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135 A Avaliaçªo Psicológica e os Testes Psicológicos A avaliaçªo psicológica Ø uma atividade profissional bastante questionada e controvertida na Psicologia. A avaliaçªo nªo teve um início que lhe conferisse simpatia: começou com a rotulaçªo dos doentes e dØbeis mentais e foi muito criticada por seus mØtodos psicofísicos e pela pouca precisªo científica de seus resultados (Anastasi & Urbina, 2000; Ancona-Lopez, 1987). Durante muitos anos esta prÆtica sofreu as conseqüŒncias de seu desenvolvimento conturbado; mas, encontra-se hoje em um momento de modificaçªo. A avaliaçªo continua a ser questionada e Ø natural que o seja; tal questionamento verifica-se em todas as Æreas do conhecimento, sendo œtil e necessÆrio, pois gera estudos Os Problemas Mais Graves e Mais Freqüentes no Uso dos Testes Psicológicos Ana Paula Porto Noronha 1 Universidade Sªo Francisco Resumo Considerando a importância da Avaliaçªo Psicológica na atuaçªo profissional do psicólogo, este estudo objetivou identificar os problemas mais graves e mais freqüentes no uso dos testes psicológicos, segundo a concepçªo de psicólogos e listar os instrumentos mais utilizados pelos psicólogos. Participaram como sujeitos do estudo 214 psicólogos inscritos no CRP / 6“ Regiªo e o material utilizado foi um questionÆrio enviado pelo correio. Os resultados demostraram que: 1) segundo os psicólogos, os problemas mais graves no uso dos testes psicológicos sªo os relativos aos próprios instrumentos e ao seu uso; 2) os problemas mais freqüentes no uso dos testes psicológicos, segundo os sujeitos, sªo os relativos ao instrumento e à formaçªo dos psicólogos. Concluiu-se que Ø necessÆrio o estabelecimento de parâmetros específicos para a formaçªo na Ærea. Palavras-chaves: Avaliaçªo psicológica; formaçªo profissional; testes psicológicos. The Worst and the Most Common Problems in the Use of the Psychological Tests Abstract Considering the importance of the Psychological Assessment in the psychologist·s professional field, this study had the following goals: to identify the worst and the most commom problems in the use of the psychological tests and to list the most tests used by the subjects sample. The subjects of this study were 214 licensed psychologists from the Regional Council Section 6“ and the instrument used was a questionnaire sent to them by mail. Results showed that: 1) according to the psychologists, the worst problems in the use of the tests are related to the instruments themselves and its use; 2) the most frequent problems in the use of the psychological tests, according to the subjects, are related to the instrument and to the academic preparation of psychologists. Conclusion indicates that there is a crucial need to establish parameters to improve the academic preparation in this area. Keywords: Psychological assessment; academic preparation; psychological tests. 1 Endereço para correspondŒncia: Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, Centro, Itatiba, SP, 13.250-000. E-mail: ananoronha@saofrancisco.edu.br e pesquisas. No que tange à avaliaçªo, seu estudo Ø vÆlido para reconhecer-lhe a importância e valorizÆ-la. Para Pasquali (1992), as controvØrsias e os questio namentos da avaliaçªo psicológica continuam e continuarªo. Mas Ø necessÆrio, apoiando umas, superar outras que sªo devidas a confusıes e incompreensıes de vÆrias naturezas. Ainda sªo presentes os questionamentos acerca da necessidade, ou nªo, da realizaçªo da avaliaçªo psicológica em determinadas Æreas de atuaçªo profissional. De qualquer forma, parece inconcebível o fato de que as intervençıes ocorram sem que as tenham precedido as avaliaçıes, jÆ que ela Ø fundamental para uma atuaçªo adequada, como discutem muitos autores, dentre eles, Aftanas (1994), que em seu estudo conclui que a avaliaçªo psicológica deve ser considerada como uma necessidade primÆria. Para Witter e David (1996), a avaliaçªo de uma maneira geral, seja ela psicológica, ou nªo, Ø de extrema relevância para a tomada de decisıes, ou seja, a avaliaçªo serve para orientar uma açªo mais segura e adequada do psicólogo no seu trabalho. Psicologia: Reflexªo e Crítica, 2002, 15(1), pp. 135-142 136 No entanto, nªo parece ser possível estabelecer uma concordância entre a comunidade psicológica, no que diz respeito aos mØtodos e às tØcnicas utilizadas, assim como ao tempo previsto para a realizaçªo da avaliaçªo, e aos procedimentos, pois considerando que a Psicologia Ø uma ciŒncia em que muitas orientaçıes teóricas e leituras de homem sªo possíveis, e considerando ainda, que hÆ dentro da psicologia uma grande variedade de contextos de atuaçªo do psicólogo, o que exige dele diferentes posturas de acordo com as necessidades específicas, certamente diferentes processos avaliativos sªo necessÆrios. É compreensível que, de tal subdivisªo, decorram diferentes estilos e posturas profissionais e essas diferenças podem trazer contribuiçıes para a Ærea, à medida que estimulam reflexıes, discussıes e críticas; acredita-se, desta forma, que o resultado disto seja positivo e gere o desenvolvimento. Muitos sªo os estudos e as pesquisas que geram discussıes a respeito da Avaliaçªo Psicológica. Azevedo, Almeida, Pasquali e Veiga (1996) apontam que o baixo teor científico dos instrumentos padronizados vem sendo veementemente denunciado. Esses autores discutem que o fato de estudos na Ærea estarem sendo realizados revela uma melhor reputaçªo da investigaçªo psicológica e do uso de instrumentos padronizados. Apontam tambØm para os œltimos estudos que partem do princípio de que a avaliaçªo psicológica Ø indispensÆvel, e procuram destacar a melhora da qualidade dos instrumentos padronizados. Problemas Relativos à Avaliaçªo Psicológica e aos Testes Psicológicos Segundo Wechsler (1999), o Brasil encontra-se na retomada dos estudos sobre Avaliaçªo Psicológica. Para ela, nos œltimos quinze anos, a avaliaçªo psicológica sofreu um descrØdito, em que os testes passaram a ser criticados por nªo serem adequados à realidade brasileira. Dentre os principais problemas apresentados pelos testes psicológicos, os autores destacam: definiçªo pouco simples do que o instrumento mede, ou seja, a complexidade do pressuposto teórico que subsidia a construçªo do instrumento (Sacuzzo & Johnson, 1995); dificuldade encontrada na habilidade do psicólogo para compreender os dados e para fazer relaçıes entre os diversos resultados encontrados, atravØs dos próprios testes ou de qualquer outra tØcnica utilizada (Bruno, 1995). Para Pasquali (1991) parte da dificuldade pode ser atribuída ao descaso de nossos pesquisadores, que pouco se preocupam com as qualidades psicomØtricas dos instrumentos psicológicos Embora tal linha de pesquisa jÆ venha fazendo parte dos laboratórios de avaliaçªo psicológica de algumas universidades brasileiras, os avanços necessÆrios ainda nªo foram conseguidos. Por outro lado, em outras realidades, este tipo de trabalho jÆ vem obtendo os resultados esperados, no sentido de pesquisar os parâmetros psicomØtricos dos testes psicológicos, a fim de se obter instrumentos com melhor qualidade e mais confiÆveis (Groth-Marnat, 1997; Messick, 1995; Reynolds, 1998; Zimiles, 1996). Um destaque deve ser dado para o trabalho de Almeida, Prieto, Muæiz e Bartram (1998), que fizeram um estudo interessante a respeito do uso dos testes em alguns países Portugal, Espanha e Ibero-Americanos (dentre eles o Brasil) e chegaram à conclusªo de que os problemas mais freqüentes na prÆtica dos testes sªo: xerocar material de testes; usar testes inadequados para algumas situaçıes; nªo estar em sintonia com as modificaçıes da Ærea; avaliaçıes incorretas; nªo usar folhas de respostas padronizadas; nªo ter clareza das limitaçıes dos instrumentos, quanto às normas; aplicaçªo de testes por leigos; nªo adaptar os instrumentos para os determinados países ou regiıes; nªo arquivar os instrumentos e nªo daro devido seguimento aos estudos dos testes e fazer interpretaçıes que extrapolam o instrumento. Os autores salientam que nªo existem padrıes de atuaçªo na Ærea, nªo se avalia competŒncia profissional dos usuÆrios de instrumento psicológico, nªo se determina uma conduta comum de formaçªo específica, assim como nªo se estabelecem cursos de formaçªo. Eles relacionam os problemas encontrados na formaçªo profissional, com os problemas encontrados na utilizaçªo dos testes psicológicos. Em relaçªo ao aspecto da xerocópia de material de testes citado no estudo anterior, o trabalho desenvolvido por Oakland (1999) tambØm faz referŒncia ao tema, atribuindo a ele o carÆter de um dos problemas que impedem o desenvolvimento dos testes. Outros estudos desta natureza tŒm sido realizados, como o de Halperin e McKay (1998), que procuraram revisar os testes psicológicos usados com crianças e adolescentes, na tentativa de responder como os testes vŒm sendo usados e como seus escores estªo sendo interpretados. Embora tenha sido reafirmado que os testes psicológicos sªo importantes instrumentos que podem contribuir com o plano de trabalho do profissional, o problema detectado girou em torno dos poucos dados estatísticos que o instrumento apresenta, sobretudo os testes projetivos. Isto Ø tambØm enfatizado por AdÆnez (1999), uma vez que ele denuncia que os manuais mais clÆssicos da psicologia nªo tratam o assunto de maneira equilibrada, ou seja, priorizam a discussªo de alguns elementos em detrimento de outros. Tal observaçªo pode parecer descontextualizada, tendo em vista que fala dos manuais de psicologia, e nªo de Ana Paula Porto Noronha Psicologia: Reflexªo e Crítica, 2002, 15(1), pp. 135-142 137 manuais de testes, discussªo que vinha sendo privilegiada atØ entªo. Por outro lado, jÆ se ressaltou no estudo de Almeida e colaboradores (1998) que existe uma clara relaçªo entre problemas nos instrumentos psicológicos e problemas na formaçªo profissional do psicólogo que constrói e usa os referidos instrumentos. Ainda dando margem a esta questªo, da relaçªo entre formaçªo profissional e uso de instrumentos, parece claro que a formaçªo de um psicólogo em cinco anos de universidade, nªo Ø suficiente para aprimorÆ-lo em todas as Æreas de conhecimento, embora devesse sŒ-lo. No estudo realizado por Hays e Wellard (1998) a respeito da formaçªo em avaliaçªo psicológica, ficou evidente a necessidade de que o recØm-formado continue os estudos na Ærea após a graduaçªo. Pode-se entender que para os autores citados, os problemas encontrados na avaliaçªo psicológica, e em especial nos testes psicológicos, referem-se prioritariamente à formaçªo do profissional que utiliza os instrumentos, às deficiŒncias nos próprios instrumentos, assim como à falta de pesquisas que promovam satisfatoriamente o desenvolvimento da Ærea. Por trÆs deste cenÆrio em que predominam controvØrsias e polŒmicas, existem duas preocupaçıes bÆsicas: como a avaliaçªo tem sido entendida e utilizada pela comunidade profissional e como ela tem sido proposta e ensinada nos cursos preparatórios. É importante que as pesquisas na Ærea estejam preocupadas com a criaçªo de instrumentos novos, com a atualizaçªo de instrumentos existentes, com a verificaçªo dos parâmetros psicomØtricos dos instrumentos, assim como com a soluçªo de problemas presentes na avaliaçªo psicológica como um todo. Outros estudos desenvolvidos versam sobre quais sªo os instrumentos mais usados pelos psicólogos e os problemas mais presentes na avaliaçªo, segundo esses profissionais (Almeida e colaboradores, 1998; Noronha, 1999). Embora os avanços da avaliaçªo sejam claros, sobretudo quando se relaciona a situaçªo atual da Ærea com os primeiros instrumentos psicofísicos, rudimentares e com falhas sØrias, estÆ clara a importância da continuidade de estudos e de pesquisas, a fim de que pesquisadores e psicólogos da avaliaçªo psicológica encontrem o devido estado de excelŒncia. Face à importância da avaliaçªo na prÆtica profissional do psicólogo em qualquer contexto de trabalho e à necessidade de estudos atuais sobre esta Ærea de conhecimento, o presente estudo teve como objetivos: identificar os problemas mais graves e mais freqüentes no uso dos testes psicológicos, segundo psicólogos; e listar os testes psicológicos mais utilizados. MØtodo Participantes Participaram como sujeitos desta pesquisa, 214 psicólogos sendo que 86,0% (n= 184) eram do sexo feminino e 14% (n= 30) do sexo masculino. A idade dos sujeitos variou de 39 a 76 anos, tendo sido a mØdia de 48,2 anos e o desvio padrªo 6,44. A maioria possui de 41 a 50 anos (69,2%, n= 148); 20,6% (n= 44) possui de 51 a 60 anos; 5,1% (n= 11) de 61 a 70 anos; 4,2% (n= 9) de 39 a 40 anos e 0,9% (n= 2) acima de 70 anos. Todos os psicólogos estavam inscritos no CRP/6“ Regiªo e foram identificados por este órgªo (sub-sede Campinas) de acordo com procedimentos próprios. Material O material utilizado no presente estudo constituiu-se de um questionÆrio dividido em quatro partes, a saber: I. dados de identificaçªo (informaçıes relativas à caracterizaçªo do sujeito, no que diz respeito à idade, ao sexo, ao ano de formaçªo e à pós-graduaçªo); II. atuaçªo profissional (informaçıes relacionadas às atividades desenvolvidas pelos psicólogos, tais como Æreas de atuaçªo profissional e horas de trabalho dedicadas); III. testes psicológicos (informaçıes dobre os nomes dos instrumentos padronizados mais utilizados na sua prÆtica profissional, ano de publicaçªo, autor); IV. Problemas relacionados à avaliaçªo psicológica (informaçıes relativas aos problemas mais graves e mais freqüentes na avaliaçªo psicológica, segundo os psicólogos). O material foi enviado pelo correio, juntamente com um envelope etiquetado para facilitar a devoluçªo; foram enviados 3000 questionÆrios e, dentro do período aprazado, foram recebidos 223. Destes, foram considerados 214 (7,14%) para composiçªo da amostra, tendo em vista que nove deles, apenas enviaram para justificar a nªo participaçªo. Resultados De acordo com o primeiro objetivo deste trabalho, procurou-se investigar quais problemas os psicólogos apontam como graves e freqüentes em relaçªo à Ærea de Avaliaçªo Psicológica. As respostas obtidas foram agrupadas em seis categorias, assim como as respostas em branco tambØm foram computadas; as respostas foram submetidas à apreciaçªo de dois especialistas na Ærea (dois professores de disciplinas de Avaliaçªo Psicológica: um doutor e um mestre). Os Problemas Mais Graves e Mais Freqüentes no Uso dos Testes Psicológicos Psicologia: Reflexªo e Crítica, 2002, 15(1), pp. 135-142 138 As categorias utilizadas nesta anÆlise serªo descritas a seguir: Formaçªo: nesta categoria foram incluídas todas as respostas relativas à formaçªo profissional, tanto a bÆsica (graduaçªo), quanto à pós-graduaçªo, tais como os relacionados às Instituiçıes de Formaçªo, aos órgªos de classe, aos docentes e aos próprios psicólogos. A seguir estªo alguns exemplos de respostas classificadas nesta categoria: Falta de reciclagem profissional, Psicólogo escondido atrÆs dos resultados dos testes, Desconhecimento da base teórica. Uso: foram incluídas as respostas que expressavam comentÆrios à adequaçªo ou inadequaçªo de instrumentos de avaliaçªo, tanto no que se refere à aplicaçªo, avaliaçªo ou interpretaçªo dos resultados. Alguns exemplos de respostas classificadas nesta categoria: Falta de clareza do que se estÆ medindo, Mau uso do material, Uso limitado do instrumento e de suas possibilidades e Uso mecânico dos testes. Instrumento: foram incluídas nesta categoria, respostas relativas aos problemas específicos dos instrumentos de avaliaçªo mencionados, quer fossem relacionados à construçªo deles, às suas características psicomØtricas, revisıes, normas ou qualquer outro problema desta natureza. Encontram-se abaixorelacionados alguns exemplos de respostas: Material antiquado, Padronizaçªo estrangeira, Crivos deixam a desejar e Faltam atualizaçıes das normas. Ético: nesta categoria foram relacionadas as questıes Øticas advindas de quaisquer dos princípios apontados no Código de Ética profissional do Psicólogo ou outros aspectos identificados pela prÆtica dos sujeitos. Como exemplos: Falta de Øtica na entrega dos resultados, Testes conhecidos pelos candidatos, Leigos tŒm acesso e Cópia do instrumento para diminuir custos. Epistemológicos: foram incluídas nesta categoria respostas que tratavam de anÆlises críticas dos princípios, hipóteses e resultados da CiŒncia Psicológica, e em especial, da Avaliaçªo Psicológica e de seus instrumentos. Alguns exemplos de respostas: Entendidos como verdades absolutas, Pouca utilidade para prevençªo, Nªo medem a realidade e Fazem inferŒncias. Outras respostas: foram incluídas as respostas sem sentido ou com sentido dœbio e as respostas que nªo se enquadravam em nenhuma outra categoria. Como por exemplo, Retirada do currículo obrigatório, Nªo hÆ material para avaliar crianças menores de cinco anos e adolescentes, Autoritarismo tØcnico e Falta de coesªo na nomenclatura. Respostas em branco: pertencem a esta categoria os protocolos cujas perguntas nªo foram respondidas. Observou-se que mais da metade de sujeitos nªo respondeu à questªo enumere os problemas mais graves no uso dos testes psicológicos - (55,1%, n= 118), o que pode indicar uma ausŒncia de reflexıes sobre este assunto. Deste total, 29,9% (n= 64) justificaram que nªo responderiam porque nªo usavam testes psicológicos, e 25,2% (n=54) deixaram a questªo em branco (Tabela I). Dos protocolos respondidos (n= 96), constatou-se que a categoria de maior freqüŒncia de argumentos analisados foi instrumento (32,9%, n= 99), vindo em seguida, uso (25,9%, n= 78), formaçªo (19,3%, n= 58), epistemológico (10%, n= 30), Øtico (9,6%, n= 29) e outras (2,7%, n= 7). Foi a categoria instrumento que recebeu mais crítica, representando o mais grave problema para a atuaçªo em Avaliaçªo Psicológica. Foi realizado o teste de qui-quadrado para verificar a homogeneidade da distribuiçªo; observou-se que houve diferença significativa entre as categorias (X†o = 29,67; X†c = 20,515; n.g.l. 5; p< 0,001), o que significa dizer que a hipótese de distribuiçªo uniforme das respostas dos sujeitos foi rejeitada. No que se refere aos problemas mais freqüentes dos instrumentos de avaliaçªo psicológica, as categorias de respostas utilizadas para a anÆlise foram as mesmas citadas na questªo anterior, ou seja, formaçªo, uso, instrumento, Øtico, Tabela 1. Problemas Mais Graves e Mais Freqüentes no Uso dos Testes Psicológicos Problemas Graves Prob. Freqüentes Total Formaçªo Uso Instrumento Ético Epistemológico Outros n 58 78 99 29 30 7 % 19,3 25,9 32,9 9,6 10 23 n 90 64 124 17 28 5 % 27,5 19,5 37,8 5,2 8,5 1,5 n 148 142 223 46 58 12 % 23,5 22,6 35,5 7,3 9,2 1,9 Ana Paula Porto Noronha Psicologia: Reflexªo e Crítica, 2002, 15(1), pp. 135-142 139 epistemológico, outras respostas, respostas em branco. A seguir, sªo apresentados alguns exemplos pertinentes às categorias: Formaçªo: Nem sempre Ø feita por profissionais capacitados, Necessidade de treino e Conhecimento de poucos testes. Uso: Avaliaçªo incorreta, Falta de clareza da aplicaçªo, Erro de aplicaçªo, Erro de avaliaçªo. Instrumento: Padrªo deveria ser corrigido a cada 10/5 anos, Alto custo do material, Faltam instrumentos para diferentes realidades, Faltam amostras brasileiras. Ético: Muito divulgado na mídia, Divulgaçªo dos resultados a terceiros, Popularizaçªo dos instrumentos, Divulgaçªo dos testes a leigos. Epistemológico: Pouca margem de flexibilidade às idiossincrasias, Visªo parcial do indivíduo, Estigmatizam, Catalogam. Outras respostas: Nªo tenho encontrado dificuldade, O mØtodo Ø pouco difundido, facilitando panelinhas profissionais. Em relaçªo à discussªo dos problemas mais freqüentes apontados pelos psicólogos, novamente 51,4% dos sujeitos (n= 110) nªo responderam, sendo que 33,2% (n= 71) justificaram que nªo responderiam porque nªo utilizam testes psicológicos e 18,2% (n= 39) deixaram a questªo em branco. Dos protocolos respondidos, 37,8% das respostas (n= 124) associaram os problemas mais freqüentes ao instrumento; 27,5% (n= 90) relacionaram à formaçªo; 19,5% (n= 64) ao uso; 8,5% (n= 28) ao epistemológico; 5,2% (n= 17) ao Øtico e 1,5% (n= 5) a outras respostas. Os sujeitos apontaram aspectos do instrumento como o problema mais freqüente em relaçªo às categorias de respostas. Notou-se que houve diferença significativa entre as categorias (X†o= 50,42; X†c= 20,515; n.g.l. 5; p< 0,001=, o que significa dizer que a hipótese de distribuiçªo igual entre as categorias de resposta foi rejeitada. Em relaçªo ao segundo objetivo do estudo, ou seja, verificar os instrumentos mais usados pelos psicólogos, observou-se que quando os sujeitos foram solicitados a se manifestar quanto aos dez instrumentos mais utilizados na prÆtica profissional, apenas 43% (n= 92) atenderam ao objetivo da questªo, enquanto 39,3% dos sujeitos (n= 84) disseram que nªo usavam testes na sua atuaçªo e 17,7% (n= 38) nªo responderam à pergunta e nªo fizeram comentÆrio algum a respeito, deixando a questªo em branco. Ao comparar os sujeitos quanto à utilizaçªo, ou nªo, dos testes psicológicos, observou-se que nªo houve diferença significante entre eles (X†o= 11,2; n.g.l. 2; p>0,05). Alguns dos argumentos explicativos dos sujeitos para o nªo uso dos testes, foram: nªo uso testes, sou psicanalista; nªo tenho condiçıes de responder, pois trabalho em treinamento; sou psicoterapeuta. Quando se solicitou aos sujeitos que indicassem os instrumentos mais usados em sua prÆtica, foram feitas 505 citaçıes, sendo que em 83,6% (n= 422) os instrumentos foram devidamente identificados, em 9,1% (n= 46) das citaçıes, os dados fornecidos pelos sujeitos nªo permitiram uma identificaçªo adequada do instrumental, e 7,3% (n= 37) das citaçıes foram referentes às tØcnicas de Avaliaçªo Psicológica, como por exemplo, observaçªo, entrevistas, desenho livre e jogo de areia. Os dez instrumentos mais citados pelos sujeitos foram: WISC D. Wechsler (15%, n= 42); Teste de Apercepçªo TemÆtica Infantil C.A.T. (formas animal e humana) L. Bellak e S.S. Bellak (13,9%, n= 39); H. T. P. J. N. Buck (13,6%, n= 38); Teste Gestaltico Viso Motor Bender L. Bender (13,2%, n= 37); Teste de Apercepçªo TemÆtica T.A.T. H. A. Murray (9,3%, n= 26); Teste de Warteg E. Wartegg (9,3%, n= 26); Rorschach H. Rorschach (8,6%, n= 24); Teste de Desenhos e Histórias W. Trinca (6,8%, n= 19); Teste de Matrizes Progressivas (escalas geral e avançada) J. C. Raven (6,4%, n= 18) e Teste de Pirâmides Coloridas Pfister (3,9%, n= 11). Instrumentos WISC CAT HTP Bender TAT Wartegg Rorschach Teste de Desenho História Matrizez Progressivas Pfister N 42 39 38 37 26 26 24 19 18 11 % 15 13,9 13,6 13,2 9,3 9,3 8,6 6,8 6,4 3,9 Discussªo Segundo a ótica dos psicólogos, observou-se as duas categorias de problemas mais graves foram instrumento e uso. Ou seja, para os participantes, os problemas relativos à construçªo do instrumento, às normas do instrumento, às características do instrumento e ao uso do instrumento sªo os problemas mais graves presentes na avaliaçªo psicológica. Para eles, nªo haveria problemas se instrumentos novos fossem lançados no mercado, se fossem criados instrumentos que abordassem diferentes tipos de Os Problemas Mais Graves e Mais Freqüentes no Uso dos Testes Psicológicos Tabela 2. Testes Psicológicos Mais Utilizados Pelos Psicólogos Psicologia: Reflexªo e Crítica,2002, 15(1), pp. 135-142 140 construtos, se as amostras utilizadas para a padronizaçªo dos instrumentos fossem brasileiras, se fossem realizadas mais pesquisas sobre validade e fidedignidade, se as instruçıes fossem melhor estruturadas, se os manuais fossem completos, se houvesse instrumentos para avaliar diferentes realidades sócio-culturais, ou ainda, se o custo do material nªo fosse tªo alto. Tais exigŒncias dos sujeitos nªo parecem exageradas, jÆ que muitos autores tŒm falado sobre isso, como por exemplo, Wechsler (1999) que sugeriu um Guia de Procedimentos Éticos para a Avaliaçªo Psicológica, em que consta: Ao selecionar um teste psicológico, o psicólogo deve: (...) considerar as características psicomØtricas do instrumento a ser utilizado, tais como sensibilidade, validade, precisªo e existŒncia de normas específicas ou gerais para a populaçªo brasileira, (...) verificar se o manual do teste possui informaçıes necessÆrias para aplicaçªo, correçªo e interpretaçªo dos resultados do mesmo (p. 136). Ainda em relaçªo aos problemas graves, os psicólogos justificam tambØm que esses problemas nªo estariam ocorrendo se os testes nªo fossem aplicados indevida, indiscriminada e mecanicamente; por pessoal nªo qualificado, sem critØrios; com instruçıes erradas; se nªo houvesse erro de avaliaçªo; supervalorizaçªo do quantitativo; interpretaçªo generalizada e o uso de um œnico instrumento como resultado definitivo. Tendo em vista estas colocaçıes, vale lembrar que (...) cabe exclusivamente ao psicólogo a responsabilidade pela qualidade da aplicaçªo dos testes psicológicos, sendo esta condiçªo essencial para a obtençªo de um resultado fidedigno, (...) o psicólogo deverÆ respeitar rigorosamente as instruçıes, os exemplos, o tempo e outras orientaçıes que se encontram no manual ou no próprio caderno de teste, evitando quaisquer improvisaçıes que possam comprometer todo o processo de validade do instrumento (Wechsler, 1999, p. 137). Em relaçªo aos problemas mais freqüentes, as categorias de respostas que apresentaram maior freqüŒncia foram instrumento e formaçªo. Ou seja, para os sujeitos, os problemas mais freqüentes sªo os relativos ao instrumento, jÆ discutido anteriormente e os relacionados à formaçªo profissional, às Instituiçıes de Formaçªo, aos órgªos de classe, aos docentes e aos próprios psicólogos. Os sujeitos consideraram os problemas freqüentes semelhantes aos problemas graves em relaçªo à categoria instrumento. No entanto, no que diz respeito à categoria formaçªo (ver definiçªo de categorias nos Resultados), para os sujeitos nªo haveria problemas se o psicólogo estivesse melhor preparado para atuar, se o psicólogo nªo tivesse preconceito em relaçªo aos testes psicológicos, se o psicólogo fosse mais objetivo nas suas avaliaçıes, se o psicólogo fosse melhor formado na Ærea, se os docentes que ensinam nas Instituiçıes de Ensino Superior fossem mais qualificados, se a prÆtica e a carga horÆria das disciplinas fossem maiores e se houvesse melhor divulgaçªo dos instrumentos para a comunidade de psicólogos. Mais especificamente em relaçªo ao uso dos instrumentos psicológicos, os resultados deste estudo estªo em concordância com o trabalho desenvolvido por Azevedo e colaboradores (1996), no qual objetivou-se conhecer os instrumentos psicológicos mais utilizados pelos sujeitos e identificar a opiniªo dos psicólogos a respeito dos testes. Constatou-se que metade da amostra utiliza testes como um recurso disponível e possível ao psicólogo; constatou- se tambØm que a maioria dos sujeitos acredita no valor dos testes, mas com as seguintes ressalvas: que ele seja usado respeitando os princípios Øticos e desde que faça parte de um processo de avaliaçªo, que inclua outros tipos de instrumentos. Parece estar claro que tais problemas estªo sendo atribuídos ao instrumento, ao uso deles e à formaçªo profissional, e por trÆs disso, encontra-se o psicólogo, ou mais especificamente, o psicólogo que nªo cria bons instrumentos, o psicólogo que nªo os utiliza adequadamente e o psicólogo que nªo estÆ sendo bem formado. Na verdade, esta Ø uma discussªo ampla e que envolve muitas instâncias do ser e do fazer psicológicos. Se por um lado existe o psicólogo que estÆ atuando na prÆtica, que nªo estÆ preparado para as solicitaçıes do mercado profissional e que nªo estÆ atualizado, por outro lado, tem-se instituiçıes formadoras que nªo estªo formando de acordo com as necessidades profissionais, e por outro lado ainda, tem-se os pesquisadores cujos conhecimentos e descobertas nªo estªo sendo transmitidas de maneira eficientes. Como pondera Custódio (1996), muitas vezes a culpa da avaliaçªo psicológica inadequada e do diagnóstico incorreto Ø atribuída ao próprio instrumento padronizado. Essa colocaçªo Ø corroborada por Salvia e Ysseldyke (1991), cujo parecer Ø de que o instrumento de avaliaçªo Ø valorizado ou desvalorizado pelo bom ou mau profissional que o utiliza, ou nªo com adequaçªo, respeitando seus limites e objetivos. Tal afirmaçªo, no entanto, deve ser ponderada, uma vez que nªo Ø exeqüível que bons psicólogos transformem maus instrumentos em bons, isentando assim, a mÆ qualidade de alguns deles. De qualquer maneira, as avaliaçıes ineficientes nªo podem ser atribuídas unicamente ao instrumento. Nªo se pode esquecer de que embora o psicólogo disponha de tØcnicas e recursos para realizar a avaliaçªo, ele tem em sua pessoa o seu instrumento de trabalho, e cabe a ele refletir sobre os dados encontrados. O psicólogo que estÆ Ana Paula Porto Noronha Psicologia: Reflexªo e Crítica, 2002, 15(1), pp. 135-142 141 preparado para isto, certamente estarÆ para compreender os fenômenos psicológicos representados pelos dados numØricos. A anÆlise crítica dos psicólogos deve ser tªo priorizada quanto os dados fornecidos pelos instrumentos, pois eles tŒm limites e isso nªo poderia ser diferente, pois em qualquer ciŒncia, os instrumentos tŒm funçªo auxiliar. A formaçªo e a atualizaçªo adequadas do profissional, ao lado de sua experiŒncia, deveriam, evitar tais inconvenientes. No que diz respeito aos instrumentos psicológicos mais utilizados na prÆtica profissional dos psicólogos, observou-se que grande parte dos sujeitos nªo os utiliza, enquanto outra parte deixou a questªo em branco, o que revela o pequeno compromisso dos sujeitos com o desenvolvimento de sua profissªo, considerando que pesquisas científicas promovem o avanço de qualquer Ærea de conhecimento. A questªo solicitava os instrumentos psicológicos mais utilizados na prÆtica profissional e seria aceitÆvel que os sujeitos se manifestassem dizendo que avaliam, mas sem utilizar instrumentos padronizados, mas por outro lado, as justificativas apresentadas caminharam para um discurso antigo, em que o preconceito pelo teste psicológico ainda se faz presente e, em que ainda, o teste Ø sinônimo de avaliar. Em relaçªo aos instrumentos mencionados, observou- se que a grande maioria tem como objetivo avaliar a personalidade do indivíduo, enquanto uma menor parte objetiva avaliar a inteligŒncia. Estes dados podem ser corroborados pelo estudo promovido por Almeida e colaboradores (1998), jÆ que dos instrumentos mais utilizados pelos psicólogos da Espanha, de Portugal e dos Países Iberoamericanos, oito diziam respeito à avaliaçªo da personalidade. Embora o instrumento da autora deste estudo solicitasse que o sujeito identificasse os testes psicológicos mais usados, alguns psicólogos citaram tØcnicas de avaliaçªo, o que revela determinada confusªo conceitual. Para Oakland (1996), os testes sªo fortes em países que valorizam a tecnologia e as diferenças individuais, que tem o sistema educacional bem desenvolvido e que possuem recursos comerciais e tecnológicos para produzi- los. Ele argumenta que países sem essas qualidades, geralmente desenvolvem e usam poucos testes e que, ao contrÆrio,a presença das características causa um forte impacto nos testes. Por sua vez, os testes psicológicos de alguma forma representam uma categoria profissional, por serem instrumentos exclusivos dos psicólogos, e Ø possível que maus instrumentos, aqueles que causam um impacto negativo na comunidade científica e na sociedade, denigram a profissªo. É certo que o estudo nªo respondeu todas as questıes existentes, atØ porque este nªo era seu objetivo. Outros estudos na Ærea sªo necessÆrios, como os relacionados à formaçªo profissional, à comparaçªo da prÆtica da avaliaçªo quando realizada em diferentes contextos, e à concepçªo de Avaliaçªo Psicológica segundo psicólogos de diferentes formaçıes profissionais, entre outros temas relevantes necessÆrios. Consideraçıes Finais Vale destacar que, embora as respostas dos sujeitos tenham sido divididas em categorias, a fim de se compreender melhor os dados encontrados, na verdade, todos eles tŒm em comum a ampla questªo da formaçªo profissional do psicólogo. Ainda Ø a formaçªo que dirige a açªo do psicólogo e, para que se obtenha uma açªo com um mínimo de problemas graves e freqüentes, deve- se investir na preparaçªo do profissional. É urgente a necessidade de se olhar para isto! ReferŒncias AdÆnez, G. P. (1999). Procedimientos de construccion y analisis de tests psicometricos. Em S. M. Wechsler & R. S. L. Guzzo (Orgs.), Avaliaçªo psicológica: Perspectiva internacional (pp. 57-100). Sªo Paulo: Casa do Psicólogo. Aftanas, M. S. (1994). On revitalizing the measurement curriculum. American Psychologists, 49(10), 889-890. Almeida, L. S., Prieto, G., Muæiz, J. & Bartram, D. (1998). O uso dos testes em Portugal, Espanha e Países Iberoamericanos. Psychologica, 20, 41-55 Anastasi, A. & Urbina, S. (2000). Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: Artes MØdicas Ancona-Lopez, M. (Org.) (1987). Avaliaçªo da inteligŒncia I. Sªo Paulo: E.P.U. Azevedo, M. M., Almeida, L. S., Pasquali, L. & Veiga, H. M. S. (1996). 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