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MARCELO GERALDO TEIXEIRA APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA ECOLOGIA INDUSTRIAL PARA A PRODUÇÃO DE MATERIAIS ECOLÓGICOS: O EXEMPLO DO RESÍDUO DE MADEIRA SALVADOR 2005 ii iii MARCELO GERALDO TEIXEIRA APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA ECOLOGIA INDUSTRIAL PARA A PRODUÇÃO DE MATERIAIS ECOLÓGICOS: O EXEMPLO DO RESÍDUO DE MADEIRA Dissertação apresentada ao Curso de pós- graduação em Gerenciamento e Tecnologia Ambiental no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre Orientador: Prof. Dr. Sandro Fábio César SALVADOR 2005 iv ESTE TRABALHO ESTÁ FORMATADO PARA IMPRESSÃO FRENTE / VERSO PERMITIDA A CÓPIA TOTAL OU PARCIAL DESTE DOCUMENTO DESDE QUE CITADA A FONTE – O AUTOR T2661a Teixeira, Marcelo Geraldo Aplicação de conceitos da ecologia industrial para a produção de materiais ecológicos: o exemplo do resíduo de madeira./ Marcelo Geraldo Teixeira. – Salvador, 2005. 159 p. Orientador: Dr. Sandro Fábio César Dissertação (Mestrado em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo). – Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2005. 1. Indústria Madeireira – Tecnologia. 2. Madeira - Reciclagem I. Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica II. César, Sandro Fábio. III. Título. CDD 674 v UFBA - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA MESTRADO PROFISSIONAL EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO TERMO DE APROVAÇÃO: Marcelo Geraldo Teixeira APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA ECOLOGIA INDUSTRIAL PARA A PRODUÇÃO DE MATERIAIS ECOLÓGICOS: O EXEMPLO DO RESÍDUO DE MADEIRA Dissertação aprovada como requisito para obtenção do grau de Mestre em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo – Ênfase em Produção Limpa, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora Salvador, 16 de fevereiro de 2005 vi vii Dedico à Meus pais, Marli e Itaraci; Minha esposa Idalícia; Minha filha Juliana; E minha Irmã Isa Minha família Meu tesouro viii ix AGRADECIMENTOS Esse trabalho, fruto da minha busca pelo conhecimento, coincidiu com momentos decisivos na minha vida, portanto o apoio sincero de algumas pessoas foi muito importante para a conclusão do mesmo. A lista de nomes é imensa, mas seleciono aqui as pessoas determinantes: Minha mãe, Profa Marli, pelo incentivo página a página deste trabalho; À minha esposa Idalícia, sua mãe Dona Dulce e seu pai, Seu Edgar (In memorian); Aos primos de São Paulo, em especial Tia Emília, Tio Walter, Clauber e Gabi; Ao TECLIM pela oportunidade deste mestrado Ao Prof. Orientador Sandro Fábio pela excelente orientação; Aos Srs. Paulo Venturoli, da CMVenturoli, e José Sobrinho da BAKAR Fiberglass, que acreditaram neste trabalho e abriram as respectivas empresas à pesquisa; Ao pessoal do SENAI-CIMATEC Salvador, Departamento de Metrologia, Marcelo Barreto e Fátima Badaró, que forneceram um grande apoio nos ensaios de laboratório. Ao Professor Sandro Machado, DCTM - UFBA, pela grande ajuda nos ensaios de flexão. Aos professores José Geraldo, Ricardo Carvalho, ambos da UFBA, e Paulo Fernando, da UNEB, que contribuíram com discussões importantes e Luis Eduardo Bragatto da USP-EESC com parte da bibliografia usada. À Profa. Rita Dione pela correção da monografia. Ao pessoal da Solução Visual que me ajudaram nas cópias e impressões durante toda a jornada; Ao Sr. Sílvio Roberto, da metalúrgica Ycaro Victal, pelo excelente trabalho na mini-prensa. x xi Não há pecado maior Do que o excesso da ganância. Não há mal maior Do que querer sempre mais. Não há maior calamidade Do que a mania do sucesso. Quem se contenta com o necessário Vive numa paz imperturbável. Lao Tsé xii xiii RESUMO Essa dissertação tem como objetivo demonstrar a aplicação de conceitos da Ecologia Industrial na produção de um material compósito ecológico baseado no resíduo de indústrias madeireiras. Na busca por este material ecológico, foram usados os conceitos de Eco-eficiência, Circulação de Recursos, Eco-Design e Análise do Ciclo de Vida, conceitos estes contidos no conceito maior da Ecologia Industrial que busca formas eficientes de prevenção da poluição e defesa do meio ambiente. O objeto da pesquisa foi o resíduo de madeira na forma de serragem, pó de serra e maravalha, oriundo de uma empresa beneficiadora de toras de madeira, e aqui denominada como Processo Produtivo I. O resíduo foi classificado e reciclado como carga para resina de poliéster insaturado, usada numa segunda empresa, de plásticos reforçados, aqui denominada como Processo Produtivo II. Essa relação entre processos produtivos através do uso de serragem reciclada configurou-se como uma aplicação prática da Ecologia Industrial. Na mistura de serragem com resina de poliéster surgiu um material compósito denominado WPC – wood plastic composite – em 14 traços diferentes, formulados de acordo com a granulometria e porcentagem de 10% e 20%. Estes traços foram moldados em corpos de prova segundo o processo de prensagem a frio e em seguida testados em três ensaios, seguido as normas técnicas brasileiras: o ensaio de absorção de água, baseado na norma NBR 8514, o ensaio de dureza Shore D, baseado na norma NBR 7456 e o ensaio de flexão em três pontos baseada na norma NBR 7447. Os resultados mostraram que o compósito permite o aproveitamento de cerca de 95% da serragem na forma de carga para resinas de poliéster. Os ensaios mostraram que a absorção de água é muito inferior à da madeira sólida, que a serragem diminuiu muito pouco a dureza da matriz de poliéster, que aumentou moderadamente a resistência à flexão da matriz e que também aumentou sua rigidez. Apesar de análises de viabilidade ténico-econômica serem necessárias, conclui-se que o uso de serragem reciclada é uma maneira eco-eficiente tanto na diminuição de resíduos sólidos industriais quanto na obtenção de carga e reforço para resinas plásticas, podendo contribuir para a diminuição do montante do resíduo de indústrias madeireiras. PALAVRAS CHAVE: Ecologia Industrial, serragem de madeira, reciclagem, eco-compósito. xiv xv ABSTRACT This dissertation has as an objective to demonstrate the application of industrial ecology concepts in the production of an eco-composite material based on the residues of wood industries. In order to have these ecological material concepts, such as: eco-efficiency, resources circulation, eco-design and life cycle analysis have been used. These concepts are part of a bigger concept – ecological industrial – that aims efficient ways to prevent environment from pollution.The object of this research was the residue of wood waste and “maravalha”. These residues came from a company of wood logs denominated as a Productive Process I. The residue was classified and recycled as a refill of resin of unsaturated polyester, used in a second company, specialized in reinforced plastic, denominated as Productive Process II. This relation between productive processes through the use of recycled wood waste configured as practical application of industrialecology. The mixture of wood waste and resin of polyester produced a composite material denominated WPC – wood plastic composite – with 14 different features, formulated according to particles size distribution and percentage of 10 and 20% These features were mounded in specimens according to could press moulding process, after that tested in 3 studies following the NBR: the water absorption study, based on the NBR 8514, the hardness study Shore D., based on the NBR 7456 and the tensile study at 3 ways based on the NBR 7447. The results showed that the composite allows the utilization of about 95% of wood waste in filler of polyester resin. The studies also showed that the water absorption is much lower than solid wood absorption, the wood waste hasn´t decreased much the hardness of polyester matrix, that increased the resistance of tensile of the matrix and it increased its rigidity, as well. Despite of the analyses of the technical – economical viability were necessary, we came to the conclusion that the use of wood waste recycled is an eco-efficient way for the reduction of solid industrial residues, and for the obtaining of filler and reinforcement for plastic resins, contributing to the reduction of the amount of wood industries residue. KEY WORDS: Industrial ecology, wood waste, recycling, eco - composite xvi xvii SUMÁRIO RESUMO XIII ABSTRACT XV LISTA DE FIGURAS XXI LISTA DE TABELAS XXIII ABREVIAÇÕES XXV SIMBOLOS XXV INTRODUÇÃO 1 PROBLEMATIZAÇÃO 3 PROBLEMA 5 OBJETIVOS 5 Objetivo Geral 5 Objetivos Específicos 5 JUSTIFICATIVAS 6 METODOLOGIA 6 Natureza da Pesquisa 6 Etapas da metodologia aplicada na pesquisa 7 LIMITES DA PESQUISA 8 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO 8 CAPÍTULO 1 - ECOLOGIA INDUSTRIAL 9 1.1 - A PROPOSTA DAS TECNOLOGIAS LIMPAS. 9 1.2 - CONCEITOS DA ECOLOGIA INDUSTRIAL USADOS NA PESQUISA 11 1.2.1 - Eco-Eficiência 12 1.2.2 - Circulação de Recursos 13 1.2.3 - Análise do Ciclo de vida 14 1.2.4 - Eco-Design 15 1.3 - REQUISITOS DO ECO-DESIGN 16 1.3.1 - Atuação do Eco-Design no ciclo de vida do produto 19 CAPÍTULO 2 - A MADEIRA: INDÚSTRIA E RESÍDUOS 23 2.1 - A MADEIRA COMO RECURSO FLORESTAL 23 2.2 - CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DO DESMATAMENTO 24 2.3 - A EXPLORAÇÃO DA MADEIRA NO BRASIL 25 2.4 - CARACTERÍSTICAS DA MADEIRA 27 2.4.1 - Origem da madeira 27 2.4.2 - Componentes da madeira 28 2.4.3 - Componentes do tronco 28 2.4.4 - Vantagens e desvantagens do uso da madeira como material 29 2.5 - PRODUTOS E PAINÉIS DE MADEIRA 29 2.5.1 - Madeira sólida serrada 30 2.5.2 - Madeira reconstituída 30 2.6 - GERAÇÃO DOS RESÍDUOS INDUSTRIAIS DE MADEIRA 33 2.6.1 - Uso tradicional do resíduo de madeira 36 xviii CAPÍTULO 3 - APLICAÇÃO DO RESÍDUO DE MADEIRA: MATERIAIS, PROCESSOS E PRODUTOS 39 3.1 - REVISÃO DO USO DE RESÍDUOS DE MADEIRA EM PRODUTOS INDUSTRIAIS 39 3.1.1 - Chapas de madeira aglomerada 39 3.1.2 - Compósitos de matriz cimentícia 41 3.1.3 - Compósitos de matriz polimérica 41 3.2 - MATERIAIS ECO-EFICIENTES 44 3.2.1- Classificação dos materiais eco-eficientes 45 3.3 - ECO-COMPÓSITOS 46 3.3.1 - Definição de compósitos 46 3.3.2 - Definição de Eco-compósito 47 3.3.3 - Reforços 47 3.3.4 - Matrizes poliméricas 50 3.3.4.1 - Reaproveitamento de resíduos poliméricos 52 3.4 - WPC - COMPÓSITOS BASEADOS EM MADEIRA 53 3.4.1 - A eco-eficiência do WPC 55 3.5 - DESCRIÇÃO DAS MATRIZES POLIMÉRICAS USADAS NA PESQUISA 59 3.5.1 - Resina de Poliéster Insaturado 59 3.6 - METODOLOGIA DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO 60 3.6.1 – Processos de Molde Aberto 61 3.6.2 - Processos de Molde Fechado 61 3.6.3 - Etapas da prensagem a frio 64 3.6.4 - Etapas de fabricação de moldes 65 CAPÍTULO 4 – MATERIAIS E MÉTODOS 67 4.1 - O PROCESSO DE PRODUÇÃO DAS FÁBRICAS ESTUDADAS 68 4.1.1- Processo produtivo 01 - Indústria de produtos de madeira serrada 69 4.1.2- Processo produtivo 02 – Indústria de plásticos reforçados 70 4.2 – FASE I - MATERIAIS 71 4.2.1 – Coleta e caracterização dos resíduos 71 4.2.2 - Reciclagem e classificação dos resíduos coletados 75 4.2.2.1- Secagem e medição da umidade da serragem 75 4.2.2.2 - Classificação granulométrica da serragem 76 4.2.3 - Resina usada 77 4.2.4 - Determinação dos traços 77 4.3- FASE II - MOLDAGEM DOS CORPOS DE PROVA 78 4.3.1 - Escolha dos ensaios 78 4.3.2 - Confecção dos corpos de prova 78 4.4 - FASE III - ENSAIOS 82 4.4.1 - Absorção de água 82 4.4.2 - Dureza Shore D 82 4.4.3 - Flexão de 3 pontos 83 xix CAPÍTULO 5 – ANÁLISE E RESULTADOS 85 5.1 - RESULTADOS FASE I - Reciclagem 85 5.1.1 - Secagem 85 5.1.2 - Peneiramento 86 5.1.3 - Comentário final da FASE I 91 5.2 - RESULTADOS FASE II - Moldagem 91 5.2.1 - Limites da mistura 92 5.2.2 - Comentário final da FASE II 93 5.3 - RESULTADOS FASE III - Ensaios 93 5.3.1 Absorção de água 93 5.3.2 - Dureza Shore D 96 5.3.3 – Flexão de 3 pontos 98 5.3.4 - Comentário final da FASE III 103 5.4 - COMPARAÇÃO COM MATERIAIS SEMELHANTES 103 CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES 105 6.1 - RECICLAGEM 105 6.2 - MOLDAGEM 105 6.2 - PROPRIEDADES FISICAS E MECÂNICAS 106 6.3 - AS PARTÍCULAS GRANDES 107 6.4 - ECOLOGIA INDUSTRIAL 107 6.5 - SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS 108 REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 109 REFERÊNCIAS 109 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 119 ANEXOS 121 ANEXO I BOLETIM TÉCNICO CRAY VALLEY 123 ANEXO II FICHA DE EMERGÊNCIA DINU 125 ANEXO III MINI-PRENSA DE MESA 127 ANEXO IV DETERMINAÇÃO DA PORCENTAGEM DE SERRAGEM RECICLADA NA MISTURA DO COMPÓSITO. 129 ANEXO V MENSAGEM ELETRÔNICA DA DURATEX® 131 xx xxi LISTA DE FIGURAS FIG 01 - Sistema linear de produção e consumo 9 FIG 02 - Evolução tecnológica da prevenção da poluição 10 FIG 03 - Gráfico conceitual da Ecologia Industrial 13 FIG 04 - Ciclo de vida do produto e intervenção do Eco-design na cadeia produtiva 19 FIG 05 - Países com a maioria da área florestal mundial, em porcentagem 23 FIG 06 - Cadeia industrial da madeira 26 FIG 07 - Camadas do tronco de árvore 28 FIG 08 - Panorama mundial da produção de aglomerados e MDF em 2002 29 FIG 09 - Produção de madeira serrada 30 FIG 10 - Vendas das principais chapas de madeira reconstituída no Brasil 33 FIG 11 - Etapas da industrialização e resíduos de madeira 34 FIG 12 - Maneiras de valorização do resíduo de madeira 38 FIG 13 - Mesa Piano e Porta Lápis 40 FIG 14 - Classificação das cargas quanto a composição 48 FIG 15 - Classificação das fibras quanto a composição 48 FIG 16 - Contextualização do WPC 55 FIG 17 - Ciclo de vida do WPC baseado no esquema do item 1.3.1 56 FIG 18 - Processo de fabricação HAND-LAY-UP 61 FIG 19 - Processo de fabricação SPRAY-UP 61 FIG 20 - Processo de fabricação RTM 62 FIG 21 - Processo de fabricação HPM 62 FIG 22 - Processo de fabricação CPM 63 FIG 23 - Etapas do processo de prensagem a frio 64 FIG 24 - Fabricação de molde em plástico reforçado 65 FIG 25 - Planejamento experimental 67 FIG 26 - Relação entre as empresas na fase experimental 68 FIG 27 - Geração de resíduos no processo de fabricação de madeira serrada nas máquinas 73 FIG 28 - Silo de estocagem da serragem 74 FIG 29 - Tocos de destopo, sobras e rejeitos 74 FIG 30 - Procedimento da classificação granulométrica 76 FIG 31 - Dimensões dos Corpos de Prova em mm 79 FIG 32 - Seqüência do procedimento de mistura do compósito e de fabricação dos corpos de prova 79 FIG 33 - Plugs e Moldes CP1 e CP2 80 FIG 34 - Ingredientes da fabricação dos CP's 80 FIG 35 - Procedimento de fabricação dos Corpos de Prova 81 FIG 36 - Ensaio de absorção de água 82xxii FIG 37 - Esquema do ensaio de Dureza Shore 83 FIG 38 - Esquema do ensaio de flexão 84 FIG 39 - Ensaio de Flexão de 3 pontos 84 FIG 40 - Gráfico da porcentagem de resíduo por máquina segundo a classificação granulométrica 87 FIG 41 - Curva Granulométrica do resíduo coletado 87 FIG 42 Imagens do resultado da classificação granulométrica por máquina 88 FIG 43 - Classificação granulométrica final do resíduo 90 FIG 44 - Detalhe de todos os traços em escala 1/1 92 FIG 45 - Limites da misturas dos traços 93 FIG 46 - Gráfico da absorção de água depois de 15 dias de imersão baseado TABELA 25 95 FIG 47 - Gráfico da absorção de umidade durante 15 dias - 20 medições 95 FIG 48 - Equivalência entre escalas SHORE 96 FIG 49 - Gráfico comparativo da Dureza Shore D entre os traços 98 FIG 50 - Gráficos do desempenho mecânico dos traços 99 FIG 51 - Região de fratura nos traços com partículas grossas 102 FIG 52 - Camada de proteção Gel-Coat 103 xxiii LISTA DE TABELAS TABELA 01 - Fatores da Eco-Eficiência 12 TABELA 02 - Critérios gerais de Design 16 TABELA 03 - Critérios de Design para requisitos ambientais 17 TABELA 04 - Tipos de DfX 18 TABELA 05 - Conseqüências do desmatamento 24 TABELA 06 - Consumo de madeira industrial em toras no Brasil no ano de 2000 25 TABELA 07 - Total de áreas plantadas em Pinus e Eucalyptus 26 TABELA 08 - Subdivisões das árvores 27 TABELA 09 - Camadas do tronco de árvore 28 TABELA 10 - Vantagens e desvantagens da madeira como material 29 TABELA 11 - Classificação e descrição das madeiras reconstituídas 31 TABELA 12 - Discriminação dos resíduos de madeira 35 TABELA 13 - Uso tradicional dos resíduos de madeira 37 TABELA 14 - Alguns produtos construídos com eco-compósitos 43 TABELA 15 - Valores de energia incorporada em materiais comuns 45 TABELA 16 - Classificação dos materiais quanto a disponibilidade e possibilidade de reintegração 46 TABELA 17 - Algumas fibras vegetais usadas em compósitos 49 TABELA 18 - Vantagens e desvantagens das fibras naturais em compósitos 49 TABELA 19 - Organização dos requisitos ambientais da Ecologia Industrial para materiais de fabricação 58 TABELA 20 - Discriminação da serragem quanto às máquinas de beneficiamento 59 TABELA 21 - Resultado da medição de umidade da serragem 72 TABELA 22 - Coleta dos resíduos para medição de umidade por máquina 75 TABELA 23 - Quantidade do resíduo coletado para a classificação granulométrica 76 TABELA 24 - Classificação e descrição final da serragem 77 TABELA 25 - Traços experimentais do ECO-WPC 78 TABELA 26 - Resultado da medição de umidade da serragem 85 TABELA 27 - Resultado da peneiração seletiva 86 TABELA 28 - Calculo da porcentagem total dos resíduos por granulometria 90 TABELA 29 - Classificação e descrição final da serragem 90 TABELA 30 - Porcentagem e quantidade de água absorvida depois de 15 dias de imersão 94 TABELA 31 - Resultado do ensaio de dureza SHORE D 97 TABELA 32 - Desempenho mecânico do ensaio de flexão em 3 pontos 99 TABELA 33 - Comparação entre o WPC estudado e materiais semelhantes 104 xxiv xxv ABREVIAÇÕES ABIMCI - Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ABS - Acrilonitrila Butadieno Estireno ACV - Análise do Ciclo de vida CCA - Chromated Copper Arsenate (Arsenato de cobre cromatado) CETREL - Central de Tratamento de Efluentes Líquidos CNSL - Cashew Nut Shell Liquid (Líquido da castanha do caju) CP - Corpo de Prova CPM - Could Press Moulding (Moldagem por prensagem a frio) DCE - Departamento de Construção e Estruturas - UFBA DCTM - Departamento de Ciências e Tecnologia dos Materiais - UFBA DfE - Design for Environment (Design orientado ao meio-ambiente) HB - Hard Board (Chapa dura) HPM - Hot press molding (Moldagem por prensagem a quente) IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaveis ICME - International Council on Metals and the Environment (Conselho Internacional em metais e meio-ambiente) LABMAD - laboratório de madeira - UFBA MDF - Médium Density Fiberboard (Chapas de fibras de média densidade) OSB - Oriented Strand Board (Chapa de flocos orientados) PB - Particule Board (Chapa de partículas) PET - Polietileno Tereftalato PI - Poliéster Insaturado PRFV - Plástico Reforçado com Fibra de Vidro PU - Poliuretano PVA - Poliálcool Vinílico PVC - Policloreto de Vinila RSM - Reforço de Serragem de Madeira RTM - Resin transfer molding (Moldagem por transferência de resina) SPMP - Syndicat des Producteurs de Matières Plastiques (Sindicato dos Produtores de materiais plásticos) UFBA - Universidade Federal da Bahia WPC - Wood plastic composites (Compósitos de plástico com madeira) WWF - Wood Wast Flour (Farinha de madeira) SIMBOLOS ± - Imagem Inexistente xxvi 1 0 INTRODUÇÃO A crescente necessidade de preservação ambiental tem levado à adoção de tecnologias que utilizam os recursos naturais de maneira mais econômica e menos destruidora. Ao mesmo tempo, buscam-se soluções para diminuição ou mesmo eliminação de resíduos industriais, principalmente os classificados como tóxicos e perigosos. A indústria da madeira vista de maneira global usa os recursos naturais de maneira ineficiente, tanto na obtenção da matéria prima, quanto na fase de produção dos produtos, como também no descarte dos produtos no fim de sua vida útil, significando uma grande exploração dos recursos madeireiros principalmente das florestas nativas, levando a grande devastação desses recursos, e a grande geração de resíduos é a prova desta ineficiência. FREITAS (2000) afirma que “segundo o IBAMA, o aproveitamento de toda a árvore pelas indústrias madeireiras, está em torno de 30% a 60%, variando de empresa para empresa”. Este dado é reforçado pelo Greenpeace que afirma que “a atividade madeireira apresenta índices de desperdício incríveis. 2/3 de todas as árvores exploradas na Amazônia viram sobras ou serragem” (GREENPEACE, 1999. p. 2). Ou seja, apenas 1/3 da madeira extraída é transformada em produtos finais. Os resíduos desta produção, portanto, são uma grande quantidade de madeira e que não têm um destino correto. Segundo SILVA (2002-1), [...] tudo que não serve para o comércio regular vai para o lixo ou é queimado. Os resíduos da serragem nem sequer são depositados de forma adequada. Alguns são queimados em caldeiras, mas não é uma prática comum. A maioria deposita nas áreas periféricas das serrarias. Quando estes são queimados contribuem com aumento da poluição do ar provocando danos ao meio ambiente e às populações existentes próximas a essas indústrias. 2 De acordo com o IBAMA, a indústria brasileira produziu 166.310 milhões de m3 de madeira de reflorestamento ou nativa no ano de 2000 (IBAMA, 2002), estimando-se que pelo menos a metade desse volume, cerca de 80 milhões de m3 de madeira foi transformada em resíduos. Apesar de haver esforços para a reciclagem destas sobras principalmente na forma de lenha, queimada para a geração de energia elétrica e calor, ou como a cama-de- galinha nas granjas, estas soluções agregam baixo valor ao resíduo. Se por um lado têm- se o uso nobre da madeira para produtos de consumo tais como habitações, móveis, peças e equipamentos com grande utilidade e valor estético, por outro tem-se as sobras servindo como produto de baixo valor. Muitas vezes parte da mesma madeira que se faz um móvel de luxo vira briquete para incineração, quando não é descartado em aterros ou no meio-ambiente. O problema atinge um nívelde grande preocupação quando se refere à grande exploração dos recursos madeireiros principalmente das florestas nativas, significando grande devastação de florestas, assim como impactando negativamente no meio biótico e antrópico, além de contribuir com problemas de ordem global, como o aumento do efeito estufa ou o desaparecimento da biodiversidade global. Essa situação permite levantar as seguintes questões: A. Como um material cujo uso é considerado tão nobre pode ter mais da metade de seu volume subutilizado ou descartado? B. Por que as sobras desta matéria-prima não podem ser consideradas de alto valor, apenas por se apresentar fisicamente diferente do estado de antes do beneficiamento, visto que é o mesmo material? C. Existem caminhos ou alternativas que permitam a valorização deste resíduo? A necessidade de estudos referentes a processos de produção, materiais e produtos eco-eficientes e eco-compatíveis torna-se, portanto, cada vez mais importante. Uma saída é a aplicação dos princípios das tecnologias limpas, o que inclui os conceitos da Ecologia Industrial, na busca destas metas. Através destes conceitos podemos agregar valor a resíduos do setor produtivo madeireiro, transformando-os em novos materiais que permitem novos produtos ecologicamente corretos e eficientes, contribuindo assim para a diminuição da pressão exercida aos recursos naturais pelo consumo e também diminuindo o descarte indiscriminado e a disposição prejudicial de resíduos no meio- ambiente, além de oferecer boas alternativas às matérias primas convencionais. PEREIRA et al, (2002).afirmam que 3 [...] a utilização de resíduo industrial de madeira na transformação de produtos, seja sob a forma de utilitários ou decorativos, é uma grande resposta ao meio ambiente. Além de gerar outros produtos de utilização com maior valor agregado, essa atitude traz outros benefícios, pois à medida que se utiliza melhor as árvores cortadas ou dá-se um melhor aproveitamento para os resíduos em madeira, contribui-se para diminuir a pressão sobre o desmatamento, promovendo-se o equilíbrio ecológico e reduzindo-se a poluição [...] Um material deixa de ser resíduo pela sua valorização como matéria prima, para a obtenção de novos produtos. Neste caso, o resíduo passa a ser tratado como subproduto do processo produtivo (VALLE, 1995 apud SAVASTRANO Jr, 2000). Do ponto de vista do produtor, esta pode ser uma excelente oportunidade de negócio, pois estará produzindo produtos a custos muito mais baixos, já que estará utilizando como matéria prima algo que era visto como descartável, além de usar de maneira quase completa toda madeira disponível, já que esta é uma matéria prima considerada nobre. A presente pesquisa fundamentou-se nas duas questões acima relacionadas: a existência do desperdício de madeira na forma de resíduos industriais e à possibilidade de reaproveitamento destes resíduos aplicando os princípios da Ecologia Industrial. PROBLEMATIZAÇÃO O processo de produção das indústrias beneficiadoras de madeira é feito em etapas bastante distintas: primeiramente suas toras são enviadas para a indústria para a transformação em bens de consumo. Depois, uma parte deste volume sofre um tratamento visando sua preservação contra fungos e insetos xilófagos. O restante não sofre tratamento, sendo usada industrialmente in-natura. No primeiro caso é usado o conservante CCA (arseniato de cobre cromatado), composto formulado a base dos metais pesados cobre (Cu), cromo (Cr) e arsênio (As), que têm alto poder tóxico. A maior parte do resíduo de madeira gerado pela indústria madeireira vem da madeira não tratada. É decorrente do beneficiamento dos troncos e posterior uso de peças comerciais já cortadas, quando tal material é serrado, furado, entalhado, aparelhado, lixado, entre outros processos, gerando assim a serragem (maravalha e pó de serra), as costaneiras, as pontas de peças. O resíduo de madeira tratada é similar ao da madeira não tratada acrescentado do produto preservante CCA. 4 Há também o resíduo do pós-uso, quando os bens de consumo já atingiram o fim da vida útil e são descartados como lixo ou queimados. No entanto, não importando se a madeira é tratada ou não, o resíduo é visto como inevitável e sua existência é um problema a ser enfrentado pela tecnologia atual. A necessidade de um destino para estes resíduos industriais de madeira de modo eco-eficiente aponta-se para o uso das Tecnologias Limpas, cujo propósito é reduzir os impactos ambientais negativos do processo produtivo, ou seja: tecnologias que promovem a preservação dos recursos naturais e a prevenção da poluição. KIPERSTOK (2003, p. 34) explica que [...] os caminhos para a não geração de resíduos são vários: devemos repensar as matérias primas que utilizamos e rever os processos de fabricação, discutindo porque estes geram perdas de material e energia, e considerando se algumas dessas perdas, devidamente processadas, não seriam insumos para outros processos [...] Todas essas ações resultariam na Preservação da Poluição [...] Neste novo discurso da produção industrial, os conceitos da Ecologia Industrial (parte integrante das Tecnologias Limpas) entram como ferramentas teóricas e práticas para solucionar problemas como este descrito acima. A Ecologia Industrial oferece o conceito da circulação de matéria-prima entre unidades produtivas: o que é considerado resíduo em um sistema industrial é usado em outro sistema como insumo. Neste caso, o resíduo de madeira será usado como matéria prima em outro processo produtivo na obtenção de um novo produto dentro da própria empresa ou de uma outra empresa. Outro conceito da Ecologia Industrial é o Eco-design que propõe um modelo de projeto orientado para o meio-ambiente por critérios ecológicos. Este conceito lista requisitos de projeto de bens de consumo orientado para a preservação do meio ambiente, os quais determinam produtos ecologicamente compatíveis em todo seu ciclo de vida, gastando menos recursos naturais, menos energia, minimizando, assim, os impactos ambientais. Uma das maneiras de utilizar os resíduos como meio de viabilizar a obtenção de produtos é usando conceitos de processo de fabricação tradicionais modificados com os conceitos oriundos das especificações da Ecologia Industrial tal como a tecnologia do Eco-Compósito. Esta se fundamenta no princípio do material compósito, ou seja, matérias primas de diferentes características e origens formando um material composto (compósito) o qual pode ser moldado de acordo com as especificações projetadas. 5 PROBLEMA Considerando todas essas questões levantamos o seguinte problema: É possível, aplicando conceitos da Ecologia Industrial, desenvolver um material ecologicamente correto, baseado na utilização de resíduos de madeira e usando o processo de fabricação dos compósitos? Desdobramento do problema. O problema pode ser desdobrado quanto às suas variáveis como se segue: A variável dependente, ponto de referência inicial do problema, afirma que a formulação de um eco- compósito depende da aplicação dos princípios da Ecologia Industrial, da utilização de resíduos de madeira e do processo de fabricação dos compósitos. Esses três elementos constituem-se como variáveis independentes, visto estabelecerem condições autônomas para o desenvolvimento da análise do ponto de referência inicial (variável dependente). OBJETIVOS Objetivo Geral: Levantar fundamentos teóricos apresentados pela Ecologia Industrial para suportar o desenvolvimento de um material ecológico baseado no aproveitamento de resíduos de madeira. Objetivos Específicos: •Eleger um processo produtivo da indústria madeireira selecionada pela pesquisa; • Verificar a geração de resíduos do processo produtivo escolhido da indústria selecionada; • Classificar os resíduos gerados pelo processo eleito; • Usar princípios da tecnologia dos compósitos como referencial de processo de fabricação para um material conceitual; • Desenvolver um eco-compósito baseado em resíduos de madeira usando processos de fabricação simples, conhecidos e de baixo impacto ambiental, buscando reduzir ao máximo os resíduos da produção • Levantar características físicas e mecânicas do compósito desenvolvido através de ensaios normatizados 6 JUSTIFICATIVAS • O grande volume de resíduos de madeira gerados pelos processos de produção de componentes usados na construção civil, em móveis ou em utilitários domésticos estimulam pesquisas de aproveitamento destes resíduos em outros processos produtivos. • Apesar da madeira ser uma fonte de recursos renováveis, é necessária uma forma de uso otimizada deste recurso natural, o que significa o estudo de formas de utilização dos resíduos do processo de beneficiamento da madeira. • O resíduo estudado é oriundo de recursos florestais e, portanto, considerado nobre. O uso deste resíduo como matéria-prima para novos produtos ajudam a preservação destes recursos florestais, diminuindo a pressão sobre as florestas nativas. • Os conceitos da Ecologia Industrial apresentam os requisitos para concepção de novos materiais que levam em consideração as necessidades tanto do ser humano quanto do meio ambiente, de forma a reduzir os impactos ambientais. • O princípio tecnológico do eco-compósito pode oferecer uma boa alternativa para aproveitamento de resíduos de madeira na forma de um material de fabricação a ser usado nas indústrias de plástico reforçado, como foi o exemplo do compósito desenvolvido neste estudo. METODOLOGIA Natureza da Pesquisa Considerando que existe um problema de natureza bem específica e concreta, de como aproveitar resíduos de madeira como novos produtos, levanta-se a necessidade de aplicação de uma metodologia igualmente específica para solucioná-lo. Baseado na classificação de SILVA E MENEZES (2001 p. 20) e considerando a natureza do problema pode-se caracterizar esta pesquisa como: • Aplicada – com o objetivo de aplicar conhecimentos dirigidos à solução de problemas específicos no caso o aproveitamento de resíduos industriais de madeira como novos produtos; • Quali-quantitativa – Os dados quantitativos constituem-se elementos comprobatórios para a análise dos valores colhidos diretamente no ambiente da pesquisa; 7 • Descritiva – com a descrição dos passos da experiência do seu começo à sua fase final; • Experimental – pois se determinou um objeto de estudo e foram selecionadas as variáveis capazes de influenciá-lo, submetendo o objeto a uma investigação que busque soluções para o problema. Etapas da metodologia aplicada na pesquisa 1. Levantamento do estado da arte – referenciando livros e revistas técnicas, recursos da Internet como acesso a dissertações, teses, artigos e publicações técnico-científicas e em bibliotecas digitais, nacionais e estrangeiras. 2. Visita técnica às indústrias – Etapa para coleta dados sobre os processos de fabricação, matérias primas usadas e coleta dos resíduos usados na pesquisa. 3. Quantificação e qualificação do resíduo coletado – Etapa de caracterização e qualificação do resíduo de madeira coletado no setor produtivo da indústria e reciclado no Laboratório de Madeira da UFBA (Universidade Federal da Bahia). 4. Desenvolvimento do eco-compósito – Etapa estruturada a partir da bibliografia selecionada e a partir de conceitos da Ecologia industrial quando se usou os resíduos coletados e o processo de fabricação eleito na pesquisa. Essa etapa pode ser dividida em: • Etapa de reciclagem do resíduo; • Etapa de seleção da resina ou matriz polimérica • Etapa de determinação dos traços de mistura da resina com o resíduo; • Etapa de moldagem dos corpos de prova; • Etapa de ensaios físicos e mecânicos à luz de normas técnicas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que foram: absorção de água, dureza Shore D e flexão com 3 pontos. O ensaio de absorção de água foi feito no LABMAD (Laboratório de Madeira do Departamento de Construção e Estruturas, DCE, da Escola Politécnica da UFBA), o ensaio de Dureza Shore, no laboratório de metrologia do SENAI-CIMATEC – Bahia e o de Flexão, no laboratório do DCTM - Departamento de Ciências e Tecnologia dos Materiais da UFBA. 8 LIMITES DA PESQUISA Este estudo não está voltado para a engenharia de materiais mas sim para a aplicação de conceitos da Ecologia Industrial para subsidiar uma nova proposta de material ecológico feito a partir de resíduos industriais. Os três ensaios foram escolhidos para uma avaliação preliminar com o propósito de verificar a viabilidade de uso deste material e também verificar a possibilidade de continuidade desta pesquisa. O processo de fabricação escolhido foi eleito visando a simplificação, acessibilidade à tecnologia, possibilidades de aplicação e produção a baixo custo, no entanto, este trabalho não visou o projeto de um produto, mas somente o desenvolvimento de novo material ecológico que poderá ser aplicado em novos produtos. Sugestões de ampliação da pesquisa encontram-se no último capítulo. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO Esta dissertação está dividida em duas partes distintas: a primeira parte é destinada aos capítulos teóricos e da revisão de literatura, os quais embasam a pesquisa, compondo esta primeira parte os capítulos 1, 2 e 3. Os capítulos, 4, 5 e 6, descrevem os experimentos, incluindo o método de desenvolvimento do eco-compósito, os resultados da pesquisa, as conclusões e as recomendações. O Capítulo 1 apresenta uma visão geral sobre as Tecnologias Limpas e a explicação sobre os conceitos da Ecologia Industrial que embasam a pesquisa. O Capítulo 2 concentra-se na madeira e sua importância na indústria a ela associada, nos resíduos gerados na linha de produção das indústrias madeireiras e com o destino destes resíduos. No Capítulo 3 encontra-se a revisão da literatura referente aos novos materiais eco- eficientes, com exemplos de aplicações em produtos, incluindo os compósitos baseados em resíduos de madeira. Também se refere aos polímeros usados como matriz de compósitos e aos processos de fabricação usados na fabricação de produtos de compósitos. O Capítulo 4 refere-se à parte experimental da pesquisa, onde são descritos a coleta, quantificação, classificação, reciclagem e uso do resíduo de madeira em novo material eco-eficiente, moldado em dois tipos de corpos de prova, testados em três ensaios: Absorção de água, Dureza Shore D e Flexão. Os Capítulos seguintes, 5 e 6, fecham a pesquisa com a apresentação dos resultados dos ensaios e as conclusões e recomendações finais, respectivamente. 9 CAPÍTULO 1 ECOLOGIA INDUSTRIAL Este capítulo apresenta uma visão geral das Tecnologias Limpas, da Ecologia Industrial e os conceitos de Eco-eficiência, Circulação de Recursos, Eco-design e Análise do Ciclo de Vida, que são a base teórica da pesquisa. Ainda neste capítulo são apresentadas uma lista de requisitos de Eco-Design e uma ilustração do ciclo de vida material de bens de consumo. 1.1 – A PROPOSTA DAS TECNOLOGIAS LIMPAS Uma das principais causas da poluição e da degradação do meio ambiente vem do modelo atual de produção e consumo. Este se baseia na idéia que o meio ambiente é um fornecedor de energia e recursos abundantes ou mesmo ilimitados, assimcomo é visto, também, como um receptor ilimitado de resíduos (MANAHAN, 1999). Nesse sistema, conhecido como linear ou aberto, não há preocupação nem com a eficiência na produção ou com o uso dos produtos, nem com a origem das matérias primas, ou com a existência de substâncias tóxicas e nem com a disposição dos resíduos e as conseqüências destas ações. A FIGURA 01 mostra o sistema linear como descrito por TIBBS (1992) o qual foi adaptado para melhor adequação à pesquisa. Nesse modelo, a extração dos recursos e a disposição de resíduos são apontados como uma das causas dos impactos ambientais negativos sendo gerados não só a partir de sistemas industriais, mas sendo também originário do uso dos produtos pelos consumidores finais. FIGURA 01 – Sistema linear de produção e consumo. Adaptado de TIBBS, 1992. Esse modelo, que entende a geração de resíduos como inevitável e inerente ao processo produtivo e ao consumo, procura remediar tais problemas através de ações e tecnologias de controle da poluição. Essas tecnologias, no entanto, não a evitam, pois 10 atuam depois da sua geração. São, portanto conhecidas como Tecnologias Fim-de-Tubo, cujo propósito é remediar os prejuízos ambientais do atual sistema produtivo. Tais tecnologias, no entanto, não são tão eficientes quanto necessário; o simples fato de agir depois da geração de resíduos implica em grandes esforços financeiros e soluções pouco eficientes de remediação. O tratamento destes resíduos absorve novos recursos e energia, gerando novos resíduos que também precisam de tratamento. Quando há falhas, há também contaminação crônica ou aguda, resultando em desastres ambientais. Além disso, com o aumento do consumo, há o aumento de resíduo o que pressiona as tecnologias Fim-de-Tubo aos seus limites de operação. As Tecnologias Limpas propõem novos parâmetros para a produção industrial e consumo. Têm a finalidade de diminuição ou mesmo eliminação dos impactos ambientais negativos em todo ciclo de vida dos produtos, desde a obtenção das matérias primas, tanto na produção industrial, como também durante o uso dos produtos e no pós-uso dos mesmos. A sua filosofia é a da prevenção da poluição, atuando e interferindo no processo produtivo antes da geração de resíduos, na busca de eliminá-los e assim, preservar o meio ambiente. A FIGURA 02 mostra a evolução tecnológica da prevenção da poluição. Esta simplifica e sistematiza todas as etapas de prevenção da poluição organizadas por KIPERSTOK (2003), desde as tecnologias fim-de-tubo até o consumo sustentável. O gráfico original foi adaptado para melhor descrição neste trabalho. De maneira sistemática podemos separar estas tecnologias em três níveis crescentes de evolução: FIGURA 02 – Evolução tecnológica da prevenção da poluição (adaptado de KIPERSTOK, 2003 p. 86) NÍVEL 01 – São as tecnologias fim-de-tubo, como foram descritas anteriormente. Aqui o sistema industrial e o consumo usam a disposição de resíduos no meio ambiente ou os trata antes de dispô-los. Além de entender que os resíduos são ilimitados, bastando apenas remediá-los, essa filosofia também se estende para a obtenção dos recursos naturais e recursos energéticos que também são explorados sem a eficiência devida. 11 NÍVEL 02 – É o nível intermediário, compreendendo tecnologias que procuram interferir no processo produtivo ou em uma cadeia produtiva, a fim de localizar os locais de ineficiência e corrigí-los na fonte, melhorando, assim, sua resposta ao meio ambiente. Esta filosofia já emprega a gerência de operação e processos, além da possibilidade da reciclagem de matéria prima através de intervenções internas no processo produtivo. Sua atuação, no entanto, fica apenas no interior do processo produtivo, não questionando fatores importantes como o que é produzido ou como é usado o produto de tal processo dando, portanto, mais ênfase ao processo que ao produto. As alterações no produto, derivadas pela intervenção do design, visam apenas a melhoria do processo produtivo. Assim, para KIPERSTOK (2003), essas medidas de prevenção ainda possuem grau de eficiência insuficiente do ponto de vista ecológico. NÍVEL 03 – Sugere soluções ecologicamente mais eficientes, levando em consideração medidas que indicam caminhos para novos tipos de produtos, novos comportamentos de consumo, novas formas de produção, novos tipos de matéria primas, gerenciamento do ciclo de vida de produtos, dentre outros. Portanto, um novo horizonte no qual a produção e consumo seriam limitados pela capacidade do meio ambiente de fornecimento de recursos e absorção de resíduos, quando o uso sustentável dos recursos conduzirá a realização das necessidades humanas. Neste nível, a Ecologia Industrial é vista como uma ferramenta para concretizar estas tendências. Os conceitos da Ecologia Industrial concretizam os objetivos buscados no NÍVEL 3 e serão descritos a seguir. 1.2 – CONCEITOS DA ECOLOGIA INDUSTRIAL USADOS NA PESQUISA O conceito tradicional de ecologia a define como a ciência que estuda as relações entre os seres vivos e o meio ambiente em que vivem, e o conceito de ecossistema é definido como um conjunto de condições físicas e químicas de certo lugar, reunindo um conjunto de seres vivos que habitam esse lugar (FERRI, 1979). Num ecossistema em equilíbrio, cuja relação é uma seqüência de seres vivos, uns se alimentando dos outros sucessivamente num ciclo fechado, não há sobras nem o que se poderia chamar de “lixo”. É exatamente esse modelo natural de produção e reaproveitamento de recursos, que serve de base conceitual para a Ecologia Industrial. Parte-se da idéia que toda atividade industrial implica em impactos ambientais, pequenos ou grandes. A Ecologia Industrial aborda, então, a interação da indústria e do meio ambiente buscando a minimização destes impactos ambientais. Sua essência pode ser descrita como a forma de manter em evolução as necessidades econômicas, culturais e tecnológicas, levando em consideração que o sistema industrial não se encontra isolado 12 dos fatores ambientais e naturais, mas incluso nestes. Para isso as pesquisas vão ao encontro da otimização do ciclo material, indo da matéria prima virgem, passando pelo material processado industrialmente, pela transformação de materiais em componentes e produtos industrializados, pela obsolescência dos produtos e finalizando pela disposição final de materiais na forma de produtos descartados. Os fatores de otimização incluem fontes de matéria prima, energia e capital (GRAEDEL & ALLEMBY, 1995). A Ecologia Industrial funciona através de conceitos tais como a Eco-Eficiência, a Circulação de Recursos, o Eco-Design e o ACV (Análise do Ciclo de Vida). Estes conceitos foram escolhidos por estabelecerem requisitos e restrições que os processos industriais, materiais e os produtos devem ter para que possam infligir impactos mínimos ao meio ambiente. 1.2.1 – Eco-Eficiência Eco-eficiência é a maneira para se produzir mais, melhor, com menor consumo de materiais, água e energia, fazendo que a organização que a adote seja mercadologicamente competitiva, não comprometendo as finanças, contribuindo para a qualidade de vida e, ao mesmo tempo, reduzindo a carga, ônus, danos e impactos ambientais causados por bens e serviços (VERFAILLIE & BIDWELLA 2000 apud FURTADO, 2001). Assim, a Eco-Eficiência está fundamentada nos princípios econômico, social e ambiental descritos por BRITTO (2003) como princípios que devem ter como metas: a rentabilidade econômica, a compatibilidade ambiental e a justiça social. O ICME - International Council on Metals and the Environment (2001) define eco-eficiência como a maximizaçãodos benefícios econômicos e ambientais enquanto reduz os custos tanto econômicos quanto ambientais simultaneamente, ou seja: é uma relação benefício / custo em que o denominador nunca pode ser maior que o numerador. Para que estas metas sejam alcançadas, são usados métodos e conceitos tais como a redução de resíduo na fonte, que aplica os conceitos da Produção Limpa, tais como descritos no NIVEL 2; o Eco- design que oferece opções de produtos que atendam a uma produção limpa, buscando a economia de recursos naturais e energéticos além de apresentar produtos inovadores. A tabela 01 apresenta, segundo BRITTO (2003) os fatores da Eco-Eficiência: TABELA 01 – Fatores da Eco-Eficiência FATORES DESCRIÇÃO ÊNFASE NA QUALIDADE DE VIDA Produtos e serviços que atendem necessidades reais UMA VISÃO DO CICLO DE VIDA Uso do ACV para gerenciar os produtos e serviços ECO-CAPACIDADE Respeito aos limites suportados pelos meios naturais Fonte: BRITTO, 2003. 13 Assim, uma empresa eco-eficiente, ao mesmo tempo em que reduz o uso de recursos naturais, economiza recursos financeiros, preserva o meio-ambiente, sendo ainda competitiva ao apresentar novos produtos e serviços. 1.2.2- Circulação de Recursos A Ecologia Industrial é um conceito que visa prevenir a poluição pela redução da demanda de matérias primas e energia, assim como visa à diminuição da devolução de resíduos e poluentes à natureza. Para isso, busca a utilização de matérias primas e energia em ciclos fechados entre sistemas industriais, de modo análogo aos processos naturais e, também se compatibilizando com a natureza quando não for possível a eliminação de resíduos, possibilitando aos meios naturais o processamento de tais resíduos. Segundo KIPERSTOK e MARINHO (2001, p. 272): [...] A lógica de processamento interno de materiais e energia, com a recuperação de valores incorporados a elementos que seriam rejeitos de alguns processos, por sua utilização como alimentação de outros, é que leva à associação com a ecologia. O modelo ideal de referência seriam os sistemas naturais, fechados, nos quais não cabem os conceitos de resíduos e matéria prima. Não sendo possível repeti-los, procurar-se-ia aproximar-se deles o mais possível, reduzindo as pressões externas [...]. Desta maneira, segundo a Ecologia Industrial, o que é considerado resíduo em um processo produtivo é aproveitado como insumo em outro processo, formando, assim, um circuito fechado de aproveitamento de insumos e fazendo com que a quantidade de matéria que transita na biosfera se mantenha constante. Isso resulta em redução tanto da demanda de recursos naturais quanto na redução de resíduos, minimizando a pressão sobre a natureza. Na FIGURA 03 podemos ver o funcionamento gráfico do conceito básico da Ecologia Industrial. FIGURA 03 – Gráfico conceitual da Ecologia Industrial (TEIXEIRA e CÉSAR, 2004) 14 Aqui, segundo TEIXEIRA e CÉSAR (2004), o planeta Terra ainda é gerador de recursos e de energia, mas obtidos de maneira eficiente e sustentável. Esses recursos serão usados ao máximo das possibilidades num circuito fechado de aproveitamento de insumos entre indústrias, diminuindo sua demanda. No caso de geração de resíduos, estes são mínimos, ecologicamente compatíveis e não poluentes, minimizando, assim os impactos ambientais negativos. 1.2.3 – Análise do Ciclo de vida A Análise do ciclo de vida, ou ACV pode ser descrita como uma técnica de avaliação que relaciona atividades, produtos e materiais do início ao fim de sua existência, desde o projeto e suas pesquisas, passando pela seleção, extração, transformação das matérias primas; construção e produção dos produtos relacionados; processos de marketing, transporte, venda e distribuição, uso das mais variadas formas, incluindo o uso correto, incorreto, alternativo, reuso, desuso; desmontagem, conserto, remontagem, reaproveitamento de partes, reciclagem ou compostagem nas mais variadas formas e finalizando com o descarte final. Isso pode ocorrer não em todos esses itens nem nessa ordem propriamente dita. Enfim, segundo MANZINI (2002. p. 99), Análise de Ciclo de Vida é a implicação “do projeto de um produto, ou projeto de sistema produtivo inteiro entendido exatamente como o conjunto de acontecimentos que determinam o produto e o acompanha durante o seu ciclo de vida”. Sua importância para o meio ambiente é exatamente planejar a eco-eficiência, conhecer os impactos ambientais referentes a todas as etapas descritas, e, principalmente, permitir aos projetistas melhores escolhas no processo de desenvolvimento de um produto, desde o berço até o descarte final ou túmulo. Daí o ACV ser conhecido igualmente como análise do berço ao túmulo de um produto. É necessário, portanto, metodologias e estratégias para delimitar o número de detalhes, a profundidade dos estudos e o número de subsistemas a serem englobados em cada etapa no estudo de ACV. Quando um projeto de Design leva em conta o ciclo de vida de produtos em uma análise mais completa, que envolve todas as etapas de produção, iniciando pelo projeto à produção propriamente dita; incluindo fatores que não estão ligados diretamente no processo produtivo como o transporte, armazenagem e terminando no uso, reuso, reciclagem e descarte deste produto; análise de todo o conjunto de acontecimentos e toda a infra-estrutura associada que determina um produto, tem-se o conceito de Life Design Cicle (projeto do ciclo de vida), ou seja, a inclusão no design do produto o projeto do seu 15 ciclo de vida, adequando-o aos aspectos ambientais todo o seu ciclo de vida desde seu berço ao túmulo, já que [...] o objetivo do Life Cycle Design é o de reduzir a carga ambiental associada a todo o ciclo de vida de um produto. Em outras palavras, a intenção é criar uma idéia sistêmica de produto, em que inputs de materiais e de energia bem como o impacto de todas as emissões e refugos sejam reduzidos ao mínimo possível, seja em termos quantitativos ou qualitativos, ponderando assim a nocividades de seus efeitos (MANZINI, 2002, 99). Esta visão mais ampla leva a considerar, na fase de projeto, todas as atividades que caracterizam o produto durante o ciclo de vida, relacionando-as com o conjunto das trocas (os inputs e outputs dos vários processos) que elas terão com o meio ambiente (MANZINI, op cit). Um dos requisitos considerados pelo ACV é o uso de matérias primas e insumos de baixo impacto ambiental no maior número possível de etapas em toda cadeia produtiva do produto (IDHEA, 2004). 1.2.4 – Eco-Design Normalmente o termo inglês Design, cujo termo em português que mais se aproxima é Desenho Industrial, se refere a uma atividade multidisciplinar que converge conhecimentos de tecnologia, criatividade, arte, ergonomia dentre outros, com o propósito de projetar, através de metodologias próprias, soluções para problemas concretos. Eco-Design, conhecido também como DfE (Design for Envoironment ou Projeto para o Ambiente), é uma especialização do design que leva em consideração requisitos ambientais em todo ciclo de vida dos produtos. Apesar de ser uma atividade em evidência desde a Revolução Industrial, apenas na década de 1970 e que se começou a repensar o Design no que se refere a sua importância sobre problemas do mundo real, ou seja, problemas ambientais e sociais majoritariamente. Um dos seus primeiros pensadores, Victor Papanek, definiu assim o novo discurso para o Design: [...] A ecologia e o equilíbrio ambiental são os esteios básicos de toda a vida humana na Terra; não pode haver vida nem cultura humanas sem ela. O design preocupa-se com o desenvolvimento de produtos, utensílios,máquinas, artefatos e outros dispositivos, e esta atividade exerce uma influência profunda e direta sobre a ecologia. A resposta do design deve 16 ser positiva e unificadora; deve ser a ponte entre as necessidades humanas, a cultua e a ecologia (PAPANEK, 1998. p 31). O projeto orientado ao meio ambiente é o que estabelece, então, o conceito de Eco- Design que pode ser definido como um método projetual que incorpora as questões ambientais como parâmetros projetuais básicos para o desenvolvimento de projetos (BARBOSA, 2002). Isso significa que os produtos desenvolvidos a partir dos princípios do Eco-Design são produtos não só ecologicamente corretos, mas também economicamente, culturalmente e socialmente corretos. Estes produtos devem poluir menos, usar menos recursos naturais, menos energia, e ainda devem ser de fácil aquisição, buscando respeitar culturas locais. Tais produtos devem manter estas características em todo seu ciclo de vida, desde o momento em que é obtida a matéria prima de fabricação até seu descarte final. Tal comportamento pode ser confirmado pela Análise do Ciclo de Vida. 1.3 – REQUISITOS DO ECO-DESIGN Tradicionalmente, o projeto de design busca satisfazer as necessidades do consumidor, e atender também o setor produtivo, usando um conjunto de requisitos de várias origens que determinam o desenho de um produto; segundo MARGOLIN e MARGOLIN (2004) o objetivo primário do Design é atender o mercado, criando produtos para venda. Desta forma, um bom produto de design deve atingir os seguintes objetivos, conforme descritos na TABELA 02: TABELA 02 – Critérios gerais de Design OBJETIVOS DESCRIÇÃO UTILIDADE Garantia de uma performance mínima no cumprimento de uma função USABILIDADE Ter uma interface ergonômica para facilitar o uso e proteger o usuário ESTETICAMENTE DESEJÁVEL Ter aparência em sintonia com o desejo do usuário – beleza DE FÁCIL PRODUÇÃO Projeto que o torne factível industrialmente VENDÁVEL Que atenda exigências mercadológicas DIFERENCIAÇÃO Que seja inovador, atendendo a novas funções e oferecendo novos benefícios Baseado em BETTERPRODUCTDESIGN, (2002), MORAES (2004), LÖBACH (2001) Para atender os requisitos ambientais, no entanto, além dessas metas, deve haver outras específicas para que o produto seja eco-eficiente, e para se tornar operacional, o Eco-Design segue princípios ou critérios que permitem um desempenho ambiental otimizado. Diferentes critérios podem ser usados de maneira sistemática tal como visto na TABELA 03: 17 TABELA 03 – Critérios de Design para requisitos ambientais CRITÉRIOS AÇÕES REDUÇÃO DO USO DE RECURSOS NATURAIS • Simplificação da forma; • Agrupar funções / multi-funcionalidade / multi-configuração / modularidade; • Evitar superdimensionamentos; • Diminuir volume e peso; • Diminuir uso de água; • Usar materiais vindos de fontes abundantes; • Usar materiais abundantes e sem restrição de uso; • Reduzir o número de tipos de material de fabricação; REDUÇÃO DO USO DE ENERGIA • Reduzir energia na fabricação; • Reduzir energia na utilização do produto; • Reduzir a energia no transporte; • Usar fontes de energia alternativas, renováveis e limpas REDUÇÃO DE RESÍDUOS • Usar materiais reciclados e recicláveis; • Usar materiais compatíveis entre si; • Usar materiais que provenham de refugos de processos produtivos; • Evitar material que produza emissões, resíduos ou efluentes tóxicos; • Usar tecnologias e processos produtivos de baixo impacto e eco-eficientes; AUMENTAR A DURABILIDADE • Facilitar manutenção e substituição de peças; • Incentivar mudanças culturais (p. ex: descartável x durável); PROJETAR PARA O REUSO • Na mesma função ou em outras funções; • Possibilidade para reconhecer peças e materiais; • Possibilidade para um segundo ciclo de vida; • Projeto para revenda, redistribuição; PROJETAR PARA A REMANUFATURA • Facilitar desmontagem; • Possibilidade de ser recriado (re-design), sofrer adaptações melhorias e atualizações tecnológicas; • Projetar intercâmbio das peças; PROJETAR PARA A RECICLAGEM • Facilitar desmontagem; • Identificar diferentes materiais; • Agregar valor estético aos materiais reciclados; OTIMIZAR A LOGÍSTICA • Projeto para facilitar transporte e armazenamento; • Projeto para logística reversa, facilitando a recolha e transporte do produto após o uso para reuso ou reciclagem; • Projetar para que os produtos usem menos embalagem ou mesmo não usá-las; • Produção na exata demanda do consumo; • Trocar produtos por serviços; PLANEJAR FINAL DA VIDA ÚTIL DOS PRODUTOS E MATERIAIS • Utilizar materiais biodegradáveis e/ou compostáveis em produtos de vida útil breve; • Possibilidade de ser usado como matéria prima para outros processos produtivos; • Utilizar materiais que possam ser incinerados para a geração de energia sem que produzam emissões tóxicas; LEIS E NORMAS • Alcançar ou exceder metas regulatórias; PROJETAR PARA SUSTENTABILIDADE SOCIO-AMBIENTAL • Preservar culturas, desenvolvendo produtos que preservem os recursos culturais e naturais locais; • Gerar trabalho e empregos; • Buscar a manutenção de recursos humanos e econômicos nas comunidades locais, principalmente em zonas mais pobres evitando o êxodo para zonas ricas e populosas; • Contribuir para a educação sócio-ambiental dos usuários e seus vizinhos • Ser benéfico à saúde dos seres vivos e do eco-sistema DIMINUIÇÃO DE CUSTOS • Promover custos competitivos sendo alternativa a produtos similares convencionais • Permitir ser testado nos mesmos parâmetros técnicos de produtos convencionais • Economizar custos finais da produção Baseado em RAMOS E SELL (2002) e complementado por MANZINI (2002); MORIMOTO (2001); MASUI (2000); LINDBECK (1995) apud LIMA E FILHO (2002); BARBOSA (2002), SOUSA (2002), KIPERSTOK (2003); LEITE (2003); CASTILHOS (2003), JÚNIOR (2003), ROSE (2002), IDHEA (2004). 18 Para uma melhor integração das atividades do design, neste contexto, pode-se organizar os critérios por variáveis, passando a ser chamado de DfX ou Design para X variáveis, sendo que X representa as características que devem ser maximizadas e enfatizadas para atender um propósito específico, como visto na TABELA 04: TABELA 04 – Tipos de DfX Df X DIRIGIDO A: A ASSEMBLY (montagem) Facilitar a montagem, evitar erros de montagem, projetar peças multifuncionais, etc; C COMPLIANCE (conformidade) Cumprir as normas necessárias para manufatura e uso, como por exemplo, quantidade de substâncias tóxicas ou biodegradabilidade; D DISASSEMBLY (desmontagem) Possibilitar e facilitar a desmontagem do produto, facilitar a remoção e separação de peças, prever produtos modulados com partes de fácil desencaixe; E ENVIRONMENT (ambiente) ou Eco-Design Diminuir as emissões e os resíduos do produto desde sua fabricação até seu descarte, determinando o ACV do produto; L LOGISTIC (logística) Facilitar o transporte e armazenamento através do gerenciamento direto e reverso de materiais; minimizar embalagens; M MANUFACTURABILITY (processabilidade) Integrar o design do produto com os processos de fabricação, como processamento e montagem; O ORDERABILITY (ordenamento) Integrar o design no processo de manufatura e distribuição de forma a satisfazer às expectativas do consumidor; R(1) RELIABILITY (resistência) Atender condições de operação em condições de ambiente agressivo, como meios corrosivos ou de descarga eletrostática; R(2) RECYCLING (reciclagem) Permitir que partes dos produtos possam ser identificadas, separadas, recuperadas, reusadas. Determinar uso matérias primas recicláveis. Preverredesign, revenda e redistribuição; SL SAFETY AND LIABILITY PREVENTION (segurança e prevenção de falhas) Atender aos padrões de segurança, evitar usos equivocados, prevenção de falhas e de ações legais delas decorrentes; S(1) SERVICEABILITY (utilização) Facilitar a instalação inicial, o reparo e a modificação em campo ou em uso; T TESTABILITY (testabilidade) Facilitar testes tanto no processo de fabricação como em campo; S(2) SUSTEINABILITY (sustentabilidade) Procurar favorecer a preservação dos recursos social, econômica e cultural de maneira que não cause impactos negativos na sociedade humana nem no meio ambiente; Baseado em JUNIOR (2003) e complementado com LIMA E FILHO (2002), SOUZA (2002), SOUZA & PEREIRA (2003); GRAEDEL e ALLENBY (1995), MAZINI (2002). Nesta organização acima, as variáveis X são interdependentes e consideradas simultaneamente, se integrando e se complementando, em prol de um objetivo comum. O designer, desta forma, pode usar uma lista de requisitos que irão otimizar o produto tanto na função especificada quanto na busca de uma melhor eficiência ambiental. Por 19 exemplo, o design para reciclabilidade (DfR(2)) depende do design para desmontagem (DfD) pois este, ao facilitar a separação de peças, facilita o reaproveitamento e reciclagem das mesmas. O Eco-Design, ou DfE – Design for Environment – faz parte das ferramentas propostas pelo DfX (ROSE, 2002), propondo o uso de parâmetros ambientais no projeto de produtos e se integrando aos demais fatores X pelo uso do ACV, quando em cada etapa de vida do produto, desde a extração de material, manufatura, transporte, uso e descarte, há o uso dos requisitos dos demais fatores X, buscando interferir positivamente na eco-eficiência do produto desde sua fase de projeto. 1.3.1 – Atuação do Eco-Design no ciclo de vida do produto. A visão geral da aplicação do eco-design no ciclo de vida de um produto pode, então, ser visualizada na FIGURA 04, que demonstra graficamente as informações descritas anteriormente: FIGURA 04 – Ciclo de vida do produto e intervenção do Eco-design na cadeia produtiva (TEIXEIRA e CÉSAR, 2004 – MODIFICADO) A partir da FIGURA 04 pode-se enumerar cada etapa da produção de um produto, desde a extração da matéria virgem até o pós-uso, explicando as intervenções possíveis do Eco-design e as possibilidades tecnológicas mais compatíveis com o meio ambiente: n Fluxo tradicional da produção: Descrito no NIVEL 01 como produção linear. O planeta Terra é visto aqui como fornecedor de matéria virgem, de água e de energia. Esses recursos são beneficiados e transformados em produtos que são distribuídos 20 para o consumo e, então, são finalmente descartados. o Fabricação Eco-eficiente: representa o primeiro passo em direção a eco-eficiência. A aplicação de tecnologias e de gerenciamento (NÍVEL 02) que buscam a prevenção da poluição durante os processos industriais. Aqui o Eco-design propõe projetos que facilitem a manufatura, montagem e testes, que reduzem o uso de água e energia na fabricação, que faça uso de materiais e de processos de fabricação não poluentes, uso de materiais reciclados e recuperados. p Otimizar a logística: prevê produtos que facilitem o transporte e armazenamento, que usem o mínimo ou zero de embalagem, que facilitem ao máximo o acesso dos consumidores aos produtos e que permitam o retorno dos produtos ao setor produtivo após o uso, com a aplicação da logística reversa (LEITE. 2003). q Maximizar o uso: tudo que signifique aumentar a utilidade e a vida útil do produto além de diminuir o consumo de água e energia durante esta fase de uso. Assim, o Eco-Design prevê produtos multifuncionais, multiconfiguráveis, duráveis, econômicos, que possam ser de fácil manutenção, que possam ser substituídos por serviços, que possam servir a vários usuários (uso compartilhado), que tenham interface ergonômica e que agreguem valor estético, fortalecendo sua relação com o usuário. r Reaproveitamento de produtos e peças: formas de agregar valor e recuperar produtos considerados no fim da vida útil com destinos ao descarte. Deve-se optar primeiramente pelo reuso do produto e depois pela a remanufatura através da reutilização das peças em boas condições de uso: Reuso: prevê produtos que possam ser recuperados, consertados, atualizados, revendidos e reusados. Conta para isso com a durabilidade: física, funcional, utilitária e estética, além do seu valor de mercado. Depende de uma logística reversa que permita sua devolução para o setor de recondicionamento (LEITE, 2003) e de revenda. Prevê o reuso na função original do produto ou em outras funções. Remanufatura: prevê produtos que possam ser desmontados, ter peças de fácil identificação, separação, limpeza e reparação, para permitir o aproveitamento de peças em outros produtos na mesma função ou em funções diferentes da original. Conta para isso a possibilidade de desmontagem, modularidade, montagem. 21 s Reaproveitamento de material: Formas de reutilização da matéria prima residual oriunda tanto de processos industriais quanto oriunda de produtos e bens de consumo descartados, atitude que além de reutilizar matéria descartada, ajuda tanto a diminuir a demanda por matéria virgem e recursos naturais como também ajuda a poupar energia, dependendo do material e do processo de reaproveitamento. A meta é o reaproveitamento de 100% do material e para isso o Eco-Design prevê produtos de fácil desmontagem, com partes e peças modulares facilmente identificáveis permitindo separação rápida, diminuição do número de materiais de fabricação no produto, uso de material de fabricação reciclados e recuperados (oriundos de processos de reciclagem e de recuperação) e recicláveis ou recuperáveis (que permitam ser reciclados ou recuperados), uso de materiais similares e compatíveis entre si, uso de materiais não tóxicos e uso de materiais cuja reciclagem tenha impactos ambientais mínimos. Recuperação: prevê a reutilização da matéria prima de processos industriais ou do uso de produtos de consumo descartados, reintroduzindo-a em sistemas de produção igual ou similar à etapa produtiva inicial e em produtos similares à primeira transformação. Tal processo pode usar etapas de limpeza e purificação que demandam água e energia, mas que permite aproveitamento total de matérias primas de grande consumo tal como o vidro, o PET, o aço, o alumínio. Reciclagem: prevê a reutilização da matéria prima oriunda tanto de processos industriais considerada como resíduo (reciclagem pré-consumo ou pós- industrial), quanto àquela contida nos produtos finalizados e considerados no fim da vida útil, não sendo mais possível o seu reuso nem sua remanufatura (reciclagem pós-consumo). O material reciclado é então usado em processos e em produtos diferentes dos usados nos processos iniciais, já que há a possibilidade de perda de características que dificultam a reintegração destes materiais nestes processos iniciais. Os processos de reciclagem e de recuperação, dependendo das circunstâncias e do material a ser reprocessado, podem fazer uso de tecnologias que demandem de energia, novos insumos, água, o que fazem a reciclagem e a recuperação uma forma menos ecologicamente eficiente quanto o reuso ou a remanufatura, mas muito mais eficiente que a extração de matéria virgem, além de promover a utilização de materiais e insumos em ciclos fechados de produção, principalmente quando não há mais as possibilidades de reuso nem de remanufatura. 22 t Opções para obtenção de energia: prevê produtos construídos com materiais que permitam a queima para obtençãode energia, assim há o reaproveitamento de energia. Esta retorna para a linha de produção e consumo, ajudando a diminuir a pressão exercida ao meio ambiente pela demanda energética. Neste caso, a matéria prima contida nos produtos é considerada como combustível e pode ser transformada em energia por processos termoquímico ou bioquímico, gerando calor, gás metano (combustível) ou eletricidade (KIPERSTOK 2003). A alternativa da queima de material deve ser a mais eco-eficiente possível, visto que pode apresentar o problema da geração de emissões atmosféricas prejudiciais ao meio ambiente. Técnicas como a biodigestão, que produzem gás metano como combustível e biofertilizante, são preferidas a processos convencionais de queima. Essa opção deve ser usada quando todas as demais já foram usadas. Para tal, o Eco-design prevê produtos construídos com materiais não tóxicos, biodegradáveis, compostáveis (com a possibilidade do uso do composto orgânico como fertilizantes ou adubos) e energéticos, assim como também prevê projetos de fácil desmontagem. u Resíduos ecologicamente compatíveis: prevê a reintegração ao meio natural tanto do produto quanto do material de fabricação no final de sua vida útil. Portanto, é imperativa a característica de ser não poluente e não tóxico, assim como deve ter volume mínimo. Além disso, devem ser construídos de materiais biodegradáveis, putrescíveis ou compostáveis. O propósito de reunir vários requisitos, como vistos na TABELA 03 e 04, é de buscar requisitos compatíveis que torne um produto proposto realmente eco-eficiente, pois apenas o uso de um destes requisitos não garante sua boa performance ambiental. Baseado nos critérios citados acima, a decisão de elaborar um produto deve levar em conta algumas pré-condições já que a utilização de apenas uma estratégia ou o foco sobre a redução de um único impacto ambiental pode trazer resultados indesejados, quando se considera a performance ambiental do produto, desde o início e até o final da sua vida útil (RAMOS E SELL, 2002). A partir do esquema mostrado pela FIGURA 04, pode-se entender o caminho do resíduo estudado e traçar a melhor estratégia para aproveitá-lo num novo ciclo de produção. A possibilidade do uso de subprodutos industriais, antes considerados resíduos, como mostra a FIGURA 04, abre a possibilidade do aproveitamento destes em unidades fabris com objetivos sociais, gerando mais empregos e mais trabalho pela simples possibilidade da transformação de resíduos em novos produtos. 23 CAPÍTULO 2 A MADEIRA: INDÚSTRIA E RESÍDUOS Este capítulo apresenta a madeira como material de produção, sua origem, suas características, o problema do desmatamento, as diferenças da madeira serrada e reconstituída. Apresenta ainda os resíduos de pós-fabricação da indústria da madeira, como são gerados e como são usados tradicionalmente. 2.1 – A MADEIRA COMO RECURSO FLORESTAL A floresta é descrita como “a fonte de recursos naturais mais importante da terra” (CORSON, 2002, p.103). Entre estes recursos florestais, a madeira aparece como matéria prima considerada básica, mas também decisiva para o desenvolvimento do homem, aparecendo em todas as civilizações como a matéria prima de maior acesso e facilidade de manuseio. Dela se obtém a lenha para o fogo, proporcionando o cozimento, calor e proteção; construção de utensílios, armas, ferramentas e habitações; transporte como as embarcações, veículos; uso como carvão para extração e modelagem metalúrgica e de outros materiais como o cimento, cal, argamassa, telhas e blocos. A madeira pode ser considerada um agente que promove a revolução tecnológica em prol do progresso do homem. Sua importância para os povos antigos era tal que os gregos e os romanos a chamavam de “a matéria” referindo-se a uma matéria prima básica e elementar. A área ocupada pelas florestas, plantadas ou naturais, eram estimadas em 3,454 milhões de hectares em 1995, sendo que 55% desta área está localizada nos países em desenvolvimento ou sub-desenvolvidos e apenas 3% da área mundial é de floresta plantada, o restante 97% são de florestas naturais (SERRANO et al, 1998). SERRANO (op cit) ainda resume em sete países que, em 1995, detinham cerca de 60% das florestas mundiais, como visto na FIGURA 05: FIGURA 05 – Países com a maioria da área florestal mundial, em porcentagem. Fonte: SERRANO, 1998 24 2.2 – CAUSAS E CONSEQUENCIAS DO DESMATAMENTO Atualmente a devastação das florestas atinge valores preocupantes. Os dados mostram, em nível global, que a devastação varia de 10 a 20 milhões de hectares florestais por ano, (ou 10 quarteirões a cada minuto). As principais causas são, segundo CORSON (2002), a agricultura, a pecuária, os projetos de desenvolvimento em larga escala tais como a construção de estradas ou hidroelétricas, e a extração da madeira. Estes fatores são impulsionados pelo aumento da demanda por área para expansão territorial e pelos recursos florestais, áreas estas geralmente desmatadas pela aplicação de fogo, acarretando perda de biodiversidade (GERWING e VIDAL, 2002). A floresta ainda é considerada como uma fonte de recursos, entendida como inesgotável ou como um “obstáculo ao estabelecimento e desenvolvimento das populações humanas” (IBAMA, 2002 p.100). A indústria da madeira tem uma participação importante no desmatamento. Segundo CORSON (2002 p. 120) “a cada ano 5.000.000 de hectares, no mínimo, de florestas tropicais são cortados para a obtenção da madeira” sendo que as áreas mais devastadas estão na Ásia e África Ocidental. Este desmatamento é impulsionado pela pobreza dos países do terceiro mundo que são obrigados a transformar seus recursos naturais em recursos financeiros. O Brasil não está distante desta realidade, apesar de se considerar que a Amazônia ainda está no começo da exploração. As conseqüências são inúmeras e na maioria muito grave. Algumas chegam a ser irreversíveis e de grande prejuízo para o meio ambiente. A TABELA 05 discrimina as principais conseqüências do desmatamento. TABELA 05 – Conseqüências do desmatamento CONSEQUÊNCIA DESCRIÇÃO EXTINÇÃO DA BIODIVERSIDADE A quebra dos elos do ecossistema põe em risco de extinção plantas e animais. O desaparecimento de algum destes elos, causado pela destruição de um habitat, atinge todo o ecossistema. As atividades humanas são apontadas como uma destas causas. DESLOCAMENTO DE CULTURAS LOCAIS Culturas que tradicionalmente habitam as regiões atingidas de forma harmônica com o meio ambiente são obrigadas a deslocar-se para outras regiões. Geralmente são culturas com conhecimentos sobre a biodiversidade do antigo habitat e que desaparecem ou se acomodam nos grandes centros urbanos, geralmente em locais pouco apropriados tal como favelas. Portanto são, sobretudo conseqüências sociais e econômicas. DEGRADAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA A degradação das florestas atinge diretamente tanto a qualidade do solo, que depende dos nutrientes para renovar a fertilidade quanto a qualidade ou mesmo a existência da água, pois a floresta age como reservatório natural de água regulando o ciclo das águas. A destruição das florestas atinge, portanto, o controle das enchentes, das secas e da erosão. ALTERAÇÃO CLIMÁTICA As florestas são as responsáveis pelo controle do clima tanto regional quanto global. O desaparecimento de florestas descontrola primeiramente os ventos e as chuvas em nível regional. Em seguida descontrola principalmente o ciclo do carbono contribuindo com o desequilíbrio e aumento do efeito estufa. O aumento de temperatura global e o aumento do nível dos oceanos são apenas duas das conseqüências do desmatamento. PERDA DE RECURSOS NATURAIS
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