Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO TECNOLÓGICO DA ZONA LESTE FACULDADE DE TECNOLOGIA DA ZONA LESTE DANIEL MASS DOS SANTOS NUNES USO DA LOGÍSTICA REVERSA PARA CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA) Nº 258 DE 1999 PELOS FABRICANTES DE PNEUS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO São Paulo 2006 CENTRO TECNOLÓGICO DA ZONA LESTE FACULDADE DE TECNOLOGIA DA ZONA LESTE DANIEL MASS DOS SANTOS NUNES USO DA LOGÍSTICA REVERSA PARA CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA) Nº 258 DE 1999 PELOS FABRICANTES DE PNEUS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Monografia apresentada no curso de Tecnologia em Logística com ênfase em Transporte na FATEC ZL como requerido parcial para obter o Título de Tecnólogo em Logística com ênfase em Transporte Orientador: Prof. Cláudio Antônio Gomes São Paulo 2006 CENTRO TECNOLÓGICO DA ZONA LESTE FACULDADE DE TECNOLOGIA DA ZONA LESTE DANIEL MASS DOS SANTOS NUNES USO DA LOGÍSTICA REVERSA PARA CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA) Nº 258 DE 1999 PELOS FABRICANTES DE PNEUS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Monografia apresentada no curso de Tecnologia em Logística com Ênfase em Transporte na FATEC ZL como requerido parcial para obter o Título de Tecnólogo em Logística com ênfase em Transporte. COMISSÃO EXAMINADORA ______________________________________ Prof. Cláudio Antônio Gomes Faculdade de Tecnologia da Zona Leste ______________________________________ Priscila Cristina da Silva Tecnóloga em Logística com ênfase em Transporte pela FATEC ZL ______________________________________ Prof. Joel Valentino Candido Faculdade de Tecnologia da Zona Leste São Paulo, ____ de________ de 2006. A minha família... AGRADECIMENTOS Acima de tudo a Deus por me dar saúde e inteligência para chegar aonde cheguei. A minha família pela paciência adquirida nestes últimos meses e pela exclusividade no computador da família. Aos meus pais pela grande índole e ações tomadas, que me caracterizam pelo que sou hoje. Ao professor orientador que me auxiliou na seleção da bibliografia e direcionamento do trabalho. Aos amigos e colegas formados nestes três anos de convivência quase diária - excluem-se os domingos - pela determinação e força mútua transmitidas a todos do grupo. A todos aqueles que fazem parte dos processos envolvidos neste trabalho que dedicaram seu tempo a questionamentos e perguntas por parte deste autor. O ambientalismo superficial aceita o paradigma mecanicista dominante. A ecologia profunda envolve a mudança para uma visão do mundo holística e sistêmica (Arne Naess, 1973). RESUMO Este estudo visa verificar como é realizada a coleta dos pneus inservíveis no município de São Paulo pelos fabricantes de pneus em cumprimento a Resolução Nº 258 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) de 1999, onde ficam obrigados a coletar e dar destinação final, ambientalmente adequada, aos pneus inservíveis existentes no território nacional, através da logística reversa para criação de uma cadeia de distribuição reversa. Estudar os elos desta cadeia, através da descrição de processos de coleta, armazenagem e descarte final feito por empresas terceirizadas de reciclagem, revendedores, associada de classe e parceria com a Prefeitura do Município de São Paulo. Analisar o papel do cliente final neste processo e como as empresas utilizam-se desta determinação para promover sua marca, o marketing social e o comprometimento com o meio ambiente. Palavras-chave: pneus inservíveis, logística reversa, marketing social, meio ambiente, descarte. ABSTRACT This study seeks to verify how the collection of the useless tires is accomplished in the municipal district of Sao Paulo by the manufacturers of tires in execution the Resolution no. 258 of National Council of the Environment (CONAMA) of 1999, where they are forced to collect and to give final destination, appropriate environmentally, to the existent useless tires in the national territory, through the reverse logistics for creation of a chain of reverse distribution. To study the links of this chain, through the description of collection processes, storage and final discard done by recycling third party companies, resellers, associated of class and partnership with the City hall of the Municipal district of Sao Paulo. To analyze the final customer's paper in this process and how the companies use this determination to promote their brand, the social marketing and the compromising with the environment. Key-words: useless tires, reverse logistics, social marketing, environment, discard. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Estágios do ciclo de vida de um produto ................................................. 21 Figura 2 – Atividades típicas do processo logístico reverso ..................................... 25 Figura 3 – Canais de distribuição diretos e reversos ............................................... 26 Figura 4 – Partes do pneu ........................................................................................ 41 Figura 5 – Meta e destinação de pneus inservíveis por parte dos fabricantes ......... 50 Figura 6 – Cadeia reversa resíduo sólido pneu – parceria PMSP/ANIP .................. 59 Figura 7 – Cadeia reversa pneu usado – contratada Mazola ................................... 61 Figura 8 – Cadeia reversa pneu usado – contratada Tyre Center ............................ 63 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Porcentagem de retorno de bens de pós-venda.................................... 27 Tabela 2 - Destinação final de resíduos sólidos no Brasil ........................................ 38 Tabela 3 - O transporte de cargas no mundo (%) .................................................... 43 Tabela 4 – Produção de pneumáticos novos no Brasil ............................................ 45 Tabela 5 – Aumento da produção de carros em alguns países ............................... 47 Tabela 6 - Principais destinações do pneu inservível no Brasil ................................ 52 Tabela 7 - Principais destinações do pneu inservível nos EUA................................ 55 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABIP - Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados ABR - Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus ANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores ANIP – Associação Nacional da Industria de Pneumáticos CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CLM – Council of Logistics Management CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente COVISA – Coordenação de Vigilância em Saúde DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito EIA – Estudo de Impacto Ambiental EPA – U.S. Environmental Protection Agency EPR - Extended Product Responsability EUA – Estados Unidos da América IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalizaçãoe Qualidade Ambiental ISO - International Organization for Standardzation LIMPURB – Departamento de Limpeza Urbana MMA – Ministério do Meio Ambiente OICA – Organisation Internationale des Constructeurs d’Automobiles ONU – Organizações das Nações Unidas PMSP – Prefeitura do Município de São Paulo SGA – Sistema de Gestão Ambiental SMA – Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo SS – Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo UNEP – United Nations Environment Programme SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 14 1.2 Objetivos ............................................................................................................ 15 1.3 Metodologia ........................................................................................................ 15 2. LOGÍSTICA .......................................................................................................... 16 2.1 Contexto Histórico .............................................................................................. 16 2.2 Conceito de Logística ......................................................................................... 17 2.2.1 Atividades Primárias e Secundárias........................................................... 18 2.2.2 O Produto Logístico ................................................................................... 19 2.2.3 Ciclo de Vida do Produto e a Curva ABC ................................................... 20 2.3 Conceito de Logística Reversa ........................................................................... 22 2.3.1 Canais de Distribuição Reversos (CDR) .................................................... 24 2.3.2 Canais de Distribuição Reversos de Pós-Venda ....................................... 26 2.3.3 Canais de Distribuição Reversos de Pós-Consumo................................... 28 2.3.4 Fatores para a Constituição de CDR de Pós-Consumo ............................. 30 3. A RELAÇÃO ENTRE LOGÍSTICA, MARKETING E MEIO AMBIENTE ................ 32 3.1 Aspectos Históricos ............................................................................................ 32 3.2 Sistema de Gestão Ambiental ............................................................................ 35 3.3 Resíduos Sólidos ............................................................................................... 36 3.4 Conceito poluidor-pagador ................................................................................. 39 4. O PRODUTO PNEU ............................................................................................. 40 4.1 Panorama do Segmento de Pneus no Brasil ...................................................... 42 4.1.1 Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus (ABR) ............ 43 4.1.2 Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados (ABIP) ............ 44 4.1.3 Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) ........................ 45 5. O RESÍDUO SÓLIDO PNEU ................................................................................ 46 5.1 Destinações ambientalmente corretas ............................................................... 50 5.2 Exemplos de Gestão do Pneu Inservível em outros Países............................... 52 5.2.1 Portugal – Valorpneu ................................................................................ 53 5.2.2 Estados Unidos da América e suas leis estaduais ..................................... 53 6. ESTUDO DE CASO ........................................................................................... . 56 6.1 Cadeia reversa do resíduo sólido pneu – parceria PMSP/ANIP ....................... 57 6.2 Cadeia reversa pneu servível e inservível coletados em grande revendedora - contratada Mazola ................................................................................................ . 60 6.3 Cadeia reversa pneu servível e inservível coletados em grandes revendedoras - contratada Tyre Center ........................................................................................ . 62 6.4 Os elos problemáticos ...................................................................................... . 64 6.5 Conclusão e análise dos dados ........................................................................ . 63 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... . 66 8. REFERÊNCIAS .................................................................................................. ..68 ANEXOS ...................................................................................................................72 ANEXO A - Resolução nº 258, de 26 de agosto de 1999 (CONAMA) ............... ..72 ANEXO B - Lei nº 13.316, de 1º de fevereiro de 2002 (PMSP) ........................ ..78 ANEXO C - Instrução Normativa nº 08, de 15 de maio de 2002 (IBAMA)............83 ANEXO D - Projeto de Lei 179/2000 (PMSP)...................................................... 86 14 1. INTRODUÇÃO É sabido o quanto o descarte inadequado de pneus inservíveis nos grandes centros urbanos em lugares não apropriados, tais como: solo, rios, lagos, lixões, áreas alagadiças (possibilitando a proliferação de insetos, causando epidemias como a dengue), configura como um dos maiores problemas ambientais e sanitários atualmente e é considerado em todo o mundo um dos maiores desafios ecológicos, agravado pelo grande número de veículos existente nestes centros que se utilizam deste produto para rodagem e o tempo indeterminado para sua decomposição total. Para tanto, – devido a maior preocupação com o meio ambiente, o consumo excessivo de insumos desde o século passado e os consumidores cada vez mais exigentes com o descarte e geração de passivos - na metade do século XX a maioria dos governos criou leis e decretos para regulamentar este e outros problemas envolvendo o meio ambiente (chamado de Legislação Ambiental), que forçaram empresas de vários segmentos a se adequarem, modernizarem e mudarem suas políticas sociais, ficando responsáveis por todo ciclo de vida do produto, desde sua produção ao descarte final, quando se tornam inservíveis até mesmo para reciclagem. Este trabalho está dividido em duas partes, a primeira etapa é baseada em referenciais bibliográficos, onde são apresentadas definições de logística juntamente com suas principais atividades e tópicos, sua correlação e adequação com as leis ambientais vigentes atualmente, definições de logística reversa e sua importância para a redução de gastos, suas cadeias reversas de pós- venda e pós-consumo, neste último caso detalhando os elos da cadeia de reuso, reciclagem e descarte. Ainda apresenta um histórico sobre a preocupação crescente em relação a todas atividades que afetam o meio ambiente, os principais fatos ocorridos no século passado e a tendência mundial à descartabilidade, seguido da definição de pneumático e seus componentes e, por fim, uma análise não abrangente das leis referentes ao descarte de pneus inservíveis no âmbito municipal, estadual e federal, além de exemplos internacionais. A segunda etapa descreve o estudo de caso que tem por objetivo 15 analisar a cadeia reversa do pneu inservível no município de São Paulo exercida pelos fabricantes de pneus, isto é, pela sua associação competente (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos - ANIP), após o descarte pelo cliente final, a cooperação desses clientes, revendedores, distribuidores e subprefeiturasno recolhimento para sua destinação correta, além de apresentar de forma sucinta, a cadeia reversa de reuso (aquela em que o pneu ainda não é considerado inservível, porém é vendido no mercado como pneu “meia-vida”) e desmanche (processos como remoldagem ou recapagem sofridos pelo pneu para voltar ao mercado como pneu reformado); porém o enfoque principal será para a cadeia reversa de reciclagem e descarte do pneu inservível, as complicações da coleta e recolhimento para uma destinação ambientalmente correta, seguido da inconstância na quantidade coletada para servir como matéria-prima ou bem industrial para outros produtos. 1.1 OBJETIVO Verificar como fabricantes de pneus estão cumprindo a Resolução nº 258 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) de 26 de agosto de 1999 onde ficam obrigadas a coletar e dar destinação final, ambientalmente adequada, aos pneus inservíveis existentes no território nacional; através da utilização de logística reversa, desde o descarte pelos clientes finais até o último elo da cadeia reversa, onde se transforma em outras matérias-primas ou produtos, analisando todas etapas deste processo, propondo idéias para melhorias com o intuito de cumprir as metas estabelecidas pela resolução em questão. 1.2 METODOLOGIA Para realização deste trabalho será utilizado o método de pesquisa bibliográfica para definições dos termos, explanação do conteúdo e revisão da literatura, e ainda será utilizado o método de estudo de caso. 16 2. LOGÍSTICA 2.1 Contexto Histórico Citando Rodrigues (2003, p. 123) a primeira tentativa de definir o termo logística foi feita pelo Barão Antoine de Jomini, general do exército francês comandado por Napoleão Bonaparte, que em seu livro (Compêndio da Arte da Guerra) se referiu como a “arte prática de movimentar exércitos”, para ele o vocábulo logistique é derivado de um posto existente no exército francês durante o século XVII – Marechal des Logis – responsável pelas atividades administrativas relacionadas com deslocamento, alojamento e acampamento das tropas em campanha. Com o passar do tempo o termo foi ampliado e as Forças Armadas Aliadas compreenderam logística abrangendo todas as atividades relativas à provisão e administração de materiais, pessoal e instalações, além de prestação de serviço de apoio. Em tempos de paz as atividades de compras, controle de estoque, patrimônio e transporte são mais associadas à atividade industrial do que qualquer outro segmento (RODRIGUES, 2003). Até os anos 50, atividades-chave da logística atualmente, estavam pulverizadas sob comando de outras gerências, portanto o transporte estava sob comando da produção; estoques gerenciados pelo departamento de marketing, finanças ou produção; e o processamento de pedidos era controlado por finanças ou vendas, resultando em conflitos de responsabilidade (BALLOU, 1993, p. 28). As empresas executavam a atividade logística de maneira puramente funcional, não existia nenhum conceito ou uma teoria formal de logística integrada (BOWERSOX, 2001). Com o reaquecimento da economia no período pós-guerra os lucros eram altos e perdas na distribuição de produtos não eram relevantes, porém nos EUA, Europa e Japão os procedimentos industriais foram reestruturados realocando todos os esforços de guerra para área econômica desses países (RODRIGUES, 2003, p. 125). 17 Nas décadas de 60 e 70 com a evolução de conceitos de marketing focado ao cliente, alguns pensadores e professores na área de marketing e administração, modificaram visões e propuseram teorias, uma delas: com base nos caros fretes aéreos, analisaram a cadeia como um todo procurando a diminuição dos custos totais em outros elos do sistema, dando origem ao termo custo total. O conjunto de atividades de processos industriais associados às exigências dos consumidores e agregado à tecnologia, proporcionou desenvolvimento ao setor, tornando as parcerias estratégicas. As mudanças nos padrões de consumo e a necessidade de maior variedade de produtos por exigência dos clientes, aliado a migração da população das áreas rurais para os centros urbanos e daí para áreas periféricas, foram os motivos de maiores investimentos em distribuição e aumento deste custo (BALLOU, 1993). A crise petrolífera e a maior competitividade no setor de bens manufaturados com entrada de produtos importados, fizeram com que a procura por aumento de demanda e controle de custos, produtividade e qualidade tivessem interesse maior pelas empresas. Nos anos 80, o barateamento dos sistemas informatizados, tornou possível dados e informações em tempo recorde, minimizando tempo de resposta e aumentando a possibilidade do sucesso empresarial (RODRIGUES, 2003, p. 125). O processo de globalização dos anos 90 aumentou ainda mais o ambiente competitivo associado aos avanços nas telecomunicações; a indústria e o comércio consideram o mercado mundial como fornecedores e clientes; atacadistas diminuem os estoques; e o ciclo de vida dos produtos é reduzido (RODRIGUES, 2003, p. 126). 2.2 Conceito de Logística Em seu famoso livro Logística Empresarial, publicado em 1983, Ballou define o termo como todas atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos (bens ou serviços) desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de 18 serviço adequados aos clientes a um custo razoável. O conceito de logística para Rodrigues (2003, p. 216) é: [...] o conjunto de atividades direcionadas a agregar valor, otimizando o fluxo de materiais, desde a fonte produtora até o consumidor final, garantindo o suprimento na quantidade certa, de maneira adequada, assegurando sua integridade, a um custo razoável, no menor tempo possível e atendendo a todas as necessidades do cliente. Para Leite (2003) os processos da logística tradicional são designados como “canais de distribuição diretos” ou simplesmente “canais de distribuição” que constituem de diversas etapas pelas quais os bens produzidos são comercializados até chegar ao consumidor final, seja uma empresa ou uma pessoa física (desde as matérias-prima virgens, também denominadas primárias, até o mercado entendido como primário de produtos). Esse fluxo direto pode se processar por meio de diversas possibilidades conhecidas como etapas de atacadistas ou distribuidores, chegando ao varejo e ao consumidor final. Acordo Novaes e Souza apud CLM (Council of Logistics Management) trata-se do processo de planejar, implementar, e controlar de forma eficiente, o custo efetivo do fluxo de matérias-primas, produtos em processo, bens acabados e as informações relacionadas, do local de origem para o ponto de consumo com a finalidade de atender as exigências do cliente. 2.2.1 Atividades Primárias e Secundárias Citando Ballou (1993, p. 24), as atividades primárias da logística para atingir os objetivos de redução de custo e nível de serviço tão almejado pelas empresas são: (1) transporte: atividade logística mais onerosa e, portanto, mais importante, adiciona valor de “lugar” ao produto, transportando desde matéria-prima para a planta fabril como bens acabados para atacadistas e varejistas; (2) manutenção de estoques: sabendo-se da necessidade de sempre existir um estoque devido a diferenças entre oferta e demanda e dos custos envolvidos no ativo parado, cálculos de níveis de estoque ideal são necessários, para que não haja excessos ou falta de determinado produto, agregam valor de “tempo” e (3) processamentode 19 pedidos: dentre as três atividades é a de menor custo, porém essencial para agilizar a entrega de serviços ou bens aos clientes, diminuindo o tempo deste processo. As atividades de apoio ou secundárias são descritas como: armazenagem (administração do espaço para o estoque, determinação de localização, tamanho, arranjo físico); manuseio de materiais (lida com equipamentos de movimentação, procedimentos e formação de pedidos dentro do armazém); embalagem de proteção (auxilia na conservação dos produtos – embalagem primária – e na movimentação – embalagem secundária – ganhando espaços devido a unitização e consolidação sem danos); obtenção (trata da seleção das fontes de suprimento, quantidades a adquirir e programação de compras, com o objetivo de disponibilizar o produto para o sistema logístico); programação de produto (trabalha em conjunto com a produção abastecendo os fluxos de entrada e saída); e manutenção de informação (informações de custo e desempenho são necessárias para o planejamento e controle logístico, atualizações são essenciais) (BALLOU, 1993, p. 27). 2.2.2 O Produto logístico Para Kotler (1980, p. 224) um produto é qualquer coisa que pode ser oferecida a um mercado para aquisição ou consumo, inclui objetos físicos, serviços, personalidades, lugares, organizações e idéias, representa um sentimento de carência em uma pessoa produzindo desconforto até o desejo ser concretizado, qualquer coisa capaz de satisfazer uma necessidade, poder ser chamado de produto. Para Ballou (1993) o que uma empresa oferece com seu produto é satisfação, seja este produto algum tipo de serviço, que será composto de intangíveis como conveniência, distinção e qualidade, ou caso seja um bem físico, terá atributos físicos (tangíveis), como peso, volume e forma, que influenciam no custo logístico. Nota-se que não existem diferenças relevantes entre as duas definições. Ballou ainda distingue os produtos entre bens de consumo – dirigidos 20 especialmente aos consumidores finais - e bens industriais – aqueles dirigidos a indivíduos ou organizações, sendo utilizados para produzir outros produtos ou serviços. Sendo que os bens de consumo são classificados em três classes: (1) bens de conveniência: normalmente comprados freqüentemente e de forma imediata com pouca pesquisa em lojas, basicamente na loja mais acessível, os custos de distribuição são elevados, porém, a manutenção de estoque é baixa devido o alto giro; (2) bens de comparação: aqueles que os consumidores preferem pesquisar em diferentes lojas comparando características, marcas, preços, qualidade e desempenho até a efetivação da compra, custos de distribuição menores porém requer pequenos estoques locais; e (3) bens de uso especial: procurados por serem de marcas ou categorias particulares, despendendo grandes esforços de localização até a compra. Para Cobra (1985) desmembrando os bens de consumo há duas classificações: bens duráveis ou produtos de consumo durável caracterizado pelo tipo de vida útil; e bens não duráveis também chamados de consumo de massa destinados à consumação em um período de tempo relativamente curto. Numa definição mais ampla e atual Leite (2003) define bens de consumo em três grandes categorias, relacionados diretamente ao tempo de vida útil médio, como segue: (1) bens descartáveis: bens com duração de vida útil em média de algumas semanas podendo variar até 6 meses, constituindo embalagens, brinquedos, pilhas jornais, revistas, entre outros; (2) bens duráveis: apresentam vida média útil variando de alguns anos a algumas décadas, normalmente constituem bens de capital em geral, automóveis, máquinas, edificações, entre outros; e (3) bens semiduráveis: apresentam duração da vida útil de alguns meses a poucos anos, englobando baterias, pneus e óleos lubrificantes de automóveis, computadores e seus periféricos, entre outros. 2.2.3 Ciclo de vida do produto e a curva ABC Conforme Kotler (1980) o ciclo de vida de um produto começa onde termina o processo de desenvolvimento de um novo produto. Assim que um produto é lançado no mercado, as vendas e lucros não 21 acontecem de forma imediata, todo produto, normalmente, passa por quatro estágios distintos, conhecidos como: introdução, crescimento, maturidade e declínio, como mostrado na figura 1. Figura 1 – Estágios do ciclo de vida de um produto Fonte: Rabelo (2006). A fase introdutória ou introdução ocorre logo após o lançamento do produto no mercado, geralmente as vendas são tímidas, o preço alto e a produção baixa, devido os custos de desenvolvimento e publicidade, acarretando em uma baixa lucratividade, nesta fase a distribuição é cautelosa e os estoques restritos a poucas localidades. Caso o produto seja aceito pelo mercado, o número de consumidores aumentará e os concorrentes também, surgindo a economia de escala e a concorrência fazendo o preço cair, isso faz aumentar o crescimento das vendas. Ballou lembra (1993) que planejar a distribuição nesta fase é difícil pois não há histórico de vendas para calcular níveis de estoque nos pontos de armazenagem, este controle muitas vezes é feito de forma empírica. A maturidade é um período de menor ritmo de crescimento das vendas pois se percebe que conseguiu a aprovação e aceitação do público alvo, o volume vendido não se altera de forma brusca, isso auxilia no controle de estoque e pontos de distribuição atendidos, os lucros atingem o pico neste período e começam a declinar por causa da baixa dos preços e aumento de despesas com marketing. 22 As preferências dos consumidores alteram-se, surgem novas tecnologias do produto no mercado, é a fase do declínio (COBRA, 1985). As vendas tomam tendência negativa, os preços declinam e gastos com promoção aumentam. Nesta etapa o número de armazéns é reduzido de forma a otimizar a distribuição e diminuir o preço final. Os diferentes pontos do ciclo de vida dos produtos em uma mesma empresa torna complexo o planejamento do suprimento e distribuição física destes produtos nos mercados consumidores, tornando a utilização da curva ABC ou 80-20 particularmente necessária para o planejamento logístico (BALLOU, 1993). O conceito de curva ABC configura-se na observação dos perfis dos produtos no percentual de vendas totais de uma empresa (fato já percebido por um matemático italiano no século XIX na relação renda-população), ou seja, chegou-se na conclusão que 80% das vendas provêm de 20% dos produtos. A divisão dos produtos pelas vendas, via de regra foi categorizado como segue: itens A são os produtos responsáveis por 20% das vendas acumuladas pelo total dos itens, itens B são os próximos 30% e itens C são os 50% restantes. 2.3 Conceito e importância da Logística Reversa Normalmente logística é definido como gerenciamento do fluxo de materiais do seu ponto de aquisição até o seu ponto de consumo. Porém existe também um fluxo logístico reverso, do ponto de consumo até o ponto de origem, que precisa ser gerenciado. Este fluxo logístico reverso é comum para muitas empresas e normalmente está ligado ao retorno de embalagens (seja de uma fabricante de bebidas e suas garrafas retornáveis, indústrias de reciclagem de alumínio e vidro, indústrias automotivas e suas embalagens especiais, como até mesmo empresas de serviços que necessitam gerenciar o retorno de seus paletes e contêineres) e devolução ou troca de produtos por clientes, seja por insatisfação ou defeitos, direitos garantidos pela legislação de defesa dos consumidores (LACERDA, 2002). Para Rezende (2005) se trata do “processoinverso ao da logística, isto é, é o planejamento e controle dos fluxos de materiais e das informações, desde o ponto de consumo até o ponto de origem, pode ser caracterizada como um 23 conjunto de atividades relacionadas à administração e disposição de resíduos perigosos ou não, derivados de produtos, reciclagem, produtos acabados ou embalagens”. Semelhante a definição da IMAN (2004), revista especializada em logística e movimentação, que descreve logística reversa como “o processo de movimentar produtos de seu típico destino final para outro ponto, com o propósito de capturar valor ou para o devido descarte dos produtos”. Ainda cita que os custos da logística reversa representam, em média, mais de 9% do total dos custos logísticos para as empresas. Leite (2003) descreve logística reversa como a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros. Rogers e Tibben-Lembke (1998) descrevem o tema como: O processo de planejar, implementar e controlar de forma eficiente, o custo efetivo do fluxo de matérias-primas, produtos em processo, bens acabados e as informações relacionadas, do ponto de consumo para o local de origem com a finalidade de recapturar valor ou para descarte adequado.[...] Logística reversa também inclui o processo de mercadorias devolvidas devido danos (avarias), produtos sazonais, reabastecimento, produtos recuperados, recalls e excesso de produtos em estoque. Também inclui programas de reciclagem, programas de materiais perigosos, descarte de equipamentos obsoletos e recuperação de recurso. Atualmente existe a tendência de que através da legislação ambiental as empresas cada vez mais se tornem responsáveis por todo ciclo de vida de seus produtos. A vida de um produto, do ponto de vista logístico, não termina com sua entrega ao cliente, produtos se tornam obsoletos, inservíveis, danificados ou não funcionam e devem retornar ao seu ponto de origem para serem adequadamente descartados, reparados ou reaproveitados (LACERDA, 2002). Do ponto de vista financeiro, o custo do produto não acabou quando este foi entregue ao cliente final, além do custo de matéria-prima, mão de obra utilizada, armazenagem, estocagem e transporte, pode-se somar o custo de todo 24 gerenciamento relacionado ao seu fluxo reverso. A crescente preocupação com o meio ambiente por parte da sociedade mundial; o aumento da descartabilidade de produtos após seu uso no mercado primário (ciclo de vida curto), provocando o desequilíbrio entre as quantidades descartadas e as reaproveitadas, tornando visível o problema sanitário do lixo urbano em aterros, lixões, locais abandonados, rios e córregos, (fomentaram a formulação de uma série de legislações e novos conceitos de responsabilidade empresarial); e a manutenção da imagem corporativa das empresas (implantação de marketing social e ambiental) são fatores de incentivos à logística reversa. 2.3.1 Canais de Distribuição Reversos Os canais de distribuição reversos ou fluxos reversos ou processos logísticos reversos são todas as etapas, processos, formas e meios pelo qual uma parcela dos produtos vendidos e parcialmente consumidos retorna ao ciclo produtivo ou de negócios, seja pelo pouco uso após a venda, ciclo de vida útil ampliado ou quando se tornam inservíveis após o fim de sua vida útil, readquirindo valor em mercados secundários pelo reuso, pela reciclagem de seus materiais constituintes ou pelo descarte correto de acordo com as legislações ambientais (LEITE, 2003). Os custos e capital envolvido nestes fluxos reversos são apenas uma parcela do montante gerado pelos canais de distribuição direta (fornecedor, fabricante, consumidor), por isso entende-se a falta de interesse empresarial nestes processos e a idéia de “problema“ para toda a cadeia, principalmente quando se trata de produtos pós-venda (LEITE, 2003). Porém há iniciativas relacionadas à logística reversa que tem trazido consideráveis retornos às empresas, economia com utilização de embalagens retornáveis, reaproveitamento de materiais para produção, que trazem ganhos que estimulam novas iniciativas, os esforços em desenvolvimento e melhorias nos processos destes canais produzem retornos consideráveis, que justificam os investimentos realizados (LACERDA, 2002). A figura 2 mostra de forma sucinta os processos básicos do canal de distribuição reversa desde a coleta até a criação de materiais secundários. 25 Figura 2 – Atividades típicas do processo logístico reverso Fonte: Lacerda (2002). Os canais de distribuição reversos se distinguem em dois grandes grupos definidos como pós-consumo e pós-venda (LEITE, 2003) como é descrito na figura 3, após o uso do produto no mercado primário (transformação da matéria- prima virgem em produto primário) o produto pode ser transformado em outros subprodutos (reciclagem e desmanche) retornando ao ciclo produtivo de outra maneira, ou até retornar ao mesmo ciclo, porém chamado agora de canais reversos de reuso (mercado secundário), em todos esses casos o produto é considerado como pós-consumo. Caso haja problemas na distribuição ao consumidor final (erro no envio, qualidade duvidosa, danos no transporte, prazos de entrega não acordados, insatisfação ou não adequação) e o produto retorna ao varejista ou atacadista, para ser reintegrado ao mesmo ciclo produtivo de alguma maneira, trata-se dos canais reversos de pós-venda. 26 Figura 3 – Canais de distribuição diretos e reversos Fonte: adaptado de Leite (2003, p. 5) 2.3.2 Canais de Distribuição Reversos de Pós-Venda Trata-se do processo de logística reversa de produtos procedentes de devolução por parte dos últimos elos da cadeia, antes do fim de sua vida útil normal, devido vários motivos: data de validade vencida, manutenção de estoques reduzidos, produtos em consignação, produtos que apresentam problemas de qualidade ou defeitos, produtos obsoletos ou com ciclo de vida curto. Portanto para Leite (2003, p. 206) a definição de logística reversa de pós-venda é: [...] a específica área de atuação da logística reversa que se ocupa do planejamento, da operação e do controle do fluxo físico e das informações logísticas correspondentes de bens de pós-venda, sem uso ou com pouco uso, que por diferentes motivos retornam aos diferentes elos da cadeia de distribuição direta, que constituem uma parte dos canais reversos pelos quais fluem esses produtos. Esse processo gera materiais reaproveitados que retornam ao processo tradicional de suprimento, produção e distribuição e geralmente é Fluxos R e v e rs o s D ir e to s R e v e rs o s Pós-consumo Pós-venda Mercado Primário Mercado Secundário Retorno Reuso Desmanche Reciclagem Mercado Secundário 27 composto de atividades de coleta, separação, embalagem e expedição dos pontos de consumo até os locais de reprocessamento, revenda ou descarte (LACERDA, 2002). Existe ramo de atividades mais suscetíveis a estes processos, conforme demonstrado na tabela 1, especialmente as indústrias que vendem por consignação como imprensa escrita e informática que lideram os percentuais de retorno perdendo apenas para os negócios no comércio eletrônico – dividido em business-to-business (B2B comércio eletrônicoentre empresas) e o business-to- consumer (B2C comércio eletrônico entre empresa e o cliente final) – que ultrapassa a barreira dos 25% do total em devoluções por, na maioria das vezes, não- conformidade às expectativas do cliente, mesmas características sofridas pelo comercio de venda por catálogos. Este último setor apresenta características diferentes em relação ao seu canal de distribuição direto comparado ao produto logístico “tradicional” (lojas de varejo ou atacado), pois além do porte pequeno das encomendas e suas embalagens individuais, na maioria os clientes são desconhecidos e a demanda difícil de se prever, excluindo-se os itens sazonais. Lacerda (2002) ainda cita que para que possam comprar o mix de seus produtos algumas empresas aceitam devoluções dos itens que não tem bom comportamento de venda, isso ocorre na indústria fonográfica onde é necessário haver estoques reduzidos e promessa de devolução para os excedentes. Tabela 1 – Porcentagem de retorno de bens de pós-venda Ramo de atividade Porcentagem de retorno Editores de revistas 50% Editores de livros 20-30% Distribuidores de livros 10-20% Distribuidores de eletrônicos 10-12% Fabricantes de computadores 10-20% Fabricantes de CD-ROMs 18-25% Impressoras para computador 4-8% Peças para indústria automotiva 4-6% E-commerce B2B e B2C 25-30% Fonte: adaptado de Leite (2003, p. 9) 28 Porém as empresas atualmente entendem esta cadeia como um mal necessário, pois estes processos de devoluções garantem flexibilidade e fidelização dos clientes, agregando valor ao produto logístico, mesmo que o produto em algum elo da cadeia seja devolvido por razões comerciais, como erros de processamento dos pedidos, garantia dada pelo fabricante, defeito ou falhas no funcionamento do produto, avarias no transporte, entre outros (LEITE, 2003). Lembrando Ballou (1993) em seu conceito de produto logístico o que uma firma oferece ao cliente com seu produto é satisfação. 2.3.3 Canais de Distribuição Reversos de Pós-Consumo Citando Leite (2003) após a Segunda Guerra Mundial, o acelerado desenvolvimento tecnológico permitiu a introdução de novas tecnologias e de novos materiais contribuindo para a redução dos preços dos produtos, por outro lado, em busca de diferenciais no mercado, através do contínuo lançamento de novos produtos, aliado a fatores como moda, status e novas necessidades questionáveis as empresas criam uma obsolescência mercadológica planejada e programada, aumentando a tendência a descartabilidade, ocasionando crescimento considerável do lixo urbano. Há produtos em que o tempo de desenvolvimento do projeto é maior que seu ciclo de vida mercadológico. Os produtos apresentam ciclos de vida útil de algumas semanas ou de muitos anos, após este período são descartados pela sociedade, de diferentes maneiras, constituem-se então como produtos de pós-consumo ou resíduos sólidos em geral (LEITE, 2003). Como visto na figura 3 os bens de pós-consumo têm três fluxos reversos distintos de revalorização, isto é, três formas de voltar ao ciclo produtivo ou mercadológico, são eles: canal reverso de reciclagem, onde os materiais constituintes do produto descartado são extraídos industrialmente e são transformados em matérias-primas secundárias ou recicladas para a fabricação de novos produtos; no canal reverso de desmanche, o bem de pós-consumo sofre um processo industrial de desmontagem no qual seus componentes em condições de 29 uso ou após remanufatura voltam ao mercado como peças usadas ou remanufaturada, os materiais que não tem condições de revalorização são considerados inservíveis e são destinados a aterros sanitários ou incinerados; e por fim o canal reverso de reuso, aquele em que o bem de pós-consumo volta ao mercado como produto de segunda mão sem passar por nenhum processo industrial (LEITE, 2003). A disposição final do produto de pós-consumo, é o destino dos produtos, componentes ou resíduos que não têm condições de retornar ao ciclo produtivo por algum dos canais reversos descritos anteriormente, portanto são descartados para disposições finais seguras, como aterros sanitários, ou para disposição final não controlada, como lixões, córregos, rios, terrenos, etc. acarretando na poluição ambiental tão nociva a humanidade (LEITE, 2003). Os bens de pós-consumo que são reintegrados ao ciclo produtivo através do canal reverso de reciclagem, podem ser usados na fabricação de um produto similar ao que lhe deu origem, o chamado canal reverso de ciclo fechado, neste ciclo o destaque é para a reciclagem de latas de alumínio que de acordo a associação Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem) o ciclo de vida de uma lata de alumínio para bebidas como refrigerante e cerveja atualmente no Brasil é de 33 dias, isto é, já é possível que uma lata de bebida seja colocada na prateleira do supermercado, vendida, consumida, reciclada, transformada em nova lata, envasada, vendida e novamente exposta a prateleira em apenas 33 dias. O canal reverso de ciclo aberto é justamente o oposto, os componentes extraídos dos bens de pós-consumo são usados como matéria-prima para dar origem a produtos distintos ao original. O quadro 1 mostra canais reversos de ciclo fechado e aberto para comparação. Leite (2003, p. 88) lembra que nas cadeias reversas de ciclo aberto a integração e cooperação entre as etapas do processo reverso são menos freqüentes já que as matérias-primas resultantes atenderão uma diversificada origem de outros produtos, e as empresas da cadeia direta normalmente não estão presentes na cadeia reversa. 30 Produto-origem de pós-consumo Principais materiais extraídos Novo produto Tipo de Ciclo Navios, pontes, máquinas, automóveis Extração do material ferroso Chapas, barras, lingotes Aberto Embalagens, brinquedos, computadores, tambores Extração do material plástico Sacos de lixo, potes e vasos, peças plásticas Aberto Pneus Extração da borracha Solas de sapato, tapetes de veículos, composto para concreto Aberto Garrafas PET Extração do plástico PET Garrafas PET, vassouras, peças plásticas Aberto e Fechado Óleos lubrificantes Eliminação de impurezas e acréscimo de aditivos Óleos lubrificantes Fechado Baterias automotivas Extração de chumbo e plástico Baterias automotivas Fechado Latas de alumínio Extração da liga de alumínio Latas de alumínio Fechado Quadro 1 - Exemplos de canais reversos de ciclo aberto e fechado Fonte: adaptado de Leite (2003, p. 53) 2.3.4 Fatores para a constituição de um canal de distribuição reverso de pós- consumo Para examinar os fatores que influenciam na organização e na constituição de canais reversos e sua eficiência, primeiramente, é necessário que haja equilíbrio entre o fluxo direto e o fluxo reverso, isto é, a relação entre a quantidade reintegrada ao ciclo produtivo através do fluxo reverso e a quantidade disponível de pós-consumo para o fluxo direto. Quanto menor esta diferença, menor a quantidade que não é reaproveitada, o chamado excesso, que normalmente é enviado à destinação final correta ou transformado em poluição (LEITE, 2003) Portanto para que haja interesse nos canais de distribuição reversos 31 são necessários, primeiramente, três fatores, (1) fatores econômicos: na reintegração das matérias-primas secundárias ao ciclo produtivo todos elos desta cadeia reversa devem ter custos mínimos, para que todo ciclo possa financiar a remuneração adequada de cada elo; (2) fatores tecnológicos: é necessáriotecnologia disponível para o tratamento econômico dos resíduos, no seu descarte e captação, nos processos de desmontagem, separação e reutilização; (3) fatores logísticos: condições de localização e transporte entre os elos da cadeia de distribuição reversa, centros de consolidação e triagem das matérias-primas de pós- consumo, centros de reciclagem e clientes finais destes materiais, o transporte e as distâncias entre esses elos é que dificultam a logística dos canais reversos (LEITE, 2003). Há outros dois fatores que modificam, ou criam, os canais de distribuição reverso, (4) fatores ecológicos: são motivados, independentemente de legislação, com propósitos de melhoria de competitividade em exportações, pressões de clientes ou fornecedores, atendimento às comunidades e organizações não-governamentais, sensibilidade ecológica da própria organização ou melhoria da imagem corporativa da empresa, e por fim; (5) fatores legislativos: promovidos por intervenções governamentais, visando a regulamentação, promoção, educação e o retorno dos produtos pós-consumo ao ciclo produtivo, normalmente motivados como alternativa de redução de custos governamentais ou pressões sociais, este fator é o grande gerador da implementação da logística reversa e criação de participantes nesta cadeia. Existem mercados que tem condições de fazê-lo sem a criação de legislações específicas, como se houvesse uma auto-regulamentação, porém estes mercados - normalmente de ciclo fechado - investem na cadeia reversa pois os três primeiros fatores em conjunto, promovem substanciais reduções de custos de produção e matéria-prima (exemplo: cadeia reversa de latas de alumínio no Brasil). 32 3. RELAÇÃO ENTRE LOGÍSTICA, MARKETING E MEIO AMBIENTE A logística e o meio ambiente nunca estiveram tão ligados, atualmente todos processos da logística são planejados de forma que utilizem menores recursos naturais e humanos, primeiramente devido os custos correlacionados e por seguinte à escassez dos recursos naturais, a maior consciência ecológica dos consumidores e as legislações ambientais em vigor. O aperfeiçoamento de embalagens com objetivo de usar menos materiais, a medição dos impactos ambientais causados por determinado modal de transporte, a redução no consumo de energia e materiais nas atividades logísticas, a certificação ISO 14000, são consideradas atividades importantes da logística verde, isto é, todas ações que não envolvem a movimentação de bens de sua disposição final com o intuito de recapturar valor. A logística verde ou logística ecológica objetiva entender e minimizar os impactos ecológicos das atividades logísticas (ROGERS & TIBBEN-LEMBKE, 1998). A resposta para as pressões exercidas pela população mundial sobre a responsabilidade ecológica e ambiental das empresas, criou o conceito de marketing verde, “desenvolvimento de produtos ecologicamente mais seguros, embalagens recicláveis e biodegradáveis, maior controle da poluição, e operações mais energéticas e eficientes.” (KOTLER, 1999). Os profissionais de marketing tiveram que se adequar às novas tendências, conforme Kotler (1999, p. 481) “eles têm de checar as propriedades ecológicas de seus produtos e embalagens e elevar os preços para cobrir os custos ambientais, mesmo sabendo que será mais difícil vender o produto.” Em 1980 Kotler já descrevia que em razão de movimentos como consumerismo (movimento organizado de cidadãos e governos interessados, no fortalecimento dos direitos e do poder dos compradores em relação aos vendedores) e ecologismo (movimento organizado de cidadãos e governos preocupados em proteger e intensificar o meio ambiente de vida do homem contra aqueles que o destroem) - aliado à escassez de recursos naturais - o real “objetivo do sistema de marketing deve ser a maximização da qualidade da vida” (KOTLER, 1980, p. 559). 33 3.1 Aspectos Históricos No século XX notou-se um consumo exagerado de insumos, dado pelo crescente aumento de desejos provenientes de uma sociedade de descarte (BALLESTERO-ALVAREZ, 2001), como pelo aumento substancial da população em geral, conseqüentemente acelerou o processo de degradação dos recursos naturais. Após várias décadas de descaso, a preocupação com o meio ambiente aumentou apenas na segunda metade do século passado, quando um grupo de cientistas, reunidos no chamado Clube de Roma, na década de 60, utilizando-se de modelos matemáticos, preveniu dos riscos de um crescimento econômico contínuo, baseado em recursos naturais esgotáveis. O relatório chamado The Limits to Growth (Limites ao Crescimento) publicado em 1972, foi um sinal de alerta que incluía projeções e simulações, em grande parte não cumprida, mas que teve o mérito de conscientizar a sociedade para os limites da exploração do planeta (VALLE, 2002). A década de 70 ficou conhecida pela regulamentação e controle ambiental, após a Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente, em 1972, várias nações começaram a estruturar seus órgãos ambientais e estabelecer suas legislações, preocupado com o controle da poluição ambiental. Surgiram os primeiros rótulos ecológicos (selos verdes) identificando produtos e processos que provocassem menos impactos ambientais (BALLESTERO-ALVAREZ, 2001). A partir da década de 80 devido às legislações em vigor, as empresas começam a desenvolver Estudos de Impacto Ambiental (EIA), com o intuito de conseguir uma imagem institucional “ecologicamente correta” agradando aos consumidores cada vez mais conscientes com a situação ecológica atual. O relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento ou Relatório Brundtland, instituído pela Assembléia Geral da ONU em 1987 cria o conceito Desenvolvimento Sustentável, que tem como definição “a busca simultânea da eficiência econômica, justiça social e harmonia ecológica” (BALLESTERO- ALVAREZ, 2001, p. 268). Nesta mesma década ocorreram duas convenções mundiais comprovando a globalização da preocupação com a conservação do meio ambiente: a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio (1985), ratificada pelo Protocolo de Montreal de 1987 que proíbe e estabelece prazos para a substituição do produto químico clorofluorcarbono (CFC); e a Convenção da 34 Basiléia, em 1989, “que disciplina o movimento transfronteiriço de resíduos perigosos, estabelecendo instrumentos que permitam ao país importador não receber resíduos os quais entenda não dispor de condições para gerenciar adequadamente do ponto de vista ambiental” (MMA, 2006). Nos anos 90 a preocupação com recursos naturais não-renováveis, o entusiasmo a reciclagem e o combate ao desperdício promovem novo termo chamado de Qualidade Ambiental. A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Cúpula da Terra, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, divulgou diversos documentos apresentando os principais temas ambientais globais que merecem atenção da sociedade e instigam pesquisas em todo o mundo. Em 1993 os estudos elaborados pelo Comitê Técnico 207 (TC-207) da ISO (International Organization for Standardzation) resultaram na criação de uma nova série chamada de ISO 14000 que tem por objetivo padronizar normas ambientais, harmonizando as normas nacionais e regionais, transformando numa linguagem aceita internacionalmente. A série ISO 14000 é composta de diversas normas com determinadas características e objetivos que foram definidas anteriormente em subcomitês (SC) pertencentes ao Comitê Técnico 207 (TC-207), representado no quadro 2. Comitê Técnico 207 (TC-207) Norma ISO 14000 Sistema de Gestão AmbientalSC1 – Subcomitê de Gerenciamento Ambiental Normas 14001 a 14004 Sistema de Gestão Ambiental Especificações e exigências para o Sistema de Gestão Ambiental SC2 – Subcomitê de Auditoria Ambiental Normas 14010 e seguintes Auditoria Ambiental Orientar organizações, auditores e clientes para execução de auditorias ambientais SC3 – Subcomitê de Rotulagem Ambiental Normas 14020 e seguintes Rotulagem Ambiental Normas e regras para concessão de selos verdes SC4 – Subcomitê de Avaliação de Desempenho Ambiental Norma 14031 Avaliação do Desempenho Ambiental Medição, análise e determinação de desempenhos ambientais SC5 – Subcomitê de Normas 14040 e seguintes Analisar as atividades e processos produtivos de 35 Análise do Ciclo de Vida Análise do Ciclo de Vida um produto desde a extração matéria-prima, fabricação e disposição final SC6 – Subcomitê de Termos e Definições Norma 14050 Vocabulário (termos e definições) Harmonizar e padronizar termos e definições Quadro 2 – Subcomitês, normas e objetivos ISO 14000 Fonte: adaptado de Valle (2002) e Ballestero-Alvarez (2001) Com as preocupações e discussões referentes às mudanças climáticas globais, em 1997, é firmado o Protocolo de Kyoto estabelecendo que os países industrializados devem reduzir a emissão de gases que contribuem para o aquecimento global em 5,2% até 2012. O comércio internacional de substâncias poluentes volta à tona, e em 1998, é formalizado a Convenção de Roterdã sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos, propondo que o país importador possa decidir sobre quais produtos químicos perigosos consente em receber. 3.2 Sistema de Gestão Ambiental A qualidade ambiental é parte inseparável da qualidade total tão almejada pelas empresas que pretendem manter-se competitivas e assegurar sua posição no mercado. A qualidade ambiental consiste no atendimento aos requisitos de natureza física, química, biológica, social, econômica e tecnológica que assegurem a estabilidade das relações ambientais no qual a empresa está inserida (VALLE, 2002). Para assegurar a qualidade ambiental é necessário um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) que conforme descrito na norma ISO 14000 é um conjunto formado pela estrutura organizacional, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos necessários para implementar e manter o gerenciamento ambiental por parte da empresa (BALLESTERO-ALVAREZ, 2001). As empresas devem revisar todos processos produtivos da empresa, através de: treinamento, plano de ação, controle da documentação, organização e 36 limpeza, inspeções e analises periódicas da situação. Para tanto é necessário analisar toda trajetória do produto, o chamado ciclo de vida do produto, desde as matérias-primas utilizadas na fabricação, aos resíduos gerados neste processo até o descarte pós-uso. As mudanças necessárias nestes processos fazem parte da Política Ambiental da empresa, que podem, ou não, antecipar-se à legislação ambiental vigente, conforme descrito no quadro 3. Abordagem convencional + Consciência ambiental = Abordagem consciente Descartar os resíduos da maneira mais fácil e econômica RESÍDUOS Valorizar os resíduos e maximizar a reciclagem: destinar corretamente os resíduos não recuperáveis Adiar investimentos em proteção ambiental INVESTIMENTOS Investir em melhoria do processo e qualidade total (incluindo a Qualidade Ambiental) Cumprir a Lei no que seja essencial, evitando manchar a imagem já conquistada pela empresa LEGISLAÇÃO Adiantar-se às Leis vigentes e antecipar-se às Leis futuras projetando uma imagem avançada da empresa “Meio Ambiente é um Problema” MEIO AMBIENTE “Meio Ambiente é uma Oportunidade” Quadro 3 – Mudanças na empresa através da conscientização ambiental Fonte: adaptado de Valle (2002, p. 38). 3.3 Resíduos Sólidos Acordo Valle (2002, p. 49) “os resíduos sólidos são uma expressão visível, talvez a mais palpável, dos riscos ambientais”, ficando em evidência principalmente nos grandes centros urbanos (lixo urbano). Para Trigueiro (2003, p. 361) resíduo sólido é qualquer material resultante de atividades humanas que fora descartado ou rejeitado por ser 37 considerado inútil ou sem valor, pode ser classificado de acordo com sua composição química (orgânico e inorgânico), sua fonte geradora (residencial, comercial, industrial, agrícola, de serviços de saúde, entre outros), e seus riscos potenciais ao meio ambiente (perigosos, inertes e não inertes). Segundo Valle (2002) a norma ABNT-NBR 10004 divide os resíduos sólidos em perigosos e não perigosos, por sua vez, os não perigosos podem ser inertes e não inertes. Os resíduos perigosos são definidos por suas propriedades físicas, químicas e infecto-contagiosas, como segue: corrosividade, reatividade, explosividade, toxicidade, inflamabilidade, patogenicidade e radioatividade (VALLE, 2002). Além destas classificações algumas leis estaduais citam também os resíduos especiais de pós-consumo, isto é, embalagens e produtos que após o encerramento de sua vida útil, pelo seu volume ou por suas propriedades intrínsecas, exigem sistemas especiais para acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e destinação final, de forma a evitar danos ao meio ambiente, tais como: embalagens não-retornáveis; pneumáticos; óleos lubrificantes; aparelhos eletro-eletrônicos, eletrodomésticos e seus componentes; veículos automotores; baterias e pilhas; lâmpadas fluorescentes; entre outros. Lembrando que a prefeitura é responsável pela coleta dos resíduos sólidos domiciliares residenciais, comerciais e industriais, considerados pequenos geradores (aqueles que não excedem 200 litros por dia). Além dos resíduos inertes como entulho, terra, sobras de construção não excedendo 50 kg diários (ABREU, 2006). Entretanto os resíduos sólidos, não necessariamente são nocivos, muitos podem ser transformados em subprodutos ou em matérias-primas para outros mercados, portanto podem sofrer técnicas de valorização, reciclagem e tratamento para voltar de alguma forma ao mercado de valor. Quando estes não são passíveis de técnicas de revalorização devem ser descartados adequadamente, os meios normalmente utilizados são a incineração (com o intuito de destruir e reduzir o volume de resíduos ou para geração energética, utilizando-o como combustível) e a disposição (solução mais 38 antiga e tradicional adotada pelo homem). Disposição final “conjunto de unidades, processos e procedimentos que visam ao lançamento de resíduos no solo, garantindo-se a proteção da saúde pública e a qualidade do meio ambiente” (MMA, 2006). A disposição final normalmente é feita em áreas abertas de espaço limitado, chamadas de lixões, aterros controlados e aterros sanitários. No lixão, ocorre à disposição do lixo a céu aberto, sem critério de proteção ambiental o que possibilita o livre acesso de vetores de doenças (ABREU, 2006). Nos aterros controlados a disposição do lixo é feita em local controlado onde após uma jornada de trabalho os resíduos sólidos recebem uma cobertura de solo evitando proliferação de macrovetores (ABREU, 2006). Acordo o Ministério do Meio Ambiente (2006) aterro sanitário é uma: [...] técnica de disposição final de resíduos sólidos urbanos no solo, por meio de confinamento em camadas cobertas com material inerte, segundo normas técnicas específicas, de modo a evitar danos ou riscos à saúde e à segurança, minimizando os impactos ambientais,incluindo impermeabilização lateral e inferior do terreno, drenagem de águas pluviais, coleta e tratamento de líquidos percolados e coleta do biogás para queima ou aproveitamento energético. A tabela 2 mostra a situação da disposição de resíduos sólidos no Brasil, lamentavelmente a maior porcentagem é depositada a céu aberto. Tabela 2 – Destinação final de resíduos sólidos no Brasil Destinação final do lixo % Disposição a céu aberto (lixão) 76 Aterro controlado 13 Aterro sanitário 10 Usina de compostagem 0,9 Incineração 0,1 Fonte: Limpurb (2006) 39 3.4 Conceito poluidor-pagador O termo “responsabilidade estendida do produto” – Extended Product Responsability (EPR) – significa que o produtor, ou a cadeia industrial responsável pelo produto que geram impactos ambientais negativos, seja responsabilizado pelos ônus decorrentes da distribuição direta e reversa, inclusive pela destinação correta após o uso dos materiais (LEITE, 2003). Para Trigueiro (2003, p. 359) trata-se do princípio que reconhece que o poluidor deve pagar por qualquer dano ambiental ocorrido, tirando do Estado o ônus pela recuperação do meio ambiente ou destinação final de determinado produto. 40 4. O PRODUTO PNEU O componente imprescindível ao funcionamento dos veículos há quase dois séculos, nasceu da matéria-prima de um experimento acidental de Charles Goodyear nos EUA no ano de 1839, da junção de goma de borracha brasileira e enxofre aquecidos, resultando na borracha impermeável que mantinha suas condições de elasticidade tanto no frio como no calor, considerado o primeiro e mais versátil dos “plásticos” modernos, em 1843 o processo foi patenteado como “vulcanização”, referência ao deus romano do fogo, Vulcan (GOODYEAR, 2006). “Em 1845, os irmãos Michelin foram os primeiros a patentear o pneu para automóvel” (ANIP, 2006), aumentando a segurança nas freadas e diminuindo as trepidações nos veículos. Medina (2001, p. 20) menciona que o pneu de borracha juntamente com o motor a combustão interna, o ferro e aço de alta qualidade foram os diferenciais inovadores na transição da carruagem para o automóvel no final do século XIX. Conforme Andrietta (2002) muitos são os tipos de pneu devido sua aplicação em diferentes veículos, porém a maior parte dos pneus é inflado com ar comprimido, através ou não de uma câmara de borracha em seu interior. Andrietta discorre sobre o assunto: Um pneu é construído, basicamente, com uma mistura de borracha natural e de elastômeros (polímeros com propriedades físicas semelhantes às da borracha natural), também chamados de "borrachas sintéticas". A adição de negro de fumo confere à borracha propriedades de resistência mecânica e à ação dos raios ultra- violeta, durabilidade e desempenho. A mistura é espalmada num molde e, para a vulcanização - feita a uma temperatura de 120- 160°C - utiliza-se o enxofre, compostos de zinco como aceleradores e outros compostos ativadores e anti-oxidantes. Um fio de aço é embutido no talão, que se ajusta ao aro da roda e, nos pneus de automóveis do tipo radial [...], uma manta de tecido de nylon reforça a carcaça e a mistura de borracha/elastômeros é espalmada, com uma malha de arame de aço entrelaçada nas camadas superiores. Estes materiais introduzem os elementos químicos da composição total de um pneu típico. No pneu de passeio predominam os derivados de petróleo e produtos 41 químicos, constituindo 36%, a borracha natural representa 36% e o material metálico (ou aço) conta com 18%. Os pneus de automóveis são projetados para suportar altas velocidades, enquanto que os pneus de carga prevêem suportar mais peso. Com isso, a quantidade de borracha natural nos pneus de caminhões ultrapassa os 40% (ANIP, 2006). A figura 4 ilustra as principais partes de um pneu radial. Figura 4 - Partes do pneu Fonte: Bridgestone (2006) Segundo a empresa Bridgestone e a Portaria Inmetro 133/01 a definição de suas principais partes é, (1) banda de rodagem: “parte do pneu que entra em contato com o solo”; (2) sulcos: “cavidades que recortam a superfície da banda de rodagem longitudinal ou transversalmente, definindo o seu desenho.”; (3) ombros: “parte externa da banda de rodagem nas intercessões com os flancos.”; (4) lonas ou cintas de proteção: parte exterior da estrutura resistente do pneu, que tem a finalidade de proteger as lonas e cintas de trabalho, constituída de camada de fios, de aço, poliamidas, impregnados de elastômeros, que constituem a carcaça do pneu; (5) lonas ou cintas de trabalho: ”parte exterior da estrutura resistente do pneu radial que tem a finalidade de estabilizar o pneu.”; (6) revestimento interno: “toda a superfície interna do pneu, constituída de componentes de borracha que tem a função de proteção.”; (7) carcaça: “estrutura resistente do pneu, constituída de uma ou mais camadas sobrepostas de lonas.”; (8) flancos ou lateral: também conhecido como costado, é a parte do pneu compreendida entre os limites da banda de rodagem e os talões; (10) talões: “partes dos pneumáticos constituídas de fios de 42 aço, em formas de anéis, recobertas de lonas e elastômeros, que lhes atribuem forma apropriada para o correto assentamento do pneu no aro.”; (11) aro do talão: “elemento metálico interno do talão”. Através da disposição das lonas na estrutura, o pneu é denominado radial ou diagonal, respectivamente são, lonas sobrepostas uma em cima das outras paralelamente ou lonas dispostas diagonalmente (trançadas) sobre a estrutura. Todos os itens têm fundamental importância na fabricação dos pneus, com destaques para a banda de rodagem (parte do pneu que entra em contato com o solo), o corpo (ou carcaça) e o talão (parte do pneu que faz ligação com a roda) que proporcionam melhor resistência ao asfalto, estabilidade nas curvas e manobras rápidas, além do ombro, parede lateral, lonas e lâminas de estanque (ANIP, 2006). Conforme a mesma portaria outros termos definidos, em seus capítulos 3 e 4, são, (1) pneu reformado: “pneu usado, que passou por um dos seguintes processos para reutilização de sua carcaça: recapagem, recauchutagem ou remoldagem.”; (2) recapagem: “processo pelo qual um pneu é reformado pela substituição de sua banda de rodagem.”; (3) recauchutagem: “processo pelo qual um pneu é reformado pela substituição de sua banda de rodagem e dos seus ombros.”; (4) remoldagem: “processo pelo qual um pneu é reformado pela substituição de sua banda de rodagem, dos seus ombros e de toda superfície de seus flancos. Este processo é conhecido como recauchutagem de talão a talão.”; (5) pneu novo: “pneu que não sofreu qualquer uso, nem foi submetido a qualquer tipo de reforma e não apresenta sinais de envelhecimento nem deteriorações de qualquer origem.”; (6) pneu usado: “pneu que foi submetido a qualquer tipo de uso e/ou (sic) desgaste.”; (7) pneu inservível: “pneu que apresente danos irreparáveis em sua estrutura.” 4.1 PANORAMA DO SEGMENTO DE PNEUS NO BRASIL A indústria de pneus no Brasil está organizada em três grandes associações representativas: Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus (ABR), Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados (ABIP) e Associação Nacional da Industria de Pneumáticos (ANIP). 43 A atuação deste setor é de extrema importância visto que a matriz de transporte de carga no Brasil é largamente voltada para o modal rodoviário em comparação com outros países, como mostra a tabela 3. Tabela 3 - O transporte de cargas no mundo (%) Países Hidrovia Ferrovia Rodovia Alemanha 29 53 18 Canadá 35 52 13 EUA25 50 25 França 17 55 28 Rússia 13 83 4 Brasil 17 21 54 Fonte: Rodrigues (2004, p. 25). Lembrando Andrietta (2002) o pneu constitui no segundo item de maior custo dos veículos automotores, depois do combustível. Lembrando Ballou (1993) o transporte é a atividade mais onerosa da logística. 4.1.1 Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus (ABR) Criada em 1985 representa atualmente 1.677 empresas reformadoras de pneus, isto é, empresas de pneus reformados, procedimento que trata da reposição da banda de rodagem desgastada por uma nova, também chamado de recapagem ou recauchutagem, utilizando para isso carcaças de pneus usados e consumindo apenas 25% do material utilizado para fabricação de um pneu novo, além da economia de 57 litros de petróleo para a mesma comparação. O Brasil é o segundo mercado mundial com nível técnico de padrão internacional e baixo índice de problemas. Um pneu reformado tem custo 70% inferior ao pneu novo, podendo atingir 57% de economia na relação custo/km. Um pneu é reformado, em média, duas vezes, gerando três vidas para a mesma carcaça, contribuindo para redução dos impactos ambientais. O volume de pneus reformados é maior em veículos de carga do que 44 em automóveis, lembrando que o pneu é o segundo maior custo do transporte terrestre. Em 2004 o segmento empregou quase 80 mil pessoas, e reformou 14 milhões de pneus gerando um faturamento de R$ 4,3 bilhões/ano, economizando cerca de 600 milhões de litros de petróleo (ABR, 2006). Atualmente o setor passa por uma reestruturação pela necessidade obrigatória de credenciamento junto ao Inmetro das empresas reformadoras. Após duas reformas os pneus normalmente são descartados e se tornam pneus inservíveis, porém na Resolução CONAMA 258/99 as empresas reformadoras não são citadas pela obrigação do descarte ambientalmente correto destes. 4.1.2 Associação Brasileira da Industria de Pneus Remoldados (ABIP) Fundada em 1993, reúne empresas de pneumáticos remoldados do Brasil, e tem como principal associada a BS Colway Pneus. Diferentemente dos pneus reformados a carcaça reaproveitável (pneu usado), que normalmente é importada pelas qualidades asseguradas, passa pela substituição de toda sua borracha, de talão a talão, não havendo emendas, proporcionando perfeito balanceamento, durabilidade e segurança. Esses pneus custam 40% a menos, em relação ao pneu novo e são certificados pelo Inmetro. A fabricação de um pneu remoldado gera a economia de 20 litros de petróleo em comparação ao pneu novo de um automóvel, e é feita em grande escala em países de primeiro mundo, devido seu custo ligeiramente inferior e redução do passivo ambiental. Atualmente a importação de carcaças de países da Europa se dá através de liminares concedidas pela justiça, pois o governo brasileiro proíbe a importação deste tipo de produto (pneu usado) amparado pela Convenção da Basiléia. Após a Resolução CONAMA 258/99 a associação alega ter destinado ambientalmente correto mais de 10 milhões de pneus inservíveis (ABIP, 2006). 45 4.1.3 Associação Nacional da Industria de Pneumáticos (ANIP) Fundada em 1960, esta associação representa os principais fabricantes de pneumáticos novos e câmaras de ar do Brasil, formado em grande parte por multinacionais centenárias. Os pneus novos ou originais têm maior durabilidade e melhor desempenho em relação aos pneus reformados e remoldados, além de certificações do Inmetro, da União Européia e EUA, possuem garantia de 5 anos. Dados de 2005 apontam que a produção total de pneumáticos no Brasil foi de 53,4 milhões de unidades, sendo que deste montante 18,2 milhões foram destinados a exportação, ficando para o mercado interno um total de 35,2 milhões divido entre mercado de reposição e revendedores (67,7%), e indústria automobilística e montadoras (32,3%). Existem no município de São Paulo aproximadamente 130 revendedores autorizados dos principais fabricantes associados ANIP. A entidade informa que desde a publicação da Resolução CONAMA 258/99 até 2005 atingiu a marca de 100 milhões de pneus destinados de forma ambientalmente correta, o que equivale a 500 mil toneladas de pneus velhos e inservíveis que foram coletados e destruídos para outros propósitos (ANIP, 2006). Tabela 4 - Produção de pneumáticos novos no Brasil Ano base Produção Exportação Mercado Interno (em milhões de unidades) 2002 46,6 15,6 31 2003 49,2 17,7 31,5 2004 52,0 17,1 34,9 2005 53,4 18,2 35,2 Fonte: adaptado da ANIP (2006). 46 5. O RESÍDUO SÓLIDO PNEU Está comprovado que o descarte inadequado do resíduo sólido, pneu inservível, após o fim de sua vida útil, tem relação direta com o aumento significativo de doenças provocadas por mosquitos transmissores da dengue nas últimas décadas. Acordo o Ministério do Meio Ambiente (2006): Um estudo realizado em 1.240 municípios pelo Ministério da Saúde, em 2003, revelou que, em 284 municípios, os pneus eram o principal foco do mosquito, em 491 o segundo principal foco e o terceiro em 465 municípios.[...] Entre 1996 e 2002, os gastos do Governo Federal com prevenção e combate à dengue cresceram 284%.[...] Em 2003, o valor total gasto pelo Governo Brasileiro no combate à doença foi de R$ 903 milhões. Os casos de dengue diagnosticados somente no município de São Paulo nos últimos anos foram de: 434 casos em 2005, 760 casos em 2003, 10 casos em 2004, 37 casos em 2005, e mais de 450 casos até setembro de 2006. Para tanto a Coordenação de Vigilância em Saúde informa que é feito um controle diário em toda cidade por cerca de 1.300 profissionais entre agentes de saúde, biólogos, engenheiros agrônomos e médicos veterinários (COVISA, 2006). Outros problemas associados aos pneumáticos usados são o descarte inadequado nos rios e lagos (foram retirados 120 mil pneus do rio Tietê nos últimos anos) que provoca assoreamento no curso dos rios; sua queima que libera substâncias altamente tóxicas; e por ser um resíduo que ocupa muito espaço físico e de difícil compactação - cada pneu ocupa 0,20 m³, ou seja, 5 pneus para cada 1 m³ (VASCONCELLOS, 2005, p. 80) -, sua disposição em aterros sanitários já é proibida em muitos países (MMA, 2006). O aumento anual de veículos fabricados no Brasil e no mundo torna a destinação correta destes pneus no final de sua vida útil ainda mais importante, a tabela 5 mostra apenas a produção anual de automóveis (carros) em alguns países. Multiplica-se a estes números cinco unidades de pneumáticos que equipam estes veículos, chega-se a um total de mais 8 milhões de pneumáticos somente no Brasil em 2004, e 221 milhões em todo mundo. 47 Tabela 5 – Aumento da produção de carros em alguns países País Produção em unidades/ano Aumento (%) 2003 2004 Argentina 109.364 171.400 57 Brasil 1.505.139 1.756.166 17 China 2.018.875 2.316.262 30 Índia 907.968 1.178.354 30 Rússia 1.010.436 1.109.958 10 Todos países produtores 41.968.666 44.228.138 5,4 Fonte: adaptado da OICA (2006). A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) filiada a Organisation Internationale des Constructeurs d’Automobiles (OICA) divulgou que a venda de veículos para o mercado interno brasileiro somou 1.631.217 unidades em 2005, dentre os quais 1.329.794 são automóveis. Por todos esses motivos o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) órgão consultivo e deliberativo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), publicou em 1999 uma resolução abordando o tema, - nesta que se tornaria uma das mais severas legislações sobre pneus
Compartilhar