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Diagnóstico e prevenção da doença cárie, e Proteção do Complexo dentino-pulpar O objetivo deste tópico é saber identificar a doença cárie, tomar a decisão terapêutica correta e aprender os protocolos para proteção do complexo dentina- polpa. A cárie é uma doença infecto-contagiosa e multifatorial. Apesar de ser transmissível, é importante você entender que ela pode ser evitada desde que se tomem alguns cuidados. A maneira de como ela se instala e se desenvolve nas pessoas, deveria ser de conhecimento não apenas de nós, profissionais da área, mas também de toda a população. Se você perguntar para as pessoas como se adquire essa doença, provavelmente irá ouvir muitas coisas como “porque engravidei”, “tomei muito antibiótico quando criança”, “comi muito doce”, mas poucos responderão que é porque não realiza a higienização correta da boca. É claro que a dieta influencia para a instalação dessa doença, porém, não é esse fator isolado que irá desencadeá-la. Dessa forma, é importante que você conheça o Diagrama de Keyes para entender melhor essa questão. Diagrama de Keyes Para se desenvolver a doença cárie, é fundamental que você tenha esses 3 componentes simultaneamente. Não existe cárie com a presença de microrganismos e sem o substrato e o hospedeiro. Não adianta ter uma dieta cariogênica sem a presença do microrganismo e o hospedeiro. E por fim, não adianta colocar a bactéria junto com um substrato cariogênico em um dente sobre uma mesa que nada irá acontecer. Ainda é importante lembrar que existe um quarto fator para tudo isso acontecer: tempo. É preciso que esses fatores interajam concomitantemente por um determinado período para o desenvolvimento dessa doença. Diagrama de Keyes com o fator tempo Nesse tópico, abordaremos os aspectos clínicos da cárie. Os aspectos microbiológicos, bioquímicos e patológicos você deverá revisar para entender melhor esse assunto.Clinicamente, a cárie apresenta regiões que podem diferir quando esta se encontra em esmalte ou em dentina. É muito importante você conhecê-las. Zonas da cárie em esmalte. É importante você notar que as zonas da cárie em esmalte são difíceis de serem visualizadas uma vez que o esmalte possui uma pequena espessura. Ao removê-la, seguramente vai eliminá-la totalmente, sem distinção. Em dentina acontece algo diferente. Você precisa conhecer todas as regiões de cárie, que são facilmente identificáveis, para poder tratá-la corretamente. Zonas de cárie em Dentina Dentina desorganizada: tecido amolecido, de cor amarelada, úmida, muito contaminada, contendo restos de alimentos, dentina, matéria alba, bactérias. Facilmente removida com cureta ou colher de dentina. Dentina infectada: de consistência borrachóide, pode ser de cor amarelada ou caminhando para um tom mais escuro, removida com certa facilidade com cureta ou colher de dentina. Também é úmida. Nessa camada encontram-se grandes quantidades de bactérias de vários tipos. Dentina afetada: possui cor amarelada e já não é tão facilmente removida com curetas. Em muitos casos, você necessitará da ajuda de instrumentos cortantes rotatórios para removê-la. É uma região com grande desmineralização, mas com pouca contaminação. É uma dentina seca. Dentina esclerosada: dentina sadia, de cor escurecida, formada rapidamente pelo organismo devido ao avanço rápido da doença. Não deve ser removida, principalmente por ser uma dentina que possui os túbulos dentinários obliterados, o que as tornam menos permeáveis às toxinas bacterianas. Em outros tempos, só havia uma forma de tratamento de cárie em dentina: remoção total. Atualmente, é importante que você saiba que a dentina pode ser mais preservada e, dessa forma, afastar o risco de uma exposição pulpar acidental, o que poderia levar a um tratamento endodôntico precoce. Ao deixar a dentina cariada afetada, desde que bem protegida, você possibilita uma remineralização da mesma, permitindo o seu restabelecimento. Lembre-se que a polpa estando viva e saudável, o processo de remineralização da dentina é possível e sempre contínua.Para entender melhor essa relação da dentina com a polpa, é fundamental você rever esse assunto em histologia. Deve lembrar que a dentina é formada por túbulos e dentro deles encontram-se os prolongamentos dos odontoblastos, que estão dentro da polpa. Pela Teoria Hidrodinâmica você entende que uma dentina exposta ao meio bucal significa que a polpa também está exposta às intempéries desse ambiente, que pode ser muito hostil devido às variações de temperaturas e até às toxinas provocadas pelo metabolismo bacteriano. TEORIA HIDRODINÂMICA Sensibilidade dentinária decorrente da movimentação do fluído dentinário presente no interior dos túbulos e canalículos da dentina, que promove ondas, estimulando as fibras nervosas presentes próximos aos odontoblastos. Responsável pela sensibildade ao frio, substâncias químicas, eletricidade, pressão osmótica e sensibilidade pós-operatória. A polpa tem um papel biológico muito importante. Ela é responsável em transmitir a mensagem de dor ao cérebro quando algo a está agredindo. Dessa forma, o organismo tem a possibilidade de se prevenir antes de haver um dano maior. Além disso, ela é responsável pela formação da dentina secundária e terciária ao longo da vida. Com isso, a dentina protege a polpa deixando-a mais distante do meio bucal. Dentina primária: presente na formação inicial do dente, antes de sua erupção. Dentina secundária: formada ao longo da vida após a erupção dental. Dentina terciária: originada quando há a presença de cárie. Formada de forma muito rápida, na tentativa de isolar a polpa de injúrias provenientes do meio bucal. A formação da dentina secundária faz com que quanto mais superficial ela estiver (próxima ao esmalte), menores as quantidades e diâmetros dos túbulos devido à sua deposição dentro dos mesmos. E ao contrário, quanto mais próxima à polpa, essa dentina apresenta maiores quantidades e diâmetros dos túbulos. A isso, atribuímos densidade dos túbulos. Densidade dos túbulos dentinários Quanto mais dentina tiver entre a polpa e término do preparo cavitário, maior é a proteção biológica. Dessa forma, quanto mais rasa for a cavidade, menor a chance de agressão que essa polpa sofrerá. É seu dever protegermos a polpa para mantê-la viva, independentemente da profundidade da cavidade. Em Dentística, utilizamos alguns materiais que possuem essa função. São: hidróxido de cálcio P.A. (pó), hidróxido de cálcio pasta/pasta (ou cimento), ionômero de vidro quimicamente ativado ou fotopolimerizável, óxido de zinco e eugenol (OZE), sistema adesivo e verniz cavitário. As propriedades desses materiais você deverá recordar nas suas anotações de Materiais Dentários.Você deverá seguir os seguintes protocolos para Proteção do Complexo Dentina Polpa: Protocolo de proteção do complexo dentina-polpa para restauração de Resina Composta Protocolo de Proteção do complexo dentina-polpa para restauração de Amálgama Um bom material protetor deve ter boa compatibilidade biológica, módulo de elasticidade próximo da dentina, adesão aos tecidos dentais, atividade antimicrobiana, resistência mecânica, opacidade e baixa solubilidade. O hidróxido de cálcio é um ótimo material protetor e já testado ao longo de décadas com muito sucesso clínico. Possui boa ação antimicrobiana e junto com seu alto pH exerce um papel fundamental no processo de paralização da cárie. Promove a deposição de dentina reacional e esclerose dos túbulos dentinários. Em compensação, como principais defeitos, tem alta solubilidade, baixa resistência e não aderem aos tecidos dentais.O ionômero de vidro possui importantes atributos como adesão aos tecidos dentais, atividade antimicrobiana (pela liberação de flúor), módulo de elasticidade próximo da dentina, menor solubilidade e adere com a resina composta. Mas você não deve colocar diretamente em cavidades profundas, pois pesquisascomprovam altos índices de inflamação pulpar quando este material se encontra em cavidades profundas.O OZE foi utilizado por muito tempo como base para as restaurações de amálgama. Tem um importante papel anódino devido ao eugenol. No entanto, tem sido substituído gradativamente pelo ionômero de vidro uma vez que apresenta propriedades melhores.O Verniz também está deixando de ser usado uma vez que o sistema adesivo possui melhores características para proteger a polpa quando se encontra em cavidades rasas.O Sistema adesivo tem uma importante propriedade que consiste em selar os túbulos dentinários, que acaba funcionando como obstáculo para a penetração de agentes tóxicos em direção à polpa. O problema é que para isso acontecer, é necessário que se coloque vários componentes na dentina que são prejudiciais à polpa como o ácido fosfórico e os componentes presentes no primer e no bond . Dessa forma, você deve evitar colocar sistema adesivo diretamente em cavidades profundas, somente em cavidades rasas. TÉCNICA DE CAPEAMENTO PULPAR DIRETO Em casos de exposição pulpares pequenas, menores que 1 mm e em pacientes jovens, você poderá tentar fazer um tratamento conservador a fim de manter a polpa vitalizada. Utilize o hidróxido de cálcio pó. Este material, como dito anteriormente, é utilizado há décadas, e seu alto pH estimula o mecanismo de reparação pulpar. A morte da camada mais superficial das células na polpa possibilita que haja estímulo de diferenciação das células mesenquimáticas em odontoblastos para sintetização de dentina reparadora. Sobre esse hidróxido de cálcio pó, você colocará cimento de hidróxido de cálcio que terá a função de proteção ao pó, além de reforçar essas atividades fisiológicas. Sobre o cimento de hidróxido de cálcio, você colocará cimento de ionômero de vidro modificado por resina que possui propriedades complementares desse último, ou seja, além da proteção, tem adesão aos tecidos dentais, resistência mecânica e libera flúor. Para amálgama você poderá ainda substituir este último por OZE. Por fim, será colocado um sistema adesivo sobre o ionômero ou verniz sobre o OZE. TÉCNICA DE CAPEAMENTO PULPAR INDIRETO Idêntica à técnica anterior, porém, como não há exposição pulpar, apesar de ser uma cavidade muito profunda, não há necessidade de se colocar o hidróxido de cálcio pó. Coloca-se apenas cimento de hidróxido de cálcio nas regiões mais profundas das paredes de fundo. Na sequência, o ionômero ou o OZE protegendo esse último e o protocolo segue como explicado anteriormente. Para cavidades médias e rasas repita o protocolo da mesma maneira, utilizando os materiais vistos nas tabelas.Pelo que foi visto até agora, você percebeu que é fundamental conhecer todas as nuances dessa doença, uma vez que são várias as possibilidades de tratamento e proteção do complexo dentina-polpa. Dessa forma, é importante que você conheça os vários aspectos clínicos que ela se apresenta para saber tomar a decisão correta.Diante de uma lesão de cárie, basicamente você tem apenas três opções para o tratamento: Decisão Terapêutica Mas para tomar a decisão correta, você precisa fazer uma excelente inspeção visual. Boa iluminação, profilaxia, campo limpo e seco com um bom isolamento relativo são fundamentais para se atingir esse objetivo. Aliado a um bom exame radiográfico, praticamente você conseguirá fechar qualquer diagnóstico de lesão de cárie.Como regra, é importante verificar se as lesões de manchas brancas estejam cavitadas ou não. Quando não cavitadas, a chance de se optar por um tratamento conservador, sem intervenção cirúrgica, aumenta bastante. Quando lisas e brilhantes, significa que são inativas. Dessa forma você poderá apena proservar essa lesão. Tome cuidado para não confundir com manchas por fluorose ou hipoplasia do esmalte. Geralmente elas podem se encontrar em qualquer região do dente, estão localizadas ou generalizadas e não possuem relação com falta de higienização. As cáries inativas geralmente se encontram em elementos dentais ou em regiões com maiores riscos de cárie como, por exemplo, nos terços cervicais dos dentes onde há maior acúmulo de placa bacteriana. As manchas brancas ativas se apresentam opacas e rugosas. Apesar do também tratamento conservador, é importante que você oriente o paciente quanto à higienização e dieta menos cariogênica, além de uma boa profilaxia e aplicação tópica de flúor a fim de evitar a progressão da doença, que poderia caminhar para uma cavitação. Nesse caso, a indicação do tratamento passa a ser invasivo, ou seja, apenas restaurador. Mancha Branca E regiões de sulco, há um cuidado a mais para se preocupar. Clinicamente, a cárie se apresenta enegrecida. E este aspecto está presente tanto em cáries crônicas como ocultas. Dessa forma, é fundamental que você tenha em mãos uma radiografia interproximal para auxiliá-lo nesse diagnóstico. Cárie de sulco Em cáries crônicas você deve apenas proservar. Lembre-se que a cárie está estacionada e não há cavitação ainda. Eventualmente, se houver uma grande dúvida, uma mínima intervenção também está indicada. Utilize uma ponta diamantada tronco cônica bem delgada para que a abertura da cavidade seja bem pequena, restrita apenas em esmalte. Restaure com resina composta, pois este material permite ter resistência em pequenas espessuras devido a sua adesão aos tecidos dentais.Em caso de cárie oculta, apesar de muitas vezes não haver a abertura da cavidade, você deve intervir cirurgicamente nesse dente. Lembre-se que apesar de progressão lenta, ela é contínua. Se nada for feito, seguramente haverá comprometimento da vitalidade pulpar. Dessa forma, o único tratamento possível é o restaurador.Para finalizar, qualquer tipo de lesão de cárie (tanto aguda, quanto crônica), quando cavitada, recomenda-se realizar o tratamento restaurador uma vez que nessa situação, a correta higienização fica impossibilitada. Quiz 1 Ao remover dentina cariada de um elemento dental, você repara que chegou em uma camada em que ela ainda sai com cureta, porém está bastante resistente e seca. Qual zona de cárie em dentina que se encontra e qual material protetor que deverá utilizar? Dentina desorganizada e protege com cimento de hidróxido de cálcio. Dentina infectada e protege com cimento de ionômero de vidro. Dentina afetada e protege com sistema adesivo. Dentina esclerosada e protege com verniz. N.d.a. Referências BUSATO, Adair Luis Stefanello. Dentística: filosofia, conceitos e prática clínica. São Paulo: Artes Médicas, 2005. PEREIRA, José Carlos; ANAUATE-NETO Camilo; GONÇALVES, Silvia Alencar. Dentística. Uma abordagem multidisciplinar. São Paulo: Artes Médicas, 2014
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