Buscar

Comunicação e linguagem..Administração 1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

TENDÊNCIAS/DEBATES
Novo paradigma à pacificação dos conflitos
ROGÉRIO FAVRETO
	
Essa política pública pretende, por meio de cursos aos operadores jurídicos, constituir um novo paradigma cultural
O BRASIL enfrenta problemas de difícil equação dentro da lógica e do respeito ao acesso à Justiça. Há um pressuposto notório de que os modelos tradicionais encontram-se significativamente esgotados para uma resposta eficaz ao universo maior e cada vez mais complexo de conflitos sociais. Entretanto, é dever do Estado implementar políticas públicas de acesso universal à Justiça brasileira. 
Dentro do escopo do Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), que combina ações de segurança pública com políticas sociais, a Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério de Justiça propõe ações voltadas à revolução democrática do direito e melhor efetivação do direito fundamental de acesso à Justiça. 
Denominada Redes de Mediação, essa política pública pretende, por meio de cursos de aperfeiçoamento aos operadores jurídicos para composição e mediação de conflitos, constituir um novo paradigma cultural. 
A idéia é operar com perspectiva diversa da cultura forjada pelo bacharelismo e mesmo pelo mercado de trabalho do profissional do direito no Brasil, centrada na lógica da guerra e da beligerância, e não da paz e da composição de interesses. 
O profissional da guerra em que se constitui o bacharel em direito, com base formativa altamente dogmática e positivista, tem se projetado diretamente para o tecido social, fazendo com que as relações intersubjetivas e interinstitucionais se judicializem em proporções agudas, com uma perspectiva de litigância desmesurada. Poderia, em vez disso, trabalhar com a solução pacífica e negociada -portanto, mais preventiva do que curativa- dos problemas que surgem em qualquer comunidade de interesses múltiplos e diversos. 
O problema aqui é realmente de aculturação à composição de conflitos, que, por óbvio, não depende tão-somente do Estado-juiz, mas de todos os agentes envolvidos numa relação jurisdicional, o que demanda um processo de reeducação dos sujeitos de direito. É com tal perspectiva que o projeto Redes de Mediação quer propor a estruturação de um processo de formação à pacificação social no âmbito das lides -judicializadas ou não. 
Considerando a multiplicidade de sujeitos que quer alcançar, o projeto sugere três momentos de abordagens formativas, no campo da cognição e no das práticas profissionais voltadas à mediação e conciliação: 
a) ingresso nas grades curriculares dos cursos de direito de espaços de formação no campo da mediação e composição de conflitos, articulados com os núcleos de práticas jurídicas; 
b) curso de aperfeiçoamento em técnicas de mediação e composição de conflitos para os atuais profissionais do direito (magistrados, promotores de Justiça, defensores públicos, advogados públicos e particulares); 
c) constituição de núcleos de Justiça comunitária voltada à formação de agentes comunitários de mediação, na perspectiva de criar meios alternativos de resolução dos conflitos. 
Para tanto, a Secretaria da Reforma do Judiciário está realizando reuniões e oficinas com diversas instituições que se ocupam dessas questões, propondo uma rede de parcerias para implantação e operacionalização do projeto. Tem sido amplo o apoio à iniciativa, que busca enfrentar a atual formação jurídica conflitiva com uma política pública construída a partir da realidade social e jurídica, com fundamentação técnica e investimento do governo federal. 
Por ser um projeto coletivo e de importância nacional, a participação do maior número possível de interlocutores propiciará condições para a formação de um novo paradigma voltado à pacificação social, com prevenção, controle e repressão à criminalidade associadas à preparação dos agentes do sistema de Justiça para a composição e mediação dos conflitos.
Acordo tem valor simbólico e alcance político
JOSÉ LUIZ FIORIN
ESPECIAL PARA A FOLHA
O português é a única língua com estatuto de idioma oficial em vários países que tem duas ortografias reguladas por lei: uma utilizada no Brasil e outra, em Portugal e nos demais países lusófonos. 
Línguas como o espanhol e o francês, que são faladas em diversos países, têm uma única ortografia. Alguém poderia dizer que isso não é verdade porque, em inglês, também há dupla ortografia: por exemplo, centre e center; colour e color, analyse e analyze; catalogue e catalog. Entretanto, a situação do inglês é muito distinta da do português, porque ele não tem ortografia fixada em lei. Ela é regulada pela tradição, que está registrada nos grandes dicionários. Isso quer dizer que, embora existam grafias preferenciais em países como a Inglaterra e os Estados Unidos, as duas formas são consideradas corretas. 
Para pôr fim a essa situação de duplicidade de ortografia, que tem raízes históricas profundas, foi assinado um acordo de uniformização ortográfica entre os oito Estados nacionais da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Após muita discussão, essa convenção foi ratificada pelos parlamentos de diversos países, entre os quais Brasil e Portugal, e entra em vigor em nosso país hoje. A discussão sobre o Acordo tem-se baseado em diversos equívocos. Em primeiro lugar, não se trata de uma unificação da língua, mas da ortografia. 
A língua é um fato social intrinsecamente variável: na pronúncia, no vocabulário, na morfologia e na sintaxe. Varia de uma região para outra (mesmo dentro de um país), de um grupo social para outro, de uma geração para outra, de uma situação de comunicação para outra. Não se pode unificar a língua. Já a ortografia é o conjunto de convenções que regula a representação dos sons da fala na escrita, é o conjunto de regras que determina como se escrevem as palavras. É isso que está sendo uniformizado. 
Afirma-se que a reforma é tímida, é "meia-sola", que seria necessário fazer uma mudança ortográfica profunda. Na verdade, a rigor, não se trata de uma reforma ortográfica, mas de um acordo de unificação ortográfica. Por isso, ela incide apenas sobre os aspectos divergentes das duas ortografias. Além disso, uma alteração de grande alcance não é mais possível, porque, como praticamente toda a população está alfabetizada e faz uso intensivo da escrita, seria um custo enorme levar todos a reaprender uma ortografia completamente nova. É preciso considerar ainda que uma modificação ortográfica radical condenaria, em pouco tempo, todo o material gráfico armazenado à obsolescência, pois seria preciso um preparo específico para lê-lo. 
Diz-se que não houve de fato uma unificação, porque se aceita o princípio da dupla grafia em alguns casos: por exemplo, econômico/ económico; caratê/ caraté; facto/ fato; concepção/ conceção. Essa afirmação é um erro porque as duas grafias passam a ser corretas em todos os países lusófonos. Com muita sabedoria, unificou-se, respeitando-se a diversidade de pronúncia refletida em formas históricas de grafar. Além disso, o princípio da dupla grafia não é invenção do acordo, pois ele já existe no sistema ortográfico brasileiro: aceitam-se como corretas, por exemplo, as formas contacto e contato, secção e seção, sinóptico e sinótico, cotidiano e quotidiano. O acordo é tecnicamente imperfeito. Apesar disso, sou favorável a ele por seu alcance político. A língua, além da função comunicativa, tem funções simbólicas: representa a nação, é instrumento de resistência contra a dominação estrangeira, etc. Como diz um de seus considerandos, o acordo "constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua". É nesse contexto que deve ser visto, em seu valor simbólico. Visa a afirmar, por meio da unificação ortográfica, uma unidade linguística de base, que emerge de uma grande diversidade e que é o símbolo da união dos povos da CPLP.

Outros materiais