Buscar

2-Conversando sobre tecnologia_carla cabral

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Conversando sobre tecnologia
Carla Giovana Cabral
julho de 2011
Apresentação 
Nós todos/as temos um entendimento do que seja tecnologia. Esse 
entendimento pode se originar das nossas vivências e experiências cotidianas, do 
que assistimos na televisão, lemos na internet, em livros, de aulas que tivemos na 
escola e na própria universidade. O que vamos discutir nesta aula é o quanto do 
que entendemos por tecnologia está impregnado de uma visão restrita e como 
essa visão restrita limita um entendimento ampliado e crítico. O que estamos 
tentando dizer? No senso comum, na mídia, e também teoricamente há uma 
visão de tecnologia que a considera apenas ciência aplicada. Isso deixa de lado 
todo o conhecimento tecnológico que o homem construiu ao longo de sua 
existência, da história da humanidade; leva-nos a acreditar que a tecnologia, seu 
avanço, é a responsável pelo bem-estar e a qualidade de vida das pessoas. É 
sempre assim?
Refletir sobre esse assunto implica conhecer as imagens mais correntes 
sobre tecnologia – intelectualista e instrumentalista – e um conceito que 
desconstrói essa ideia, atraindo as dimensões social, ambiental, ética para 
ampliar o nosso entendimento. Esse conceito é o de tecnologia como prática 
cultural ou prática tecnológica. 
Com isso, a exemplo do que discutimos no texto anterior sobre a não-
neutralidade da ciência, vamos tentar compreender que a tecnologia não é 
neutra: há interesses, crenças, valores envolvidos; há relações de poder, um 
tempo, uma história.
Essas questões permeiam os objetivos desta aula. Vamos conhecê-los?
Objetivos
1. Compreender que a tecnologia não é neutra e está permeada por interesses, 
crenças, valores. 
2. Conhecer o conceito de prática tecnológica.
3. Refletir sobre a relação entre tecnologia e desenvolvimento social e 
humano.
Autoavaliação
1) Vamos começar a nossa aula com uma pesquisa. Escolha um site de busca 
e coloque a palavra-chave “tecnologia”. O que você encontrou? Liste os três 
primeiros links e faça um resumo (até 30 linhas) do que eles contém sobre 
tecnologia. Vamos discutir os seus achados em sala de aula.
A tecnologia nossa de cada dia
Em sua pesquisa, você encontrou uma série de textos e figuras 
representando a tecnologia. De uma forma geral, elas simbolizam a visão 
preponderante, que é a de perceber/entender a tecnologia como aplicação da 
ciência. Uma vez que se tenha um conhecimento científico e esse conhecimento 
seja aplicado, temos uma tecnologia. Essa ideia se concretiza especialmente em 
artefatos .
A visão de tecnologia como aplicação da ciência é restrita e traz vários 
problemas, problemas que limitam nossa visão de mundo, o que se reflete no 
modo como pensamos e agimos em sociedade, seja no âmbito da esfera privada 
(nossa casa, família, amigos, companheiro/a;), seja na esfera pública (trabalho, 
cidade, País, etc.) Vamos discutir alguns desses problemas. 
Em primeiro lugar, pensar em tecnologia apenas como artefato leva-nos a 
não considerar a ideia de tecnologia como possibilidade de conhecimento, um 
conhecimento que não está necessariamente relacionado com ciência, na forma 
como a conhecemos hoje. Ciência pode ter vários significados. Aqui, 
simplificando, estamos considerando-a como o resultado do trabalho e da decisão 
dos cientistas, não esquecendo as relações que empreendem com outros grupos e 
os contextos social e histórico em que se realizam. Automóveis, telefones 
celulares, computadores, relógios, televisores são exemplos de artefatos. Em sua 
pesquisa na internet, você encontrou vários deles, não é mesmo? Pense no 
significado desses artefatos em sua vida, em seu cotidiano. 
Outro problema é que ao entendermos tecnologia apenas como um 
resultado da aplicação da ciência, mostramos um certo desprezo por uma análise 
singular do que é tecnologia, ou seja, a vemos como redutível à ciência. 
Em outro sentido, a tecnologia como aplicação da ciência está relacionada 
ao chamado modelo linear de desenvolvimento, que tem influenciado 
sobremaneira as políticas públicas em ciência e tecnologia de vários países, 
inclusive o Brasil, nos últimos tempos. Nesse modelo, tudo começa com a 
pesquisa científica, que depois é aplicada. Convertida em tecnologia, levaria ao 
desenvolvimento científico e tecnológico que, por sua vez, geraria desenvolvimento 
econômico, e a partir dele desenvolvimento social e humano. Esse é um modelo 
que embute a ideia de determinismo tecnológico, em poucas palavras, que a 
ciência e a tecnologia determinariam a vida em sociedade, trariam bem-estar e 
qualidade de vida, necessariamente. 
Veja que apresentamos duas importantes questões: pensar a tecnologia 
apenas como artefato e aplicação da ciência (reducionismo); entendê-la como 
determinante da vida em sociedade (determinismo). Vamos discutir essas 
questões?
O fenômeno técnico
A cultura distinguiu o homem de outros animais e uma série de atributos 
seus o levou a desenvolver ferramentas técnicas. Pedras, paus e ossos 
empunhados habilmente foram usados pelos hominídeos para caçar ou se 
defender. Logo, essas pedras, paus e ossos transformaram-se em lanças, facas e 
machados, suprindo de uma certa maneira no homem a falta de garras, 
presentes em predadores melhor dotados anatomicamente (PALACIOS et al, 
2001, p. 35). O homem desenvolveu uma habilidade técnica (BAZZO e PEREIRA, 
2009, 66).
Assim, essa habilidade técnica dotou a pedra de um outro sentido. 
Podemos dizer que deu ao homem mais poder e, grosso modo, ele passou de 
“caça” a “caçador”. A habilidade técnica do homem evoluiu: ele dominou o fogo, 
aprendeu a cozinhar os alimentos, domesticar os animais, construir casas, fundir 
metais, etc. Isso não se deu sem intervenções no meio.
Segundo Palacios et al (op cit, 2009, p. 36), a técnica transforma/ou o meio 
e recria as condições da existência humana: (1) ela permitiu a transformação do 
meio em que os seres humanos desenvolveram sua vida, mudou as formas de 
vida humana; (2) também criou obras para durar longo tempo, prolongou a vida 
das pessoas, por exemplo. 
Em certo sentido, a existência humana é um produto técnico, tanto 
quanto os próprios artefatos que a fazem possível. Não se pode 
pensar, portanto, em separar a técnica da essência do ser humano. 
Seguramente, a técnica é uma das produções mais características do 
homem, mas também é certo que os seres humanos são. Sem dúvida, o 
produto mais singular da técnica. (Idem) 
Em cada época, há um tipo de intervenção humana, em especial. Em 
outras palavras, desde que percebeu suas habilidades, o homem vem 
modificando o meio em que vive. Essa não é uma questão simples e requer uma 
permanente contextualização.
Se no Paleolítico, por exemplo, o homem vivia em poucos grupos na terra e 
os materiais que utilizava para acender uma fogueira provocam pequeno impacto 
sobre o meio, isso mudou radicalmente ao longo da história da humanidade: 
florestas foram devastadas, rios desviados ou cobertos por cidades, vilarejos 
inundados por barragens e hidrelétricas, praias e morros invadidos por 
construções ilegais e clandestinas. E o que isso tem a ver com tecnologia? 
Bombas nucleares mataram milhares de pessoas, navios derramaram oceanos de 
petróleo no mar, pesticidas contaminam fauna, flora e seres humanos, reatores 
de usinas nucleares explodiram; contas bancárias e bases de dados são invadidas 
por crackers ; nossa vida é controlada por celulares e vigiada por câmeras a que 
se atribui segurança. Vamos perguntar mais uma vez: e o que isso tem a ver com 
tecnologia? 
As imagens da tecnologia
Nós vimos no início destetexto que uma das visões mais usuais sobre 
tecnologia, define-a como aplicação da ciência. Já pontuamos que isso traz uma 
série de problemas e restringe nosso entendimento, especialmente se buscamos 
uma visão mais ampla da relação entre ciência, tecnologia e sociedade. Vamos 
discutir um pouco esse conceito usual. Em primeiro lugar, vejamos este trecho de 
Palacios et al (2001, p. 37). 
“A tecnologia poderia ser considerada como o conjunto de procedimentos que 
permitem a aplicação dos conhecimentos próprios das Ciências Naturais à 
produção industrial, ficando a técnica limitada ao momento anterior do uso dos 
conhecimentos científicos como base do desenvolvimento industrial.”1
Ele nos traz diversas questões para discutirmos. Tratemos de pelo menos 
duas: 
1) a dependência da tecnologia de outros saberes;
2) a utilidade da tecnologia.
Quando consideramos a tecnologia como aplicação da ciência, esta, na sua 
forma tradicional, exerce enorme influência nos produtos e processos resultantes. 
Isso quer dizer que o caráter de atividade pretensamente neutra, autônoma e 
universal da ciência se reflete na tecnologia, esta entendida apenas como a sua 
aplicação. Em outras palavras, ciência seria o conhecimento teórico; tecnologia, o 
conhecimento prático. 
Uma tradição acadêmica que amparou e respaldou essas ideias foi a que se 
originou do Positivismo Lógico. Na opinião dos positivistas, segundo Palacios et al 
1 Tradução livre da autora, em julho de 2011.
(2001, p. 38), as teorias científicas explicavam o mundo por meio de enunciados 
objetivos, racionais e livres de valores externos à ciência. Na mesma linha, o 
conhecimento científico era visto como um processo progressivo e acumulativo, 
que substituía a ciência anterior essas teorias poderiam ser aplicadas em alguns 
casos; a ciência pura não tinha qualquer relação com a tecnologia. 
O Positivismo Lógico é uma filosofia oriunda das discussões de um grupo de pensadores que se reunia no 
chamado Círculo de Viena, no início do século 20. Eles foram responsáveis por uma retomada da ideia de 
ciência pretensamente neutra e autônoma em relação à sociedade. 
Tomas Kuhn criticou a ideia de conhecimento científico como um processo progressivo e acumulativo, 
oferecendo como alternativa a teoria das revoluções científicas. Segundo essa teoria, a ciência evoluiu 
por rupturas: há períodos de ciência normal; em algum momento essa ciência apresenta “anomalias”, que 
dão origem às revoluções científicas. São construídas, então, novas teorias, que apresentam melhores 
resultados para um determinado problema, constituindo um novo paradigma.
Assim, uma consequência marcante dessa concepção é que, ao se conferir 
um estatuto de neutralidade à ciência, este é diretamente transferido à tecnologia 
(BAZZO, PEREIRA e VON LINSINGEN, 2008, p. 182). Como vimos, conferir 
neutralidade à tecnologia, a destitui de relações com a sociedade, seja em sua 
produção ou aplicação. Essa visão constrói a imagem intelectualista de 
tecnologia. E a relação entre tecnologia e utilidade?
Há quem considere, como Bazzo, Pereira e von Linsingen (2008, p. 182), 
que a percepção do caráter utilitarista da tecnologia é a mais presente no meio 
técnico, ou seja, nos lugares em que circulam profissionais como os/as 
engenheiros/as. Acreditamos que fora desse meio, no chamado senso comum, 
também é habitual que se veja a tecnologia como algo que auxilia, melhora a vida 
das pessoas, torna certas tarefas mais fáceis, traz bem-estar. O que você pensa 
sobre isso? Já parou para pensar nessas questões?
Vista de uma maneira utilitarista, a tecnologia acaba restringindo-se a uma 
analogia com ferramentas e produção de bens e serviços, oriundos da aplicação 
de conhecimentos científicos. Esta é a visão instrumentalista da tecnologia. 
Também aqui temos o problema da transferência do estatuto de pretensa 
neutralidade da ciência. Não é raro que ouçamos que a tecnologia não é boa, nem 
ruim, e que os prejuízos são advindos do seu uso. 
Quer dizer, então, que os usuários é que são responsáveis por por 
benefícios ou malefícios? E quem projetou, e a empresa ou indústria que 
produziu e comercializou não teriam nenhuma responsabilidade?
Isso é bastante problemático. Vejamos o que dizem Bazzo, Pereira e von 
Linsingen (2008, p. 183). 
“Segundo essa visão, a universalidade associada à tecnologia avaliza a 
transferência de tecnologia entre sociedades independentes e, muitas vezes, em 
detrimento de suas especificidades culturais. Por conta disso, o ensino das 
técnicas, a princípio, pode ser vinculado à ética da responsabilidade social 
apenas em sentido restrito. Por extensão, permite-se ao engenheiro a isenção da 
responsabilidade pública do que produz e de seus efeitos”.
Os/As engenheiros/as e outros/as profissionais das áreas científicas e 
tecnológicas estão realmente isentos de eventuais “efeitos colaterais” de seus 
projetos, cálculos, processos, produtos e serviços? O que sabem sobre assumir 
uma postura ética? 
Uma postura ética e comprometida com uma sociedade mais igualitária e 
justa requer a superação de entendimentos de tecnologia que passam pelas 
visões intelectualista e instrumentalista. Isso pede que se veja a tecnologia não 
apenas como artefato, mas se tenha em conta seu caráter sistêmico.
O conceito de prática tecnológica
Ao desconstruir o conceito de tecnologia apenas como ciência aplicada, 
podemos defini-la também como uma série de sistemas são projetados para 
realizar alguma função instrumentos materiais e tecnologias de caráter 
organizativo (Palacios et al, 2001, p. 42). 
O tecnológico não é somente o que transforma e constrói a 
realidade física, mas também aquilo que transforma e 
constrói a realidade social. (Idem)
Na concepção de Radder (1996, apud Palacios et al, 2001, op. Cit., p. 42), 
há cinco características que distinguem a tecnologia. Vejamos o quadro a seguir 
(Quadro 1).
Características da tecnologia
REALIZABILIDADE Confere concretude à tecnologia, ou seja, a tecnologia tem que 
estar realizada; perguntar “onde”, “quando”, “por quem”, para 
quê” e “por quê” são fundamentais para estudá-la.
CARÁTER SISTÊMICO Uma tecnologia não se resume a artefatos; qualquer tecnologia 
está inserida em um ambiente sociotécnico que a viabiliza. Por 
exemplo, um automóvel é uma tecnologia que necessita de uma 
série de elementos para funcionar – rodovias, postos de 
abastecimento, refinarias, gasodutos, publicidade, 
consumidores, etc.
HETEROGENEIDADE Tecnologias são constituídas de componentes, que não são 
iguais, têm diferentes tipo e procedência. 
RELAÇÃO COM A CIÊNCIA Há uma ampla e diversa relação entre a ciência e a tecnologia. 
Além do conhecimento científico, há o “saber como fazer”, 
materializado em habilidades, técnicas teóricas, observacionais 
e experimentais, assim como resultados científicos objetivados 
em produtos, materiais e instrumentos.
DIVISÃO DO TRABALHO A realização de uma tecnologia pressupõe uma dependência 
entre os agentes envolvidos, não um funcionamento 
incondicional. Há uma divisão do trabalho e diferentes relações 
de poder entre quem desenvolve, produz, opera e usa a 
tecnologia.
Fonte: Palacios et al (2001, p. 42-43), com base em Radder (1995); traduzido e ligeiramente 
modificado pela autora.
A considerar o caráter sistêmico, a interpretação de tecnologia como prática 
tecnológica é um dos conceitos mais interessantes e contributivos para 
desconstruir a ideia reducionista de tecnologia como ciência aplicada. 
O conceito de prática tecnológica foi proposto por Arnold Pacey na década 
de 1980. Ele expressa diferentes aspectos envolvidos na tecnologia, o 
organizacional, o técnico e o cultural.Antes de os discutirmos, vamos conhecê-los 
de maneira esquematizada nesta figura. 
Nesta figura, vemos que aos aspectos organizacional, cultural e técnico 
correspondem diferentes questões. Em geral, eles são compreendidos de maneira 
estanque. Ao aspecto cultural, por exemplo, vinculam-se valores, questões éticas; 
o aspecto organizacional vincula a atividade industrial, profissional e 
usuários/consumidores; já conhecimento, destreza, máquinas e ferramentos 
pertencem à esfera do técnico. 
Erroneamente se acredita que essa esfera funcione de maneira 
independente às demais. Assim, costuma-se tratar as dimensões social e humana 
e seus problemas no âmbito dos aspectos cultural e organizacional da tecnologia. 
Dessa forma, isentamos a técnica de seu conteúdo humano e social, ignorando a 
existência de valores nessa atividade (PACEY, 1990, 18; CABRAL, 2006, p. 28-
50). 
O que o conceito de prática tecnológica propõe é um diálogo entre os 
aspectos organizacional, cultural e técnico, mostrando-nos que a tecnologia não é 
autônoma em relação à sociedade, tão pouco neutra em termos de valores. 
Segundo Palacios et al (2001, p. 44), o conceito de prática tecnológica permite 
uma relação que não é linear: entre indivíduos e grupos (os que desenvolvem, 
produzem, comercializam e consomem), agentes (individuais e/ou coletivos), 
materiais e meios disponíveis e fins a desenvolver. 
Vamos relfetir?
Comece a prestar mais atenção no que você ouve, lê, assiste sobre 
tecnologia(s). Tente perceber se a ideia de tecnologia que está sendo construída 
corresponde a uma imagem intelectualista ou instrumentalista, ou ambas. Veja 
se em algum dos espaços (virtuais também!) se trata da tecnologia considerando 
suas relações com a ciência e a sociedade, ou seja, se se promove um diálogo 
entre os aspectos cultural, organizacional e técnico. Este texto termina aqui, mas 
a nossa conversa sobre tecnologia está apenas começando. 
Referências
BAZZO, Walter Antonio; PEREIRA, Luiz Teixeira do Vale. Introdução à 
Engenharia. Florianópolis: EDUFSC, 2009.
BAZZO, Walter Antonio; PEREIRA, Luiz Teixeira do Vale; VON LINSINGEN, Irlan. 
Educação Tecnológica: enfoques para o ensino de engenharia. Florianópolis: 
EDUFSC, 2008.
CABRAL, C. G. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Programa de 
Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica. O conhecimento 
dialogicamente situado: histórias de vida, valores humanistas e consciência 
crítica de professoras do Centro Tecnnológico da UFSC. Florianópolis, 2006. 
205 f. Tese (Doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina. Pós-Graduação 
em Educação Científica e Tecnológica.
PACEY, Arnold. La cultura de la tecnología. México: Fondo de Cultura 
Económica, 1990.
PALACIOS, Eduardo Marino García et al. Ciência, tecnología y sociedad: una 
aproximación conceptual. Madrid: Organizacíon de Estados Iberoamericanos, 
2001.
*******

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes