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Profª. Débora de Gois Santos 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL Aula: Administração financeira Disciplina: Administração de Obras (ENCIV0136) Professora: Débora de Gois Santos São Cristóvão, Sergipe Versão 3 Profª. Débora de Gois Santos 2 GLOSSÁRIO Ativo – Capital em circulação Bruto – Inteiro, sem descontos (renda). Dívidas – Obrigação, dever. Dividendo – Lucros que são distribuídos aos acionistas de uma companhia. Duplicata – Título de crédito, negociável, pelo qual o comprador se obriga a pagar no prazo estipulado a importância da fatura. Fundo – Capital (em espécie ou em dinheiro). Inativo – Que não está em atividade. Insolvência – Falência. Liquidez – Capacidade de a empresa pagar suas dívidas no vencimento e no valor especificado. Líquido – Livre de descontos; livre de despesas. Passivo – Conjunto das dívidas, encargos e obrigações de uma empresa. Profª. Débora de Gois Santos 3 Administração financeira 1 A função financeira na empresa 1.1 Principais áreas de decisão A função financeira de uma empresa é determinada pelas áreas de tomada de decisão, de acordo com o tipo de problema envolvido. Seu objetivo é assessorar a empresa, proporcionando-lhe os recursos monetários necessários. Os problemas que comumente ocorrem são/estão: a) Nas áreas de decisões de investimento, financiamento e utilização do lucro líquido; e b) Pelas tarefas de obtenção de recursos financeiros e análise da utilização destes recursos pela empresa. A seguir descreve-se mais detalhadamente os assuntos contidos no item “a)”. Em termos de investimento deve-se avaliar e escolher as alternativas da aplicação de recursos nas atividades normais da empresa. Para dar à empresa a estrutura ideal em termos de ativos, sejam eles fixos ou correntes, de modo a atingir os objetivos propostos, considerando-se o risco que os proprietários estão dispostos a correr. Os ativos fixos são aplicações com longo período de maturação. Por sua vez, os ativos correntes podem ainda ser chamados de circulantes ou capital de giro. São os saldos mantidos por uma empresa nas contas de disponibilidades, investimentos temporários (aplicações vinculadas ao mercado aberto); contas a receber (ou duplicatas a receber de clientes); e estoques de matérias-primas, mercadorias para vende, produção em andamento e produtos acabados. A soma destes saldos representa o montante investido pela empresa. Existe ainda o capital de giro bruto e o líquido. O primeiro é o citado no parágrafo anterior e o segundo resulta da subtração de todos os compromissos a curto prazo da empresa com fornecedores, funcionários, fisco, etc., do total dos itens que compõem o capital de giro bruto. Por lei o curto prazo corresponde a um período de 180 dias, em termos financeiros, pois é considerado um período igual ao de um exercício social, variando conforme a natureza das operações da empresa considerada. Segundo Sanvicente (1987), ele é o tempo exigido para que uma aplicação de dinheiro ou insumos variáveis gire inteiramente, desde a compra de matéria-prima e o pagamento de funcionários até o recebimento correspondente à venda do produto ou serviço ao cliente (figura 01). Profª. Débora de Gois Santos 4 Figura 01: Ciclo de caixa. CAIXA COMPRAS DE MATÉRIA-PRIMA PRODUÇÃO VENDAS (A PRAZO) RECEBIMENTOS DOS CLIENTES ESTOQUE DE MATÉRIA-PRIMA PRODUTO ACABADO CONTAS A RECEBER Fonte: Sanvicente (1987). Com relação ao financiamento, este tem a função de definir e alcançar uma estrutura ideal em termos de fonte de recursos. Assim, a partir das decisões tomadas no nível estratégico é que as aplicações são feitas. Ainda, a decisão determina em que setor a empresa vai atuar e isso condiciona a estrutura do ativo, de acordo com a tecnologia existente no setor. Logo, a administração financeira tem que conseguir recursos para financiar essa estrutura de investimento ao custo o mais baixo possível. Onde os custos estão relacionados com prazos, datas de pagamento, garantias exigidas, etc. As decisões de financiamento refletem no lado passivo do balanço, ou seja, quais fontes de recursos vêem sendo usadas pela empresa ou serão empregadas para sustentar atividades futuras. Quanto à utilização do lucro líquido, essa é a área de decisão conhecida por política de dividendos, isto é, que se preocupa com a destinação dada aos recursos financeiros que a própria empresa gera em suas atividades operacionais. Esta área se relaciona diretamente com as duas anteriores. 1.2 Atribuições do administrador financeiro em uma empresa O administrador financeiro pode ser chamado de diretor financeiro, tesoureiro, controlador, vice-presidente de finanças, gerente financeiro, etc. Ele se preocupa com a obtenção de recursos monetários para que a empresa desenvolva suas atividades e a analise da maneira como os recursos obtidos serão utilizados. No geral, a função situa-se na esfera estratégica da empresa. Essa posição central justifica-se por: a) Economia de escala no levantamento de recursos. b) Pela visão global da empresa. Um exemplo é o setor de orçamento global, responsável pelo planejamento e controle das funções operacionais e financeiras no curto e no médio prazo. Profª. Débora de Gois Santos 5 O administrador financeiro tem como atribuições: a) Análise de registro e informações contábeis para projeções futuras, com contabilidade como fonte de dados internos, ou seja, comportamento do passado. b) Projeção do movimento de fundos – para aferir o grau de liquidez da empresa e verificar se ela terá condições de se manter funcionando, cumprindo compromissos externos de pagamento e fornecendo recursos para a produção. Como a liquidez é a capacidade que a empresa tem de pagar dívidas no vencimento e no valor especificado, se ela for excessiva saberá quanto do excedente poderá ser aplicado. Se a liquidez não for suficiente corre-se o risco de insolvência. As empresas fazem uso de fluxo de caixa para verificar as entradas e saídas em dado período de tempo, considerando vendas a prazo, empréstimos e financiamentos já contratados, e compromissos de pagamentos assumidos e conhecidos. c) Aplicação de fundos excedentes – faz–se com o maior rendimento possível e com velocidade de resgate suficiente para recuperar o dinheiro caso seja necessário, em decorrência da liquidez excessiva. d) Fornecimento à alta administração de informações sobre as perspectivas financeiras futuras da empresa. Auxiliam na tomada de decisão de compra, comercialização e produtos ou serviços, fixação de preços, etc. Essas decisões competem ao administrador financeiro, mas podem envolver diversas áreas, como produção, marketing, pessoal e finanças. e) Elaboração de planos para fontes e uso de fundos, a curto e longo prazo. Consideram-se os custos e os lucros possibilitados pelas aplicações. Os itens “b)” e “e)” funcionam mais como uma assessoria à alta direção e a outros setores da empresa. 1.3 Estrutura organizacional típica da função financeira A figura 02 apresenta uma estrutura organizacional típica da função financeira. Profª. Débora de Gois Santos 6 Figura 02: Estrutura organizacional típica da função financeira. DIRETOR FINANCEIRO TESOUREIRO CONTROLADOR CAIXA E BANCOS CONTAS A RECEBER E CONTAS A PAGAR RELAÇÕES BANCÁRIAS PREPARAÇÃO DO ORÇAMENTO DE CAIXA CONTABILIDADE GERAL E DE CUSTOS ELABORAÇÃO DE ORÇAMENTOS E CONTROLEORÇAMENTÁRIO AUDITORIA INTERNA PREPARAÇÃO DE RELATÓRIOS FINANCEIROS INTERNOS Fonte: Sanvicente (1987). Nada impede que na empresa as funções sejam acumuladas ou que um diretor administrativo acumule a função de diretor financeiro. A área do tesoureiro está mais voltada para o uso do dinheiro, sua manipulação e a posse real de fundos. O controlador preocupa-se com o controle e os fluxos de informações dentro da empresa, lembrando que a primeira tem contato com o público. A controladoria se preocupa com a análise de eficiência relativa com que os recursos obtidos são aplicados pela empresa. 1.4 Definições e objetivos da função financeira A função financeira compreende os esforços dependidos para a maximização dos retornos dos proprietários das ações ordinárias da empresa e possa ter um certo grau de liquidez. Logo, o objetivo é a maior rentabilidade possível sobre os investimentos, desde que não seja comprometida a liquidez da empresa. Isto gera um dilema entre aplicar todos os fundos disponíveis (leva a maior rentabilidade) e manter inativos alguns fundos, como forma de proteção ou defesa contra o risco de não poder pagar alguma dívida, e esse dinheiro inativo não produz retorno. O proprietário (acionista) busca a maximização do valor atual da riqueza, sendo responsável pelo risco último do negócio e por oscilações operacionais. Além disso, é o último a receber a remuneração pelo seu investimento. Segundo Sanvicente (1987), o preço de mercado representa um índice do desempenho ou progresso da empresa. É a atuação da administração frente aos interesses dos acionistas. Os acionistas ao investir procuram saber quanto receberão (estimar dividendos), e quando, além do valor de revenda a qualquer momento, para um comprador potencial e assim por diante. Um exemplo é apresentado na figura 03, onde são mostradas três alternativas de aplicação em Profª. Débora de Gois Santos 7 ações, de acordo com dividendos esperados no futuro. Considera-se na figura que o valor investido é de $1,00. Figura 03: Exemplo de avaliação de alternativas de aplicação em ações. Ano/Empresa A B C 1 0,06 0,10 0,20 2 0,10 0,10 0,08 3 0,14 0,10 0,02 TOTAL 0,30 0,30 0,30 Fonte: Sanvicente (1987). Qual das três opções possui um valor mais alto? A resposta correta é a opção “C”, porque recebe os dividendos mais rapidamente e o investidor pode retirar o dinheiro mais cedo e reinvestir ou adquirir algum bem de consumo para a produção. Sendo assim, o exemplo colocado é uma comparação de alternativas com base no valor atual. 1.5 Visão geral das preocupações da administração financeira Na visão das preocupações da administração financeira (figura 04), a empresa é representada pelo retângulo central com a movimentação interna do dinheiro. As entradas de capital podem provir de terceiros (empréstimos e financiamentos), da venda de produtos ou serviços (contas a receber), da liquidação de ativos imobilizados ou ativos financeiros, e dos proprietários (recursos próprios, aumentos de capital). Do outro lado, têm-se os pagamentos efetuados para remunerar terceiros (principal e encargos de empréstimos e financiamentos), proprietários (dividendos), fornecedores de serviços e bens à empresa (fornecedores, funcionários, arrendadores) e pagamento de impostos. Figura 04: O processo da administração financeira. Fonte: Sanvicente (1987). Profª. Débora de Gois Santos 8 2 Administração do capital de giro 2.1 Natureza do capital de giro Os ativos correntes, ou capital de giro, representam um investimento necessário para que a empresa opere. Se o ramo exigir vendas a prazo, a empresa ficará obrigada a investir em contas a receber (crédito a clientes), se não correrá o risco de não alcançar seus objetivos de venda e lucro. Os ativos correntes nada mais são do que o capital de giro. Eles são diferentes dos ativos imobilizados (capital fixo). É comum o administrador financeiro dedicar-se ao planejamento e controle do investimento em ativos correntes, por serem atividades cotidianas. Já alterar os investimentos de capital fixo é mais difícil porque são de longo período de maturação da aplicação de recursos. Além disso, os investimentos em ativos correntes estão relacionados com as vendas que são diárias e podem oscilar de um momento para outro. Logo, adquirem um senso de urgência quando comparado com o imobilizado. Os investimentos em capital de giro são divisíveis e podem ser efetuados em partes pequenas, de acordo com as necessidades imediatas, imprimindo variabilidade, e seu valor médio e os custos decorrentes podem ser minimizados (são dimensionados com mais exatidão). Por outro lado, os investimentos mais frequentes resultam em custos de obtenção mais altos, devido à movimentação administrativa da empresa para conseguir os ativos necessários e às flutuações dessas necessidades não são previsíveis, porque dependem do comportamento das vendas da empresa. Além do risco de falta de algum elemento do capital de giro, como estoques para um pedido inesperado, recusa de pedidos de crédito de um cliente que seria um bom pagador, ou insuficiência de fundos para pagar contas ou fazer novas compras a preços vantajosos. Conforme Sanvicente (1987), a outra consequência da maior divisibilidade do investimento em ativos correntes é a maior flexibilidade que concede à administração da empresa. No caso de ativo fixo, a empresa se compromete com ele por anos, a menos que o projeto seja abandonado. Existem ainda os ativos correntes temporários e ativos correntes permanentes (figura 05). Profª. Débora de Gois Santos 9 Figura 05: Capital de giro temporário e permanente. Fonte: Sanvicente (1987). Quando as vendas oscilam no curto prazo, e como os investimentos acompanham as vendas, eles também vão apresentar saldos oscilantes durante o ano. Elas correspondem aos movimentos sazonais das vendas e ocorrem com produtos típicos de períodos especiais como Páscoa, Semana da Criança, Natal e Ano Novo, ou estão ligadas a características climáticas do mercado geográfico onde são vendidas; são ativos correntes temporários com saldos que apresentam comportamento sazonal. O capital de giro permanente e o ativo imobilizado estão ligados ao médio e ao longo prazo. O primeiro acompanha a tendência do volume de vendas da empresa. O segundo é apresentado em degraus para denotar a menor divisibilidade dos investimentos. Eles determinam a capacidade máxima de produção, ou seja, algo que não pode ser mudado a curto prazo. 2.2 Administração financeira de estoque De acordo com Sanvicente (1987), o objetivo básico é minimizar as necessidades de investimento neste tipo de ativo, porque esse tipo de investimento reduz a rotação geral dos recursos, o que compromete a rentabilidade geral da empresa e produz custos com sua manutenção. Um saldo mínimo de estoque deve estar disponível para equilibrar entradas e saídas, sua quantidade depende do padrão dos fluxos, que podem ser regulares ou irregulares. O saldo serve ainda para equilibrar o sistema frente a imprevistos. Um outro uso do saldo é para atender a necessidades futuras crescentes, neste caso saldos de antecipações. Estas situações transformam os saldos em lotes com quantidades econômicas. Os custos relacionados aos estoques podem ser: a) Proporcionais ao volume mantido em estoque custo de manutenção ou armazenagem. Profª. Débora de Gois Santos 10 b) Inversamente proporcionais a esse volume os prejuízos da empresa em consequência da falta de estoques para produção ou venda (custos de obtenção). Devem-se equilibrar as duas situações de perigo para a empresa, porque pode perturbar a produção e/ou provocar perdasde vendas. Além disso, os estoques excessivos elevam custos de armazenagem, capital, risco de obsolescência, etc. Com relação à liquidez desse tipo de ativo, os estoques são os ativos mais problemáticos, não só pela dificuldade de vendê-los, mas pela liquidação forçada, devido ao risco de prejuízo, comparando-se os gastos com os preços de venda disponíveis. Segundo Sanvicente (1987), os estoques devem ser excluídos de medidas da capacidade de liquidação de dívidas a curto prazo por uma empresa, embora representem significativa parcela do capital de giro da empresa. Para evitar a excessiva imobilização de bens (estoque) é importante se preocupar com a adoção de procedimentos para seu controle. Isto é possível ao planejar o nível ótimo do estoque, buscando o lote econômico, além disso, pode-se: a) Emitir relatórios regulares, indicando os principais problemas em relação ao aproveitamento do investimento de recursos em estoque; b) Movimentar o estoque apenas por pessoas competentes; c) Dar ênfase aos itens mais significativos do investimento total; d) Preocupar-se apenas com unidades físicas e não com preços unitários. Esses preços só devem ser utilizados com base na montagem de uma classificação ABC para controle, pois o melhor critério de classificação é a percentagem do valor total investido em estoque (SANVICENTE, 1987); e e) Efetuar contagens físicas periódicas por amostragem e separar os registros de recebimento e expedição, por setores ou funcionários diferentes. REFERÊNCIAS 1. SANVICENTE, Antônio Zoratto. Administração financeira. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1987.
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