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Pesquisa de Mercado Fabiano Rodrigues Dias Cheque 1 and Lúcia Pereira Barroso 2 1 Universidade de São Paulo (USP), Brasil fabiano_imeusp@hotmail.com 2 Universidade de São Paulo (USP), Brasil lbarroso@ime.usp.br 1. Introdução Devido à grande concorrência existente hoje, a Pes- quisa de Mercado é uma importante ferramenta com a qual as organizações podem dispor para obter in- formações relevantes em sua área de atuação, quer seja para lançar um novo produto, aumentar sua fa- tia na composição do mercado, avaliar a qualidade de seus serviços junto aos clientes, etc. Os profis- sionais de Pesquisa de Mercado devem descobrir as oportunidades de mercado, o que os consumidores querem e quanto estão dispostos a pagar, segmentar o mercado para decidir se o foco de sua atenção é um segmento ou a população como um todo e avaliar em que mercado entrar. O processo de Pesquisa de Mercado consiste em definir o problema e os objetivos da pesquisa, de- senvolver o planejamento amostral, definir o instru- mento de pesquisa, coletar as informações, apresen- tar os resultados e tomar decisões. As organizações devem decidir se coletam as informações por meio de questionários ou se fazem uso de dados já disponíveis e qual tipo de método empregam. Os tipos de pesquisas são: Pesquisa Exploratória, Pesquisa Conclusiva Descritiva e Pesquisa Conclu- siva Causal. A pesquisa de caráter exploratória é geralmente utilizada no início da pesquisa, ou seja, quando o pesquisador tem pouco conhecimento do tema a ser tratado. Os principais objetivos, devido ao pouco co- nhecimento sobre o tema, são: conhecer e formular o problema da pesquisa, criar hipóteses explicativas, determinar as variáveis a serem consideradas, esta- belecer prioridades futuras e verificar se pesquisas semelhantes já foram realizadas. É realizada através de entrevistas individuais ou em grupo, com pessoas de diversas áreas de estudo, tais como: presidentes, diretores, gerentes, pesquisa- dores, professores, consultores, etc. Os métodos utilizados na pesquisa exploratória são quatro: levantamentos em fontes secundárias, levantamentos de experiência, estudo de caso sele- cionado e observação informal. As pesquisas conclusivas descritivas exigem que o pesquisador tenha um profundo conhecimento do as- sunto, pois estas possuem objetivos bem definidos, são bem estruturadas e dirigidas para a solução do problema. Além do mais, servem para descrever as caracte- rísticas de grupos, estimar a proporção de elementos numa população específica e descobrir ou verificar a existência de relação entre as variáveis. Os métodos para sua realização são: entrevistas pessoais, entre- vistas por telefone, questionários e observações. Já as pesquisas conclusivas causais buscam expli- car os "por quês"(causas). Ou seja, as perguntas a serem respondidas são: por que compra, por que prefere o produto A ao B. Um dos métodos mais utilizados em pesquisas cau- sais é a experimentação, que consiste em medir os efeitos nas variáveis dependentes controlando e ma- nipulando as variáveis independentes. 2. Fontes de Dados em Pesquisa de Mercado As fontes de dados referem-se às fontes das quais te- remos acesso aos dados. Basicamente, o acesso aos dados se dá através de quatro formas: do pesqui- sado, das pessoas que tenham informações sobre o pesquisado, dos dados disponíveis em jornais, uni- versidades, etc. e de situações similares. A opção de obter os dados através de pessoas que tenham informação sobre o pesquisado deve- se à impossibilidade de acesso a este, por exem- plo, a pesquisa que pretendemos realizar tem como público alvo crianças. Devido a impossibilidade de entrevistá-las, colhemos informações com a mãe, pai, irmãos, etc. O acesso de dados através de situações similares dá-se sob três formas: através do estudo de casos, experimento e simulação. A simulação tem a vanta- gem de ser rápida, barata, de fácil atualização e de possuir variabilidade de alternativas. 3. Tipos de Dados Os dados a serem colhidos são classificados em secun- dários e primários. Os dados secundários são aque- les que já foram coletados e possivelmente analisados por outra entidade, já os dados primários são aqueles que ainda estão em posse do pesquisador. Vamos exemplificar os dados secundários através de um exemplo adaptado de Mattar (1999). Supo- nha que para um pesquisador seja importante ter conhecimento da idade de seu público alvo. Antes de coletar os dados ele estabelece que os intervalos, em anos, serão: 0-2, 3-5, 6-12, 13-21, 22-35, 36-60. Após isso o pesquisador procura informações em revistas, universidades, empresas de pesquisa ou ou- tra fonte qualquer que já tenha feito uma pesquisa semelhante. Após essa busca ele encontra o inter- valo, em anos: 0-3, 4-10, 11-20, 21-45. Ou seja, po- demos observar que os dados secundários possuem como vantagens o baixo custo e o baixo tempo de coleta e tabulação, pois estes já foram coletados e tabulados, além do mais o pesquisador pode verifi- car se a adoção dos seus intervalos é a melhor opção ou não em relação aos intervalos por ele encontrado. Por outro lado, podemos ver também que a grande desvantagem dos dados secundários está no grau de ajustamento destes, ou seja, os intervalos pretendi- dos pelo pesquisador são completamente diferentes dos intervalos por ele encontrado. Além do mais, poderia o pesquisador ter encontrado os intervalos somente para o sexo feminino, ou a data de publica- ção de tal pesquisa estar muito defasada, etc. Já os dados primários, ou seja, aqueles que ainda estão sob posse do pesquisador, podem ser obtidos de diversas formas, tais como: características demográ- ficas, socio-econômicas e de estilo de vida; atitudes e opiniões; conscientização e conhecimento; motiva- ções; comportamento; intenções. 4. Meios Básicos de Coleta de Dados Vamos abordar neste tópico somente os meios de co- leta de dados primários, pois os secundários já foram mencionados. Os meios de coleta de dados primários são divididos em dois tipos: método da comunicação e o método da observação. O método da comunicação é classificado quanto ao grau de estruturação e disfarce e quanto à forma de aplicação. Ou seja, o instrumento de coleta de dados é considerado estruturado quando as perguntas a se- rem feitas pelo pesquisador seguem um roteiro, já o não estruturado é aquele em que o pesquisador tem em suas mãos somente um lista dos assuntos que ele pretende abordar, pois as perguntas a serem feitas são livres. Quanto ao grau de disfarce, o instrumento é con- siderado disfarçado quando não permite ao entrevis- tado saber a intenção da pesquisa, pois esta pode causar uma mudança de comportamento do mesmo. Já o instrumento não disfarçado é aquele que per- mite ao entrevistado saber o propósito da pesquisa, pois isso não acarretará mudança no comportamento deste. Combinando os possíveis tipos de instrumentos obtemos: estruturado não disfarçado, não estrutu- rado não disfraçado, não estruturado disfarçado e estruturado disfarçado. O instrumento estruturado não disfarçado é comu- mente chamado de questionário, sendo utilizado em pesquisas conclusivas. Como as perguntas seguem a mesma ordem, possuem as mesmas palavras e mes- mas opções de resposta, este instrumento é de fácil aplicação, tabulação, análise e interpretação. Já o instrumento não estruturado não disfarçado, também chamado de pesquisa focalizada, da motiva- ção, não diretiva ou profunda, é geralmente utilizado em pesquisa exploratória. Este pode ser aplicado a um grupo ou somente a um indivíduo. A entrevista focalizada emgrupo possui um mo- derador, geralmente um psicólogo com os tópicos do assunto, que direciona um grupo de entrevista- dos. Este grupo deve conter entre 8 e 12 partici- pantes que possuem as mesmas características socio- econômicas, demográficas e de estilo de vida. Deve- se evitar que os participantes sejam conhecidos entre si, que sejam participantes constantes deste método, ou que sejam profissionais ligados a esta área. O ambiente a ser realizado deve ser agradável, com bebidas e petiscos, pois isso ajudará os participantes a sentirem-se mais à vontade. O tempo da entrevista deve ficar entre 1,5 h e 3 h. Já a entrevista focalizada individual possui a mesma estrutura da anterior com a diferença desta possuir somente um participante. É pouco utili- zada pois tem custo elevado e o prazo de aplicação é grande. Tem a vantagem de permitir um maior aprofundamento do tema. À respeito do instrumento não estruturado disfar- çado, também conhecido como teste projetivo, este tem como objetivo encorajar os respondentes a expo- rem suas crenças, sentimentos, personalidades, etc., através de testes derivados da psicologia. Por isso os dados devem ser analisados por psicólogos e/ou psicanalistas. Devido a subjetividade e a pouca von- tade de cooperação dos participantes, este método é pouco utilizado. Por fim, o instrumento estruturado disfarçado é aquele no qual o pesquisador escolhe um tópico para que o participante memorize-o, para depois ser ques- tionado. A utilização deste método parte do pres- suposto que quanto mais informação o participante guarda mais se interessa pelo assunto. Esta técnica é pouco utilizada pelos mesmos motivos da técnica anterior. Quanto à forma de aplicação, podemos dividir o método da comunicação em três tipos: entrevista pessoal, entrevista por telefone e o questionário auto- preenchido. As entrevistas pessoal e por telefone, tanto em grupo como individual, consistem em o pesquisador anotar a resposta do entrevistado de determinada pergunta. Já no questionário auto-preenchido, o res- pondente lê e responde as perguntas, perguntas estas que podem ser enviadas pelos correios, revistas, pro- dutos ou até mesmo deixadas em algum local para que os entrevistados retirem-nas. Após discutirmos o método da comunicação, dis- cutiremos o método da observação. Este consiste consiste no registro de comportamentos, fatos ou ações, sendo assim extremamente subjetivo. Pode- mos caracterizá-lo quanto: ao grau de estruturação, ao grau de disfarce, aos instrumentos utilizados, ao objeto observado e ao ambiente. O instrumento estruturado é utilizado quando o objetivo e o problema da pesquisa já estão definidos, ou seja, sabe-se a priori quais comportamentos serão observados. Já no instrumento não estruturado, os objetivos e problemas não estão definidos. O instrumento é disfarçado ou não quando permite ou não ao pesquisado saber o propósito da pesquisa. O instrumento não disfarçado é utilizado quando o fato de o pesquisado saber que está sendo observado não interfere na pesquisa. Já o instrumento disfar- çado é utilizado quando o fato citado acima interfe na pesquisa ou quando termos éticos e/ou legais im- pedem a observação disfarçada. Quanto às outras características, o método da ob- servação pode ser realizado através da própria ob- servação humana ou através de instrumentos, tais como: câmeras fotográficas, gravadores de som, lei- tura ótica dos caixas das lojas, psicogalvanômetros (detector de mentiras), câmera de movimento dos o- lhos (oftalmógrafo), pupilômetro, etc. A observação também pode ser no ato da ocorrência (observação direta) ou através de registros (observação indireta). Por fim pode ser em ambiente natural ou em ambi- ente artificial. 5. Medição e Escalonamento A Pesquisa de Mercado consiste em medir. Este pro- cesso de medição é a atribuição de números ou símbo- los ás características de objetos de acordo com regras predefinidas. Estas medições devem possuir validade e confiabilidade. Validade consiste em medir o que realmente se deseja medir e confiabilidade significa tornar o erro não amostral o menor possível. No processo de medição devemos atribuir núme- ros às características e esta atribuição deve ser biu- nívoca entre característica e número. Em Pesquisa de Mercado não medimos o consumidor em si e sim suas características, tais como: percepções, atitudes, preferências, etc. Exemplos de medições: medir a quantidade de consumidores que preferem um produto a outro; me- dir o potencial de mercado para determinado pro- duto; etc. Enquanto a medição é um processo de atribuição de números, o escalonamento é o processo de inclu- são dos entrevistados em um conjunto contínuo de acordo com a característica de interesse. 5.1 Tipos Básicos de Escalas Para obtermos as medidas no processo de medi- ção utilizamos as escalas. Estas são escolhidas de acordo com as características ou atributos de inte- resse, tendo cada uma delas características do sis- tema numeral de 0 a 9. Há quatro tipos de escalas: nominal, ordinal, intervalar e razão. Para cada es- cala utilizam-se métodos estatísticos diferentes. Escalas nominais apenas identificam e/ou classi- ficam objetos. Na identificação há uma corres- pondência biunívoca entre números e objetos, por exemplo, o número do RG de uma pessoa é único. Já na classificação as classes são mutu- amente excludentes e coletivamente exaustivas, ou seja, o fato de uma pessoa ser do sexo femini- mo exclui a possibilidade de ela ser do sexo mas- culino, mas não a possibilidade de outra pessoa ser também do sexo feminino. As únicas esta- tísticas possíveis são as baseadas em contagem. Escalas ordinais identificam e/ou classificam ob- jetos, para depois compará-los de acordo com o grau de manifestação de alguma característica. Objetos equivalentes recebem a mesma classifi- cação ou pontuação. Os números atribuídos aos objetos podem ser trocados por outros números, desde que se possa realizar uma ordenação, pois esta escala indica somente a posição relativa e não a magnitude das diferenças entre os objetos. As estatísticas possíveis são aquelas baseadas em contagem e em centis. Escalas intervalares além de possuírem as carac- terísticas da escala ordinal também comparam diferenças e distâncias entre as características, ou seja, distâncias numericamente iguais repre- sentam valores iguais na característica. Nas escalas intervalares é permitido somente ra- zões entre intervalos e não entre valores, pois o ponto zero da escala não é fixo. Além do mais é possível fazer a transformação do tipo y = a× x+ b, para a > 0 e b qualquer. Escalas razão possuem as mesmas propriedades das escalas intervalares, sendo que esta permite comparar razões entre valores, ou seja, o quanto uma medição é maior que a outra. Neste tipo de escala é permitida a transformação do tipo y = a× x, para a > 0. 5.2 Atitudes e Escalas de auto-relato A importância da atitude, em Pesquisa de Mercado, deve-se ao fato desta condicionar o comportamento de compra e pós-compra. Há porém uma grande dificuldade em medí-la devido a sua presença estar somente na mente das pessoas. Eis uma definição de atitude adotada pelo livro do Mattar (1999): Atitude é uma predisposição subliminar da pessoa, resultante de experiências anteriores, da cognição e da afetividade na determinação de sua reação com- portamental em relação a um produto, organização, pessoa, fato ou situações. Para medir a atitude (componentes cognitivo, afe- tivo e comportamental) utilizam-se as escalas de auto-relato, ou seja, os questionários. Estes, além do baixo custo, são fáceisde aplicar e de analisar. Há dois tipos de escalas: escalas comparativas e escalas não-comparativas. Nas escalas comparativas, também chamadas de escalas não-métricas, os obje- tos são comparados diretamente entre si, possuindo assim somente propriedades ordinais ou de postos. Estas escalas possuem a vantagem de serem de fácil aplicação, fácil entendimento do entrevistado e me- nos suposições teóricas reduzem os efeitos de trans- porte de um julgamento para outro. Por outro lado, possuem como desvantagens o fato de os dados se- rem ordinais e a impossibilidade de generalizar os objetos. Já nas escalas não-comparativas, também conhe- cidas como escalas monádicas ou métricas, cada ob- jeto é escalonado independentemente do outro, pos- suindo assim as propriedades das escalas intervalares e de razão. 5.3 Tipos de Escalas Escalas Nominais associam números às respostas, com a finalidade de facilitar a digitação, proces- samento e análise dos dados. Abaixo, há um exemplo de escala nominal extraído de Mattar (1999). Nele, queremos saber das donas de ca- sas, se estas possuem lava-louça ou não, para isso usamos a escala: Tabela 1. Exemplo de escala de ordenação. Utilize a seguinte legenda: Ford - FD, General Motors GM, Volkswagen - VG, Fiat - FT Atributo 1o 2o 3o 4o Qualidade Economia de combustível Economia de manutenção Durabilidade Desempenho Acabamento Segurança Confiança na marca Valor de revenda Modelos modernos Qualidade de assistência técnica Sua casa está equipada com lava-louça? _1 - Sim _2 - Não _3 - Não sei. Escalas de Ordenação consistem em os respon- dentes ordenarem os objetos de acordo com suas atitudes. Na Tabela 1 há um exemplo, de Mat- tar (1999), de escala de ordenação. Nela o res- pondente ordena as marcas de automóveis, se- gundo sua opinião, em relação a cada atributo. Costuma-se atribuir valores contrários à posição escolhida para então somá-los, ou seja, no nosso exemplo atribuiríamos os valores 1, 2, 3 e 4 para as posições 4, 3, 2 e 1, respectivamente. Depois efetuaríamos a soma das colunas e a ordem de preferência seria dada pela ordem decrescente dos números. Escalas Comparativas comparam, segundo a opi- nião do respondente, dois objetos de uma vez, em relação à uma determinada característica. Na Tabela 2 há um exemplo, de Mattar (1999), desta escala. Por exemplo, queremos comparar duas marcas de café A e B em relação as ca- racterísticas descritas na tabela. Inicialmente perguntamos ao envtrevistado o que ele acha da Pureza de B em relação ao A. Se caso ele achar que o café da marca B em relação à Pureza é melhor que A, então marca-se a alternativa Me- lhor que A. Essas comparações são feitas até a última característica, que nesse exemplo é a Marca. Escalas de Comparação Pareada comparam, segundo a opinião do respondente, dois objetos de uma vez em meio a vários, através de um determinado critério. Aconselha-se que o número de objetos seja no máximo cinco, pois quanto maior o número de objetos maior será Tabela 2. Exemplo de escala comparativa. Atributos Pior que A Igual a A Melhor que A Não sei Pureza Sabor Aroma Qualidade Textura Torrefação Embalagem Marca Tabela 3. Exemplo de matriz de tabulação de esca- las de comparação pareada. A B C D A - 85% 98% 86% B 15% - 68% 36% C 2% 32% - 10% D 14% 64% 90% - o tempo que o respondente irá gastar para preencher a tabela. Para saber a quantidade de comparações que serão feitas utilizamos a fórmula n×(n−1) 2 , sendo n o número de objetos. Na Tabela 3 há um exemplo, de Mattar (1999), de uma suposta matriz obtida quando preten- demos comparar quatro marcas, de um produto qualquer, em relação à uma determinada cara- caterística. A porcentagem indica a quantidade de respon- dentes que preferem a marca das linhas ao in- vés da marca das colunas. Após esta tabula- ção deve-se construir outra matriz (Tabela 4) atribuindo valor 1 para as porcentagens maiores que 50% e valor 0 para porcentagens menores ou iguais que 50%. Para finalizar, somam-se os nú- meros das colunas, para então obter a ordem de preferência dos produtos. Esta técnica, que é a mais utilizada entre as comparativas, nos fornece somente dados ordi- nais, logo não podemos dizer se a preferência por determinado objeto é absoluta ou parcial. Esta escala possui um característica importante de- Tabela 4. Matriz de transformação dos dados. A B C D Totais A - 1 1 1 3 B 0 - 1 0 1 C 0 0 - 0 0 D 0 1 1 - 2 nominada transitividade de preferência, ou seja, no nosso exemplo temos que o fato de as pessoas preferirem a marca A em relação à marca D e preferirem a marca D em relação à marca B, implica que as pessoas preferem a marca A em relação a marca B. Escalas de Diferencial Semântico (Osgood) consistem em escalas de sete pontos, de adjetivos bipolares, tais como: bom/mau, rápido/lento, forte/fraco, limpo/sujo, etc. O respondente tem que assinalar o espaço em branco que melhor traduza atitude em relação ao objeto. Recomenda-se que haja uma variação de posição dos adjetivos, ou seja, não deixar os adjetivos favoráveis somente de um lado e os não favorá- veis somente do outro, isso ajuda a evitar que os respondentes com atitude positiva ou negativa respondam sem ler as perguntas. O escore de cada item pode variar entre -3 e +3 ou entre 1 e 7. A forma mais utilizada desta escala é como es- cala intervalar, mesmo havendo uma controvér- sia quanto aos dados serem intervalares e não ordinais. A grande vantagem desta escala não- comparativa é sua versatilidade, ou seja, quando formos analisá-la, podemos somar os escores dos itens e obtermos um escore total, calcular a média e\ou mediana de cada item ou a média e\ou mediana de cada respondente. Além do mais, quando aplicamos esta escala a dois pro- dutos concorrentes, podemos compará-los grafi- camente. Na Tabela 5, há um exemplo, adaptado do livro de Mattar (1999), de escala de diferencial se- mântico. Neste exemplo, a escala intervalar foi utilizada (escore de 1 até 7) e o respondente tem que comparar, segundo sua opinião, os atributos de duas marcas supostas de café. Escalas Stapel são semelhantes às anteriores, com a diferença de serem unipolares com 10 cate- gorias (sem neutro) e não com 7 como a ante- rior. Nesta escala, geralmente apresentada ver- ticalmente, o respondente deve indicar o quanto concorda ou não com o adjetivo que descreve o objeto, para isso deve assinalar para cada item um valor entre -5 e +5. Esta escala não-comparativa possui algumas vantagens, tais como: não exige um pré-teste dos adjetivos, o que seria necessário na escala de diferencial semântico, para testarmos a bipola- ridade dos adjetivos. Em compensação possui a Tabela 5. Exemplo de escala de diferencial semân- tico. Puro _ _ _ _ _ _ _ Impuro Fraco _ _ _ _ _ _ _ Forte Saboroso _ _ _ _ _ _ _ Sem sabor Sabor di- ferente _ _ _ _ _ _ _ Sabor co- mum Sem aroma _ _ _ _ _ _ _ Aromático Baixa qualidade _ _ _ _ _ _ _ Alta quali- dade Barato _ _ _ _ _ _ _ Caro Mal tor- rado _ _ _ _ _ _ _ Bem tor- rado Embalagem bonita _ _ _ _ _ _ _ Embalagem feia Produto antigo _ _ _ _ _ _ _ Produto moderno desvantagem, em relação à anterior, de ser mais confusa. A forma de análise desta escala é a mesma da anterior, logo os dados obtidos são semelhan- tes a escala de diferencial semântico. Podemos também analisá-la graficamente quando existem dois produtos sendo comparados entre si. Na Tabela 6 há um exemplo de escalas Stapel, de Mattar (1999),aplicadas no exemplo anterior. Tabela 6. Exemplo de escala Stapel. Atributos Avaliação Pureza -5 -4 -3 -2 -1 +1 +2 +3 +4 +5 Sabor -5 -4 -3 -2 -1 +1 +2 +3 +4 +5 Aroma -5 -4 -3 -2 -1 +1 +2 +3 +4 +5 Qualidade -5 -4 -3 -2 -1 +1 +2 +3 +4 +5 Textura -5 -4 -3 -2 -1 +1 +2 +3 +4 +5 Torrefação -5 -4 -3 -2 -1 +1 +2 +3 +4 +5 Embalagem -5 -4 -3 -2 -1 +1 +2 +3 +4 +5 Marca -5 -4 -3 -2 -1 +1 +2 +3 +4 +5 5.4 Escalas Indiretas As escalas vistas até agora são denominadas esca- las diretas, pois os respondentes têm que se posici- onarem em relação a um objeto. As escalas indire- tas, sendo as mais importantes em Pesquisa de Mer- cado as escalas de intervalos aparentemente iguais de Thurstone e as escalas somatórias ou escalas de Likert, determinam a posição do entrevistado em re- lação a um objeto de acordo com um conjunto de respostas. Estas escalas são utilizadas quando a sin- ceridade de resposta dos pesquisados pode ser afe- tada, tanto por causa de questões controversas como por questões que expõem os valores e atitudes destes em relação a assuntos íntimos. Escalas de intervalos aparentemente iguais de Thurstone são compostas de várias afirmações que possuem valores predefinidos na mesma, o respondente tem que dizer se concorda ou discorda da afir- mação. Após isso calcula-se a média aritmética dos valores das respostas concordantes, para então obter-se a posição do respondente na escala. Para compreensão, vamos explicá-la através de um exemplo de Mattar (1999). Suponha que um fabricante de café, de uma marca A qualquer, está interessado em saber a atitude dos seus consumidores. Para isso ele quer aplicar uma escala de Thurstone. O primeiro passo é gerar um grande número de afirmações, algo entre 100 e 200. Após isso deve corrí-las, eliminando as afirmações ambíguas ou aquelas que expõem um fato e não uma opinião. Deve-se então expô-las a juízes, entre 100 e 200 pessoas, para que avaliem a favorabilidade das afirmações. A favorabilidade é medida em uma escala que varia de 1 a 11, sendo 1 a menor favorabilidade e 11 a maior. O valor da declaração é dado pela mediana. Caso afirmações diferentes recebam valores iguais, então devemos escolher aquela que pos- sui o menor intervalo interquartil. Após isso, o pesquisador escolhe as mais favoráveis, e as aplica aos respondentes em uma escala con- cordo/discordo. A atitude do respondente em relação ao café é dada pela média aritmética das respostas concordantes. Escalas somatórias ou escalas de Likert possuem duas definições, adotadas por Mattar (1999) e Malhotra (2001). Descrevemos aqui a definição de Malhotra (2001). Essa escala consiste em uma série de afirmações, tal que o respondente demonstra o seu grau de con- cordância ou discordância em relação a cada afirmação escolhendo um termo que reflita sua atitude em relação ao objeto. Cada item da escala tem cinco categorias que vão de "dis- cordo totalmente"até "concordo totalmente". Para fazermos a análise devemos aplicar um escore a cada afirmação que vai de -2 até +2 ou 1 até 5. As afirmações favoráveis devem receber -2 (ou 1) para "discordo totalmente"e +2 (ou 5) para "concordo totalmente". Já as afirmações desfavoráveis devem receber +2 (ou 5) para "discordo totalmente"e -2 (ou 1) para "concordo totalmente". Depois disso, somamos os escores e obtemos a atitude dos respondentes em relação ao produto. A escala Likert é de fácil construção, pode ser aplicada por telefone e é de fácil compreensão dos respondentes. A principal desvantagem é o tempo maior que o entrevistado gasta para respondê-la, pois tem que ler todas as afirma- ções. Referências [1] Naresh K. Malhotra, Pesquisa de Marketing: uma orien- tação aplicada, Bookman, Porto Alegre, 2001. [2] Fauze N. Mattar, Pesquisa de Marketing, Atlas, São Paulo, 1999. Pesquisa de Mercado Introdução Fontes de Dados em Pesquisa de Mercado Tipos de Dados Meios Básicos de Coleta de Dados Medição e Escalonamento Tipos Básicos de Escalas Atitudes e Escalas de auto-relato Tipos de Escalas Escalas Indiretas
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