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Aulas IED Privado II_Ermiro Neto_2015.2_FBDG

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Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
IED PRIVADO II 
Professor_Ermiro Neto 
 
 
 Relação Jurídica; Introdução 
 
 
Qual o papel da autonomia no Direito? 
Até onde o direito pode alcançar? Quais meus comportamentos conduta que a norma jurídica pode 
alcançar? 
 
Autonomia privada – qual o limite e o papel da autonomia? 
 
 Direito Civil; Estado da Arte 
O direito civil integra o direito privado e o direito privado se opõe ao que convencionou chamar de direito 
público. 
 
O que é direito público, e o que é direito privado? Qual papel de cada um, qual objetivo de cada um? 
 
Desde Roma, a separação entre direito privado e direito publico era um dogma – algo que era tido como 
uma parte do direito natural. Atualmente se entende que direito privado e direito público é uma separação 
eminentemente cultural. 
 
 Separação Cultural 
 Direito Público – Constituição 
 Direito Privado – Particulares/ Código Civil 
 
Direito Público e Direito Privado: Separação Cultural – a divisão que se coloca entre direito público e direito 
privado não é uma ordem pré estabelecida, é fruto de uma construção cultural – essa construção cultural 
se coloca na medida em que para os romanos o direito público é o setor do mundo do direito responsável 
pela organização do Estado e das relações do Estado como cidadão. 
 
As funções do Estado, dos poderes, a organização do país seria feita através de regras inerentes ao direito 
público. 
O direito público tinha o objetivo, portanto de regulamentar o funcionamento do Estado e as relações 
entre estado e cidadão. O marco jurídico/legislativo do direito público é a Constituição. 
 
Por oposição ao direito público, no campo do direito privado tem algo distinto – tem normas que tendem a 
regulamentar as relações entre particulares – quando tiver uma circunstância que o Estado não é parte, o 
Estado não comparece (contratos, relações de família, etc.), estará no âmbito do direito privado – o 
regulamento do direito privado está no código civil. 
 
A separação entre direito publico e direito privado é uma separação cultural. Que tipo de teoria estaria por 
trás dessa separação cultural? Existem coisas, problemas que são problemas de interesse público, e 
existem problemas que são de particulares, em que o Estado não se mete em problemas particulares. 
 
Como toda construção cultural, como reflexo de uma ideologia liberal, porque afasta o Estado da relação 
de particulares – relega solução dos problemas relacionados aos próprios particulares – refletindo essa 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
ideologia liberal, no momento que o próprio Estado liberal entra em crise, essa separação também entra 
em crise. 
 
Exemplo para ilustrar esse problema – hoje essa separação entre direito publico e direito privado, não 
pode ser uma separação tida como uma separação absoluta e estanque: * Caso do clube Paulistano: 
 
No ano de 2010 – (vida de paulistano se desenvolve em trabalho, bares e clubes – associações que eram 
formadas e afiliados poderiam desfrutar dos equipamentos) – o clube paulistano enfrentou um problema 
que coloca de forma bem clara a impossibilidade dessa separação – o estatuto dessa associação dizia os 
associados do clube paulistano que se casarem terão automaticamente estendido ao seu cônjuge o direito 
de ser sócio do clube – o tempo passa e resolve fazer uma resolução no estatuto dizendo que o mesmo 
direito que garante ao cônjuge será estendido também a situações de união estável – o tempo passa e no 
ano de 2010 um associado homossexual tem uma união estável com outro homossexual e procura o clube 
para que o companheiro seja associado também – alguém no clube diz que pensou na norma para homem 
e mulher – Este problema é um problema de direito privado? Como se resolveu essa situação? 
O associado também tem o direito de ter o companheiro como associado? Ou o clube paulistano quando 
escreveu o estatuto não previu essa possibilidade? E por não haver previsão ele não teria esse direito? 
 
Estamos no campo do direto privado – porque é uma relação entre particulares – não há Estado – como se 
resolve esse problema? Resolve de acordo com o código civil, pois é o que regulariza as relações 
particulares – os associados têm direitos iguais – seja qual for a resposta uma coisa é certa – não é a 
melhor forma de julgar o caso tendo em mente exclusivamente o estatuto. 
 
O caso foi julgado em favor do casal que vivia em união homoafetiva – na medida em que essa distinção 
entre direito publico e direito privado é uma construção cultural, e sendo construção cultural, na medida 
em que o Estado liberal entra em decadência, dá lugar ao Estado intervencionista a norma jurídica vai 
incidir sim, seja ela de direito publico ou de direito privado, vai incidir em relações privadas. 
 
As partes não tem absoluta autonomia para regular os seus interesses. Embora o estatuto do clube 
paulistano até pudesse falar que não admitiria pessoas que convivessem em relação homoafetiva – 
embora o estatuto pudesse dizer isso, a norma estatutária poderia ser afastada sem dúvida nenhuma, 
porque ela confrontaria com normas de direitos públicos, normas de direitos fundamentais relacionados a 
liberdade sexual, e com normas de direito privado, porque o próprio código civil impede esse tipo de 
discriminação não havendo razão distintiva relevante para que possa tratar diferente pessoas iguais. 
 
Esse é o primeiro passo para que se possa entender qual o atual estado da arte do direito civil é preciso ter 
em mente de uma forma clara, que a separação que colocava outrora direto público e direito privado é 
uma separação em absoluta decadência – Há uma crise da dicotomia entre direito público e direito privado 
– antes absoluta separação - havia o Estado e havia os particulares. 
Crise da dicotomia significa que essa absoluta separação não se sustenta mais – por que não se sustenta 
mais? Razões ideológicas forte reflete nesse raciocínio – não se sustenta mais porque o Estado deve 
intervir em relações privadas – o estado intervencionista deve intervir nas relações para garantir igualdade, 
dignidade, respeito aos hipossuficientes. 
 
A crise do ponto de vista jurídico pode ser explicada de que modo? A crise entre o direito público e o 
direito privado tem como consequência a interpenetração do direito público e do direito privado que se dá 
de duas formas. Há uma zona de convergência entre o direito público e o direito privado. 
 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
 O primeiro fenômeno é a constitucionalização do direito privado – a CF neste novo contexto de 
aproximação entre direito público e direito privado, dá tutela, proteção a uma serie de direitos 
privados que antes ficavam ligados exclusivamente ao código civil. 
 
Ex: CF fala de uma função social da propriedade - um dos três pilares do direito civil; o segundo pilar está 
na constituição também que fala de uma necessidade de observância de uma função social do contrato; 
como também a partir do artigo 206, a CF fala da proteção da família (terceiro pilar fundamental do direito 
civil) – se tem os três pilares principais do direito privado, a família, a propriedade, o contrato com previsão 
expressa na CF. Mais do que uma questão de ter na CF, há uma profunda modificação da forma como se 
enxerga esses institutos, pois agora deverão ser revisitados, reinterpretados à luz da CF. Isso opera 
profunda modificação na forma de raciocinar - a forma de solucionar problemas como esse foi modificado 
em função da constitucionalização do direito privado. 
 
 O segundo fenômeno, se por um lado o direito privado é inserido no direito publico, por outro lado 
o direito público é inserido no direito privado em função da eficácia horizontal dos direitos 
fundamentais. 
 
Eficácia vertical – quando o Estado garante os direitos fundamentais das pessoas = Os direitos 
fundamentaisserão assegurados pela CF a fim de proteger as pessoas em face do poder exercido pelo 
Estado. 
 
Ex: direitos fundamentais de 1ª geração (direito a vida, direito a propriedade, direito ao devido processo 
legal = Estado não pode punir sem ouvir antes; o Estado não pode condenar sem que tenha acesso a um 
advogado). 
O que é eficácia horizontal dos direitos fundamentais? Os direitos fundamentais serão exercidos não 
somente para proteger a pessoa em face do Estado vertical, mas também para proteger a pessoa em face 
de outros entes privados, que assim como o Estado poderão gerar violações de direitos. 
 
Ex: caso do clube paulistano – o casal que vivia numa relação de união estável, não estava naquele 
momento tendo violado seu direito fundamental a igualdade, à liberdade sexual, direito a 
desenvolvimento de uma personalidade com dignidade – e o mesmo direito de igualdade, de liberdade 
que existe em face do Estado, também poderá ser exercido em face de outro particular. 
 
Falar em direitos fundamentais que é um elemento estritamente um direito público no âmbito privado é 
uma novidade absoluta – coisa nova. 
 
Através desses dois canais de comunicação, a constitucionalização dos direitos privados e a eficácia 
horizontal dos direitos fundamentais é que se tem dito que essa separação entre direito público e direito 
privado não se sustenta mais, ao menos nos termos colocados na Roma antiga, na revolução liberal, 
sobretudo a revolução liberal francesa – algumas questões privadas são questões de ordem pública – por 
isso que se diz que o empregado não pode ter uma remuneração inferior àquela que o Estado diz que ele 
tem que ter. Há uma intervenção profunda do Estado numa relação privada como é de garantir/tutelar que 
uma parte mais fraca tenha os seus direitos previstos na lei devidamente garantidos. 
 
Como pode caracterizar o direito privado? 
 
Do ponto de vista objetivo, é o conjunto das normas jurídicas que regulamentam as relações jurídicas de 
direito privado. 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
O principal elemento que distingue direito público de direito privado é a incidência da autonomia. O direito 
público opera sobre uma premissa que tem por base o princípio de legalidade estrita (agentes públicos e 
agentes políticos somente podem fazer o que a lei permite). Já no direito privado, o principio da legalidade 
opera de uma forma distinta – a regra é a autonomia e a exceção é a proibição. Ou seja, princípio da 
legalidade no direito privado, eu posso fazer tudo que eu quiser desde que a lei não proíba – essa é a 
essência do direito privado - é no direito privado o campo fértil para o exercício da autonomia privada. 
 
Autonomia 
 
Marca o elemento distintivo entre direito público e direito privado. Quando pensa o que estudará em IED 
Privado II, estuda-se basicamente autonomia privada, conteúdo e limites da autonomia privada (o que 
pode fazer? que forma pode fazer? que forma pode utilizar para fazer o que quer fazer). 
 
No direito privado pode fazer tudo aquilo que a lei não proíbe (autonomia). 
 
Ex: justiça condena pai que não ama o filho no pagamento de indenização – como explica isso? As relações 
familiares estão no campo do direito privado – há dever de amar o filho? 
Não há de forma clara uma norma legal que diga que é obrigação do genitor oferecer carinho, amor ao 
filho. 
 
Como isso é possível no âmbito do direito privado? Tudo isso no âmbito da autonomia – a autonomia 
talvez não seja tão livre assim – a autonomia deve ser exercida em conformidade com a ordem jurídica 
estabelecida. 
 
Atualmente existem tantas leis sobre tantas coisas e tantas relações que mesmo essa autonomia que é 
elemento distintivo do direito privado, mesmo ela pode não ser tão ampla assim. Ex: se tem no shopping 
uma placa que diz não nos responsabilizamos por objetos deixados no carro – o consumidor que coloca o 
carro dentro do estacionamento que tem essa placa, ele sabe que o shopping diz que não se 
responsabilizará, mas imbuído de autonomia escolhe aquele estacionamento – que autonomia é essa que 
pode ser estudada, refletida – que sem estudar direito que aquela cláusula é nula de pleno direito – 
porque há uma lei que está acima das vontades das partes que vai dizer que se responsabiliza sim – a 
autonomia não é tão larga dessa forma. 
 
Autonomia deve ser exercida em conformidade com a ordem jurídica estabelecida. 
 
Teoria Do Fato Jurídico 
 
Quando estuda os limites da autonomia, tem que estudar o outro lado – enxergar o que a lei regula, aquilo 
que não está a disposição da autonomia é justamente aquilo que a lei regula. Para entender separa o 
mundo do direito em: 
 
 Mundo dos Fatos 
 Mundo dos Fatos Jurídicos 
 
O que é relevante para o direito? O que o direito regula, regulamenta? 
Se um raio cai e não machuca ninguém, derruba uma árvore, isso gera alguma consequência jurídica? 
Nascerá um direito para alguém em função desse fato? 
 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
O fato de o raio cair em uma árvore sem provocar prejuízo em ninguém, isso é relevante para o direito? 
Não. Não há efeito jurídico simplesmente porque não há norma jurídica regulamentando esse fato. Esse 
fato é um fato ajurídico (sem efeito jurídico, mero fato, simples fato). 
 
Situação distinta do seguinte fato: se joga microfone na cabeça de alguém, esse alguém terá algum direito 
contra quem jogou o microfone? Sim. O direito de ser indenizado, danos morais – nascendo um direito em 
função desse fato, posso dizer que esse fato é regulado por uma norma jurídica – o direito nasce porque há 
uma norma jurídica que diz que quando alguém causa dano a outrem, esse dano deverá ser indenizado 
(artigo 286, CC). 
Toda vez que um fato for regulado por uma norma jurídica, e deste fato eu puder extrair efeitos jurídicos, 
dirá que esse fato era um fato jurídico. 
 
Dentro desse mundo dos fatos jurídicos (fatos sobre quais incidem uma norma jurídica, há uma substancial 
diferença entre duas situações distintas). 
 
 “A norma jurídica incide sobre os fatos da vida colorindo-os” O que não teria efeito jurídico algum, não 
geraria efeito jurídico a ninguém, a partir do momento que crio uma norma para regulamentar o fato, ele 
se transforma em um fato jurídico. 
 
Estes fatos jurídicos são distintos na medida em que existem os fatos que dependem da vontade do sujeito 
e existem fatos que não dependem da vontade. 
Ex: uma pessoa imbuída de autonomia pegou o microfone e jogou na cabeça de outro – agiu com 
autonomia. Essa situação não se confunde com o fato de independente da vontade o microfone 
escorregasse da mão e caísse na cabeça do outro – são situações que não se confundem – existem fatos 
que dependem da vontade e existem fatos que não dependem da vontade dos sujeitos de direito. 
 
Quando esses fatos dependem da vontade para se manifestar dirá que desse fato jurídico, que é gênero, 
nascerá uma espécie intitulada ato jurídico. 
Para os fatos que não dependem da vontade, esses fatos são considerados fatos jurídicos estrito senso, 
pois ocorrem independentemente da vontade das partes. 
 
O ato jurídico, portanto, o fato jurídico que ocorre na dependência da vontade manifestada pelo sujeito de 
direito também se divide em duas situações distintas – (ato jurídico é o fato jurídico que depende da 
vontade do sujeito de direito para se manifestar) - a distinção entre essas duas situações: 
 
1ª situação: Y contrata X ser advogada – contrato para X representar Y numa ação judicial – mas Y repensa 
e não quer mais que X seja advogada dele (quando o advogado é contratado precisa ter uma procuração 
do seu cliente – quando não quer que a pessoa seja mais advogado retira os poderes que deu através da 
procuração – esse ato de retirar poderes produz que tipo de efeito jurídico? Qual a consequência de Y 
retirar os poderes de X? Qual o efeito jurídico disso? Não vai podermais representar, está extinguindo uma 
relação jurídica – há mais algum efeito? A princípio não há mais nenhum efeito). 
 
Essa situação da procuração é uma situação que diz a doutrina: o ato jurídico simplesmente faz nascerem 
efeitos previstos na lei – qual o ato previsto na lei no ato de retirar os poderes do advogado? Extinguir o 
vinculo. 
 
Outra situação: A tem apartamento que vai alugar p B, faz-se um contrato – um pedaço de papel assinado 
pelos dois que vai estabelecer uma série de regras para essa relação – data de pagamento, valor de 
pagamento, data de devolução, se B pintar, A vai reembolsar pela pintura (benfeitorias), correção 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
monetária do aluguel, multa se atrasar o pagamento, direito de preferência se for vender, 
responsabilidade sobre o imóvel, finanças – pode intitular nesse ato jurídico que também depende da 
vontade, assim como na procuração, uma série de efeitos jurídicos que não necessariamente estão 
previstos na lei. 
 
No primeiro caso tem um ato jurídico que uma vez manifestado a vontade o único efeito possível é aquele 
previsto na lei – a minha vontade se manifesta para que o efeito previsto na lei ocorra. Na segunda 
situação A e B estão prevendo uma série de efeitos jurídicos que não constam na lei – criam-se novas 
regras para o jogo. 
 
Na primeira situação está-se diante de um ato jurídico stricto sensu, caracterizada pelos efeitos jurídicos 
são exclusivamente aqueles previstos na lei. No ato jurídico stricto sensu a vontade jurídica quando 
manifestada faz nascer efeitos jurídicos previstos na lei – as regras do jogo já estão previstas na lei, não cria 
novas regras. 
 
Na segunda situação está-se diante de um negócio jurídico que se caracteriza – pode a partir do negócio 
jurídico, que está regulado pelo direito, que depende da vontade – a vontade não serve simplesmente para 
fazer surgir efeitos previstos na lei – a vontade cria novos efeitos. No caso da locação pode dizer qual a 
causa penal, qual a garantia se é fiança, seguro, aval (etc.) – pode prever situações completamente 
distintas do que diz a lei – faço nascer novos efeitos jurídicos. 
 
Onde autonomia tem maior amplitude? É ato jurídico ou no negócio jurídico? Negócio jurídico – porque 
cria regras, cria efeitos. 
 
 Contrato não é igual a negócio jurídico. O negócio jurídico pode ser de dois tipos: unilateral (a 
vontade de uma pessoa só cria os efeitos) – ex: testamento; e pode ser bilateral ou multilateral ou 
plurilateral. 
 
A autonomia tem que estar em consonância com a lei? Que autonomia é essa? Posso em determinadas 
situações afastar o que diz a lei? 
A autonomia pode afastar o que a lei diz? 
 
Existem situações que a autonomia é ampla – nessas situações que a autonomia é ampla há possibilidade 
de inclusive afastar o que diz a lei – há situações em que a lei permite uma autonomia tão ampla que pode 
inclusive afastar as regras da lei – mas existem outras situações de normas que a ordem jurídica brasileira 
intitula de normas de ordem pública – código de defesa do consumidos, relações de trabalho, relações de 
emprego, relações em determinados contratos que a própria lei diz que não poderão ser afastadas todas 
as vontades das partes, como certas previsões previstas na lei de locações – autonomia curta. 
 
Fato jurídico strictu senso e Ato Jurídico strictu senso – no fato jurídico strictu senso, está diante de um 
fato jurídico que não há manifestação de vontades de ninguém. No ato jurídico strictu senso está diante de 
um fato jurídico em que há manifestação de vontade, mas esta manifestação de vontade simplesmente 
para a aderir a manifestações já previstos na lei – não cria novos efeitos como cria no negócio jurídico. 
 
Quando depende da vontade: ato jurídico; para os fatos que não dependem da vontade esses fatos são 
considerados fatos jurídicos stricto sensu, pois ocorre independentemente da vontade das partes. 
 
Dentro do ato jurídico há duas situações distintas – a ato para retirar poderes produz o efeito jurídico – 
extinguir o vínculo. 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
 
Existem os fatos que dependem da vontade do sujeito e existem fatos que não dependem da vontade. 
 
Estudar a forma como esse negócio jurídico pode criar esses novos efeitos – plano da existência, plano da 
validade, plano da eficácia - de que forma particulares pode autorregulamentar os interesses? Criar as 
regras do jogo, das relações negociais – dos contratos, dos negócios de uma maneira geral. 
 
Teoria do Fato Jurídico: Consequências e Classificações 
Planos da Existência, Eficácia e Validade 
 
 Sujeitos (Personalidade, capacidade, ausência, emancipação, domicílio) 
 Bens (públicos, privados, moveis, imóveis, etc.) 
 Fato Jurídico (Relação Jurídica) 
 
Estuda-se o vinculo que une os laços do sujeito de direito em torno de um objeto: o fato jurídico (a relação 
jurídica). 
 
Quando fala de sujeitos e quando fala de bens se fala do ato mais simples daquilo que forma a molécula 
mais obvia do direito civil – toda relação do direito civil é uma relação que encontrará esses três elementos 
– toda relação de direito privado será uma relação que fatalmente terá que identificar estes três 
elementos. 
 
Ex: em um contrato de compra e venda de um bem, terá um sujeito 1 que tem a obrigação de vender, de 
transferir o domínio ou a obrigação de pagar um preço a um sujeito 2 – todas essas obrigações, todos 
esses direitos e deveres estão em torno de um determinado objeto, e estas partes, estes sujeitos que 
estarão unidos em função de um determinado fato, um contrato, uma lei, um negócio em si que une esses 
dois sujeitos em torno desses direitos e deveres. 
 
Estudar o vínculo que une esses dois sujeitos que intitula de fato jurídico – toda vez que tem esses três 
átomos unidos, tem a formação de uma molécula a qual se dá o nome de relação jurídica. 
 
 Quais as consequências do fato jurídico? 
O que efetivamente ele cria? O que efetivamente pode extrair de uma determinada relação jurídica? O que 
nasce após a relação jurídica? 
 
O fato jurídico é capaz de criar, modificar ou extinguir relações jurídicas. Efetivamente a praxe comprova 
essa teoria. Quando se firma um compromisso de compra e venda com alguém, cria direitos e deveres que 
gira em torno do objeto daquela compra e venda – criando o direito que a parte vendedora tem de exigir o 
pagamento do preço. Criando para parte vendedora o direito que ele tem em face do comprador de exigir 
a transferência da coisa – em qualquer relação jurídica se tem a transferência, efetivamente a criação de 
direitos e deveres. 
A doutrina prevê que a criação desses direitos pode se dar de duas formas – classificando essas formas de 
criação de direitos, de aquisição de direitos a doutrina prevê que essa aquisição/criação poderá se dar de 
duas formas: 
 
Fato jurídico – consequências desse fato jurídico 
O fato jurídico é capaz de criar direitos, criar relações jurídicas, modificar relações jurídicas e capaz 
de extinguir relações jurídicas. 
 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
 CRIAÇÃO/AQUISIÇÃO DE DIREITOS E DEVERES 
 
A criação desse direito pode-se se dar de duas formas: 
 
1) Modo Originário 
Aquisição de direitos poderá se dar de modo originário e ocorrerá de modo originário quando o direito 
criado em função do fato jurídico, não guardar nenhuma relação com relação jurídica anterior (não há 
nenhum vinculo relacionado com a relação jurídica anterior) [não há nenhuma relação entre a relação 
jurídica criada e a relação jurídica anterior]. 
 
Ex: usucapião 
Na usucapião se alguém não cuida do seu bem imóvel, não exerce o cuidado com esse imóvel, não 
demonstra que o imóvel e seu, vem o terceiro e se apossa do imóvel embora não seja dono sem a oposição 
do dono, o terceiro poderá se tornar proprietário do imóvel. 
 
Usucapião émodalidade de aquisição de propriedade que se processa em função do exercício da posse e 
do decurso (passagem) do tempo. 
 
A lógica é: se sou proprietário de uma determinada área, ou uma determinada coisa – tem não só o direito 
de usar da minha área, como junto com esse direito eu tenho o dever de exercer essa posse de uma forma 
que seu eu não exerço e se uma pessoa faz por mim, a legislação dará a pessoa após um determinado 
prazo o direito de ingressar com uma ação na justiça – ação de usucapião – para que o juiz reconheça o 
exercício dessa posse sem a oposição do real proprietário, por um determinado período de tempo – e o 
juiz ao reconhecer esses dois requisitos vai determinar que o cartório de registro de imóveis transfira 
(compulsória) a propriedade para pessoa que conseguiu preencher esses dois requisitos – a lógica é uma 
lógica de que a propriedade não traz em si apenas direitos de usar aquela área, traz em si também uma 
quantidade de deveres, ônus, vinculado aquela propriedade. 
 
Por que a usucapião é modo originário de aquisição de direitos? 
O bem adquirido por usucapião não guarda qualquer vinculação com a propriedade anterior. 
 
Quando fala em modo originário de aquisição dos direitos, fala que o direito está sendo adquirido 
praticamente virgem, sem nenhum tipo de gravame, de defeito ou de risco – todos os gravames que 
existiriam antes desse modo originário de aquisição, deixam de existir. 
Ex: Se o bem da usucapião tem uma hipoteca, a hipoteca cai, pois nos modos originários de aquisição de 
direitos todos os gravames, ônus, vícios anteriores a aquisição são extintos. 
 
Por isso se fala de modo originário – está originando um direito novo - tudo que existia anteriormente fica 
extinto – o novo proprietário receberá o bem sem nenhum vício. 
 
O modo de aquisição originário se contrapõe ao modo de aquisição derivada. 
 
Caso Bolo 
Raciocínio Jurídico – Incidência de direitos fundamentais em relações privada, ou eficácia horizontal 
de direitos fundamentais. 
 
2) Modo de Aquisição Derivada 
 
No modo derivado, o direito que é criado seguirá uma vinculação com o direito anterior. 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
Há uma vinculação entre a relação jurídica criada e a relação jurídica anterior. 
 
Ex: Registro – assim como a propriedade imobiliária pode ser adquirida usucapião, também pode ser 
adquirida através de registro – toda propriedade imóvel somente se transfere a partir do registro da 
aquisição, junto ao cartório de registro de imóveis. 
 
Por essa razão são comum processos junto a justiça do país em situações em que houve a escritura do bem 
– mas tem a escritura do bem imóvel – comprou esse bem há anos, tem prova que comprou, mas tendo a 
escritura e não havendo a escritura do registro não se opera a transferência do bem imóvel para o real 
adquirente. 
 
Diferente do modo originário, no registro a nova relação jurídica criada a partir da transferência do bem 
guardará sempre uma vinculação com a relação jurídica anterior. 
 
Ex: hipoteca – se compro um bem de uma pessoa, celebra escritura pública, leva a escritura pública a 
registro – se no cartório existir junto ao registro uma hipoteca, uma penhora, algum tipo de gravame que 
esteja registrado na matrícula do bem, o novo adquirente irá herdar esses gravames – essas características 
do bem. Eles não se extinguem em função da venda – tudo o que existia sobre o bem [gravame, defeito, 
risco, hipoteca] continuará gravado junto ao bem, e o novo adquirente sucederá todas essas características 
do bem. 
 
3) 
Além do modo originário e do modo derivado, outra classificação opõe de um lado a aquisição de direitos a 
título gratuito e a aquisição de direitos a título oneroso. 
 
Será a titulo gratuito as aquisições de direito em que não exista o pagamento de contraprestações. 
Ex: aquisição de direitos mediante achamento, aquisição de direitos por força da doação, patrimônio que é 
adquirido a título gratuito sem nenhum pagamento de contraprestação – essa aquisição deu-se de modo 
gratuito. 
 
A aquisição se dará a título oneroso sempre que houver o pagamento de contraprestação. 
 
Ex: compra e venda 
 
OBS: sobre modalidades gratuitas ou onerosas de aquisição de direitos. 
 
1) Aquisição de direitos a título gratuito: 
 
O código civil de 2002 é um código civil baseado em três diretrizes: sociabilidade, eticidade, operabilidade. 
Do ponto de vista da diretriz da eticidade, Miguel Reali e a comissão responsável pelo código civil quis que 
o código tivesse não apenas uma regulação jurídica da vida civil, como também permitisse uma 
regulamentação ética dessa vida civil – certas circunstâncias, cláusulas abertas como a boa fé, lealdade, 
permite que o juiz ao julgar determinados casos concretos não busque apenas uma solução juridicamente 
correta, como eticamente legítima. 
 
O que isso tem haver com doação? 
A ética numa aquisição gratuita tem uma incidência muito maior do que numa aquisição onerosa – não 
que não exista ética numa aquisição onerosa, mas todos saberemos que a ética numa aquisição gratuita 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
tem uma incidência muito maior – quem faz um bem a um terceiro na forma de uma doação não poderia 
este terceiro lhe fazer um mal. 
 
Se eu der um carro para um empregado, não seria estranho que o sujeito após receber o carro pudesse 
praticar um indício contra mim (calúnia, morte) e essa doação permanecesse válida? Seria diferente se 
fosse vendido. 
 
Obs: Na doação será possível a revogação do contrato nas hipóteses de indignidade do donatário. 
Há uma incidência maior da ética na aquisição de direitos a título gratuito. 
 
Toda doação deverá ser feita através de instrumento por escrito, nenhuma doação poderá ser feito por 
costume – exceção a essa regra segundo o código, é que as doações manuais (feitas a relativos a bens de 
pequena monta) e que imediatamente seja aceitável pelo donatário, poderá ser feita por outro modo que 
não seja por escrito - doação verbal. 
 
Art. 557 CC 
Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações: 
I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele; 
II - se cometeu contra ele ofensa física; 
III - se o injuriou gravemente ou o caluniou; 
IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava. 
 
2) Aquisição de direitos a título oneroso 
 
Não significa que não aja incidência de ética, mas é uma incidência menor – não se pode revogar uma 
compra e venda porque quem comprou o apartamento falou mal depois. 
Mas, nas aquisições onerosas o descumprimento da obrigação por uma das partes permite que a outra 
parte não cumpra com a sua. 
 
Ex: na compra de um apartamento, existe duas obrigações – o comprador tem a obrigação de pagar o 
preço, e o vendedor tem a obrigação de transferir o bem através do registro – se o comprador não cumpre 
com a obrigação de pagar o preço, o vendedor está obrigado a transferir o bem? Não. 
 
Com base no exemplo, a isso se dá o nome de exceção do contrato não cumprido com previsão no artigo 
476 CC. 
 
Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode 
exigir o implemento da do outro. 
 
PESQUISA: 
(A doa para B, B vende para C, e depois B pratica ato contra A) 
 
Qual a solução prevista no código civil para as hipóteses de ingratidão do donatário quando o bem objeto 
da doação já foi transferido para um terceiro? (entre artigos 538 e 564). 
 
Ainda tratando das consequências que podem ser extraídas de uma relação jurídica a primeira das 
consequências é classificada como criação ou aquisição de direitos e essa mesma doutrina cria uma série 
de classificações para as formas como esse direito pode ser criado ou adquirido – modo originário, modo 
derivado, modo gratuito, modo oneroso. 
Marília Mendes SilvaIED Privado II 
 
 
A última classificação a respeito da aquisição de direitos - pode ser adquirido ou criado a título singular ou 
a título universal. 
 
3) Aquisição de direitos a título singular ou a título universal 
 
Nas aquisições a título singular o objeto da aquisição é um bem especificamente considerado (singular). 
Ex: hipótese da compra e venda de apartamento – qual objeto da compra e venda? O apartamento – é um 
bem especificamente. 
 
Nas aquisições a título universal, todo um patrimônio, um conjunto de bens, será o objeto da 
transferência. 
Ex: sucessão 
Porque é um conjunto de bens – não considera apenas o bem, mas todo o conjunto. 
 
 MODIFICAÇÃO DE DIREITOS (da própria relação jurídica) 
 
A modificação poderá ser de dois tipos: 
 Objetiva 
 Subjetiva 
 
A modificação será objetiva quando atingir o próprio objeto do direito sem o extinguir, atinge apenas 
elementos laterais do direito [opera sobre elementos laterais do direito sem, no entanto extingui-lo]. 
 
Ex: amortização de um débito 
 
Se tiver um débito de 100 mil reais e amortiza (paga metade, 50 mil reais) – não pode dizer que houve a 
extinção do débito, seria a última consequência do fato jurídico (não houve extinção do direito); não pode 
dizer que houve aquisição de novos direitos (pois o debito continua existindo); não há a modificação ao 
ponto de se dizer que houve a criação do direito; mas por meio do pagamento parcial da dívida, eu 
modifiquei o valor do débito – ao invés de 100 mil reais em função do pagamento, ela foi modificada para 
50 mil reais – objetivamente o direito pode ser atingido em virtude de um determinado fato jurídico. 
 
Essa situação se distingue da hipótese em que há modificação subjetiva – a modificação subjetiva opera 
junto aos sujeitos da relação jurídica, não mais sobre o próprio objeto da relação jurídica. 
 
Ex: desapropriação 
 
A CF brasileira permite que o Estado, ente público em determinadas circunstâncias em que aja elevado 
interesse público – construção de estrada de ferrovia, construção de um viaduto, de uma ponte – nestas 
circunstâncias disciplinadas pela legislação autoriza a desapropriação (o ente público vai tomar o bem de 
um particular por conta de um interesse público) – o que isso tem haver com uma modificação subjetiva? 
 
Numa desapropriação tem uma relação de propriedade de sujeito de direito sobre uma determinada coisa 
– com a desapropriação que é exemplo de modificação subjetiva, tem a modificação do sujeito que exerce 
direito de propriedade sobre a coisa – sai o sujeito que antes era proprietário e dar lugar ao Estado. 
 
E o particular fica como? 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
O Estado não pode tomar o bem sem o pagamento da indenização – a indenização é o valor de mercado 
do bem, não é o valor venal. 
 
 
 DEFESA DE DIREITOS 
 
O fato jurídico também permite a defesa de outros direitos. 
Dois exemplos podem ser utilizados com relação a essa defesa: 
 
- Direito de Ação 
Ex: a regra é que o direito possa ser defendido por outro direito, o direito de ação. 
 
Dois modos de defender um determinado direito são possíveis, a regra é que o direito possa ser defendido 
através do exercício de outros direitos que é o direito de ação – o fato jurídico em determinadas 
circunstâncias pode permitir viabilizar a defesa de um direito como regra através desse instrumento, o 
exercício de outro direito que é o instrumento de ação. 
 
A CF no art. 5º garante a todos os cidadãos o direito de ir ao poder judiciário para defender os seus 
interesses. 
Ex: se compra um apartamento, o comprador paga o valor combinado, e se o vendedor não transfere o 
imóvel, esse fato permite dirigir ao poder judiciário e pedir a um juiz que condene a transferir o bem 
objeto do pagamento. 
 
Uma segunda forma de defesa é a autotutela. 
 
- Autotutela 
São circunstâncias em que a legislação permite a defesa de direitos sem que tenha que se valer do poder 
judiciário. Chamada defesa “Manu militari” (você exerce a defesa do seu direito sem se valer do direito de 
ação, pelas suas próprias mãos). 
 
Ex: como exemplo de autotutela a legislação brasileira permite a defesa da posse contra o chamado 
esbulho possessório (art. 1210 parágrafo 1º) 
 
Uma das consequências do fato jurídico além de criar e adquirir direitos é a defesa destes direitos, posso 
me valer de certos atos para defender meus direitos – o mais comum desses atos é através do direito de 
ação – excepcionalmente posso me valer da autotutela. O exemplo é o que está neste artigo – é a defesa 
da posse contra um esbulho possessório. 
 O direito de ser mantido na posse, é tão precioso para o direito civil brasileiro que permitiu-se uma das 
únicas hipóteses de autotutela – se alguém viola minha posse [entra no carro para roubar, invade a casa, 
invade o terreno] – pode defender de algum modo? (Art. 1.210). 
 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e 
segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. 
 
Turbação = incômodo 
Esbulho = perda da posse 
§ 1.º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto 
que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou 
restituição da posse. 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
 
O ato de autotutela exige que a reação contra a violação da posse seja: 
- Imediato à violação 
- Reação proporcional à violação 
 
Ex: massacre de El Dourado de Carajás – não ser considerado uma reação proporcional se as pessoas são 
recebidas com tiros. 
 
O que a legislação quer, é construir uma legislação para que não seja possível em tempo hábil busque o 
poder judiciário para ingressar com uma ação de integração de posse, para defender a sua posse. 
 
A reação do artigo 1210 é conhecida como desforço incontinente. 
 
Não sendo a reação imediata nem proporcional, o que era considerado lícito inicialmente, passa a ser um 
ato ilícito, inclusive tipificado como crime, que é o crime de exercício arbitrário das próprias razões. 
(previsto no artigo 345, CP). 
 
Artigo 345 CP 
Art. 345. Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei 
o permite: 
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. 
 
 EXTINÇÃO DO PRÓPRIO DIREITO 
 
Um determinado direito pode se extinguir por renuncia ou ato voluntário do titular do direito que renuncia 
a ele. 
Ex: inventário do falecimento, e filhos renuncia direito da herança em favor da mãe. 
 
Ex: o falecimento do titular extingue os direitos personalíssimos (direito que não pode ser exercido por 
outra pessoa - direito a imagem). 
 
Ex: o direito pode ser extinto em função do decurso do tempo, como ocorre no caso da prescrição. 
 
Planos da existência, da validade e da eficácia 
 
 
Fatos da vida Fatos Jurídicos Vontade: Ato Jurídico 
 
 
 “Mero Fato” Não há vontade: Fato Jurídico “Stricto Senso” 
 
 
 
Os fatos da vida – tudo que a pessoa faz é considerado para o direito um fato da vida, tudo que pode ser 
regulado ou não – nos fatos da vida há uma divisão importante – existe alguns fatos que não geram efeito 
jurídico algum – quando esse fato acontece, ele é irrelevante para o direito (porque não gera efeito 
jurídico algum = “mero fato” – se um raio cai sem machucar alguém, não há fato jurídico nesse fato). 
 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
Para aqueles que conseguem enxerga que a ausência de afeto é capaz de fazer nascer o dever de indenizar 
– o fato da ausência de afeto estaria na situação do mero fato, que não gera direito, dever a ninguém – 
fato que a lei escolheu não regulamentar a princípio. 
 
Há outros fatos em que a norma jurídicaincide sobre eles – quando isso acontece, o fato da vida sobre o 
qual não havia nada gravitando ao seu redor é atraído desse universo para o outro campo que é o mundo 
dos fatos jurídicos. 
 
A principal distinção entre fatos jurídicos, meros fatos e fatos da vida é o fato de que esse fato jurídico gera 
efeito jurídico. 
 
Se dar um soco em alguém – que tipo de efeito jurídico pode extrair desse fato – permite exigir 
indenização – permite processo criminal sobre lesão corporal – permite a seguradora, que protege contra 
lesões, a seguradora pode cobrar de quem deu o soco. Os pais de quem recebeu o soco pode alegar que 
foi causado dano a eles da mesma forma que foi causado ao filho – dano reflexo ou dano enri cochete – 
certos atos causam a vítima enri cochete – o dano poderá incidir também em pessoas próximas. Comum 
em responsabilidades civil de homicídio. 
 
Há três tipos de efeitos distintos: efeito no campo penal, efeito no campo da responsabilidade civil, efeito 
no campo contratual. 
 
Certos atos não geram efeito jurídico algum e certos atos são capazes de gerar efeito jurídico – fazem 
nascerem direitos, deveres, impõe obrigações – porque existe norma jurídica que incide sobre esses fatos. 
 
Fato Jurídico 
 
Dentro do universo do fato jurídico podem-se fazer duas distinções diferentes: 
- a vontade humana que foi capaz de gerar esse fato 
- não há vontade 
 
Quando a vontade humana gera o fato jurídico, o pequeno universo, essa divisão em que há a incidência 
da vontade humana dará o nome de ato jurídico. 
Quando não houver manifestação de vontade humana estará no campo do fato jurídico “Stricto Sensu”. 
 
Em um caso, a vontade humana produz o ato, em outro caso não há manifestação alguma de vontade 
humana. 
 
Atos Jurídicos 
 
Os atos em que a vontade humana produz o efeito jurídico. 
 
Há situações em que este ato jurídico exclusivamente adere a efeitos já previstos em lei. 
Ex: casamento – quando alguém casa pega a certidão leva no cartório, o cartório vai dar o proclame para 
ver se alguém vai impugnar – e na frente do juiz assina – ao assinar, os cônjuges estão aderindo uma série 
efeitos de previstos em lei. 
 
Quando há uma mera adesão a efeitos já previstos em lei, o ato jurídico não será um ato jurídico lato 
sensu, estará tratando de um ato jurídico stricto sensu. 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
 
O meu ato de vontade, a liberdade ao desejar algo vai exclusivamente ao – isso fica mais fácil ao comparar 
o sentido de aderir a efeitos já previstos na lei, com a situação de criação de efeitos. 
 
Perceba a diferença da situação do casamento - a mesma lei que diz que quem casa vai escolher um 
regime de comunhão ou não comunhão, permite que cada um de nós possamos através da nossa 
manifestação de vontade criar novos efeitos não previstos na lei. 
A mesma lei que diz que se casar está aderindo a um regime jurídico, permite que crie novos efeitos (pode 
criar uma cláusula de traição, se trair pagar valor x). 
 
A criação de novos efeitos no casamento se dá através do chamado pacto antenupcial. Pelo pacto 
antenupcial os cônjuges podem, por exemplo, se comprometer que os filhos serão educados em alguma 
religião. No âmbito do pacto antenupcial, as cláusulas são mais polêmicas – porque estão no campo de 
escolhas existenciais. 
Nas escolhas patrimoniais não há polêmica. 
No pacto antenupcial ao invés de aderir a uma já estabelecida na lei pode criar novas regras para esse jogo. 
Quando tem essa possibilidade, quando cria novos efeitos não está mais no campo ato jurídico stricto 
sensu, estará no campo agora do negócio jurídico – não está aderindo a efeitos já previstos na lei – está 
criando novos efeitos que a lei não prevê. 
 
Negócio Jurídico – efetivamente cria novos efeitos. Ex: compra e venda de um bem. 
 
Alguns autores referem ao ato fato jurídico. 
No ato fato jurídico, a hipótese de incidência pressupõe a vontade humana, mas os efeitos decorrem da 
norma e não da vontade em si. 
 
A união estável é exemplo de ato fato jurídico, pois a sua constituição depende de ato humano, mas esse 
ato não se volta para a constituição de efeitos. 
Como funciona o ato fato? 
Duas pessoas que se relacionam em um namoro – um deles não pensa em se casar, já moram juntos, eles 
rompem em determinada relação – eles se viam em uma condição pública – todos sabiam que eles eram 
um casal, as pessoas viam neles em uma família – mas nunca formalizaram como casamento – inclusive um 
deles não queria casar – ao romper a mulher procura o judiciário para dizer que embora não oficializado 
viviam em uma união estável – para parte da doutrina essa situação nem tanto é uma situação de ato 
jurídico em que aja adesão da parte a lei, pois na união estável não há essa adesão de forma expressa, há 
um mero comportamento que pode ser encaixado numa relação regulamentada pela lei – nem também é 
uma situação que a vontade não tenha relevância nenhuma na produção de fato jurídico. 
Estaria em meio termo entre o ato jurídico e o fato jurídico. 
 
Para o professor, não há uma distinção profunda que leve a criar uma terceira categoria. 
 
Livro: Marcos Bernardes de Melo – Teoria do Fato Jurídico Plano da Existência 
 
Teoria do Negócio Jurídico – Antonio Junqueira de Azevedo – saraiva 
 
 
 
 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
Teoria do Fato Jurídico 
 
O estudo dos planos da existência, da validade e da eficácia do fato jurídico. A teoria que cria esses planos 
pode ser encontrada na escola pandectista alemã. Como é comum na Alemanha, a escola buscou 
compreender de que modo o fato jurídico é capaz de gerar efeitos. 
Para obter êxito neste estudo, nesta sistematização no modo como o fato jurídico incide a doutrina 
classificou os fatos jurídicos em planos distintos – plano da existência, plano da validade e plano da 
eficácia. 
 
Plano da Existência 
No plano da existência vamos buscar elementos sem os quais o fato jurídico se quer existe – é o que de 
mais básico é solicitado pela ordem jurídica para que o fato da vida se torne um fato jurídico. 
O mínimo que precisa para dizer que o fato da vida se transforme em um fato jurídico? Basta a incidência 
de uma norma – se tem um só fato de existir determinada norma regulamentando uma determinada 
conduta, quando essa conduta acontece esse fato se transformara em um fato jurídico. 
 
No plano da existência irá buscar os elementos de existência do fato que para doutrina são classificados 
em o fato, a ocorrência do fato e o suporte fático. 
 
Determinados elementos jurídicos para que ele exista basta que o fato aconteça e exista efetivamente uma 
norma regulamentando esse fato. 
Para que o fato aconteça é preciso que ele ocorra, exista – quando esse fato ocorre e há na lei uma 
hipótese fática, uma hipótese normativo, um suporte fático regulamentando essa conduta dirá que o fato 
jurídico existe a partir daquele momento – ele ingressa no plano da existência. 
 
A norma prevê o suporte fático (que é a hipótese ideal, a hipótese do dever ser), porque além do suporte 
fático a norma prevê a consequência normativa (obrigação, dever de indenizar). 
 
O mero ato que ingressa no plano da existência, no momento em que eu pratico o ato, ou seja, o fato da 
vida existe e ele ingressa no plano da existência no momento em que esse meu ato se encaixa no suporte 
fático de uma norma jurídica prevista em lei. 
Quando isso acontece, imaginemos que o fato se encaixa na hipótese normativa e deflagra um 
determinado efeito jurídico previsto em lei. 
 
Ex: quando dá um soco em alguém, o fato se encaixa no fato previsto no art. 186 e 187 do código civil e em 
virtude desse encaixe se tem um efeito jurídico que está previsto em lei. 
 
TÍTULO III 
Dos Atos Ilícitos 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar 
dano a outrem, ainda que exclusivamentemoral, comete ato ilícito. 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os 
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
 
TÍTULO IX 
Da Responsabilidade Civil 
CAPÍTULO I 
DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
 
O ato de dar soco se encaixa perfeitamente no suporte fático da norma, e esse suporte fático por sua vez 
prevê uma consequência que é o art. 927 – fica obrigado a repará-lo. 
A reparação é a consequência prevista no suporte fático, exigindo o fato e existindo um encaixe junto ao 
suporte fático pode dizer, portanto que este fato ingressa no plano da existência e a partir deste momento 
ele se transforma em um fato jurídico. 
 
O suporte fático, que é a hipótese prevista na lei, tem sido classificado pela doutrina (são tantos suporte 
práticos, que quanto mais normas, quanto mais leis, quanto mais regulação eu posso concluir que existem 
mais suporte fáticos – são tantos os suportes fáticos que a doutrina tem classificado diversos modos como 
a lei cria esse suporte fático em algumas classificações). 
 
Classificação dos Suportes Fáticos: 
1)Suporte Fático Simples 
Aquele que envolve apenas um fato – prevê exclusivamente um fato. 
Ex: nascimento de alguém (previsão art. 1º e 2º CC) 
 
2) Dos Suportes Fáticos Complexos 
São constituídos por vários fatos – não apenas um fato. 
Ex: casamento 
 
O suporte fático pode ter os seus elementos divididos em elementos nucleares e elementos integrativos. 
Os elementos nucleares estão ligados à suficiência do fato jurídico. Já os elementos integrativos 
encontram-se ligados à validade do fato, ou a sua produção de efeitos. 
 
Seção I 
Disposições Gerais 
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa 
coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. 
 
Contratos nominados - tem regulação específica e a tipicidade está prevista no código. 
 
Para que exista uma compra e venda, que é fato jurídico, tem que ter um contratante que se obriga a 
transferir domínio a propriedade da coisa, para o outro contratante que se obriga a pagar o preço. 
São elementos nucleares da compra e venda o consenso das partes, coisa e preço. 
Na compra e venda poderão ter elementos integrativos, como a capacidade do sujeito, que é um elemento 
que não depende da existência do contrato, a forma pela qual a compra e venda será articulada. 
 
Plano da Validade 
Estar-se no plano da validade quando uma vez superada a existência, o fato existe e os seus elementos 
encontram previsão no suporte fático – mas na validade discute outra questão, não quer discutir se ele 
existe ou não existe – discute quais são os requisitos para que o fato seja válido. 
 
No plano da validade somente avalio a capacidade do sujeito de direito de criar novos efeitos jurídicos. 
A ordem jurídica nos deu um bônus – regulamenta a conduta quando tem as previsões nas hipóteses 
normativas – mas o sujeito poderá auto regulamentar a conduta através da liberdade – que é o que 
acontece quando firma um contrato – a criação desses novos efeitos se dá em razão da autonomia, da 
liberdade contratual. Mas, a ordem jurídica também dá um ônus – você pode criar contratos, criar as 
regras, mas a obrigação dessas regras deverá obedecer a certos requisitos. 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
 
A pergunta que deve responder quando se trabalha com o plano da validade é: quais são as regras que o 
sujeito de direito deve obedecer para que seja possível a autorregulação de interesses? 
 
No plano da existência para que o fato jurídico exista precisa de plano da existência um sujeito, objeto, 
forma e vontade. 
 
No plano da validade não basta que o sujeito exista, este sujeito para produzir as regras tem que possuir 
capacidade. 
Não basta que o objeto exista, para que essas regras que se criam sejam consideradas válidas – o objeto 
tem que ser lícito, possível, determinado ou determinável; forma prescrita em lei e não proibida em lei; 
manifestada de modo livre e sem vícios. 
Ao estudar plano de validade, estudam-se instruções de produção de normas por nós sujeitos de direito. 
 
Alguns atos jurídicos embora existentes e embora válidos podem não gerar efeitos. 
No plano da eficácia as partes poderão, embora o ato seja existente e válido, suspender ou extinguir os 
efeitos jurídicos. 
 
Não fala de elemento que é aquilo necessário para que algo exista, não fala de requisito, que é algo que 
tem que ser observado para que essa coisa seja produzida de uma forma válida, falará pressupostos da 
eficácia. 
 
Como prova que a existência, validade e eficácia são planos distintos e autônomos entre si há as diversas 
situações: 
 
Situação 1: O ato poderá existir, ser válido e eficaz. Ex: casamento de duas pessoas em que não há nenhum 
tipo de impedimento para a celebração do ato. 
 
Situação 2: O ato poderá ser existente, válido e ineficaz. Ex: testamento enquanto o testador não morre. 
 
Situação 3: O ato poderá ser existente, inválido e eficaz. Ex: casamento putativo (Casamento putativo é 
o casamento que, suscetível de anulação - produzido de forma inválida por conta de um impedimento) 
previsão no art. 1548 e 1550 CC. 
 
CAPÍTULO VIII 
DA INVALIDADE DO CASAMENTO 
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: 
I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil; 
II - por infringência de impedimento. 
 
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
I - de quem não completou a idade mínima para casar; 
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; 
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; 
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento; 
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e 
não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; 
VI - por incompetência da autoridade celebrante. 
Parágrafo único. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada. 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
 
Situação 4: O ato poderá existir e ser inválido e ineficaz. Ex: compra e venda por um menor de 16 anos, 
doação para um absolutamente incapaz. 
 
Teoria do fato jurídico – tende a explicar a forma pela qual a norma jurídica incide nos fatos da vida e os 
regulamenta. Para compreender de que modo a norma regula os fatos da vida, regula os comportamentos. 
As duas ideias tem um único objetivo. Para explicar de que modo isso ocorre faz uso de duas ferramentas – 
o primeiro instrumento diz respeito a classificação do fato jurídico (ato jurídico, ato fato, fato jurídico, 
negócio jurídico) – o segundo instrumento é a divisão da teoria do a do fato jurídico no plano da existência, 
da validade e da eficácia. 
 
As duas ideias em conjunto tem um único objetivo – tentar explicar de modo dogmático, técnico, jurídico 
de que modo a norma jurídica incide sobre os fatos da vida e os regulamenta de modo a ser possível deles 
extrair algum efeito jurídico. 
 
Negócio Jurídico 
 
São atos jurídicos, ou seja, os fatos jurídicos que dependem da manifestação da vontade dos sujeitos de 
direito; os atos jurídicos em que os efeitos poderão ser amplamente criados pelo sujeito de direito – os 
negócios jurídicos diferente do que acontece no ato jurídico em que a vontade manifestada serve 
exclusivamente para aderir a efeitos já previstos na lei – no negócio jurídico os sujeitos de direito poderão 
ter possibilidade ampla e livre de criar os seus próprios efeitos jurídicos – no negócio jurídico eu tenho a 
possibilidade de criar as regras do jogo, as regras que regulamentarão, o programa contratual, as regras 
queregulamentarão os diversos negócios que cada um de nós firmamos diariamente. 
 
Quando falo em negócio jurídico tem como plano de fundo sempre a ideia de liberdade – no negócio 
jurídico que a autonomia dos sujeitos se manifesta com mais força – sempre o cenário de qualquer pano 
de fundo que o negócio jurídico está na ideia de liberdade – o sujeito de direito é livre para pactuar os 
efeitos jurídicos decorrentes do negócio; o sujeito de direito tem liberdade para criar, construir os seus 
próprios efeitos jurídicos. 
 
Sendo este o cenário, precisa conversar sobre os limites dessa liberdade. 
O que não pode fazer na constituição do fato jurídico? 
Posso pactuar um contrato com qualquer conteúdo que eu quiser? 
 
Art. 538 CC 
Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio 
bens ou vantagens para o de outra. 
 
Art. 548 CC 
Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do 
doador. 
 
A liberdade é o núcleo de fundo do negócio jurídico – se isso é verdade, como interpreta o artigo 548 CC? 
Se alguém diante desta proibição ainda assim efetua uma doação de todos os seus bens para uma doação 
de caridade, eu posso dizer que essa liberdade que emitiu elaborar esse contrato, esse negócio que é a 
doação violou a lei? E qual a consequência dessa doação? 
 
O que pode extrair da ideia de nulidade prevista no artigo 548 CC? 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
 
A nulidade pode ser interpretada como uma sanção para os sujeitos de direito que não observam no 
exercício de sua liberdade os limites previstos na legislação para uso dessa liberdade. 
 
A lei prescreve limites para o exercício da liberdade. Mas nem sempre essa liberdade estará de acordo com 
a lei. 
Mesmo no exercício dessa liberdade, em determinados momentos é possível às partes afastar as 
prescrições previstas nas legislações. 
 
Lei 8245/91 
Seção VI 
Das Benfeitorias 
Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo 
locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas, serão 
indenizáveis, e permitem o exercício do direito de retenção. 
 
Benfeitoria são acréscimos objeto de uma construção por parte de um locatário em um bem objeto da 
locação. 
Ex: se alugo apartamento e troco piso, lustre, ou qualquer coisa são consideradas benfeitorias. As 
benfeitorias podem ser de três tipos: 
 
 Benfeitorias úteis – não são fundamentais para o uso do bem, mas melhoram o uso do bem, torna 
mais cômodo o uso do bem – troca do piso, colocação de um gesso – pode fazer desde que o 
locador autorize. 
 
 Benfeitorias necessárias – fundamentais para o próprio uso do bem (exemplo o teto vai cair) - são 
sempre indenizadas pelo locador – pode fazer o conserto sem pedir autorização e o locador terá 
que indenizar. 
 
 Benfeitorias voluptuárias – tem meramente fins estéticos, servem para embelezar o bem – não 
haverá direito de indenização, o locador não precisa reembolsar. 
 
Posso desfazer o que a lei está dizendo? E dizer sejam benfeitorias necessárias, úteis ou voluptuárias não 
irei indenizar? Posso ir de encontro à própria lei? A margem de liberdade não pode servir para dispor de 
um modo distinto do que diz a lei? 
 
Nessa hipótese específica o STJ tem jurisprudência absolutamente tranquila, antiga e pacífica, sucessivos 
precedentes no sentido de que nos contratos de locação as partes podem dispor que as benfeitorias não 
serão de modo algum indenizadas. 
 
Os limites da liberdade no negócio jurídico são limites que se encontram estabelecidos em lei – nas 
disposições da lei – não se pode ter em mente um determinado limite genérico com base em posições 
pessoais e opiniões pessoais e que sirva para criar algum tipo de obstáculo a liberdade contratual. 
 
Na própria lei, nas disposições da lei – na doação não havia margem para discussão, a doação universal é 
nula de plenos direitos – não tem espaço para discussão. Já nas benfeitorias do contrato de locação é a 
própria lei que diz, salvo em disposição contrário, quer dizer, a lei atribui as partes uma margem maior de 
liberdade do que no contrato de doação e permite que na constituição dos efeitos jurídico das regras do 
jogo daquele negócio especifico pode dispor de modo contrário ao que diz a lei. 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
 
A discussão em torno da liberdade visa estipular não apenas o conteúdo como também os seus próprios 
limites. 
 
Essa liberdade pode ser uma liberdade a depender do período histórico que você tome como referência 
pode ser uma liberdade maior ou menor. A liberdade contratual sempre foi tida como uma liberdade 
absolutamente ampla – liberdade inicialmente nos períodos liberais era tida como uma liberdade ampla – 
o que fundamentou a face jurídica dos movimentos liberais se reflete numa concessão de ampla liberdade 
às partes para configurar os seus negócios – se trata de liberalismo se coloca nas mãos de setores da 
burguesia uma ampla liberdade para regulamentação dos seus negócios – isso do ponto de vista jurídico se 
traduz numa concessão de liberdade contratual maior do que nos dias atuais – nesse primeiro momento, 
quando falar de liberdade contratual estará sempre falando em autonomia privada da vontade. 
 
Liberdade Ampla: autonomia da vontade – traduz uma ideia de que os contratantes encontram poucos 
limites na constituição de seus próprios negócios jurídicos – após todas as reformas pós código civil 
francês, após a queda do próprio Estado liberal, a ascensão do estado intervencionista – esses movimentos 
econômicos deságuam, se refletem no direito numa redução da liberdade – se o Estado é intervencionista, 
se o Estado tende a tutelar através de políticas públicas em um modo mais próximo certas relações sociais, 
essa margem de liberdade diminui – e se diminui não se fala mais em autonomia da vontade – estará 
tratando agora da autonomia privada. 
 
Autonomia Privada: Traduz redução da margem de liberdade das partes na configuração dos seus negócios 
jurídicos. 
 
O negócio jurídico nesses termos de liberdade mais diminuída do que no século XVII, XIX pode ser 
conceituado como o ato jurídico praticado pelos sujeitos de direito, cujos efeitos podem ser criados pelas 
partes desde que obedecidos os requisitos de validade do negócio jurídico. Estes requisitos de validade são 
encontrados na própria lei. 
 
Esse negócio jurídico costuma ser classificado pela doutrina tendo em vista alguns critérios: 
 
Classificação: 
Quanto à declaração de vontade: 
 Unilateral – se aperfeiçoa pela manifestação de vontade de apenas um sujeito de direito. 
Ex: testamento – todos os efeitos se aplicam ao testamento – só precisa de manifestação de 
vontade do testador. 
 
 Bilateral – a constituição do negócio depende da manifestação de vontade de pelo menos duas 
pessoas. 
Ex: compra e venda; locação; prestação de serviços. 
 
 Plurilateral – se aperfeiçoa com a manifestação de vontade de mais de duas pessoas. 
Ex: sociedade (contrato social) – em empresa com mais de dois sócios o contrato depende da 
manifestação de vontade de mais de uma pessoa. 
 
Quanto aos titulares do negócio: 
 “Inter vivos” – os efeitos do negócio jurídico são estabelecidos durante a vida de todos os titulares 
do negócio/ todas as partes que firmam o negócio. 
 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
 “Causa mortis” – os efeitos do negócio jurídico serão produzidos após o falecimento de ao menos 
uma das partes. 
Ex: testamento 
 
Quanto à forma: 
 Solene – somente poderão ser constituídos mediante observância de forma específica prevista em 
lei. 
Ex: a constituição do contato de seguro (somente se aperfeiçoa por escrito, mediante entrega de 
uma apólice – não se constituide qualquer forma ou a qualquer momento um contrato de seguro – 
somente pessoas específicas podem construir um contrato de seguro, desde que autorizadas pelo 
banco central brasileiro, desde que exista uma apólice que descrevam quais são as condições do 
seguro); venda de imóveis acima de 30 salários mínimos - a forma específica prevista na lei é a 
constituição através de uma escritura pública, não pode ser através de um instrumento particular 
(art. 108 CC). 
 
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios 
jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre 
imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. 
 
 
 Consensual – a constituição não depende da observância de forma especifica e se aperfeiçoam 
”solo consensus”. 
Basta o consenso das partes verbalmente com relação a estes contratos, e ele estará perfeitamente 
configurado. 
 
OBS1: 
Contratos bilaterais – as partes poderão se valer da chamada exceção do contrato não cumprido. 
Sempre que o contrato depender da manifestação de vontade de duas pessoas, uma das partes não pode 
exigir o cumprimento da obrigação do outro enquanto não cumprir a sua própria. 
 
Ex: contratos de compra e venda 
1 – incorporadora 
2 – 3 vezes R$ 50.000,00 
3 – Exceção do contrato não cumprido 
 
X tem uma incorporadora de bens imóveis – compra terreno e constrói prédios para vender apartamentos 
e Y fez com X um contrato de compra e venda com relação aos apartamentos dele – negociaram que o 
pagamento da compra em venda será feito em 3 parcelas de 50 mil reais – efetua o pagamento da primeira 
parcela, efetua o pagamento da segunda parcela e antes da quitação integral do bem – sabendo que o 
imóvel já estava pronto, Y conversa com X e pretende usufruir das áreas comuns do prédio – para o código 
civil essa pretensão de usufruir de um bem, mas sem efetuar a quitação integral do preço, será bloqueada 
em função da aplicação da exceção do contrato não cumprido. Enquanto Y não efetuar o cumprimento 
integral da minha parte no contrato não pode exigir de X na qualidade de vendedor de imóvel que ele 
cumpra a dele. 
 
OBS2: 
Quanto à forma – Contratos consensuais – contrato não precisa de manifestação de contrato solene. 
A manifestação nem sempre vai se dar de forma verbal, pode ter a constituição de negócios jurídicos 
através de um mero comportamento. 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
Nestes casos em que o negócio jurídico se constitui pelo mero comportamento, ele não se constitui de 
modo solene, não vai ser por escritura pública, não vai ser por escrito, não se constitui de forma verbal – se 
aperfeiçoa pelo mero comportamento das partes, ou são os contratos chamados tácitos (Contratos 
tácitos). 
 
Ex: doação – se aperfeiçoa pela manifestação de vontade do doador e pela aceitação do donatário – quem 
recebe o contrato de doação é intitulado pelo código civil como parte donatária. 
Qual o mais comum da doação? Assinar um instrumento particular – por escrito – contrato solene. 
 
Mas o código diz, nas doações manuais não haverá necessidade de solenidade – as doações manuais são, 
portanto contrato de doações consensuais. E o mesmo código diz, se a parte donatária, nessa doação 
manual, não declara aceitar o bem, mas passa a se comportar como se dono fosse da coisa, o contrato 
estará configurado em função desse comportamento da parte donatária – quem recebe um carro, mas não 
diz expressamente que aceita, mas passa a utilizar daquele bem como se fosse seu, passa a efetuar o 
pagamento de IPVA, passa a arcar com os custos de manutenção do veículo, com o seu comportamento 
ele estará dizendo que aceitou o bem, embora em nenhum momento isso tenha sido dito de modo 
expresso ou de modo verbal. 
 
Regras de interpretação do Negócio Jurídico 
 
A lei concede uma liberdade dentro de certos limites para que possamos criar as regras do nosso jogo 
contratual. Quando cria as regras, mais importante do que a própria criação das regras é o modo como vai 
interpretar essas regras – a maior parte dos problemas envolvendo contratos não são problemas na 
criação das regras – na previsão das regras não consegue imaginar após 5 anos verificar qual tipo de regra 
dará problema em relação ao cumprimento – a interpretação do contrato no momento da constituição é 
uma interpretação relativamente fácil, as partes não conseguem prever os problemas que poderão 
enfrentar em virtude da interpretação daquelas regras que estão sendo escritas. 
 
Por essa razão o código civil ao regulamentar essa margem de liberdade que é possível para constituir o 
código jurídico – o código civil regulamenta como esse negócio deverá ser interpretado e estas regras se 
encontram previstas a partir do artigo 110 CC. A principal diretriz para interpretação do negócio jurídico 
tem haver com a cláusula geral de tutela da boa fé objetiva. 
 
 Boa fé objetiva (113, CC) 
 Reserva mental (110, CC) 
 Silêncio (111, CC) 
 Intenção (112, CC) 
 Regra da interpretação restrita (114, CC) 
 
 
 Boa fé objetiva *** (113, CC) 
Cláusula geral de tutela da boa fé objetiva – principal regra – previsão no artigo 113 CC. 
 
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua 
celebração. 
 
A ideia de boa fé objetiva traduz um padrão de comportamento – o código civil quando fala que os 
negócios jurídicos deverão ser interpretados conforme a boa fé, a intenção do código é impor aos 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
contratantes sempre um determinado padrão de leitura que lhes permitam extrair sempre um padrão de 
comportamento. 
 
 
 
 
A boa fé se compõe de um tripé: 
o Dever de informação 
o Dever de honestidade 
o Dever de segurança 
 
A boa fé objetiva não se confunde – toda vez que o código tratar da boa fé tem que se questionar se o 
código trata da boa fé objetiva ou subjetiva. 
 
A boa fé subjetiva traduz uma ideia de ausência de conhecimento a respeito de vícios relativos ao negócio. 
 
O sujeito que compra um imóvel na mão de uma pessoa que não é o real proprietário estará de boa fé, 
mas uma boa fé subjetiva. 
 
A regra do artigo 113 que compõe a boa fé tem sido indicada como uma regra principal, diretriz que 
direciona todas as outras regras previstas no código civil a partir do artigo 110 CC. 
 
 Reserva mental (110, CC) 
 
Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não 
querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. 
 
A regra do artigo 110 é a regra da reserva mental, que pode ser interpretada como o negócio jurídico terá 
validade, será exigível ainda que a parte contratante tenha feito a reserva mental no sentido de não 
cumpri-lo. 
 
A reserva mental pode ser traduzida na ideia do sujeito que assina o contrato para não cumprir. 
 
O que a reserva mental tem haver com a interpretação do negócio? Mesmo que ele assim o faça, assine e 
constitua o contrato desde o início com o objetivo de não cumprir, ainda assim esse contrato será válido. 
 
Reserva mental = segurança jurídica 
 
 Regra do silêncio (art. 111 CC) 
 
Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for 
necessária a declaração de vontade expressa. 
 
O silencio é capaz de manifesta a vontade? 
Para o código civil o silencio poderá sim manifestar vontade, manifestar conhecimento. 
 
O artigo 111 torna jurídico o ditado de quem cala consente. 
 
Essa concordância deve ser observada dentro de dois requisitos: 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
1) Desde que a circunstância do caso autorize – o que significa isso? 
Pode presumir que o sujeito que não manifesta a vontade no sentido de aceitar a doação de um bemcom 
encargo, posso presumir que o silencio dele será uma anuência? 
 
- Doação sem cargo 
X quer doar o carro para Y que não fala nada, não manifesta vontade – então X fala que encaminhará uma 
carta para que formalmente Y diga se aceita ou não o carro que está doando e Y não se manifesta, 
continua se mantendo em silencio – esse silêncio de Y pode ser considerado como uma anuência em 
relação a doação? As circunstâncias do caso, os costumes permitem interpretar que o silêncio dele pode 
ser considerado como uma anuência? Pode. Qual tipo de dano essa doação pode causar a Y? 
 
- Doação com encargo 
X fala para Y – meu carro é seu, foi feito uma doação, mas se você aceita, você terá o encargo de 
transportar minha filha para escola pelo prazo de 5 anos – essa situação pode presumir que Y aceitou? Se 
ele está construindo para ele próprio o encargo, uma obrigação - pode presumir que houve aceitação em 
virtude do silêncio? Não pode presumir. As circunstancias do caso não autorizam que X faça presunção. 
 
2) Além disso, o silencio só pode ser considerado como ato de anuência – além dos fatos e circunstâncias 
autorizar, em segundo lugar se o contrato for um contrato solene não pode extrair essa anuência (não 
pode presumir, porque havendo necessidade de uma manifestação de vontade, o silêncio significa que eu 
não manifestei vontade, não que eu manifestei anuência) – se o contrato for consensual o silencio pode 
ser considerado como anuência. Se o contrato for solene, o silêncio não pode ser considerado como 
anuência. 
 
 Regra da intenção** (art. 112, CC) 
 
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido 
literal da linguagem. 
 
O artigo 112 impõe que as partes deverão interpretar buscando a interpretação que mais se aproxime da 
intenção real das partes. 
 
A melhor interpretação será sempre aquela que se aproximar mais da real intenção das partes. 
 
OBS: consagrada nos projetos de unificação da legislação civil no âmbito da união europeia. 
 
Intenção é externalizada, ainda que não seja no contrato. 
 
 Regra da interpretação restrita (Art. 114, CC) 
 
Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. 
 
Na forma do artigo 114, a renúncia a direito dos negócios jurídicos benéficos devem ser interpretadas 
sempre restritivamente. 
 
O regulamento geral das benfeitorias diz que a benfeitora necessária será indenizada independente de 
autorização – a benfeitoria útil será indenizada se houver autorização do locador e a benfeitoria 
voluptuária não será indenizada – esse regulamento geral previsto na lei geral de locações poderá ser 
alterado no contrato. 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
 
Se pega o contrato e tem dizendo que a parte locatária renuncia a qualquer direito sobre benfeitorias – a 
melhor interpretação é: a parte locatária renunciou a indenização de qualquer benfeitoria, ou a parte 
locatária renunciou apenas a alguns tipos de benfeitorias? 
 
Diante dessas regras, qual a melhor interpretação para essa causa? 
Essa é uma regra de renuncia a direito – é um direito garantido na legislação, garantido na lei de locações, 
um direito a indenização pelas benfeitorias e é uma regra de renuncia – estou renunciando a um direito 
que a lei me da – essa renuncia pelo artigo 114 é uma renuncia que deve ser interpretada de modo 
restritivo, ou seja, não vale para todas as benfeitorias – eu tenho que buscar na leitura do restante do 
contrato, na intenção das partes extrair quais foram as benfeitorias as quais eu quis me referir quando eu 
pactuei essa renuncia prevista no artigo 114 do código. Mas não posso partir da premissa que ao tratar de 
benfeitorias essa renuncia quis dizer todas as benfeitorias – pode até ser que seja isso, mas parte da 
premissa, partindo de uma interpretação restritiva em função da renuncia que eu tenho que buscar ser o 
mais restrito possível – a partir de outros elementos previstos no contrato buscar a real intenção das 
partes para identificar quais benfeitorias eu quis efetivamente realizar essa denuncia. 
 
Os elementos do negócio jurídico 
 
Existência 
São: 
 Agente (não tem negócio manifestado por coisas e animais, precisa de um agente, um sujeito de 
direito). 
 
 Manifestação de vontade (se o negócio jurídico é o ato jurídico por meio do qual o sujeito de direito 
manifesta sua vontade e essa vontade não é aquela que adere os previstos na lei, mas é algo 
criador de novos efeitos – eu preciso de vontade). 
 
 Objeto (as pessoas firmam negócio jurídico em torno de algum objeto – casa, carro, lanche na 
cantina). 
 
 Deve se exteriorizar através de uma forma (modo como se exterioriza) 
 
Sem agente não tem negócio jurídico, sem pessoa não tem negócio jurídico, sem vontade não tem negócio 
jurídico – é o próprio elemento da existência dele, o próprio ingresso dele no mundo jurídico, sem objeto 
idem e sem forma idem. 
 Portanto quando eu trato do plano da existência eu trato exclusivamente da própria existência, da própria 
saída do negócio jurídico ou dos fatos de seu ingresso no mundo do direito. 
 
No plano da validade, cogita de coisa distinta, investiga coisa distinta – a ordem jurídica ao longo dos anos 
foi construída de forma inteligente – a premissa do direito é a premissa da liberdade – o direito no 
momento que regulamenta a conduta do homem com uma mão, com a outra diz que o homem é livre para 
fazer o que quiser – a própria noção de liberdade é o pressuposto da existência do direito – essa linha 
tênue que separa humana da conduta que é imposta pelo direito sempre é uma linha muito sensível, e é 
baseado nessa linha que ao longo dos anos, nessa grande construção cultural que é o direito, forjou-se o 
seguinte raciocínio: olha sujeitos de direito, eu irei regular sua conduta – a lei está ai para isso, para dizer o 
que é lícito e o que é ilícito, mas através de um instrumento, de uma categoria que é o negócio jurídico, 
você pode fazer o que você bem entender – autorregular suas relações, dizer que o direito não entra aqui 
Marília Mendes Silva 
IED Privado II 
 
– mas esse raciocínio que o direito não entra aqui é o raciocínio que justifica essa construção teórica do 
plano da validade. 
 
O direito permitir que você afaste a própria norma jurídica é um bônus, uma espécie de benefício – bônus 
que é da do pela ordem jurídica a cada um de nós – esse bônus atrai um ônus – o que colocar no papel e 
assinar terá os mesmos efeitos de uma lei – as regras que terá que exercer essa liberdade são as regras da 
lei – não é qualquer pedaço de papel que assina que vai ter força de lei – não é de qualquer modo que esse 
pedaço de papel vai ter força de lei, o direito no dá uma espécie de manual de instrução por meio do qual 
ele quer que estes negócios jurídicos sejam construídos – se não obedeço a esse manual de instrução, se 
não obedeço a essas regras de validade eu não tenho negócio jurídico com efeito - o que o direito quer 
que façamos quando estivermos pactuando o negócio jurídico, quando tivermos exercendo essa 
liberdade? 
 
Não é qualquer pedaço de papel, minimamente precisa seguir uma regra que está no manual de instrução 
que é o agente tem que ser capaz. Se firmar um contrato de compra e venda com um menino de 5 anos de 
idade, esse negócio foi feito em desconformidade com que tem a lei. 
Por que a existência dessa regra? 
 
A vontade, pode colocar em um pedaço de papel o que quiser – o que colocar no papel e os dois assinar, 
isso terá validade, terá efeito jurídico, mas para isso tem que ser capaz e a vontade é uma vontade que 
deve ter sido livremente manifestada – posso cogitar do bônus enorme de liberdade se colocar uma arma 
na cabeça da pessoa e forçar a assinar o contrato? 
Esse bônus tem um fundamento importante da liberdade não pode ser garantido pela lei se tiver liberdade

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