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Lei 11101_2005 FALENCIA

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Lei 11.101/2005 – Falência e Recuperação de Empresas
A falência é execução concursal, acontece quando um devedor empresário en​contra-se em estado de insolvência e não consegue honrar seus compromissos com to​dos os credores. Neste caso, tem-se que organizar quais credores receberão primeiro, e quais serão os últimos, por isso chama-se concursal. Os critérios para sua realização estão previstos em lei. 
Requisitos:
O devedor tem que ser empresário, regular ou não.
No entanto, o credor que requer a falência de outrem deve estar regular, regis​trado.
Lei 11.101/05
Art. 1º. Esta lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extra-judicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor.
Art. 2º. Esta lei não se aplica a: I – empresa pública e de economia mista; II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, socie​dade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.
Observação: A empresa é atividade econômica organizada, logo, não pode falir. Quem está sujeito à falência é o empresário, registrado ou não. A empresa não é sujeito de Direito, não é pessoa! No entanto, isso não significa que todo empresário está sujeito à falência.
Há quem entenda ser a empresa pública sujeita à falência e o inciso II deste ar​tigo, inconstitucional. Isto porque o art. 41 do CC/2002, em seu parágrafo único, que salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funciona​mento, pelas normas deste código. Por esse entendimento, também as empresas públi​cas estariam sujeitas à falência.
Note-se a diferença entre insolvência e inadimplência. Nesta, a pessoa (jurídica ou não) não cumpre determinada obrigação, apesar de ter condições de fazê-lo; naquela, a pessoa, simplesmente, não tem condições econômicas de adimplir. Observe-se que não é necessário que se prove que o passivo é maior que o ativo, pois a lei trabalha com critérios de presunção de insolvência, podendo, em caso de presunção errônea, o deve​dor provar o contrário. Os critérios de presunção são: na prática, a cessação de paga​mento e a verificação do relação passivoXativo; na lei, aqueles previstos no art. 94.
Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: 
I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título executivos protestados cuja soma ultrapasse o valor equiva​lente a 40 salários mínimos na data do pedido de falência;
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não no​meia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal; (Aqui está prevista a execução frustrada, que ocorre quando, proposta a execução, o devedor não age, mesmo tendo meios para tal, no sentido de suspendê-la.)
III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recu​peração judicial
Procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos
Realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamen​tos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou totali​dade de seu ativo a terceiro, credor ou não
Transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo (Neste caso, a transferência é ineficaz, não sendo necessário a propositura de ação apartada para que seja decretada a nulidade.)
Simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor
Dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente, sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo (Não se pode aumentar as garantias de dívidas já existentes, pois isso agravaria a situa​ção dos demais credores. No entanto, se se tratar de nova dívida, é permitido o ofereci​mento de garantia.)
Ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pa​gar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do locar de sua sede ou de seu principal estabelecimento
Deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recupera​ção judicial. (Não é preciso que ocorra o inadimplemento, bastando que possa ser previsto. Também, não é necessário que o não pagamento seja provado por meios documentais, é admitida a prova testemunhal.)
§ 1º. Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer o limite mí​nimo para o pedido de falência com base no inciso I do caput deste artigo. (O litisconsórcio é permitido, não exigido.)
	§ 2º. Ainda que líquidos, não legitimam o pedido de falência os créditos que nela não se possam reclamar.
§ 4º. Na hipótese do inciso II do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução.
§ 5º. Na hipótese do inciso III do caput deste artigo, o pedido de falência des​creverá os fatos que a caracterizam, juntando-se as provas que houver e especificando-se as que serão produzidas.
A sentença que decreta a falência é constitutiva, não declaratória, pois, sem sentença não há falência. 
A FALÊNCIA DEPENDE DE SENTENÇA JUDICIAL
Juízo competente
Art.3º. É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.
É importante notar que, se a sede formal não coincidir com a ‘sede prática’ levar-se-á em conta o critério material, haja vista a necessidade de acesso às informações financeiras e contábeis da empresa onde elas, realmente, estão centralizadas. Além disso, nem sempre o principal estabelecimento é a sede formal.
Uma vez decretada a falência, situação em que todos os credores deverão concorrer a um mesmo processo, o juízo terá 2 características: indivisibilidade e unidade. Assim, o juiz que decreta a falência é o mesmo que a processa. 
Requerentes da falência 
Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:
I – o próprio devedor
II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro ou o inventariante
III – o cotista ou acionista do devedor, na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade (neste caso, não é a sociedade quem requer a falência, são seus participantes)
IV – qualquer credor (o credor requerente pode ser titular de crédito de qualquer valor, não sendo necessário o limite mínimo de 40 salários mínimos, pois este serve para provar a insolvência. Mais, a falência pode ser requerida com base em impontualidade de pagamento de obrigação pertencente a outro credor, que não o requerente.)
§ 1º. O credor empresário apresentará certidão de Registro Público de Empresas que comprove a regularidade de suas atividades.
§ 2º. O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às custas e ao pagamento de indenização de que trata o art. 101 desta lei. (A responsabilidade de indenizar pode surgir caso o pedido de falência cause danos ao pretenso falido. E poderá ser decretada na sentença que indeferir o pedido de falência.)
Dívidas Exigíveis
	Art.5º. Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:
	I – as obrigações a título gratuito
II – as despesas que os credores fizeram para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor.
Art. 6º. A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.§ 1º. Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida. (Trata-se se exceção ao princípio da unidade e indivisibilidade. Enquanto se discute a existência do crédito, a ação falimentar segue seu curso. Após o reconhecimento da liquidez do crédito, este deverá ser levado ao juízo falimentar competente. Situação semelhante ocorre com os créditos trabalhistas e tributários, pois eles são discutidos por outros órgãos, no entanto, depois de reconhecidos são levados ao juízo falimentar, para que sejam pagos. Note-se, apesar de serem exceções àqueles princípios, esses créditos, de forma alguma, serão pagos fora da falência.)
§ 2º. É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art.8º desta lei, serão processados perante as justiças especializadas, até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença.
§ 3º. O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1º e 2º deste artigo poderá determinar a reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou na falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria. (Deriva do princípio da unidade do juízo.)
Observação: Quando é a massa falida titular de um crédito, ou, seja, quando a massa falida é quem propõe a ação, não se verifica o princípio da unidade e indivisibilidade de juízo. A ação pode ser processada em qualquer juízo.
Procedimento para a decretação da falência
1º Pedido
	Que deverá ser feito pelas pessoas elencadas no art.97
2º Contestação
	Art. 95. Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua recuperação judicial.
Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 (dez) dias. 
Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94 desta Lei, o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários advocatícios, hipótese em que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido de falência, o juiz ordenará o levantamento do valor pelo autor.
Ou seja, durante o prazo de contestação, o devedor pode efetuar o depósito eliviso, demonstrando solvência e, possivelmente, anulando o pedido de falência, no entanto, ainda que efetue o depósito elisivo, o devedor deverá defender-se do pedido de falência. Há ainda a possibilidade de defesa, sem depósito. Ou ainda, pode o devedor requerer que lhe seja concedida a recuperação judicial, que deverá ser deferida pelo juízo que aceitou o pedido de falência. Note-se que a concessão da recuperação judicial não implica na recusa da falência, o que se faz é buscar maneiras de não se extinguir a empresa.
3º Impugnação
Por fim, após o prazo de impugnação, o juiz dá a sentença e encerra a fase pré-falimentar. Havendo deferimento do pedido estará decretada a falência. No entanto, se o pedido for indeferido, pode-se requerer falência do mesmo empresário em momento posterior, haja vista o indeferimento do pedido de falência não constituir coisa julgada. 
Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e de sentença que julga a improcedência do pedido cabe apelação.
Art. 101. Quem por dolo requerer a falência de outrem será condenado, na sentença que julgar improcedente o pedido, a indenizar o devedor, apurando-se as perdas e danos em liquidação de sentença.
A sentença
Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações:
I – conterá a síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes dos que forem a esse tempo administradores;
II – fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 (noventa) contados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do primeiro protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados; (colocar em suspeição os atos praticados pelo empresário durante o período de 90 dias anteriores à data de decretação da falência facilita o desfazimento desses atos. Isso porque, nesse período, o empresário, certamente, já tinha ciência de sua insolvência e tentava recuperar-se)
VIII – ordenará ao Registro Público de Empresas que proceda à anotação da falência no registro do devedor, para que conste a expressão “FALIDO”, a data da decretação da falência e a inabilitação de que trata o art. 102 desta Lei;
X – determinará a expedição de ofício aos órgãos e repartições públicas e outras entidades para que informem a existência de bens e direitos do falido;
XIII – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta à Fazenda Pública Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento para que tomem conhecimento da falência
Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo a íntegra da decisão que decreta a falência e a relação de credores. (trata-se de uma primeira contagem dos credores, não exclui a possibilidade de existirem mais credores)
Efeitos da falência
Em relação ao falido:
Se a sociedade for de responsabilidade ilimitada, os sócios também serão falidos, sendo decretada a falência da sociedade E dos sócios.
Se a sociedade for comum ou em conta de participação, por não terem personalidade jurídica, não haverá falência da sociedade, MAS dos sócios. Nesse caso, a responsabilidade é pessoal.
Se a sociedade for simples, cooperativas, por exemplo, não haverá falência, em virtude do artigo 2º desta Lei.
Se a sociedade for em nome coletivo a responsabilidade dos sócios é ilimitada, logo, os sócios também serão falidos.
Se a sociedade for limitada, somente ela estará falida. Os sócios não serão atingidos.
Se a sociedade for em comandita simples, teremos duas situações: a do comanditado, que tem responsabilidade ilimitada e será, portanto, atingido pela falência; e a do comanditário, que tem responsabilidade limitada e não sofre nenhum efeito da declaração de falência.
Se a sociedade for anônima, todos os sócios tem responsabilidade limitada, somente, por isso, não falem.
Em relação aos bens do falido:
Aqueles utilizados na atividade empresária e aqueles que constituírem excesso pessoal, ou seja, os bens pessoais penhoráveis, não serão mais administrados pelo falido
Os bens particulares, não utilizados na atividade empresária, impenhoráveis, continuam sob sua administração.
Em relação às obrigações do falido:
Se contraídas antes da decretação da falência tem-se, como regra geral, que se o contrato for oneroso sua manutenção dependerá do interesse da massa falida, ou seja, se for benéfico, será cumprido; se não, o administrador não o cumprirá. E se o contrato for gratuito, o ônus do cumprimento será assumido pelo falido. Enfim, o administrador judicial decide de cumprirá ou não o contrato oneroso, ao passo que o falido assume o cumprimento do contrato gratuito.
Art.115. A decretação da falência sujeita todos os credores, que somente poderão exercer os seus direitos sobre os bens do falido e do sócio ilimitadamente responsável na forma que esta Lei prescrever.
Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê.
§ 2o A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário, constituirá crédito quirografário
Se o administrador resolve não cumprir o contrato, o crédito do contratante será devido pelo falido e será cumprido como tal, como quirografário; se o administrador cumpre o contrato, o crédito será pago pela massafalida.
Observação: O Art. 118 dispõe que “o administrador judicial, mediante autorização do Comitê, poderá dar cumprimento a contrato unilateral se esse fato reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativo, realizando o pagamento da prestação pela qual está obrigada”. Assim, é permitido ao administrador cumprir contratos unilaterais, mas somente quando o cumprimento resultar em algum benefício ou evitar prejuízo à massa falida.
	Art. 116. A decretação da falência suspende:
	I – o exercício do direito de retenção sobre os bens sujeitos à arrecadação, os quais deverão ser entregues ao administrador judicial. (aquele que exerce direito de retenção, ainda que legal, recebe antes de todos os outros credores)
	II – o exercício do direito de retirada ou de recebimento do valor de suas quotas ou ações, por parte dos sócios da sociedade falida. (a retirada de um sócio diminui o capital que seria utilizado para pagar os credores)

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