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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA DEPARTAMENTO DE PLANTAS DE LAVOURA Manejo da cultura do milho para altos rendimentos de grãos Dr. Claudio M. Mundstock Prof. Paulo Regis F. da Silva Porto Alegre-RS - 2005 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA DEPARTAMENTO DE PLANTAS DE LAVOURA Manejo da cultura do milho para altos rendimentos de grãos Dr. Claudio M. Mundstock Colaborador Convidado, atuando junto ao Departamento de Plantas de Lavoura da Faculdade de Agronomia da UFRGS. Bolsista do CNPq. Prof. Paulo Regis F. da Silva Professor Adjunto do Departamento de Plantas de Lavoura da Faculdade de Agronomia da UFRGS. Bolsista do CNPq. 4 CATALOGAÇÃO INTERNACIONAL NA PUBLICAÇÃO M965m Mundstock, Claudio Mário Manejo da cultura do milho para altos rendimentos de grãos / Claudio Mário Mundstock; Paulo Regis F. da Silva — Porto Alegre : Departamento de Plantas de Lavoura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul : Evangraf, 2005. 51 p. 1. Milho : Grão : Prática cultural : Rendimento. I. Silva, Paulo Regis F. da. II. Título. CDD: 633.15 CDU: 633.15 Catalogação na publicação: Biblioteca Setorial da Faculdade de Agronomia da UFRGS 5 SUMÁRIO Apresentação ................................................6 O que são lavouras de altos rendimentos de grãos? .....................................................8 Evolução dos altos rendimentos de grãos ..............9 Qual o potencial para altos rendimentos de grãos no Rio Grande do Sul? ............................ 11 Principais mudanças nos sistemas de cultivo ........ 17 Principais mudanças na genética da cultura ......... 21 Principais mudanças na nutrição da planta .......... 27 Principais mudanças na época de semeadura ....... 32 Principais mudanças no arranjo de plantas .......... 35 Principais mudanças na mecanização da lavoura ... 40 Principais mudanças nos tratamentos fitossanitários ............................................. 41 Por que da necessidade de obtenção de altos rendimentos? ........................................ 46 6 APRESENTAÇÃO Esta publicação apresenta informações sobre a evo- lução dos rendimentos de grãos de milho no estado do Rio Grande do Sul, discute o cenário atual da produção deste cereal e fornece subsídios para tomada de decisão pelos participantes da cadeia de produção, em especial os produtores rurais. O milho é uma cultura tradicional no Sul do Brasil, sendo essencial para as populações indígenas que aqui habitavam e para os colonos que posteriormente chega- ram, especialmente a partir do século XIX. O grão é utilizado diretamente na alimentação humana através da farinha, amido, milho verde, milho pipoca, óleo e outras formas de menor importância. A maior demanda de grãos é para elaboração de rações para animais, com predominância para aves, suínos e gado leiteiro e, se- cundariamente, para outras espécies. Além disso, a planta é utilizada como forragem diretamente com a colheita das partes verdes, seja na forma de silagem de planta inteira ou de silagem de grão úmido. O milho foi inicialmente cultivado extensamente em pequenas propriedades, com utilização “in situ” dos grãos para alimentação animal. Com a criação intensiva de aves e suínos em grandes lotes, fora das propriedades agrícolas que produzem milho, a expansão da cultura ocorreu em propriedades de porte médio que se dedica- vam ao cultivo do cereal para comércio de grãos. Nes- tas, além da importância como fonte de renda, a cultu- ra do milho foi essencial para viabilização do sistema plantio direto, devido à sua elevada produção de palha. A opção pelo cultivo do milho nas propriedades agrí- colas passa pela preocupação sobre a sua rentabilidade. 7 O retorno econômico aumentou quando os rendimentos de grãos foram incrementados após a adoção de infor- mações técnicas mais apropriadas, o uso intensivo de insumos (adubos e defensivos), o avanço da genética, que colocou no mercado cultivares híbridas e, ainda, pelo aperfeiçoamento verificado na eficiência do maquinário agrícola. Este conjunto de ações criou níveis diferencia- dos de manejo e, conseqüentemente, diferentes expec- tativas de rendimentos de grãos, pela adoção parcial ou total dos avanços colocados à disposição do produtor. A decisão de utilizar as técnicas disponíveis depende da expectativa de rendimento possível de ser alcançado em cada região, da capacidade de investimento de cada pro- dutor e do possível retorno econômico do capital investi- do. As informações aqui contidas colocam à disposição dos diferentes segmentos envolvidos na cadeia produtiva do milho, os resultados dos principais avanços tecnológicos disponíveis para facilitar a tomada de decisão ao se pla- nejar a lavoura visando altos rendimentos e maior ren- tabilidade econômica. 8 O QUE SÃO LAVOURAS DE ALTOS RENDIMENTOS DE GRÃOS? O rendimento de grãos de uma lavoura de milho é considerado “alto” quando, na condição do local de cul- tivo, ele sobressai ao do das demais lavouras de produ- ção. Nas principais regiões de cultivo de milho do Sul do Brasil, os mais altos rendimentos de lavouras variam de 12 a 13 t.ha-1. Em regiões com alguma restrição de fa- tores meteorológicos (radiação solar, precipitação pluvi- al e/ou temperatura) ou de solo, os “altos rendimentos” são menores. Nestas regiões, muitas vezes, os produto- res não adotam toda a tecnologia utilizada em outras regiões, em razão de maiores riscos edafoclimáticos para a cultura. As estratégias de manejo para estes locais devem ser diferenciadas para que a cultura se viabilize economicamente. Os altos rendimentos alcançados em lavouras são, em geral, menores do que aqueles obtidos em condições experimentais, por sofrerem uma série de percalços tí- picos do local de cultivo como desuniformidade da área (fertilidade e condições físicas do solo, compactação, em especial), desuniformidade na semeadura e na apli- cação de tratos culturais (herbicidas e inseticidas), ação do vento (acamamento) ou umidade irregular do solo (zonas altas e baixas da lavoura). É importante ressaltar a alta dependência das la- vouras de milho das condições meteorológicas, em es- pecial dos fatores radiação solar, temperatura do ar e precipitação pluvial. As variações de rendimento de grãos entre épocas de semeadura e entre anos estão alta- mente relacionadas a diferenças observadas nestes fa- tores. 9 Assim, o conceito de alto rendimento de grãos é variável conforme o local e o ano em que se considera o cultivo. Para um mesmo local (propriedade agrícola), a meta de se obter continuamente altos rendimentos de- pende da estratégia de manejo que o produtor vai ado- tar na condução da lavoura. * * * EVOLUÇÃO DOS ALTOS RENDIMENTOS DE GRÃOS Os rendimentos médios de grãos no Brasil nos últi- mos 20 anos (Figura 1) e no Estado do Rio Grande do Sul nos últimos dez anos (Figura 2) cresceram graças à ado- ção de tecnologias mais avançadas, geradas principal- mente pela pesquisa agrícola. Some-se a isso, o incre- mento no uso de insumos e o aperfeiçoamento de má- quinas agrícolas. Embora os valores médios do País e do Estado sejam baixos, o avanço da produtividade indica que muitas lavouras já atingem patamares próximos a 10 t.ha-1. No estado do Rio Grande do Sul, os rendimentos de grãos de milho evoluíram continuamente, especial- mente desde a metade do século passado. Os princi- pais fatores para elevação da produtividade foram: adoção de cultivares com maior potencial de rendi- mento, maior uso de fertilizantes e defensivos, má- quinas agrícolas mais eficientes e adoção do sistema de plantio direto na palha, com rotação de culturas. O uso destas ferramentas só foi possível através da geração de informações técnicas graças ao eficiente 10 Figura 1. Área,produção e produtividade do milho no Brasil nos últimos 20 anos Fonte: Glat, D. Pioneer Sementes (2004). Figura 2. Área, produção e produtividade de milho no Estado do Rio Grande do Sul nos últimos 10 anos. Fonte: Dóro, C. - EMATER (RS). 2004. 11 sistema de pesquisa realizada por diversas instituições públicas e privadas. No início da colonização, os rendimentos de grãos raramente ultrapassavam 1.500 kg.ha-1 e só nas primei- ras décadas do século passado observou-se aumento da produtividade, devido à introdução de cultivares mais produtivas. A adoção conjunta de cultivares melhoradas e de insumos e técnicas de cultivo adequadas fez com que os rendimentos das lavouras passassem a ser progressiva- mente mais elevados, década após década. A evolução das técnicas de manejo da lavoura e do uso de cultiva- res adequadas é sintetizada na Tabela 1, com a produ- tividade média obtida nas melhores lavouras em cada década. * * * QUAL O POTENCIAL PARA ALTOS RENDIMENTOS DE GRÃOS NO RIO GRANDE DO SUL? Altos rendimentos de grãos de milho resultam do su- cesso em se utilizar os fatores do meio com máxima eficiência, minimizando as causas adversas ao cresci- mento e desenvolvimento da cultura. Esta complexa equa- ção é dependente, principalmente, de três fatores meteorológicos (radiação solar, temperatura do ar e dis- ponibilidade hídrica). O entendimento da obtenção de alto rendimento de grãos passa pela análise de cada um destes fatores, que interagem entre si. 12 13 Radiação solar: na estação de crescimento do milho, o estado do Rio Grande do Sul apresenta alta radiação solar, considerando a sua latitude. As médias mensais para os municípios de Passo Fundo (Planalto Médio) e Eldorado do Sul (Depressão Central) são apresentadas na Tabela 2. Tabela 2. Radiação solar global média mensal (cal.cm2 dia-1) em dois locais do Estado do Rio Grande do Sul. 1 Período agosto a maio de 1957 a maio de 1984. Fonte: Instituto de Pesqui- sas Agronômicas, 1989. 2 Período agosto a maio de 1969 a maio de 1988. Fonte: Bergamaschi et al., 2003. Clima da Estação Experimental da UFRGS. O aproveitamento ideal da radiação solar se dá quando coincide o pré-florescimento e o enchimento de grãos da cultura com o período de mais alta radiação, que ocorre de meados de novembro a meados de fevereiro. Isso é possível quando se cultiva milho sob irrigação suplemen- tar ou em regiões com adequadas disponibilidade e dis- tribuição hídrica na estação de crescimento. 14 Disponibilidade hídrica: a média mensal da pre- cipitação pluvial no Rio Grande do Sul é de 100 a 120mm. No entanto, é freqüente a ocorrência de períodos de 10 a 20 dias sem precipitação e, quando eles ocorrem, reduzem os rendimentos, especialmen- te se coincidirem com o período crítico de sensibili- dade da cultura à deficiência hídrica (pré- florescimento ao enchimento de grãos) nos meses de dezembro e janeiro. A Tabela 3 mostra duas situações em que o milho foi afetado por falta de água. Na primeira (1998/99) ocorreu uma estiagem, mas uma precipitação de 46,8mm de chuva no período crítico garantiu rendi- mento de 8,52 t.ha-1, no tratamento sem irrigação. Em 2002/03, também houve estiagem, mas durante o período crítico não houve precipitação, o que redu- ziu o rendimento para 1,35 t.ha-1 no mesmo trata- mento. Tabela 3. Rendimento de grãos de milho irrigado e não irrigado. EEA/UFRGS, Eldorado do Sul-RS. Fonte: Bergamaschi et al. Pesq. Agropec. Bras., v.39, n.9, p.831-839, 2004. 15 O aproveitamento ideal da precipitação pluvial ocor- re adequando-se a época de semeadura para fazer coin- cidir a maior radiação solar com a menor probabilidade de falta de umidade nos períodos críticos da cultura. Temperatura do ar: de uma forma geral, o milho responde muito bem a altas temperaturas, desde que haja suficiente umidade de solo. Na grande região pro- dutora de milho do Rio Grande do Sul (metade norte), as temperaturas médias do ar são mais elevadas do que nas regiões de menor altitude. Assim, no município de Vaca- ria (região de Campos de Cima da Serra) as temperatu- ras do ar são mais baixas do que em São Borja (região das Missões).. O conceito de que regiões de maior alti- tude são mais favoráveis ao cultivo do milho por ter menores temperaturas noturnas (menor respiração no- turna) é válido para genótipos com esse tipo de respos- ta. Atualmente, este conceito já não se aplica de forma generalizada, pois a mudança na base genética adaptou cultivares a situações de ambientes mais quentes (tem- peraturas diurnas e noturnas). Com efeito, o recorde de produtividade de milho (17,2 t.ha-1) obtido em condi- ções experimentais por Silva et al. (XXV Congr. Nac. Mi- lho, Cuiabá-MS, 2004 CD-Rom) foi registrado no municí- pio de Eldorado do Sul, numa região com altas tempera- turas noturnas (Depressão Central). A interação adequada entre os três fatores meteorológicos analisados determina os mais altos ren- dimentos de grãos para cada região. O fator água é menos limitante nas regiões do Planalto Médio e Campos de Cima da Serra, que obtém os mais altos rendimentos por combinarem adequada disponibilidade deste fator com época ideal de semeadura e com bom aproveita- mento da radiação solar. A adoção de irrigação suple- 16 mentar, em anos de baixa precipitação pluvial, associa- do ao uso de maior adubação, faz com que as demais regiões do Estado também tenham potencial similar para produzir altos rendimentos, pois nelas a radiação solar e a temperatura do ar não são limitantes à obtenção de altos rendimento de grãos. A potencialização do uso dos recursos do ambiente só pode ser expressa em cultivares adequadas. As pri- meiras populações crioulas do RS não apresentavam bom potencial de rendimento, uma vez que eram selecionadas em função de sua adequação aos siste- mas de consórcios e à tolerância a fatores adversos. Com o processo de melhoramento genético, inicial- mente com o desenvolvimento de cultivares sintéticas e, depois, dos híbridos, surgiram cultivares capazes de utilizar eficientemente os fatores do meio e de tolerar densidades de plantas mais elevadas. As dife- renças de potencial de rendimento de grãos entre as cultivares de população aberta melhoradas, sintéticas, os híbridos duplos e os híbridos simples, quando culti- vadas em condições de alto nível de manejo, evidenci- am a evolução da genética utilizada nos programas de melhoramento de milho. O Departamento de Plantas de Lavoura, através dos professores Claudio Mario Mundstock e Paulo Regis Ferreira da Silva, realiza há mais de quatro décadas estudos sobre rendimento potencial num mesmo ambi- ente, na Estação Experimental Agronômica da UFRGS, no município de Eldorado do Sul, região ecoclimática da Depressão Central do Estado do Rio Grande do Sul. Es- tes estudos mostram que, já na década de 1970, havia híbridos com alto potencial de rendimento. A partir daí houve uma estagnação no potencial de rendimento, como é visto na Tabela 4. Os híbridos de maior produti- 17 Tabela 4. Rendimentos máximos de grãos de milho obtidos no período de 1968/69 a 2003/04 em experimentos conduzidos sob condições de alto nível de manejo (época de semeadura ideal, irrigação suplementar, elevadas adubação e densidade de plantas) na EEA/UFRGS, Eldorado do Sul-RS. 1/ Estação de crescimento em que não foi realizada irrigação suplementar. 18 vidade só começaram a surgir no mercado na década de 1990, frente a demanda dos produtores devido à melhoria das condições de solo (aumento da fertilida- de), ao uso de sistemas de rotação e sucessão de cultu- ras em plantio direto e de densidades mais altas e da redução do espaçamento entrelinhas. * * * PRINCIPAIS MUDANÇAS NOS SISTEMAS DE CULTIVO O sistema de cultivo compreende o complexo de técnicas adotadas para manejo de cada cultura nas suasinterações com outras culturas (rotação e su- cessão cultural), com os resíduos culturais e com o preparo de solo. Ele é o componente mais complexo na determinação do rendimento de grãos, sendo seus efeitos visíveis somente algum tempo após a adoção do sistema escolhido. O sistema de cultivo é o princi- pal determinante para obtenção de altos rendimen- tos de grãos e não deve ser alterado de ano para ano, pois tem efeito cumulativo nos benefícios às culturas. O sistema inicialmente adotado no Rio Grande do Sul foi aquele em que o milho era cultivado em consórcio com outras culturas (mandioca, soja e feijão, principal- mente), com preparo de solo à tração animal e com época de semeadura diferenciada para cada cultura. Os mais altos rendimentos não ultrapassavam 3.000 kg.ha-1 de grãos. 19 Com a introdução da mecanização na agricultura, os sistemas consorciados, especialmente utilizados em pe- quenas áreas de cultivo, deixaram de ser usados, mas o preparo do solo continuou sendo do tipo convencional (aração mais gradagens), com enterrio de resíduos e controle mecanizado de plantas daninhas. As lavouras produziam, no máximo, até 6.000 kg.ha-1, devido à fal- ta de rotação e sucessão de culturas e de cuidados com o solo. Estes rendimentos eram conseguidos com maior uso de adubos químicos e de cultivares mais produtivas. O sistema propiciava bom controle de fungos necrotróficos, mas a limitação dos fatores edáficos tor- nava inefetiva a adoção de outras técnicas, como o uso de alta densidade de plantas, pela baixa capacidade de resposta do sistema. O atual sistema de cultivo, iniciado ao final da déca- da de 70 mas plenamente adotado no início da década de 90, está baseado no plantio direto na palha, sem revolvimento do solo e na adoção de sistemas de rotação e sucessão cultural adequados. Houve redução drástica da erosão e progressiva melhoria das condições físicas e químicas do solo. Com isto, foi possível adotar de forma mais efetiva outras técnicas de cultivo que resultaram em aumento do rendimento de grãos, como, por exem- plo, o uso de cultivares com maior potencial de rendi- mento, de densidade de plantas mais elevada e espaçamento entrelinhas reduzido. A sucessão e a rotação cultural são os pontos funda- mentais no sistema de produção com plantio direto na palha. A adoção deste sistema propiciou a elevação dos rendimentos de grãos que, pela primeira vez, ultrapas- saram 10 t.ha-1, em grande número de lavouras. Os efeitos de uma cultura sobre a outra não eram visualizados de forma clara quando havia o revolvimento 20 do solo. Já no sistema de plantio direto, há forte reflexo de uma cultura sobre a outra. Isto pode ser visualizado na Tabela 5, que mostra os efeitos de diferentes espéci- es de inverno, seja em cultivos solteiros ou consorcia- dos, sobre o milho cultivado em sucessão. Tabela 5 – Rendimento de grãos de milho (t.ha-1) cul- tivado em sucessão a três espécies de cobertura de solo no inverno, em cultivos solteiros e consorciados, sob dois níveis de aplicação de nitrogênio. Eldorado do Sul-RS, 2001/2002. Fonte: Suhre et al. XXV Congr. Nac. Milho, Cuiabá-MT, 2004. CD-Rom. 21 Os efeitos decorrentes dos sistemas de rotação e sucessão de culturas são devidos à contribuição das cul- turas anteriores na estruturação e na fertilidade do solo, na ciclagem de nutrientes da resteva, na rapidez com que ela se degrada e nos seus efeitos sobre o desenvolvi- mento do milho cultivado em sucessão, de forma ainda não bem esclarecida. A produção de grãos no atual sistema de cultivo é muito dinâmica e intensiva, pois exige o cultivo de duas espécies por ano (inverno e verão). A adequação do ciclo das culturas é fundamental para atender à sua melhor época de semeadura. O uso de sistemas de ro- tação e sucessão de culturas, além da proteção do solo com palhada para controle da erosão, é importante para manter relativo controle da população de microorganismos, especialmente os necrotróficos, que também podem atacar o milho e outras espécies usa- das no sistema. * * * PRINCIPAIS MUDANÇAS NA GENÉTICA DA CULTURA O potencial genético de uma dada cultivar de milho é fundamental para obtenção de altos rendimentos de grãos, que são alcançados junto com a melhoria do ambiente e das condições de manejo da cultura. Os recursos genéticos do milho à disposição do agricultor variaram muito ao longo das últimas décadas. As prin- cipais marcas dessa mudança foram: a) substituição de 22 populações crioulas por populações melhoradas (déca- das de 1930 a 1950); b) adoção de híbridos duplos nas décadas de 1950 e 1960 e c) adoção de híbridos simples e triplos, de alta produtividade, a partir da década de 1990. A seguir serão discutidos algumas características de planta que determinaram o aumento do rendimento de grãos em cada uma destas três etapas: 1º) Introdução de populações abertas melhoradas O início do século XX foi marcado pelo forte inter- câmbio de material genético com pesquisadores de ou- tras regiões do País, especialmente do Estado de São Paulo. Na época, o Brasil também introduziu cultivares de outros países, especialmente dos Estados Unidos, que formaram a base de desenvolvimento de populações mais produtivas que as antigas populações crioulas. São, des- ta época, o desenvolvimento das cultivares Asteca, Caiano e outras. Este intercâmbio genético resultou em incremento do rendimento de grãos devido à melhoria das caracte- rísticas morfo-fisiológicas da planta. A principal delas foi a maior uniformidade entre plantas, especialmente em estatura, altura de inserção da espiga e tamanho de espiga. Estas populações toleravam densidades um pou- co mais altas que as anteriores, o que elevou os rendi- mentos de grãos. 2º) Adoção de híbridos duplos A década de 1950 assistiu a uma das maiores revolu- ções no melhoramento genético pela introdução comer- 23 cial de híbridos duplos de milho. O Rio Grande do Sul foi um dos estados pioneiros e contava, na época, com dois programas de melhoramento. Um deles foi o da Secre- taria de Agricultura do RS, na Estação Experimental de Veranópolis, liderado pelo Dr. José Veríssimo de Oliveira. Ali foram selecionados os híbridos SAVE, de larga reper- cussão no Estado até as décadas de 1970 e 1980. Outro programa importante foi o da empresa AGROCERES, no município de Não Me Toque, sob a liderança do melhorista Dr. José Mattos.Os híbridos AG foram e são ainda exten- samente cultivados nas principais regiões produtoras de milho no Estado. As principais características daqueles híbridos du- plos, que determinavam altos rendimentos, foram to- lerância a maior densidade de plantas e maior unifor- midade entre plantas no tamanho de espiga, estatura de planta e altura de inserção de espiga. Os aumentos no número de grãos por espiga (espigas maiores) e na densidade de plantas foram os principais fatores res- ponsáveis pelo incremento do potencial de rendimento de grãos verificado com a introdução de híbridos du- plos. Os híbridos duplos foram também comercializados por outras empresas privadas que se instalaram no RS ao final da década de 1970 e na década de 1980. Muitos híbridos duplos ainda estão sendo comercializados e seu uso pode se constituir em boa opção para obtenção de rendimentos e retorno econômico elevados em casos es- pecíficos de manejo de lavouras. 3º) Adoção de híbridos simples A desativação do programa de produção de milho híbrido da Secretaria de Agricultura do RS e o ingres- 24 so de empresas privadas no mercado de sementes de milho caracterizaram as décadas de 1980 e 1990. A década de 1980 e a primeira metade da década de 1990 não trouxeram grandes avanços no potencial produtivo dos híbridos, se comparado com o potenci- al obtido com os materiais já disponíveis na década de 1970. A falta de introdução de híbridos mais pro- dutivosnas condições do RS inibiu a expansão de la- vouras de altos rendimentos. A situação somente foi revertida na segunda metade da década de 1990, com a introdução de híbridos simples e triplos de alto po- tencial de rendimento. Os primeiros híbridos simples, introduzidos no final da década de 1980, não apre- sentavam maiores vantagens sobre os bons híbridos duplos então disponíveis. A mudança na visão estra- tégica das empresas ao introduzirem híbridos simples adaptados às condições de ambiente do RS, especial- mente aos tipos de solo, aos estresses de água e de temperatura, responsivos à adubação química e a al- tas densidades de plantas, possibilitou a obtenção de rendi-mentos de grãos acima de 10 t.ha-1, a nível de lavoura. A evolução da melhoria genética é mostrada na Figura 3, que compara os rendimentos de grãos obti- dos por uma variedade sintética melhorada, um hí- brido duplo e um híbrido simples sob quatro níveis de manejo. Potencialmente, houve ganho genético com o passar do tempo e esse ganho é expresso mesmo em condições de baixo nível de manejo, contrarian- do um conceito generalizado de que sob condições de estresse, as populações abertas seriam melhores que os híbridos. 25 Figura 3 . Rendimento de grãos de milho de uma vari- edade sintética melhorada (VS), um híbrido duplo (HD) e um híbrido simples (HS), em quatro níveis de mane- jo, na média de quatro ambientes (dois anos em Eldorado do Sul-RS e dois anos em Lages-SC. * Os níveis de manejo diferiram quanto à adubação, suplementação hídrica, densidade de plantas e espaçamento entre linhas utilizados. Os níveis baixo e médio não receberam suplementação hídrica, enquanto os níveis alto e potencial receberam. A adubação e a densidade de plantas aumentaram à medida que aumen- tou o nível de manejo. O espaçamento entre linhas foi de 0,4 m somente no nível potencial, nos demais foi de 0,8 m. Fonte: Silva et al. e Horn et al. XXV Congr. Nac. Milho, Cuiabá - MT, 2004. CD-Rom * 26 O novo conceito de “alto rendimento” passa neces- sariamente pela adoção de híbridos de “alto potencial”, seja qual o rendimento final obtido. Esta mudança na conceituação se deve fundamentalmente à incorporação aos híbridos de características de maior eficiência na utilização dos fatores do meio, na conversão de sua massa seca em grãos e maior tolerância a estresses ambientais. Os fatores básicos de produtividade são a utilização máxima da radiação solar, combinada com temperatura do ar e disponibilidade hídrica adequadas. Para isso, é necessária a adoção de altas densidades de plantas para obter área foliar adequada para captar rapidamente a radiação incidente e mantê-la por longo período após o espigamento. A radiação é fator fundamental para fixa- ção de CO 2 no processo de fotossíntese e para produção de massa seca que, de forma eficiente, é convertida em grãos. Alta densidade de plantas só é suportada se o híbrido tolera alta competição entre plantas, conseguin- do emitir espiga e produzir grãos. Estes aspectos morfo- fisiológicos da planta foram as características que mais se modificaram na última geração de híbridos. De uma maneira geral, estas características já vinham sendo al- teradas ao longo do tempo, o que permitiu o aumento na densidade de plantas. No entanto, além da maior tolerância à competição entre plantas, observou-se que houve também a incorporação de maior capacidade pro- dutiva em situações em que a lavoura é submetida a outros tipos de estresses, como os de água ou nutrien- tes. Isto pode ser constatado na Figura 3, quando se comparam cultivares de diferentes épocas, sob níveis de manejo tecnológicos distintos. Cabe analisar o conceito, em voga, de utilizar culti- vares de populações abertas ou híbridos de baixo poten- cial em lavouras de média ou baixa produtividade de 27 grãos com justificativa de que se trata de materiais “rústicos”, com alta tolerância a estresses ambientais. O uso de híbridos simples modernos, de alto potencial, nestas situações mostra que eles também são mais adap- tados e mais tolerantes a estes estresses que as antigas populações. O maior custo de semente destes híbridos pode, na maioria das situações, ser compensado pelo aumento obtido na produtividade de grãos. * * * PRINCIPAIS MUDANÇAS NA NUTRIÇÃO DA PLANTA Altos rendimentos de grãos só são atingidos quando o solo for capaz de: a) armazenar suficiente água para que pequenos períodos sem precipitação pluvial não se- jam prejudiciais à planta, e b) suprir adequadamente as necessidades nutricionais das plantas. A alta exigência por nutrientes pode ser observada na Tabela 6, que mostra a quantidade de nutrientes absorvidos por uma lavoura que produz 10 t.ha-1 de grãos. A maioria dos nutrientes é absorvida entre a emer- gência e o espigamento do milho, a sua liberação pelo solo deve ser rápida e em quantidade suficiente. Estas quantidades raramente são supridas pela fertilidade na- tural dos solos do Rio Grande do Sul, sem a realização da adubação, seja química ou orgânica. Os solos das princi- pais áreas produtoras de milho são, em geral, deficien- tes em fósforo, e a matéria orgânica não é suficiente para suprir a necessidade de nitrogênio desta cultura. 28 Tabela 6. Quantidade de macronutrientes extraída por uma lavoura de milho com rendimento de 10 t.ha-1 de grãos. Fonte: Hiroce et al., 1989. As recomendações de dose de adubação tem aumen- tado nos últimos anos em razão do incremento da pro- dutividade de grãos. Para atingir altos rendimentos são necessários que os nutrientes sejam colocados à disposi- ção da planta já a partir da semeadura. O sistema de plantio direto na palha modificou a recomendação de adubação pois considera não só os rendimentos espera- dos, como também a contribuição da cultura anterior, especialmente na adubação nitrogenada. A grande modificação na adubação está na interação entre as doses de nutrientes recomendadas e a espécie de cultura que antecede o milho. Esta interação é essen- cial para promover altos rendimentos. Isto pode ser vis- to na Tabela 5, quando a cultura antecessora é uma gramínea, uma leguminosa ou uma crucífera. A potencialização do rendimento só é conseguida quando 29 se cultiva o milho em sucessão a uma espécie que não seja gramínea. Este efeito interativo não é bem conhe- cido e não pode ser explicado apenas pelo aporte de nutrientes que a espécie antecessora fornece. O milho quando cultivado em sucessão a gramíneas (aveia preta, aveia branca, trigo, cevada), recebe menos nitrogênio pois há um processo de imobilização de N devi- do à alta relação C/N dos resíduos. A estratégia para minimizar os efeitos da imobilização são o aumento da dose de N aplicada na semeadura e o atraso na época de semeadura do milho após a dessecação destas espécies de cobertura no inverno, como pode ser visto na Tabela 7. Tabela 7. Rendimento de grãos de milho (t.ha-1) em função de dose de aplicação de nitrogênio e atraso na época de semeadura do milho após a dessecação como estratégias para reduzir os efeitos prejudiciais da aveia preta, em dois locais do Estado do Rio Grande do Sul, 1999/2000. Fonte: Argenta et al. Ciência Rural, v.29, n.4, p.587-593, 1999. 30 A adubação nitrogenada é especialmente importante na cultura do milho. Para cada tonelada de grãos produzi- da a planta necessita extrair 27,7 kg de N do solo (Tabela 6). A maioria dos solos do RS não consegue suprir as plan- tas com quantidades superiores a 80 kg.ha-1 de N, que é obtida da mineralização da matéria orgânica durante a estação de crescimento. Por esta razão, os estudos de suplementação nitrogenada mostram grande efeito do N sobre o rendimento, desde que o híbrido seja responsivo, o solo disponha de outros nutrientes minerais em quanti- dades satisfatórias e que a disponibilidade hídrica seja adequada durante a estaçãode crescimento da cultura. O aumento da eficiência de uso do N passa pelo supri- mento adequado nos períodos de maior demanda da plan- ta e redução das perdas por lixiviação de nitrato, devido a excessos de precipitação pluvial ou por volatilização, prin- cipalmente com a aplicação de uréia como fonte de N. Na tomada de decisão quanto à época de aplicação de N devem ser considerados vários fatores, destacando-se: textura e teor de matéria orgânica do solo, dose de N a ser aplicada, regime hídrico vigente durante a estação de crescimento e espécie e quantidade de massa seca da parte aérea da cobertura de solo no inverno. Para obtenção de altos rendimentos de grãos reco- menda-se maior parcelamento da aplicação de N em co- bertura em solos arenosos, com baixo teor de matéria orgânica, e/ou em situações com elevada precipitação pluvial ou em lavouras com irrigação suplementar. Tam- bém é recomendado em lavouras de milho em sucessão a gramíneas, a aplicação da primeira época de N mais cedo (estádio de quatro a cinco folhas expandidas) do que quando em sucessão a leguminosas (ervilhaca co- mum), conforme pode ser visto nas Tabelas 8 e 9, res- pectivamente. 31 TABELA 8. Rendimento de grãos de milho em suces- são à aveia preta em função de dose e época de apli- cação de N. Eldorado do Sul-RS. Fonte: Silva et al. XXV Congr. Bras. Milho. Cuiabá-MT, 2004. CD-Rom. TABELA 9. Rendimento de grãos de milho em suces- são à ervilhaca comum em função de dose e época de aplicação de N. Eldorado do Sul-RS. Fonte: Silva et al. XXV Congr. Bras. Milho. Cuiabá-MT, 2004. CD-Rom. 32 PRINCIPAIS MUDANÇAS NA ÉPOCA DE SEMEADURA O Rio Grande do Sul tem condições adequadas de clima e solo que permitem o cultivo de milho em todas as regiões ecoclimáticas. Em cada uma delas, os produ- tores escolhem as épocas de semeadura baseados em: a) riscos de deficiência hídrica nos períodos críticos; b) riscos de temperaturas baixas e de geada no início ou no fim da estação de crescimento e c) no sistema de rotação e sucessão de culturas adotado. Com isso, ob- servam-se, nas regiões mais quentes, semeaduras du- rante até sete meses no ano, desde julho até janeiro; em regiões mais frias, de outubro a início de dezem- bro. A ampla faixa de semeadura é geralmente adotada quando os rendimentos de grãos não são elevados. À medida que se deseja melhorar a produtividade de grãos, deve-se considerar com maior prioridade os fatores tem- peratura do ar e radiação solar, que devem ser altos durante o pré-florescimento e o enchimento de grãos. Com isso, a melhor época de semeadura de milho para o Rio Grande do Sul é a do mês de outubro, de forma que o florescimento ocorra em dezembro e o enchimento de grãos em janeiro e fevereiro. Esta recomendação deve ser adotada em regiões com baixo risco de deficiência hídrica em dezembro, janeiro e fevereiro, ou sob condi- ções de irrigação suplementar. Isto é mostrado na Figura 4, em que o milho foi semeado em três épocas, sob cinco níveis de manejo, durante dois anos (2001/02 e 2002/03). 33 Figura 4. Rendimento de grãos de milho em cinco níveis de manejo-1, em três épocas de semeadura, na média de dois anos, Eldorado do Sul-RS. -1 As diferenças entre níveis de manejo são as mesmas descritas na Figura 3. Fonte: Forsthofer, E.L. Dissertação de Mestrado do PPGFitotecnia, UFRGS, 2004. O produtor decide semear milho no início da estação de crescimento ou no seu final (safrinha) quando o risco de falta de água no verão é alto ou a seqüência de cultivos o obriga a esta decisão. Em um caso ou outro, em ambas as épocas, a lavoura não se beneficia de toda a radiação solar e, potencialmente, os rendimentos são mais baixos. A Figura 5 mostra para o milho implantado em duas épocas de semeadura, as disponibilidades de radiação solar e de temperatura do ar ao longo da esta- ção de crescimento do milho, na média do período de 1968 a 1977. 34 Figura 5. Temperatura média e radiação solar média dos anos 1968/77. Eldorado do Sul. SE- Semeadura EM- Emergência DP- Dif. Pendão EP- Espigamento MF- Mat. Fisiológica Fonte: Noldin, J.A. Dissertação de Mestrado do PPGFitotecnia, UFRGS, 1985. Os períodos de deficiência hídrica no Rio Grande do Sul são ocasionais e não bem definidos na época do ano em que acontecem. Quando há falta de água, os efeitos são muito drásticos na lavoura de milho, resultando em sérias restrições ao rendimento de grãos. Isto complica sobrema- neira a tomada de decisão de escolher a época de semea- dura. Para cada região, observa-se que há concentração de semeadura em época bem definida. Esta decisão é ge- ralmente tomada em razão dos riscos de deficiência hídrica 35 durante o ciclo da cultura. As semeaduras do início da esta- ção (em geral, em agosto) são menos sujeitas à falta de água. O prejuízo decorrente das menores radiação e tem- peratura do ar disponíveis às plantas no início do ciclo é parcialmente compensado pela alta insolação verificada em dezembro/janeiro no final do ciclo, que beneficia o enchi- mento de grãos. Rendimentos de grãos acima de 10 t.ha-1 já são atualmente atingidos em semeaduras de agosto e setembro. Isto demonstra que o potencial dos híbridos po- derá ser ainda melhor expresso se a semeadura for realiza- da no mês de outubro, onde não haja risco de falta de água. As semeaduras na safrinha (dezembro/janeiro) apre- sentam menor potencial, pois o florescimento vai ocorrer no início de março, quando a radiação solar e a temperatu- ra do ar são baixas, prejudicando o enchimento de grãos em março e abril. Além disto, as plantas estão mais sujei- tas ao ataque de moléstias de colmo e ao acamamento de plantas nesta época tardia. * * * PRINCIPAIS MUDANÇAS NO ARRANJO DE PLANTAS Altos rendimentos de grãos de milho só podem ser ob- tidos com o perfeito ajuste do número de plantas por uni- dade de área. O número ideal de plantas por área é deter- minado de acordo com a cultivar utilizada, a forma de uso do milho, o nível de fertilidade do solo e de adubação pre- vista e com o risco de falta de água durante o ciclo. Nas melhores condições de ambiente, os atuais hí- bridos são recomendados para densidades de até 70.000 a 75.000 plantas.ha-1 para obtenção de rendimentos de lavoura entre 12 a 13 t.ha-1. A recomendação de densi- 36 dade deve ser menor em ambientes menos favoráveis, como sob baixa fertilidade do solo ou deficiência hídrica. A densidade de plantas foi aumentando lentamente nos últimos 50 anos, mas de forma mais efetiva nos últimos 10 anos, graças à entrada no mercado de híbridos tolerantes ao estresse imposto pela maior competição entre plantas. A planta de milho apresenta uma característica pecu- liar na reação ao aumento da densidade de plantas. As capacidades de emitir espiga (alongamento dos entrenós basais - pedúnculo) e de liberação dos estigmas depen- dem, em alto grau, da tolerância que cada cultivar tem a esse estresse. As antigas populações crioulas e os primei- ros híbridos lançados no mercado eram desprovidos des- tas características e as densidades máximas recomenda- das raramente ultrapassavam 50.000 plantas.ha-1. Uma exceção foi o híbrido SAVE 135 (Secretaria da Agricultura do RS) cultivado por muitos anos no Estado, que apresen- tava tolerância à densidade de plantas de até 70.000 a 80.000 plantas.ha-1. A descontinuidade no enfoque na busca de materiais com estas características só foi rompida em meados da década de 1990, quando surgiram alguns hí- bridos simples tolerantes a altas densidades de plantas. A resposta do milho a altas densidades varia, além do híbrido e das condições hídricas e nutricionais do solo, com o espaçamento entrelinhas utilizado, conforme pode ser visto na Figura 6. O espaçamento entrelinhas foi diminuindo ao longo do tempo, passando de 1,0m para 0,5 m nos dias atuais. Os espaçamentosmaiores, que eram utilizados para facilitar o sistema de consórcio e o controle de plantas daninhas à tração animal, foram mantidos no início do período de mecanização para realizar a capina mecanizada. A adoção do sistema de plantio direto na palha eliminou a capina mecanizada, substituída pelo uso de herbicidas seletivos e, com isso, a distância entrelinhas pode ser diminuída. 37 Figura 6 . Rendimento de grãos de dois híbridos de milho em função de densidade de plantas, sob quatro espaçamentos entrelinhas. Eldorado do Sul-RS. Fonte: Argenta et al. XXIV Congr. Nac. Milho, Florianópolis-SC 2002. CD- Rom. 38 O menor espaçamento entre linhas permite o arranjo de plantas de forma mais eqüidistante. Uma das suas vantagens é a rápida cobertura de solo, com melhor apro- veitamento da radiação solar e menor perda de água. Ela só é obtida em situações de lavouras com alto rendimento de grãos, em que a radiação solar é o principal fator limitante ao rendimento. Outro benefício advindo do uso de espaçamento entrelinhas mais reduzido é o controle mais eficiente de plantas daninhas, devido ao sombreamento mais rápido do solo. Geralmente, quando as lavouras tem restrições mais graves, que resultam em menores rendimentos de grãos, não há benefícios do uso de menor espaçamento entrelinhas. Isto pode ser visto na Tabela 10, em que o milho foi cultivado sob três níveis de manejo. Geralmente, os benefícios advindos do uso de espaçamento entrelinhas reduzido sobre o rendimento de grãos é pequeno, variando de zero a 10%. 39 Tabela 10. Rendimento de grãos de milho (kg.ha-1) em dois espaçamentos entrelinhas, em três níveis de manejo, na média de dois híbridos e de duas densida- des de plantas. EEA/UFRGS, Eldorado do Sul-RS. Fonte: Strieder et al. XXV Congr. Bras. Milho, Cuiabá-MS, 2004. CD-Rom. 1/ Os níveis de manejo variaram quanto à irrigação su- plementar, adubação e densidade de plantas. A aduba- ção e a densidade aumentaram à medida que se incrementou o nível de manejo de médio para potencial. O nível de manejo médio não recebeu irrigação suple- mentar, enquanto o alto e potencial receberam. * Médias seguidas apela mesma letra na linha não diferem significativamente pelo teste de Duncan, a 5% de probabilidade. 40 PRINCIPAIS MUDANÇAS NA MECANIZAÇÃO DA LAVOURA A obtenção de altos rendimentos de grãos de milho passa necessariamente pela precisão na aplicação dos tratos culturais e nas operações de semeadura e colhei- ta. As principais práticas de manejo compreendem duas ou mais aplicações de defensivos (inseticidas e herbicidas, principalmente). A aplicação destes produ- tos com equipamento de baixa precisão, quanto à dose e à uniformidade da área atingida, é inadmissível quan- do se planeja a lavoura para atingir altos rendimen- tos. Isto é devido ao fato de que o manejo integrado de pragas e plantas daninhas tem conceituação basea- da no nível de dano econômico. A presença destes agen- tes bióticos é tolerada até certo grau de ataque/ infestação, acima do qual é necessária a aplicação de defensivos. Caso estes sejam aplicados de maneira in- correta, há redução no rendimento de grãos, pois freqüentemente eles limitam a produtividade. A efici- ência da aplicação terrestre de defensivos evoluiu so- bremaneira, seja através de pulverizadores tracionados por trator ou de auto-propelidos com controle de va- zão, adequando-se com isso às condições variáveis de vento e umidade do ar. As máquinas de semeadura também evoluíram muito quando se passou do sistema de preparo convencional para o de plantio direto na palha. A adoção do novo sistema exigiu o desenvolvimento de discos apropriados para corte da palhada, com mínimo revolvimento do solo. 41 A colocação das sementes em profundidade unifor- me e em distância regular uma da outra é, também, um dos requisitos básicos para altas produtividades. Os atu- ais híbridos, com boa uniformidade entre plantas, exi- gem semeaduras precisas para explorar esta vantagem. Nos últimos 20 anos observou-se substancial melhoria na precisão das semeadoras na distribuição de sementes nas lavouras de milho. As máquinas de colheita, do mesmo modo que as se- meadoras, tiveram que ser adaptadas ao novo sistema de cultivo de plantio direto na palha. As colhedoras tradicio- nais de milho semeado com maiores distâncias entreli- nhas (0,9 a 1,0 m)não se adaptaram para colheita de lavouras com espaçamentos menores (0,5 m). As plata- formas das novas máquinas permitem colher milho sob diversos espaçamentos entrelinhas, com alto rendimento de colheita e substancial redução nas perdas de grãos. * * * PRINCIPAIS MUDANÇAS NOS TRATAMENTOS FITOSSANITÁRIOS O milho, nas últimas décadas, apresentava poucos problemas com ataques de pragas e moléstias. Os preju- ízos no rendimento de grãos pela ação de pragas, eram sentidos somente em situações não muito comuns de alta infestação. O mesmo acontecia com relação a mo- léstias, embora muitas ocorressem em milho, mas o con- trole era feito apenas em ocasiões especiais. 42 A tolerância das principais cultivares a pragas e mo- léstias fez com que estes fatores não estivessem por mui- to tempo entre os principais limitadores do rendimento de grãos, desde que a semeadura fosse realizada na épo- ca recomendada. As principais limitações para obtenção de altos rendimento de grãos decorriam da falta de água, baixa fertilidade do solo e do controle inadequado de plan- tas invasoras. Com o avanço de técnicas de cultivo e o uso de insumos mais eficientes para superar as maiores limi- tações, pragas e moléstias passaram a ter maior relevân- cia em lavouras de alto rendimento. As pragas estão presentes em todos os estádios de desenvolvimento da cultura do milho. Na semeadura, corós e lagartas são importantes pois causam redução do número de plantas por área. O controle com inseti- cidas específicos permite o estabelecimento de lavou- ras com densidades de plantas apropriadas. A lagarta do cartucho vem tendo uma forte presença em alguns anos, especialmente em lavouras semeadas em épocas mais tardias, com baixa disponibilidade hídrica e eleva- da temperatura do ar. Nestas situações, tem sido ne- cessário o controle através de inseticidas que atinjam o inseto no interior do “cartucho” das folhas em que es- tão se desenvolvendo. Muitas vezes, o controle químico deixa a desejar, devido à dificuldade de contato do inseticida com a lagarta. A expectativa de utilização de híbridos com o gene Bt poderá eliminar o uso de inseti- cidas para este fim. O gene Bt é extraído de uma bac- téria existente no solo e transferido ao milho, induzin- do na planta a formação de uma toxina à lagarta. Este gene é amplamente utilizado na Argentina e nos Esta- dos Unidos, principalmente, e tem se mostrado muito efetivo no seu controle. 43 Desde o início, os programas de melhoramento de milho enfatizaram o desenvolvimento de cultivares pou- co sensíveis a patógenos de forma que não compro- metessem a produtividade. Embora presentes na mai- oria das cultivares, a ferrugem, a helmintosporiose e outras moléstias não eram passíveis de controle quí- mico pois não causavam reduções de rendimento que justificassem o seu uso. O sistema de plantio direto na palha modificou o grau de incidência de moléstias em milho. A sobrevivência de esporos era dificultada no sistema de preparo do solo convencional, mas no sistema de plantio direto os patógenos necrotróficos (que sobrevivem nos restos culturais da palhada) au- mentaram a sobrevivência, especialmente com o uso freqüente de gramíneas em sistemas de sucessão e rotação de culturas. Fungos dos gêneros Phaeosphaeria e Helminthosporium estão presentes com maior fre- qüência nas lavouras atuais, embora os esforços das empresas de melhoramento de milho em colocar no mercado híbridos com boa tolerância a estas molésti- as. Alguns híbridoscom sensibilidade a Phaeosphaeria são recomendados para serem utilizados em épocas de semeadura que propiciam menor incidência duran- te o ciclo. Um dos maiores desafios dos programas de melhora- mento é compatibilizar características morfo-fisiológi- cas associadas a altas densidades com sanidade de plan- tas. A utilização de práticas de manejo que previnam a incidência de moléstias, tais como rotação e sucessão de culturas, adaptação do genótipo à região de cultivo e tratamento de sementes, é fundamental para que se possam utilizar altas densidades como uma estratégia de manejo no arranjo de plantas para obtenção de rendi- 44 mentos de grãos elevados. É importante ressaltar que o incremento na densidade de plantas na lavoura para ob- tenção de altos rendimentos de milho pode aumentar a incidência de moléstias. As plantas daninhas em lavouras de milho represen- tam um dos fatores de maior restrição à obtenção de altos rendimentos de grãos. A planta de milho é muito suscetível à competição inicial quando ocorrer rápido es- tabelecimento de plantas concorrentes. Em lavouras de elevados rendimentos de grãos, o controle mecanizado foi substituído pelo controle químico de plantas dani- nhas, estando disponíveis no mercado herbicidas seleti- vos eficientes para as principais espécies daninhas inci- dentes na cultura. Com a expectativa de serem obtidos altos rendimen- tos de grãos, deve ser reduzido o limite de tolerância à presença de plantas daninhas. Em geral, um pequeno número de plantas, especialmente das espécies mais agressivas, já reduz significativamente o rendimento de grãos. A redução do espaçamento entrelinhas para 0,4 ou 0,5m exerce melhor controle cultural das plantas da- ninhas, por propiciar sombreamento mais rápido do solo, conforme pode ser verificado na Figura 7. 45 Figura 7. Efeito do espaçamento entrelinhas reduzi- do e do controle químico, complementando a ação dos herbicidas, especialmente dos pré-emergentes, na incidência de plantas daninhas na cultura do mi- lho, no estádio do espigamento. EEA/UFRGS, Eldorado do Sul-RS. Fonte: Argenta et al. XLV Reunião Técnica Anual do Milho, Pelotas-RS. Anais. p.702-710. 123 123 123 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 123 123 123 123 123 46 POR QUE DA NECESSIDADE DE OBTENÇÃO DE ALTOS RENDIMENTOS? A maior economicidade da lavoura de milho geral- mente é conseguida com manejo que resulta em altos rendimentos de grãos. A adoção deste conceito tem pau- tado a discussão sobre a real necessidade de se atingir altas produtividades para maior retorno por hectare de lavoura. Os dois pontos essenciais neste debate são: pro- babilidade de ocorrência de riscos climáticos e capacida- de de investimento do produtor. Os riscos climáticos referem-se, principalmente, aos freqüentes períodos de seca que assolam o Estado do Rio Grande do Sul em momentos não predizíveis. Neste sentido, uma linha de pensamento propõe que, em re- giões mais suscetíveis aos riscos, as lavouras devem ter menor investimento em insumos e usar híbridos de menor potencial de rendimento. Neste caso, havendo deficiência hídrica, os prejuízos econômicos seriam menores. No entanto, com essa estratégia, os rendi- mentos esperados não serão altos se as condições cli- máticas forem favoráveis durante a estação de cresci- mento. A longo prazo, na média, a lucratividade será pequena pois, embora os prejuízos nos anos secos se- jam menores, os ganhos nos anos favoráveis não serão grandes. Outra linha de pensamento é adotada quando o pro- dutor tem capacidade de investir em insumos, e pro- põe investimentos visando altos rendimentos de grãos, mesmo enfrentando riscos de uma eventual falta de água, mas apostando em ganhos maiores e 47 compensadores em anos favoráveis. A pesquisa tem demonstrado que, cultivares que recebem manejo para potencializar o rendimento de grãos, são mais toleran- tes ao estresse hídrico do que quando as cultivadas com menores investimentos. As plantas tem maior cresci- mento, que permite tolerar períodos de estresse com mais sucesso. Os produtores das regiões do Planalto Médio e dos Campos de Cima da Serra, região com menor probabili- dade de ocorrência de estresse hídrico, já adotam essa estratégia e tem as lavouras direcionadas para altos rendimentos. O sucesso destes produtores decorre da constatação de que há rentabilidade do milho quando a produtividade é alta, pois as margens de lucro só se viabilizam nesta situação. Os custos diferenciais entre uma lavoura de média e alta produtividade estão na aquisição de sementes e de outros principais insumos, como fertilizantes e pro- dutos químicos. Os incrementos no rendimento de grãos cobrem o aumento de custos e viabilizam a lavoura. Isto é exemplificado quando se calcula a economicidade de lavouras de milho em função do nível de manejo, com diferentes tipos de cultivares e épocas de semea- dura, conforme se observa, respectivamente, nas Fi- guras 8 e 9. Nestas situações, obteve-se maior mar- gem bruta com os maiores investimentos realizados com o uso de cultivares com maior potencial produtivo, cul- tivadas sob alto nível de manejo, e na época de semea- dura de outubro, a qual potencializa o uso da radiação solar. 48 Figura 8. Margem bruta obtida por três tipos de culti- vares de milho, em quatro níveis de manejo, na mé- dia de quatro ambientes. 1/ As diferenças entre os níveis de manejo são os mes- mos já descritos na Figura 3. Fonte: Silva et al. e Horn et al. XXV Congr. Bras. Milho, Cuiabá-MT, 2004. CD-Rom. 49 Figura 9. Margem bruta obtida com a cultura do milho cultivado sob cinco níveis de manejo, em três épocas de semeadura, na média de dois anos, Eldorado do Sul-RS 1/ As diferenças entre os níveis de manejo são os mes- mos já descritos na Figura 4. Fonte: Forsthofer, E.L. Dissertação de Mestrado do PPGFitotecnia, UFRGS, 2004. 50 AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à APASSUL (Associação dos Pro- dutores e Comerciantes de Sementes e Mudas do RS) e à Fundação Pró-Sementes de Apoio à Pesquisa, pelo apoio financeiro para a edição do livro e ao Prof. Marcelo Teixeira Pacheco pelo auxílio prestado na formatação do texto.
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