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Os Estados nacionais entre a Modernidade e a Pós-modernidade
National States between Modernity and Postmodernity
Cristhian Denardi de Britto�
Sumário: Introdução. 1 A invenção dos Estados nacionais. 2 Os signos da modernidade política estatal. 3 Os sintomas da crise e o prelúdio de uma “nova era”. 4 Ainda a modernidade estatal. 5 Em despeito de tudo, a necessidade de reinvenção. Referências bibliográficas. 
Resumo: Em vista das transformações vivenciadas a partir de meados do século passado, questiona se realmente a crise dos Estados nacionais os traspassa da modernidade para o que se tem chamado de pós-modernidade, sobretudo pela relativização da noção de soberania e pelo descentramento da identidade dos indivíduos em várias identidades menores, sob o teto da identidade nacional. Trata também da necessidade de reinvenção dos Estados nacionais, a fim de lidar com as transformações vivenciadas.
Palavras-chave: Estados nacionais; modernidade; pós-modernidade.
Resume: Given the changes experienced from the middle of the last century, questions whether the national States crisis realy made them pass from the modernity to what has been called postmodernity, especially by the relativization of the notion of sovereignty and by the decentering of social identity in multiple parcial identities, under the umbrella of national identity. Also addresses the need for reinvention of the national State, in order to cope with the changes experienced. 
Keywords: national States; modernity; postmodernity.
Introdução
O século atual teve início sob as agruras de transformações multifárias ocorridas ainda no século anterior, que espraiaram seus efeitos nos vários domínios do conhecimento e da práxis humana – sobretudo na Economia, na Sociologia, na Política e também no Direito. No meio dessas transformações situa-se a Política enquanto objeto da atividade humana e, logicamente, o fenômeno estatal – seu produto de maior grandeza.
Por ocasião de tais transformações, fala-se atualmente em crise ou superação de paradigmas (políticos, econômicos, científicos, etc.).� Tem lugar o “neo” ou o “pós” qualquer coisa (Economia pós-capitalista, Capitalismo pós-industrial, Estado neoliberal, Estado pós-nacional, etc.). Fala-se inclusive do início de uma nova era: a Pós-moderna.
O objetivo do presente estudo não é outro senão identificar as características da Modernidade e do Estado, bem como os fatores da prefalada crise estatal (sobretudo nos aspectos da soberania e da identidade nacional), para ajuizar ao final se realmente se pode dizer que foi iniciada uma nova era para o padrão atual de organização política nacional.
1 A invenção dos Estados nacionais
Em despeito das várias perspectivas pelas quais se possa analisar o Estado (filosófica, sociológica, jurídica), pode-se resumidamente defini-lo – não sem antes registrar que se trata de conceito bastante controvertido no próprio âmbito das Teorias sobre Política e Direito – a partir de seus elementos ou substratos.� O Estado, enquanto forma de organização política da Sociedade, se caracteriza quando, num determinado território (substrato espacial), as pessoas que ali vivem (substrato subjetivo) se submetem a um poder soberano (substrato formal).
A expressão “Estado” (do latim status, significando estar firme, estável) foi cunhada por Machiavelli, que inaugurou sua mais renomada obra com a célebre frase: “Todos os Estados, todos os domínios que tiveram e têm autoridade sobre os homens, foram e são ou repúblicas ou principados.”� Um de seus mais importantes legados foi patentear a idéia moderna de que os indivíduos são os senhores de seu destino e de que, por meio de escolhas racionais (baseadas no cálculo estratégico, formulado a partir de dados empíricos extraídos de exemplos históricos), a realidade política pode ser moldada pela vontade humana segundo uma ética própria, independente da tradição moral ou dos mandamentos da Igreja.�
Até o fim da Idade Média, a realidade era compreendida a partir de uma perspectiva teocêntrica. Com A Cidade de Deus, Santo Agostinho dera impulso a uma decisiva influência do pensamento religioso na vida concreta, o que perduraria por toda a Idade Média: a partir dessa sua obra, cuidava-se não apenas de buscar a salvação pessoal, mas de mais amplamente assegurar a vontade do Criador, detentor da plenitudo potestatis, na ordem temporal.� Nesse período de “trevas”, a rigor não havia Estado: a ordem social, sobretudo na Baixa Idade Média (Idade Média Tardia), fora marcada pela existência de uma pluralidade de organizações, uma pluralidade de centros de poder (Igreja, Império, feudos, corporações de ofício, universidades) que, malgrado influenciados todos pelo pensamento religioso, não deixavam de produzir uma pluralidade de ordens normativas, cada qual se reconhecendo como superior (observada sempre a vontade Deus) para regular um dado contexto, que amiúde se imbricava ou se superpunha a outro.� Os indivíduos, por outro lado, não tinham nenhuma autonomia, aliás, sequer eram vistos como pessoas: apresentavam-se totalmente despidos de quaisquer direitos e deveres subjetivos (tinham somente direitos e deveres decorrentes da ordem natural ou divina), não sendo mais que coisas, situadas em uma comunidade coletiva no âmbito da qual tinham que cumprir o seu destino, segundo os desígnios de Deus e das várias ordens normativas existentes.
Além da idéia de que a realidade pode ser transformada pela vontade racional, quando afirma que repúblicas e principados foram e são todos os Estados tiveram ou têm autoridade sobre os homens, Maquiavel deixa implícita ainda uma outra noção, determinante da forma moderna de organização política estatal: a soberania. Essa noção, sistematizada pela vez primeira por Bodin – que a dizia perpétua, absoluta, independente, incondicional e ilimitada� – foi ao depois retomada e desenvolvida por Hobbes.�
A soberania é, com efeito, o que diferencia o Estado das demais formas anteriores de organização política (a polis grega, a civitas romana, os feudos e cidades da Idade Média, etc.). Segundo os tratadistas, pode-se defini-la tanto numa dimensão interna como externa ou internacional. Internamente, isto é, dentro de seu território, significa que o poder estatal não reconhece nenhum outro poder igual a ele; todos os demais poderes sociais lhe são inferiores. Internacionalmente, significa que no âmbito externo o poder soberano reconhece os outros poderes soberanos como formalmente iguais; representa, em curto dizer, o princípio da igualdade formal entre os Estados na sociedade internacional.� 
Trata-se, portanto, de um fenômeno moderno.� O surgimento do Estado está umbilicalmente relacionado a essa especial qualidade de que passou a desfrutar o poder político das monarquias menores em relação ao poder de outros centros (Império bizantino, Igreja, feudos, corporações de ofícios, universidades, etc.), depois de um longo processo histórico – o que se deu em meio a um caldeirão de transformações que marcaram aquela quadra histórica. 
Iniciaram-se as disputas acerca de quem detinha o poder soberano (a summa potestas, a plenitudo potestatis) ainda no séc. XIII, quando ganhou corpo um movimento de auto-afirmação dos monarcas, sobretudo em relação aos outros dois principais centros de poder: o Império (cuja queda logo depois marcaria o fim do período medievo) e o Papado.� Entre os séculos XV e XVI os monarcas procuraram fortalecer instituições fundamentais como exércitos, conselhos e quadro de demais funcionários. A consolidação das monarquias absolutas culminou no ano de 1648 (séc. XVII) com a Paz de Vestfália, que formalmente reconheceu a supremacia do poder dos monarcas na ordem temporal (laicização dos Estados) e definiu com maior precisão os territórios sobre os quais esse poder deveria exercer sua competência.�
A formação dos Estados nacionais ocidentais a partir da emergência da soberania do poder político dos monarcas esteve relacionada com a estrutura socialestamental da Europa da época, e também com a formação da Economia capitalista. Pode-se dizer que o absolutismo monárquico surgiu como uma dimensão política do nascente capitalismo (pré-capitalismo ou capitalismo mercantil): enquanto a formação do Estado se deu através da expropriação do poder das armas (antes disperso entre os particulares) por parte dos monarcas, a formação do capitalismo esteve relacionada com a apropriação dos meios de produção de titularidade dos artesãos, por parte da incipiente burguesia detentora de capital.�
A razão maior dessa centralização do poder político nas Monarquias não foi outra senão a necessidade de segurança e estabilidade em face de uma ordem plural e dispersa, característica da Idade Média. Malgrado a divisão estamental tivesse sido mantida (juntamente com toda uma série de privilégios ao clero e à nobreza, em detrimento do “terceiro estado”), os monarcas inicialmente favoreceram os interesses da incipiente burguesia, ensejando ocasião propícia para o florescimento da primeira fase do capitalismo (capitalismo comercial): cada governante visava o máximo desenvolvimento econômico para o seu reino, sendo marcante a adoção de políticas que denunciavam o insulamento estatal em relação à ordem internacional. À teoria político-econômica desse período chamou-se mercantilismo, caracterizada pela busca de metais preciosos (as expedições navais de colonização e exploração do início da Idade Moderna ilustram bem a importância destes bens para as economias nacionais);� pelo desenvolvimento da produção (agricultura, mineração e manufatura) e das trocas; pelo protecionismo alfandegário e pelo esforço em manter uma balança comercial favorável (forma de proteger o mercado interno e de manter as riquezas no Estado); e pelo estabelecimento de pactos coloniais (com exclusividade dos Estados europeus no comércio com as suas respectivas colônias).�
Tal conjuntura política e sócio-econômica – marcada pela centralização do poder na pessoa dos monarcas, com a definição precisa de um território (tomado como bem patrimonial do soberano) – caracterizou uma versão de Estado nacional que se pode chamar de Estado territorial. Mas ainda não se tinha ainda atingido um grau maior grau de valorização do indivíduo enquanto substrato pessoal do Estado. Até então, o único fator que conferia certa “identidade nacional” era apenas a figura do monarca – representante de Deus na Terra e defensor da Igreja (segundo as doutrinas teocráticas de justificação da soberania, invocadas na primeira fase do absolutismo), e também defensor da pátria e dos súditos (já na segunda e derradeira fase, a dos déspotas esclarecidos).� 
Depois da separação das ordens religiosa e civil e da ascensão e independência dos monarcas, o poder por ele exercido ainda se achava a uma lógica obtusa de legitimação. Foi sob o impacto do pensamento iluminista que se forjou a idéia de Estado-nação, “enquanto representação política que implica o fato de que as populações que constituem uma sociedade no mesmo território reconhecem-se como pertencentes essencialmente a um poder soberano que emana delas e que as expressa”, que se engendra com a Restauração Inglesa (1690) e se afirma com maior força com a Revolução Americana (1776) e principalmente com Revolução a Francesa (a partir de 1790).�
Os processos de formação dos vários Estados-nação tiveram obviamente os seus matizes próprios.� Mas em todos se verifica um substrato comum: a substituição do arbítrio e da imprevisibilidade pela segurança e pela liberdade individual, como fruto da razão (humana) legitimadora.�
Para isso, foi determinante uma nova concepção de indivíduo, que emerge – a partir das formulações de Renè Descartes� – como “totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo ‘centro’ consistia em núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo”.�
A democracia representativa – como sistema político adequado à realização dos principais postulados da burguesia revolucionária, a saber, a separação de poderes, o império da lei e o reconhecimento de direitos (civis e políticos) da liberdade – foi contemporânea destas transformações através das quais se evoluiu do Estado Absoluto (Estado territorial) para uma primeira versão de Estado de Direito (Estado-nação).� Por meio dela tornava-se possível substituir a vontade do rei pela idéia de lei, enquanto produto da vontade geral dos cidadãos nacionais.
De par com a democracia representativa, surgiram a noção de cidadania e, correlatamente, as instituições do sufrágio e do mandato. Enquanto regulador da vida social, o Estado precisava se elevar acima dos interesses particularistas, a fim de que pudesse servir a interesses universais da sociedade como um todo. Para isso eram necessárias uma série de condições – de natureza extremamente diversa, posto que pudessem se referir “tanto aos tipos de educação e às crenças religiosas como aos modos de vida e às estruturas econômicas” –, mas que, na observação de Georges Burdeau, se poderia resumir na busca por uma base social homogênea.�
Entretanto, numa época de incipiente capitalismo, à beira do início do processo de Revolução Industrial cuja expansão atravessaria todo o séc. XIX, o Estado-nação representou apenas um projeto parcial, posto que restrito tão somente a uma classe: a burguesia�.
O liberalismo das revoluções burguesas (Inglaterra, EUA e França) marcou, assim, a consagração de uma primeira “geração” de direitos – a dos direitos fundamentais individuais políticos e civis, alicerçados, numa primeira fase, nas liberdades públicas, com especial ênfase na liberdade relacionada ao direito à propriedade privada. Na esfera civil ou privada, a liberdade consistia não tanto em poder fazer tudo aquilo que a lei não proibisse (liberdade negativa); era sobretudo uma decorrência lógica da idéia de que todos eram proprietários, ainda que tão apenas de seu próprio corpo e de sua força de trabalho, resultando daí a definitiva superação dos indivíduos enquanto objetos de direito e reconhecendo-se a todos a capacidade de serem sujeitos de direito; a igualdade, associada a essa noção de liberdade, era uma igualdade meramente formal.� Na esfera pública ou política, contudo, a liberdade expressava-se de maneira mais limitada: a noção de propriedade que a animava era apenas a dos meios de produção (o capital), dissociado da força de trabalho. Esta divisão (entre capital e trabalho) foi determinante direta de uma noção restrita de cidadania: era cidadão o proprietário, aquele que detinha a propriedade dos meios de produção (capital), participando ativamente – isto é, de forma produtiva – da ordem econômica.�
O fim (e também o limite do poder soberano do) Estado era tão apenas assegurar a liberdade e prover a segurança (indissociável à idéia de liberdade) – tanto a segurança física, através da manutenção da ordem pública interna (polícia administrativa) e da proteção contra invasões externas (exército nacional), quanto a segurança econômica, através da garantia de previsibilidade, tão cara às atividades econômicas da burguesia e inexistente no antigo regime. No mais das vezes, esse direito era assegurado por meio de um comportamento negativo, de uma abstenção, por parte do Estado.�
Malgrado o lema das revoluções burguesas, especialmente em França, tivesse sido “liberdade, igualdade e fraternidade”, o único valor que se consolidou, e ainda assim em favor apenas da classe burguesa, foi sem dúvida a liberdade.� A igualdade alcançou apenas uma significação formal, e ainda assim restrita à burguesia, já que a nova classe emergente da primeira fase da Revolução Industrial (a operária) não tinha direito de sufrágio: embora pela própria burguesia tenha sido invocada a idéia de “sufrágio universal”, esse direito era restrito ao “universo burguês”.
É só no séc. XIX que, graças à força dos movimentos sociais, ocorre uma ressemantização da noção de cidadania, resgatando-sea idéia de igualdade jurídica, em vez da propriedade, como alicerce dos direitos fundamentais: foi a segunda fase do Estado Liberal clássico. Com ocupação dos Parlamentos por representantes também da classe operária, foi possível alcançar a terceira fase do liberalismo (já de transição para o Estado Social), marcada pelo reconhecimento, conquanto tímido, de alguns direitos sociais pela legislação infraconstitucional.�
Nada obstante – afora as condições penosas de trabalho a que era submetida a classe operária –, as leis de livre mercado vinham levando a Economia do século XIX a uma impressionante acumulo e concentração de riquezas, eliminando a livre concorrência e a livre iniciativa (idéias basilares do liberalismo), tornando cativo o cidadão-consumidor, acentuando a miséria… enfim, criando várias formas de desigualdade e exclusão social.
Em despeito de algumas conquistas sociais no plano infraconstitucional, no Leste Europeu a situação se agravou no início do séc. XX com a Revolução bolchevique, que rompeu definitivamente com o capitalismo para lograr implantar uma organização política baseada na titulação do Estado de todos os meios de produção. A fim de evitar situação semelhante, em meio à Primeira Grande Guerra (1914-1918), a Europa central se viu obrigada a conceber uma nova ordem.� 
Surgiu assim o Estado Social de Direito, que se destaca justamente por possuir uma Constituição que regule a ordem social e econômica (em vez de deixá-la à “mão invisível” do Mercado), e cuja ênfase reside na realização da igualdade material, enquanto promessa esquecida pelo liberalismo clássico.� Com ele, nasce uma segunda “geração” de direitos – a dos direitos sociais (como educação, saúde, previdência e assistência social, proteção ao trabalho, cultura, etc.) e econômicos (proteção contra a concorrência desleal, contra a formação de cartéis, trustes e monopólios). O Estado Social foi a realização cabal da modernidade política, na medida em que visava superar a universalidade formal do Estado Liberal para alcançar uma universalidade material – representando, nesse sentido, o descontentamento da maioria oprimida contra o “caráter parcial da emancipação burguesa”�. Para tanto, partiu-se de uma nova visão do indivíduo, que deixa de ser considerado enquanto elemento social isolado (atomizado) para ser considerado dentro do contexto social em que se insere.�
Em vista das desigualdades geradas pelo sistema econômico, o Estado Social se caracteriza justamente por atuar positivamente, intervindo – através das funções de legislação, administração e jurisdição – na sociedade, no mercado e nas relações sociais a fim de assegurar maior igualdade e justiça social. Sem descurar da liberdade, intenta-se assegurar a igualdade material (sem a qual, em última análise, a própria liberdade deixa de existir).�
Especialmente depois da Segunda Grande Guerra (1939-1945) a intervenção estatal se intensificou, ampliando a intervenção econômica (em regime de monopólio ou de concorrência com as empresas privadas) e a prestação de serviços públicos relacionados ao asseguramento dos direitos sociais.
Alguns autores falam ainda em direitos de terceira “geração”, e que representariam a valorização da terceira promessa do liberalismo clássico: a fraternidade (ou a solidariedade). Seriam desta geração, por exemplo, os direitos a um meio ambiente equilibrado, à paz, ao desenvolvimento – direitos estes de titularidade difusa ou coletiva e que possuem um alto grau universalizante. Alguns autores incluem aqui (e não na segunda geração) o direito à cultura, embora sempre entendida como cultura relacionada a um mesmo povo.�
2 Os signos da modernidade política estatal
Desde uma fase Pré-moderna – em que toda razão se achava eclipsada pelo pensamento religioso –, a sociedade política gradualmente evolui para uma fase Moderna, em que se divisam dois grandes momentos: em 1648, com a Paz de Vestfália, em que se afirma definitivamente a soberania dos monarcas em relação aos demais poderes sociais (surgimento do Estado-territorial); e em 1789, com a Revolução Francesa, em que se afirma o indivíduo como fundamento e centro de preocupações da ordem política e jurídica (surgimento do Estado-nação).
Em síntese, esses dois momentos da Modernidade representaram: a afirmação de uma razão laica; a inserção do indivíduo como fundamento e como centro das preocupações do Estado (teoria mecanicista da sociedade); a idéia de que os indivíduos, por suas escolhas racionais, são senhores de seu destino e de que a realidade pode ser transformada segundo a vontade humana.
De maneira que na formação dos Estados – enquanto fruto de transformações sociais associadas, num primeiro momento, ao Renascimento e especialmente, num momento seguinte, ao Iluminismo – é possível identificar algumas características inerentes a esse período histórico a que se convencionou chamar de Modernidade, a saber: o individualismo (autonomia); a universalidade; e principalmente a racionalização.� Estas características permeiam os Estados nacionais de matiz europeu, tanto do ponto de vista do poder como dos direitos. 
O conceito central parece ser o de racionalização, enquanto resultado da especialização científica e do aprimoramento técnico peculiar à civilização ocidental.� Embora a metáfora do contrato social tenha fundado o “ideal de racionalização” da Modernidade ocidental – com a explicação sobre a superação do estado de natureza (pré-político) pelo estado civil através do estabelecimento de uma associação voluntária (tácita ou expressa), que seria a base de legitimidade da sociedade política – foi Max Weber quem melhor exprimiu o “processo de racionalização” vivenciado pelo Ocidente a partir de fins do séc. XVIII, tanto no âmbito social como no cultural, enquanto marco de um novo tempo.�
No âmbito social, a modernização ficou marcada pela diferenciação da economia capitalista e pela formação do Estado moderno. Pelo lado da Economia, a empresa capitalista passa a se apoiar em um sistema de cálculo racional (levado a termo através dos métodos da contabilidade moderna e do estabelecimento de um orçamento), que permite o controle da rentabilidade e do lucro.� Pelo lado da Política, o Estado soberano, que detém o monopólio da coação física organizada, apresenta como traço de racionalização a especialização das funções de criação de normas com efeitos gerais e abstratos; de execução de tais normas através de uma burocracia e de uma força militar permanente, aparelhadas para assegurar a manutenção da ordem interna (intervindo nos mais diversos domínios de interesse público, como a educação, a saúde, a economia, a cultura etc.) e externa; e de solução de conflitos com caráter de definitividade.� Essa forma racional de organização do poder (em que diversas funções são divididas em órgãos distintos, com a supremacia do Parlamento, onde o povo se faz representar, e bem assim da lei por ele aprovada), somada ao reconhecimento de direitos fundamentais, era o que conferia a previsibilidade e o controle do poder em favor da liberdade e da igualdade. Ainda segundo Max Weber, a atividade política, da qual o Estado vem a ser uma de suas principais manifestações, se define também pela delimitação de um território (donde a separação entre o interno ou nacional e o externo ou internacional), de maneira que aqueles que habitam no interior das fronteiras territoriais adotam um comportamento que se orienta significativamente pelo que determina a autoridade pública competente.�
Essa idéia de racionalização exige universalidade e autonomia. A própria centralização do poder, que adquire a qualidade de soberano dentro de um âmbito territorial definido, traduz a idéia de unidade e, correlatamente – com maior evidencia depois da Ilustração e do advento do Estado-nação – de universalidade, na medida em que possibilita a todos os indivíduos darem a si mesmos as suas leis (donde a correlata idéia de autonomia pública).� Sob a perspectiva dos indivíduos, a idéia de autonomia privada é o que lhes proporcionaa sua autoconstrução no mundo (sem que possa ou deva incidir qualquer limitação senão aquelas constantes das leis aprovadas por eles próprios), inclusive com a previsão de um conjunto de direitos universais (pré-políticos) contra o Estado.� Mas para isso foi preciso a construção de uma unidade nacional: “não importa quão diferentes seus membros possam ser em termos de classe, gênero ou raça, uma cultura nacional busca unificá-los numa identidade cultural, para representá-los todos como pertencendo à mesma e grande família nacional”.�
No âmbito cultural, o processo da racionalização se relaciona às visões de mundo, através da diferenciação de esferas axiológicas autônomas até então indissociadas da religião, a saber: a ciência, a moral e a arte. “A ciência moderna permite o aumento cumulativo do saber empírico e da capacidade de prognose, que podem ser postos a desenvolvimento das forças produtivas. A moral, inicialmente derivada da religião, se torna cada vez mais secular. Ela deriva de princípios gerais, e tem caráter universalista, distinguindo-se nisso das morais tradicionalistas, cujos limites coincidem com os do grupo ou clã. (…). Enfim, surge a arte autônoma, destacando-se de seu contexto tradicionalista (arte religiosa) em direção a formas cada vez mais independentes, como o mecenato secular e finalmente a produção para o mercado”.�
Em suma, o projeto da Modernidade foi construído sobre a crença de que somente a razão, a ciência e a tecnologia poderiam revelar as qualidades universais, eternas e imutáveis de toda humanidade.� Daí a pretensão de lograr usar o acúmulo de conhecimento gerado por muitas pessoas trabalhando livre e criativamente em busca da emancipação humana e do enriquecimento da vida diária – pretensão sobre a qual se assentava a idéia mítica do “progresso”.�
3 Os sintomas da crise e o prelúdio de uma “nova era”
Embora com uma maior ênfase primeiramente nos seus substratos espacial e formal (soberania territorial), e num segundo momento no seu substrato substancial, pessoal ou subjetivo (o povo ou a nação), o Estado nacional se desenvolveu historicamente mantendo uma certa estabilidade de seus três elementos.� Contudo, o mundo moderno viveu grandes transformações sociais – sobretudo a partir da década de 70 do século passado – em vista das quais tem sustentado a doutrina que se esteja diante de uma crise desta forma de organização política da sociedade. 
No âmbito econômico, a terceira fase do capitalismo (capitalismo financeiro, monopolista ou global) coincidiu com a terceira fase da Revolução Industrial, uma e outra tendo início ainda na virada do séc. XIX para o séc. XX. Inovações tecnológicas – como a robotização, o desenvolvimento da biotecnologia, a nova tecnociência química com novos materiais –, já antecipadas nas décadas de 30 e 40, foram incorporadas ao processo produtivo, contribuindo para a automação industrial.� Avanços em informática e eletroeletrônica passaram a permitir a troca de informações de forma imediata entre pessoas as mais distantes mundialmente uma da outra, estimulando uma integração comercial planetária (com movimentação de bens e capitais) sem precedentes na história da humanidade.�
Por outro lado, no âmbito político, o colapso da União Soviética – representado simbolicamente pela queda do Muro de Berlim, em 1989 – deu força a um movimento neoliberal (esboçado na década anterior por ocasião de duas crises mundiais do petróleo e ainda por crises no financiamento da saúde e no sistema de previdência social), abrindo as portas para o capitalismo global ao argumento de que a nova ordem passava a demandar uma maior agilidade das economias nacionais, a fim de enfrentar a concorrência internacional. Os Estados se viram na iminência de conceber novas formas de gestão de suas atividades (amplamente consideradas), redefinindo, por conseguinte, o seu papel frente ao mercado e à sociedade.�
Internamente, houve maior ênfase nas diversas formas de privatização, como a desnacionalização ou desestatização (representada principalmente pela alienação de empresas estatais ao setor privado) e a desregulação ou desmonopolização (representada principalmente pela quebra dos monopólios estatais tanto na exploração de atividades econômicas como na prestação de serviços públicos).� Internacionalmente, assistiu-se à formação de grandes blocos econômicos e à extinção de determinadas restrições ao capital estrangeiro, permitindo (na verdade, fomentando) a ampla circulação de capitais da economia de um Estado para outro.�
Destarte, forjou-se uma economia internacional em que os Estados nacionais disputam espaço com grandes grupos multi ou transnacionais e seus complexos industriais, que atuam num mercado globalizado – sustentado por um complexo sistema bancário e por avançados meios de comunicação e transporte, que permitem uma ágil movimentação de capital – e que em última análise dividiu os Estados nacionais em industrializados (desenvolvidos) e não-industrializados.�
As conseqüências diretas dessa nova “ordem” se projetam com especial ênfase em outros aspectos do âmbito social e cultural.
Numa dimensão social, os indivíduos passaram a sofrer com a insegurança, a incerteza e a falta de garantias que a globalização econômica proporciona.� A tendente substituição do homem pela máquina tende a encolher a quantidade de trabalho disponível no Mercado, mesmo nos Estados de economia central (desemprego estrutural);� quanto aos empregos que restam, a obsessão pela eficiência das empresas “tem elevado a exigência de escolaridade, especialização e produtividade, acirrando a competição no mercado de trabalho e ampliando a exclusão social dos que não são competitivos porque não podem ser”;� àqueles capacitados que conseguem se inserir na parcela disponível de trabalho sobra um tipo de vinculação que os coloca sob o risco constante da demissão, no caso de não cumprirem as metas que lhes foram estabelecidas.� Nos Estados de economia periférica a situação obviamente se agrava.
Culturalmente, os efeitos se projetam pelo menos de duas maneiras diversas. Por um lado, como consequência direta da globalização econômica, a insegurança, a incerteza e a falta de garantias de emprego trazem consigo a perda de identidade individual: a plasticidade do Mercado, a exigir dos trabalhadores nele inseridos (ou que nele queiram se inserir) cada vez mais maleabilidade e adaptabilidade, acaba por defenestrar qualquer manifestação idiossincrática própria, obrigando-os a assumir a “personalidade da vez”, que mais se amolde aos interesses empresariais.� Por outro lado, dada a facilitação do intercâmbio de bens, pessoas e informações, são sentidos também os efeitos de um choque cultural mesmo (de toda forma relacionado e em boa parte dependente da globalização econômica), com a tendência de imposição da cultura ocidental, seja como subproduto da lógica consumista (que dita modas, tendências, gostos, etc.), seja pela defesa de um padrão hegemônico de valores morais que se pretendem universais.� Ocorre o que se tem chamado de descentramento: não apenas o indivíduo se separa de outros indivíduos, atomizando-se, como inclusive se separa dele mesmo, em identidades tão diferentes quanto às vezes contraditórias.�
Em vista de todas estas transformações, não falta quem fale na superação da Modernidade pela Pós-modernidade. Em linhas gerais, as características dessa nova “era”, no que pertine ao Estado, seriam basicamente: o descentramento do indivíduo; o deslocamento da política da esfera pública para a esfera privada de uma infinidade de grupos (internos ou internacionais); e, consequentemente, a relativização da soberania.
A identidade do indivíduo, antes unificada e universal, posto que gravitasse em torno de determinados traços caracterizadores de uma cultura nacional, estaria sofrendo um duplo processo de descentramento, fruto da tensão entre o global e o local. De um lado, por influência de manifestações de cultura globais (pelo incrível incremento da integração e movimentação de bens, pessoas,informações), há o risco de uma homogeneização (universalização) de vários aspectos culturais à custa da perda de traços identitários próprios, locais.� De outro, e em parte como contrapartida a esta tendência, se manifesta outra, em sentido precisamente oposto, de defesa e proteção da cultura local em face do impacto de outras culturas: este contraponto se torna especialmente visível em razão do efeito regresso, pelo qual os antigos Estados colonizadores são “invadidos” por indivíduos egressos de suas ex-colônias.
A pós-modernidade é identificada com a emergência de uma infinidade de grupos, “como um fervilhar incontrolável de multiplicidades e particularismos”�. Consequência da perda da centralidade estatal e da diminuição do aparato estatal é justamente o re-equacionamento da relação entre esfera pública e privada, com o deslocamento da política do âmbito das instituições públicas (partidos, parlamentos, etc.) para o âmbito das relações entre os grupos (nacional e internacionalmente), que atuam na defesa de seus direitos e interesses.�
Daí que a soberania estaria sendo solapada por uma crescente perda de centralidade do Estado na determinação das grandes questões de seu interesse (isto é, do interesse público, ou dos interesses públicos de seus cidadãos). É aqui que se manifesta, de forma mais visível, a crise do principal elemento ou substrato estatal; aliás, não é exagero dizer que a crise do Estado nacional é sobretudo uma crise da soberania. Tal crise reside em que o Estado é afastado das grandes e importantes decisões macroeconômicas que lhe afetam.� Conforme evidencia Daniel Sarmento, a globalização econômica alimenta um processo de esfacelamento do Estado, “na medida em que vai corroendo o seu poder de efetivamente subordinar, de modo soberano, os fatores econômicos e sociais que condicionam a vida de cada comunidade política. Cada vez mais avulta a importância de variáveis exógenas sobre a economia nacional, sobre as quais o Estado-nação não tem nenhum poder.”� E conclui: “A mobilidade dos meios de produção e a volatilidade do capital financeiro atuam hoje no sentido de libertar os agentes econômicos transnacionais das amarras do direito interno dos países em que operam. Os Estados tornam-se reféns dos interesses destes grandes grupos multinacionais, pois precisam dos seus investimentos. Os países que não adaptam o seu direito interno às exigências comuns do mercado internacional são imediatamente abandonados, pois o capital sem pátria tem como buscar abrigo nos Estados cujas leis lhe favoreçam. Os agentes econômicos vão criando um direito comum – a Lex Mercatoria – permeado pela racionalidade própria do mercado, e que, formal ou informalmente, vai se impondo aos Estados. A idéia do monopólio da produção do direito pelo Estado distancia-se cada vez mais da realidade, e o ordenamento jurídico vai se tornando policêntrico, acolhendo regras engendradas por atores privados ou por entidades supranacionais.”� Obviamente que a relativização da soberania pela submissão aos interesses do capital global em detrimento dos direitos sociais é ainda mais evidente nos Estados de economia periférica.
4 Ainda a modernidade estatal
Não se pode negar todas as grandes transformações da vida moderna que, como anota Sérgio Paulo Rouanet, se espraiam pelos âmbitos social (na esfera das mentalidades, abrangendo a vida cotidiana, e na esfera das idéias, abrangendo a política e a economia) e cultural (no saber, na arte e na moral). Mas isso não autoriza concluir que (ao menos) o Estado tenha superado a modernidade para entrar numa “nova era”: a pós-moderna.
Deveras, a crise estatal não decorre da relativização da noção de soberania. A rigor, a soberania sempre ou quase sempre sofreu algum tipo de limitação – quando menos uma limitação no espaço, para não se chocar com o exercício de outra soberania. Desde o início, seus primeiros sistematizadores já indicavam a existência de limitações. Bodin, por exemplo – que salientava a idéia de unidade e universalidade da autoridade soberana, “apresentada como o verdadeiro fundamento da comunidade política, o elemento coordenador que harmoniza e integra suas várias partes, assegurando-lhe unidade” – embora lhe afirmasse por um lado a ilimitação como decorrência do caráter absoluto, não deixava de observar, de algum modo contraditoriamente (decerto que por ainda influenciado pelo pensamento religioso), a limitação pelas leis naturais, pelas leis de Deus e inclusive por algumas leis fundamentais humanas.�
A superação do Estado territorial pelo Estado-nação se dá juntamente com a defesa de direitos universais (pré-políticos, “naturais”) do homem – sobretudo por John Locke –, de sorte que esta universalidade também servia de limite a soberania estatal. O mesmo se deu no período pós-guerra, com as Declarações Internacionais de Direitos Humanos.�
Essa pauta ética (mínima), ao mesmo tempo em que punha limites à soberania, ensejava ainda um outro contraste, também característico da Modernidade: a tensão entre universalismo e particularismo (relativismo). A modernidade nunca ignorou a tensão existente entre igualdade (universal) e a diferença (particular) – seja num âmbito interno, em que a identidade nacional se particulariza em relação à humanidade, seja num âmbito interno, em que no universo de uma cultura nacional convivem grupos com outras singularidades próprias.�
5 Em despeito de tudo, a necessidade de reinvenção
Se bem que não se possa dizer que os Estados nacionais tenham deixado a modernidade para entrar numa suposta pós-modernidade, nem por isso se pode dizer que não precisem se reinventar. Aliás, desde o seu surgimento, a história tem demonstrado o quanto o Estado teve que se adaptar por força e para enfrentar as transformações sociais.
A tensão crescente entre o global e o local exige dos Estados uma reorganização, de maneira a proteger valores éticos universais (a integração supranacional tem sido a alternativa aventada pela União Européia), sem descurar da proteção às particularidades dos grupos internos (o que, num Estado Federado como o Brasil, pode ser levada a efeito pelo fortalecimento da autonomia dos entes menores, como Estados-membros e Municípios).�
Na Europa, a resposta a esta pergunta foi respondida com o gradativo fortalecimento da integração regional, através da União Européia, bem como através da descentralização de competências internas (inclusive em Estados unitários, através do fenômeno do regionalismo).� Na América Latina, que interessa mais de perto à análise, a reposta parece ser também no sentido do fortalecimento do Mercosul, de modo que possam os Estados latinoamericanos evoluir de uma postura de simples cooperação internacional até à efetiva integração econômica e sobretudo política.�
A questão que se coloca é quais direitos formariam uma pauta mínima a respeito da qual houvesse consenso em proteger de forma universal, e quais direitos deveriam ser relegados à proteção interna do Estado e de suas unidades político-administrativas internas, por respeitarem à(s) cultura(s) própria(s) nele situada(s).
O Direito é uma manifestação cultural de um povo, de maneira que, embora os povos latino-americanos repartam uma história com traços semelhantes; embora tenham idiomas oriundos de um mesmo tronco lingüístico; embora possuam vários costumes e tradições semelhantes;� embora tenham uma religião predominante comum graças ao trabalho dos missionários jesuítas; é mister que se consiga divisar o que pode e deve do que não pode e não deve ser tratado de forma igual, em ordem a preservar também o direito à diferença. 
Talvez, uma solução seja de conferir tratamento universal apenas a alguns direitos sociais, como os relacionados à proteção do trabalho, relegando o mais para o tratamento interno – sempre, de todo modo, pressupondo um processo dialético e democrático de atuação supranacional.� Esses direitos sociais somente serão adequadamente protegidos em face dos interesses econômicos que gravitam acima dos Estados nacionais se selhes conferir uma proteção efetiva numa dimensão também supranacional.� Com relação aos direitos do trabalho, não há cultura própria que impeça de identificar a ocorrência ou não da exploração e da redução dos indivíduos a uma condição sub-humana ou desumana de labor: exploração é exploração em qualquer lugar.� A proteção desses direitos num âmbito supranacional justificar-se-ia em razão da soma de esforços no sentido de recobrar a centralidade do poder de decisão das variáveis internas.�
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� Especialista em Direito Administrativo Aplicado pelo Instituto de Direito Romeu Felipe Bacellar – IDRFB. Mestre em Direito Constitucional pelas Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil. Professor de Ciência Política, Direito Internacional, Direito Constitucional e Direito Administrativo da Faculdade de Pato Branco – FADEP. Juiz leigo do Juizado Especial Cível da Comarca de Pato Branco/PR. Advogado.
� “Chama-se crise a um momento de ruptura no funcionamento de um sistema, a uma mudança qualitativa em sentido positivo ou em sentido negativo, a uma virada de improviso, algumas vezes até violenta e não prevista no módulo normal segundo o qual se desenvolvem as interações dentro do sistema em exame” (BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política I, p. 305).
� Bonavides dá conta de que no séc. XIX, um publicista francês, Frédéric Bastiat, prometera com fina ironia um prêmio de 50 mil francos a quem lhe apresentasse um conceito satisfatório de “Estado”. Cf. BONAVIDES, Paulo. Ciência Política, p. 61.
� MAQUIAVÉL, Nicolau. O Príncipe, p. 3.
� “Virtú é o termo empregado por Maquiavel para indicar um conjunto de qualidades – habilidade de cálculo, sentido de realidade, compreensão das circunstâncias, capacidade de adotar medidas extraordinárias, coragem de desprender-se da moralidade vigente se for necessário, aptidão para se adaptar às diferentes situações – que permite ao homem impor-se ao que é indeterminado e realizar os seusobjetivos” (BARROS, Alberto Ribeiro G. de. O pensamento político no final da Idade Média e no Renascimento, p. 239).
� “O fim visado é estabelecer que, além das vicissitudes da Cidade dos homens, esboça-se um desafio muito mais importante, o da glória de Deus, que se inscreve no devir espiritual da comunidade dos crentes, da Igreja. A criação, o pecado original, a aliança de Deus com o povo judaico, o sacrifício do Messias, a fundação da Igreja, são etapas desse devir sagrado, onde se reconhece a Providência divina, mas da qual cada um participa segundo suas obras de fé, um devir que deve levar à Ressurreição dos corpos e à beatitude” (CHÂTELET, François; DUHAMEL, Olivier; PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das Idéias Políticas, p. 34).
� Em despeito dessa pluralidade de centros de poder e de ordens normativas, dada a perspectiva teológica e o paradigma do ser (em que a razão é transcendente, e coincide com a vontade do criador), resulta evidente uma certa supremacia da Igreja e do Direito canônico por ela engendrado. Visando garantir a preeminência da Cidade de Deus, “[o] Direito Canônico – sistema de enunciados normativos que regula a conduta do pessoal da Igreja e fixa suas relações hierárquicas e seus tribunais – institui no centro da comunidade dos fiéis uma ordem que deve traduzir neste mundo a Lei divina e, por isso, legifera (diretamente ou por diferença) para a totalidade dessa comunidade” (CHÂTELET, François; DUHAMEL, Olivier; PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das Idéias Políticas, p. 30).
� Perpétua porque contínua no tempo, mesmo nas monarquias, na medida em que associada ao corpo espiritual dos monarcas: “Os juristas medievais já haviam proclamado a propriedade imortal da pessoa do rei com expressões como ‘o rei não morre jamais’, ‘o rei está morto! Viva o rei!’, desviando a atenção da inevitável ordem natural, do corpo natural do rei, para se fixar no caráter metafísico da realeza, que sempre permanece” (BARROS, Alberto Ribeiro G. de. O pensamento político no final da Idade Média e no Renascimento, p. 250). Absoluto porque, para ser soberano, o poder precisa ser superior, ou seja, insubmisso a qualquer outro; independente, desfrutando o seu detentor de plena liberdade de ação; incondicional, posto que desvinculado de qualquer obrigação; e ilimitado, porque qualquer limitação seria incompatível com um poder dessa natureza (Ibidem); em suma, como anotam Châtelet et al, porque “comanda e não recebe nenhum comando; não depende de nada nem de ninguém: nem de Deus, nem da Natureza, nem do Povo; não exige nenhum fundamento: é auto-suficiente” (CHÂTELET, François; DUHAMEL, Olivier; PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das Idéias Políticas, p. 47).
� Hobbes, partindo do suposto de que “no estado de natureza (…) os homens, dispersos, são potências movidas pelo desejo, não limitado”, dirá que a “soberania una e indivisível do Estado é ilimitada: o contrato que a estabelece não a sujeita a nenhuma obrigação, salvo a de assegurar a tranqüilidade e o bem-estar dos contratantes. Temos aqui o deus mortal, o Leviatã, esse monstro da lenda fenícia que é evocado pela Bíblia para dar a imagem de uma corça corporal à qual nada resiste. Dessa feita, a laicização completa da plenitudo potestas dos teólogos realiza-se na própria noção de Estado” (CHÂTELET, François; DUHAMEL, Olivier; PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das Idéias Políticas, pp. 51/52).
� Nesse sentido, REZEK, Francisco. Direito Internacional Público, p. 224.
� Historicamente, é considerado o marco divisor entre a Idade Média e a Idade Moderna a invasão de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 1453. Constantinopla era a mais importante rota comercial de especiarias vindas da Ásia (China e Índia), sendo dali distribuída para o restante da Europa por navegantes venezianos e genoveses. Após a tomada de Constantinopla, os turcos fecharam o Mar Mediterrâneo e interromperam o monopólio comercial italiano, incentivando portugueses e espanhóis a explorarem novos caminhos para as “Índias” – o que foi determinante para o achamento do Brasil. Mas essa modernidade histórica não coincide necessariamente com a modernidade política que, no caso, como visto adiante, veio a ocorrer posteriormente.
� “Muito cedo, na Grã-Bretanha surgem instituições que tendem a impor uma jurisdição única sobre o conjunto do território real, fundada sobre o que já se deve chamar de ‘direitos da pessoa’; na França, a partir do século XIII, o rei e os legisladores empenham-se em destruir as cidadelas feudais e religiosas que contestam a preeminência do poder central. Em todo o Ocidente cristão, opera-se uma transformação da natureza do poder: os laços pessoais organizados em torno da idéia de suserania são progressivamente substituídos por uma hierarquia jurídico-administrativa centrada num princípio que anuncia a própria noção moderna de soberania” (CHÂTELET, François; DUHAMEL, Olivier; PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das Idéias Políticas, p. 34). Cf. também GOYARD-FABRE, Simone. Princípios Filosóficos do Direito Político Moderno, p. 5.
� Assinala Paulo Esteves alguns princípios estabelecidos nos tratados de Vestfália, dignos de nota: “(i) a rejeição do direito da igreja em interferir em matéria secular e civil dos vários príncipes; (ii) a proibição das tentativas levadas a efeito pelos príncipes de converter um ou outro à condição de súdito; (iii) a autoridade exclusiva dos príncipes para a celebração de tratados e proibição de tal direito a entidades não soberanas e (iv) estabelecimento do princípio de que os direitos e deveres determinados nos tratados devessem ser aplicados igualmente para qualquer estado soberano” (ESTEVES, Paulo. Por uma genealogia do Estado territorial soberano, p. 23).
� Cf. SOARES, Mario Lúcio Quintão. Teoria do Estado, p. 76.
� Sobre o histórico da espoliação da América pelos Estados europeus, GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina, p. et seq.
� “Eis, pois, reunidas duas exigências que se apresentam poderosas no alvorecer da época moderna, numa tentativa de síntese que um dia se revelará aberrante: a imposição, ao mesmo tempo, do absolutismo estatal e da empresa privada. Duas instâncias cuja conflituosidade vinha sendo atenuada por uma série de circunstâncias históricas decisivas, entre elas, antes que qualquer outra, a necessidade de competir militar e economicamente com as demais potências. A primeira exigência pressupunha um Estado autoritário, a segunda uma estrutura comercial tanto mais ousada quanto melhor protegida. Uma e outra estreitamente interdependentes. Poder do Estado para defender o comércio com as armas e com as barreiras alfandegárias; comerciantes enriquecidos com a exportação de produtos acabados, que contribui para a acumulação de metais preciosos importados e mantém, dentro do território nacional, a produção de alimentos” (BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política I, p. 746).
� “É corrente a distinção, no Estado absoluto, entre uma primeira fase na qual o Estado é considerado bem patrimonial do Príncipe e uma segunda fase – com apogeu no século XVIII –, designada como ‘de polícia’, na qual o Príncipe se assume plenamente na tarefa de prover a felicidade e o bem dos súditos e em que o anterior fundamento divino do poder é substituído por um fundamento racional” (NOVAIS, Jorge Reis. Contributo para uma Teoria do Estado de Direito, p. 27). O principal monarca absolutista foi Luiz XIV, o Rei Sol (1661-1715), déspota esclarecido a quem se atribui a célebre frase “L’État c’est mói” (O Estado sou eu).
� CHÂTELET, François; DUHAMEL, Olivier; PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das Idéias Políticas, pp. 85/87. De seu turno, Stuart Hall enfatiza uma outra significação da representação, enquanto marco de formação do Estado-nação, a saber: a de representação enquanto simbologia: “as identidades nacionais não são coisas com as quais nascemos, mas são formadas e transformadas no interior da representação. (…). Segue-se que a nação não é apenas umaentidade política mas algo que produz sentidos – um sistema de representação cultural. As pessoas não são apenas cidadãos/ãs legais de uma nação; elas participam da idéia da nação tal como representada em sua cultura nacional. Uma nação é uma comunidade simbólica e é isso que explica seu ‘poder para gerar um sentimento de identidade e lealdade’ (Schwartz, 1986, p. 106). As culturas nacionais são uma forma distintivamente moderna. A lealdade e a identificação que, numa era pré-moderna ou em sociedades tradicionais, eram dadas à tribo, ao povo, à religião e à região, foram transferidas, gradualmente, nas sociedades ocidentais, à cultura nacional. As diferenças regionais e étnicas foram gradualmente sendo colocadas, de forma subordinada, sob aquilo que Gellner chama de ‘teto político’ do estado-nação, que se tornou, assim, uma poderosa fonte de significados para as identidades culturais modernas” (HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade, pp. 48-49).
� Nos EUA, a revolução significou especialmente a afirmação do princípio da autodeterminação, na medida em que os colonos na América não possuíam representação no Parlamento britânico (já “revolucionado”), donde “a luta contra uma sujeição ilegítima, travada em nome da igualdade natural, da liberdade de empresa e, para cada um, do direito de usufruir sua propriedade e os frutos do seu trabalho” (CHÂTELET, François; DUHAMEL, Olivier; PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das Idéias Políticas, pp. 87-88). Na Europa, sobretudo em França, a revolução significou especialmente a luta da burguesia contra os privilégios de classe da nobreza e do clero e contra o arbítrio monárquico e a insegurança que dele derivava (cf. NOVAIS, Jorge Reis. Contributo para uma Teoria do Estado de Direito, pp. 31 et seq.).
� “O projecto de autonomia e auto-regulação da vida econômica e a exigência de ‘debate público’ das questões nacionais (ou seja, num certo sentido, as reivindicações específicas da burguesia como classe e da burguesia como público, identificadas e apresentadas como reivindicações da sociedade) convergiam, assim, num programa revolucionário de racionalização integral do Estado segundo os interesses da sociedade. Esta racionalização, requerida essencialmente pelas necessidades de cálculo e segurança inerentes à produção capitalista, projecta-se na exigência de racionalização das funções do Estado e, em primeiro lugar, no controlo da Administração; um Estado racionalizado será um Estado cuja actuação é previsível, em que a Administração está limitada por regras gerais e abstractas, em que as esferas de autonomia dos cidadãos e a vida econômica não estão à mercê de ingerências arbitrárias do Monarca, mas antes protegidas e salvaguardadas pelas decisões racionais da sociedade esclarecida, representada no órgão de vontade geral” (NOVAIS, Jorge Reis. Contributo para uma Teoria do Estado de Direito, p. 33). 
� Para Descartes, o homem era composto de duas substâncias: o corpo e a mente. “No centro da ‘mente’ ele colocou o sujeito individual, constituído por sua capacidade de pensar. (…). Desde então, esta concepção do sujeito racional, pensante e consciente, tem sido conhecida como o ‘sujeito cartesiano’” (HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade, p. 27).
� HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade, pp. 10-11. Adiante, esclarece: “As transformações associadas à modernidade libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas. Antes se acreditava que essas eram divinamente estabelecidas; não estavam sujeitas, portanto, a mudanças fundamentais. O status, a classificação e a posição de uma pessoa na ‘grande cadeia do ser’ – a ordem secular e divina das coisas – predominavam sobre qualquer sentimento de que a pessoa fosse um indivíduo soberano. O nascimento do ‘indivíduo soberano’, entre o Humanismo Renascentista e o Iluminismo do século XVIII, representou uma ruptura importante com o passado” (Idem, p. 25).
� A “revolução democrática” – anota Katya Kozicki refletindo sobre o pensamento de Chantal Mouffe – acontece quando a pessoa do rei soberano deixa de funcionar como imagem ideal e âncora de uma sociedade unida: “Até aquele momento o rei encarnava em seu corpo o ideal de uma sociedade unida, simbolicamente capaz de significar em seu corpo a unidade da sociedade. A hierarquia existente entre governante e governados, nesta ordem simbólica, era justificada em uma ordem natural, não sujeita ao questionamento humano, posto que apoiada numa visão orgânica e mítica da sociedade, ao mesmo tempo. É justamente isto que se transforma com o advento da democracia, implicando uma alternação da ordem simbólica até então dominante na sociedade.” (KOZICKI, Katya. Democracia radical e cidadania. reflexões sobre a igualdade e a diferença no pensamento de Chantal Mouffe, pp. 329/330). “Em suma, a encarnação do povo no corpo do Rei é substituída pela representação na Nação nos corpos instituídos” (CHÂTELET, François; DUHAMEL, Olivier; PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das Idéias Políticas, p. 90).
� BURDEAU, Georges. O Estado, p. 102.
� Sobre a limitação da noção de cidadania do indivíduo, observou Marcos Augusto Maliska: “Negador da diferença em nome do progresso e do desenvolvimento, o Estado Nação construiu a cidadania a partir de um projeto homogêneo. O Homem da modernidade é branco, ocidental, do sexo masculino, heterossexual e nacional” (MALISKA, Marcos Augusto. Constituição e Estado pós-nacional: reflexões sobre os desafios do Direito Constitucional em face da abertura da ordem jurídica estatal e das demandas internas por cidadania não homogeneizantes, p. 502). E ainda burguês (o homo aeconomicus), dada a dimensão restrita de cidadania (cidadania censitária) marcante dessa primeira fase do liberalismo – ao depois ampliada em ordem a açambarcar também a nova classe emergente (a operária), na confluência da primeira fase da Revolução Industrial com a segunda fase do capitalismo (capitalismo industrial)
� Cf. CAPELLA, Juan Ramón. Os Cidadãos Servos, p. 72.
� A limitação da cidadania no marco inicial do Estado liberal teve em mira o medo histórico da tirania da maioria. Derrubados os privilégios de classe existentes durante o Ancien Règime, a questão que se colocava era a de como assegurar um governo da razão isento dos perigos de um governo populista. “Prolongando as considerações de Sieyès, Benjamin Constant desenvolve uma ingênua astúcia: a condição necessária para o exercício político é o lazer, pois esse lazer é indispensável para a aquisição das luzes. Ora, é evidente que só a propriedade assegura esse lazer: ‘somente a propriedade torna os homens capazes do exercício dos direitos políticos’” (CHÂTELET, François; DUHAMEL, Olivier; PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das Idéias Políticas, p. 110). Desse modo, o “sistema representativo não é mais do que uma organização cuja ajuda uma nação encarrega alguns indivíduos de fazer o que ela própria não quer fazer. Os indivíduos pobres cuidam eles próprios de seus problemas; os ricos contratam intendentes” (Benjamin Constant, apud CHÂTELET, François; DUHAMEL, Olivier; PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das Idéias Políticas, p. 107). Em suma, ao mesmo tempo em que alentava extinguir as divisões sociais internas (os privilégios de que desfrutavam a nobreza e o clero), a ideologia burguesa acalentava uma outra: aquela verificada entre classe burguesa e operária. 
� É questionável a generalidade com que tradicionalmente se atribui a efetividade dos direitos de primeira dimensão apenas a um comportamento negativo do Estado, já que nem todos os direitos individuais têm apenas um status negativus, esgotando-se a sua efetividade através de uma omissão estatal. A manutenção da ordem pública interna e a proteção contra invasões externas, por exemplo, concomitantemente com um comportamento negativo, desde sempre demandam amiúde uma intervenção complementar positiva do Estado.
� Não se reconhecia, por exemplo – e assim durante um bom período do Estado Liberal– a liberdade de associação sindical à classe operária.
� Importante conquista da classe operária emergente da primeira fase da Revolução Industrial, conseguida depois de árduas lutas (movimentos, revoltas) e em boa parte graças à representação já existente nos Parlamentos, foi justamente o reconhecimento da liberdade de associação sindical, o que se deu em 1833 na Inglaterra, em 1864 em França, em 1866 nos EUA e em 1869 na Alemanha.
� Fábio Ulhôa Coelho aborda a evolução dialética do papel do Estado frente à Sociedade, sob uma perspectiva marxista, nestes termos: “A análise socialista com a qual concordo é a de que, quando o capitalismo está em perigo, a burguesia, para o salvar, lança mão dos instrumentos de luta de classes. O principal deles é o Estado. Assim, o Estado não é mais ou menos intervencionista em função de critérios científicos, econômicos, ou em função de opções livres que pessoas tomam reunidas em assembléias constituintes. O Estado é mais ou menos intervencionista em função das necessidades de preservação do sistema econômico dominante.” (COELHO, Fábio Ulhôa. Reforma do Estado e Direito Concorrencial, pp. 192/193).
� Curiosamente, o primeiro Estado Social surgiu na América, com a Constituição do México de 1917. Na Europa, o primeiro Estado Social inaugura-se, de forma ainda mais marcante, com a Constituição da Alemanha de 1919. 
� Cf. ROUANET, Sérgio Paulo. As Razões do Iluminismo, pp. 200-201.
� “A noção de sujeito sociológico refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e auto-suficiente, mas era formado na relação ‘com outras pessoas importantes para ele’, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava. (…). De acordo com essa visão, que se tornou a concepção sociológica clássica da questão, a identidade é formada na ‘interação’ entre o eu e a sociedade” (HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade, p. 11).
� Nesse contexto, também não parece exata a afirmação de que todos os direitos sociais têm apenas um status positivus, no sentido de a sua efetividade depender sempre e apenas de um comportamento prestacional do Estado. A efetividade de alguns desses direitos exigem do Estado uma abstenção, conforme exemplifica J. J. Gomes Canotilho: “o direito ao trabalho não consiste apenas na obrigação do Estado de criar ou de contribuir para criar postos de trabalho (…) antes implica também a obrigação de o Estado se abster de impedir ou de limitar o acesso dos cidadãos ao trabalho (liberdade de acesso ao trabalho); o direito à saúde não impõe apenas o dever de atuar para constituir o Serviço Nacional de Saúde e realizar prestações de saúde (…), antes impõe igualmente que se abstenha de atuar de modo a prejudicar a saúde dos cidadãos” (Apud NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional, pp. 372/373, nota 2).
� Cf. SANTOS, Boaventura de Souza. As tensões da modernidade, p. 2.
� Com o Renascimento, foram particularmente marcantes: a alteração da visão de “mundo” que se tinha (de uma perspectiva vertical, entre homem e Deus, segundo a filosofia neoplatônica e aristotélica, para uma horizontal, entre homem, enquanto sujeito de conhecimento, e o mundo que o cerca), em boa parte graças à descoberta de novas terras, com novas fontes de riquezas além mar; a invenção e disseminação da imprensa, que acabou com o monopólio cultural da Igreja; a Reforma, como expressão de racionalidade e início do processo de secularização ideológica (valendo destacar que a tolerância ou liberdade religiosa foi a porta aberta para a conquista das liberdades civis e políticas); sem embargo da concepção de novos métodos de cultivo da terra e de distribuição da propriedade territorial e do desenvolvimento mercantil. 
� FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber, p. 19. “Consiste na organização da vida, por divisão e coordenação das diversas atividades, com base em um estudo preciso das relações entre os homens, com seus instrumentos e seu meio, com vistas a maior eficácia e rendimento. Trata-se, pois, de um puro desenvolvimento prático operado pelo gênio técnico do homem” (Idem).
� “Como se sabe, para Weber a modernidade é o produto do processo de racionalização que ocorreu no Ocidente, desde o final do século XVIII, e que implicou a modernização da sociedade e a modernização da cultura” (ROUANET, Sérgio Paulo. As Razões do Iluminismo, p. 231).
� Essa racionalidade pressupõe, dentre outros, “a apropriação de todos os meios materiais (terreno, aparelhos, máquinas, utensílios, etc.) como propriedade livre das empresas de produção privadas e autônomas; 2º, a liberdade do mercado (…); 3º, uma técnica racional que dê margem ao mesmo tempo a uma previsão e a uma mecanização consideráveis, tanto no domínio da produção de bens como no da circulação; 4º, um direito racional claramente avaliável; 5º, a liberdade do trabalho no sentido em que os indivíduos que vendem suas capacidades não o façam somente por obrigação jurídica (…)” (FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber, p. 127).
� Cf. FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber, p. 159. Sérgio Paulo Rouanet sintetiza: “A empresa capitalista supõe a existência de força de trabalho formalmente livre e um tipo de organização racional da produção baseado no cálculo contábil e na utilização técnica de conhecimentos científicos. O Estado moderno se organiza com base num sistema tributário centralizado, num poder militar permanente, no monopólio da legislação e da violência e principalmente numa administração burocrática racional” (ROUANET, Sérgio Paulo. As Razões do Iluminismo, p. 231).
� Cf. FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber, pp. 160/161. “Pode-se, pois, definir a política como a atividade que reivindica para a autoridade instalada em um território o direito de domínio, com possibilidade de usar em caso de necessidade a força ou a violência, quer para manter a ordem interna e as oportunidades que dela decorrem, quer para defender a comunidade contra ameaças externas” (Ibidem, p. 161).
� “Fica indicada a pretensão de uma universalidade formal. Mas não é só. A universalidade pretendida requer uma vontade autônoma. A filosofia kantiana trata da autonomia na condição de determinação da vontade. Kant refunda toda fundamentação heterônoma da moral, eliminando toda e qualquer mediação, como, por exemplo, o ‘interesse’, a ‘felicidade’, o ‘prazer’ ou qualquer outro elemento externo. Pois, na moral assim fundamentada, o sujeito recebe a lei a partir ‘de fora’ da própria Razão. Propõe, ao contrário, uma fundamentação autônoma da moral. A autonomia consiste no fato de o sujeito se dar a si próprio a lei da conduta” (LUDWIG, Celso Luiz. Para uma Filosofia da Libertação, p. 65).
� Não sem razão, com o advento do Estado-nação sobrevêm as Declarações de Direitos – a Inglesa (1689), a Francesa (1789), a Americana (1791). No âmbito interno, esse aspecto da universalidade se reflete na noção de cidadania: ainda que embora essa universalidade tenha sido apenas formal, ao tempo do Estado Liberal, com o Estado social ela se elastece em ordem a alcançar todos os indivíduos. No âmbito internacional, surgem várias Declarações de Direitos com explícita pretensão de universalidade – tais, especialmente, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão da ONU (1948), entre outras.
� HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade, p. 59.
� ROUANET, Sérgio Paulo. As Razões do Iluminismo, pp. 231/232.
� Cf.: MARTELLI, Carla Gandini Giani. Mundo globalizado: entre o particular e o universal, p. 156; e GABARDO, Emerson. O pós-moderno príncipe e a busca pela tranquilidade da alma, pp. 29 et seq. 
� Cf.: CAPELLA, Juan Ramón. Os Cidadãos Servos, p. 24; MARTELLI, Carla Gandini Giani. Mundo globalizado, p. 156.
� Na visão de Châtelet et al – em obra embora escrita em 1982 – “esse Estado-Nação é ainda hoje a trama do mundo político, quaisquer que sejam suas diversidade e novidades” (CHÂTELET, François;DUHAMEL, Olivier; PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das Idéias Políticas, p. 87). 
� Cf. CAPELLA, Juan Ramón. Os Cidadãos Servos, p. 27.
� Cf. ROUANET, Sérgio Paulo. As Razões do Iluminismo, pp. 235-236.
� Conforme anota Roberto Mangabeira Unger, ainda em 1989 teve lugar o Consenso de Washington, patrocinado pelos EUA, pelas Organizações de Bretton Woods (como o Fundo Monetário Internacional-FMI, o Banco Mundial e a Organização Internacional do Comércio-OIC) e pelos principais especialistas acadêmicos, irrompendo, em sua forma mais abstrata e universal, com as seguintes propostas: estabilização macroeconômica ortodoxa, “especialmente por meio do equilíbrio fiscal, obtido mais pela contenção do gasto público do que pelo aumento da receita de impostos”; liberalização, “sob a forma de integração crescente com o sistema de comércio mundial e com suas regras estabelecidas”; privatização, “entendida de forma mais estreita como a retirada do governo da produção e, de forma mais ampla, como a adoção dos padrões da legislação privada ocidental”; e desdobramento de políticas sociais compensatórias, “criadas para se contrapor aos efeitos geradores de desigualdade” (Cf. UNGER, Roberto Mangabeira. Democracia Realizada, p. 49).
� No Estado nacional brasileiro, as Emendas Constitucionais 19/98 e 20/98 trataram da reforma interna, a primeira alterando a estrutura e a filosofia da administração pública (do modelo burocrático para o gerencial) e a segunda alterando o regime de previdência social – atualmente já reformado outras duas vezes, pelas Emendas Constitucionais 41/03 e 47/05. Cf. BARROSO, Luis Roberto. Natureza jurídica e funções das agências reguladoras de serviços públicos: limites da fiscalização a ser desempenhada pelo Tribunal de Contas do Estado, p. 368 et seq.
� Ainda no Estado nacional brasileiro, as Emendas Constitucionais 6/95 e 7/95 acabaram com restrições existentes ao capital estrangeiro, ao passo que as Emendas Constitucionais 5/95, 8/95 e 9/95 flexibilizaram os privilégios estatais sobre gás canalizado, telecomunicações, bem como os monopólios estatais sobre o petróleo. Cf. BARROSO, Luis Roberto. Natureza jurídica e funções das agências reguladoras de serviços públicos, p. 368 et seq.
� “O mundo se divide, manifestamente, em dois universos interdependentes, mas diferenciados: a) o industrializado, com pouca população e altos recursos científicos, técnicos, industriais, etc., relativamente ao b) mundo do infradesenvolvimento, um mundo de exploração, de pobreza, de excesso demográfico, com escassa possibilidade de conservar seus recursos ao relacionar-se com o primeiro mundo” (CAPELLA, Juan Ramón. Os Cidadãos Servos, p. 28).
� Estas três significações são sintetizadas por Zygmunt Bauman através do vocábulo alemão Unsicherheit, numa alusão à Sigmund Freud, que na obra “O Mal-estar na Civilização” (Das Unbehagen in der Kultur) se vale da expressão alemã Sicherheit para significar segurança, certeza e garantia. Cf. BAUMAN, Zygmunt. Em Busca da Política, p. 24 et seq.
� BAUMAN, Zygmunt. Em Busca da Política, p. 27.
� BARROSO, Luis Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo Direito Constitucional brasileiro (pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo), p. 44.
� “Medidas como a substituição de contratos permanentes e legalmente protegidos por empregos ou serviços temporários que permitem demissão incontinenti, contratos rotativos e o tipo de emprego que solapa o princípio da competência através da permanente avaliação do desempenho, fazendo a remuneração de cada empregado depender dos resultados obtidos por cada um no momento (…) – tudo isso produz uma situação de incerteza endêmica e permanente. No mundo darwinista da luta generalizada, o desempenho obediente das tarefas estabelecidas pelas empresas deve alicerçar-se nessa esmagadora sensação de incerteza paralisante, no medo, no estresse e na ansiedade nascidos da incerteza. E, como último recurso, há a permanente ameaça de demissão em todos os níveis da hierarquia – o que significa a perda do meio de subsistência, dos títulos sociais, do lugar na sociedade e da dignidade humana que os acompanha” (BAUMAN, Zygmunt. Em Busca da Política, p. 37).
� “É cada vez mais difícil lembrar com exatidão a que princípio fundamental devemos permanecer fieis. O ideal de autenticidade desgasta-se nas beiradas; o significado da sinceridade escorrega aos poucos para a indefinição… A personalidade pastiche é um camaleão social, continuamente pegando nacos e pedaços de identidade de quaisquer fontes disponíveis e erigindo-os em úteis e desejáveis em dada situação… A vida torna-se uma loja de doces para apetites cada vez mais vorazes” (Kenneth J. Gergen, apud BAUMAN, Zygmunt. Em Busca da Política, p. 29).
� Cf. SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mão de Alice, p. ?. De seu turno, Stuart Hall anota: “Os fluxos culturais, entre as nações, e o consumismo global criam possibilidades de ‘identidades partilhadas’ – como ‘consumidores’ para os mesmos bens, ‘clientes’ para os mesmos serviços, ‘públicos’ para as mesmas mensagens e imagens – entre pessoas que estão bastante distantes umas das outras no espaço e no tempo. À medida que as culturas nacionais tornam-se mais expostas a influências externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do bombardeamento e da infiltração cultural” (HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade, p. 74).
� Cf. HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade, pp. 12 e 34 et seq. Cf. também ROUANET, Sérgio Paulo. As Razões do Iluminismo, pp. 239-240.
� “Os fluxos culturais, entre as nações, e o consumismo global criam possibilidades de ‘identidades partilhadas’ – como ‘consumidores’ para os mesmo bens, ‘clientes’ para os mesmos serviços, ‘públicos’ para as mesmas mensagens e imagens – entre pessoas que estão bastante distantes umas das outras no espaço e no tempo. À medida em que as culturas nacionais tornam-se mais expostas a influências externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do bombardeamento e da infiltração cultural” (HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade, p. 12).
� ROUANET, Sérgio Paulo. As Razões do Iluminismo, p. 234.
� “Assim como não há mais atores políticos universais – grandes partidos agregando um leque amplo de interesses e posições – não há mais um ‘poder’ central, localizado no Estado, mas um poder difuso, estendendo sua rede capilar por toda a sociedade civil (…). Política segmentar, exercida por grupos particulares, política micrológica, destinada a combater o poder instalado nos interstícios mais imperceptíveis da vida cotidiana – estamos longe da política moderna, em que o jogo político se dava através dos partidos, segundo mecanismos da democracia representativa” (ROUANET, Sérgio Paulo. As Razões do Iluminismo, p. 237).
� Segundo Rouanet, a pós-modernidade estatal pode ser associada com o modelo neoliberal de Estado. Cf. ROUANET, Sérgio Paulo. As Razões do Iluminismo, pp. 236-237. 
� SARMENTO, Daniel. Direitos sociais e globalização: limites ético-jurídicos ao realinhamento constitucional, p. 160.
� SARMENTO, Daniel. Direitos sociais e globalização, p. 160.
� “Embora a soberania seja definida como o poder perpétuo e absoluto, seu detentor não possui, para Bodin um poder arbitrário, eu não conhece limites: ‘Se nós dissermos que tem poder absoluto quem não está sujeito às leis, não encontraremos no mundo príncipe soberano, visto que todos os príncipes da Terra estão sujeitos às leis de Deus e da natureza e a certas leis humanas comuns a todos os povos” (BARROS, Alberto Ribeiro G. de. O pensamento político no final da Idade Média e no Renascimento, p. 252).
� “Lembremos que a globalização não é um fenômeno recente: ‘A modernidade é inerentemente globalizante’ (Giddens, 1990, p. 63). Como argumentou David Held (1992), os estados-nação nunca foram tão autônomos ou soberanos quanto

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