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UNIDADE III – CONSTITUCIONALISMO, 
ESTADO DE DIREITO E DEMOCRACIA
CAPÍTULO 5
DO ESTADO ABSOLUTO 
AO ESTADO CONSTITUCIONAL
1 Breve recapitulação: o estado da arte do poder político e do homem no fim da Idade Média. 2 O Estado absoluto: Estado Patrimonial e Estado de Polícia. 3 Estado de Direito e constitucionalismo liberal. 4 Fatores de crise e consequências do Estado Liberal. 5 Estados de Força e totalitarismo. 6 Estado de Bem-estar e constitucionalismo social. 7 Estado Democrático de Direito e neoconstitucionalismo. Referências bibliográficas.
1 Breve recapitulação: o estado da arte do poder político e do homem no fim da Idade Média
* Período: séc. V (queda do Império Romano do Ocidente) a séc. XV (queda do Império Romano do Oriente ou Bizantino);
* Características:	
- Fragmentação do poder, difuso em vários centros: o Sacro Império Romano Germânico, o Papado, os monarcas, os barões de terra (senhores feudais), as corporações de ofício, etc.
- Existência, correlatamente, de uma pluralidade de ordens normativas: o Direito Romano, o Direito Canônico, os editos reais, o Direito comunal etc.
- Interferência do poder eclesiástico na ordem temporal;
- Privilégios estamentais à nobreza e ao clero e ausência de direitos fundamentais (o homem era coisa, não pessoa);
- Aplicação tópica do Direito (de natureza transcendente, baseada em Deus);
- Época de eclipse da Constituição; a Constituição antiga dos gregos (Politéia) desaparece, para ressurgir apenas na Modernidade; as Leis fundamentais da época foram firmadas precariamente pelas autoridades então constituídas, através de uma série de tratados e contratos.
* Consequência: insegurança jurídica, haja vista que por vezes um mesmo indivíduo ficava sujeito a normas emanadas de diferentes centros de poder.
2 O Estado absoluto: Estado Patrimonial e Estado de Polícia
* Período: entre os séc. XVII e XVIII; 
* Marco simbólico: Paz de Vestfália (1648).
* Marco teórico: 
- HOBBES, Thomas (1588-1679). Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil (1651).
- Ideia de contrato social: no “estado de natureza” os homens, dispersos, são potências movidas pelo desejo, não limitado; no uso da razão, resolvem viver em “estado civil”, outorgando parcela de sua liberdade a uma entidade maior, o Estado (Leviatã é alusão ao demônio de uma lenda fenícia), cuja soberania é una, indivisível e ilimitada, pois o contrato que a estabelece não a sujeita a nenhuma obrigação, salvo a de assegurar a tranquilidade e o bem-estar dos contratantes.
* Surgimento:
- A concentração do poder econômico nas mãos da incipiente burguesia (que se apropria dos meios de produção) e a concentração do poder político nas mãos dos monarcas (que monopolizam o poder das armas) foram os dois principais fatores que proporcionaram o surgimento do Estado moderno, caracterizado pela ideia de soberania. Com apoio da incipiente burguesia, os monarcas conseguem se impor aos demais centros de poder dentro do território do Estado, obtendo o reconhecimento de sua qualidade de soberano.
- Os primeiros teorizadores do conceito de soberania asseveravam o seu caráter absoluto, ilimitado.� Embora o monarca contasse com um corpo de funcionários (conselheiros que estabeleciam as leis, magistraturas que as executavam ou solucionavam, com base nelas, eventuais conflitos surgidos no interior do Estado), todas estas funções ficavam sujeitos a sua ingerência. 
- O Estado era considerado, inicialmente, como patrimônio pessoal do monarca, que exercia sobre ele um poder absoluto, ilimitado (Estado patrimonial). Num segundo momento, à época dos déspotas esclarecidos, os monarcas conscientizam-se do dever de buscar o desenvolvimento do Estado (Estado de Polícia). Mas a potencial ingerência do monarca sobre todas as funções estatais subsiste.
* Consequências: a burguesia, que mais contribuía para o crescimento econômico do Estado, tinha um regime de direitos e deveres detrimentoso em comparação com o regime de privilégio do clero e da nobreza, e ainda ficava sujeita a uma ilimitada intervenção em vários domínios da vida social (político, econômico, religioso, etc.) – o que implicava em uma situação de insegurança jurídica e de desigualdade.
3 Estado de Direito e constitucionalismo liberal
* Período: fins do séc. XVIII a início do séc. XX;
* Marco simbólico: Revoluções liberais, especialmente a francesa (1789) e a americana (1781). 
* Marcos teóricos: 
- LOCKE, John (1632-1704). Dois Tratados sobre o Governo Civil (1690);
- MONTESQUIÉU, Charles-Louis de Secondat, Senhor de La Brède e Barão de (1689-1755). O Espírito das Leis (1748).
* Filmografia:
- Danton – o processo da revolução (Danton, FRA/POL, 1983).
* Surgimento: 
Embora em cada Estado as revoluções liberais tenham tido significação diversa, em suma todas elas buscaram:
- substituir o regime de privilégio (privi, de preferência, e légio ou legis, de lei) de que desfrutavam os dois outros estamentos (o clero e a nobreza) por um regime de isonomia (de iso, igual, e nomos, norma), de maneira que todas as classes tivessem direitos e deveres iguais;
- limitar o poder político estatal, obtendo maior segurança jurídica e consequentemente maior liberdade.
A expressão “Estado de Direito” trás consigo exatamente a ideia de que o Estado, ao mesmo tempo em que põe o Direito, acaba sendo limitado por ele. Os postulados do Estado de Direito Liberal foram:
- separação dos poderes;
- império da lei (princípio da legalidade); 
- representação democrática; e especialmente;
- reconhecimento e proteção de iguais direitos (e deveres) fundamentais.�
3.1 Separação dos poderes 
 “Poder” é uma expressão plurissignificativa: dentre vários outros significados possíveis, o vocábulo “poder” tanto expressa o significado de órgão como o de função.� 
Desde a Antiguidade, Aristóteles já identificava três diferentes funções inerentes ao governo da pólis: a legislativa (deliberativa), a executiva (administrativa) e a judiciária (adjudicatória).� 
Do exercício de cada uma destas funções resultam atos de produção jurídica ou normativa. A diferença entre elas reside em que:
(a) a legislação implica na expedição de atos de produção jurídica primária, com efeitos gerais (quanto aos destinatários) e abstratos (quanto à aplicação de seus efeitos); Ex.: a lei estabelece a possibilidade de o Estado desapropriar imóvel de particular para ali instalar uma escola pública para a comunidade de um bairro de baixa renda (não consta da lei qual imóvel, de qual particular será desapropriado, e a cada vez que for necessário desapropriar um dado imóvel de um dado particular, a mesma lei terá ensejo de ser aplicada).
(b) a executiva implica na expedição de atos de produção jurídica secundária, com efeitos específicos (quanto aos destinatários) e concretos (quanto à aplicação de seus efeitos); Ex.: o decreto do Estado desapropria o imóvel tal, de Fulano, para instalação de escola pública no bairro Rasga Diabo, produzindo este decreto efeitos apenas para aquela desapropriação do imóvel tal de Fulano (se mais tarde se verificar que é necessário desapropriar outro imóvel para instalação de outra escola pública, outro decreto deverá ser editado, porque o decreto anterior somente gerou efeitos para desapropriação daquele imóvel tal, de Fulano);
(c) a judiciária implica na expedição de atos de produção jurídica subsidiária, com efeitos também específicos (quanto aos destinatários) e concretos (quanto à aplicação de seus efeitos), caracterizando-se por resolver conflitos porventura surgidos, com caráter de definitividade; Ex.: uma sentença condena o Estado a pagar indenização a Fulano, por ter desapropriado o imóvel tal, produzindo efeitos apenas entre aquelas partes, naquela situação (se o imóvel qual de Fulano for desapropriado e for ajuizada nova ação de indenização por desapropriação, será necessária outra sentença para solução deste outro conflito).
Esquema:
	Funções do
Estado�
	
normativa(legislativa)
	
- atos de produção jurídica primária 
- características: efeitos gerais e abstratos
	Ex.: leis, decretos legislativos, resoluções 
	
	
administrativa 
(executiva)
	
- atos de produção jurídica complementar
- características: efeitos específicos e concretos
	Ex.: contratos, nomeações de servidores públicos
	
	
judicial 
(jurisdicional)
	
- atos de produção jurídica subsidiária
- características:	efeitos específicos, concretos e definitivos
	Ex.: sentença, acórdão
Alguns autores, na Idade Média tardia e mesmo na modernidade, já haviam feito menção à necessidade de separação dos poderes – como Marsílio de Pádua e John Locke. Mas coube a Charles-Louis de Secondat, Barão de Bréde e Senhor de Montesquieu, fazer a primeira boa sistematização do princípio.
Segundo Montesquieu, todo o homem que exerce o poder tende a abusar dele. Para evitar este abuso, é preciso que o poder seja limitado pelo poder.�
O princípio a separação dos poderes consistia em atribuir as distintas funções de legislar, de executar as leis e de solucionar eventuais conflitos de interesses, a órgãos igualmente distintos, todos eles independentes entre si.
Embora Montesquieu proclamasse a igualdade entre os três poderes, no fim, o Poder Legislativo tinha certa superioridade em relação aos demais. Tanto o Poder Judiciário como o Poder Executivo ficavam assujeitados às determinações do Poder Legislativo – embora Montesquieu reconhecesse ao Poder Executivo a possibilidade de obstar (“poder de obstar”) as deliberações (“poder de estatuir”) do Poder Legislativo, através do veto.� Este sistema de controle recíproco (freios e contrapesos) dos Poderes – especialmente do Legislativo sobre o Executivo e do Executivo sobre o Legislativo – foi objeto dedesenvolvimento posterior. 
3.2 Império da lei 
O império da lei (ou princípio da legalidade) traduzia exatamente a ideia de limitação do poder pelo poder. O Poder Executivo somente pode fazer o que a lei (do Poder Legislativo) previamente autoriza, como na França, ou pelo menos não pode fazer o que ela proíbe, como na Alemanha.
A supremacia da lei surge exatamente como mecanismo de limitação do poder e, logo, como instrumento de asseguramento da liberdade.
3.3 Representação democrática 
Por força da separação dos poderes, ao monarca passa a competir somente o exercício da função executiva, em observância às leis pré-estabelecidas. O Poder Legislativo, que estabelece tais leis, é exercido pelo povo.
Ciosa de proteger seus direitos e interesses, e temerosa de se submeter a uma tirania da maioria, a burguesia adota um conceito restrito de povo (em sentido político, isto é, enquanto cidadãos que exercem ativa e passivamente o direito de sufrágio). O fundamento da cidadania é o direito de propriedade dos meios de produção: povo é quem detém a titularidade dos meios de produção, participando ativamente da produção econômica.
3.4 Direitos fundamentais individuais civis e políticos 
Os direitos fundamentais são concebidos como direitos naturais, no sentido de serem pré-políticos, isto é, anteriores ao Estado. Na verdade, é exatamente o exercício de um direito pré-político (a liberdade de firmar o contrato social) o que constitui o Estado. Mais: o Estado só é constituído como meio necessário para manter os direitos pré-existentes. Os direitos individuais civis e políticos são fundamentais, portanto, porque fundam ou fundamentam a constituição do Estado – sendo que, depois de constituído, o Estado deverá agir somente de maneira a assegurar tais direitos.
Tais direitos eram assegurados pelas seguintes maneiras:
- pela limitação do poder do Estado, que em princípio deveria não intervir (o Estado Liberal é um Estado mínimo, absenteísta); as poucas atribuições do Estado consistem em proteger o Estado contra invasões estrangeiras e manter a ordem internamente (segurança externa e interna).
- as intervenções jurídicas do Estado que fossem necessárias eram prescritas pela própria burguesia (representada no Parlamento), sempre em favor do exercício da liberdade (igual, formalmente) pelos demais, o que era obtido graças aos predicados da generalidade e abstração das leis;
- pela limitação do conceito de cidadania (cidadania censitária), que mantinha protegidos os interesses homogêneos da burguesia.
4 Fatores de crise e consequências do Estado Liberal
Separação entre Moral e Direito: a ascensão do positivismo jurídico e, correlatamente, o descrédito do jusnaturalismo, implicou na perda de uma instância moral crítica; as leis passam a valer (isto é, passam a ser válidas) pelo simples fato de terem sido postas pelo Estado, independentemente da justiça de seu conteúdo (validade formal, interna);�
Consequência: a ideia supremacia da lei, inicialmente concebida como técnica de limitação do poder e de asseguramento da liberdade, se transforma em técnica de dominação da massa de trabalhadores (alijados da participação política) pela burguesia;
Separação entre Política e Economia: supunha-se que, se todos procurassem buscar o seu interesse, ao final, o interesse de todos restaria realizado;� era como se uma “mão invisível” governasse o mercado, fazendo com que isto acontecesse;
Consequência: a desigualdade de fato mesmo entre os atores econômicos (alta e baixa burguesia) permitia uma concorrência predatória, em razão da formação de cartéis, trustes, monopólios, etc.
Separação entre Estado e Sociedade: era vedada qualquer interferência ou intervenção estatal no âmbito social; o Estado intervinha concretamente apenas para manter a ordem interna e externa; e intervinha normativamente apenas para bem como o asseguramento de uma mera igualdade formal (igualdade perante a lei);
Consequência: agravamento das desigualdades de fato, fazendo com que um número cada vez maior de pessoas não conseguisse recolher os benefícios do convívio social (exclusão); as classes possuidoras continuavam acumulando mais riquezas, enquanto as classes menos possuidoras (despossuidoras) tornavam-se cada vez mais miseráveis, o que deu causa a convulsões sociais internas mais ou menos graves;
Há uma outra consequência (subproduto) que merece ser destacada: a desigualdade social, e a completa desmoralização do Direito, ensejam ou se compadecem com o surgimento de modelos estatais de matiz totalitário, que procuram romper definitivamente com o modelo liberal (Estados de Força, nas vertentes socialista, fascista e nazista).�
5 Estados de Força e totalitarismo
* Período: primeira metade do séc. XX (fascismo e nazismo) até 1989 (socialismo);
* Marcos simbólicos:
- Socialismo soviético: Revoluções bolchevique (1917);
- Fascismo italiano: ascensão de Mussolini ao Governo;
- Nazismo alemão: formação do Terceiro Reich (1933).
* Filmografia:
- Doutor Jivago (Doctor Zhivago, EUA-ITA-ESP, 1965);
- A Vida é Bela (La Vita è Bella, ITA, 1997);
- A Lista de Schindler (Schindler List, EUA, 1993);
- 1989 (1989, ING, 1984);
- V de Vingança (V for Vendetta, EUA-RU, 2006). 
* Características gerais:
- Não há separação de poderes; governa um partido único;
- Não há direitos fundamentais (e nem a ideia mais profunda de centralidade do indivíduo); o que há são deveres dos indivíduos para com o Estado; os direitos são radicalmente funcionalizados;
- Não há representação democrática, mas governo autoritário; quando muito, há apenas uma “aparência de representação democrática”;
- A lei é instrumento de força e vale apenas por emanar da autoridade competente, independentemente da justiça de seu conteúdo.
6 Estado de Bem-Estar e constitucionalismo social
* Período: séc. XX;
* Marcos simbólicos:
- Constituição do México, de 1917;
- Constituição de Weimar (Alemanha), em 1919.
* Filmografia:
- Germinal (Germinal, FRA, 1983).
* Surgimento: 
O Estado (do Bem-estar) Social surge das lutas sociais pela extensão de direitos às classes menos favorecidas, especialmente à classe trabalhadora. Num sentido pragmático, o EstadoSocial seria resultado da tentativa de a burguesia preservar os postulados do capitalismo, fazendo concessões às classes menos favorecidas.
A evolução do Estado de Direito Liberal para o Estado Social se fez em etapas, que implicaram em uma sensível alteração dos postulados do Estado de Direito Liberal (Estado de Direito Legalista).
6.1 Representação democrática 
Ressemantização do conceito político de povo: o fundamento da cidadania deixa de ser a propriedade privada dos meios de produção e passa a ser a igualdade entre proletários e burgueses;
Esta ampliação da cidadania marca uma primeira etapa da evolução do Estado de Direito Liberal para o Estado Social Democrático
6.2 Reconhecimento e proteção de direitos (e deveres) fundamentais iguais
Além da extensão dos direitos políticos (decorrente da ampliação do direito de sufrágio ativo e passivo) e civis à classe operária, o Estado passa a comprometer-se com o asseguramento de direitos sociais, destacadamente aqueles que visam proteger o trabalhador, mas não apenas estes (também educação, saúde, previdência, assistência, etc.);
Além da liberdade e da igualdade formal (igualdade de todos perante a lei), o Estado visa assegurar uma igualdade material, isto é, outorgando tratamento diferenciado a pessoas que estejam em situações diferentes; 
Os direitos fundamentais passam a ser assim considerados (isto é, passam a ser considerados “fundamentais”) por serem concebidos como essenciais ao asseguramento de uma vida completa às pessoas.
6.3 Império da lei (princípio da legalidade) 
Muda a concepção de lei: além de instrumento de limitação do poder do Estado (e correlatamente de asseguramento da liberdade dos indivíduos), ela se torna também instrumento de ação do poder do Estado (e correlatamente de asseguramento da igualdade entre os indivíduos).
6.4 Separação dos poderes
No Estado Social, continua a haver separação de poderes e mecanismos de controle recíproco (freios e contrapesos). Em princípio – isto é, tipicamente – o Poder Legislativo legisla, o Poder Executivo executa e o Poder Judiciário soluciona conflitos, sendo que cada poder limita o outro.
Mas há uma ampliação da atuação estatal como um todo (e do Poder Executivo em particular, na medida em que ele é que desponta como o mais preparado para executar as novas funções que o Legislativo lhe comete ao Estado).
Consequentemente, instaura-se uma crise em torno das funções legislativas e de seu produto (a lei):
- dada a amplitude e complexidade das cada vez mais crescentes ações que o Estado é levado a (através do Poder Executivo) desempenhar, o legislador não tem mais condições de as disciplinar com minudência; ele passa a estabelecer normas-objetivo, que fixam metas à Administração; Ex.: não tem condições de minudenciar de que forma serão prestados serviços públicos (energia elétrica, iluminação pública, coleta de esgoto e distribuição de água tratada, transporte, etc.), limitando-se a exigir que tais serviços sejam prestados de forma “adequada” (com tecnologia atual, embora não necessariamente de última geração, a preços módicos, de modo cortês, etc.);
- em razão disso, tais leis passam a demandar a complementação por meio de regulamentos do próprio Poder Executivo, assumindo tais regulamentos administrativos, quanto aos seus efeitos (gerais e abstratos), o mesmo conteúdo de lei, embora formalmente sejam atos administrativos (decretos, portarias, etc.);
- por outro lado, muitos atos de controle, por parte do Poder Legislativo, formalmente são externados por lei (posto que observem o processo legislativo), mas cujo conteúdo é, por seus efeitos (específicos e concretos), de ato administrativo (são as leis de efeitos concreto e específico);
- além disso, cada vez mais assomam-se situações em que o Poder Executivo é levado a agir, sem que haja qualquer lei prévia (porque o processo legislativo é moroso e por vezes é mister uma ação estatal rápida), sendo necessário transferir (ainda que potencialmente) parte da função legislativa ao Poder Executivo, o que ocorre via de regra por meio de Decretos-leis ou das Medidas Provisórias (em também, em alguma medida, por meio das Leis Delegadas).
- ainda: tanto o Poder Legislativo como o Executivo passam a assumir funções que se assemelham conceitualmente da função jurisdicional (porque implicam na solução de conflitos com caráter de definitividade); Ex.: quando o Poder Executivo (´no Brasil, através do Conselho Administrativo de Defesa da Economia-CADE), visando assegurar a livre concorrência, julga atos de concentração econômica, quando duas grandes empresas se fundem ou uma incorpora a outra, ou quando instaura e julga processos administrativos (disciplinares, fiscais, de pesos e medidas, etc.); ou quando o Poder Legislativo julga as autoridades de alto escalão dos três poderes por crimes políticos.
- de mesma forma, o Poder Judiciário passa a desempenhar funções legislativas (Ex.: quando estabelece seus regimentos internos) e executivas (quando contrata pessoal, celebra contratos, etc.).
	
Órgãos
do
Estado
(CF, art. 2º)
	
Poder Legislativo
	
Função típica
	
normativa
(legislativa)
	- cria normas gerais e abstratas
- Ex.: leis, resoluções e decretos legislativos 
(v. CR, art. 44)
	
	
	
Funções 
atípicas
	
administrativa
(executiva)
	- executa normas através de atos concretos 
- Ex.: concurso público para contratação de pessoal, licitação para aquisição de bens, obras e serviços
(v. CR, art. 37, II e XI)
	
	
	
	
julgadora
	- julga conflitos 
- julgamento, pelo Senado Federal, de crimes de responsabilidade cometido pelo Presidente da República e Ministros do STF
 (v. CR, art. 52, I e II)
	
	
Poder Executivo
	
Função típica
	
administrativa
	- executa normas através de atos concretos 
- Ex.: concurso público para contratação de pessoal, licitação para aquisição de bens, obras e serviços, prestação de serviços públicos, etc.
(v. CR, arts. 37, II e XI, 21, X e ss., 23, II e ss.)
	
	
	
Funções 
atípicas
	
Normativa
	- cria normas gerais e abstratas 
- Ex.: Medidas Provisórias, Leis Delegadas, Regulamentos
(v. CR, arts. 62, 68, 84, IV, 87, par. único, II)
	
	
	
	
Julgadora
	- julga fusões de empresas através do Conselho Administrativo de Defesa Econômica-CADE 
(v. CR, arts. 173, § 4º e 174)
	
	
Poder Judiciário
	
Função típica
	
julgadora
	- julga conflitos com definitividade 
- Ex.: sentenças e acórdãos
(v. CR, arts. 92, 102, I e II, 105, I, II e II, 108, I e II, 109, etc.)
	
	
	
Funções 
atípicas
	
administrativa
	- executa normas através de atos concretos 
- Ex.: concurso público para contratação de pessoal, licitação para aquisição de bens, obras e serviços
(v. CR, art. 37, II e XI)
	
	
	
	
Normativa
	- cria normas gerais e abstratas 
- Ex.: Regimentos Internos 
(CR, art. 96, I, “a”)
7 Insuficiências do Estado Social
Em que pese a preocupação com a questão social, o Estado Social realiza insatisfatoriamente o princípio da igualdade. Daí decorre que: 
- há uma preocupação em reposicionar o homem na sociedade (não mais entendido como indivíduo, atomisticamente, mas como pessoa, que entretém toda uma sorte de laços com outras pessoas), e em redistribuir a riqueza produzida na Sociedade, sem que se preocupe, contudo, com a justiça desta distribuição; o Estado Social torna-se um Estado populista (paternalista e clientelista);�
- os direitos fundamentais (os direitos sociais, destacadamente) são vistos como fins do Estado, e entram frequentemente em tensão com a democracia (vontade da maioria).
Há uma “corrupção” da democracia, na medida em que as decisões legislativas tornam-se produto de maiorias ocasionais, de negociações entre grupos de interesses diversos(democracia como mercado); 
O Estado Social ainda mantinha a centralidade da lei (ainda o positivismo jurídico); a Constituição somente tinha normatividade no que tange à organização do Estado; os direitos fundamentais nela previstos valiam como meras diretrizes, como meras admoestações aos órgãos do Estado.
8 Estado Democrático de Direito e neoconstitucionalismo 
O surgimento do Estado (Constitucional) Democrático de Direito dá-se em razão das insuficiências do Estado Social e da repulsa moral causada pelos Estados totalitários.
Aspectos que revelam o surgimento do Estado Constitucional:
- formal: supremacia da Constituição, que, dotada de força normativa, passa a servir de fundamento e de limite para todas as funções do Estado (legislativa, executiva e judiciária);
- material: penetração da Moral no Direito, através da normatividade dos princípios (normas que consagram valores a serem realizados) inseridos nas Constituições.
Além do princípio da legalidade, que implica na submissão do Poder Executivo à lei, desenvolve-se o princípio da constitucionalidade, que implica na submissão de todos os Poderes (inclusive o Poder Legislativo) às normas constitucionais. Em vez de centralidade da lei, o Estado Constitucional supõe que a Constituição esteja no centro do ordenamento jurídico, dela derivando o fundamento de validade (formal e material) de todas as ações do Estado.
Há também um aperfeiçoamento da ideia de igualdade (não mais igualdade social, mas igualdade democrática).
Por fim, todos os valores insculpidos na Constituição gravitam em torno da pessoa humana e dos direitos fundamentais previstos a fim de lhe assegurar uma vida digna. No entanto, os direitos fundamentais passam a ser vistos como condição da democracia, e não como seus fins. 
Referências bibliográficas
� 	Alguns autores observam que este caráter absoluto ou ilimitado era apenas nominal – pelo menos para o clero e a nobreza, já que os monarcas tinham o dever de respeitar os privilégios (considerados normas naturais ou tradicionais) instituídos em favor destes estamentos.
� 	A separação dos poderes, o império da lei e a representação democrática são os elementos formais do conceito de Estado de Direito. A exigência de reconhecimento de direitos fundamentais é elemento material do conceito.
� 	Nas assertivas “o Congresso Nacional é o Poder Legislativo” e “o poder legislativo é exercido pelo Congresso Nacional”, o vocábulo “poder” aparece com significados diferentes: respectivamente, como órgão e como função.
� 	ARISTÓTELES. A Política, p.
� 	Cfr. concepção de ARISTÓTELES, A Política.
� 		
� 	Já a submissão do Poder Judiciário era evidente. Montesquieu o chamava de “la bouche qui prononce les paroles de la loi” (ou “a boca que pronuncia as palavras da lei”), ou simplesmente “la bouche de la loi” (“a boca da lei”).
� 	O Estado de Direito Liberal se converte em Estado de Legalidade Liberal.
� 	O conceito de interesse surge exatamente nesse período, enquanto desejo mediado pela razão (ao contrário do puro desejo), estando relacionado à ideia de obtenção de lucro.
� 	O Estado Socialista, na medida em que rompe completamente com o postulado dos direitos fundamentais, permitindo uma completa interferência do Estado no domínio privado, também pode ser arrolado como modelo de Estado de Força, de Estado totalitário.
� 	CARVALHO, José Murilo de. Mandonismo, coronelismo, clientelismo: uma discussão conceitual. DADOS – Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, v. 40, n. 2, 1997, pp. 229-250.

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