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Concepções de Constituição

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Constituição
Prof. Sônia Letícia de Méllo Cardoso
Constituição
A palavra “constituição” possui vários significados, ou seja, apresenta sentido equívoco.
José Afonso da Silva explica que a palavra “constituição” pode ser empregada como: “(a) ‘Conjunto dos elementos essenciais de alguma coisa: a constituição do universo, a constituição dos corpos sólidos’; (b) ‘Temperamento, compleição do corpo humano; uma constituição psicológica explosiva, uma constituição robusta’; (c) ‘Organização, formação: a constituição de uma assembleia, a constituição de uma comissão’; (d) O ato de estabelecer juridicamente: a constituição de dote, de renda, de uma sociedade anônima’; (c) ‘Conjunto de normas que regem uma corporação, uma instituição: a constituição da propriedade; (f) A lei fundamental de um Estado”. (SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional positivo. 16. ed., São Paulo : Malheiros, 1999, p. 39)
Constituição
A ideia de “constituição” nos remete a estrutura e a organização de alguma coisa, de seres e entidades. 
Constituição
Constituição, em sentido amplo, para Celso Ribeiro Bastos “significa a maneira de ser de qualquer coisa, sua particular estrutura”. (BASTOS, Celso. Curso de Direito Constitucional. 7. Ed., São Paulo: Saraiva, 1984, p. 38)
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Em sentido restrito, afirma Michel Temer “Constituição significa ‘corpo’, a ‘estrutura’ de um ser que se convencionou denominar Estado. Por ser nela que podemos localizar as partes componentes do Estado, estamos autorizados a afirmar que somente pelo seu exame é que conheceremos o Estado”. (TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 16. ed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 15)
Constituição
Para José Afonso da Silva “A ‘constituição do Estado’, considerada sua lei fundamental, seria, então, a organização dos seus elementos essenciais: um sistema de normas jurídica, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias. Em síntese, a constituição é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado”. (SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional positivo. 16. ed., São Paulo : Malheiros, 1999, p. 39/40)
Constituição
CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO
Diferentes são as concepções atribuídas à Constituição, sociológico, político, jurídico, estrutural, culturalista, dentre outros.
Constituição
SOCIOLÓGICO
Ferdinand Lassalle, em 1863, na antiga Prussia, em seu livro “O que é uma Constituição?”, Para o autor a Constituição só seria legítima se representasse “os fatores reais do poder que regem uma determinada sociedade”. O reflexo das forças sociais (monarquia, aristocracia, burguesia, banqueiros, classe operária) que estruturam o poder devem estar contidos na constituição escrita, caso contrário, se não houver coincidência, não estaremos diante de uma constituição. Na essência, a constituição é a soma dos fatores reais do poder que regem uma nação, sendo esta a constituição real e efetiva, não passando a constituição escrita de uma “folha de papel”. (LASSALE, Ferdinand. Que é uma Constituição? Minelli: Campinas, 2003, p. 19-47)
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POLÍTICO
Carl Schmitt, entende a constituição como o resultado de decisão política fundamental de um povo e distingue Constituição de lei constitucional. Segundo José Afonso da Silva, Carl Schmitt entende que: “só se refere à decisão política fundamental (estrutura e órgãos do Estado, direitos individuais, vida democrática etc); as leis constitucionais são os demais dispositivos inscritos no texto do documento constitucional, que não contenham matéria de decisão política fundamental”. (SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional positivo. 16. ed., São Paulo : Malheiros, 1999, p. 40)
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Pode-se afirmar, conforme Pedro Lenza, que em complemento ao pensamento de Carl Schmitt, “a Constituição produto de uma certa decisão política, ela seria, nesse sentido, a decisão política do titular do poder constituinte”. (LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. 16 ed., São Paulo : Saraiva, 2012, p. 73)
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JURÍDICO
Hans Kelsen, concebe a constituição em seu sentido jurídico, como norma pura, no mundo do dever-ser, sem qualquer pretensão a fundamentação sociológica, política ou filosófica, ou seja, sem conexão com o mundo do ser, para ele a constituição é fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais.
Constituição
José Afonso da Silva apresenta a concepção de Kelsen nos seguintes termos: “Kelsen toma a palavra constituição em dois sentidos: no lógico-jurídico e no jurídico-positivo; de acordo com o primeiro, a constituição significa norma fundamental hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico transcendental da validade da constituição jurídico-positiva que equivale à norma positiva suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas, lei nacional no seu mais alto grau”. (SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional positivo. 16. ed., São Paulo : Malheiros, 1999, p. 40)
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ESTRUTURAL
 
Esta concepção entende que as constituições decorrem das concepções sociológicas, políticas e jurídicas. 
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Nas palavras de Pinto Ferreira “pode-se verificar o elemento decisivo formando a marca dominante de uma Constituição: ela é a lei fundamental do Estado, ou, por outras palavras, a ordem jurídica fundamental do Estado. Esta ordem jurídica fundamental se baseia no ambiente histórico-social, econômico e cultural, onde a Constituição mergulha as suas raízes. As Constituições são, assim, documentos que retratam a vida orgânica da sociedade, e nenhuma delas foge ao impacto das forças sociais e históricas agindo sobre a organização dos Estados”. (FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 7. ed., São Paulo : Saraiva, 1995, p.10)
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A concepção estrutural proposta por José Afonso da Silva é no sentido de que é “uma norma em sua conexão com a realidade social, que lhe dá o conteúdo fático e o sentido axiológico”. 
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Segundo o autor a “Constituição é algo que tem, como forma, um complexo de normas (escritas ou costumeiras); como conteúdo, a conduta humana motivada pelas relações sociais (econômicas, políticas, religiosas etc.); como fim, a realização dos valores que apontam para o existir da comunidade; e, finalmente, como causa criadora e recriadora, o poder que emana do povo. Não pode ser compreendida e interpretada, se não se tiver em mente essa estrutura, considerada como conexão de sentido, como é tudo que integra um conjunto de valores”. (SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional positivo. 16. ed., São Paulo : Malheiros, 1999, p. 41)
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CULTURALISTA 
 
A Constituição, segundo esta concepção é produto de um fato cultural, produzido pela sociedade e que sobre ela pode influir.
Constituição
Zulmar Fachin citando Meirelles Teixeira explica que: “Ela não deve ser concebida apenas sob enfoques sociológico, político, jurídico e estrutural, mas, inclusive, cultural. Nesse sentido, para Meirelles Teixeira, a Constituição “percebe no fenômeno constitucional e na norma jurídica em geral, algo que é, ao mesmo tempo, produzido pela sociedade, mas que se apresenta capaz também de influir sobre ela, modificando-a, disciplinando-lhe as forças em luta. Ou, por outras palavras, uma formação objetiva da cultural que encerra, ao mesmo tempo, elementos históricos, sociais e racionais”. (FACHIN, Zulmar. Curso de Direito Constitucional. 7. ed., Rio de Janeiro : Forense, 2015, p. 112)
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CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES – JOSÉ AFONSO DA SILVA
 
QUANTO AO CONTEÚDO 
 
MATERIAIS –Em sentido amplo identifica-se com a organização total do Estado, com regime político. Em sentido estrito, designa as normas constitucionais escritas ou costumeiras, inseridas ou não num documento escrito, que regulam a estrutura do Estado,
a organização de seus órgãos e os direitos fundamentais. Neste caso, constituição só se refere à matéria essencialmente constitucional; as demais, mesmo que integram uma constituição escrita, não seriam constitucionais. 
FORMAIS – É aquela que elege como critério o processo de sua formação, e não o conteúdo de suas normas. Qualquer regra nela contida será constitucional. A CF/88 é formal.
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QUANTO À FORMA
 
ESCRITAS – É aquela que é codificada, sistematizada num texto único, elaborado reflexivamente e de um jato por um órgão constituinte que estabelece as normas fundamentais do Estado. Ex.: a CF/88, a portuguesa, a espanhola, dentre outras. 
NÃO ESCRITAS – É aquela cujas normas não constam de um documento único e solene, mas se baseia principalmente nos costumes, na jurisprudência e em convenções e em textos constitucionais esparsos, como é a Constituição inglesa.
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QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO
DOGMÁTICAS – Sempre escrita, é elaborada por um órgão constituinte, e sistematiza os dogmas ou ideias fundamentais da teoria política e do Direito dominantes no momento. 
 
HISTÓRICAS – Não escritas, é, ao contrário, a resultante de lenta formação histórica, do lento evoluir das tradições, dos fatos sócio-políticos, que se cristalizam como normas fundamentais da organização de determinado Estado, e o exemplo ainda vivo é o da Constituição inglesa.
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QUANTO À ORIGEM
POPULARES (DEMOCRÁTICAS) – São aquelas que se originam de um órgão constituinte composto de representantes do povo, eleitos para o fim de as elaborar e estabelecer, como são exemplos as Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988.
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OUTORGADAS – São as elaboradas e estabelecidas sem a participação do povo, aquelas que o governante por si ou por interposta pessoa ou instituição, outorga, impõe, concede ao povo, como foram as Constituições brasileiras de 1824, 1937, 1967 e 1969.Acrescente-se, ainda, a constituição cesarista, é aquela que não é outorgada, mas também não é democrática, ainda que criada com participação popular. São formadas por plebiscito popular sobre um projeto elaborado por um Imperador (plebiscitos napoliônicos) ou Ditador (plebiscito de Pinochet, no Chile). A participação popular, nesses casos, não é democrática, pois visa apenas ratificar a vontade do detentor do poder. 
 
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QUANTO À ESTABILIDADE
 
RÍGIDAS – É aquela somente alterável mediante processos, solenidades e exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis que os de formação das leis ordinárias ou complementares. 
 
FLEXÍVEIS – É aquela que pode ser livremente modificada pelo legislador segundo o mesmo processo de elaboração das leis ordinárias. Na verdade, a própria lei ordinária contrastante muda o texto constitucional.
 
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SEMI-RÍGIDAS – É aquela que contém uma parte rígida e outra flexível, como fora a Constituição do Império do Brasil, à vista de seu Art. 178, nestes termos: “É só constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições respectivos dos poderes políticos, e aos direitos políticos e individuais dos cidadãos; tudo o que não é constitucional pode ser alterado, sem as formalidades referidas (nos arts. 173 a 177), pelas legislaturas ordinárias”.
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Referências Bibliográficas:
BASTOS, Celso. Curso de Direito Constitucional. 7. Ed., São Paulo: Saraiva, 1984.
FACHIN, Zulmar. Curso de Direito Constitucional. 7. ed., Rio de Janeiro : Forense, 2015.
FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 7. ed., São Paulo : Saraiva, 1995.
LASSALE, Ferdinand. Que é uma Constituição? Minelli: Campinas, 2003.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. 16 ed., São Paulo : Saraiva, 2012.
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional positivo. 16. ed., São Paulo : Malheiros, 1999.
TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 16. ed., São Paulo: Malheiros, 2000.

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