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Locke - Tratado sobre governo civil

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Locke – Ensaio sobre o governo civil
Locke utiliza sua formação religiosa para fazer uma comparação sobre o governar. Ele lembra que os homens são criaturas de Deus e devem se lembrar disso quando se organizarem politicamente.
Locke defende que o homem nasce em um estado natural de perfeita liberdade de dirigir as suas ações, dispor dos seus bens e pessoas segundo lhe aprouver, observando simplesmente os limites da lei natural, sem pedir licença, ou depender da vontade de pessoa alguma. Trata-se do direito e do dever de cada homem de se preservar a si próprio e a todos os demais, o máximo possível. O filósofo não deixa lugar a dúvidas quanto ao direito da natureza que a todos assiste de se defenderem de agressões violentas. 
Locke opõe-se aqui claramente a Thomas Hobbes, para quem o homem, no estado de natureza, não é sociável, sendo “lobo para o homem”. Para Locke, o homem é animal político, a sociabilidade faz parte da sua natureza. O estado de natureza é social e político. 
Locke acreditava no direito da humanidade aos bens da natureza. Segundo essa crença, ao homem é facultado o direito de possuir coisas. O filósofo postulou que “cada homem tem uma propriedade em sua própria pessoa”, de forma tal que “o trabalho do seu corpo e a obra de suas mãos” lhe pertencem. Consequentemente, tudo aquilo que o homem retirar “do estado em que a natureza o proveu e deixou, mistura-o com o seu trabalho (...), transformando-o em sua propriedade”. A propriedade, no entanto, no seu conceito, não era ilimitada; restringia-se, nas suas origens, ao que o homem e a sua família pudessem consumir ou usar, sendo vedado o desperdício e jamais ser instrumento de opressão.
Ainda que tenhamos a lei da natureza por guia e possamos, mediante o uso da razão, conhecê-la, no entanto, para indivíduos propensos ao mal, essa lei pode ser usada como desculpa para negar os direitos essenciais aos outros. Nesse momento há a necessidade de um juízo autorizado para impedir esses abusos. Essa deficiência do estado de natureza é que incentivou o homem a reunir-se em sociedade. Isso não quer dizer que, como mencionou Hobbes, “o homem se encontre em estado de guerra com os seus semelhantes, antes do seu ingresso em sociedade”.
De acordo com Locke os homens estavam bem no estado de natureza; porém, achavam-se expostos a certas situações inconvenientes que ameaçavam agravar-se. No estado de natureza, cada um é juiz em causa própria. Nesse estado natural faltam leis constituídas e conhecidas, recebidas e aprovadas por anuência comum; juízes reconhecidos e imparciais; um poder coercitivo, capaz de assegurar a execução dos juízos decretados. Tudo isso se encontra no estado de sociedade e foi para beneficiarem-se de tais aprimoramentos que os homens decidiram mudar de estado.
Esta mudança só pode operar-se por concordância mútua para poder instituir o corpo político. “Sendo todos os homens naturalmente livres, iguais, independentes, nenhum pode ser tirado desse estado e submetido ao poder político de outrem, sem o seu próprio consentimento, pelo qual pode convir, com outros homens, em agregar-se e unir-se em sociedade, tendo em vista a conservação, a segurança mútua, a tranquilidade da vida, o gozo sereno do que lhes cabe na propriedade, e melhor proteção contra os insultos daqueles que desejariam prejudica-los.”
“De tal modo que todo aquele que deu origem a uma sociedade política, e que a estabeleceu, não é mais do que o consentimento de certo número de homens livres, capaz de ser representado pela maioria deles; é isto e só isto, que pode ter dado inicio, no mundo, a um governo legítimo.”
O homem no estado de natureza tem duas classes de poderes; no estado civil deles se despoja, em favor da sociedade que os herda. Primeiramente, o homem tem poder de fazer tudo quanto julga apropriado para sua conservação e de todos à sua volta; de tal poder ele se priva, para que seja regulamentado e gerido pelas leis da sociedade, “que, em muitos pontos, restringem a liberdade que se tem pelas leis da natureza”. Em segundo lugar tem o poder de punir os atentados contra as leis naturais, isto é, o poder de usar a sua força natural para qual essas leis sejam executadas conforme julgar apropriada; de tal poder ele se abstém para assessorar e fortalecer o poder executivo de uma sociedade política.
A sociedade possui dois poderes essenciais: o legislativo, que determina como empregar as forças do estado para a conservação da sociedade e de seus membros; o executivo, que assegura a execução das leis positivas. Existe ainda um terceiro poder que Locke chama de confederativo, que age no exterior, normalmente vinculado ao executivo, responsável pelos tratados de paz e guerra. Os poderes legislativo e executivo devem encontrar-se em diferentes mãos. O poder executivo deve estar sempre a postos para fazer executar as leis; já o poder legislativo não precisa, pois não é adequado legislar constantemente. Há outra razão, esta psicológica: é a tentação de abusar do poder, que se apoderaria dos que tivessem nas mãos ambos os poderes.
Segundo Locke, em todos os estados, a primeira e fundamental lei positiva é a que estabelece o poder legislativo, devendo este, assim como as leis fundamentais da natureza, abordar a conservação da sociedade. O legislador é o supremo poder, é sagrado, “não poderá ser arrebatado daqueles a quem uma vez foi entregue”. Poder Legislativo é a alma do corpo político, da qual todos os membros do estado extraem tudo quanto lhes é necessário à conservação, união e felicidade. O poder executivo é subordinado às ordens do legislativo, que o limitaria numa tarefa subalterna de execução. 
Os direitos naturais dos homens, segundo Locke, não desapareceram em decorrência da anuência da sociedade, ao contrário, subsistem para limitar o poder social e fundar a liberdade. Se os homens deixaram o estado de natureza, que não era de todo ruim, apesar de alguns inconvenientes, foi para se sentirem melhor, para se perceberem mais seguros, ter maior liberdade e proteção à propriedade, mal garantidas no estado de natureza. Nunca se deve supor que o poder da sociedade, personificado no mais alto grau pelo legislativo, deva estender-se mais longe do que o exige o bem público. Tendo por fim exclusivo a conservação, “não lhe caberia jamais o direito de destruir, de escravizar, ou de empobrecer, propositadamente qualquer súdito; as obrigações das leis da natureza não cessam de maneira alguma na sociedade, tornando-se até mais fortes, em muitos casos.”
O povo, união dos indivíduos que aceitaram unir-se para formar a sociedade – confia tanto no legislativo como no executivo para a realização do bem público. O poder é um depósito confiado aos governantes em proveito do povo. Se o governante, independente de quem seja, age de maneira contrária ao bem público – finalidade para a qual havia recebido a autoridade, o povo retira sua confiança e retoma a soberania inicial para confiá-la a quem lhe aprouver. O povo mantém sempre uma soberania potencial em reserva; é ele o detentor do verdadeiro poder soberano. “Locke destaca que, como criaturas racionais, não podemos submeter as nossas pessoas a ninguém”. Enquanto a situação corre normal, o povo abandona ao Estado o exercício de seu poder soberano.
E quando o Legislativo age contrário ao que lhe foi atribuído, o juiz é, sempre, para Locke, o povo, o único depositário perene do poder e da soberania.

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