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Se o pH varia abaixo do pKa, os prótons podem ser captados pela es- pécie aceptora ; se o pH varia acima do pKa, prótons podem ser liberados pela espécie doadora (H2PO4 -). O gás carbônico é o produto final de oxidações biológicas; ele se dissolve no plasma e reage com água por ação da enzima anidrase carbônica, for- mando ácido carbônico, que é capaz de se dissoci- ar, formando H+ e HCO3 -. A capacidade de um íon hidrogênio de alterar o pH é muito maior do que a de um íon bicarbonato. Como o CO2 pode ser eli- minado pela ventilação pulmonar, ele é dito um ácido volátil; os outros ácidos produzidos pelo organismo são ácidos fixos. REGULAÇÃO DO PH DO FLUIDO EXTRACELULAR A função normal das células do organismo depende de uma série de processos metabólicos e enzimáti- cos, os quais dependem da manutenção de uma série de fatores em limites estreitos para a função celular, como temperatura, osmolaridade e pH, que representa a quantidade de íons H+. O pH é mantido por uma série de razões: 1. Alterações na concentração de prótons podem modificar a estrutura das proteínas, impedindo o funcionamento normal de atividades celulares; 2. Muitos processos de absorção e ex- creção dependem do grau de ionização de certos compostos, que dependem do pH do meio; 3. Alterações no pH do meio podem conduzir à degradação de componentes celulares, como o RNA, que degrada em pH maior que 8. As proteínas do meio intracelular funcionam bem em pH próximo de 7, e as extracelulares, em pH próximo de 7,4. Por isso é necessária a ação de sis- temas que mantenham esses pHs, até porque o organismo gera espécies ácidas e básicas o tempo todo. Para isso, existem os tampões biológicos. TAMPÕES BIOLÓGICOS A concentração de íons H+ livres nos fluidos corporais precisa ser mantida na faixa de 35 a 45 nanomo- lar. Embora o nosso organismo produza ácidos continuamente, eles são imediatamente tamponados por tampões intra e extracelulares; rins e pulmões (órgãos enunctórios) intervém em seguida, controlando a excreção dos ácidos fixos (rins) e volátil (pulmões). PRINCIPAIS TAMPÕES INTRACELULARES A capacidade tamponante do citosol deve-se à presença de aminoácidos livres e proteínas, mas princi- palmente ao tampão fosfato. Proteínas e aminoácidos livres: O grupamento ácido carboxílico pode liberar um próton, enquanto o grupamento amino pode receber um próton em função do pH do meio. Dependendo do pH do meio, então, os aminoácidos captam ou liberam H+ para regular o pH. Tampão fosfato: Do ponto de vista do equilíbrio ácido/básico biológico, interessa a dissociação do fos- fato monobásico, cujo pKa é 6,8, muito próximo do fisiológico. O tampão fosfato é formado pelo par H2PO4 - /HPO4 -2 e funciona tanto no meio intracelular quanto na urina (pH em torno de 6); isso porque, em pH = 6,8, 50% das moléculas estará na forma de H2PO4 - e 50% na forma HPO4 -2, ou seja, a proteção é máxima. O tampão fosfato é importante nos túbulos renais, onde sua concentração é abundante e o pH é um pouquinho mais ácido. Ele é mais importante no fluido intracelular porque sua concentração é maior dentro da célula, porém é mais eficiente que o tampão bicarbonato por seu pKa mais próximo do pH. PRINCIPAIS TAMPÕES EXTRACELULARES Sistema bicarbonato/ácido carbônico: É o principal tampão do meio extracelular, baseado no equi- líbrio entre a quantidade de CO2 dissolvido no plasma e o HCO3 - proveniente da dissociação do ácido carbô- nico. O CO2 reage com a água, formando H2CO3 em uma reação catalisada pela anidrase carbônica. Esse áci- do é instável, podendo dissociar-se em íon bicarbonato e próton: No pH do fluido extracelular, a maior parte do ácido carbônico está dissociada em bicarbonato é próton! Se os íons HCO3 - não reagissem com o próton formando CO2 e H2O, eles seri- am perdidos na urina, pois a única for- ma desses íons retornarem ao interior celular é sobre a forma de CO2! Os íons H + na urina são elimi- nados 50% na forma de H2PO4 - e 50% na forma de NH4 +, sen- do o fosfato e a amônia os principais tampões da urina! Quando o O2 se liga à hemoglobina, a ligação reduz o pK do grupo amino terminal das subunidades α e do grupo carboxilo terminal das β, o que os afasta e os impede de participar das ligações iônicas que eles faziam antes. Assim, a ligação de O2 acarreta a liberação de H + e vice-versa. Isso se chama efeito Bohr! O CO também se liga ao grupo heme, porém de forma irre- versível. Isso impede a ligação do oxigênio e mata a pessoa por asfixia. Um tampão é eficiente em uma faixa de pH que varia uma unidade acima e abaixo do seu pKa. O pKa do sistema bicarbonato/ácido carbônico é 6,1 e o pH do meio extracelular, 7,4; além disso, a concentração de bicarbonato no plasma é 20 vezes maior que a de dióxido de carbo- no. Mesmo assim, esse é o melhor tampão extracelular. Isso porque as concentrações dos seus componentes (gás carbônico e íon bicar- bonato) podem ter suas concentrações modificadas facilmente pelo organismo, por meio dos pulmões e dos rins, que atuam em subs- tâncias de lados opostos do equilíbrio. TAMPONAMENTO DE PRÓTONS ORIUNDOS DE ÁCIDOS FIXOS Quando o pH plasmático reduz em função do aumento da concentração de H+ causado pela dissociação de ácidos fixos, o íon bicarbonato no plasma é capaz de aceitar os prótons liberados e formar ácido carbôni- co, que é muito fraco e incapaz de alterar o pH plasmático. Ele, porém, é instável e se dissocia em CO2 e H2O, que podem viajar pelo plasma porque não alteram o pH do mesmo jeito que o próton faria. Eles seguem pela circulação até onde os prótons são eliminados: os rins. Na parede do túbulo contorcido proximal do néfron, o CO2 e a H2O difundem-se para o interior das célu- las da parede do túbulo. No interior dessas células, a anidrase carbônica catalisa a reação contrária, forman- do H2CO3, que se dissocia em HCO3 - e H+, que vai para a luz do túbulo renal. Na luz, ele reage com os íons HCO3 - que estão no filtrado (em quantidades semelhantes às do plasma), formando nova- mente ácido carbônico, que forma CO2 e H2O novamen- te, que retornam ao interi- or celular, onde a anidrase age (de novo!), formando HCO3 - e H+. O pró- ton volta para o filtrado, e o bicarbonato é devolvido ao plasma. A anidrase carbônica é a enzima mais abundante em mamíferos e é fundamental para a excreção dos ácidos fixos pelos rins porque ela permite que o H+ seja regenerado no local exato de sua eliminação, ou seja, no túbulo contorcido proximal do rim. TAMPONAMENTO DE ÁCIDOS VOLÁTEIS NO PLASMA O gás carbônico, produto final do metabolismo oxidativo, é transportado e tamponado pela hemoglobi- na. Isso é importante porque, durante o transporte dos tecidos periféricos aos pulmões, não devem aconte- cer alterações no pH plasmático pela ação da anidrase carbônica, que afetariam a oxigenação tecidual. A hemoglobina é a responsável pelo transporte de O2 dos pulmões e pelo tamponamento do plasma durante esses transportes. O oxigênio liga-se ao grupo heme das cadeias da hemoglobina. O próton também pode se ligar à hemoglobina, porém não no mesmo sítio; os prótons ligam-se a resíduos de aminoácidos da proteína, especialmente na histi- dina 146 e aspartato 194. Mesmo assim, somente um pode se ligar de cada vez. Assim, H+ e O2 competem pela ligação com a hemoglobina. À medida que a concentração de prótons no meio diminui (pH aumenta), a afinidade da hemoglobina pelo O2 aumenta, pois existem menos prótons competindo pela ligação. Assim, quanto mais alcalino o pH, mais O2 se liga à hemoglobina (saturação da hemoglobina). Considerando que o pH na região pulmonar é levemente alcalino e a pressão parcialde oxigênio é alta, facilmente ocorre a ligação de O2 com liberação de H + pela hemoglobina. O CO2 gerado no meio intracelular difunde-se dos tecidos ao plasma. Como essa difusão pela membrana é livre, ele consegue difundir-se para o interior da hemácia, onde a anidrase carbônica (ela de novo!) produz Plasma do sangue venoso → baixa pressão de O2, alta pressão de CO2 (recolhido do tecido), alta concentração de HCO3 - (gerado pela anidrase, principal forma de transporte do CO2) e baixa concentração de Cl - (capta- do pelo eritrócito quando ela joga o HCO3 - para fora através da proteína Ban- da 3) → plasma mais ácido (+ pCO2)! Em condições fisiológicas → pH = 7,4; [HCO3 -] = 24 mM; pCO2 = 40 mmHg; [CO2] = 1,2 mmol/L. ácido carbônico, que se dissocia em HCO3 - e H+; o próton é capturado pela hemoglobina para a realização das ligações iônicas. Nos tecidos periféricos, a hemoglobina chega oxigenada; ela libera seu oxigênio nos capila- res de sangue venoso, onde a pO2 é baixa, e liga o próton. Assim, a principal forma de transporte do CO2 aos pulmões dos tecidos periféricos é sobre a forma de bicarbonato! Nos pulmões, a pressão de oxigênio é muito alta; assim, esse oxigênio consegue deslocar o próton e li- gar-se à hemoglobina. Esse H+ combina-se com o HCO3 - internalizado pela banda 3 em troca de um cloreto (isso já no ambiente pulmonar!), que foi “expulso” para o ambiente pulmonar. Essa combinação gera ácido carbônico, que se dissocia em CO2 e H2O; o CO2 é eliminado pela ventilação. O efeito Bohr relaciona a oxigenação e o pH tecidual: a hemoglobina só consegue liberar o oxigênio ao tecido devido à mudança de pH! FUNÇÃO PULMONAR NA REGULAÇÃO DO PH PLASMÁTICO Os pulmões regulam a quantidade de ácido volátil, o CO2, através do ritmo da ventilação. Quando o pH plasmático cai, a neutralização do próton realizada pelo bicarbonato conduz à formação de CO2. Para eliminar esse excesso, os pulmões aumentam o ritmo ventilatório, ou seja, realizam hiperventi- lação, por causa do pH baixo e da pCO2 alta. Assim, mais gás carbônico é eliminado e o equilíbrio químico é deslocado no sentido do consumo de prótons (formação de H2CO3). Quando o pH plasmático aumenta, os pulmões realizam uma hipoventilação, eliminando menos gás car- bônico, o que desloca o equilíbrio no sentido de formação de prótons (formação de H+ e HCO3 -).
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