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UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO-BRASILEIRA CURSO DE LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA DISCIPLINA: SOCIEDADE, HISTÓRIA E CULTURA NOS ESPAÇOS LUSÓFONOS. DOCENTE: PROFª. DRA. VERA RODRIGUES SOBRE A INFLUÊNCIA DO LUSOTROPICALISMO E DA LUSOFONIA NA SOCIEDADE, HISTÓRIA E CULTURA EM CABO VERDE. DISCENTES: BIBIANO LUÍS EDUARDO PINHEIRO MIKELY ALVES SVETLA BORGES REDENÇÃO – CE / 2013 Índice Introdução……………………………………………………………………………………………….…….03 Descoberta, colonização e independência de Cabo Verde………………………………03 Reverberações lusotropicais: A visita de Gilberto Freyre a Cabo Verde………….06 Temática da literatura cabo-verdiana no perído pré-claridoso e virada dessa temática com o surgimento da revista Claridade……………………………………………08 Conhecendo a literatura cabo-verdiana na prática…………………………………………09 » Poema “Flagelados do Vento-Leste” de Ovídio Martins. » Poema “A garrafa” de Manuel Lopes. Conclusão...........................................................................................................11 Referências……………………………………………………………………………………………………13 Introdução. Nesse trabalho, apresentam-se em linhas gerais o principais aspectos que caracterizam a cultura de Cabo Verde. Analisaremos os fatos históricos, discorrendo desde a sua descoberta pelos colonizadores portugueses, os movimentos de libertação até à sua independência, bem como faremos uma exposição da maneira cabo-verdiana de observar, descrever e explicar os fatos da sua própria cultura partindo da teoria lusotropicalista do sociólogo Gilberto Freyre. Trata-se de uma visão geral, introdutória e simplificada, destinada aos estudantes que conhecem pouco ou nada sobre o arquipélago. Nas indicações bibliográficas, apresentadas no fim do trabalho, o leitor encontrará sugestões de leituras em português para prosseguir nos estudos sobre o assunto. Descoberta, colonização e independência de Cabo Verde. Por Svetla Borges Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Cabo Verde, oficialmente República de Cabo Verde, é um país insular africano e um arquipélago de origem vulcânica constituído por dez ilhas. Está localizado no Oceano Atlântico, 640 km a oeste de Dacar, no Senegal. Outros vizinhos são a Mauritânia, a Gâmbia e a Guiné-Bissau, todos na faixa costeira ocidental da África que vai do Cabo Branco às ilhas Bijagós. Curiosamente, o Cabo Verde que dá nome ao país não se situa nele, mas a centenas de quilómetros a leste, perto de Dacar, no Senegal. A descoberta do arquipélago Cabo Verde data do ano de 1456 pelos portugueses: Diogo Gomes e Diogo Afonso. A independência do mesmo deu-se a cinco de julho de 1975, cujo em seu território não teve luta armada, fator que facilitou esse processo de independência antes de outros países colonizados e pelo desinteresse de Portugal pela escassez de riquezas naturais e pelo solo não fértil que também levou a dois outros acontecimentos: o grande período de ausência de chuvas, a fome e a seca, havendo assim um grande fluxo emigratório da sociedade cabo-verdiana para outros países. A miscigenação da cultura africana e da cultura européia deu origem à Cabo Verde. O crioulo cabo-verdiano, sua língua materna, teve origem nessa fusão da língua trazida pelo português e das línguas nativas faladas pelos escravos vindos da África,. O arquipélago não era habitado no período anterior a chegada dos seus descobridores, o contrário de outros países colonizados que já eram povoados. As consequentes ausências de chuva e o solo não fértil levaram à secas prolongadas e fome o que levou a sociedade a emigrar-se em busca de melhores condições de vida e para escapar à difícil situação vivida na época, inicialmente para países da África, como para as roças de São Tomé e Príncipe para trabalhar e depois para outros países da Europa. Segundo pesquisa feita em 2010, essa comunidade de emigrantes já chega aos 700.000 habitantes por toda a diáspora (grande maioria nos Estados Unidos da América, França, Holanda e Portugal) e estima-se que a comunidade residente fora do país é maior do que a comunidade habitante em território cabo-verdiano. E é essa comunidade que representa Cabo Verde na diáspora e é a mesma que leva e trás esse conceito de lusofonia. A lusofonia, sendo um conjunto de identidades culturais existentes em países falantes do português, para cabo verde nada mais é do que mostrar que o luso tropicalismo e a atual denominada lusofonia, nada era mais do que um belo conceito de união de vários países falantes do português pela língua e cultura , algo que na pratica não passava de imposição de cultura e valores portugueses na época da dominação colonial e nos dias de hoje se fala dessa lusofonia de diversas formas . Ela foi inicialmente representada na literatura, faziam-se criticas à imposição da cultura, dominação portuguesa, e também foi a forma de preservar e valorizar a cultura e língua cabo-verdiana (nessa época criou-se a revista Claridade como sendo uma revista de arte e letras que na verdade criticava a situação vivida no arquipélago e uma critica ao luso tropicalismo na sua forma “nua e crua”). » A Música – morna Originaria do fado, ritmo português, seu veiculo de transmissão foi a oralidade (cantos) assim como maior parte de outros generos musicais. A Dança – batuque É uma das maiores representações da cultura cabo Verdiana que tem origem nas danças africanas trazidas pelos escravos na época, e tentou-se proibilas. » O teatro A sociedade cabo-verdiana estava imbuída de uma imensa dose de teatralidade que podia se definir simultaneamente de escravocrata, mercantil, crioula e católica e era teatralizadora dos momentos centrais da vida. Nela, o teatro e a vida social se confundem e se interpenetram, mostrava-se a valentia desse povo lutador, a difícil situação vivida na época da colonização até os dias de hoje, o pescador, a peixeira, o agricultor, o imigrante e tudo que faz parte da cultura cabo-verdiana. Então há o interesse e necessidade de se expressar o desagrado do contexto de povo oprimido, colonizado, dominado, sofrido na época e atualmente. » A Lusofonia em Cabo Verde A lusofonia em Cabo Verde vê-se então como parte do contexto e cultura da sociedade cabo-verdiana, mas essa suposta união de cultura não é posta em prática. Não há um interesse de Portugal de promover essa lusofonia, como podemos ver no texto “a lusofonia é uma bolha” de Cláudia Castelo e em certas entrevistas na RTP Africa (televisão portuguesa, estacão virada para assuntos relacionados à africa) nos programas “Bem Vindos” e “Nós por Cá”. Ressalta-se que não há interesse em promover a lusofonia e que não tratam os cidadãos lusófonos residentes em Portugal, com dignidade, um exemplo, foi uma recente polémica, que se questionava o fato de tratarem-se imigrantes cabo-verdianos, residentes em Portugal há meio seculo, com nacionalidade portuguesa e com filhos nascidos em Portugal, mas são considerados pelos portugueses como, africanos residentes em Portugal e com nacionalidade portuguesa. Cabo-verdianos residentes em cabo verde não se vêm como pertencentes da comunidade lusófona, apesar de que em certos casos, como na ilha de São Vicente, consideram-se europeus, são os que mais falam o português de Portugal, isso porque foi uma das primeiras ilhas a ser habitada e a que mais recebeu cidadãos vindos de Portugal, e devido à longevidade do continente africano , e pela língua oficial ser o português, em tempos, houve uma essa questão posta em discussão noseio da sociedade cabo Verdiana . Mas os promotores da cultura cabo-verdiana fizeram uma revolução, de povo dominado à povo independente e livre, que expressa a sua cultura e língua miscigenada através de suas vozes, mas com um modo peculiar e independente de se “desenrascar” , e é sobre isso e muito mais que se falam e expressa-se na musica dança no teatro ,a cultura cabo Verdiana no geral apresenta-se assim nessa denominada comunidade lusófona . Reverberações Lusotropicais: A visita de Gilberto Freyre a Cabo Verde Por Bibiano Luís e Eduardo Pinheiro Com o fim da Segunda Guerra Mundial surge o principio da autodeterminação dos povos colonizados e a consciência de que a liberdade e a independência são direitos de todos os seres humanos e não era apanágio apenas dos europeus. A ONU atribui, na Declaração Universal dos Direitos do Homem, às potências da época, a obrigação de prepararem suas colonias para a independência, mas Portugal tenta legitimar a sua ação colonizadora de várias maneiras mesmo sofrendo com a pressão dos movimentos anticolonialista da comunidade internacional. Nesse contexto, o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre é convidado pelo ministro do ultramar português Sarmento Rodrigues a visitar às “províncias lusitanas” na África com o objetivo de fazer um estudo que coadunasse com o seu projeto nacionalista e colonialista. A proposta foi aceita pelo brasileiro. “(...) uma viagem que ele deseja que dure um ano. Seu empenho é que eu percorra o Ultramar Português com os olhos de homem de estudo. Com olhos livremente críticos. Que veja da África, do Oriente, das ilhas, os defeitos e não apenas as virtudes. (FREYRE, 2001, p. 35).” Essa viagem aos territórios portugueses desencadeou uma ansiedade e expectativa em determinados grupos de intelectuais dessas colônias, pois seu renome fazia de suas opiniões dados imprescindíveis que somariam aos estudos que esses grupos estavam fazendo a respeito de uma nova sociedade e cultura nos espaços mestiço-colonizados. Gilberto Freyre chega a Cabo Verde em outubro de 1951 e compara o arquipélago ao estado brasileiro do Ceará devido a sua aridez do solo e o sol constante. A colônia seria, portanto, semelhante ao nordeste brasileiro quanto ao seu aspecto climático e a adaptação do povo àquele, porém, as ilhas são para o estudioso um “esboço” do que ocorreu no Brasil “em escala monumental” (2001, p. 264). “ Cabo Verde é uma espécie de Ceará desgarrado no meio do Atlântico. Um Ceará-arquipélago onde raramente chove ou deixa de fazer sol. A mesma aridez do Ceará continental. (FREYRE, 2001, p. 263).” Essa breve visita ao arquipélago surpreendeu a todos que esperavam-na ansiosamente. A descrição de Cabo Verde feita pelo sociólogo brasileiro foi o oposto do que a sociedade intelectual da época esperava, pois ele não consegue reconhecer as validades das culturas africanas em si próprias ou observar possíveis mestiçagens culturais inter-africanas. Ele reconhece e ver como um dado negativo a presença africana em maior grau no arquipélago que é responsável pela predominância da cor negra. Desse modo declara ser o arquipélago “afro-lusitano” no qual as pessoas são predominantemente “africanas na cor, nos aspectos e costumes com salpicos apenas da influência européia apenas sobre a cultura.” “Falta de caracterização cultural, nenhuma arte popular que seja característica do arquipélago (…) nenhum prato regional que me parecesse uma daquelas contribuições para o bem-estar da humanidade (…) o arquipélago é demasiadamente africano e não suficientemente europeu. (FREYRE, 2001, p. 306)” Outro fato que mais profundamente feriu as susceptibilidades cabo-verdianas foi a “repugnância” expressa por Freyre em relação ao que ele denomina “O dialeto cabo-verdiano”. De acordo com ele, o dialeto seria uma marca da africanidade daquele povo que “deforma” a língua portuguesa em algo que “ nenhum português ou brasileiro é capaz de compreender. (FREYRE, 2001, P. 266)” Enfim, durante o tempo em que Freyre permaneceu nas terras portuguesas, realizou suas pesquisas com a finalidade de enquadra-las em seus estudos sobre os portugueses nos trópicos. Na década de 50 freyre transformou o seu diário de bordo em um livro e o publicou com o título “Aventura e Rotina.” Temática da literatura cabo-verdiana no período pré-claridoso e a virada dessa temática com o surgimento da revista Claridade. Por Eduardo Pinheiro As declarações feitas por Gilberto Freyre sobre a sociedade, história e cultura de Cabo Verde, resultaram numa “revolta” por parte da intelectualidade da época aglutinada em torno da revista Claridade . O arquipélago vivia subjacente à cultura européia que se refletia em todas as manifestações culturais no período pré-claridoso, principalmente na literatura que caracterizava-se por um desprendimento quase total do ambiente, sublimando-se numa expressão poética que nada tinha em comum com a terra e o povo do arquipélago. Antes da visita do sociólogo, havia entre os intelectuais aqueles que dormissem com o livro “Casa-Grande & Senzala” na cabeceira da cama, isto é, é possível perceber a tamanha admiração pelo brasileiro,mas esse fanatismo só perdurou até a publicação do livro “Aventura e Rotina” de Freyre. O grande passo para a virada da temática cultural de Cabo Verde foi dado em 1936, na Ilha de S. Vicente, por um grupo de intelectuais, que lançou a revista Claridade, entre eles Baltazar Lopes, Manuel Lopes e Jorge Barbosa. A Claridade supera o conflito entre o antigo e o moderno, isto é, entre o Classicismo/Romantismo português predominante nas manifestações artísticas cabo-verdiana até o século XIX , e o novo realismo ; "sensível às realidades do quotidiano do povo,(...) no sentido de uma cada vez maior abrangência e representatividade da consciência geral da nação". “ O lançamento da Claridade, deu lugar à divulgação de uma estética realista que respondia a uma nova situação social. "No sentido prospectivo, a Claridade foi capaz de dizer, mediante uma ética que reelaborou o conceito de artista da palavra, o que convinha à população que dela fosse dito para se realizar como nação-Estado. A demora em percorrer esse percurso de soberania, (...) vem a ser assim um dos significantes da permanência do espírito de realismo vivo que foi enformando e readaptando a revista a sucessivas gerações de colaboradores.” (Revista Camões, 1998 ). Conhecendo a literatura cabo-verdiana na prática. Por Mikely Alves Para finalizar o trabalho, apresentamos logo abaixo dois poemas cabo-verdianos; O primeiro, “A Garrafa” de Manuel Lopes (1907-2005), um dos Fundadores da revista Claridade e o segundo, “Os flagelados do vento leste” de Ovídio Martins, fundador do Suplemento Cultural. A Garrafa Que importa o caminho Da garrafa que atirei ao mar? Que importa o gesto que a colheu? Que importa a mão que a tocou — se foi a criança Ou o ladrão Ou filósofo Quem libertou a sua mensagem E a leu para si ou para os outros. Que se destrua contra os recifes Ou role no areal infindável Ou volte às minhas mãos Na mesma praia erma donde a lancei Ou jamais seja vista por olhos humanos Que importa? ... se só de atirá-la às ondas vagabundas Libertei meu destino Da sua prisão? ... Extraído de: BARBOSA, Rogério Andrade. No ritmo dos tantãs; antologia poética dos países africanos de língua portuguesa; Brasília: Thesaurus, 1991. 165 p. Flagelados do Vento-Leste Nós somos os flagelados do Vento-Leste! A nosso favor não houve campanhas de solidariedade não se abriram os lares para nos abrigar e não houve braços estendidos fraternamente para nós Somos os flagelados do Vento-Leste! O mar transmitiu-nos a sua perseverança Aprendemos com o vento o bailar na desgraça As cabras ensinaram-nos a comer pedras para não perecermos Somos os flagelados do Vento-Leste! Morremos e ressuscitamos todos os anos para desespero dos que nos impedem a caminhada Teimosamente continuamos de pé num desafio aos deusese aos homens E as estiagens já não nos metem medo porque descobrimos a origem das coisas (quando pudermos!...) Somos os flagelados do Vento-Leste! Os homens esqueceram-se de nos chamar irmãos E as vozes solidárias que temos sempre escutado São apenas as vozes do mar que nos salgou o sangue as vozes do vento que nos entranhou o ritmo do equilíbrio e as vozes das nossas montanhas estranha e silenciosamente musicais Nós somos os flagelados do Vento-Leste! Conclusão Neste trabalho, discorremos sobre a presença portuguesa em Cabo Verde e, sobretudo, das influências dos ideais lusotropicalistas de Gilberto Freyre na política colonialista do Estado Novo Português durante o Regime Salazarista. Também demostramos como a intelectualidade do arquipélago conseguiu afirmar a cultura singular de Cabo Verde ( que muito foi estigmatizada pelo sociólogo brasileiro em seu livro “Aventura e Viagem” – Essa autodeterminação da ‘etno-singularidade’ dos cabo-verdianos se reflete até aos dias de hoje em sua sociedade, história e cultura contribuindo para a significativa ascenssão deste país no contexto internacional ) através da revista Claridade em 1936. Referências BARROS, Victor. Imaginar Cabo Verde a partir da imagem do Brasil. Revista estudos políticos. Disponível em: <http://www.revistaestudospoliticos.com/imaginar-cabo-verde-a-partir-da-imagem-do-brasil-por-barros > Acesso em 22 de ago. 2013. CABO Verde. Wikipédia. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo_Verde> Acesso em: 1 de ago. 2013. CABO VERDE cultura. Imigrantes. Disponível em: <http://imigrantes.no.sapo.pt/page2cvCultura.html> Acesso em 8 de ago. 2013. CARVALHO, Alberto. Do classicismo ao realismo na Claridade. Instituto Camões. Disponível em:< http://www.instituto-camoes.pt/revista/claridade.htm> Acesso em: 16 de ago. 2013. CLARIDADE. Wikipédia. Disponível em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Claridade> Acesso em: 22 de ago. 2013. LITERATURA CABO-VERDIANA: periodização. Lusofonia. Disponível em: <http://lusofonia.com.sapo.pt/caboverde.htm> Acesso em 30 de Jul. 2013 LITERATURA. Embaixada da República de Cabo Verde no Brasil. Disponível em: < http://www.embcv.org.br/portal/modules/mastop_publish/?tac=Literatura> Acesso em: 1 de ago. 2013. REVERBERAÇÕES lusotropicais: Gilberto Freyre em África 1- Cabo Verde. Buala . Disponível em:< http://www.buala.org/pt/a-ler/reverberacoes-lusotropicais-gilberto-freyre-em-africa-1-cabo-verde> Acesso em: 1 de ago. 2013. SPÍNOLA, Danny. A literatura cabo-verdiana. Disponível em:<http://dspinola.caboindex.com/manifesto/05.php > Acesso em: 8 de ago. 2013.
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