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Marília Mendes Silva IED Privado II IED PRIVADO II Professor_Ermiro Neto Relação Jurídica; Introdução Qual o papel da autonomia no Direito? Até onde o direito pode alcançar? Quais meus comportamentos conduta que a norma jurídica pode alcançar? Autonomia privada – qual o limite e o papel da autonomia? Direito Civil; Estado da Arte O direito civil integra o direito privado e o direito privado se opõe ao que convencionou chamar de direito público. O que é direito público, e o que é direito privado? Qual papel de cada um, qual objetivo de cada um? Desde Roma, a separação entre direito privado e direito publico era um dogma – algo que era tido como uma parte do direito natural. Atualmente se entende que direito privado e direito público é uma separação eminentemente cultural. Separação Cultural Direito Público – Constituição Direito Privado – Particulares/ Código Civil Direito Público e Direito Privado: Separação Cultural – a divisão que se coloca entre direito público e direito privado não é uma ordem pré estabelecida, é fruto de uma construção cultural – essa construção cultural se coloca na medida em que para os romanos o direito público é o setor do mundo do direito responsável pela organização do Estado e das relações do Estado como cidadão. As funções do Estado, dos poderes, a organização do país seria feita através de regras inerentes ao direito público. O direito público tinha o objetivo, portanto de regulamentar o funcionamento do Estado e as relações entre estado e cidadão. O marco jurídico/legislativo do direito público é a Constituição. Por oposição ao direito público, no campo do direito privado tem algo distinto – tem normas que tendem a regulamentar as relações entre particulares – quando tiver uma circunstância que o Estado não é parte, o Estado não comparece (contratos, relações de família, etc.), estará no âmbito do direito privado – o regulamento do direito privado está no código civil. A separação entre direito publico e direito privado é uma separação cultural. Que tipo de teoria estaria por trás dessa separação cultural? Existem coisas, problemas que são problemas de interesse público, e existem problemas que são de particulares, em que o Estado não se mete em problemas particulares. Como toda construção cultural, como reflexo de uma ideologia liberal, porque afasta o Estado da relação de particulares – relega solução dos problemas relacionados aos próprios particulares – refletindo essa Marília Mendes Silva IED Privado II ideologia liberal, no momento que o próprio Estado liberal entra em crise, essa separação também entra em crise. Exemplo para ilustrar esse problema – hoje essa separação entre direito publico e direito privado, não pode ser uma separação tida como uma separação absoluta e estanque: * Caso do clube Paulistano: No ano de 2010 – (vida de paulistano se desenvolve em trabalho, bares e clubes – associações que eram formadas e afiliados poderiam desfrutar dos equipamentos) – o clube paulistano enfrentou um problema que coloca de forma bem clara a impossibilidade dessa separação – o estatuto dessa associação dizia os associados do clube paulistano que se casarem terão automaticamente estendido ao seu cônjuge o direito de ser sócio do clube – o tempo passa e resolve fazer uma resolução no estatuto dizendo que o mesmo direito que garante ao cônjuge será estendido também a situações de união estável – o tempo passa e no ano de 2010 um associado homossexual tem uma união estável com outro homossexual e procura o clube para que o companheiro seja associado também – alguém no clube diz que pensou na norma para homem e mulher – Este problema é um problema de direito privado? Como se resolveu essa situação? O associado também tem o direito de ter o companheiro como associado? Ou o clube paulistano quando escreveu o estatuto não previu essa possibilidade? E por não haver previsão ele não teria esse direito? Estamos no campo do direto privado – porque é uma relação entre particulares – não há Estado – como se resolve esse problema? Resolve de acordo com o código civil, pois é o que regulariza as relações particulares – os associados têm direitos iguais – seja qual for a resposta uma coisa é certa – não é a melhor forma de julgar o caso tendo em mente exclusivamente o estatuto. O caso foi julgado em favor do casal que vivia em união homoafetiva – na medida em que essa distinção entre direito publico e direito privado é uma construção cultural, e sendo construção cultural, na medida em que o Estado liberal entra em decadência, dá lugar ao Estado intervencionista a norma jurídica vai incidir sim, seja ela de direito publico ou de direito privado, vai incidir em relações privadas. As partes não tem absoluta autonomia para regular os seus interesses. Embora o estatuto do clube paulistano até pudesse falar que não admitiria pessoas que convivessem em relação homoafetiva – embora o estatuto pudesse dizer isso, a norma estatutária poderia ser afastada sem dúvida nenhuma, porque ela confrontaria com normas de direitos públicos, normas de direitos fundamentais relacionados a liberdade sexual, e com normas de direito privado, porque o próprio código civil impede esse tipo de discriminação não havendo razão distintiva relevante para que possa tratar diferente pessoas iguais. Esse é o primeiro passo para que se possa entender qual o atual estado da arte do direito civil é preciso ter em mente de uma forma clara, que a separação que colocava outrora direto público e direito privado é uma separação em absoluta decadência – Há uma crise da dicotomia entre direito público e direito privado – antes absoluta separação - havia o Estado e havia os particulares. Crise da dicotomia significa que essa absoluta separação não se sustenta mais – por que não se sustenta mais? Razões ideológicas forte reflete nesse raciocínio – não se sustenta mais porque o Estado deve intervir em relações privadas – o estado intervencionista deve intervir nas relações para garantir igualdade, dignidade, respeito aos hipossuficientes. A crise do ponto de vista jurídico pode ser explicada de que modo? A crise entre o direito público e o direito privado tem como consequência a interpenetração do direito público e do direito privado que se dá de duas formas. Há uma zona de convergência entre o direito público e o direito privado. Marília Mendes Silva IED Privado II O primeiro fenômeno é a constitucionalização do direito privado – a CF neste novo contexto de aproximação entre direito público e direito privado, dá tutela, proteção a uma serie de direitos privados que antes ficavam ligados exclusivamente ao código civil. Ex: CF fala de uma função social da propriedade - um dos três pilares do direito civil; o segundo pilar está na constituição também que fala de uma necessidade de observância de uma função social do contrato; como também a partir do artigo 206, a CF fala da proteção da família (terceiro pilar fundamental do direito civil) – se tem os três pilares principais do direito privado, a família, a propriedade, o contrato com previsão expressa na CF. Mais do que uma questão de ter na CF, há uma profunda modificação da forma como se enxerga esses institutos, pois agora deverão ser revisitados, reinterpretados à luz da CF. Isso opera profunda modificação na forma de raciocinar - a forma de solucionar problemas como esse foi modificado em função da constitucionalização do direito privado. O segundo fenômeno, se por um lado o direito privado é inserido no direito publico, por outro lado o direito público é inserido no direito privado em função da eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Eficácia vertical – quando o Estado garante os direitos fundamentais das pessoas = Os direitos fundamentaisserão assegurados pela CF a fim de proteger as pessoas em face do poder exercido pelo Estado. Ex: direitos fundamentais de 1ª geração (direito a vida, direito a propriedade, direito ao devido processo legal = Estado não pode punir sem ouvir antes; o Estado não pode condenar sem que tenha acesso a um advogado). O que é eficácia horizontal dos direitos fundamentais? Os direitos fundamentais serão exercidos não somente para proteger a pessoa em face do Estado vertical, mas também para proteger a pessoa em face de outros entes privados, que assim como o Estado poderão gerar violações de direitos. Ex: caso do clube paulistano – o casal que vivia numa relação de união estável, não estava naquele momento tendo violado seu direito fundamental a igualdade, à liberdade sexual, direito a desenvolvimento de uma personalidade com dignidade – e o mesmo direito de igualdade, de liberdade que existe em face do Estado, também poderá ser exercido em face de outro particular. Falar em direitos fundamentais que é um elemento estritamente um direito público no âmbito privado é uma novidade absoluta – coisa nova. Através desses dois canais de comunicação, a constitucionalização dos direitos privados e a eficácia horizontal dos direitos fundamentais é que se tem dito que essa separação entre direito público e direito privado não se sustenta mais, ao menos nos termos colocados na Roma antiga, na revolução liberal, sobretudo a revolução liberal francesa – algumas questões privadas são questões de ordem pública – por isso que se diz que o empregado não pode ter uma remuneração inferior àquela que o Estado diz que ele tem que ter. Há uma intervenção profunda do Estado numa relação privada como é de garantir/tutelar que uma parte mais fraca tenha os seus direitos previstos na lei devidamente garantidos. Como pode caracterizar o direito privado? Do ponto de vista objetivo, é o conjunto das normas jurídicas que regulamentam as relações jurídicas de direito privado. Marília Mendes Silva IED Privado II O principal elemento que distingue direito público de direito privado é a incidência da autonomia. O direito público opera sobre uma premissa que tem por base o princípio de legalidade estrita (agentes públicos e agentes políticos somente podem fazer o que a lei permite). Já no direito privado, o principio da legalidade opera de uma forma distinta – a regra é a autonomia e a exceção é a proibição. Ou seja, princípio da legalidade no direito privado, eu posso fazer tudo que eu quiser desde que a lei não proíba – essa é a essência do direito privado - é no direito privado o campo fértil para o exercício da autonomia privada. Autonomia Marca o elemento distintivo entre direito público e direito privado. Quando pensa o que estudará em IED Privado II, estuda-se basicamente autonomia privada, conteúdo e limites da autonomia privada (o que pode fazer? que forma pode fazer? que forma pode utilizar para fazer o que quer fazer). No direito privado pode fazer tudo aquilo que a lei não proíbe (autonomia). Ex: justiça condena pai que não ama o filho no pagamento de indenização – como explica isso? As relações familiares estão no campo do direito privado – há dever de amar o filho? Não há de forma clara uma norma legal que diga que é obrigação do genitor oferecer carinho, amor ao filho. Como isso é possível no âmbito do direito privado? Tudo isso no âmbito da autonomia – a autonomia talvez não seja tão livre assim – a autonomia deve ser exercida em conformidade com a ordem jurídica estabelecida. Atualmente existem tantas leis sobre tantas coisas e tantas relações que mesmo essa autonomia que é elemento distintivo do direito privado, mesmo ela pode não ser tão ampla assim. Ex: se tem no shopping uma placa que diz não nos responsabilizamos por objetos deixados no carro – o consumidor que coloca o carro dentro do estacionamento que tem essa placa, ele sabe que o shopping diz que não se responsabilizará, mas imbuído de autonomia escolhe aquele estacionamento – que autonomia é essa que pode ser estudada, refletida – que sem estudar direito que aquela cláusula é nula de pleno direito – porque há uma lei que está acima das vontades das partes que vai dizer que se responsabiliza sim – a autonomia não é tão larga dessa forma. Autonomia deve ser exercida em conformidade com a ordem jurídica estabelecida. Teoria Do Fato Jurídico Quando estuda os limites da autonomia, tem que estudar o outro lado – enxergar o que a lei regula, aquilo que não está a disposição da autonomia é justamente aquilo que a lei regula. Para entender separa o mundo do direito em: Mundo dos Fatos Mundo dos Fatos Jurídicos O que é relevante para o direito? O que o direito regula, regulamenta? Se um raio cai e não machuca ninguém, derruba uma árvore, isso gera alguma consequência jurídica? Nascerá um direito para alguém em função desse fato? Marília Mendes Silva IED Privado II O fato de o raio cair em uma árvore sem provocar prejuízo em ninguém, isso é relevante para o direito? Não. Não há efeito jurídico simplesmente porque não há norma jurídica regulamentando esse fato. Esse fato é um fato ajurídico (sem efeito jurídico, mero fato, simples fato). Situação distinta do seguinte fato: se joga microfone na cabeça de alguém, esse alguém terá algum direito contra quem jogou o microfone? Sim. O direito de ser indenizado, danos morais – nascendo um direito em função desse fato, posso dizer que esse fato é regulado por uma norma jurídica – o direito nasce porque há uma norma jurídica que diz que quando alguém causa dano a outrem, esse dano deverá ser indenizado (artigo 286, CC). Toda vez que um fato for regulado por uma norma jurídica, e deste fato eu puder extrair efeitos jurídicos, dirá que esse fato era um fato jurídico. Dentro desse mundo dos fatos jurídicos (fatos sobre quais incidem uma norma jurídica, há uma substancial diferença entre duas situações distintas). “A norma jurídica incide sobre os fatos da vida colorindo-os” O que não teria efeito jurídico algum, não geraria efeito jurídico a ninguém, a partir do momento que crio uma norma para regulamentar o fato, ele se transforma em um fato jurídico. Estes fatos jurídicos são distintos na medida em que existem os fatos que dependem da vontade do sujeito e existem fatos que não dependem da vontade. Ex: uma pessoa imbuída de autonomia pegou o microfone e jogou na cabeça de outro – agiu com autonomia. Essa situação não se confunde com o fato de independente da vontade o microfone escorregasse da mão e caísse na cabeça do outro – são situações que não se confundem – existem fatos que dependem da vontade e existem fatos que não dependem da vontade dos sujeitos de direito. Quando esses fatos dependem da vontade para se manifestar dirá que desse fato jurídico, que é gênero, nascerá uma espécie intitulada ato jurídico. Para os fatos que não dependem da vontade, esses fatos são considerados fatos jurídicos estrito senso, pois ocorrem independentemente da vontade das partes. O ato jurídico, portanto, o fato jurídico que ocorre na dependência da vontade manifestada pelo sujeito de direito também se divide em duas situações distintas – (ato jurídico é o fato jurídico que depende da vontade do sujeito de direito para se manifestar) - a distinção entre essas duas situações: 1ª situação: Y contrata X ser advogada – contrato para X representar Y numa ação judicial – mas Y repensa e não quer mais que X seja advogada dele (quando o advogado é contratado precisa ter uma procuração do seu cliente – quando não quer que a pessoa seja mais advogado retira os poderes que deu através da procuração – esse ato de retirar poderes produz que tipo de efeito jurídico? Qual a consequência de Y retirar os poderes de X? Qual o efeito jurídico disso? Não vai podermais representar, está extinguindo uma relação jurídica – há mais algum efeito? A princípio não há mais nenhum efeito). Essa situação da procuração é uma situação que diz a doutrina: o ato jurídico simplesmente faz nascerem efeitos previstos na lei – qual o ato previsto na lei no ato de retirar os poderes do advogado? Extinguir o vinculo. Outra situação: A tem apartamento que vai alugar p B, faz-se um contrato – um pedaço de papel assinado pelos dois que vai estabelecer uma série de regras para essa relação – data de pagamento, valor de pagamento, data de devolução, se B pintar, A vai reembolsar pela pintura (benfeitorias), correção Marília Mendes Silva IED Privado II monetária do aluguel, multa se atrasar o pagamento, direito de preferência se for vender, responsabilidade sobre o imóvel, finanças – pode intitular nesse ato jurídico que também depende da vontade, assim como na procuração, uma série de efeitos jurídicos que não necessariamente estão previstos na lei. No primeiro caso tem um ato jurídico que uma vez manifestado a vontade o único efeito possível é aquele previsto na lei – a minha vontade se manifesta para que o efeito previsto na lei ocorra. Na segunda situação A e B estão prevendo uma série de efeitos jurídicos que não constam na lei – criam-se novas regras para o jogo. Na primeira situação está-se diante de um ato jurídico stricto sensu, caracterizada pelos efeitos jurídicos são exclusivamente aqueles previstos na lei. No ato jurídico stricto sensu a vontade jurídica quando manifestada faz nascer efeitos jurídicos previstos na lei – as regras do jogo já estão previstas na lei, não cria novas regras. Na segunda situação está-se diante de um negócio jurídico que se caracteriza – pode a partir do negócio jurídico, que está regulado pelo direito, que depende da vontade – a vontade não serve simplesmente para fazer surgir efeitos previstos na lei – a vontade cria novos efeitos. No caso da locação pode dizer qual a causa penal, qual a garantia se é fiança, seguro, aval (etc.) – pode prever situações completamente distintas do que diz a lei – faço nascer novos efeitos jurídicos. Onde autonomia tem maior amplitude? É ato jurídico ou no negócio jurídico? Negócio jurídico – porque cria regras, cria efeitos. Contrato não é igual a negócio jurídico. O negócio jurídico pode ser de dois tipos: unilateral (a vontade de uma pessoa só cria os efeitos) – ex: testamento; e pode ser bilateral ou multilateral ou plurilateral. A autonomia tem que estar em consonância com a lei? Que autonomia é essa? Posso em determinadas situações afastar o que diz a lei? A autonomia pode afastar o que a lei diz? Existem situações que a autonomia é ampla – nessas situações que a autonomia é ampla há possibilidade de inclusive afastar o que diz a lei – há situações em que a lei permite uma autonomia tão ampla que pode inclusive afastar as regras da lei – mas existem outras situações de normas que a ordem jurídica brasileira intitula de normas de ordem pública – código de defesa do consumidos, relações de trabalho, relações de emprego, relações em determinados contratos que a própria lei diz que não poderão ser afastadas todas as vontades das partes, como certas previsões previstas na lei de locações – autonomia curta. Fato jurídico strictu senso e Ato Jurídico strictu senso – no fato jurídico strictu senso, está diante de um fato jurídico que não há manifestação de vontades de ninguém. No ato jurídico strictu senso está diante de um fato jurídico em que há manifestação de vontade, mas esta manifestação de vontade simplesmente para a aderir a manifestações já previstos na lei – não cria novos efeitos como cria no negócio jurídico. Quando depende da vontade: ato jurídico; para os fatos que não dependem da vontade esses fatos são considerados fatos jurídicos stricto sensu, pois ocorre independentemente da vontade das partes. Dentro do ato jurídico há duas situações distintas – a ato para retirar poderes produz o efeito jurídico – extinguir o vínculo. Marília Mendes Silva IED Privado II Existem os fatos que dependem da vontade do sujeito e existem fatos que não dependem da vontade. Estudar a forma como esse negócio jurídico pode criar esses novos efeitos – plano da existência, plano da validade, plano da eficácia - de que forma particulares pode autorregulamentar os interesses? Criar as regras do jogo, das relações negociais – dos contratos, dos negócios de uma maneira geral. Teoria do Fato Jurídico: Consequências e Classificações Planos da Existência, Eficácia e Validade Sujeitos (Personalidade, capacidade, ausência, emancipação, domicílio) Bens (públicos, privados, moveis, imóveis, etc.) Fato Jurídico (Relação Jurídica) Estuda-se o vinculo que une os laços do sujeito de direito em torno de um objeto: o fato jurídico (a relação jurídica). Quando fala de sujeitos e quando fala de bens se fala do ato mais simples daquilo que forma a molécula mais obvia do direito civil – toda relação do direito civil é uma relação que encontrará esses três elementos – toda relação de direito privado será uma relação que fatalmente terá que identificar estes três elementos. Ex: em um contrato de compra e venda de um bem, terá um sujeito 1 que tem a obrigação de vender, de transferir o domínio ou a obrigação de pagar um preço a um sujeito 2 – todas essas obrigações, todos esses direitos e deveres estão em torno de um determinado objeto, e estas partes, estes sujeitos que estarão unidos em função de um determinado fato, um contrato, uma lei, um negócio em si que une esses dois sujeitos em torno desses direitos e deveres. Estudar o vínculo que une esses dois sujeitos que intitula de fato jurídico – toda vez que tem esses três átomos unidos, tem a formação de uma molécula a qual se dá o nome de relação jurídica. Quais as consequências do fato jurídico? O que efetivamente ele cria? O que efetivamente pode extrair de uma determinada relação jurídica? O que nasce após a relação jurídica? O fato jurídico é capaz de criar, modificar ou extinguir relações jurídicas. Efetivamente a praxe comprova essa teoria. Quando se firma um compromisso de compra e venda com alguém, cria direitos e deveres que gira em torno do objeto daquela compra e venda – criando o direito que a parte vendedora tem de exigir o pagamento do preço. Criando para parte vendedora o direito que ele tem em face do comprador de exigir a transferência da coisa – em qualquer relação jurídica se tem a transferência, efetivamente a criação de direitos e deveres. A doutrina prevê que a criação desses direitos pode se dar de duas formas – classificando essas formas de criação de direitos, de aquisição de direitos a doutrina prevê que essa aquisição/criação poderá se dar de duas formas: Fato jurídico – consequências desse fato jurídico O fato jurídico é capaz de criar direitos, criar relações jurídicas, modificar relações jurídicas e capaz de extinguir relações jurídicas. Marília Mendes Silva IED Privado II CRIAÇÃO/AQUISIÇÃO DE DIREITOS E DEVERES A criação desse direito pode-se se dar de duas formas: 1) Modo Originário Aquisição de direitos poderá se dar de modo originário e ocorrerá de modo originário quando o direito criado em função do fato jurídico, não guardar nenhuma relação com relação jurídica anterior (não há nenhum vinculo relacionado com a relação jurídica anterior) [não há nenhuma relação entre a relação jurídica criada e a relação jurídica anterior]. Ex: usucapião Na usucapião se alguém não cuida do seu bem imóvel, não exerce o cuidado com esse imóvel, não demonstra que o imóvel e seu, vem o terceiro e se apossa do imóvel embora não seja dono sem a oposição do dono, o terceiro poderá se tornar proprietário do imóvel. Usucapião émodalidade de aquisição de propriedade que se processa em função do exercício da posse e do decurso (passagem) do tempo. A lógica é: se sou proprietário de uma determinada área, ou uma determinada coisa – tem não só o direito de usar da minha área, como junto com esse direito eu tenho o dever de exercer essa posse de uma forma que seu eu não exerço e se uma pessoa faz por mim, a legislação dará a pessoa após um determinado prazo o direito de ingressar com uma ação na justiça – ação de usucapião – para que o juiz reconheça o exercício dessa posse sem a oposição do real proprietário, por um determinado período de tempo – e o juiz ao reconhecer esses dois requisitos vai determinar que o cartório de registro de imóveis transfira (compulsória) a propriedade para pessoa que conseguiu preencher esses dois requisitos – a lógica é uma lógica de que a propriedade não traz em si apenas direitos de usar aquela área, traz em si também uma quantidade de deveres, ônus, vinculado aquela propriedade. Por que a usucapião é modo originário de aquisição de direitos? O bem adquirido por usucapião não guarda qualquer vinculação com a propriedade anterior. Quando fala em modo originário de aquisição dos direitos, fala que o direito está sendo adquirido praticamente virgem, sem nenhum tipo de gravame, de defeito ou de risco – todos os gravames que existiriam antes desse modo originário de aquisição, deixam de existir. Ex: Se o bem da usucapião tem uma hipoteca, a hipoteca cai, pois nos modos originários de aquisição de direitos todos os gravames, ônus, vícios anteriores a aquisição são extintos. Por isso se fala de modo originário – está originando um direito novo - tudo que existia anteriormente fica extinto – o novo proprietário receberá o bem sem nenhum vício. O modo de aquisição originário se contrapõe ao modo de aquisição derivada. Caso Bolo Raciocínio Jurídico – Incidência de direitos fundamentais em relações privada, ou eficácia horizontal de direitos fundamentais. 2) Modo de Aquisição Derivada No modo derivado, o direito que é criado seguirá uma vinculação com o direito anterior. Marília Mendes Silva IED Privado II Há uma vinculação entre a relação jurídica criada e a relação jurídica anterior. Ex: Registro – assim como a propriedade imobiliária pode ser adquirida usucapião, também pode ser adquirida através de registro – toda propriedade imóvel somente se transfere a partir do registro da aquisição, junto ao cartório de registro de imóveis. Por essa razão são comum processos junto a justiça do país em situações em que houve a escritura do bem – mas tem a escritura do bem imóvel – comprou esse bem há anos, tem prova que comprou, mas tendo a escritura e não havendo a escritura do registro não se opera a transferência do bem imóvel para o real adquirente. Diferente do modo originário, no registro a nova relação jurídica criada a partir da transferência do bem guardará sempre uma vinculação com a relação jurídica anterior. Ex: hipoteca – se compro um bem de uma pessoa, celebra escritura pública, leva a escritura pública a registro – se no cartório existir junto ao registro uma hipoteca, uma penhora, algum tipo de gravame que esteja registrado na matrícula do bem, o novo adquirente irá herdar esses gravames – essas características do bem. Eles não se extinguem em função da venda – tudo o que existia sobre o bem [gravame, defeito, risco, hipoteca] continuará gravado junto ao bem, e o novo adquirente sucederá todas essas características do bem. 3) Além do modo originário e do modo derivado, outra classificação opõe de um lado a aquisição de direitos a título gratuito e a aquisição de direitos a título oneroso. Será a titulo gratuito as aquisições de direito em que não exista o pagamento de contraprestações. Ex: aquisição de direitos mediante achamento, aquisição de direitos por força da doação, patrimônio que é adquirido a título gratuito sem nenhum pagamento de contraprestação – essa aquisição deu-se de modo gratuito. A aquisição se dará a título oneroso sempre que houver o pagamento de contraprestação. Ex: compra e venda OBS: sobre modalidades gratuitas ou onerosas de aquisição de direitos. 1) Aquisição de direitos a título gratuito: O código civil de 2002 é um código civil baseado em três diretrizes: sociabilidade, eticidade, operabilidade. Do ponto de vista da diretriz da eticidade, Miguel Reali e a comissão responsável pelo código civil quis que o código tivesse não apenas uma regulação jurídica da vida civil, como também permitisse uma regulamentação ética dessa vida civil – certas circunstâncias, cláusulas abertas como a boa fé, lealdade, permite que o juiz ao julgar determinados casos concretos não busque apenas uma solução juridicamente correta, como eticamente legítima. O que isso tem haver com doação? A ética numa aquisição gratuita tem uma incidência muito maior do que numa aquisição onerosa – não que não exista ética numa aquisição onerosa, mas todos saberemos que a ética numa aquisição gratuita Marília Mendes Silva IED Privado II tem uma incidência muito maior – quem faz um bem a um terceiro na forma de uma doação não poderia este terceiro lhe fazer um mal. Se eu der um carro para um empregado, não seria estranho que o sujeito após receber o carro pudesse praticar um indício contra mim (calúnia, morte) e essa doação permanecesse válida? Seria diferente se fosse vendido. Obs: Na doação será possível a revogação do contrato nas hipóteses de indignidade do donatário. Há uma incidência maior da ética na aquisição de direitos a título gratuito. Toda doação deverá ser feita através de instrumento por escrito, nenhuma doação poderá ser feito por costume – exceção a essa regra segundo o código, é que as doações manuais (feitas a relativos a bens de pequena monta) e que imediatamente seja aceitável pelo donatário, poderá ser feita por outro modo que não seja por escrito - doação verbal. Art. 557 CC Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações: I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele; II - se cometeu contra ele ofensa física; III - se o injuriou gravemente ou o caluniou; IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava. 2) Aquisição de direitos a título oneroso Não significa que não aja incidência de ética, mas é uma incidência menor – não se pode revogar uma compra e venda porque quem comprou o apartamento falou mal depois. Mas, nas aquisições onerosas o descumprimento da obrigação por uma das partes permite que a outra parte não cumpra com a sua. Ex: na compra de um apartamento, existe duas obrigações – o comprador tem a obrigação de pagar o preço, e o vendedor tem a obrigação de transferir o bem através do registro – se o comprador não cumpre com a obrigação de pagar o preço, o vendedor está obrigado a transferir o bem? Não. Com base no exemplo, a isso se dá o nome de exceção do contrato não cumprido com previsão no artigo 476 CC. Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. PESQUISA: (A doa para B, B vende para C, e depois B pratica ato contra A) Qual a solução prevista no código civil para as hipóteses de ingratidão do donatário quando o bem objeto da doação já foi transferido para um terceiro? (entre artigos 538 e 564). Ainda tratando das consequências que podem ser extraídas de uma relação jurídica a primeira das consequências é classificada como criação ou aquisição de direitos e essa mesma doutrina cria uma série de classificações para as formas como esse direito pode ser criado ou adquirido – modo originário, modo derivado, modo gratuito, modo oneroso. Marília Mendes SilvaIED Privado II A última classificação a respeito da aquisição de direitos - pode ser adquirido ou criado a título singular ou a título universal. 3) Aquisição de direitos a título singular ou a título universal Nas aquisições a título singular o objeto da aquisição é um bem especificamente considerado (singular). Ex: hipótese da compra e venda de apartamento – qual objeto da compra e venda? O apartamento – é um bem especificamente. Nas aquisições a título universal, todo um patrimônio, um conjunto de bens, será o objeto da transferência. Ex: sucessão Porque é um conjunto de bens – não considera apenas o bem, mas todo o conjunto. MODIFICAÇÃO DE DIREITOS (da própria relação jurídica) A modificação poderá ser de dois tipos: Objetiva Subjetiva A modificação será objetiva quando atingir o próprio objeto do direito sem o extinguir, atinge apenas elementos laterais do direito [opera sobre elementos laterais do direito sem, no entanto extingui-lo]. Ex: amortização de um débito Se tiver um débito de 100 mil reais e amortiza (paga metade, 50 mil reais) – não pode dizer que houve a extinção do débito, seria a última consequência do fato jurídico (não houve extinção do direito); não pode dizer que houve aquisição de novos direitos (pois o debito continua existindo); não há a modificação ao ponto de se dizer que houve a criação do direito; mas por meio do pagamento parcial da dívida, eu modifiquei o valor do débito – ao invés de 100 mil reais em função do pagamento, ela foi modificada para 50 mil reais – objetivamente o direito pode ser atingido em virtude de um determinado fato jurídico. Essa situação se distingue da hipótese em que há modificação subjetiva – a modificação subjetiva opera junto aos sujeitos da relação jurídica, não mais sobre o próprio objeto da relação jurídica. Ex: desapropriação A CF brasileira permite que o Estado, ente público em determinadas circunstâncias em que aja elevado interesse público – construção de estrada de ferrovia, construção de um viaduto, de uma ponte – nestas circunstâncias disciplinadas pela legislação autoriza a desapropriação (o ente público vai tomar o bem de um particular por conta de um interesse público) – o que isso tem haver com uma modificação subjetiva? Numa desapropriação tem uma relação de propriedade de sujeito de direito sobre uma determinada coisa – com a desapropriação que é exemplo de modificação subjetiva, tem a modificação do sujeito que exerce direito de propriedade sobre a coisa – sai o sujeito que antes era proprietário e dar lugar ao Estado. E o particular fica como? Marília Mendes Silva IED Privado II O Estado não pode tomar o bem sem o pagamento da indenização – a indenização é o valor de mercado do bem, não é o valor venal. DEFESA DE DIREITOS O fato jurídico também permite a defesa de outros direitos. Dois exemplos podem ser utilizados com relação a essa defesa: - Direito de Ação Ex: a regra é que o direito possa ser defendido por outro direito, o direito de ação. Dois modos de defender um determinado direito são possíveis, a regra é que o direito possa ser defendido através do exercício de outros direitos que é o direito de ação – o fato jurídico em determinadas circunstâncias pode permitir viabilizar a defesa de um direito como regra através desse instrumento, o exercício de outro direito que é o instrumento de ação. A CF no art. 5º garante a todos os cidadãos o direito de ir ao poder judiciário para defender os seus interesses. Ex: se compra um apartamento, o comprador paga o valor combinado, e se o vendedor não transfere o imóvel, esse fato permite dirigir ao poder judiciário e pedir a um juiz que condene a transferir o bem objeto do pagamento. Uma segunda forma de defesa é a autotutela. - Autotutela São circunstâncias em que a legislação permite a defesa de direitos sem que tenha que se valer do poder judiciário. Chamada defesa “Manu militari” (você exerce a defesa do seu direito sem se valer do direito de ação, pelas suas próprias mãos). Ex: como exemplo de autotutela a legislação brasileira permite a defesa da posse contra o chamado esbulho possessório (art. 1210 parágrafo 1º) Uma das consequências do fato jurídico além de criar e adquirir direitos é a defesa destes direitos, posso me valer de certos atos para defender meus direitos – o mais comum desses atos é através do direito de ação – excepcionalmente posso me valer da autotutela. O exemplo é o que está neste artigo – é a defesa da posse contra um esbulho possessório. O direito de ser mantido na posse, é tão precioso para o direito civil brasileiro que permitiu-se uma das únicas hipóteses de autotutela – se alguém viola minha posse [entra no carro para roubar, invade a casa, invade o terreno] – pode defender de algum modo? (Art. 1.210). Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. Turbação = incômodo Esbulho = perda da posse § 1.º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. Marília Mendes Silva IED Privado II O ato de autotutela exige que a reação contra a violação da posse seja: - Imediato à violação - Reação proporcional à violação Ex: massacre de El Dourado de Carajás – não ser considerado uma reação proporcional se as pessoas são recebidas com tiros. O que a legislação quer, é construir uma legislação para que não seja possível em tempo hábil busque o poder judiciário para ingressar com uma ação de integração de posse, para defender a sua posse. A reação do artigo 1210 é conhecida como desforço incontinente. Não sendo a reação imediata nem proporcional, o que era considerado lícito inicialmente, passa a ser um ato ilícito, inclusive tipificado como crime, que é o crime de exercício arbitrário das próprias razões. (previsto no artigo 345, CP). Artigo 345 CP Art. 345. Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. EXTINÇÃO DO PRÓPRIO DIREITO Um determinado direito pode se extinguir por renuncia ou ato voluntário do titular do direito que renuncia a ele. Ex: inventário do falecimento, e filhos renuncia direito da herança em favor da mãe. Ex: o falecimento do titular extingue os direitos personalíssimos (direito que não pode ser exercido por outra pessoa - direito a imagem). Ex: o direito pode ser extinto em função do decurso do tempo, como ocorre no caso da prescrição. Planos da existência, da validade e da eficácia Fatos da vida Fatos Jurídicos Vontade: Ato Jurídico “Mero Fato” Não há vontade: Fato Jurídico “Stricto Senso” Os fatos da vida – tudo que a pessoa faz é considerado para o direito um fato da vida, tudo que pode ser regulado ou não – nos fatos da vida há uma divisão importante – existe alguns fatos que não geram efeito jurídico algum – quando esse fato acontece, ele é irrelevante para o direito (porque não gera efeito jurídico algum = “mero fato” – se um raio cai sem machucar alguém, não há fato jurídico nesse fato). Marília Mendes Silva IED Privado II Para aqueles que conseguem enxerga que a ausência de afeto é capaz de fazer nascer o dever de indenizar – o fato da ausência de afeto estaria na situação do mero fato, que não gera direito, dever a ninguém – fato que a lei escolheu não regulamentar a princípio. Há outros fatos em que a norma jurídicaincide sobre eles – quando isso acontece, o fato da vida sobre o qual não havia nada gravitando ao seu redor é atraído desse universo para o outro campo que é o mundo dos fatos jurídicos. A principal distinção entre fatos jurídicos, meros fatos e fatos da vida é o fato de que esse fato jurídico gera efeito jurídico. Se dar um soco em alguém – que tipo de efeito jurídico pode extrair desse fato – permite exigir indenização – permite processo criminal sobre lesão corporal – permite a seguradora, que protege contra lesões, a seguradora pode cobrar de quem deu o soco. Os pais de quem recebeu o soco pode alegar que foi causado dano a eles da mesma forma que foi causado ao filho – dano reflexo ou dano enri cochete – certos atos causam a vítima enri cochete – o dano poderá incidir também em pessoas próximas. Comum em responsabilidades civil de homicídio. Há três tipos de efeitos distintos: efeito no campo penal, efeito no campo da responsabilidade civil, efeito no campo contratual. Certos atos não geram efeito jurídico algum e certos atos são capazes de gerar efeito jurídico – fazem nascerem direitos, deveres, impõe obrigações – porque existe norma jurídica que incide sobre esses fatos. Fato Jurídico Dentro do universo do fato jurídico podem-se fazer duas distinções diferentes: - a vontade humana que foi capaz de gerar esse fato - não há vontade Quando a vontade humana gera o fato jurídico, o pequeno universo, essa divisão em que há a incidência da vontade humana dará o nome de ato jurídico. Quando não houver manifestação de vontade humana estará no campo do fato jurídico “Stricto Sensu”. Em um caso, a vontade humana produz o ato, em outro caso não há manifestação alguma de vontade humana. Atos Jurídicos Os atos em que a vontade humana produz o efeito jurídico. Há situações em que este ato jurídico exclusivamente adere a efeitos já previstos em lei. Ex: casamento – quando alguém casa pega a certidão leva no cartório, o cartório vai dar o proclame para ver se alguém vai impugnar – e na frente do juiz assina – ao assinar, os cônjuges estão aderindo uma série efeitos de previstos em lei. Quando há uma mera adesão a efeitos já previstos em lei, o ato jurídico não será um ato jurídico lato sensu, estará tratando de um ato jurídico stricto sensu. Marília Mendes Silva IED Privado II O meu ato de vontade, a liberdade ao desejar algo vai exclusivamente ao – isso fica mais fácil ao comparar o sentido de aderir a efeitos já previstos na lei, com a situação de criação de efeitos. Perceba a diferença da situação do casamento - a mesma lei que diz que quem casa vai escolher um regime de comunhão ou não comunhão, permite que cada um de nós possamos através da nossa manifestação de vontade criar novos efeitos não previstos na lei. A mesma lei que diz que se casar está aderindo a um regime jurídico, permite que crie novos efeitos (pode criar uma cláusula de traição, se trair pagar valor x). A criação de novos efeitos no casamento se dá através do chamado pacto antenupcial. Pelo pacto antenupcial os cônjuges podem, por exemplo, se comprometer que os filhos serão educados em alguma religião. No âmbito do pacto antenupcial, as cláusulas são mais polêmicas – porque estão no campo de escolhas existenciais. Nas escolhas patrimoniais não há polêmica. No pacto antenupcial ao invés de aderir a uma já estabelecida na lei pode criar novas regras para esse jogo. Quando tem essa possibilidade, quando cria novos efeitos não está mais no campo ato jurídico stricto sensu, estará no campo agora do negócio jurídico – não está aderindo a efeitos já previstos na lei – está criando novos efeitos que a lei não prevê. Negócio Jurídico – efetivamente cria novos efeitos. Ex: compra e venda de um bem. Alguns autores referem ao ato fato jurídico. No ato fato jurídico, a hipótese de incidência pressupõe a vontade humana, mas os efeitos decorrem da norma e não da vontade em si. A união estável é exemplo de ato fato jurídico, pois a sua constituição depende de ato humano, mas esse ato não se volta para a constituição de efeitos. Como funciona o ato fato? Duas pessoas que se relacionam em um namoro – um deles não pensa em se casar, já moram juntos, eles rompem em determinada relação – eles se viam em uma condição pública – todos sabiam que eles eram um casal, as pessoas viam neles em uma família – mas nunca formalizaram como casamento – inclusive um deles não queria casar – ao romper a mulher procura o judiciário para dizer que embora não oficializado viviam em uma união estável – para parte da doutrina essa situação nem tanto é uma situação de ato jurídico em que aja adesão da parte a lei, pois na união estável não há essa adesão de forma expressa, há um mero comportamento que pode ser encaixado numa relação regulamentada pela lei – nem também é uma situação que a vontade não tenha relevância nenhuma na produção de fato jurídico. Estaria em meio termo entre o ato jurídico e o fato jurídico. Para o professor, não há uma distinção profunda que leve a criar uma terceira categoria. Livro: Marcos Bernardes de Melo – Teoria do Fato Jurídico Plano da Existência Teoria do Negócio Jurídico – Antonio Junqueira de Azevedo – saraiva Marília Mendes Silva IED Privado II Teoria do Fato Jurídico O estudo dos planos da existência, da validade e da eficácia do fato jurídico. A teoria que cria esses planos pode ser encontrada na escola pandectista alemã. Como é comum na Alemanha, a escola buscou compreender de que modo o fato jurídico é capaz de gerar efeitos. Para obter êxito neste estudo, nesta sistematização no modo como o fato jurídico incide a doutrina classificou os fatos jurídicos em planos distintos – plano da existência, plano da validade e plano da eficácia. Plano da Existência No plano da existência vamos buscar elementos sem os quais o fato jurídico se quer existe – é o que de mais básico é solicitado pela ordem jurídica para que o fato da vida se torne um fato jurídico. O mínimo que precisa para dizer que o fato da vida se transforme em um fato jurídico? Basta a incidência de uma norma – se tem um só fato de existir determinada norma regulamentando uma determinada conduta, quando essa conduta acontece esse fato se transformara em um fato jurídico. No plano da existência irá buscar os elementos de existência do fato que para doutrina são classificados em o fato, a ocorrência do fato e o suporte fático. Determinados elementos jurídicos para que ele exista basta que o fato aconteça e exista efetivamente uma norma regulamentando esse fato. Para que o fato aconteça é preciso que ele ocorra, exista – quando esse fato ocorre e há na lei uma hipótese fática, uma hipótese normativo, um suporte fático regulamentando essa conduta dirá que o fato jurídico existe a partir daquele momento – ele ingressa no plano da existência. A norma prevê o suporte fático (que é a hipótese ideal, a hipótese do dever ser), porque além do suporte fático a norma prevê a consequência normativa (obrigação, dever de indenizar). O mero ato que ingressa no plano da existência, no momento em que eu pratico o ato, ou seja, o fato da vida existe e ele ingressa no plano da existência no momento em que esse meu ato se encaixa no suporte fático de uma norma jurídica prevista em lei. Quando isso acontece, imaginemos que o fato se encaixa na hipótese normativa e deflagra um determinado efeito jurídico previsto em lei. Ex: quando dá um soco em alguém, o fato se encaixa no fato previsto no art. 186 e 187 do código civil e em virtude desse encaixe se tem um efeito jurídico que está previsto em lei. TÍTULO III Dos Atos Ilícitos Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamentemoral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. TÍTULO IX Da Responsabilidade Civil CAPÍTULO I DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Marília Mendes Silva IED Privado II O ato de dar soco se encaixa perfeitamente no suporte fático da norma, e esse suporte fático por sua vez prevê uma consequência que é o art. 927 – fica obrigado a repará-lo. A reparação é a consequência prevista no suporte fático, exigindo o fato e existindo um encaixe junto ao suporte fático pode dizer, portanto que este fato ingressa no plano da existência e a partir deste momento ele se transforma em um fato jurídico. O suporte fático, que é a hipótese prevista na lei, tem sido classificado pela doutrina (são tantos suporte práticos, que quanto mais normas, quanto mais leis, quanto mais regulação eu posso concluir que existem mais suporte fáticos – são tantos os suportes fáticos que a doutrina tem classificado diversos modos como a lei cria esse suporte fático em algumas classificações). Classificação dos Suportes Fáticos: 1)Suporte Fático Simples Aquele que envolve apenas um fato – prevê exclusivamente um fato. Ex: nascimento de alguém (previsão art. 1º e 2º CC) 2) Dos Suportes Fáticos Complexos São constituídos por vários fatos – não apenas um fato. Ex: casamento O suporte fático pode ter os seus elementos divididos em elementos nucleares e elementos integrativos. Os elementos nucleares estão ligados à suficiência do fato jurídico. Já os elementos integrativos encontram-se ligados à validade do fato, ou a sua produção de efeitos. Seção I Disposições Gerais Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. Contratos nominados - tem regulação específica e a tipicidade está prevista no código. Para que exista uma compra e venda, que é fato jurídico, tem que ter um contratante que se obriga a transferir domínio a propriedade da coisa, para o outro contratante que se obriga a pagar o preço. São elementos nucleares da compra e venda o consenso das partes, coisa e preço. Na compra e venda poderão ter elementos integrativos, como a capacidade do sujeito, que é um elemento que não depende da existência do contrato, a forma pela qual a compra e venda será articulada. Plano da Validade Estar-se no plano da validade quando uma vez superada a existência, o fato existe e os seus elementos encontram previsão no suporte fático – mas na validade discute outra questão, não quer discutir se ele existe ou não existe – discute quais são os requisitos para que o fato seja válido. No plano da validade somente avalio a capacidade do sujeito de direito de criar novos efeitos jurídicos. A ordem jurídica nos deu um bônus – regulamenta a conduta quando tem as previsões nas hipóteses normativas – mas o sujeito poderá auto regulamentar a conduta através da liberdade – que é o que acontece quando firma um contrato – a criação desses novos efeitos se dá em razão da autonomia, da liberdade contratual. Mas, a ordem jurídica também dá um ônus – você pode criar contratos, criar as regras, mas a obrigação dessas regras deverá obedecer a certos requisitos. Marília Mendes Silva IED Privado II A pergunta que deve responder quando se trabalha com o plano da validade é: quais são as regras que o sujeito de direito deve obedecer para que seja possível a autorregulação de interesses? No plano da existência para que o fato jurídico exista precisa de plano da existência um sujeito, objeto, forma e vontade. No plano da validade não basta que o sujeito exista, este sujeito para produzir as regras tem que possuir capacidade. Não basta que o objeto exista, para que essas regras que se criam sejam consideradas válidas – o objeto tem que ser lícito, possível, determinado ou determinável; forma prescrita em lei e não proibida em lei; manifestada de modo livre e sem vícios. Ao estudar plano de validade, estudam-se instruções de produção de normas por nós sujeitos de direito. Alguns atos jurídicos embora existentes e embora válidos podem não gerar efeitos. No plano da eficácia as partes poderão, embora o ato seja existente e válido, suspender ou extinguir os efeitos jurídicos. Não fala de elemento que é aquilo necessário para que algo exista, não fala de requisito, que é algo que tem que ser observado para que essa coisa seja produzida de uma forma válida, falará pressupostos da eficácia. Como prova que a existência, validade e eficácia são planos distintos e autônomos entre si há as diversas situações: Situação 1: O ato poderá existir, ser válido e eficaz. Ex: casamento de duas pessoas em que não há nenhum tipo de impedimento para a celebração do ato. Situação 2: O ato poderá ser existente, válido e ineficaz. Ex: testamento enquanto o testador não morre. Situação 3: O ato poderá ser existente, inválido e eficaz. Ex: casamento putativo (Casamento putativo é o casamento que, suscetível de anulação - produzido de forma inválida por conta de um impedimento) previsão no art. 1548 e 1550 CC. CAPÍTULO VIII DA INVALIDADE DO CASAMENTO Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil; II - por infringência de impedimento. Art. 1.550. É anulável o casamento: I - de quem não completou a idade mínima para casar; II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento; V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; VI - por incompetência da autoridade celebrante. Parágrafo único. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada. Marília Mendes Silva IED Privado II Situação 4: O ato poderá existir e ser inválido e ineficaz. Ex: compra e venda por um menor de 16 anos, doação para um absolutamente incapaz. Teoria do fato jurídico – tende a explicar a forma pela qual a norma jurídica incide nos fatos da vida e os regulamenta. Para compreender de que modo a norma regula os fatos da vida, regula os comportamentos. As duas ideias tem um único objetivo. Para explicar de que modo isso ocorre faz uso de duas ferramentas – o primeiro instrumento diz respeito a classificação do fato jurídico (ato jurídico, ato fato, fato jurídico, negócio jurídico) – o segundo instrumento é a divisão da teoria do a do fato jurídico no plano da existência, da validade e da eficácia. As duas ideias em conjunto tem um único objetivo – tentar explicar de modo dogmático, técnico, jurídico de que modo a norma jurídica incide sobre os fatos da vida e os regulamenta de modo a ser possível deles extrair algum efeito jurídico. Negócio Jurídico São atos jurídicos, ou seja, os fatos jurídicos que dependem da manifestação da vontade dos sujeitos de direito; os atos jurídicos em que os efeitos poderão ser amplamente criados pelo sujeito de direito – os negócios jurídicos diferente do que acontece no ato jurídico em que a vontade manifestada serve exclusivamente para aderir a efeitos já previstos na lei – no negócio jurídico os sujeitos de direito poderão ter possibilidade ampla e livre de criar os seus próprios efeitos jurídicos – no negócio jurídico eu tenho a possibilidade de criar as regras do jogo, as regras que regulamentarão, o programa contratual, as regras queregulamentarão os diversos negócios que cada um de nós firmamos diariamente. Quando falo em negócio jurídico tem como plano de fundo sempre a ideia de liberdade – no negócio jurídico que a autonomia dos sujeitos se manifesta com mais força – sempre o cenário de qualquer pano de fundo que o negócio jurídico está na ideia de liberdade – o sujeito de direito é livre para pactuar os efeitos jurídicos decorrentes do negócio; o sujeito de direito tem liberdade para criar, construir os seus próprios efeitos jurídicos. Sendo este o cenário, precisa conversar sobre os limites dessa liberdade. O que não pode fazer na constituição do fato jurídico? Posso pactuar um contrato com qualquer conteúdo que eu quiser? Art. 538 CC Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. Art. 548 CC Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador. A liberdade é o núcleo de fundo do negócio jurídico – se isso é verdade, como interpreta o artigo 548 CC? Se alguém diante desta proibição ainda assim efetua uma doação de todos os seus bens para uma doação de caridade, eu posso dizer que essa liberdade que emitiu elaborar esse contrato, esse negócio que é a doação violou a lei? E qual a consequência dessa doação? O que pode extrair da ideia de nulidade prevista no artigo 548 CC? Marília Mendes Silva IED Privado II A nulidade pode ser interpretada como uma sanção para os sujeitos de direito que não observam no exercício de sua liberdade os limites previstos na legislação para uso dessa liberdade. A lei prescreve limites para o exercício da liberdade. Mas nem sempre essa liberdade estará de acordo com a lei. Mesmo no exercício dessa liberdade, em determinados momentos é possível às partes afastar as prescrições previstas nas legislações. Lei 8245/91 Seção VI Das Benfeitorias Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas, serão indenizáveis, e permitem o exercício do direito de retenção. Benfeitoria são acréscimos objeto de uma construção por parte de um locatário em um bem objeto da locação. Ex: se alugo apartamento e troco piso, lustre, ou qualquer coisa são consideradas benfeitorias. As benfeitorias podem ser de três tipos: Benfeitorias úteis – não são fundamentais para o uso do bem, mas melhoram o uso do bem, torna mais cômodo o uso do bem – troca do piso, colocação de um gesso – pode fazer desde que o locador autorize. Benfeitorias necessárias – fundamentais para o próprio uso do bem (exemplo o teto vai cair) - são sempre indenizadas pelo locador – pode fazer o conserto sem pedir autorização e o locador terá que indenizar. Benfeitorias voluptuárias – tem meramente fins estéticos, servem para embelezar o bem – não haverá direito de indenização, o locador não precisa reembolsar. Posso desfazer o que a lei está dizendo? E dizer sejam benfeitorias necessárias, úteis ou voluptuárias não irei indenizar? Posso ir de encontro à própria lei? A margem de liberdade não pode servir para dispor de um modo distinto do que diz a lei? Nessa hipótese específica o STJ tem jurisprudência absolutamente tranquila, antiga e pacífica, sucessivos precedentes no sentido de que nos contratos de locação as partes podem dispor que as benfeitorias não serão de modo algum indenizadas. Os limites da liberdade no negócio jurídico são limites que se encontram estabelecidos em lei – nas disposições da lei – não se pode ter em mente um determinado limite genérico com base em posições pessoais e opiniões pessoais e que sirva para criar algum tipo de obstáculo a liberdade contratual. Na própria lei, nas disposições da lei – na doação não havia margem para discussão, a doação universal é nula de plenos direitos – não tem espaço para discussão. Já nas benfeitorias do contrato de locação é a própria lei que diz, salvo em disposição contrário, quer dizer, a lei atribui as partes uma margem maior de liberdade do que no contrato de doação e permite que na constituição dos efeitos jurídico das regras do jogo daquele negócio especifico pode dispor de modo contrário ao que diz a lei. Marília Mendes Silva IED Privado II A discussão em torno da liberdade visa estipular não apenas o conteúdo como também os seus próprios limites. Essa liberdade pode ser uma liberdade a depender do período histórico que você tome como referência pode ser uma liberdade maior ou menor. A liberdade contratual sempre foi tida como uma liberdade absolutamente ampla – liberdade inicialmente nos períodos liberais era tida como uma liberdade ampla – o que fundamentou a face jurídica dos movimentos liberais se reflete numa concessão de ampla liberdade às partes para configurar os seus negócios – se trata de liberalismo se coloca nas mãos de setores da burguesia uma ampla liberdade para regulamentação dos seus negócios – isso do ponto de vista jurídico se traduz numa concessão de liberdade contratual maior do que nos dias atuais – nesse primeiro momento, quando falar de liberdade contratual estará sempre falando em autonomia privada da vontade. Liberdade Ampla: autonomia da vontade – traduz uma ideia de que os contratantes encontram poucos limites na constituição de seus próprios negócios jurídicos – após todas as reformas pós código civil francês, após a queda do próprio Estado liberal, a ascensão do estado intervencionista – esses movimentos econômicos deságuam, se refletem no direito numa redução da liberdade – se o Estado é intervencionista, se o Estado tende a tutelar através de políticas públicas em um modo mais próximo certas relações sociais, essa margem de liberdade diminui – e se diminui não se fala mais em autonomia da vontade – estará tratando agora da autonomia privada. Autonomia Privada: Traduz redução da margem de liberdade das partes na configuração dos seus negócios jurídicos. O negócio jurídico nesses termos de liberdade mais diminuída do que no século XVII, XIX pode ser conceituado como o ato jurídico praticado pelos sujeitos de direito, cujos efeitos podem ser criados pelas partes desde que obedecidos os requisitos de validade do negócio jurídico. Estes requisitos de validade são encontrados na própria lei. Esse negócio jurídico costuma ser classificado pela doutrina tendo em vista alguns critérios: Classificação: Quanto à declaração de vontade: Unilateral – se aperfeiçoa pela manifestação de vontade de apenas um sujeito de direito. Ex: testamento – todos os efeitos se aplicam ao testamento – só precisa de manifestação de vontade do testador. Bilateral – a constituição do negócio depende da manifestação de vontade de pelo menos duas pessoas. Ex: compra e venda; locação; prestação de serviços. Plurilateral – se aperfeiçoa com a manifestação de vontade de mais de duas pessoas. Ex: sociedade (contrato social) – em empresa com mais de dois sócios o contrato depende da manifestação de vontade de mais de uma pessoa. Quanto aos titulares do negócio: “Inter vivos” – os efeitos do negócio jurídico são estabelecidos durante a vida de todos os titulares do negócio/ todas as partes que firmam o negócio. Marília Mendes Silva IED Privado II “Causa mortis” – os efeitos do negócio jurídico serão produzidos após o falecimento de ao menos uma das partes. Ex: testamento Quanto à forma: Solene – somente poderão ser constituídos mediante observância de forma específica prevista em lei. Ex: a constituição do contato de seguro (somente se aperfeiçoa por escrito, mediante entrega de uma apólice – não se constituide qualquer forma ou a qualquer momento um contrato de seguro – somente pessoas específicas podem construir um contrato de seguro, desde que autorizadas pelo banco central brasileiro, desde que exista uma apólice que descrevam quais são as condições do seguro); venda de imóveis acima de 30 salários mínimos - a forma específica prevista na lei é a constituição através de uma escritura pública, não pode ser através de um instrumento particular (art. 108 CC). Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. Consensual – a constituição não depende da observância de forma especifica e se aperfeiçoam ”solo consensus”. Basta o consenso das partes verbalmente com relação a estes contratos, e ele estará perfeitamente configurado. OBS1: Contratos bilaterais – as partes poderão se valer da chamada exceção do contrato não cumprido. Sempre que o contrato depender da manifestação de vontade de duas pessoas, uma das partes não pode exigir o cumprimento da obrigação do outro enquanto não cumprir a sua própria. Ex: contratos de compra e venda 1 – incorporadora 2 – 3 vezes R$ 50.000,00 3 – Exceção do contrato não cumprido X tem uma incorporadora de bens imóveis – compra terreno e constrói prédios para vender apartamentos e Y fez com X um contrato de compra e venda com relação aos apartamentos dele – negociaram que o pagamento da compra em venda será feito em 3 parcelas de 50 mil reais – efetua o pagamento da primeira parcela, efetua o pagamento da segunda parcela e antes da quitação integral do bem – sabendo que o imóvel já estava pronto, Y conversa com X e pretende usufruir das áreas comuns do prédio – para o código civil essa pretensão de usufruir de um bem, mas sem efetuar a quitação integral do preço, será bloqueada em função da aplicação da exceção do contrato não cumprido. Enquanto Y não efetuar o cumprimento integral da minha parte no contrato não pode exigir de X na qualidade de vendedor de imóvel que ele cumpra a dele. OBS2: Quanto à forma – Contratos consensuais – contrato não precisa de manifestação de contrato solene. A manifestação nem sempre vai se dar de forma verbal, pode ter a constituição de negócios jurídicos através de um mero comportamento. Marília Mendes Silva IED Privado II Nestes casos em que o negócio jurídico se constitui pelo mero comportamento, ele não se constitui de modo solene, não vai ser por escritura pública, não vai ser por escrito, não se constitui de forma verbal – se aperfeiçoa pelo mero comportamento das partes, ou são os contratos chamados tácitos (Contratos tácitos). Ex: doação – se aperfeiçoa pela manifestação de vontade do doador e pela aceitação do donatário – quem recebe o contrato de doação é intitulado pelo código civil como parte donatária. Qual o mais comum da doação? Assinar um instrumento particular – por escrito – contrato solene. Mas o código diz, nas doações manuais não haverá necessidade de solenidade – as doações manuais são, portanto contrato de doações consensuais. E o mesmo código diz, se a parte donatária, nessa doação manual, não declara aceitar o bem, mas passa a se comportar como se dono fosse da coisa, o contrato estará configurado em função desse comportamento da parte donatária – quem recebe um carro, mas não diz expressamente que aceita, mas passa a utilizar daquele bem como se fosse seu, passa a efetuar o pagamento de IPVA, passa a arcar com os custos de manutenção do veículo, com o seu comportamento ele estará dizendo que aceitou o bem, embora em nenhum momento isso tenha sido dito de modo expresso ou de modo verbal. Regras de interpretação do Negócio Jurídico A lei concede uma liberdade dentro de certos limites para que possamos criar as regras do nosso jogo contratual. Quando cria as regras, mais importante do que a própria criação das regras é o modo como vai interpretar essas regras – a maior parte dos problemas envolvendo contratos não são problemas na criação das regras – na previsão das regras não consegue imaginar após 5 anos verificar qual tipo de regra dará problema em relação ao cumprimento – a interpretação do contrato no momento da constituição é uma interpretação relativamente fácil, as partes não conseguem prever os problemas que poderão enfrentar em virtude da interpretação daquelas regras que estão sendo escritas. Por essa razão o código civil ao regulamentar essa margem de liberdade que é possível para constituir o código jurídico – o código civil regulamenta como esse negócio deverá ser interpretado e estas regras se encontram previstas a partir do artigo 110 CC. A principal diretriz para interpretação do negócio jurídico tem haver com a cláusula geral de tutela da boa fé objetiva. Boa fé objetiva (113, CC) Reserva mental (110, CC) Silêncio (111, CC) Intenção (112, CC) Regra da interpretação restrita (114, CC) Boa fé objetiva *** (113, CC) Cláusula geral de tutela da boa fé objetiva – principal regra – previsão no artigo 113 CC. Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. A ideia de boa fé objetiva traduz um padrão de comportamento – o código civil quando fala que os negócios jurídicos deverão ser interpretados conforme a boa fé, a intenção do código é impor aos Marília Mendes Silva IED Privado II contratantes sempre um determinado padrão de leitura que lhes permitam extrair sempre um padrão de comportamento. A boa fé se compõe de um tripé: o Dever de informação o Dever de honestidade o Dever de segurança A boa fé objetiva não se confunde – toda vez que o código tratar da boa fé tem que se questionar se o código trata da boa fé objetiva ou subjetiva. A boa fé subjetiva traduz uma ideia de ausência de conhecimento a respeito de vícios relativos ao negócio. O sujeito que compra um imóvel na mão de uma pessoa que não é o real proprietário estará de boa fé, mas uma boa fé subjetiva. A regra do artigo 113 que compõe a boa fé tem sido indicada como uma regra principal, diretriz que direciona todas as outras regras previstas no código civil a partir do artigo 110 CC. Reserva mental (110, CC) Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. A regra do artigo 110 é a regra da reserva mental, que pode ser interpretada como o negócio jurídico terá validade, será exigível ainda que a parte contratante tenha feito a reserva mental no sentido de não cumpri-lo. A reserva mental pode ser traduzida na ideia do sujeito que assina o contrato para não cumprir. O que a reserva mental tem haver com a interpretação do negócio? Mesmo que ele assim o faça, assine e constitua o contrato desde o início com o objetivo de não cumprir, ainda assim esse contrato será válido. Reserva mental = segurança jurídica Regra do silêncio (art. 111 CC) Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. O silencio é capaz de manifesta a vontade? Para o código civil o silencio poderá sim manifestar vontade, manifestar conhecimento. O artigo 111 torna jurídico o ditado de quem cala consente. Essa concordância deve ser observada dentro de dois requisitos: Marília Mendes Silva IED Privado II 1) Desde que a circunstância do caso autorize – o que significa isso? Pode presumir que o sujeito que não manifesta a vontade no sentido de aceitar a doação de um bemcom encargo, posso presumir que o silencio dele será uma anuência? - Doação sem cargo X quer doar o carro para Y que não fala nada, não manifesta vontade – então X fala que encaminhará uma carta para que formalmente Y diga se aceita ou não o carro que está doando e Y não se manifesta, continua se mantendo em silencio – esse silêncio de Y pode ser considerado como uma anuência em relação a doação? As circunstâncias do caso, os costumes permitem interpretar que o silêncio dele pode ser considerado como uma anuência? Pode. Qual tipo de dano essa doação pode causar a Y? - Doação com encargo X fala para Y – meu carro é seu, foi feito uma doação, mas se você aceita, você terá o encargo de transportar minha filha para escola pelo prazo de 5 anos – essa situação pode presumir que Y aceitou? Se ele está construindo para ele próprio o encargo, uma obrigação - pode presumir que houve aceitação em virtude do silêncio? Não pode presumir. As circunstancias do caso não autorizam que X faça presunção. 2) Além disso, o silencio só pode ser considerado como ato de anuência – além dos fatos e circunstâncias autorizar, em segundo lugar se o contrato for um contrato solene não pode extrair essa anuência (não pode presumir, porque havendo necessidade de uma manifestação de vontade, o silêncio significa que eu não manifestei vontade, não que eu manifestei anuência) – se o contrato for consensual o silencio pode ser considerado como anuência. Se o contrato for solene, o silêncio não pode ser considerado como anuência. Regra da intenção** (art. 112, CC) Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. O artigo 112 impõe que as partes deverão interpretar buscando a interpretação que mais se aproxime da intenção real das partes. A melhor interpretação será sempre aquela que se aproximar mais da real intenção das partes. OBS: consagrada nos projetos de unificação da legislação civil no âmbito da união europeia. Intenção é externalizada, ainda que não seja no contrato. Regra da interpretação restrita (Art. 114, CC) Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. Na forma do artigo 114, a renúncia a direito dos negócios jurídicos benéficos devem ser interpretadas sempre restritivamente. O regulamento geral das benfeitorias diz que a benfeitora necessária será indenizada independente de autorização – a benfeitoria útil será indenizada se houver autorização do locador e a benfeitoria voluptuária não será indenizada – esse regulamento geral previsto na lei geral de locações poderá ser alterado no contrato. Marília Mendes Silva IED Privado II Se pega o contrato e tem dizendo que a parte locatária renuncia a qualquer direito sobre benfeitorias – a melhor interpretação é: a parte locatária renunciou a indenização de qualquer benfeitoria, ou a parte locatária renunciou apenas a alguns tipos de benfeitorias? Diante dessas regras, qual a melhor interpretação para essa causa? Essa é uma regra de renuncia a direito – é um direito garantido na legislação, garantido na lei de locações, um direito a indenização pelas benfeitorias e é uma regra de renuncia – estou renunciando a um direito que a lei me da – essa renuncia pelo artigo 114 é uma renuncia que deve ser interpretada de modo restritivo, ou seja, não vale para todas as benfeitorias – eu tenho que buscar na leitura do restante do contrato, na intenção das partes extrair quais foram as benfeitorias as quais eu quis me referir quando eu pactuei essa renuncia prevista no artigo 114 do código. Mas não posso partir da premissa que ao tratar de benfeitorias essa renuncia quis dizer todas as benfeitorias – pode até ser que seja isso, mas parte da premissa, partindo de uma interpretação restritiva em função da renuncia que eu tenho que buscar ser o mais restrito possível – a partir de outros elementos previstos no contrato buscar a real intenção das partes para identificar quais benfeitorias eu quis efetivamente realizar essa denuncia. Os elementos do negócio jurídico Existência São: Agente (não tem negócio manifestado por coisas e animais, precisa de um agente, um sujeito de direito). Manifestação de vontade (se o negócio jurídico é o ato jurídico por meio do qual o sujeito de direito manifesta sua vontade e essa vontade não é aquela que adere os previstos na lei, mas é algo criador de novos efeitos – eu preciso de vontade). Objeto (as pessoas firmam negócio jurídico em torno de algum objeto – casa, carro, lanche na cantina). Deve se exteriorizar através de uma forma (modo como se exterioriza) Sem agente não tem negócio jurídico, sem pessoa não tem negócio jurídico, sem vontade não tem negócio jurídico – é o próprio elemento da existência dele, o próprio ingresso dele no mundo jurídico, sem objeto idem e sem forma idem. Portanto quando eu trato do plano da existência eu trato exclusivamente da própria existência, da própria saída do negócio jurídico ou dos fatos de seu ingresso no mundo do direito. No plano da validade, cogita de coisa distinta, investiga coisa distinta – a ordem jurídica ao longo dos anos foi construída de forma inteligente – a premissa do direito é a premissa da liberdade – o direito no momento que regulamenta a conduta do homem com uma mão, com a outra diz que o homem é livre para fazer o que quiser – a própria noção de liberdade é o pressuposto da existência do direito – essa linha tênue que separa humana da conduta que é imposta pelo direito sempre é uma linha muito sensível, e é baseado nessa linha que ao longo dos anos, nessa grande construção cultural que é o direito, forjou-se o seguinte raciocínio: olha sujeitos de direito, eu irei regular sua conduta – a lei está ai para isso, para dizer o que é lícito e o que é ilícito, mas através de um instrumento, de uma categoria que é o negócio jurídico, você pode fazer o que você bem entender – autorregular suas relações, dizer que o direito não entra aqui Marília Mendes Silva IED Privado II – mas esse raciocínio que o direito não entra aqui é o raciocínio que justifica essa construção teórica do plano da validade. O direito permitir que você afaste a própria norma jurídica é um bônus, uma espécie de benefício – bônus que é da do pela ordem jurídica a cada um de nós – esse bônus atrai um ônus – o que colocar no papel e assinar terá os mesmos efeitos de uma lei – as regras que terá que exercer essa liberdade são as regras da lei – não é qualquer pedaço de papel que assina que vai ter força de lei – não é de qualquer modo que esse pedaço de papel vai ter força de lei, o direito no dá uma espécie de manual de instrução por meio do qual ele quer que estes negócios jurídicos sejam construídos – se não obedeço a esse manual de instrução, se não obedeço a essas regras de validade eu não tenho negócio jurídico com efeito - o que o direito quer que façamos quando estivermos pactuando o negócio jurídico, quando tivermos exercendo essa liberdade? Não é qualquer pedaço de papel, minimamente precisa seguir uma regra que está no manual de instrução que é o agente tem que ser capaz. Se firmar um contrato de compra e venda com um menino de 5 anos de idade, esse negócio foi feito em desconformidade com que tem a lei. Por que a existência dessa regra? A vontade, pode colocar em um pedaço de papel o que quiser – o que colocar no papel e os dois assinar, isso terá validade, terá efeito jurídico, mas para isso tem que ser capaz e a vontade é uma vontade que deve ter sido livremente manifestada – posso cogitar do bônus enorme de liberdade se colocar uma arma na cabeça da pessoa e forçar a assinar o contrato? Esse bônus tem um fundamento importante da liberdade não pode ser garantido pela lei se tiver liberdade
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