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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA –UEPG André Angelo Batista de Siqueira da Costa A socialização promovida pela chegada da ferrovia em Porto Amazonas. (1950-1970) Ponta Grossa 2016 A socialização promovida pela chegada da ferrovia em Porto Amazonas. (1950-1970) André Angelo Batista de Siqueira da Costa1 Resumo: A chegada da estrada de ferro, em Porto Amazonas ocasionou muitas mudanças no município, principalmente no que tange a população. A estrada de ferro proporcionou o progresso, aliada à navegação já consolidada e em expansão, ambas trouxeram modificações significativas para o desenvolvimento que estava acorrendo por toda a cidade. Nesse sentido será problematizado o movimento de pessoas na estação e se geraram um tipo de socialização, à medida que o tempo passava e o número de habitantes e visitantes aumentava, pois foram-se criando hábitos e costumes rotineiros com cada chegada do trem. O objetivo é analisar nas fotos o prazer de se reunir e encontrar amigos e familiares que tornou o espaço da estação local para se conversar, trocar ideias e mercadorias. Isto é se socializar. Palavras-chaves: Estação, Ferrovia, Porto Amazonas, Socialização. Abstract: The arrival of the railway in Porto Amazonas causes many changes in the city, especially with regard to population. The railroad provided progress, coupled with the already established and expanding navigation, both brought significant changes to the development that was flocking throughout the city. In this sense it will be questioned the movement of people at the station and generated a kind of socialization, as time passed and the number of inhabitants and visitors increased, as were up creating habits and routine customs with each arrival of the train. The goal is to analyze the pictures the pleasure to meet and find friends and family that made the space of the local station to chat, exchange ideas and goods. This is to socialize. Keywords: Station, Railway, Porto Amazonas, Socialization. Introdução Devido a pequena quantidade de material produzido sobre a ferrovia no contexto da cidade de Porto Amazonas, como estudante de Bacharelado em história, penso que há necessidade de outras pesquisas e produções historiográficas nesta área sejam realizadas. Tendo como base para minha 1 Acadêmico do primeiro ano do curso de Bacharelado em História na Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG. pesquisa um artigo escrito pela professora Sofia Terezinha Kozlinski, será analisado fotos que retratam o período em que a ferrovia estava se desenvolvendo e gerando uma sociabilidade das pessoas que moravam e chegavam em Porto Amazonas. O tema ferrovia é algo extremamente importante em diversos lugares aonde houve a passagem da linha férrea, percebemos as inúmeras alterações em cidades que tiveram o contado com esse progresso. Há poucos lugares que preservaram essa passagem que deixou marcas no chão e na vida de pessoas que presenciaram o contexto histórico. Na cidade de Porto Amazonas não há museus, patrimônios tombados e preservados, mas desejo que ao menos as historiografias sobre tantas histórias sejam produzidas, prolongadas e repassadas ao que ainda desejam entender o passado dessa pequena cidade. As fontes utilizadas são fotos referente a ferrovia e ao processo de socialização, a análise desses registros iconográficos busca entender como acorreu a sociabilidade em frente à estação. Uma das fotografias nos mostra a estação, (que havia passado por modificações), em 1935, na imagem encontramos passageiros aguardando o trem, em 1935, na Estação em Porto Amazonas. A foto pertence os arquivos da Prefeitura local. Em outra fotografia temos a plataforma da estação, infelizmente sem data, aonde observamos alguns funcionários da linha férrea. A foto pertence aos arquivos da Prefeitura local. Antes de entendermos melhor as fotografias citadas, vejamos um breve processo de construção da linha férrea. A estrada de ferro Em 05 de janeiro de 1889, pelo Decreto no. 10.152, poucos meses antes da Proclamação da República, foi concedida à "Compagnie Gènèrale de Chemins de Fer Brèsiliens"2, que construíra a ferrovia entre Curitiba e Paranaguá, privilégio para a construção, uso e gozo do prolongamento da respectiva via férrea até o Porto Amazonas, no Rio Iguaçu, com um ramal que, passando por Lapa, se dirigiria para o Rio Negro. Com o advento da República 2Companhia Francesa que construía inúmeras estradas de ferro, recebendo autorizações do governo para sua atuação. Disponível em: http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=78619&tipoDocumento=DEC&t ipoTexto=PUB Acessado em 07/02/2016 houve a necessidade de um novo pedido, atendido pelo Decreto no. 907 de 18 de outubro de 1890, assinado pelo Generalíssimo Manoel Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo Provisório da República, concedendo àquela "Compagnie", privilégio "...para a construção, uso e gozo do prolongamento da respectiva via férrea, do Porto Amazonas, no Rio Iguaçu, até Ponta Grossa, passando por Palmeira, e a entroncar na estrada de ferro de Itararé a Santa Maria da Boca do Monte" (conf. Antecedentes Históricos de Porto Amazonas - José Carlos Veiga Lopes).3 O trajeto da estrada ficou assim constituído: "saindo de Curitiba seguia até a estação da Serrinha (atual Engenheiro Bley)4, de onde havia um entroncamento para a Lapa, continuava sempre pelo lado da margem direita do Rio Iguaçu, não beirando o mesmo cruzava o Rio dos Papagaios e ia à Restinga Seca e atingia o Rio Iguaçu cerca de doze quilômetros acima do Porto, no local chamado Porto das Laranjeiras ou Porto Laranjeira, onde hoje está a cidade de Porto Amazonas, que mais tarde foi denominado Estação Porto Amazonas, em terras da Fazenda Portão de João Conrado Bührer. O trecho da Serrinha à Restinga Seca foi inaugurado no dia 1º de Novembro de 1892, e consta a mesma data para o ramal até o Rio Iguaçu. A chegada da estrada de ferro ocasionou muitas mudanças no município, principalmente no que tange a população. Houve um movimento de emigrantes atraídos para a região, incentivados não só pelo progresso, mas também pela redistribuição, por parte do Governo, das terras da antiga Colônia Kitto.5 O sistema ferroviário proporcionou o progresso, aliada à navegação já consolidada e em expansão com o surgimento de um número cada vez maior de vapores. As atividades permaneceram em franco crescimento, até a década 3 José Carlos Veiga Lopes (Curitiba, 7 de maio de 1939 - Curitiba, 3 de outubro de 2010) foi um engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Paraná, pecuarista, historiador e escritor brasileiro. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Carlos_Veiga_Lopes Acessado em 09/02/2016 4 Eng. Bley é um ponto estratégico da malha ferroviária sul, pois é basicamente o "ponto de decisão" entre os portos de Paranaguá/PR e São Francisco do Sul/SC. Todo o "tráfego típico" para os dois portos — exportação de grãos do interior do Paraná — vem de Ponta Grossa e tem de passar por este ponto. Disponível em: https://epxx.co/artigos/engbley.html Acessado em 22/02/2016 5 Em Porto Amazonas houve uma tentativa de colonização por volta de 1876, de iniciativa do inglês Charles Willian Kitto estabelecida com 18 ingleses que formavam a Colônia Kitto (Kitolândia).compreendida entre os anos de 1940 e 1950, quando a produção do sudoeste paranaense e das cidades de Lapa, São Mateus do Sul e União da Vitória, chegava a Porto Amazonas pelos vapores, sendo redespachados posteriormente para outras regiões através da estrada de ferro. Com a construção da Rodovia do Xisto6 este panorama foi mudando, aliado à construção da Ferrovia Central do Paraná, distante 8 quilômetros da estrada existente. Finalmente, no mês de julho de 1970 o transporte ferroviário foi totalmente paralisado, desativando-se as instalações da Estação de Porto Amazonas. Olhares sobre a estação. “Toda fotografia foi produzida com uma certa finalidade. Se um fotógrafo desejou ou foi incumbido de retratar determinado personagem, documentar o andamento das obras de implantação de uma estrada de ferro, ou diferentes aspectos de uma cidade, ou qualquer um dos infinitos assuntos que por uma razão ou outra demandaram sua atuação, esses registros – que foram produzidos com uma finalidade documental – representarão sempre um meio de informação, um meio de conhecimento, e conterão sempre seu valor documental, iconográfico”. (KOSSOY, Boris. 200,1 p.47/48). As fotografias, quando analisadas, interpretadas e entendidas conforme seu contexto, pode ser e são uma importante chave para a pesquisa e escrita da história. No contexto histórico, sabemos que havia diferentes atividades desenvolvidas pelos trabalhadores, também uma hierarquia presente deste a vestimentas. Serviços na parte de comunicação ou em outros trabalhos mais perigosos, todos os sentimentos estavam envolvidos, tudo se relacionava com as condições sociais, econômicas e culturais da população. A imagem a seguir nos mostra bem uma classe de trabalhadores que dependia do sistema ferroviário e que dele tirava seu sustento. Ser ferroviário era para muitos um sinal de status, apesar das situações difíceis a “[...] ferrovia 6 Rodovia do Xisto ou PR-5, hoje BR-476 era tida como o eixo mais importante para a economia paranaense. Disponível em: http://www.der.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=14 Acessado 10/02/2016 não é só ferro ela sempre teve um grupo de pessoas que além de trabalhadores eram apaixonados por essa vida, ou seja, os verdadeiros ferroviários que deram muitas vezes a vida por esse meio de transporte de pessoas e carga.” (FONSECA, 2014). Imagem 1: Tres ferroviarios e o menino. Aqui vemos uma foto de funcionários da estação ferroviária em Porto Amazonas, notamos que a um menino, supostamente filho de um dos operários. As condições econômicas eram regulares, muitos ficavam até três dias sem ver a família, mas apesar dessas situações os ferroviários eram tidos como uma classe média alta. Infelizmente a imagem não é colorida, mas sabe-se que cada funcionário tinha um uniforme, boné, roupa cinza e a agente roupa azul marinho. O boné era azul marinho e vermelho com o emblema da rede. A chegada da estrada de ferro afeta direta ou indiretamente toda a vida urbana, implicando em numerosas forças de trabalho, obras de grande porte, edifícios, equipamentos e instalações, além de demandar grandes áreas para abrigar o complexo de estação, com seus escritórios, bilheterias, pátios de manobra, gare de embarque e desembarque de passageiros, plataforma de carga e descarga, oficinas de Plataforma da estação, sem data. Foto dos arquivos da Prefeitura local. manutenção, fabricação e montagem, armazéns e casas para seus trabalhadores. Em vista disso, assim como era parte importante para o seu funcionamento, pode-se dizer que a ferrovia é uma estrutura intimamente associada à habitação, tato no que diz respeito a moradias e cidades erguidas no entorno das estações, quanto às casas implantadas pelas companhias ferroviárias. (Guazzelli, 2013, p.23). No caso da estação em Porto Amazonas, não há muitos funcionários e nem uma grande construção, mas algumas moradias existiam para quem trabalhava para a rede férrea e cuidava da movimentação, manutenção e proteção dos depósitos de bagagem, comida. As fotografias e os retratos são, certamente, fontes excelentes para os historiadores. No entanto levar ao pé-da- letra a expressão: “a câmera nunca mente” não é recomendável. Segundo Burke (2004), toda fotografia deve ser contextualizada, pois ela é resultado de uma seleção. Tanto a fotografia dita como objetiva quanto aquela que se assume como documental, devem ser analisadas criticamente. Imagem 2: Antes do trem chegar A estação em 1935. Foto dos arquivos da Prefeitura local, < Foto: Passageiros aguardando o trem, em 1935, na Estação em Porto Amazonas O autor da foto é desconhecido, mas sabemos que foi uma doação anomia feita para a prefeitura de Porto Amazonas. Datada de 1935, atualmente a fotografia se encontra no acervo da prefeitura. Ao analisarmos a imagem percebemos as diferentes classes sociais que compunham a cidade naquele momento. Apesar de que algumas poucas poderiam desfrutar de uma viagem. As pessoas se preparavam e iam a estação para esperar seus queridos parentes ou amigos. Homens, mulheres e crianças que aparecem na imagem, aparentam boa aparência o que indica a importância de estar bem vestido e apresentável para quem chegaria. O local da estação apesar de pequeno, produzia prazeres, conversas e trocas, na imagem acima podemos até notar alguns produtos no chão, todos os passageiro e visitantes entravam em um processo de socialização. Sabemos que Socialização é o ato ou efeito de socializar, ou seja, de tornar social, de reunir em sociedade. É a extensão de vantagens particulares, por meio de leis e decretos, à sociedade inteira. É o processo de integração dos indivíduos em um grupo.7 Juntamente com a socialização, temos a sociabilidade que é uma particularidade ou atributo do que é sociável; tendência para viver em sociedade, em comunidade.8 Na imagem 2 não encontramos um símbolo muito importante para todos os que aguardavam o trem, mas sabe-se que havia um apito que avisava sobre a vinda do trem. Existiam diferentes tipos de apitos, conforme o tipo de vagão que iria chegar era tido como sinalização a princípio. Depois placa de pare olhe e escute. “As pessoas se viam felizes e entusiasmadas diante do barulho estridente do trem, era o som da vida de Porto Amazonas, as pessoas sentiam seus corações batendo mais forte.” (KOZLINSKI. p. 18). É muito provável que as pessoas da imagem 2 tenham acabado de sair da missa, pois logo o termino, todos iam a praça que ficava ao lado da estação. O local se enchia para ver o trem chegar, conversar e comprar algo como um simples jornal. Segundo Müller (1997) a praça municipal, que se localiza no centro do Município, no passado pertencia a rede ferroviária e nela aos domingos principalmente acontecia encontros de casais e inúmeras outras pessoas que iam ou aguardavam a chegada de alguém. A professora comenta que 7 Disponível em: http://www.significados.com.br/socializacao/ Acessado em 09/01/2016 8 Disponível em: http://www.significados.com.br/?s=sociabilidade Acessado em 09/01/2016 vendedores ambulantes e até meninos ficavam na plataforma, sendo para vender algo ou ganhar algum trocado descarregando as bagagens. Considerações finais Usando as palavras da minha antiga professora, de ensino médio, Sófia Terezinha Kozlinski, que devido ao pouco material produzido sobre a história de Porto Amazonas em especial trabalhos referentes a ferrovia e a população com todo conhecimento possível de ser trabalhado. Fez se necessário neste artigo analisarum aspecto muito importante que a chegada da ferrovia proporcionou. A socialização em frente e ao redor da estação, o contato das pessoas umas com as outras e a movimentação gerada pelo prazer de ver o trem chegar. Foi importante a análise das imagens retratadas para que houve-se um melhor entendimento da população e de seus hábitos no momento em que a cidade estava se desenvolvendo. Algumas diferenças sociais nos trabalhadores e nas pessoas comuns que iam a estação puderam ser vistas e pesquisadas, assim como dito antes, o hábito de ir a estação e encontrar alguns conhecidos “iguais” ou de níveis diferentes. Novamente cito Kozlinski, quanto ao que diz respeito a necessidade do registro de tais informações que poderão ser utilizados para dar continuidade as pesquisas bem como materiais de apoio para serem utilizado em sala de aula por outros professores e assim poder instigar os alunos a pesquisa. Por isso o presente material produzido tem como finalidade trazer novas perspectivas sobre a ferrovia, espero ter conseguido trabalhar e resolver minha problemática através das análises feitas com as fotos. Também complemento que se faz necessário escrever outras histórias e não apenas repetir todo o processo que levou a chegada da estrada de ferro. Referencias BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Florianópolis: Edusc, 2004. KOZLINSKI, Sofia Terezinha. OUTRAS (AS MUITAS) HISTÓRIAS SOBRE A FERROVIA EM PORTO AMAZONAS (1950–1970). Porto Amazonas, 2012 KOSSOY, Boris. Fotografia & História, 3ed., São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. MÜLLER, Jucilda Boscardin. História de Porto Amazonas. Curitiba: Do Autor, 1997. MOREIRA, M. de F. S. Cultura e imaginário social: a experiência ferroviária. Revista História, São Paulo, v.11, 1992, p. 137-150. PELEGRINA, G. R. R; ZANLOCHI, T. S. Ferrovia e Urbanização: o Caso de Bauru. São Paulo: EDUSC, 1991. Complemento: Dissertação de Barbara Gonçalves Guazzelli, Ferrovia, Trabalho e Habitação. PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO AMAZONAS. A ferrovia em Porto Amazonas. Disponível em: Http://www.portoamazonas.pr.gov.br. http://www.estacoesferroviarias.com.br/pr-cur-pgro/ptamazonas.htm
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