Buscar

O Enigma de Kaspar Hauser

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

O Enigma de Kaspar Hauser 
 
 
 
Resenha Critíca do filme 
 
Kaspar vivia em um calabouço sem contato com outros homens, desconhecia a fala, 
uma casa ou uma árvore. Até que um homem entrou no local, onde ele vivia e 
abandonou-o em Nuremberg, onde Hauser teve seu primeiro contato com a 
sociedade. 
O filme trata-se de uma questão que relaciona língua, pensamento, conhecimento e 
realidade. Para Kaspar a linguagem não tem a mesma serventia que teria para o 
homem comum, para o indivíduo ocidental envolto em uma sociedade mais ou 
menos padrão. Kaspar Hauser não tem o desenvolvimento dito normal, não aprende 
a realidade por meio do conhecimento para depois relacioná-la com a linguagem, 
traduzindo experiência em língua, vivência em lembrança, realidade em ficção. Para 
ele o caminho é o inverso, tem de retirar da ficção que não conhece a realidade que 
não presenciou, da lembrança que não é sua a vivência que não passou, da língua 
que não domina a experiência que não possui. Kaspar Hauser é uma espécie de 
avesso, de reflexo contrário. 
A socialização primária e secundária. Na primeira, que consiste durante a infância, 
quando esta assume papéis desempenhados pelos seus próximos, através da 
imitação, não é revelada inicialmente no filme de Kaspar Hauser, já que este não 
aprendeu durante a sua infância, o uso da voz, a possibilidade de diálogo, a 
construção de uma mensagem calculada em outra mensagem recebida, a 
transmissão no tempo e no espaço. Essa socialização primária ocorre tardiamente, 
como nas cenas, em que Kaspar observa e passa a imitar os hábitos básicos, como 
se alimentar utilizando talheres e obter o desenvolvimento de suas percepções. Já a 
segunda, refere-se ao respeito às regras externamente elaboradas e generalizadas. 
Essa socialização secundária é verificada nas cenas, em que Kaspar é ensinado a 
escrever e a tocar piano. Além disso, Kaspar é induzido a aceitar a presença de 
Deus. 
Kaspar Hauser foi criado no isolamento e privado de educação, condicionamento e 
repressão, é este processo de integração que Kaspar Hauser sofrerá em 
Nuremberg, e seu instrumento principal será a linguagem, pela qual a sociedade 
tentará fazê-lo conceber aquilo que sua natureza não concebe: a representação. 
A forma como Kaspar Hauser compreende o mundo e se relaciona com ele indica 
que a percepção depende, sobretudo, da prática social. Durante o decorrer do filme, 
fica evidente que o sistema perceptual de Kaspar está desemparelhado de uma 
prática social, necessária para gestar o referencial cultural de interpretação da 
realidade. Kaspar Hauser não passou por um processo de socialização, onde 
exercitaria a compreensão através da prática social, não consegue atribuir 
significado às coisas, mesmo tendo adquirido a linguagem, posteriormente. 
Somente depois de muito tempo convivendo com a comunidade de Nuremberg é 
que Kaspar Hauser começa a entender a relação simbólica e a relação de 
representatividade entre os signos e as coisas concretas. 
A partir do momento em que Kaspar percebe a diferença entre o sonho e a 
realidade, verifica-se um enorme progresso, já que antes ele acreditava que as 
coisas sonhadas haviam acontecido realmente. Com isso, infere-se que Kaspar 
começa a se situar em relação ao mundo e às pessoas que o cercam. Parece tomar 
consciência de que era diferente dos outros e que, por isso, muitas vezes, era 
hostilizado. 
O caso de Kaspar Hauser serve para ilustrar o erro básico de uma organização 
social fundada sobre os princípios do racionalismo positivista. 
Mostra-nos que a “humanização” do homem entendida como socialização, não é 
uma decorrência biológica da espécie, mas consequência de um longo processo de 
aprendizado com o grupo social. 
Através desse processo, o indivíduo se integra no grupo em que nasceu assimilando 
o conjunto de hábitos e costumes característicos desse grupo. Participando da vida 
em sociedade, aprendendo suas normas, valores e costumes, o indivíduo está se 
socializando, reprimindo suas características instintivas e animais, e desenvolvendo 
as sociais e culturais, fazendo, assim, a “passagem da natureza para a cultura”. 
Segundo Blikstein a educação não passa de uma construção semiológica que nos 
dá a ilusão da realidade; ou seja, a educação vai estimulando na criança um 
processo de abstração. É justamente esse processo que K. Hauser não vivenciou. 
Em suma, Kaspar Hauser parece não entender as explicações que lhe dão. As 
pessoas impõem todos os tipos de signos a ele, na certeza de que compreenderá o 
insólito ambiente que o cerca.

Outros materiais