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fisioterapia_nas_cervicalgias_01.pdf AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE ANATOMOBIOMECÂNICA DA COLUNA CERVICAL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE ANATOMOBIOMECÂNICA DA COLUNA CERVICAL Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO 1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A COLUNA VERTEBRAL 2 ANATOMIA DA COLUNA CERVICAL 2.1 OSSOS DA COLUNA CERVICAL 2.1.1 Atlas (C1) 2.1.2 Áxis (C2) 2.1.3 Vértebras Cervicais Típicas (C3 A C6) 2.1.4 Sétima Proeminente (C7) 2.2 LIGAMENTOS DA COLUNA VERTEBRAL 2.3 DISCOS INTERVERTEBRAIS CERVICAIS 2.4 MÚSCULOS DA COLUNA CERVICAL 2.4.1 Músculos do Pescoço 2.4.2 Músculos da Nuca 2.5 NERVOS ESPINHAIS DA COLUNA CERVICAL 2.5.1 Plexo Cervical (C1 - C4) 2.5.2 Plexo BraquiaL (C5 – T1) 2.6 DERMÁTOMOS DA COLUNA CERVICAL 2.7 IRRIGAÇÃO DA COLUNA CERVICAL 3 BIOMECÂNICA DA COLUNA CERVICAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 4 1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A COLUNA VERTEBRAL A coluna vertebral (figura 01) é o eixo ósseo do corpo. Faz parte do esqueleto axial, estando conectada ao crânio e aos membros. Está situada na linha mediana do dorso e é capaz de sustentar, amortecer e transmitir o peso corporal. Além disto, supre a flexibilidade necessária à movimentação e protege a medula espinhal, sendo considerado um importante eixo de comunicação entre o sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico (Rubinstein, 2010). FIGURA 01 – COLUNA VERTEBRAL FONTE: Netter, 2000. AN02FREV001/REV 4.0 5 A coluna vertebral (figura 02) é constituída por 33 ossos, denominados vértebras e pode ser didaticamente dividida em cinco regiões: cervical (7 vértebras), torácica (12 vértebras), lombar (5 vértebras), sacral (5 vértebras fundidas) e coccígea (4 vértebras fundidas) (Luiza, 2010). FIGURA 02 – REGIÕES DA COLUNA VERTEBRAL FONTE: Netter, 2000. AN02FREV001/REV 4.0 6 2 ANATOMIA DA COLUNA CERVICAL A coluna vertebral é composta por uma rede de estruturas interligadas que lhe conferem flexibilidade e estabilidade de forma equilibrada. São elas: as vértebras, os discos intervertebrais, os ligamentos e os músculos adjacentes (Luiza, 2010). 2.1 OSSOS DA COLUNA CERVICAL Como já mencionado anteriormente, os ossos da coluna vertebral são denominados vértebras. As vértebras possuem características gerais e próprias da região da coluna em que estão situadas. Os corpos vertebrais gradualmente tomam- se maiores à medida que se aproximam do sacro e a seguir tornam-se progressivamente menores em direção ao cóccix. Essas diferenças estruturais estão relacionadas ao fato de que a regiões lombar e sacral suportam mais peso que as regiões cervicais e torácicas (Luiza, 2010). A coluna cervical (figura 03) possui sete vértebras que podem ser classificadas em: atípicas e típicas, as primeiras são as três cervicais, atlas (C1), áxis (C2), e a sétima proeminente (C7), as típicas contém componentes estruturais que são comuns a todas as vértebras: corpo vertebral e arco vertebral, processos transverso, espinhoso e articular, lâminas, pedículos e forame vertebral (Luiza, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 7 FIGURA 03 – COLUNA CERVICAL FONTE: João, 2010. 2.1.1 Atlas (C1) A primeira vértebra cervical (figura 04) é denominada atlas e sua principal diferenciação em relação às outras vértebras é o fato de não possuir corpo vertebral. Constituem-se por dois arcos, um posterior e um anterior de menor tamanho. No arco anterior existe uma faceta articular para o processo odontoide da áxis (segunda vértebra cervical). A vértebra atlas articula-se ainda com a base do crânio nos côndilos occipitais e com a áxis inferiormente (Rubinstein, 2010). FIGURA 04 – ATLAS (C1) FONTE: Michigan State University, 2010. AN02FREV001/REV 4.0 8 2.1.2 Áxis (C2) A segunda vértebra cervical (figura 05) é denominada áxis e também é considerada uma vértebra atípica, uma vez que possui uma densa porção óssea (processo odontoide), que se projeta na parte superior da áxis para dentro da atlas e se introduz no forame magno (figura 06). Este se localiza na base do crânio e tem em seu interior estruturas como o bulbo (centro nervoso do comando respiratório) e o início da estrutura medular nervosa. O processo odontoide estabiliza a coluna cervical em relação ao crânio, permitindo os movimentos de rotação da cabeça (Rubinstein, 2010). FIGURA 05 – ÁXIS (C2) FONTE: Michigan State University, 2010. AN02FREV001/REV 4.0 9 FIGURA 06 – ARTICULAÇÃO ATLAS/ÁXIS (C2) FONTE: Michigan State University, 2010. 2.1.3 Vértebras Cervicais Típicas (C3 a C6) As vértebras cervicais típicas (3ª a 6ª) possuem corpo vertebral, arco vertebral, processos transverso, espinhoso e articular, lâminas, pedículos e forame vertebral (figura 07) (Rubinstein, 2010): Corpo vertebral: situa-se anteriormente e suporta as forças de carga e pressão sobre a coluna. É composto por tecido esponjoso interiormente e compacto externamente e varia de diâmetro conforme o segmento vertebral em que se localiza. Os corpos das vértebras cervicais são menores em tamanho e altura, sendo a porção mais alta da coluna na posição ortostática. Arco vertebral: conjunto dos processos, lâminas e pedículos. Processo transverso: dois prolongamentos laterais, direito e esquerdo, que se projetam transversalmente de cada lado do ponto de união do pedículo com a lâmina. AN02FREV001/REV 4.0 10 Processo espinhoso: apresenta a forma de uma espinha, ímpar e mediana, que se origina no ângulo de união das lâminas. Parte do arco ósseo que se situa medialmente e posteriormente. Processo articular: são em número de quatro, dois superiores e dois inferiores. São saliências que se destinam à articulação das vértebras entre si. Lâminas vertebrais: porções ósseas laminares que limitam o canal raquidiano em sua face posterior. Assim como o corpo vertebral, variam de forma e tamanho conforme a vértebra que constitui. Pedículos vertebrais: expansões ósseas conectadas ao corpo na sua porção anterior e a lâmina óssea vertebral na sua porção posterior. Constituem a face lateral das vértebras e tem na sua porção posterior as apófises articulares. O pedículo limita o canal raquidiano em ambos os lados e, por meio de sua apófise articular, conecta-se com as vértebras adjacentes. Forame vertebral: situado posteriormente ao corpo e limitado lateral e posteriormente pelo arco ósseo, exerce a função de proteção das estruturas neurais. AN02FREV001/REV 4.0 11 FIGURA 07 – VÉRTEBRA CERVICAL TÍPICA (C3 A C6) FONTE: Arthur's medical clipart, 2010. 2.1.4 Sétima Proeminente (C7) A sétima vértebra cervical (figura 08) possui os mesmos componentes de uma vértebra típica, porém é considerada atípica porque seu processo espinhoso é proeminente e pode ser facilmente palpável na região posterior do pescoço, quando o indivíduo realiza a flexão da cabeça. Outra particularidade é a de que possui o forame vertebral bem menor que o das outras cervicais (Rubinstein, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 12 FIGURA 08 – SÉTIMA PROEMINENTE (C7) FONTE: Michigan State University, 2010. 2.2 LIGAMENTOS DA COLUNA VERTEBRAL Os ligamentos são estruturas fibrosas cuja função está relacionada à estabilidade intrínseca das vértebras na sua posição natural (figura 09) (Rubinstein, 2010): • Ligamento longitudinal anterior: tem forma laminar e inicia-se na base do crânio indo até o sacro. Serve para reforçar a estabilidade da coluna na sua porção anterior e encontra-se na linha média do corpo vertebral. • Ligamento interespinhoso: localiza-se na região espinhosa e se inicia pelo ligamento da nuca, porção estabilizadora entre o osso occipital e as apófises cervicais, estendendo-se até as apófises sacras. • Ligamentos amarelos: expansões ligamentares que conectam a face anterior da lâmina superior com a face posterior da lâmina vertebral adjacente inferior. AN02FREV001/REV 4.0 13 • Ligamento longitudinal posterior: ligamento laminar que se localiza dentro do canal vertebral justaposto à porção posterior dos corpos vertebrais. • Ligamentos cruciformes: localizam-se na base do crânio e são formados pelos ligamentos superior, transverso e inferior. Comunica-se com as fibras do ligamento alar. • Ligamentos intertransversos: interligam as apófises transversais. Encontram-se lateralmente à coluna vertebral. FIGURA 09 – LIGAMENTOS DA COLUNA VERTEBRAL FONTE: Zams, 2010. 2.3 DISCOS INTERVERTEBRAIS CERVICAIS O apoio articular entre os corpos vertebrais é realizado por discos cartilaginosos denominados discos intervertebrais (figura 10). São constituídos por uma estrutura fibrocartilaginosa formada por anéis concêntricos (suportam pressões) em sua porção externa e um núcleo gelatinoso formado por substâncias hidrófilas AN02FREV001/REV 4.0 14 que garantem a retenção de água, mantendo a capacidade de hidratação e flexibilidade do disco (Rubinstein, 2010). FIGURA 10 – DISCO INTERVERTEBRAL FONTE: Pró-trauma, 2010. Existem a partir de C2 até S1 (primeira vértebra sacra), totalizando 23 discos (figura 11). FIGURA 11 – DISCOS INTERVERTEBRAIS CERVICAIS FONTE: João, 2010. AN02FREV001/REV 4.0 15 2.4 MÚSCULOS DA COLUNA CERVICAL A musculatura adjacente à coluna cervical pode ser dividida em: músculos do pescoço e músculos da nuca (região posterior da região cervical que se estende da cabeça ao dorso unindo-se a esse por meio do músculo trapézio) (Cesar, 2010). 2.4.1 Músculos do Pescoço A face anterolateral do pescoço pode ser dividida em duas regiões de formato triangular: a região anterior do pescoço (trígono anterior do pescoço) e a região posterior do pescoço (trígono posterior do pescoço), sendo o músculo esternocleidomastóideo o divisor (figura 12). Nesta região estão alojadas importantes estruturas orgânicas como a traqueia, as cartilagens laríngeas e o esôfago. AN02FREV001/REV 4.0 16 FIGURA 12 – MUSCULATURA ANTEROLATERAL DO PESCOÇO FONTE: Netter, 2000. Nesta região estão situados os músculos (Cesar, 2010): Platisma: músculo delgado e superficial que recobre toda região anterior do pescoço. Sua função é tracionar o lábio inferior e o ângulo bucal, abrindo parcialmente a boca (expressão de horror). Puxa a pele sobre a clavícula em direção à mandíbula. Músculos supra-hióideos: compreendem os músculos digástrico (realiza a elevação do osso hioide e o abaixamento da mandíbula – abertura da boca), estiloióideo (realiza a elevação e retração do osso AN02FREV001/REV 4.0 17 hioide) e miloióideo (tração anterior do osso hioide e da língua) (figura 13). Músculos infra-hióideos: compreendem os músculos esternoióideo (abaixa a cartilagem tireoide), tireoiódeo (abaixa o osso hioide) e omoióideo (abaixa o osso hioide) (figura 13). FIGURA 13 – MÚSCULOS SUPRA-HIÓIDEOS FONTE: Netter, 2000. Na região lateral do pescoço estão situados os músculos (figura 14) (César, 2010): Esternocleidomastóideo: quando fixado superiormente tem ação inspiratória e traciona o tórax. Quando fixado inferiormente faz a flexão, inclinação homolateral e rotação da cabeça, virando a face para o lado oposto. AN02FREV001/REV 4.0 18 Escalenos anterior, médio e superior: realizam a elevação da primeira e segunda costela e a inclinação homolateral do pescoço – ação inspiratória. Reto lateral do pescoço: realiza a inclinação homolateral da cabeça. FIGURA 14 – MÚSCULOS DA REGIÃO LATERAL DO PESCOÇO FONTE: Netter, 2000. A musculatura pré-vertebral compreende os músculos (figura 15) (César, 2010): Longo da cabeça: realiza a flexão da cabeça. Reto anterior da cabeça: realiza a flexão da cabeça. AN02FREV001/REV 4.0 19 Longo do pescoço: é dividido em três porções (oblíquo superior, inferior e vertical) e realizam a flexão do pescoço e a inclinação homolateral. FIGURA 15 – MÚSCULOS PRÉ-VERTEBRAIS FONTE: Educação hoje, 2010. 2.4.2 Músculos da Nuca Os músculos da nuca possuem como característica a propriedade de regular a posição e a cinemática da cabeça, formando um dos grupos musculares mais potentes do organismo. Compreendem os seguintes músculos (figura 16) (César, 2010): Reto posterior maior da cabeça: realiza a extensão da cabeça e rotação da cabeça para o mesmo lado. Reto posterior menor da cabeça: realiza a extensão da cabeça. AN02FREV001/REV 4.0 20 Reto lateral da cabeça: realiza a inclinação lateral da cabeça. Oblíquo superior da cabeça: realiza a extensão e rotação lateral da cabeça. Obliquo inferior da cabeça: realiza a rotação lateral da cabeça FIGURA 16 – MÚSCULOS DA NUCA FONTE: Netter, 2000. 2.5 NERVOS ESPINHAIS DA COLUNA CERVICAL Os oito pares de nervos cervicais são derivados de segmentos da medula entre o forame magno e a metade da sétima vértebra cervical (figura 17). Os nervos cervicais emergem da coluna por meio de forames intervertebrais localizados lateralmente. Cada nervo se reúne a um ramo comunicante cinzento do tronco simpático e envia também um pequeno ramo meníngico recorrente de volta ao canal vertebral, para fornecer inervação vasomotora e sensitiva à dura-máter, e ramos em direção às divisões primárias anteriores e posteriores (Santos, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 21 FIGURA 17 – NERVOS ESPINHAIS DA COLUNA CERVICAL FONTE: Novaes, 2010. O C1 (nervo suboccipital) é o único ramo da primeira divisão primária posterior; é um nervo motor para os músculos do trígono suboccipital, com algumas poucas fibras sensitivas (Santos, 2010). As divisões primárias anteriores dos quatro primeiros nervos cervicais formam o plexo cervical. Aquelas dos quatro últimos, juntamente com as do primeiro nervo torácico, formam o plexo braquial. 2.5.1 Plexo Cervical (C1 - C4) É formado pelo entrelaçamento dos ramos ventrais dos quatro primeiros nervos cervicais (C1 a C4) em alças irregulares das quais se originam os ramos. Esta disposição resulta na inervação de áreas cutâneas por ramos de mais de um nervo espinhal (figura 18) (Santos, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 22 FIGURA 18 – PLEXO CERVICAL FONTE: Netter, 2000. O primeiro nervo cervical normalmente alcança o plexo formando uma alça com fibras do segundo nervo cervical. Desta alça, ou diretamente de C2, saem fibras que se acoplam ao nervo craniano hipoglosso. Ramos do 2º e 3º nervos cervicais se unem num 3º ramo que forma a raiz inferior da alça cervical. Deste modo, a alça cervical se completa com a união de suas raízes superior e inferior. Existem ramos que partem da alça cervical e sua raiz superior inervam os músculos infra-hióideos (Santos, 2010). De C3, C4 e C5 originam-se ramos que se unem para formar um dos nervos mais importantes do plexo cervical, o frênico, que inerva o diafragma. O ramo de C5 é uma contribuição acessória, pois este nervo pertence ao plexo braquial. De C2, C3 e C4 partem ramos que se unem ao nervo acessório e com ele chegam aos músculos esternocleidomastóideo e trapézio, mas estas fibras são sensitivas. De C1 AN02FREV001/REV 4.0 23 a C4 partem ramos musculares para inervação dos músculos escalenos e pré- vertebrais (Santos, 2010). Do plexo cervical originam-se ramos cutâneos, essencialmente sensitivos (figura 19) e ramos musculares, essencialmente motores (figura 20) (Santos, 2010): Ramos cutâneos (sensitivos): Nervo occipital menor: geralmente é um ramo direto de C2. É o mais superior dos nervos cutâneos do plexo cervical e corre, com trajeto ascendente, em direção ao processo mastoide para distribuir- se à pele e couro cabeludo posteriores ao pavilhão do ouvido externo. Estabelece comunicações com os nervos occipitais maiores (ramo dorsal de C2), acessório (XI par craniano), auricular posterior (ramo do nervo facial) e grande auricular (ramo do plexo cervical). Nervo auricular magno: parte dos troncos de C2 e C3 une-se para formar estes dois nervos cutâneos. O nervo auricular magno emerge junto à borda posterior do m. esternocleidomastóideo. Inferiormente ao nervo occipital menor, mas como este, tem trajeto ascendente, quase sempre acompanhado pela veia jugular externa, em direção à pele da face, inferior e anteriormente à orelha. Nervo transverso do pescoço: circunda a borda posterior do músculo esternocleidomastóideo e se divide em ramos que suprem a maior porção da pele da parte anterior do pescoço. Possui fibras de C2 e C3 e inerva, com seus ramos superiores e inferiores, a pele das regiões supra e infra-hióidea. Intercomunica-se amplamente com o homônimo do lado oposto. Nervos supraclaviculares: parte de C3 une-se a uma importante divisão de C4 para formar um tronco comum que logo se divide em nervos supraclaviculares, anterior, médio e posterior. Estes nervos AN02FREV001/REV 4.0 24 têm trajeto descendente, cruzam a clavícula, superficialmente, e inervam a pele do ombro até o plano mediano. FIGURA 19 – RAMOS SENSITIVOS FONTE: Netter, 2000. Ramos musculares: Cervical descendente (C2 e C3) inerva os dois ventres do omo- hióideo e reúne-se ao hipoglosso descendente para formar a alça do hipoglosso. Há um ramo para o músculo esternocleidomastóideo oriundo de C2 e ramos para os músculos trapézio (C3 e C4) via plexo subtrapézico. Ramos para a musculatura vertebral adjacente inervam o reto lateral da cabeça e o reto anterior da cabeça (C1), o longo da cabeça (C2 e C4), o longo do pescoço (C1- C4), o escaleno médio (C3 e C4), o escaleno anterior (C4) e o elevador da escápula (C3- C5). Nervo frênico: formado por fibras de C4, raiz principal, e por fibras de C3 e C5 (raízes acessórias), é predominantemente motor. Desce pelo pescoço justaposto à face anterior do escaleno anterior, dispõe- AN02FREV001/REV 4.0 25 se em seguida entre a artéria e a veia subclávia, penetra na cavidade torácica e, aplicado à face lateral do pericárdio, atinge o diafragma. FIGURA 20 – RAMOS MUSCULARES FONTE: Netter, 2000. 2.5.2 Plexo Braquial (C5 – T1) Formado por ramos anteriores dos quatro nervos espinhais cervicais inferiores (C5,C6,C7,C8) e do primeiro torácico (T1). O plexo braquial tem localização lateral à coluna cervical e situa-se entre os músculos escalenos anterior e médio, posterior e lateralmente ao músculo esternocleidomastóideo. Passa posteriormente à clavícula e acompanha a artéria axilar sob o músculo peitoral maior. Os ramos ventrais do quinto e do sexto nervos cervicais (C5-C6) formam o tronco superior; o ramo anterior do sétimo nervo cervical (C7) forma o tronco médio; AN02FREV001/REV 4.0 26 e os ramos anteriores do oitavo nervo cervical e do primeiro nervo torácico (C8-T1) formam o tronco inferior (Werneck, 2010) (figura 21). FIGURA 21 – PLEXO BRAQUIAL FONTE: Netter, 2000. Os ramos do plexo braquial podem ser descritos como supraclaviculares (nervos para os músculos escalenos e longo do pescoço, nervo frênico, nervo dorsal da escápula, nervo torácico longo, nervo subclávio e nervo subescapular) e infraclaviculares laterais (nervo peitoral lateral, nervo musculocutâneo e raiz lateral do nervo mediano) e mediais (nervo peitoral medial, nervo cutâneo medial do antebraço e do braço, nervo ulnar e raiz medial do nervo mediano) e posteriores (nervo subescapular superior, nervo toracodorsal, nervo subescapular inferior, nervo axilar e nervo radial) - figura 22- (Werneck, 2010): AN02FREV001/REV 4.0 27 FIGURA 22 – RAMOS DO PLEXO BRAQUIAL FONTE: Netter, 2000. 2.6 DERMÁTOMOS DA COLUNA CERVICAL Os dermátomos (figura 23) são as áreas da pele inervadas por fibras provenientes de uma única raiz nervosa. Cada dermátomo é nomeado de acordo com o nervo espinhal que o inerva. Embora existam oito nervos que têm suas origens na coluna cervical, só há sete vértebras cervicais. Os sete primeiros nervos se originam acima da vértebra de número correspondente, enquanto que o oitavo nervo nasce no espaço compreendido entre a sétima cervical e a primeira torácica. Assim sendo, o primeiro nervo torácico nasce abaixo da primeira vértebra torácica (Kapandji, 2000). AN02FREV001/REV 4.0 28 FIGURA 23 – DERMÁTOMOS DA COLUNA CERVICAL FONTE: Netter, 2000. 2.7 IRRIGAÇÃO DA COLUNA CERVICAL São artérias do pescoço (figura 24) (Zagalo, 2010): Artéria vertebral: principal artéria de irrigação da coluna cervical. Origina-se no primeiro terço da artéria subclávia, e ascende em direção ao crânio pelos forames transversos das vértebras cervicais C6 a C1, até penetrar no crânio pelo forame magno. Então, as artérias vertebrais direita e esquerda fundem-se no clivo do osso occipital para formar a artéria basilar. Em seu trajeto, emite ramos musculares para os músculos profundos do pescoço e ramos espinhais para a medula espinhal e para as vértebras. Artéria carótida comum: localiza-se por baixo do esternocleidomastóideo e é acompanhada pela veia jugular interna e pelo nervo vago (feixe vasculonervoso do pescoço). Ascende no pescoço, no interior da bainha do feixe vasculonervoso e é cruzada pelo ventre superior do músculo omo-hióideu e pelas veias tiorideias superior e média. Em sua extremidade superior apresenta uma dilatação (seio carotídeo). Ao nível da bifurcação da artéria carótida comum, existe um AN02FREV001/REV 4.0 29 corpúsculo denominado corpo carotídeo, que é um baroreceptor, sensível a variações da pressão arterial. A artéria carótida comum termina ao nível do bordo superior da cartilagem tiroideia, bifurcando-se em artéria carótida interna e artéria carótida externa. Artéria carótida interna: ascende no pescoço, no interior da bainha do feixe vasculonervoso do pescoço, desde a sua origem até penetrar na base do crânio no canal carotidiano. À medida que ascende no pescoço, é cruzada pelo nervo hipoglosso, pela artéria occipital e pelo ventre posterior do músculo digástrico e pelos músculos estilo-hióideu, estilofaríngeo e estiloglosso. Artéria carótida externa: FIGURA 24 – ARTÉRIAS DA COLUNA CERVICAL origina-se a partir da bifurcação da artéria carótida comum e localiza-se por fora do feixe vasculonervoso do pescoço. Após a bifurcação passa por trás do ventre posterior do músculo digástrico e dirige-se à glândula parótida. Por trás do côndilo da mandíbula divide-se nos seus ramos terminais, a artéria maxilar e a artéria temporal superficial. FONTE: Balestro, 2010. AN02FREV001/REV 4.0 30 As principais veias de drenagem do pescoço são as veias jugulares (figura 25). Descendo pelo pescoço encontramos quatro pares de veias jugulares. Essas veias jugulares têm o nome de interna, externa, anterior e posterior. Veia jugular interna: vai se anastomosar com a veia subclávia para formar o tronco braquiocefálico venoso. Veia jugular externa: desemboca na veia subclávia. Veia jugular anterior: origina-se superficialmente ao nível da região supra-hioídea e desemboca na terminação da veia jugular externa. Veia jugular posterior: origina-se nas proximidades do occipital e desce posteriormente ao pescoço para ir desembocar no tronco braquiocefálico venoso. Está situada profundamente (Werneck, 2010). FIGURA 25 – VEIAS DA COLUNA CERVICAL FONTE: Wikipédia, 2010. AN02FREV001/REV 4.0 31 3 BIOMECÂNICA DA COLUNA CERVICAL A coluna cervical está envolvida com o processo de sustentação e movimentação da cabeça, proteção das estruturas neurais e vasculares. Estima-se que a mobilização da coluna cervical ocorra 600 vezes por hora ou a cada 6 segundos (Antônio e Pernambuco, 2010). A coluna cervical realiza os movimentos de: flexão, extensão, inclinação lateral à esquerda e à direita e rotação à esquerda e à direita (quadro I) (Rubinstein, 2010): Flexão ou flexão anterior: movimento, no plano sagital, em que o mento se aproxima da parede anterior do tórax. Os músculos motores primários são: esternocleidomastóideos direito e esquerdo. Os motores secundários são: escalenos, pré-vertebrais (longo da cabeça, longo do pescoço, reto anterior da cabeça e reto lateral da cabeça) de ambos os lados. A amplitude de movimento articular normal varia entre 60 e 90º (figura 26). AN02FREV001/REV 4.0 32 FIGURA 26 – MOVIMENTO DE FLEXÃO DA COLUNA CERVICAL FONTE: CRO, 2010. Extensão: movimento, no plano sagital, em que a nuca se aproxima do dorso. Os músculos motores primários são: trapézio (fibras superiores), esplênio da cabeça, esplênio do pescoço e semi-espinhal da cabeça - de ambos os lados. Os motores secundários são: extensões cervicais e craniais do eretor da espinha (iliocostal cervical, longuíssimo da cabeça, longuíssimo do pescoço, espinhal da cabeça, espinhal do pescoço), reto posterior maior da cabeça, reto posterior menor da cabeça - de ambos os lados. A amplitude de movimento articular normal varia entre 50 e 70º (figura 27). AN02FREV001/REV 4.0 33 FIGURA 27 – MOVIMENTO DE EXTENSÃO DA COLUNA CERVICAL FONTE: CRO, 2010. Flexão ou inclinação lateral: movimento no plano frontal em que a cabeça e o pescoço se aproximam do ombro direito ou esquerdo. Os músculos motores primários são: esternocleidomastóideo do lado do movimento. Os motores secundários são: escalenos, esplênios da cabeça e do pescoço, oblíquos superior e inferior da cabeça - do lado do movimento. A amplitude de movimento articular normal varia entre 20 e 40º (figura 28). AN02FREV001/REV 4.0 34 FIGURA 28 – MOVIMENTO DE INCLINAÇÃO LATERAL DIREITA E ESQUERDA FONTE: CRO, 2010. Rotação: movimento no qual o pescoço e a cabeça giram para direita ou para esquerda em torno de um eixo vertical (50% do movimento ocorre na articulação atlantoaxial). Os motores primários são: esternocleidomastóideo do lado oposto ao movimento e escalenos e esplênios do lado do movimento. A amplitude de movimento articular normal varia entre 60 e 90º (figura 29). AN02FREV001/REV 4.0 35 FIGURA 29 – MOVIMENTO DE ROTAÇÃO DIREITA E ESQUERDA FONTE: CRO, 2010. O quadro I resume os principais movimentos, amplitudes articulares normais e músculos envolvidos na biomecânica da coluna cervical Quadro I – Movimentos, amplitudes articulares e músculos da coluna cervical Movimento Amplitude articular Músculos motores primários Flexão 60 a 90º Esternocleidomastóideos direito e esquerdo Extensão 50 e 70º Trapézio (fibras superiores), esplênio da cabeça, esplênio do pescoço e semi- espinhal da cabeça - de ambos os lados. Inclinação lateral 20 a 40º Esternocleidomastóideo do lado do movimento. Rotação 60 a 90º Esternocleidomastóideo do lado oposto ao movimento e escalenos e esplênios do lado do movimento. FONTE: Adaptado de João, 2010. FIM DO MÓDULO AN02FREV001/REV 4.0 36 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS RUBINSTEIN, E. Anatomia funcional da coluna vertebral. Disponível em: <www.icb.ufmg.br/mor/anatefis/coluna_vertebral.htm>. Acesso em: 23 abril 2010. LUIZA, F. Aprendendo anatomia humana. Disponível em: <www.aprendendoanatomiahumana.blogspot.com/2009/06/coluna-vertebral.html>. Acesso em: 23 abril 2010. SANTOS, G. J. P. Anatomia: plexo cervical. Disponível em: <www.compuland.com.br/anatomia/plexo.htm>. Acesso em: 23 abril 2010. SANTOS. Hérnias discais cervicais. Conheça sua coluna: informações científicas para o leigo. Porto Alegre: Conceito, 2004. ZAGALO, C. Anatomia sistemática do crânio e pescoço. Disponível em: <www.cms.piso5.net/index.php?option=com_content&task=view&id=22&Itemid=28>. Acesso em: 23 abril 2010. ANTÔNIO, S. F. PERNAMBUCO, R. A. Diagnóstico diferencial das cervicalgias. Disponível em: <www.cibersaude.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=1434>. Acesso em: 23 abril 2010. KAPANDJ, I. A. A Coluna cervical. In: Fisiologia articular. São Paulo: Manole, 1987. WECKER, J. E. Aula de anatomia. Sistema muscular. Disponível em: <www.auladeanatomia.com>. Acesso em: 23 abril 2010. 2.5.1 Plexo Cervical (C1 - C4) 2.5.2 Plexo Braquial (C5 – T1) fisioterapia_nas_cervicalgias_02.pdf AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DORES CERVICAIS Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE DORES CERVICAIS Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO 1 FISIOPATOLOGIA DA DOR 1.1 TIPOS DE DOR 2 AS DORES CERVICAIS 2.1 INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA DAS CERVICALGIAS 2.2 CLASSIFICAÇÃO DAS CERVICALGIAS 2.2.1 Cervicalgias Primárias: Causas Mecânico-degenerativas 2.2.1.1 Cervicalgia Comum ou Idiopática 2.2.1.2 Alterações Discais 2.2.1.2.1 Discopatias 2.2.1.2.2 Abaulamentos 2.2.1.2.3 Herniações de Disco Cervical 2.2.1.3 Artrose Cervical 2.2.1.4 Dores Miofasciais 2.2.1.5 Lesões Traumáticas 2.2.2 Cervicalgias Secundárias 2.2.2.1 Cervicalgias Não Mecânicas 2.2.2.1.1 Doenças Inflamatórias 2.2.2.1.2 Processos Infecciosos 2.2.2.1.3 Neoplasias 2.2.2.1.4 Causas Metabólicas 2.2.2.2 Cervicalgias Psicossomáticas 2.2.2.3 Dores Referidas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 4 1 FISIOPATOLOGIA DA DOR A dor é considerada uma experiência sensorial e emocional subjetiva e desagradável que é associada a lesões reais ou potenciais. A dor exerce importante papel biológico, uma vez que sinaliza ao indivíduo que algum estímulo lesivo está atingindo seu organismo (Costa, 2010). A quantificação e a caracterização do tipo e da intensidade da dor variam para cada indivíduo, estando associada aos aspectos bioquímicos e físicos da lesão e também a componentes culturais e ambientais do indivíduo que experimenta a sensação dolorosa (Guyton e Hall, 2006). No processo de desencadeamento do fenômeno doloroso, o primeiro passo é a transformação dos estímulos ambientais em potenciais de ação que, por meio das fibras nervosas periféricas, são transmitidas para o sistema nervoso central. Os estímulos são transmitidos por intermédio dos receptores nociceptivos (terminações nervosas livres) (figura 01) (Guyton e Hall, 2006). FIGURA 01 – TERMINAÇÃO NERVOSA LIVRE FONTE: Wen e Oliveira Filho, 2010. AN02FREV001/REV 4.0 5 Os nociceptores estão presentes nas fibras nervosas das estruturas superficiais e profundas do sistema tegumentar, parede das vísceras e dos vasos sanguíneos e fibras musculares correspondentes do sistema músculo-esquelético. Os nociceptores presentes nas fibras mielínicas finas A-delta (respondem à estimulação mecânica e/ou térmica intensas) e nas fibras amielínicas C (respondem à estimulação mecânica, térmica e/ou química intensas) (Costa, 2010): Fibras A: são mielínicas e responsáveis pela transmissão da dor do tipo rápida. Estão localizadas superficialmente na pele, músculos e tendões. São conduzidas com organização somatotrópica precisa e detalhada, por este motivo a dor pode ser precisa e quantificável. Fibras C: são amielínicas e responsáveis pela transmissão da dor do tipo lenta. Estão localizadas em estruturas mais profundas de músculos e tendões e nas vísceras. São conduzidas sem organização somatotrópica precisa e por este motivo a dor transmitida pelas fibras lentas C é difícil de ser localizada e quantificada. A atividade dos receptores nociceptivos das fibras C é modulada pela ação de substâncias químicas, denominadas algogênicas (acetilcolina, prostaglandina, histamina, serotonina, bradicinina, leucotrieno, substância P, tromboxana, fator de ativação plaquetária, radicais ácidos e os íons potássio), liberadas em elevada concentração no ambiente tecidual em decorrência de processos inflamatórios, traumáticos e/ou isquêmicos. Os nociceptores transmitem as mensagens lesivas sob a forma de impulsos elétricos ao longo dos nervos até a medula espinhal e, em seguida, ao cérebro. Essa transmissão da medula espinhal para as estruturas encefálicas é realizada mediante sistemas neuronais que compõem o trato espinotalâmico (figura 02) (MSD, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 6 FIGURA 02 – PROCESSO DE DESENCADEAMENTO DA DOR FONTE: Milhomens e Joffily, 2010. 1.1 TIPOS DE DOR De acordo com suas características a dor pode ser enquadrada em diversos tipos de classificação (Silveira Jr, 2010): Velocidade de condução Rápida: tipo de dor conduzida pelas fibras A mielinizadas. É sentida em cerca de 0,1 s depois que o estimulo doloroso é aplicado. Este tipo de dor é sentida frente a um traumatismo agudo, geralmente térmico ou mecânico. É bem localizada e inibida por pressão local. A AN02FREV001/REV 4.0 7 dor rápida não é sentida na maioria dos tecidos mais profundos do corpo. Lenta: tipo de dor conduzida pelas fibras c amielínicas. É sentida após 1s ou mais, e aumenta lentamente, durante alguns minutos. Geralmente é associada à destruição de tecidos, podendo ser um estímulo químico, físico ou mecânico. Pode levar a um sofrimento insuportável e prolongado. Pode ocorrer tanto na pele como nos tecidos mais profundos do corpo. Tem localização imprecisa. Evolução Dor aguda: manifesta-se durante um período relativamente curto, de minutos a algumas semanas, associada a lesões em tecidos ou órgãos, ocasionadas por inflamação, infecção, traumatismo ou outras causas. Sua percepção atua como um sinal que induz o indivíduo a realizar atitudes que o afastam da dor. Manifesta-se no início de alguma doença ou durante a fase de agravamento de doenças crônicas acompanhada de alterações neurovegetativas. Dor crônica: tem duração prolongada, que pode se estender de vários meses a anos e está quase sempre associada a um processo de doença crônica. Não é acompanhada por alterações neurovegetativas pela adaptação dos sistemas envolvidos. A dor crônica não tem função biológica de alerta sendo desgastante e gerando stress físico e emocional. Exemplos de dor crônica são as dores reumáticas, as dores relacionadas ao câncer e às relacionadas a esforços repetitivos durante o trabalho. Dor recorrente: apresenta períodos de curta duração que se repetem com frequência, podendo ocorrer durante toda a vida do indivíduo, mesmo sem estar associada a um processo específico. Um exemplo clássico deste tipo de dor é a enxaqueca. AN02FREV001/REV 4.0 8 2 AS DORES CERVICAIS As dores cervicais, denominadas genericamente de cervicalgias, são disfunções comuns nos países industrializados, e caracterizam-se como uma causa importante de incapacidade e morbidade (Oliveira Júnior, 2010). 2.1 INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA DAS CERVICALGIAS Anualmente, as cervicalgias afetam entre 30 a 50% da população geral. Estudos apontam para o ato de que 15% da população mundial experimentarão cervicalgia crônica (dor por um tempo superior a três meses) em algum momento de suas vidas. Cerca de 10% destes pacientes sofreram de alguma limitação decorrente do processo doloroso. A faixa etária de maior prevalência está em torno de cinquenta anos. As mulheres são, em geral, mais afetadas que os homens (Oliveira Júnior, 2010). Existem fatores de risco para o desencadeamento de dores cervicais como: trabalho repetitivo, longos períodos com o pescoço em flexão, estresses ambientais e emocionais, traumatismos prévios do pescoço e ombros, ergonomia inadequada, atividades que envolvam vibração do segmento mão/braço entre outros (Oliveira Júnior, 2010). 2.2 CLASSIFICAÇÃO DAS CERVICALGIAS As cervicalgias podem ser agrupadas em primárias (desencadeadas por alterações locais envolvendo a estrutura da coluna) e secundárias (desencadeadas AN02FREV001/REV 4.0 9 por estruturas a distância do local de dor ou não próprios da coluna cervical) (Guedes, 2010). As cervicalgias primárias são classificadas em relação a seu agente causal como mecânico-degenerativas e as cervicalgias secundárias como não mecânicas, psicossomáticas ou referidas (quadro II) (Guedes, 2010). Quadro I – Cervicalgias: classificações Cervicalgias Primárias Mecânico-degenerativas Cervicalgia comum ou idiopática; Alterações discais; Artrose cervical; Dores miofasciais; Traumas. Cervicalgias Secundárias Não mecânicas Inflamatórias Infecciosas Neoplasias Metabólicas ou relacionadas a doenças sistêmicas Psicossomáticas ou psicogênicas A dor é percebida no córtex cerebral, sem estar associada à alteração anatômica local ou sistêmica (fibromialgia, transtornos conversivos, depressão, entre outras). Dores referidas A lesão está em outros sítios que não a coluna (pode haver uma dor referida na região cervical decorrente de um infarto do miocárdio) FONTE: adaptado de Guedes, 2010. AN02FREV001/REV 4.0 10 2.2.1 Cervicalgias Primárias: Causas Mecânico-degenerativas As cervicalgias primárias, da qual fazem parte as desordens mecânicas, são o grupo mais incidente de dor cervical. A dor cervical mecânica é decorrente da utilização excessiva de uma estrutura anatômica normal (em geral, a musculatura paravertebral) ou de um dano ou deformidade em uma estrutura anatômica (hérnia discal) (Santos, 2010). Esse tipo de cervicalgia é exacerbada por certas atividades e aliviada por outras. Os fatores de melhora e de piora são úteis na localização do sítio acometido, como por exemplo, a flexão cervical levando a uma piora dos sintomas relacionados à doença discal e promovendo um alívio nas síndromes dolorosas interfacetárias. Na maioria das vezes tem curso autolimitado e os pacientes apresentam melhora completa dos sintomas (Santos, 2010). 2.2.1.1 Cervicalgia Comum ou Idiopática Também denominada de cervicalgia inespecífica, distensão muscular ou torcicolo, pode ser definida como uma dor cervical não irradiada, associada a sobrecargas mecânicas ou posturas anormais prolongadas da coluna. Caracteriza- se por dor em região cervical posterior e na área do trapézio, com restrições a mobilização ativa e passiva, além de áreas dolorosas à palpação. Quando a distensão da musculatura cervical é severa, a cabeça assume uma atitude de flexão lateral, com o queixo rodado para o lado oposto da dor. Tem caráter mecânico, porém sem alterações precisas nos exames de imagem que lhes confira um alvo de alteração anatomopatológica nas vértebras. Acredita-se que seja uma forma anatomoclínica inicial da causas de natureza mecânico-degenerativas. Trata-se de uma condição clínica extremamente comum, que se apresenta com um espectro doloroso variável (figura 03). AN02FREV001/REV 4.0 11 FIGURA 3 – DISTENSÃO CERVICAL. OBSERVAR A RETIFICAÇÃO DA CURVATURA CERVICAL. FONTE: Abreu e Simões, 2010. Sua etiologia ainda não está totalmente definida, porém pode estar relacionada a disfunções musculoligamentares secundárias a um evento traumático específico ou a uma sobrecarga mecânica repetitiva em que as condições ocupacionais podem ser determinantes. O torcicolo também pode ser congênito estando associado a anormalidades anatômicas e neurológicas como a síndrome de Klippel-Feil, a subluxação atlantoaxial, ausência congênita de músculos cervicais, malformação de Arnold- Chiari e siringomielia. 2.2.1.2 Alterações Discais São causas comuns de disfunção mecânica, uma vez que o disco intervertebral exerce a importante função de absorver os impactos e as pressões sofridas pela coluna. Com o seu mau funcionamento, as pressões recebidas se AN02FREV001/REV 4.0 12 deslocam para outros pontos e estruturas não habilitadas, desencadeando lesões permanentes, inflamação e dor. As alterações discais mais comumente encontradas são (Novaes, 2010) Discopatias: englobam a desidratação discal (causada pelas alterações dos níveis de proteoglicanos e diminuição de água no núcleo pulposo), as fissuras (lacerações concêntricas do ânulo fibroso) e as rupturas discais (lacerações radiais do ânulo fibroso). : Abaulamentos: alterações globais do contorno discal. Herniações: alterações focais do contorno discal. 2.2.1.2.1 Discopatias As discopatias são causas frequentes de dores da coluna cervical. As alterações degenerativas dos discos intervertebrais provocam diminuição de sua altura e o aparecimento de calcificações denominadas osteófitos (vulgarmente chamados de bicos de papagaio) que aparecem nas bordas das vértebras e nas articulações. Estas calcificações indicam que o organismo está depositando cálcio em regiões inflamadas como uma defesa (figura 04) (Novaes, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 13 FIGURA 4 – DISCOPATIAS CERVICAIS FONTE: Novaes, 2010. A presença de osteófitos na coluna cervical (osteofitose) pode desencadear distúrbios circulatórios por compressão progressiva da artéria vertebral (figura 05) e consequentes sinais e sintomas de isquemia como: náuseas, sensação de desmaio, nistagmo, tonturas, turvação visual, vertigens e confusão mental (Novaes, 2010) AN02FREV001/REV 4.0 14 FIGURA 5 – COMPRESSÃO DA ARTÉRIA VERTEBRAL POR OSTEOFITOSE CERVICAL FONTE: Júnior, 2010. A desidratação do disco é consequente às alterações químicas das substâncias elásticas que o compõem, isto associado aos ligamentos que se calcificam formam os chamados discos duros (hérnias duras). O aumento destes depósitos de cálcio pode ser tão grande a ponto de estreitar o canal medular e comprimir a medula e as raízes nervosas (Novaes, 2010). 2.2.1.2.2 O abaulamento (figura 06) é considerado a etapa inicial do processo de desencadeamento da hérnia de disco. O disco intervertebral começa a apresentar Abaulamentos AN02FREV001/REV 4.0 15 sintomas de envelhecimento e as fibras do anel fibroso apresentam fissuras (Pimenta, 2010). FIGURA 6 – ABAULAMENTO DE DISCO CERVICAL FONTE: Pimenta, 2010. 2.2.1.2.3 A hérnia de disco (figura 07) consiste em uma extrusão do disco vertebral, normalmente contendo o núcleo pulposo do disco intervertebral envolvido pelo anel fibroso já em estágio avançado de degeneração. As estruturas nervosas estão Herniações de disco cervical As hérnias discais são patologias que fazem parte do quadro de degeneração da coluna, tendo sua origem ligada ao desgaste das estruturas do disco. Se a coluna lombar sofre desgaste por ser uma região que suporta maiores cargas, a coluna cervical também sofre devido a sua grande mobilidade (Santos, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 16 comprometidas pelo estreitamento dos canais por onde passam os nervos (forames de conjugação), medula ou saco dural (canal medular) (Pimenta, 2010). FIGURA 7 – HÉRNIA DE DISCO CERVICAL FONTE: Pimenta, 2010. Em alguns casos, as hérnias de disco podem ser assintomáticas. Nestes casos, não são consideradas uma doença, apenas um sinal de envelhecimento. Hérnias discais cervicais assintomáticas estão presentes em pelo menos 25% das pessoas de 50 anos. A presença de sintomas depende da capacidade de reserva do canal medular, da presença e do grau de inflamação, do tamanho da hérnia, bem como da presença de doenças concomitantes, como por exemplo, formações osteofitárias (Santos, 2010). A maioria das hérnias de disco cervicais ocorre em situação posterolateral, com maior incidência na quarta década de vida, quando o núcleo pulposo ainda é gelatinoso. As áreas mais frequentes de herniação são C6-C7 e C5-C6. As hérnias C7-T1 e C3-C4 são raras (Santos, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 17 Os sintomas das hérnias cervicais são muito variados. Os discos cervicais, além de estarem muito próximos das raízes dos nervos que vão se distribuir no território dos braços, também estão em contato com a medula cervical, que é tronco nervoso principal, em continuidade direta com o cérebro, de onde se origina a inervação de todas as partes do corpo do pescoço para baixo. Assim, as hérnias cervicais podem provocar sintomas de compressão dos nervos e da própria medula (Santos, 2010). Em casos mais graves e avançados de hérnias grandes e de deslocamento central, pode ocorrer a compressão medular (mielopatia). Nestes casos, o tronco nervoso da região é afetado existindo risco de lesões definitivas, irreversíveis, que podem comprometer os movimentos e a sensibilidade de todo o corpo daquela região para baixo, deixando sequelas muito graves. Normalmente, as mielopatias se instalam de maneira lenta e progressiva, no decorrer de meses ou anos (Santos, 2010). Clinicamente, a principal queixa do paciente é a de dor no braço. A dor, geralmente, é descrita como se iniciando no pescoço e, posteriormente irradiando-se para o ombro, braço e antebraço, em caráter segmentar até a mão (cervicobraquialgia). Normalmente, a dor é em choque, pontada ou queimação e de caráter intermitente. É comum a alteração de sensibilidade nos membros superiores com sensação de formigamento (figura 08) (Santos, 2010). O início dos sintomas geralmente é gradual. Com a evolução do quadro, a magnitude da dor no braço ultrapassa a do pescoço e ombro, podendo ser variável na intensidade, sendo severa o bastante para despertar o paciente durante a noite. Sintomas associados de dor lombar, dor ou fraqueza nas pernas, distúrbios da marcha e incontinência vesical ou anal sugerem compressão medular importante (quadro III) (Santos, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 18 FIGURA 8 – ÁREAS DE DISTRIBUIÇÃO DOLOROSA FONTE: Acupuntura contemporânea, 2010. AN02FREV001/REV 4.0 19 Quadro II – Sinais e sintomas de compressão cervical Disco Raiz Sinais e sintomas C2-C3 C3 Dor Cervical superior, mastoide Alterações sensoriais Cervical superior, mastoide Deficit motor Ausente Alterações de reflexos Ausente C3-C4 C4 Dor Cervical superior, elevador da escápula Alterações sensoriais Cervical superior, elevador da escápula Deficit motor Ausente Alterações de reflexos Ausente C4-C5 C5 Dor Pescoço, ombro, face anterior do braço Alterações sensoriais Deltoide Deficit motor Deltoide, bíceps Alterações de reflexos Bicipital C5-C6 C6 Dor Pescoço, ombro, escápula (medial), braço (lateral), antebraço. Alterações sensoriais Polegar e indicador Deficit motor Bíceps Alterações de reflexos Bicipital C6-C7 C7 Dor Pescoço, ombro, escápula (medial), braço (lateral), face dorsal anterior Alterações sensoriais Dedo indicador, III e IV dedos Deficit motor Tríceps Alterações de reflexos Tricipital C7-T1 C8 Dor Pescoço, escápula (medial), braço (medial) e antebraço Alterações sensoriais IV e V dedos Deficit motor Musculatura intrínseca da mão Alterações de reflexos Ausente FONTE: Adaptado de Santos, 2010. AN02FREV001/REV 4.0 20 2.2.1.3 Artrose Cervical Disfunção crônica caracterizada pelo desenvolvimento osteofitário e outros sinais degenerativos, como consequência de doença discal também relacionada à idade. Acomete pacientes acima dos 40 anos, sendo um achado quase universal em estudos radiológicos em pessoas acima dos 70 anos, porém nem sempre sintomática. Os casos sintomáticos apresentam com dor cervical episódica associada a restrições dos movimentos do pescoço ao exame físico. A dor é referida nas regiões posterior e lateral do pescoço, com eventuais irradiações para a área escapular, ombro homolateral e membro superior. A irradiação da dor na artrose cervical pode ser do tipo somática profunda ou dermatomérica. O acometimento dos segmentos C6 e C7, e menos frequentemente C5 apresenta-se como uma dor profunda e incômoda no antebraço, lateral da mão, região lateral do ombro e do braço, respectivamente. A dor radicular ocorre quando osteófitos ou discos intervertebrais prolapsados estreitam o forame de conjugação. A compressão das raízes cervicais resulta em dor, adormecimento, parestesias, fraqueza muscular e alterações de reflexos. A complicação mais séria da artrose cervical é a mielopatia. Menos que 5% dos pacientes com artrose desenvolvem tal condição. Ocorre quando existe formação de osteófitos posteriores e outras alterações osteodegenerativas no canal vertebral, condicionando uma estenose de canal, com posterior compressão gradual e progressiva da medula e de seu suprimento vascular. São descritas duas formas de estenose de canal vertebral: a estenose estática, condicionada por um estreitamento do canal em localização anatômica definida e a estenose dinâmica, devido à instabilidade segmentar, causando compressão de diferentes porções da medula espinhal com a flexão ou extensão da coluna cervical. O quadro clínico é caracterizado por cefaleia, distúrbios progressivos da marcha e fraqueza de membros superiores e inferiores AN02FREV001/REV 4.0 21 2.2.1.4 Dores Miofasciais O ponto gatilho ou trigger point é um ponto irritável, localizado em uma estrutura de tecido mole, mais frequentemente no músculo, caracterizado pela alta sensibilidade dolorosa em relação a outras áreas. Quando se estimula esse ponto por 30 segundos com uma pressão moderada, surge uma dor referida (figura 09) (Dor nas costas, 2010). FIGURA 9 – PONTO-GATILHO FONTE: Envivant, 2010. O trigger point possui dois estados (Dor nas costas, 2010): Ativo: causa dor espontânea ou ao movimento e provoca diminuição da amplitude de movimento e força muscular. Latente: causa dor somente se for pressionado. Pode tornar-se ativo por qualquer evento traumático ou estresse, gerando dor referida. AN02FREV001/REV 4.0 22 A teoria mais aceita para a formação dos trigger points é a da liberação de cálcio. Segundo essa teoria, os pontos ativos podem ser iniciados por um trauma que localmente abre o retículo sarcoplasmático, liberando cálcio. Esse cálcio combina-se com o ATP para continuamente ativar os mecanismos locais de contração, causando uma contratura local e colapso da microcirculação. O consumo energético sob condições de isquemia leva à depleção de ATP, o que impede a recaptação do cálcio pelo retículo sarcoplasmático (ciclo vicioso autosustentado) (Dor nas costas, 2010). A presença de pontos-gatilho miofasciais faz parte do componente muscular das cervicalgias. Encontrados principalmente nos músculos esternocleidomastóideo, elevador da escápula e trapézio, aparecem também nos músculos escalenos e faciais (figura 10). FIGURA 10 – TRIGGER POINTS (REGIÃO CERVICAL) Músculo trapézio Músculo Esternocleidomastoideo Músculo esplênio da cabeça AN02FREV001/REV 4.0 23 Músculo elevador da escápula FONTE: João, 2010. 2.2.1.5 Lesões Traumáticas As lesões traumáticas simples na coluna cervical são frequentes. Um destes tipos de lesões é a síndrome do chicote (Whiplash). É ocasionada por impactos indiretos, geralmente por colisões automobilísticas traseiras em baixas velocidades. Ocorre um mecanismo de energia de aceleração/desaceleração com transferência de força para região cervical. Também pode ser ocasionada por colisões laterais, mergulhos ou em esportes de alto impacto como boxe ou futebol americano O impacto pode resultar em lesões ósseas ou de partes moles que, por sua vez, AN02FREV001/REV 4.0 24 podem levar a uma variedade de manifestações clínicas (figura 11). A dor desencadeada pelo whiplash pode não aparecer logo após o acidente, mas por vezes pode demorar horas para se desenvolver e depois permanecer por vários dias. Os sintomas incluem tonturas, dores de cabeça, dor ou rigidez no pescoço, mandíbula, ombros ou braços (ITC, 2010). FIGURA 11 – WHIPLASH FONTE: Schultz, 2010. Os traumatismos mais graves podem causar fraturas, subluxações, lesões neurológicas graves e inclusive o óbito instantâneo por lesão medular (figura 12). AN02FREV001/REV 4.0 25 FIGURA 12 – FRATURA DA COLUNA CERVICAL FONTE: Clínica da coluna, 2010. As fraturas altas da coluna cervical envolvem as vértebras C1 (atlas) e C2 (áxis). Estas fraturas formam um grupo de lesões específicas que em geral não levam à lesão neurológica. O nível neurológico fatalmente leva a óbito nestes casos. Compreende as fraturas envolvendo (Unimes, 2010): Fraturas do atlas: em geral não são cirúrgicas porque o canal medular é muito amplo e as lesões neurológicas são raras. O tipo mais conhecido é a fratura por explosão (fratura de Jeferson). É causada por trauma axial sobre a cabeça. O tratamento é imobilização. Fraturas do áxis: envolvem o processo odontoide. São de tratamento cirúrgico se houver desvio do processo odontoide. O tratamento mais indicado é a fixação com parafuso e imobilização. Fratura do enforcado: ocorre devido a uma força de arrancamento de C2 sobre C3, o que leva a um escorregamento de uma vértebra sobre a outra. O tratamento cirúrgico está indicado. As fraturas da coluna cervical baixa compreendem os traumas entre as vértebras C3 até C7 e a transição com T1. Normalmente são tratadas com cirurgia e AN02FREV001/REV 4.0 26 em grande parte dos casos implicam em danos neurológicos e sequelas permanentes (Unimes, 2010). 2.2.1.6 Alterações posturais A manutenção de uma postura desequilibrada por período prolongado de tempo pode desencadear processos dolorosos na coluna cervical decorrentes da sobrecarga de estruturas articulares, musculares e ligamentares. Para um bom alinhamento a cabeça deve ser mantida na linha média do corpo (figura 13). FIGURA 13 – CORRETO ALINHAMENTO POSTURAL DA CABEÇA FONTE: João, 2010. AN02FREV001/REV 4.0 27 As posturas inadequadas de cabeça e pescoço são as posições de protração (cabeça a frente da linha média do corpo) e de retração (cabeça atrás da linha média do corpo) (figura 14). Também pode haver inclinações laterais e rotações da cabeça. FIGURA 14 – POSTURAS INADEQUADAS DA COLUNA CERVICAL FONTE: João, 2010. 2.2.2 Cervicalgias Secundárias As cervicalgias secundárias incluem condições que não estão diretamente ligadas à coluna cervical, como condições inflamatórias, infecciosas, metabólicas ou neoplasias (cervicalgias não mecânicas), as psicossomáticas e as dores referidas. AN02FREV001/REV 4.0 28 2.2.2.1 Cervicalgias Não Mecânicas Entre as causas não mecânicas de cervicalgias estão: processos inflamatórios, infecciosos, neoplasias ou doenças metabólicas da coluna cervical (Guedes, 2010): 2.2.2.1.1 Espondilite anquilosante: doença inflamatória, de etiologia desconhecida, caracterizada pelo acometimento da coluna vertebral e articulações sacroilíacas. Pode atingir todos os segmentos vertebrais, causando limitação dos movimentos e invalidez. Ocorre lesão das articulações sinoviais e os ligamentos adjacentes às vértebras, especialmente nos pontos de inserção vertebrais. Doenças Inflamatórias Incluem doenças inflamatórias que afetam secundariamente a coluna cervical como a espondilite anquilosante, a síndrome de Reiter, a artrite reumatoide as espondiloartropatias (Guedes, 2010): Síndrome de Reiter: tipo de artrite reativa que afeta articulações provocando artrite assimétrica. Pode estar acompanhada de inflamação dos olhos (conjuntivite ou uveíte), inflamação da uretra (uretrite) ou do cérvix (cervicite), inflamação do intestino com diarreia aguda e acometimento da pele e mucosas (da boca e genitais). Artrite reumatoide: a coluna cervical é a região do esqueleto mais acometida pela artrite reumatoide, principalmente no segmento C1-C2 (subluxação atlantoaxial). Inicialmente há lesão cartilaginosa e de osso subcondral. Em estágios mais avançados, há a formação de osteófitos AN02FREV001/REV 4.0 29 nos platôs vertebrais ou nas articulações zigoapofisárias, podendo haver, desse modo, distensão da cápsula articular, sinovite ou derrame articular e formação de cistos. Todas estas alterações crônicas podem levar à redução do canal medular ou dos forames de conjugação e a manifestações de estenose de canal vertebral ou a radiculopatias. Alguns fatores relacionados à evolução da doença podem condicionar um maior risco de desenvolvimento de dor cervical, como o uso prolongado de corticosteroides, presença de altos títulos de fator reumatoide, destruição articular periférica, acometimento de nervos cervicais, presença de nódulos reumatoides e longo tempo de evolução da doença. A dor na região posterior do pescoço é a queixa mais comum, seguindo-se a rigidez e limitação de movimentos de flexoextensão. Espondiloartropatias: doença autoimune inflamatória que afeta o esqueleto axial nos (pontos de inserção de ligamentos e tendões ao esqueleto) e que também podem afetar as articulações sacrilíacas, assim como as grandes articulações dos membros inferiores. 2.2.2.1.2 Processos Infecciosos Normalmente tem origem no disco intervertebral e são chamados de espondilodiscites, porém podem se estender para as vértebras e tecidos adjacentes com gravidade. Os microrganismos podem atingir a coluna vertebral por via hematogênica, linfática ou por contiguidade (inoculação direta) (Guedes, 2010). A coluna também pode sofrer infecções por bactérias ou fungos cujo resultado é a destruição dos tecidos no foco da doença e nas proximidades, os danos dependem sempre do micróbio, do tempo transcorrido até o tratamento e das condições de saúde do paciente (IGCCV, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 30 2.2.2.1.3 Neoplasias As neoplasias da coluna cervical são mais comumente metástases nos corpos vertebrais de carcinomas de pulmão, mama, próstata, rins, tireoide e cólon. O mieloma e a leucemia também podem envolver as vértebras, e todos normalmente levam a sintomas por compressão neurológica ou por fraturas patológicas. Os tumores primários benignos mais comuns da coluna são hemangiomas, cistos ósseos aneurismáticos, osteoma osteoide, osteoblastoma e osteocondroma. Os malignos são osteossarcoma, condrossarcoma, sarcoma de Ewing, linfoma, plasmicitoma e cordoma (Guedes, 2010). 2.2.2.1.4 Causas Metabólicas Há uma série de outras doenças sistêmicas que podem levar à dor na coluna cervical como as doenças osteometabólicas (osteoporose e hiperparatiroidismo) que normalmente são dolorosas por acometerem estruturas intra ou extrarraquidianas adjacentes, ou por levarem a fraturas (Guedes, 2010). 2.2.2.2 Cervicalgias Psicossomáticas A dor é percebida no córtex cerebral, sem estar associada à alteração anatômica local ou sistêmica, geralmente de caráter difuso, descrição imprecisa ou punitiva e forte associação com desencadeantes emocionais, como ocorre na fibromialgia em quadros de depressão, ansiedade e histeria etc. A anamnese é a principal arma diagnóstica e os exames complementares e físicos são normais (Guedes, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 31 2.2.2.3 Dores Referidas A lesão está em outros sítios que não a coluna. Como exemplos há a dor referida neurogênica de um infarto do miocárdio, a dor viscerogênica como em uma vasculite de carótidas, espasmo esofágico ou a dor somática de um herpes zoster (Guedes, 2010). ----------FIM DO MÓDULO-- AN02FREV001/REV 4.0 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, C. Semiologia da dor. Disponível em: <www.damedpel.com>. Acesso em: 23 abril 2010. DOR NAS COSTAS. RPG. Disponível em: <www.dornascostas.com.br/index.htm>. Acesso em: 23 abril 2010. GUEDES, L. K. N. Cervicalgia. Disponível em: <www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/2080/cervicalgia%C2%A0e%C2%A0l ombalgia.htm>. Acesso em: 23 abril 2010. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. 11. ed. IGCCV. INSTITUTO GAÚCHO DE CIRURGIA DA COLUNA VERTEBRAL. Coluna cervical. Disponível em: <www.institutocoluna.com.br>. Acesso em: 23 abril 2010. ITC. Instituto de tratamento da coluna vertebral. Disponível em: <www.herniadedisco.com.br/doencas-da-coluna/hernia-de-disco>. 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Disponível em: <www.compuland.com.br/anatomia/plexo.htm>. Acesso em: 23 abril 2010. SANTOS. Hérnias discais cervicais. Conheça sua coluna: informações científicas para o leigo. Porto Alegre: Conceito, 2004. SCHULTZ, J. R. Whiplash. Disponível em: <stemcelldoc.wordpress.com/2008/10/11/does-whiplash-occur-in-canada/>. Acesso em: 23 abril 2010. SILVEIRA JUNIOR, S. A. D. Liga da dor. Disponível em: <www.fameca.br/dor/aulas/fisiopatologiadador.ppt>. Acesso em: 23 abril 2010. UNIMES. Fraturas de coluna. Disponível em: <www.unimes.br/aulas/MEDICINA/Aulas2006/4ano/Ortopedia/Fraturas_da_Coluna.h tm>. Acesso em: 23 abril 2010. fisioterapia_nas_cervicalgias_03.pdf AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE AVALIAÇÃO CLÍNICA E FÍSICO- FUNCIONAL DA COLUNA CERVICAL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 AÇÃO CLÍNICA E FÍSICO-FUNCIONAL DA COLUNA CERVICAL CURSO DE AVALIAÇÃO CLÍNICA E FÍSICO- FUNCIONAL DA COLUNA CERVICAL Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO 1 EXAMES COMPLEMENTARES 1.1 RX 1.2 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA 1.3 TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA 1.4 EXAMES NEUROFISIOLÓGICOS 1.5 CINTILOGRAFIA ÓSSEA 1.6 DENSITOMETRIA ÓSSEA 1.7 EXAMES LABORATORIAIS 2 AVALIAÇÃO FÍSICO-FUNCIONAL DA COLUNA CERVICAL 2.1 ANAMNESE 2.1.1 Identificação e Caracterização do Paciente 2.1.2 História Clínica Pregressa 2.1.3 Caracterização da Dor Cervical 2.1.3.1 Marco de Início da Dor 2.1.3.2 Tempo de Presença da Dor 2.1.3.3 Ritmo da Dor 2.1.3.4 Intensidade Dolorosa 2.1.3.5 Irradiações da Dor 2.1.3.6 Características da Dor 2.1.3.7 Tratamentos Prévios e Seus Efeitos 2.2 EXAME FÍSICO 2.2.1 Inspeção 2.2.2 Palpação 2.2.3 Mobilidade Ativa 2.2.4 Goniometria 2.2.4.1 Goniometria da Flexão Cervical 2.2.4.3 Goniometria da Inclinação Cervical 2.2.4.4 Goniometria da Rotação Cervical AN02FREV001/REV 4.0 4 2.2.5 Testes de Força Muscular 2.2.6 Testes de Sensibilidade 2.2.3 Mobilidade Ativa 2.2.7 Teste de Reflexos 2.2.8 Testes Especiais 2.2.8.1 Teste de Tração 2.2.8.2 Teste de Compressão 2.2.8.3 Manobra de Valsalva 2.2.8.4 Teste de Deglutição 2.2.8.5 Teste de Adson 2.3 ELABORAÇÃO DE OBJETIVOS TERAPÊUTICOS E CONDUTA PROPOSTA 2.4 PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO FÍSICO-FUNCIONAL DA COLUNA CERVICAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 5 1 EXAMES COMPLEMENTARES Mesmo em casos em que o quadro clínico e o exame físico do paciente são muito sugestivos, o diagnóstico preciso da causa de uma cervicalgia precisa ser confirmado por exames complementares (cirurgia da coluna, 2010). 1.1 RX O RX simples da coluna cervical (figura 01) é um exame rotineiro, que permite o diagnóstico de lesões ósseas. Geralmente é o primeiro exame a ser solicitado quando há uma dor a investigar, e pode mostrar uma série de problemas e avaliar a postura. As imagens podem revelar fraturas, doenças sistêmicas, deformidades, tumores ou infecção. Porém, não mostra os discos e nervos, não sendo suficiente para confirmar ou não um diagnóstico de hérnia cervical (cirurgia da coluna, 2010). FIGURA 01 – IMAGEM DE RX DA COLUNA CERVICAL FONTE: SOLER, 2010. AN02FREV001/REV 4.0 6 Quando o exame radiológico for negativo e estiverem presentes os sinais de alerta, outros exames, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, são recomendados (Leal, 2010). 1.2 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Atualmente, o exame de eleição para diagnóstico das hérnias discais cervicais é a ressonância magnética. Esse exame tem condições de mostrar com boa definição os discos, as raízes dos nervos, e a medula cervical. Por isso, ele possibilita que se avalie o grau em que as estruturas nervosas estão comprimidas e o local exato da compressão, permitindo um bom planejamento nos casos em que a cirurgia se faz necessária. Nos casos de mielopatia, a ressonância magnética pode, ocasionalmente, mostrar sinais de menor ou maior gravidade da lesão medular (figura 02) (cirurgia da coluna, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 7 FIGURA 02 – LAUDA DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA SINALIZANDO UMA HÉRNIA DE DISCO CERVICAL FONTE: cirurgia da coluna, 2010. 1.3 TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA A tomografia computadorizada (figura 03) é menos sensível que a ressonância magnética, e fornece imagens bem menos detalhadas dos discos e nervos, mas é superior em termos de visualização das partes ósseas e pode fornecer dados relativos a tumores ósseos, estenose do canal lombar e alterações ósseas degenerativas. Hoje em dia, a tomografia é um exame alternativo, utilizado quando a ressonância não estiver disponível (cirurgia da coluna, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 8 FIGURA 03 – IMAGEM TOMOGRÁFICA DE UMA VÉRTEBRA FONTE: Barbosa, 2010. 1.4 EXAMES NEUROFISIOLÓGICOS Em alguns casos o quadro clínico e o exame físico do paciente podem deixar dúvidas sobre uma dor no braço estar ou não sendo causada por uma compressão de raiz nervosa cervical, e em outros casos pode-se necessitar de um diagnóstico bem específico sobre qual a raiz nervosa é responsável pelo sintoma doloroso. Nessas situações, podem-se utilizar os exames neurofisiológicos, como a eletroneuromiografia (cirurgia da coluna, 2010). Esses exames são úteis para documentar uma radiculopatia, fornecendo dados como localização, tempo de evolução e gravidade, detectar envolvimento medular, bexiga neurogênica e monitorizar a evolução de uma lesão neurológica, porém não identificam as possíveis causas das compressões detectadas (tumor, disco, osteófitos) (Leal, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 9 1.5 CINTILOGRAFIA ÓSSEA A cintilografia óssea pode ser útil na detecção de osteomielite, tumores e lesões ósseas ocultas. O exame consiste na injeção venosa de radioisótopos que são captados em áreas que apresentam maior atividade osteometabólica. O radioisótopo mais utilizado é o tecnécio. O exame mostra boa sensibilidade para detectar doenças que resultam em aumento da atividade óssea, porém tem pouca especificidade para o tipo de causa (cirurgia da coluna, 2010). 1.6 DENSITOMETRIA ÓSSEA A densitometria óssea é um método não invasivo e preciso de medida da massa óssea por meio da avaliação do seu conteúdo mineral, sendo útil no diagnóstico precoce das algias vertebrais metabólicas associadas à osteoporose e à osteomalácia (cirurgia da coluna, 2010). 1.7 EXAMES LABORATORIAIS Os exames de laboratório que podem auxiliar no diagnóstico diferencial das algias vertebrais são hemograma completo e proteína C reativa (infecciosas), hemossedimentação, alfa-1-glicoproteína ácida, proteína C reativa (inflamatórias), dosagem sérica de cálcio, fósforo e fosfatase alcalina (metabólicas), eletroforese de proteínas (mieloma múltiplo) e urina tipo I (viscerais) (Leal, 2010). AN02FREV001/REV 4.0 10 2 AVALIAÇÃO FÍSICO-FUNCIONAL DA COLUNA CERVICAL A avaliação físico-funcional é parte fundamental para que o tratamento das cervicalgias. É nesse momento que o profissional pode procurar dados que auxiliem o diagnóstico diferencial dos tipos de cervicalgias. O correto diagnóstico requer uma história clínica e um exame físico detalhados para permitir a identificação dos possíveis fatores causais do sintoma, excluir doenças metabólicas graves e obter maiores informações da disfunção apresentada. O diagnóstico equivocado pode trazer consequências desastrosas para o paciente (Freire, 2004). A avaliação é composta pelos seguintes itens: Anamnese; Exame físico; Elaboração de objetivos terapêuticos e conduta proposta. 2.1 ANAMNESE
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