensidade de estímulos luminosos, as características de personalidade, o nível de instrução, etc. A V.D., que se espera ser influenciada pela V.I., pode ser qualquer característica do organismo que possamos observar no sujeito, como a remissão de sintomas da Aids, a "melhoria" decorrente da psicoterapia, a aprendizagem de determinado assunto, a mudança de atitude em relação ao aborto, etc. Na pesquisa que estamos utilizando como exemplo sobre a influência do nível socioeconômico nas alterações da conduta sexual pós- histerectomia, temos: V.I. - nível socioeconômico e V.D. - alterações na sexualidade. Como optamos por comparar os níveis socioeconômicos baixo e médio, a V.I. apresenta dois níveis (ou variações): baixo e médio. A hipótese assim formulada nos levaria a coletar os dados selecionando dois grupos de sujeitos, um de classe baixa e o outro de classe média. Cabe mencionar aqui dois dos principais cuidados a serem tomados quando da seleção da(s) amostra(s): a) selecionar os sujeitos de modo que eles formem urna amostra probabilística (é aquela em que se conhece a probabilidade de que cada sujeito seja selecionado), cujas vantagens e desvantagens serão discutidas no capítulo 15; b) dividir a amostra inicial de sujeitos em sub-grupos, de modo que sejam mantidas constantes todas as variáveis que possam influir na V.D., com exceção, é claro, da V.I. Esta constância de condições é um dos princípios de pesquisa mais importantes, o que nos leva a introduzir o conceito de Variável Estranha (V.E.). Esta é qualquer variável, com exceção da V.I., que pode influir nos resultados obtidos na V.D. A falta de um controle efetivo das V.E. leva à contaminação da pesquisa, cujos resultados não podem ser conclusivos. Analisemos um exemplo: Ainda em relação ao estudo sobre as alterações na sexualidade decorrentes da histerectomia, suponhamos que o pesquisador tenha selecionado dois grupos de mulheres histerectomizadas, um de classe baixa e o outro de classe média, sem atentar para a influência da variável idade. É possível que mulheres de classe baixa sejam mais velhas do que as de classe média, presumindo-se que a falta de conhecimento sobre esse tipo de cirurgia e/ou a precariedade de recursos financeiros das primeiras as leve a adiar a histerectomia. Neste contexto, a idade está atuando como uma V.E., pois influi indevidamente na V.D. sexualidade. Os resultados das pesquisas não seriam confiáveis, pois não se saberia se as diferenças entre os dois grupos seriam devidas à classe social (V.I.) ou à idade (V.E.) dos sujeitos. 18 Planos de pesquisa A utilização de planos de pesquisa é uma das estratégias usadas para controlar as variáveis estranhas, especialmente as ligadas ao sujeito, como sexo, idade, nível de escolaridade, características de personalidade, etc. Existem diversos tipos de planos, porém veremos nesta seção apenas aqueles mais utilizados em Psicologia e Educação: o plano de amostras independentes, o plano de amostrascorrelacionadas e o plano fatorial. O plano de amostras independentes, freqüentemente denominado nos livros de língua inglesa e mesmo em nosso meio de Completely Randomized Design (CRD), é aquele em que os grupos são formados de modo totalmente aleatório. Quando esse tipo de plano não controla adequadamente as variáveis estranhas, o pesquisador pode: 1) formar blocos nos quais os sujeitos são homogêneos quanto às variáveis estranhas em questão, utilizando para o emparelhamento dos indivíduos a própria V.D. ou variável(is) muito relacionada(s) à V.D. - é o plano de amostras emparelhadas Randomized Block Design (RBD); 2) utilizar os mesmo indivíduos nas várias condições ou medidas do estudo, situação em que cada indivíduo serve como seu próprio controle - o que é denominado plano intra-sujeito (RBD); ou 3) introduzir a V.E. como V.I(s), o que permite não só que se controle a V.E. em questão, como amplia a validade externa do estudo pois, ao lidarmos com duas (ou mais) V.I., poderemos generalizar os resultados obtidos na amostra para uma população mais ampla; trata-se, aqui, do plano fatorial. Vamos detalhar um pouco mais e fornecer exemplos para cada tipo de plano. Para ilustrar o uso do plano de amostras independentes, tomemos o estudo comparativo entre mulheres histerectomizadas das classes sociais média e baixa. Para controlar a V.E. idade, poderíamos estabelecer que só serão avaliadas as alterações na sexualidade em mulheres com idades, na época da cirurgia, variando de 25 a 45 anos. Poderia ocorrer, porém, que a maioria das mulheres de classe baixa tivesse sua idade concentrada em torno de 40 anos, enquanto as mulheres de classe média tivessem se submetido à cirurgia quando tinham cerca de 30 anos. Podemos então afirmar que a V.E. idade é equivalente nos dois grupos? O preceito básico do pesquisador é o seguinte: manter constantes todas as variáveis que podem afetar a sua variável dependente, com exceção da variável em cujo efeito o pesquisador está interessado. Esse preceito está sendo seguido? Com base nos conceitos que já explanamos, o leitor certamente já compreendeu que não. Os planos de amostras emparelhadas e intra-sujeito são subdivisões do plano de amostras correlacionadas. Este é denominado na língua inglesa 19 de Randomized Blocks Design, abreviado pela sigla RBD. Ele fornece maior respaldo à suposição do pesquisador de que os grupos são equivalentes em relação às variáveis que podem afetar a variável dependente, com exceção da variável independente. Examinemos um exemplo desse tipo de planejamento: Penna (1988) realizou um estudo visando comparar os desenvolvimentos cognitivo e emocional de crianças entre seis e 24 meses, que freqüentavam creches em regime de externato, e crianças assistidas exclusivamente por suas próprias mães (ou seja, aquelas cujas mães cuidam delas em tempo integral). Foram listadas as principais variáveis que poderiam afetar o desenvolvimento cognitivo e emocional de crianças nessa faixa de idade: a) a idade da criança; b) a idade dos pais; c) o tipo de lar, intacto ou não; d) a posição da criança na constelação familiar; e) o nível socioeconômico da família; f) as condições fisico-materiais do lar e/ou creche (espaço físico, brinquedos disponíveis, etc.); e g) as condições para a formação do vínculo afetivo (apego) entre o bebê e sua própria mãe e/ou a figura da atendente, na creche. As variáveis estranhas foram controladas tomando-se os seguintes cuidados: todos os bebês provinham de lares intactos, com pais entre 18 e 35 anos e eram o primeiro ou o segundo filho do casal. Selecionou-se, em relação a cada criança de creche, uma que era cuidada apenas pela mãe, mas que apresentava dados equivalentes à primeira quanto ao nível socioeconômico, idade, condições fisico-materiais e para a formação de vínculo. Foram, assim, formados blocos, cada um abrangendo dois sujeitos - um de creche e um com cuidados exclusivos da mãe - emparelhados quanto às variáveis acima mencionadas. Dessa maneira a autora pôde ficar mais segura de que as variáveis dos sujeitos tinham sido adequadamente controladas, sendo os dois grupos equivalentes em todos os aspectos, com exceção da variável independente. Quando os mesmos sujeitos são utilizados nos vários tratamentos - plano intra-sujeito - o controle das variáveis estranhas é obtido automaticamente, por assim dizer, já que se trata de um mesmo indivíduo (são eliminadas as diferenças individuais referentes aos tratamentos). Os grupos são equivalentes em todas as situações e medidas, pois são as mesmas pessoas que, com exceção de alguma peculiaridade situacional, apresentam as mesmas características em todas as ocasiões. Por exemplo, em pesquisa já apresentada no Capítulo 4 (problema resolvido 4.6.), referente às medidas de tendência central, o pesquisador estudou ganhos relativos à informação profissional, comparando a leitura de uma monografia completa e uma reduzida. Nesse contexto, foi aplicado 20 previamente (pré-teste) a todos os sujeitos um questionário que avaliava seu nível de informação profissional. Após a leitura da monografia, os mesmos alunos responderam ao mesmo questionário (pós-teste), de modo a se verificar as mudanças ocorridas quanto ao grau de conhecimento das profissões. Como os alunos serviram como seu próprio controle, supõe-se que as variáveis que poderiam afetar o nível de informação profissional foram completamente controladas. Para finalizar, abordaremos o plano fatorial, que difere dos planos já apresentados em um aspecto essencial. Ao contrário dos planos anteriores, apropriados para a investigação de uma única variável independente, o plano fatorial possibilita o estudo do efeito de duas ou mais V.I.(s), assim como da interação entre elas. Para ilustrar o plano fatorial, consideremos a investigação realizada por Tassinari Pinto et alii (1977). As autoras se propuseram a averiguar se estudantes de Psicologia apresentam menor índice de conformismo que os de Letras e Educação; investigaram também se esse fenômeno é mais intenso ao final do curso do que em seu princípio. As variáveis independentes estudadas foram então: a) o curso, cujos níveis (ou variações) foram três - Psicologia, Letras e Educação; b) o tempo do curso, subdividido em seu início (1o ou 2o períodos de créditos) e seu final (8o, 9o ou 10o períodos de créditos). As combinações dessas duas V.I. podem ser melhor visualizadas por meio do quadro I: O quadro mostra que existem seis combinações possíveis dos níveis das V.I.s Cada combinação é representada por um quadrado ou célula, assim: (1) Psicologia e início do curso; (2) Letras e início do curso; (3) Educação e início do curso; (4) Psicologia e final do curso; (5) letras e final do curso; e (6) Educação e final do curso. Como temos um estudo fatorial com duas V.I.s, em que a primeira - curso - apresenta três níveis - Psicologia, letras e Educação e a segunda - tempo - se subdivide em dois níveis (início e final), as variáveis seriam representadas simbolicamente: 3 x 2. O número de algarismos mostra o 21 número de V.1.s (ou fatores) do plano fatorial, e o valor de cada algarismo indica o número de níveis de cada V.I. Exercícios resolvidos 14.1. Moysés e colaboradores estudaram a influência do apoio incondicional fornecido ao sujeito - com base na Psicologia Humanista - na auto-estima. Foram formados dois grupos, de 15 sujeitos cada, sorteados de uma listagem de crianças que participaram de atividades recreativas no 1o Centro Integrado de Assistência à Criança. Os sujeitos se situavam na faixa etária de sete a 14 anos, eram de ambos os sexos, de nível socioeconômico baixo, freqüentando escolas públicas de 1o grau e havia a mesma quantidade de brancos e negros em cada grupo. Durante 12 semanas os dois grupos foram submetidos aos tratamentos, sendo no primeiro grupo usada a Valorização Pessoal (apoio incondicionalao aluno) e, no segundo, os Jogos (placebo). A medida de auto-estima foi feita sob a forma de uma auto-avaliação, utilizando-se o Questionário de Auto-Estima de Miller, adaptado por Moysés. Os autores não constataram aumento significativo na auto-estima dos sujeitos submetidos ao tratamento de Valorização Pessoal, em comparação com os submetidos aos Jogos. Pede-se: a) Formular o problema; b) Formular a hipótese; c) Determinar a variável independente e seus níveis; d) Identificar a variável dependente; e) Identificar as variáveis estranhas controladas pelos pesquisadores; f) Determinar o plano de pesquisa empregado. Resposta: a) O questionamento, o problema do pesquisador, poderia ser formulado da seguinte maneira: “Qual a influência do apoio incondicional fornecido ao sujeito em sua auto-estima?"" b) A suposição do pesquisador, apesar de não ser explicitada no resumo do estudo, é de que "alunos que são valorizados, utilizando-se o apoio incondicional, têm sua auto-estima aumentada em relação a alunos que não o são". 22 c) A variável independente, que está influindo em alguma coisa (na variável dependente), é o apoio incondicional. Foi fornecido a um grupo e não ao outro, assim os níveis da V.1. são: fornecido e não-fornecido. d) O apoio incondicional influiria na auto-estima dos alunos sendo esta, portanto, a variável dependente do estudo. e) O pesquisador procurou controlar as seguintes variáveis estranhas que poderiam afetar a V.D. auto-estima, contaminando os resultados da pesquisa: faixa etária; sexo; nível socioeconômico; nível de escolaridade e raça. f) Como se trata de duas amostras que nada têm a ver uma com a outra, denominamos o plano utilizado de plano de amostras independentes. 14.2. Bonamigo & Bristoli procuraram relacionar o uso de histórias infantis à prontidão para a alfabetização. Consideram que se uma criança, antes de entrar na escola, manusear livros ilustrados e ouvir muitas histórias, apresentará uma melhor prontidão para a alfabetização do que aquela que não recebe esta estimulação. Como sujeitos foram utilizadas 24 crianças com idades entre quatro anos e três meses e sete anos e oito meses, de ambos os sexos, de um bairro pobre de Porto Alegre, sem contato sistemático com qualquer tipo de instituição pré-escolar ou escolar. O Teste ABC - utilizado para detectar o índice de maturidade para o aprendizado da leitura e da escrita em crianças em idade escolar - foi aplicado individualmente nas crianças que atenderam à convocação. Os 24 sujeitos que se voluntarizaram foram designados para dois grupos, com base nos pontos obtidos no teste, de modo que ambos se equivalessem em termos de maturidade para a alfabetização. O programa de treinamento (fornecido apenas a um grupo, o experimental) consistiu em as crianças ouvir histórias, comentando-as com os colegas, em pequenos grupos. Encerrado o treinamento, o Teste ABC foi novamente aplicado em todas as crianças, que não tiveram, nesse meio tempo, nenhum contato sistemático com atividades escolares. O grupo que não foi submetido ao treinamento não apresentou alterações em seus resultados no teste ABC. A comparação entre o pré e o pós-teste do grupo treinado revelou que o treinamento atuou de alguma forma sobre os sujeitos, embora a mudança não tenha sido relevante. Pede-se que você: a) Formule o problema e a hipótese do pesquisador; b) Identifique a variável independente e seus níveis; c) Identifique a variável dependente; d) Justifique o emprego do plano de pesquisa adotado no estudo. 23 Resposta: a) Para o questionamento - “Existe efeito de um programa de histórias infantis sobre a prontidão para a alfabetização?" - os autores supõem que o efeito é positivo, ou seja, “este tipo de programa favorece a prontidão para a alfabetização" (que é a hipótese). b) A variável independente foi o programa de histórias infantis, dado a um grupo (grupo experimental) mas não ao outro (grupo de controle). c) A variável dependente é a prontidão para a alfabetização, ou seja, o índice de maturidade para o aprendizado da leitura e da escrita em crianças em idade escolar. d) Os pesquisadores utilizaram o plano de amostras emparelhadas, sendo usada como variável de emparelhamento a própria variável dependente: este procedimento foi adotado porque a variável estranha, que poderia contaminar o estudo com maior intensidade, seria a própria prontidão prévia para a alfabetização. 14.3. Carvalho Neto e Pontes Neto (1984) procuraram verificar se havia diferenças nas atitudes de alunos da 5a série de 1o grau para com a matemática, quando variavam o controle e o sexo do professor. O controle do professor era conceituado como negativo ao caracterizar um nível inadequado de interação professor-aluno, ocorrendo o oposto com o controle positivo. As atitudes dos alunos frente à matemática foram verificadas por meio das respostas dadas aos itens da Escala de Atitudes em relação à Matemática, de autoria de Ragazzi. Os 80 alunos da 5a série do 1o grau foram distribuídos em quatro grupos de igual tamanho, sendo 20 submetidos a professores do sexo masculino, com controle positivo; 20 a professores do sexo masculino, com controle negativo; 20 a professores do sexo feminino, com controle positivo e 20 a professores do sexo feminino, com controle negativo. Cada grupo de 20 alunos - 10 do sexo masculino e 10 do sexo feminino - foi extraído de forma aleatória de duas salas de aula distintas, correspondentes a duas escolas, sendo uma de nível socioeconômico médio (particular) e a outra de nível socioeconômico baixo (pública). Pede-se: a) Formular o problema e a hipótese do estudo; b) Identificara variável independente e a variável dependente; c) Explicitar as variáveis estranhas controladas pelo pesquisador; d) Justificar o emprego do plano fatorial; 24 e) Representar simbolicamente as variáveis do plano fatorial. Resposta: a) Ao problema - existem diferenças nas atitudes dos alunos frente à matemática, atribuíveis ao tipo de controle utilizado pelo professor de matemática e ao sexo do mesmo, assim como interação entre esses dois aspectos? - seguem-se as seguintes hipóteses: - O controle positivo por parte do professor, expresso pela interação professor-aluno adequada, leva a uma atitude mais favorável frente à matemática que o controle negativo; - A atitude do aluno frente à matemática é influenciada pelo sexo de seu professor; - O tipo de controle e o sexo do professor influem, conjuntamente, na atitude do aluno em relação à matemática. b) As variáveis independentes são o tipo de controle (positivo e negativo), e o sexo do professor (masculino e feminino), que afetam a variável dependente atitude do aluno frente à matemática. c) O pesquisador controlou o sexo e o nível socioeconômico dos alunos. d) O plano fatorial se justifica, pois os pesquisadores pretendem investigar a influência concomitante de duas variáveis independentes. e) As variáveis do plano fatorial podem ser expressas matematicamente pela representação 2 x 2, pois dispomos de duas variáveis independentes, cada uma abrangendo dois níveis. Exercícios propostos Em relação aos resumos de pesquisas que se seguem, pede-se que você: a) Formule o problema e a hipótese; b) Identifique a V.I. e a V.D.; c) Verifique qual(is) a(s) V.E.(s) controlada(s) pelo pesquisador; d) Determine o plano de pesquisa empregado. 25 14.4. Alencar investigou os efeitos de um programa Educacional no desenvolvimento intelectual de escolares com privação cultural. De um total de 30 crianças submetidas a um programa pré-escolar visando ao desenvolvimento intelectual, da linguagem, da percepto-motricidade e da criatividade, foram sorteadas seis crianças, três do sexo masculino e três do sexo feminino. Estas seis crianças foramcomparadas a outras seis do grupo de controle, escolhidas por apresentarem equivalência em termos de idade, sexo, condições de habitação, salário dos pais e número de irmãos, mas que não tiveram acesso ao programa pré-escolar. Tanto as crianças do grupo submetido ao programa pré-escolar como as do grupo de controle responderam, periodicamente, a testes de inteligência, verificando-se resultados nitidamente superiores do primeiro grupo em relação ao segundo. 14.5. Moraes (1981) pesquisou a influência de um programa de Alfabetização Musical - com canções e rimas folclóricas - no nível de aprendizagem musical de crianças da (da) 1a série do 1o grau. O estudo envolveu 63 alunos da 1a série do 1o grau, todos não-repetentes, procedentes do nível socioeconômico baixo e dentro da faixa etária de sete a oito anos, formando três grupos. O primeiro grupo trabalhou com folclore rural, o segundo com folclore urbano e o terceiro foi simplesmente acompanhado. Não foram constatadas diferenças significativas na aprendizagem musical, atribuíveis ao programa. 14.6. O Children's Apperception Test (CAT) é uma técnica projetiva do tipo aperceptivo que compreende dez pranchas representando cenas particularmente significativas para a Psicologia infantil. Pode ser apresentado com figuras de animais (CAT-A) ou com seres humanos (CAT- H). Jacquemin & Martins (1976) procuraram verificar se o CAT-H pode ser considerado como forma paralela do CAT-A quanto aos aspectos quantitativos e qualitativos dos relatos das crianças frente às pranchas. Aplicado o Teste das Matrizes progressivas de Raven (que avalia a inteligência), foram selecionadas apenas crianças com resultado igual ou superior à média. Quanto à escolaridade, foram selecionadas apenas crianças com idades correspondentes à 1a e 2a séries do 1o grau. Foram formados, assim, dois grupos com 24 crianças cada, semelhantes quanto ao número de indivíduos de cada sexo. Na primeira fase, um grupo respondeu ao CAT-A e o outro ao CAT-H, invertendo-se o processo na segunda fase. 14.7. Rodrigues & Alencar (1983) investigaram a influência do sexo, da série cursada (4a, 5a e 6a) e do nível socioeconômico na expressão criativa. A amostra foi constituída por 312 alunos cursando a 4a, 5a e 6a séries do 1o grau do turno diurno, em escolas da rede oficial, selecionados por sorteio 26 dentre os alunos presentes em salas de aula no dia da coleta de dados. Aplicada a Bateria Torrance de Pensamento Criativo, constatou-se um desempenho superior por parte dos alunos do sexo feminino, das 5a e 6a séries e de nível socioeconômico médio, além de interação entre sexo e nível socioeconômico, no sentido de superioridade do sexo feminino na classe baixa e do masculino na classe média. i Extraído de: BUNCHAFT, Guenia e KELLNER, Sheilah Rubino de Oliveira. Estatística sem mistérios. Petrópolis: Vozes, 1998.
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