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Resumo de Farmacoepidemio BL1 1. INTRODUÇÃO A FARMACOEPIDEMIOLOGIA: A farmacoepidemiologia está relacionada a farmacovigilância, aplicada ao uso do medicamento. Nesta discussão se empregam questões típicas para entender quais medicamentos estão sendo usados, se este uso é adequado, quais são os efeitos adversos, etc. Quanto mais pessoas utilizando medicamentos, mais frequentes serão os riscos associados a medicamentos. A farmacoepidemio visa identificar quais são esses riscos, com que frequência e com que gravidade ocorrem. Por exemplo, no Brasil a Dipirona é permitida, pois, na população brasileira a relação risco benefício ainda pende para o lado do benefício. Devemos entender que nenhum medicamento é isento de risco. Atualmente há a prescrição excessiva de medicamentos, o que desencadeia no paciente a expectativa, de que a cada consulta médica, haja prescrição de algum medicamento. Além disso há a “empurroterapia” resultando no descontrole das vendas. O governo deve corrigir as falhas no mercado farmacêutico, que limitem a terapia para doenças negligenciadas, uma vez que são medicamentos de baixo custo e destinados a população de menor renda, o que não é vantajoso para as indústrias farmacêuticas. A intervenção do governo tem, justamente, a função de garantir o acesso a tais medicamentos. 1/3 da população global não possui acesso a medicamentos, enquanto que, no Brasil, 15% da população apresenta o maior consumo de medicamentos, que é refletido ou na maior incidência e prevalência de doenças que requerem alto consumo de medicamentos, ou se automedicam excessivamento. Os seguintes problemas são de interesse da farmacoepidemio: Populações sem acesso a medicamentos; Populações que tem acesso a medicamentos, mas que utilizam de forma incorreta; Indicação/ prescrição incorretas; Indicação/prescrição corretas, mas o paciente utiliza de forma incorreta; Automedicação. Tais problemas estão relacionados com as reações adversas a medicamentos (RAMs), as quais são a 4ª maior causa de morte nos EUA, enquanto que no Brasil não existe tal dado, mas desconfia-se que seja similar, já que a farmacovigilância brasileira é incipiente. Numa pesquisa epidemiológica há 3 passos: 1) Passo: descrever a situação de estudo. Como por exemplo: o Brasil é o maior consumidor de Clonazepan. 2) Passo: identificar as causas e por que afeta negativamente a saúde das pessoas. 3) Passo: intervenção para correção ou melhoria dessa situação de estudo. A farmacoepidemio é pautada em estudos de caso e dos efeitos dos fármacos em um grando número de pessoas, e o impacto financeiro desses efeitos dos fármacos, principalmente das RAMs, são objeto de estudo da farmacoeconomia. A farmacoepidemiologia se diferencia da farmacologia, pois a primeira estuda os efeitos dos medicamentos (efetividade e eficácia) em uma população, enquanto que a segunda estuda os efeitos dos medicamentos no indivíduo. Nem sempre a segurança e a eficácia obtidas em estudos clínicos é representativa na população, por isso que muitos fármacos são retirados do mercado, pois a condição de administração controlada e em pacientes sem co-morbidades presente nos estudos clínicos não representa a realidade da população, em que ocorrem erros e variações na admininstração e a presença de co-morbidades. A epidemiologia se atem aos determinantes, os quais são as causas das doenças/agravos, estudando as variáveis de tempo, lugar e pessoa. Tais determinantes podem ser saneamento, vetores, fatores genéticos, ambientais, sociais, econômicos, dentre outros. Fatores de risco são sinônimos de fatores de exposição, o que apresenta estreita relação com os determinantes, os quais estão sempre vinculados com os desfechos, que podem ser doença, cura ou morte. Exemplo de investigação farmacoepidemiológica seria quais são as causas (determinantes) do uso de Clonazepan e, quais os desfechos, como aumento da incidência de fratura de fêmur em idosos. Em farmacoepidemiologia há apenas estudos descritivos do uso de medicamentos, a partir dos quais podem surgir outros estudos que possam investigar os determinantes e os desfechos. Quando o medicamento vai ser registrado na ANVISA ou no FDA, tais agências ponderam a relação entre riscos e benefícios, na qual os últimos devem se sobrepor para que o medicamento seja aprovado. A aprovação e uso de medicamentos em que o risco suplante os benefícios acontece em condições extremamente graves e que não haja outra alternativa. Fa rm ac o ep id em io lo gi a Estudos de utilização São descritivos e buscam conhecer o perfil de utilização de medicamentos, incidência, demanda e consequências Farmacovigilância Buscam a identificação e avaliação dos efeitos do uso agudo e crônico de medicamentos além do monitoramento das RAMs Farmacoeconomia Buscam avaliar quais os efeitos ecocômicos do uso de medicamentos, comparando custos e desfechos Determinantes Desfechos Amostra Grupo selecionado a partir da população de interesse sobre o qual serão coletados os dados. Deve ser representativa da população em estudo. Preferencialmente aleatória, a fim de permitir inferências estatísticas sobre a população.Amostra aleatória ou randômica: os indivíduos da população têm igual chance de serem selecionados para compor a amostra. A escolha é ao acaso. Não há “preferências”. Estimação: Processo matemático pelo qual se obtém um valor numérico a partir de uma amostra (estimativa) para representar o valor numérico da variável na população –Inferência estatística. 2. MEDIDAS DE FREQUÊNCIA: Apresentam como objetivo a quantificação da variável de interesse. A. FREQUÊNCIA ABSOLUTA: Expressa simplesmente o resultado, sendo, basicamente, uma contagem. Apresenta limitações como a falta de significados relacionados a população (qual grupo populacional, quando e onde). Difícil de realizar comparações, pois não há outra frequência relacionada. B. FREQUÊNCIA RELATIVA: Para facilitar as comparações esuas interpretações, os valores absolutos são expressos em relação a outros valores absolutos .Três maneiras comuns de expressá-los: a. COEFICIENTE OU TAXA: corresponde ao número expresso em relação a outra grandeza, relativando o número. É a mais comum e expressa o risco de ocorrência de um evento. 𝐶𝑜𝑒𝑓. = 𝑛º 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑟𝑖𝑠𝑐𝑜 𝑥 10𝑘 Onde 10k é a base 10 pelo qual todo coeficiente deve ser multiplicado, uma vez que equivale a população que se deseja inferir. Um exemplo é a taxa de mortalidade, que geralmente é por 100.000, então se usa 105. O número de casos está relacionado com a população em risco, que consiste em qualquer pessoa dentro da população que possa sofrer tal risco. O valor obtido por esse coeficiente está relacionado com o 10k, a população a ser estimada. b. PROPORÇÕES E RAZÕES: corresponde a relação entre as frequências. Não expressa risco. Relaciona o número de casos em determinada categoria a um equivalente na porcentagem total de casos. EX: porcentagem de óbitos por faixa etária: 𝑃𝑟𝑜𝑝 = 𝑛º 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑛𝑎 𝑓𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑒𝑡á𝑟𝑖𝑎 𝑛º 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 ó𝑏𝑖𝑡𝑜𝑠 𝑥 10𝑘 Aqui o total de óbitos não é a população em risco e sim o total de eventos, e nisso há a diferença para o coeficiente. Esse total de eventos que é denominador na proporção seria o numerador no coeficiente. E nesse número total de eventos presente no denominador está incluso o número presente no numerador. Somando-se todas as proporções deve-se achar o total. Na razão o numerador não está incluso no denominador. Por exemplo: Frequênciade um evento comparada a frequência de outro evento: 𝑅𝑎𝑧ã𝑜 = 𝑛º 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑐â𝑛𝑐𝑒𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑚𝑎 𝑛º 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑐â𝑛𝑐𝑒𝑟 𝑑𝑒 ú𝑡𝑒𝑟𝑜 = 3,5 =1 Frequências iguais >1 Frequência do denominador é maior que a do numerador <1 Frequência do numerador é maior que a do denominador Correlaciona se a frequência de um evento é maior ou menor que a de outro e quantas vezes isso acontece. C. PREVALÊNCIA E INCIDÊNCIA: São coeficientes. Prevalência Incidência Número total de casos/episódios em determinado ponto no tempo Número de casos/episódios novos na população em determinado período de tempo Referente ao que já existe na população Referente ao que há de novo Confere ideia mais estática, variação mais lenta Confere ideia dinâmica de que com qual frequência tal evento acontece Ideia de morbidade Ideia de risco Em doenças de curso mais rápidp não faz sentido se falar em prevalência e sim em incidência, pois nesse caso é mais importante a avaliação de casos novos. A incidência é muito relacionada a ideia de risco, ou seja, quant maior a incidência, maior a probabilidade de tal evento acontecer. 𝐼𝐶 = 𝑛º 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑛𝑜𝑣𝑜𝑠 𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑟𝑖𝑠𝑐𝑜 𝑥 10𝑘 𝑃𝑟𝑒𝑣𝑎𝑙ê𝑛𝑐𝑖𝑎 = 𝑛º 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑒𝑥𝑖𝑠𝑡𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑟𝑖𝑠𝑐𝑜 𝑥 10𝑘 Dizer que a prevalência é uma medida estática não significa que não haja variabilidade e, sim que varia em menor velocidade que a incidência. Quanto maior o tempo de duração da doença maior será a prevalência. Com isso a prevalência confere a ideia de morbidade, muito relacionada a doenças crônicas, enquanto que a ideia de risco oferecida pela incidência é mais relacionada a doenças d e curta duração. Prevalência pontual ou instantânea (simplesmente prevalência) é a prevalência em um momento específico. Prevalência no período é o número de infectados durante um período. PREVALÊNCIA = INCIDÊNCIA X DURAÇÃO MÉDIA DA DOENÇA Medida dinâmica Medida estática D. INDICADORES: Indicam alguma condição. É um número que oferece ideias sobre como está um determinado cenário. Os indicadores em saúde são usados para avaliação de uma população, permitindo comparações entre as populações. a. MORTALIDADE: Geral : 𝑀𝑜𝑟𝑡. = 𝑛º 𝑑𝑒 ó𝑏𝑖𝑡𝑜𝑠 𝑛𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑛𝑎 𝑚𝑒𝑡𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 105 Específica: 𝑀𝑜𝑟𝑡. = 𝑛º 𝑑𝑒 ó𝑏𝑖𝑡𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑢𝑚 𝑔𝑟𝑢𝑝𝑜 𝑛𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑑𝑒𝑠𝑠𝑒 𝑔𝑟𝑢𝑝𝑜 𝑛𝑎 𝑚𝑒𝑡𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 105 Coeficiente de mortalidade é diferente de coeficiente de letalidade. O coeficiente de letalidade explica muito melhor as condições de asssitência a saúde, a evolução da doença e as características do agente patogênico. c. MORBIDADE: reflete o quanto a população está sendo afetada. Prevalência, principalmente, e também a incidência são indicadores. Permite inferir os riscos de adoecer. 3. MEDIDAS DE ASSOCIAÇÃO: Mede quantitativamente uma relação causal. Expressa a magnitude da associação entre exposição e desfecho. Está associada a probabilidade do resultado ser o mesmo. Relação casual entre expostos e não expostos, onde tal relação baseada em diferença absoluta ou relativas, na forma de razões. Os indivíduos não expostos são contra factuais, sendo o grupo controle FE – FC, onde FE corresponde a FR + e FC a FR - . Devemos garantir que as amostras sejam aleatórias, e utilizamos razões relativas entre expostos e não expostos : 𝐸𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 (𝐹𝐸) 𝑁ã𝑜 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 (𝐹𝐶) . Mortalidade • Quem está morrendo na população não está doente • Morrendo de reduz bastante o número da população Letalidade • Quem está morrendo está doente. • Coef letal = 𝑛º 𝑑𝑒 ó𝑏𝑖𝑡𝑜𝑠 𝑛º 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑥 10𝑘 A quantificação da diferença entre os grupos é feita através de medidas de associação. Medidas de associação entre exposição e desfecho são utilizadas para expressar quantitativamente estas possíveis relações causais. Para que a medida deste contraste seja válida os grupos de comparação devem ser intercambiáveis. Tipos de medidas de associação: A. DIFERENÇA: Medem, em termos absolutos, o excesso de freqüênciada doença no grupo exposto em relação ao grupo não exposto. Refletem o número absoluto de casos atribuíveis à exposição. SeFE –FC = zero freqüência de doença é igual nos grupos de expostos e não expostos. Inexistência de associação. SeFE – FC > zero freqüência de doença é maior no grupo exposto. Quanto maior, mais forte a associação positiva. SeFE– FC < zero freqüência de doença é menor no grupo exposto. Quanto menor, mais forte a associação negativa. Risco atribuível (RA): é a parte da incidência de um dano à saúde que é devida (ou atribuída) a uma dada exposição. É calculado como a diferença entre dois coeficientes ou proporções de expostos e não expostos. B. RAZÃO: Medem quantas vezes a ocorrência da doença é maior no grupo de expostos em relação ao grupo de não expostos. Varia entre 0 e infinito. Se FE ÷ FC = 1 frequência de doença é igual nos grupos de expostos e não expostos. Inexistência de associação. Se FE ÷ FC >1 frequência de doença é maior no grupo exposto .FATOR DE RISCO. Se 0 < FE ÷ FC < 1 frequência de doença é menor no grupo exposto. FATOR DE PROTEÇÃO. a. RISCO RELATIVO OU RAZÃO DE RISCO (RR): É a razão entre dois riscos. Ou seja, ser fumante é fator de risco para desenvolvimento de câncer de pulmão, pois a razão entre FE e FC é maior que 1, e nesse caso como tal razão é 10, significa que o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão é 10x maior em fumantes do que em não fumantes. Ex: Numa coorte de nascidos vivos deseja-se saber se a escolaridade da mãe (exposição) está associada com o risco de diarreia (desfecho) nos primeiros três meses de vida do bebê. Pergunta (1): quantas vezes o risco de diarreia é maior entre os bebês de mães com baixa escolaridade (fator de risco) em relação aos de mães com maior escolaridade? Suponhamos que RR=2: Como o valor do RR é diferente e “distante” da unidade, diz-se que há uma associação entre exposição e a doença. O risco de ter diarreia entre os bebês de mães com baixa escolaridade é 2 vezes maior do que entre os bebês de mães com maior escolaridade. EXPOSIÇÃO = FATOR DE RISCO Escolaridade baixa está associada a um risco 2 vezes maior de desenvolver diarreia. Pergunta (2): quantas vezes o risco de diarreia é menor entre os bebês que se alimentam exclusivamente de leite materno (fator de proteção) em relação aos que não o fazem? Suponhamos que RR=0,2: Como o valor do RR é diferente e “distante” da unidade, diz-se que há uma associação entre exposição e a doença. 0 < RR < 1 indica que o risco entre os expostos é menor do que entre os não expostos. EXPOSIÇÃO = FATOR DE PROTEÇÃO Aleitar exclusivamente no peito diminui o risco de desenvolver diarreia em 5x (1/RR) ou em 80%, quando comparado aos que não são amamentados. O grupo exposto será composto pelos indivíduos doentes e expostos (a) e o cálculo de RR se dará na razão ente os doentes e expostos (a) sobre o número total de expostos (a+b), dos quais há doentes e não doentes. (preto) O grupo referência será composto pelos indivíduos não doentes expostos ( c ), e o cálculo de RR ser dará na razão entre os não doentes e expostos ( c ) sobre o total de expostos ( c+d), dos quais há doentes e não doentes. (vermelho) E a razão do risco relativo será a razão entre o risco relativo nos grupos expostos e não expostos.(roxo) EX 2:Para estudar a associação entre o fumo e o câncer de mama, um grupo de 3.000 mulheres sadias foram acompanhadas durante 5anos. Ao final do estudo, foram detectados 100 casos de câncer de mama entre as 1.000 mulheres fumantes e 50 casos de câncer entre as mulheres não fumantes. Calcule o RR utilizando a Tabela 2 x 2 𝐼𝐸+ = 100 1000 = 0,1 𝐼𝐸− = 50 2000 = 0,025 𝑅𝑅 = 0,1 0,025 = 4 D+ D- TOTAL E+ 100 900 1000 E- 50 1950 2000 TOTAL 150 2850 3000 O risco de desenvolvimento de câncer de mama em fumantes é de 0,1, enquanto que o risco de desenvolvimento de câncer entre não fumantes é de 0,025, sendo 4x maior o risco de desenvolvimento de câncer em fumantes do que em não fumantes. b. RAZÃO DE CHANCE (odds ratio- OR): Medida de associação utilizada quando não é possível estimar o risco, ou seja, não se conhece o número de pessoas expostas. A pergunta agora não é quantas vezes o risco de desenvolver a doença é maior no grupo de expostos, mas sim quantas vezes a chance de desenvolver a doença é maior no grupo de expostos. A chance de doença no grupo de expostos, na tabela de contingência é o número de expostos e doentes (a) sobre o número de expostos e não doentes (b). A chance de doença no grupo não exposto é o número de não expostos e doentes ( c ) sobre o número de expostos e não doentes. Em resumo o numerador ( doentes) não está contido no denominador ( não doentes). 4. TIPOS DE ESTUDOS EM EPIDEMIOLOGIA: Métodos empregados em Epidemiologia - modo científico de abordar e investigar a saúde da população, os fatores que a determinam, a evolução do processo da doença e o impacto das ações propostas para alterar o seu curso. Sempre coletando informações para avaliar e propor intervenções. Critérios para a escolha dos métodos: Segundo o propósito geral da investigação: Segundo o sujeito de pesquisa: Segundo a direção temporal Métodos Descritivos Descreve um cenário Analíticos Busca compreender as causas e consequências Métodos Observacionais Observam prevalência e incidência sem modificar a situação Experimentais Intervencionistas Separação entre grupo controle e grupo de estudo separados pelo pesquisador, avalia risco e permite cálculo de medidas de associação Nos estudos transversais por conta da susência de ordem entre causa e desfecho, não é possível a realização de medidas de associação. O contrário de um estudo transversal é o estudo longitudinal, o qual ocorre ao longo do tempo podendo ser prospectivo ou retrospectivo. a) ESTUDOS OBSERVACIONAIS: a) ESTUDOS DE CASO: consistem em relatos de caso, sendo o primeiro relato de uma doença emergente ou reemergente. Avalia a associação entre casos similares a partir de uma série de relatos. Tais reltaos acontecem a fim de que os profissionais de diferentes localidades possam caracterizar uma nova doença ao a reemergência de uma nova forma da mesma doença. Vantagens Limitações Utilizada como primeira forma de detectar o início de uma epidemia Não tem grupo de comparação apropriado Pode sugerir a emergência de uma nova doença Não se pode excluir mero acaso na relação encontrada Pode evidenciar padrões raros ou desconhecidos de uma doença Não se pode utilizar medidas de associação Geração de hipóteses Baixo custo b) ESTUDOS ECOLÓGICOS: sua unidade de análise é a população e não o indivíduo. Não pode fornecer dados adicionais sem que o desenho do estudo permita realizar medidas de associação. Sugere hipóteses para elaboração de estudos coorte e caso-controle. Indicam tendência, sendo estudos preliminares a fim de avaliar se é vantajoso ou não realizar um estudo analítico. Avaliam correlações ou tendências baseadas em informações derivadas de outros grupos; áreas geográficas são geralmente as unidades de análise. Vantagens Limitações Relativamente baratos porque utilizam dados já coletados São inadequados para relacionar exposição-doença ao nível individual Apropriados para estudos preliminares ou exploratórios Achados requerem confirmação através de outros tipos de estudos Ponto de partida para outros estudos Dependem da qualidade dos dados coletados A presença/ausência de correlação não permite inferir que existe ou não associação estatística válida Incapacidade de controlar todos os efeitos Métodos Prospectivo Avalia o desfecho, acompanhando do presente até o futuro Transversal Retrato instantâneo de uma situação, não sabendo ordem entre causa e desfecho - sem detalhes temporais Retrospectivo Avalia desfecho ou o evento no passado de todos os fatores de confundimento em potencial c) ESTUDOS TRANSVERSAIS: Produz um retrato “instantâneo” da situação de saúde de uma população em relação A causa-efeito investigada. Também chamado de Estudo Seccional, Vertical ou Prevalência. [causa e efeito] ou [exposição ao fator e doença] são investigados ao mesmo tempo. Na análise de dados é que se saberá quem são os “expostos” e “não-expostos” e quem são os “doentes” e sadios”. Para delineamento de um esto transversal deve atentar a: Seleção da população; Verificação simultânea de exposição e doença; Análises dos dados. Ex: Não assegura que a população estava totalmente em risco ou se a exposição foi prévia à situação de análise. Isso de justifica pela ausência de determinação temporal. Parece apresentar medida de associação, mas o que acontece realmente é uma correlação. Vantagens Limitações Simplicidade e baixo custo Difícil separar causa e efeito já que a prevalência da doença e a exposição são avaliados simultaneamente entre indivíduos de uma população definida Rapidez: todos os dados coletados num único momento Viés de Sobrevivência Indivíduos que curam ou morrem mais rapidamente têm menos chances de serem incluídos em um estudo de prevalência. Objetividade na coleta dos dados Não há necessidade de seguimento dos participantes Facilidade para obter amostra representativa da população Único tipo de estudo possível de realizar, em numerosas ocasiões, para obter informação relevante, em limitações de tempo e de recursos Úteis para estudo de doenças insidiosas A probabilidade de participação de doentes expostos em um estudo seccional é dependente do tempo de duração da exposição. d) ESTUDOS CASO – CONTROLE: é um estudo epidemiológico observacional, longitudinal, geralmente retrospectivo, analítico, em que um grupo de casos, I.e., indivíduos com a doença, é comparado, quanto à exposição a um ou mais fatores, a um grupo de indivíduos semelhante ao grupo de casos, chamado de controle (sem a doença). Realiza medidas de associação. Usa OR quando a população já está doente, pois nesse caso há impossibilidade de cálculo de risco, já que o mesmo seria de 100%, não havendo como avaliar um risco que já aconteceu.A investigação parte do “efeito” para chegar às “causas”.Pesquisa etiológica, retrospectiva, de trás para frente, após o fato consumado. Vantagens Limitações Relativamente baratos e menor tempo Dificuldade na seleção do grupo controle: pode ocorrer falta de comparabilidade entre as características dos casos e controles Investiga múltiplos fatores de exposição Os dados de exposição no passado podem ser inadequados (incompletos nos prontuários ou falhos na memória das pessoas)Investiga doenças raras ou de longo período de latência Os dados de exposição podem ser viciados (as pessoas que tiveram a doença podem lembrar mais dos fatores de risco ou “supervalorizar”) Interpretação dificultada pela presença de fatores de confundimento Investigadores podem tender a “encontrar” os fatores de risco entre os doentes e vice-e-versa. e) ESTUDOS COORTE: Estudo realizado com a criação de dois grupos de indivíduos: os expostos ao fator de risco em estudo e os não expostos. São então observados ao longo do tempo para verificar em quais ocorre o desfecho (ou doença). Assim, é possível comparar os dois grupos e determinar diretamente o risco da exposição levar ao desfecho. Diferente dos estudos caso-controle, em que os indivíudos já estão doentes, os estudos coortes apresentam grupos exposto e não exposto. São ensaios prospectivos, enquanto que os caso - controle são retrospectivos. Por se tratar de grupos de expostos e não expostos pode se calcular os riscos, pois os indivíduos ainda não estão doentes e sim apenas expostos ou não. Dos estudos observacionais os estudos coorte são os únicos que permitem calcular o verdadeiro risco relativo, o qual é útil nos ensaios clínicos, pois irá permitir avaliar a eficiência ou a falta de no medicamento a ser testado. Vantagens Limitações Exposição precede desfecho (ausência de ambigüidade temporal) Geralmente caros e difíceis de operacionalizar (estudos etiológicos) Permitem o cálculo direto das medidas de incidência nas coortes de expostos e não expostos, e a avaliação de exposições raras. Ineficiente para doenças raras e com longo período de indução São menos sujeitos a viés de seleção que os estudos de caso controle, especialmente quando os grupos de expostos e não expostos são classificados internamente à coorte A perda de participantes ao longo do seguimento pode comprometer a validade dos resultados Vários desfechos podem ser avaliados. Alguns estudos permitem ainda que várias exposições possam ser avaliadas (coortes de população geral ou de grupos populacionais restritos) Como não é realizada a alocação aleatória de intervenções (terapêuticas ou preventivas), são menos indicados que os estudos experimentais para a avaliação dessas intervenções, pois fatores de seleção e confundidores não controlados podem comprometer a validade do estudo Simplicidade de desenho MACETE: 5. ENSAIOS CLÍNICOS RANDOMIZADOS: São ensaios analíticos, já que há a associação entre a administração do medicamento e o desfecho que poderá ocorrer, se há influência ou não do medicamento. São ensaios de intervensão, uma vez que o medicamento é o fator de exposição, sendo administrado aos voluntários. São ensaios prospectivos, pois a visualização do desfecho, com avaliação de eficácia e risco do medicamento, acontece no futuro. A medida de associação utilizada é a razão relativa, pois há grupo exposto (recebeu o medicamento) e grupo não exposto (não recebeu o medicamento). Pode comparar efeitos e valor de uma intervensão através da utilização de controles. Na prática clínica não há o mesmo controle sobre o uso do medicamente que acontece nos ensaios clínicos. Deve-se avaliar fatores como a auto medicação, a prescrição, dispensação e administração incorretas, os quais influenciam na magnitude do efeito do medicamento, sem contar que na prática clínica a variabilidade genética é maior do que a avaliada nos ensaios clínicos. Portanto, na prática clínica a eficácia corresponde a magnitude do efeito e, portanto, é denominada de efetividade. Os ensaios clínicos devem apresentar critérios de inclusão e exclusão como ausência de co- morbidades, idade e presença de gestação. Há necessidade de que o voluntário participe de consultas periódicas, do controle e acompanhamento do uso do medicamento em teste (ajuste de dose), bem como os médicos devem Caso controle • Indivíduos já doentes • Fator de exposição no passado • Estudo retrospectivo • Usar OR Coorte • Indivíduos expostos/ não expostos não doentes • Fator de exposição no presente • Estudo prospectivo • Usar risco relativo Eficácia • Medida pelo ensaio clínico e mede os efeitos do medicamento sob condições controladas Efetividade • Não é possível de ser medida pelo ensaio clínico, pois consiste nos efeitos do medicamento na prática clínica ser treinados para a melhor realização deste acompanhamento. Ou seja, os critérios de inclusão e exclusão devem seguir as regras estabelecidad no protocolo de ensaio. A. FASES DOS ENSAIOS CLÍNICOS: I. FASE PRÉ – CLÍNICA: Consiste na fase de pesquisa e desenvolvimento de novas moléculas, ou de teste em moléculas já existentes. São realizados testes in vitro e in vivo (camundongos, coelhos, primatas), os quais objetivam a avaliação da toxicidade e do efeito farmacológico. Nessa fase há também o desenvolvimento da formulação em que a molécula em pesquisa se inserirá. Dura em média de 6 a 8 anos II. FASE CLÍNICA: Uma vez que as moléculas pesquisadas na fase pré-clínica não apresentem toxicidade e apresentem efeito farmacológico, há a realização de ensaios clínicos com humanos, a fim de confirmar tais efeitos farmacológicos e a ausência de toxicidade e presença de segurança. i. FASE I: Utiliza cerca de 20 a 100 indivíduos saudáveis, a fim de avaliar a toxicidade da molécula, e em tal avaliação é interessante que os voluntários sejam saudáveis, pois apresentam maiores chances de recuperação. Também são avaliados os aspectos farmacocinéticos. Dura em média 1,5 ano. ii. FASE II: Utiliza cerca de 100 – 500 indivíduos doentes a fim de avaliar eficácia e segurança, bem como a farmacodinâmica da molécula. O número de voluntários varia de acordo com a doença, sendo menor em doenças raras. Dura em média 2,5 anos. iii. FASE III: São os estudos multicêntricos, nos quais se utiliza cerca de 1000 – 5000 indivíduos doentes. Apresenta aumento amostral a fim de realizar melhor inferência da eficácia do tratamento. São avaliadas eficácia e segurança, bem como são listadas as reações adversas. Nessa fase se inicia o registro de medicamento, com a produção de laudos e o envio as agências reguladoras. Dura em média 3,5 anos. iv. FASE IV: Uma vez aprovado o medicamento se iniciam os estudos de pós comercialização, não sendo mais caracterizados como ensaios clínicos. São ensaios de farmacovigilância, nos quais se avalia a efetividade, uma vez que avaliam o uso do medicamento na prática clínica, em pacientes fora do ambiente controlado dos ensaios clínicos. B. DESENHO EXPERIMENTAL: O grupo de estudo sempre irá receber a droga nova, enquanto que o grupo controle pode receber placebo, quando se deseja avaliar o efeito placebo, ou o medicamento de referência que deverá ser comparado com a nova droga. Isso se justifica, pois um dos fatores que interfere no ensaio clínico é o paciente saber que está recebendo tratamento, o que consiste em efeito de indução psicológica, a qual auxilia na eficácia do tratamento. Para análise dos dados se constrói a tabela de contingência e calcula-se o risco relativo. Os ensaios clínicos randomizados apresentam inclusão aleatória no grupos, o que fornece maior segurança estatística. A randomização pode ser adequada de modo que garantam a homogeneidade entre os grupos, os quais devem apresentar a mesma proporção de faixa etária e sexo. TIPOS DE DESENHO: a. ENSAIO EM PARALELO: cadagrupo (tratado e controle) recebe apenas uma das intervenções. b. ENSAIO FATORIAL: apresentam diferentes grupos, podendo receber mais de um medicamento. São utilizados para avaliação de dosagem e esquema terapêutico. c. CROSS OVER: paciente recebe mais de um tratamento de maneira alternada, a fim de realizar comparações sequenciais. Neste caso cada paciente é seu próprio controle. C. FATORES DE CONFUNDIMENTO: Tais fatores devem ser eliminados, a fim de observar a influência do fator que se está avaliando, pois outros fatores além do fator de exposição avaliado podem promover o mesmo desfecho. A fim de anular tais fatores é que existem os critérios de inclusão e exclusão. Com a randomização os fatores de confundimento se tornam iguais nos grupos tratado e controle, resultando no fato de que apenas o fator de exposição será o diferencial entre esses grupos. a. VIÉS DE SELEÇÃO: grupos que diferem e características de base como sexo e idade. b. VIÉS DE AFERIÇÃO: ao final do estudo clínico o efeito é geralmente medido por indivíduos utilizando alguns equipamentos, os quais devem estar calibrados. Quando o efeito é subjetivo há complicação na aferição, como acontece nas doenças psiquiátricas. c. COMO NEUTRALIZAR OS VIESES: para o viés de seleção pode-se alterar a amostragem, realizando-a em funil: Com esse método os pacientes elegíveis são a população de estudo propriamente dita. Grupos: Medicamento 1 + Medicamento 2 Medicamento 1 + controle Medicamento 2 + controle Só controle Pacientes elegíveis Amostra População alvo A randomização também atua neutralizando os fatores de confundimento e o viés de seleção. Enquanto que o mascaramento atua neutralizando o viés de aferição. D. MASCARAMENTO: É empregado para avaliar a ação do efeito placebo. Consiste na realização dos ensaios “cegos”. a. ENSAIOS UNI-CEGOS: nestes ensaios apenas o paciente não sabe se está recebendo o medicamento em teste ou o placebo/ medicamento de referência. b. ENSAIOS DUPLO – CEGO: nestes ensaios o paciente e o enfermeiro/médico que administra não sabe se está recebendo/administrando o medicamento em teste ou o placebo/medicamento de referência. Ou pode ser que o paciente e o avaliador da eficácia não saibam qual é o grupo tratado e qual o controle. É interessante a fim de neutralizar o viés de aferição, pois sem esse mascaramento o profissional que esteja avaliando a eficácia, possa realizar uma aferição tendenciosa, principalmente os médicos que acompanham os pacientes ao longo do ensaio. c. ENSAIOS TRIPLO-CEGO: nestes ensaios paciente, profissional que adminstra o medicamento ou o controle e o avaliador não sabem quem está no grupo controle e quem está no grupo tratado. Mais seguro estatísticamente. d. ENSAIOS ABERTOS: nestes ensaios há ausência de mascaramento. É muito empregado no desenvolvimento de novos métodos cirúrgicos e dietéticos, pois neste caso não há como o paciente não saber do que se trata. E. ESTIMATIVA DO EFEITO: a. REDUÇÃO DO RISCO RELATIVO (RRR): avalia o quanto da redução do risco relativo é decorrente da intervenção. Avalia a eficácia da intervenção. 𝑹𝑹𝑹 = 𝟏 − 𝑹𝑹 × 𝟏𝟎𝟎 b. NÚMERO NECESSÁRIO PARA TRATAR (NNT): avalia quantos pacientes devem ser tratados para que se encontre 1 efeito positivo. Quanto menor o NNT maior a eficácia, pois em um menor número de pacientes há presença de eficácia. 𝑅𝐴𝑅 = 𝑅𝑐𝑡𝑟𝑙 − 𝑅𝑡𝑟𝑎𝑡𝑎𝑑𝑜 , é o risco relativo associado, o qual é uma medida de associação do tipo diferença. 𝑵𝑵𝑻 = 𝟏 𝑹𝑨𝑹 F. VALIDADE INTERNA X EXTERNA: A validade interna está relacionada com a qualidade na execução do ensaio clínico, o que é refletido pela presenã de randomização, mascaramento, dentre outros fatores. Já a validade externa busca observar a relação entre a eficácia interna na população de estudo e na população total.
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