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Motivacao e personalidade

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PSICOLOGIA IESB, 2009, VOL. 1, NO. 2, 20-23 
20 
MOTIVAÇÃO E PERSONALIDADE: VERBOS, ADVÉRBIOS E ADJETIVOS NA  
DESCRIÇÃO DO COMPORTAMENTO 
 
MOTIVATION AND PERSONALITY: VERBS, ADVERBS AND ADJECTIVES IN THE  
DESCRIPTION OF BEHAVIOR 
 
João Claudio Todorov 
Universidade Católica de Goiás 
 Instituto de Educação Superior de Brasília 
 
Resumo 
Meras descrições de  comportamentos muitas vezes  são usadas  como  causas desses mesmos  comporta‐
mentos. Outras vezes a descrição é usada para inferir um traço de personalidade; o comportamento ocorre 
porque é parte estável do repertório daquela pessoa. Pseudo‐explicações são úteis para fugir da tarefa de 
buscar uma explicação. Quando a questão é banal, fugir do problema nos dá mais tempo de tratar de coi‐
sas mais importantes. Quando a questão é o destino de uma criança na escola, por exemplo, uma pseudo‐
explicação é geralmente desastrosa. 
Palavras‐chave: motivação, personalidade, contexto, contingência. 
 
Abstract 
Quite often descriptions of behavior are used as causes of these same behaviors. Sometimes the descrip‐
tion is used to infer a personality trait: behavior occurs because it is a stable part of that person’s reper‐
toire. Pseudo‐explanations are useful to escape from the task of finding an explanation. When the ques‐
tion  is a  trivial one, escaping  from  it give us  time do deal with more  important questions, but when a 
child’s life at school is in question, for example, any pseudo‐explanation is a disaster. 
Key‐words: motivation, personality, context, contingency. 
——————
Ainda que na vida tudo passe, tudo seja pas‐
sageiro, e, como diria o velho barbudo,  tudo 
que  é  sólido  desmancha  no  ar,  temos  a  ten‐
dência de descrever ações não com verbos de 
ação, mas com adjetivos. Em outras palavras, 
preferimos o verbo ser ao verbo estar. De es‐
tar  triste para ser  triste é um pulo. Alguns e‐
xemplos  podem  ser  suficientes  para  que  se 
conclua  por  algum  traço  de  personalidade  de 
uma  pessoa. Adjetivos  são mais  econômicos 
do  que  um  relato  completo,  mas  um  relato 
que use apenas adjetivos é sempre incompleto 
(Skinner, 1953/2000). Às vezes economizamos 
tempo e palavras na descrição, mas perdemos 
precisão. Vejamos um exemplo: 
“Era jovial e despreocupado, ficou hesitante e soturno. 
Sua  simplicidade deu  lugar à  suntuosidade. De  cari‐
nhoso passou a grosseiro.” 
 
As  três  frases  acima  poderiam  estar  descre‐
vendo  qualquer  uma  de  várias  coisas:  cenas 
de um  balé,  o  comportamento de um diplo‐
mata, ou o estilo de um carnavalesco de esco‐
la de samba. Uma descrição econômica pode 
ganhar  tempo, mas  não  ajuda  na  explicação 
do  que  e do porque  está  acontecendo  (Skin‐
ner,  1953/2000).  Quando  uma  descrição  eco‐
nômica (no sentido de mais curta) passa a ser 
considerada  como  um  traço  constitutivo  da 
personalidade da pessoa  as  conseqüências po‐
dem ser trágicas. Uma criança com dificulda‐
de  de  aprendizagem  e  de  comunicação  nos 
Motivação e Personalidade 
21 
primeiros dias de experiência nova na escola 
que é descrita como retardada poderá a ser vis‐
ta  e  tratada  de  maneira  diferente  de  outra 
com mais experiência em ambientes escolares 
e com a mesma capacidade de aprendizagem. 
Quando por  ser  considerada  retardada a  cri‐
ança passa a ser tratada de maneira diferente 
e a receber menos atenção que a outra,   a es‐
cola  pode  aumentar  ao  invés  de  diminuir  a 
diferença em desempenho entre as duas.  
 
Infelizmente é muito comum se  inferir carac‐
terísticas permanentes de pessoas a partir de 
eventos esporádicos, como se a diferença esti‐
vesse na pessoa (o que é conhecido como Erro 
Fundamental de Atribuição),  quando muitas 
vezes a diferença está no ambiente em que vi‐
ve ou viveu  (Gladwell, 2002; Nisbett & Ross, 
1991). Diferenças em experiência de vida po‐
dem  levar  alguém  a  ser  descrito  como  igno‐
rante ou instruído, ingênuo ou sofisticado, perna‐
de‐pau ou craque. Diferenças presentes nos es‐
quemas de  reforço que mantêm um determi‐
nado comportamento podem levar a pessoa a 
ser descrita  como  entusiástica,  ou  desanimada, 
ou  interessada,  ou  persistente,  etc.  Quando  as 
contingências  que  mantêm  comportamentos 
em alguma situação envolvem punição de al‐
gumas  respostas,  as  pessoas  costumam  ser 
descritas como  tímidas, hesitantes, acovardadas, 
etc. Diferenças  em  níveis  de  privação  de  al‐
gum estímulo reforçador levam a mesma pes‐
soa  a  ser  descrita  como  voraz  ou  inapetente, 
como  libidinosa  ou  desinteressada  (Skinner, 
1953/2000).  
 
Outras vezes a diferença está no ritmo, na ve‐
locidade ou rapidez com que um problema é 
resolvido, ou uma  tarefa é  completada. Uma 
pessoa  é  descrita  como  inteligente  quando  a‐
prende mais rapidamente a decorar uma poe‐
sia, ou a  tabuada de multiplicação, ou a dis‐
tinguir  entre  os  usos  de  sessão  ou  seção,  por 
exemplo. Outras vezes a diferença é de tempo 
para que uma reação aconteça, ou a magnitu‐
de  da  reação. Dizemos  que  uma  pessoa  tem 
pavio  curto  quando  se  irrita  mais  freqüente‐
mente que outras, ou com menos motivo, ou 
que  tem  personalidade  forte  quando  defende 
com vigor os seus direitos. 
 
Todas  as  adjetivações  acima  são  compatíveis 
com a tendência cristalizada no senso comum, 
em nossa linguagem do dia‐a‐dia, de explicar 
as coisas por sua estrutura. Muitas vezes essa 
tendência nos  leva, porém,  a usar o  adjetivo 
(que descreve um comportamento) a ser usa‐
do  como  explicação  do  comportamento.  Di‐
zemos  que  a  criança  resolve  rapidamente  o 
problema porque é inteligente; que o motorista 
responde  rispidamente ao passageiro porque 
é  grosseiro;  que  a  recepcionista  sorri para  to‐
dos  os  clientes  porque  é  alegre;  que  alguém 
trabalha horas em um quebra‐cabeça porque é 
persistente. Adjetivos como esses são úteis pa‐
ra  a  psicologia  apenas  no  sentido  de  que  a 
melhor previsão do comportamento é aquela 
baseada  em  informações  sobre  o  comporta‐
mento em condições semelhantes no passado. 
Um  teste  de  habilidades  mecânicas  nos  dá 
uma  amostra  de  comportamentos  que  pode 
nos ajudar a selecionar melhor candidatos pa‐
ra uma função que vai exigir habilidades me‐
cânicas  no  futuro;  é perda de  tempo, porém 
dizer que os melhores desempenhos no  teste 
são devidos a alta  inteligência mecânica.  Isso 
seria explicar o comportamento pela descrição 
desse mesmo comportamento. Testes psicoló‐
gicos costumam ser  inventários de  respostas, 
as quais são atribuídas a classes, e, a partir da 
freqüência relativa de certos comportamentos 
relatados,  as pessoas  recebem  certos  rótulos, 
sejam  eles  testes de  atitudes, de  opiniões  ou 
de  desempenho.  Mas,  como  disse  Skinner 
(1953/2000),  infelizmente o  comportamento  é 
complexo, e sua explicação requer uma análi‐
se funcional. As habilidades mecânicas de um 
candidato ao vestibular do curso de engenha‐
ria podem  ser  resultado da herança genética 
que recebeu de seus pais, do tipo de ambiente 
Todorov, J. C. 
22 
no qual  se desenvolveu quando criança e do 
ambiente com o qual interage agora – alguma 
combinação  imensurável  desses  três  fatores. 
Como  não  conseguimos  observar  e  determi‐
nar as causas em cada caso usamos os efeitos 
para  prever  outros  efeitos;  usamos  observa‐
ções  de  comportamentos  para  prever  outros 
comportamentos (Williams, Myerson & Hale, 
2008). Nada mais que  isso, por mais elabora‐
dos que sejam os modelos matemáticos aí en‐
volvidos. 
 
Quando não é possível observar as variáveis 
das  quais  um  comportamento  no  presente  é 
função,  testes  como  amostras  de  comporta‐
mento  são  úteis,  mas  apenas  parcialmente. 
Um  teste que  faz o  levantamento de  tendên‐cias agressivas certamente poderá prever com 
mais  ou menos precisão  quando  uma  agres‐
são vai ocorrer, mas não nos ajuda a controlar 
ou evitar essa agressão. O efeito de variáveis 
de  contexto  no  presente  se  sobrepujando  a 
disposições  inerentes  detectadas  em  outras 
situações  é  bem  ilustrado  pelo  experimento 
famoso do psicólogo Phillip Zimbardo, trans‐
formado em filme comercial, “A Experiência”.  
Em outro experimento Darley & Batson (1973) 
submeteram  seminaristas  a  um  experimento 
inspirado na parábola do Bom Samaritano, o 
viajante assaltado e agredido na estrada entre 
Jerusalém,  e  Jericó.  Os  alunos  do  Princeton 
Theological  Seminary primeiro  foram  avalia‐
dos  quanto  ao  principal  dentre  os  motivos 
que  os  levaram  a  ser  seminaristas  –  ajudar 
pessoas  necessitadas  ou  busca  de  realização 
pessoal  e  espiritual.  A  seguir  se  pediu  que 
preparassem  uma  pequena  exposição  sobre 
um tema bíblico, a ser apresentado para uma 
comissão  julgadora em outro prédio do cam‐
pus.  Para  alguns  o  tema  foi  a  relevância  da 
carreira de clérigo para a vocação sacerdotal, 
para outros o tema foi a parábola do bom sa‐
maritano. Antes de ir fazer a apresentação do 
tema  cada  aluno  teve  uma  pequena  reunião 
com os experimentadores. Para alguns a reu‐
nião foi terminada com o aviso de que já esta‐
vam atrasados para a apresentação do tema, e 
que deviam  se apressar. Para outros  se disse 
que a reunião estava terminada mas eles ain‐
da tinham algum tempo antes de fazer a apre‐
sentação no  outro prédio. No  caminho  entre 
os  dois  prédios,  deserto,  havia  um  ator  que 
colaborou com a pesquisa, fingindo estar pas‐
sando  mal,  deitado  no  chão  em  um  canto. 
Quem parou para ver o que havia com o “do‐
ente”? Só dez por cento dos que estavam com 
pressa  pararam  para  ajudar,  contra  63% dos 
que  estavam despreocupados. Para atuar  co‐
mo bom samaritano não foi importante nem o 
principal motivo pelo qual estava no seminá‐
rio, nem o  tema do  sermão que  tinha prepa‐
rado. 
 
Pesquisas  recentes  que  empregam  métodos 
de  análise  funcional  (Iwata,  Dorsey,  Slifer, 
Bauman & Richman, 1982/1994) mostram co‐
mo  essas  relações  ambiente‐  comportamento 
podem  ser  estudadas  de  modo  proveitoso. 
Kuhn, Hardesty &  Luczynski  (2009),  Bruzek 
& Thompson (2007) e Northup, Kodak, Grow, 
Lee & Coyne (2004), por exemplo, mostraram 
como eventos sociais antecedentes podem al‐
terar o valor de  conseqüências do  comporta‐
mento  sem  alterações  em  variáveis  motiva‐
cionais. Outra linha de pesquisa mostra como 
as pseudo‐explicações muitas vezes são dadas 
dependendo da audiência presente (Weather‐
ly, Miller & Mcdonald, 1999). Por outro  lado, 
se o conceito de inteligência tem tantos signi‐
ficados que deixou de ser útil (Jensen, 1998), a 
análise  dos  comportamentos  envolvidos  co‐
meça a ser de interesse dos analistas do com‐
portamento  (e.g., Williams, Myerson & Hale, 
2008; Chen, Hale & Myerson, 2007). 
 
Referências 
 
Bruzek,  J.  L. &  Thompson, R. H.  (2007). Antece‐
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Applied Behavior Analysis, 40, 327‐331. 
Motivação e Personalidade 
23 
Chen, J., Hale, S., & Myerson, J. (2007). Predicting 
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& Review, 14, 534‐541. 
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Press.  
Northup, J., Kodak, T., Grow, L., Lee, J., & Coyne, 
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Behavior Analysis, 37, 509‐512. 
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Weatherly,  J.  N.,  Miller,  K.  &  Mcdonald,  T.  W.  
(1999).  Social  influence  as  stimulus  control. 
Behavior and Social Issues, 9, 25‐45. 
Williams, B. A., Myerson, J., & Hale, S. (2008). In‐
dividual  differences,  intelligence,  and  behav‐
ior analysis. Journal of the Experimental Analysis 
of Behavior, 90, 219‐231. 
 
e‐mail para correspondência: 
joaoclaudio.todorov@gmail.com 
 
Artigo convidado.

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