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1 AULA 03 – DIREITO APLICADO À ENGENHARIA NOÇÕES DE RESPONSABILIDADE JURÍDICA NO BRASIL A todo instante surge o problema da responsabilidade civil, pois cada atentado sofrido pelo homem, relativamente ao seu patrimônio ou à sua pessoa, constitui um desequilíbrio de ordem patrimonial ou moral, tornando imprescindível a criação de soluções ou remédios que sanem tais lesões, pois o direito e a sociedade não toleram que ofensas fiquem sem reparação. Na responsabilidade civil são a perda ou a diminuição verificadas no patrimônio do lesado ou o dano moral que geram a reação legal, movida pela ilicitude da ação do autor. A responsabilidade civil objetiva à reparação do dano causado a outrem, desfazendo tanto quanto possível seus efeitos, restituindo o prejudicado ao estado anterior ao do momento da lesão ou dando-lhe uma indenização caso essa restituição não seja possível. A responsabilização civil tem uma dupla função: A) garantir o direito do lesado à segurança jurídica, e B) servir como sanção civil, de natureza compensatória, mediante a reparação do dano causado à vítima, punindo o lesante e desestimulando a prática de atos lesivos. A responsabilidade jurídica abrange a responsabilidade civil e criminal. A responsabilidade penal pressupõe uma turbação social, ou seja, uma lesão aos deveres dos cidadãos para com a ordem da sociedade, acarretando um dano social determinado pela violação da norma penal, acarretando a submissão pessoal do agente à pena que lhe foi imposta pelo legislador e pelo judiciário, tendendo, portanto, à punição. A responsabilidade civil, por ser repercussão do dano privado, tem por causa geradora o interesse em restabelecer o equilíbrio jurídico alterado pela lesão, de modo que a vítima poderá pedir reparação do prejuízo causado (recomposição do estado anterior) ou uma compensação em dinheiro. Na responsabilidade penal o lesante deverá suportar a respectiva repressão, pois o direito penal vê sobretudo o criminoso. Na responsabilidade civil ficará com a obrigação de recompor a posição do lesado, indenizando-lhe os danos causados, daí tender apenas à reparação, por vir principalmente em socorro da vítima. A RESPONSABILIDADE CIVIL INDIVIDUAL DO ENGENHEIRO NA ATUALIDADE Em seu exercício profissional, o engenheiro pode estar sujeito a dois tipos de legislação: 2 A. Se estiver prestando seus serviços para um consumidor, se submeterá às normas do Código de Defesa do Consumidor B. Em qualquer outro caso, se submeterá ao Código Civil Brasileiro. Mas afinal, quem é consumidor? Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Pelo expressão “destinatário final” deve ser interpretado o seu sentido econômico, isto é, que a aquisição de um bem ou a utilização de um serviço satisfaça uma necessidade pessoal do adquirente, pessoa física ou jurídica, e não objetive o desenvolvimento de outra atividade negocial. Não se admite, destarte, que o consumo se faça com vistas à incrementação de atividade profissional lucrativa, e isto, ressalte-se, quer se destine o bem ou serviço à revenda ou a integração do processo de transformação, beneficiamento ou montagem de outros bens ou serviços. É necessário haver, também, desigualdade técnica, jurídica ou econômica entre o consumidor e o fornecedor de produto e serviço. Entretanto, mais modernamente, a jurisprudência brasileira vem alargando tal possibilidade de alguns consumidores, mesmo que tenham adquirido bens ou serviços para o desenvolvimento de sua atividade negocial, serem beneficiários das normas do Código de Defesa Consumidor, sempre que as desigualdades apontadas mostrarem- se de relevância excepcional. DA RESPONSABILIDADE CIVIL INDIVIDUAL NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO Conceito: é a obrigação imposta pelas normas às pessoas no sentido de responder pelas consequências prejudiciais de suas ações. Pressupostos: A) Existência de uma ação ou omissão que se apresente como um ato ilícito ou, às vezes, até mesmo lícito (neste caso, quando a atividade exercida causar risco). B) Ocorrência de um dano moral e/ou patrimonial causado à vítima, causado pelo agente ou por terceiro a quem o imputado responde, ou por um fato de animal ou coisa a ele vinculada. C) Nexo de causalidade entre o dano e a ação. Se a vítima experimentar um dano, mas este não resultou da conduta do réu, qualquer pedido de indenização será improcedente. D) Culpa em sentido amplo, que se explica a seguir. DA CULPA Culpa significa violação de um dever jurídico. 3 Em sentido amplo, compreende o dolo, que é a violação intencional do dever jurídico, e a culpa (aqui em sentido restrito), caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligência, sem qualquer intenção de violar um dever. Dolo é a vontade consciente de violar o direito, dirigida à obtenção do fim ilícito. Imperícia é a falta de habilidade ou inaptidão para praticar certo ato. Negligência é a inobservância de normas que nos ordenam agir com atenção, capacidade, solicitude e discernimento. Imprudência é a precipitação ou o ato de proceder sem cautela. Em havendo os elementos integrantes, seja com dolo, seja com culpa em sentido estrito, a obrigação de reparar o dano causado é a mesma. DOS DANOS PATRIMONIAIS Dano patrimonial vem a ser a lesão concreta, que afeta um interesse relativo ao patrimônio da vítima, consistente na perda ou deterioração, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável. Constituem danos patrimoniais a privação do uso dos bens, os estragos neles causados, a incapacitação do lesado para o trabalho, a ofensa à sua reputação quando tiver repercussão na vida profissional ou em seus negócios etc. O dano patrimonial mede-se pela diferença entre o valor atual do patrimônio da vítima e aquele que teria, no mesmo momento, se não houvesse a lesão. Abrange não só o dano emergente (o que o lesado efetivamente já perdeu) mas também o lucro cessante (o aumento que seu patrimônio teria, mas deixou de ter em razão do evento danoso). Pode haver ainda a perda de uma chance, onde a indenização não seria do ganho que deixou de ter (lucro cessante), mas da própria chance. A chance frustrada caracteriza- se pela perda de oportunidade de obtenção de uma vantagem. O lesado deve ser indenizado pelo equivalente daquela oportunidade; logo o prejuízo terá um valor que variará conforme maior ou menor probabilidade de a chance perdida se concretizar. DOS DANOS MORAIS Lesão a interesses não patrimoniais da pessoa natural ou jurídica, provocada pelo ato lesivo. É, na verdade, lesão aos direitos da personalidade (dignidade da pessoa humana). A dor, a angústia, o desgosto, a aflição espiritual, a humilhação, o complexo que sofre a vítima do evento danoso constituem consequências do dano moral, mas não 4 propriamente o dano moral em si. O Direito não repara qualquer padecimento, dor ou aflição, mas aqueles que forem decorrentes da privação de um bem jurídico sobre o qual a vítima teria interesse reconhecido juridicamente. A fundamentação se dá em virtude do fato de que as tristezas se compensam ou se neutralizam com as alegrias, porém esses fatores de neutralização não são obtidos pela via direta do dinheiro, pois não se está pagando a dor ou a tristeza, mas sim pela indireta, ensejando valores econômicos que propiciassem ao lesado do dano não patrimonial algo que lhe desse uma sensação de bem-estar ou contentamento. Afinal, seria imoral e injusto deixar impune o ofensor ante graves consequências provocadas por sua falta. A fixação do valor da compensação por danos morais é feita pelo Juiz, examinando as circunstâncias de cada caso, decisão essaa ser feita com equidade. O valor variará de acordo com o padrão social, econômico, cultural e intelectual da pessoa ofendida, além da extensão do dano. A reparação pecuniária do dano moral é um misto de pena e de satisfação compensatória. Não se pode negar sua função: A) penal, constituindo uma sanção imposta ao ofensor, visando demonstrar-lhe que o bem jurídico da pessoa – dignidade humana – não poderá ser violado impunemente; e B) compensatória, visando proporcionar ao prejudicado uma satisfação que atenue a ofensa causada. DOS DANOS ESTÉTICOS É toda alteração morfológica do indivíduo que, além do aleijamento, abrange as deformidades ou deformações, marcas e defeitos, ainda que mínimos, e que impliquem sob qualquer aspecto um afeiamento da vítima, consistindo numa simples lesão desgostante ou num permanente motivo de exposição ao ridículo ou de complexo de inferioridade, exercendo ou não influência sobre sua capacidade de trabalho. Constitui, em regra, um dano moral que poderá ou não constituir um prejuízo patrimonial. MOTIVOS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE (NEXO DE CAUSALIDADE): Culpa exclusiva da vítima: quando o dano ocorre em virtude de fatos ocasionados pela própria vítima. Culpa de terceiro: isto é, de qualquer pessoa além da vítima e do agente, de modo que, se alguém for demandado por indenizar um prejuízo que lhe foi imputado pelo autor, poderá pedir a exclusão de sua responsabilidade se a ação que provocou o dano foi devida exclusivamente a terceiro. 5 Caso fortuito ou força maior: por caso fortuito entende-se de ato alheio à vontade das partes (greve, motim, guerra etc.), e por força maior é a derivada de acontecimentos da natureza (raio, inundação, terremoto etc.). Cláusula de não indenizar: estipulação contratual no qual uma das partes contratantes declara, com a concordância da outra, que não será responsável pelo dano por esta experimentado, resultante da inexecução ou da execução inadequada de um contrato, dano este que, sem a cláusula, deveria ser ressarcido pelo estipulante. De legalidade bastante questionável, já vem sendo excluída pela jurisprudência em inúmeras ocorrências, em especial quando houver violação da vida ou da saúde do outro contratante, quando não tiver anuência por escrito da parte adversa (avisos nas paredes isentando a responsabilidade), entre outros. Existem ainda o estado de necessidade (a destruição de coisa alheia a fim de remover perigo iminente) e a legítima defesa (ato praticado contra o próprio agressor para fazer cessar um perigo real). CONSEQUÊNCIAS DO NÃO CUMPRIMENTO DE UM CONTRATO Sendo o princípio da obrigatoriedade da convenção um dos princípios fundamentais do direito contratual, as estipulações feitas no contrato deverão ser fielmente cumpridas, sob pena de execução (forma de cobrança) patrimonial contra o inadimplente. Ter-se-á inadimplemento do contrato quando o devedor não cumprir sua obrigação voluntaria ou involuntariamente. Não cumpridas as obrigações assumidas em contrato, responde o devedor por perdas e danos. O devedor terá, então, a obrigação de indenizar e o credor o direito de exigir o pagamento dessa indenização. Em tal caso será preciso que o lesado demonstre a presença dos seguintes requisitos: a) obrigação violada, b) nexo de causalidade entre o fato e o dano produzido, c) prejuízo do credor (pois, se não houver prejuízos materiais ou morais, não haverá responsabilidade). A culpa é presumida, devendo ser desconstituída pelo devedor. RESPONSABILIDADE CIVIL COLETIVA Segue as mesmas regras da responsabilidade civil individual quanto à ação omissão, dano e nexo, sendo que em regra não há discussão de culpa. Basta a existência do dano para nascer a obrigação de indenizar a coletividade afetada. Direitos coletivos são aqueles de titularidade de uma coletividade determinada ou não. Exemplos de direitos coletivos: paz pública, segurança pública, meio ambiente, saúde pública etc.
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