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GUERREIRO RAMOS- A REDUÇÃO SOCIOLÓGICA

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DISCENTE: PATRÍCIA DE ALMEIDA DE PAULA (UEL) 
SOCIOLOGIA BRASILEIRA 
GUERREIRO, R. “A redução sociológica”. 
Prefácio à Segunda edição 
Segundo o autor a redução sociológica não se apresenta como o momento final do 
processo de indagação. Ainda que marque o amadurecimento de uma concepção que se 
encontrava fragmentariamente formulada e aplicada em estudos anteriores do autor, 
reunidos em Cartilha Brasileira do Aprendiz de Sociólogo (1954), depois republicada em 
Introdução Crítica à Sociologia Brasileira (1957). 13 
Desde 1953 o autor se empenhou num esforço revisionista, ou seja, colocou-se em 
divergência de opiniões com as correntes doutrinárias, os métodos e processos 
dominantes no meio dos que, entre nós dedicavam-se ao trabalho sociológico. 
Negava não apenas o caráter cientifico mas também a funcionalidade em relação as 
exigências da sociedade brasileira. Dizia que o trabalho sociológico reflete também a 
deficiência da sociedade global, a dependência. Esta última que no caso se exprimia 
sob a forma de alienação, pois habitualmente o sociólogo utilizava a produção 
sociológica estrangeira, de modo mecânico e servil, sem dar-se conta de seus 
pressupostos históricos originais, de modo a sacrificar seu senso crítico ao prestígio 
que lhe grangeava exibir ao público leigo o conhecimento de conceitos e técnicas 
importadas. Fazia-se no Brasil uma “Sociologia enlatada”, “Sociologia consular”, 
não conseguindo- dizia-se em 1954 na Cartilha- formar especialistas aptos a fazer 
uso sociológico da sociologia. 14 
Os sociólogos da velha feição, mais capazes, renderam-se à validade da crítica e pouco a 
pouco, adaptaram-se aos novos critérios de trabalho científico. Os menos capazes 
perderam a preeminência- de que por ventura desfrutavam. Em 1956 já era escrito no 
prefácio de Introdução Crítica à Sociologia Brasileira: “creio estar superada a fase 
polêmica da sociologia nacional”. A redução sociológica, publicada em 1958, estava 
implícita em todos os estudos anteriores de Guerreiro Ramos a essa data, basta um exame 
destes para compreender isso. 
No entanto, este livro, seja em forma ou no conteúdo de 1958 não esgotava o sentido da 
atitude redutora, que dirigiu e dirige os estudos de Guerreiro Ramos. Em 1958, a 
fundamentação metodológica de uma sociologia nacional ainda o importunava. Era 
necessário vencer os últimos argumentos a que se recorria contra ela habitualmente, seja 
por má fé, preconceito ou por ambos. Isso faz com que a redução sociológica, em sua 
primeira exposição, fosse sobretudo um método de assimilação crítica do patrimônio 
sociológico alienígena. 14-15 
Ao preparar a segunda edição deste livro, Guerreiro Ramos advertiu que apenas focalizou 
aspecto parcial da redução sociológica. Pois esta última não apenas se destina a habilitar 
a transposição de conhecimentos de um contexto social para outro, de modo crítico, mas 
também caracteriza-se como modalidade superior da existência humana, a existência 
culta e transcendente. 
Para o autor, a sociologia não é especialização, oficio profissional, senão na fase da 
evolução histórica em que nos encontramos, em que perduram as barreiras sociais que 
vedam o acesso da maioria dos indivíduos ao saber. A vocação da sociologia é resgatar o 
homem ao homem, permitindo que ingresse num plano de existência autoconsciente. É 
no mais autêntico sentido da palavra tornar-se um saber de salvação. 
A redução sociológica é quintessência do sociologizar. Aquele que apenas conhece a 
literatura sociológica universal, sem dar conta do que o autor chama de “redução 
sociológica” - dizia em 1956- não passa de um simples “alfabetizado” em sociologia. 
A redução sociológica é qualidade superior do ser humano, que lhe habilita transcender 
toda sorte de condicionamentos circunstanciais. Tal aspecto de acordo com o autor ficou 
prejudicado neste livro, tal aspecto sob o nome de atitude parentética é focalizado no livro 
Mito e Verdade da Revolução Brasileira. 
Contudo, para Guerreiro Ramos é possível salientar três sentidos básicos da redução 
sociológica: 
1. Redução como método de assimilação crítica da produção sociológica estrangeira, 
tema por excelência deste livro; 16 
2. Redução como atitude parentética, isto é, como adestramento cultural do 
indivíduo, que o habilita a transcender, no limite do possível, os condicionamentos 
circunstanciais que conspiram contra a produção livre e autônoma. A cultura, 
notadamente, a cultura sociológica é componente qualitativo da existência 
superior, em contraposição a existência diminuída dos que, destituídos do treino 
sistemático, oferecem escassa resistência à robotização da conduta pelas pressões 
sociais organizadas, no livro Mito e Verdade da Revolução Brasileira, no capítulo 
Homem Organização e Homem Parentético, focalizamos analiticamente esse 
aspecto, que pretende-se reexaminar em outra oportunidade; 
3. Redução como superação da sociologia nos termos institucionais e universitários 
em que se encontra. A sociologia é ciência por fazer. Presentemente é o nome de 
um projeto de elaboração de novo saber como dizia Guerreiro Ramos à época, 
cujos elementos estão esboçados mas ainda não suficientemente integrados. 
De acordo com o autor após a publicação deste livro o pensamento redutor fez progressos 
e tende hoje a generalizar-se para outros domínios além do sociológico propriamente. 
Estudos que se situam no horizonte deste livro: 17 
 Introdução a crítica do ensino secundário de Geraldo Bastos Silva, que é uma 
análise do sistema educacional à luz do procedimento crítico- assimilativo, que a 
partir de 1958 Guerreiro Ramos nomeou de redução sociológica; 
 Consciência e realidade nacional de Álvaro Vieira Pinto, neste existem 
fragmentos que não raro representam excelente ilustração da atividade redutora. 
O autor aplica algumas vezes de modo feliz na análise de aspectos sociais. No 
entanto, para o autor no seu conjunto Consciência e Realidade Nacional é 
lamentavelmente esforço frustrado em seus objetivos, entre as principais falhas da 
obra tem-se que ela confunde consciência crítica com pensamento rigoroso. O 
autor magnifica a consciência crítica, a ponto de eleva-la a um plano de alta 
elaboração conceitual, que ainda está longe de alcançar. A consciência crítica 
que Guerreiro Ramos trata em “A redução sociológica” é “a consciência 
crítica da realidade nacional”, é fenômeno da psicologia coletiva. A 
consciência coletiva como tal, nas condições prevalecentes à época, não pode 
ter as qualificações do pensar rigoroso, seja filosófico, seja sociológico. Estão 
muito longe os dias em que as massas possam vir a adquirir um grau de 
ilustração tão alto. 18 
Daí o cuidado do autor, na Redução, de mostrar que a consciência crítica emerge 
de condições sociais gerais e estruturais, a industrialização e seus principais 
efeitos, a urbanização e a melhoria dos hábitos populares de consumo. A 
consciência crítica seria no muito um modo subalterno e elementar do 
pensamento rigoroso. No livro de Guerreiro Ramos não se confunde 
consciência crítica com redução sociológica. Mas Álvaro Vieira Pinto 
confunde consciência crítica com redução filosófica cometendo o grave erro 
de atribuir à “consciência crítica da realidade nacional” as categorias do 
pensamento dialético, afirmando que as induziu da “realidade brasileira” o 
que acaba por ser uma infantilidade. Não tendo assimilado a noção de 
comunidade humana Álvaro Vieira Pinto expôs em Consciência e Realidade 
Nacional o que chamei de deformação direitista da redução sociológica. 
 “Contribuição à Crítica da Ciência Econômica nos países Subdesenvolvidos” de 
Júlio Barbosa- reflexão sobre o estado da ciência econômica nos paísessubdesenvolvidos a luz da ideia redutora. (Ver este exemplo) 
“Como adverte Guerreiro Ramos (A Redução Sociológica), forma-se em dadas 
circunstâncias, uma “consciência crítica” que já não mais se satisfaz com a “importação” 
de objetos culturais acabados, mas cuida de produzir outros objetos nas formas e com as 
funções adequadas às novas exigências históricas”, produção que não é apenas de coisas 
mas também de ideias. 19- 20 
O poeta Mário Chamie em seu ensaio Literatura e Práxis, referiu-se ao mal entendido 
reinante em torno da redução sociológica. Este de fato existe e precisa ser discutido e 
caracterizado para não incompatibilizar o nosso esforço com os que tem interesse pelo 
aperfeiçoamento da produção sociológica no Brasil. 
Dois mal entendidos se formaram em torno da questão. A redução ganhou adeptos 
exaltados que dela fizeram a expressão de um nacionalismo agressivo e intransigente, 
espécie de revanche no domínio da cultura e da ciência contra o pensamento alienígena. 
De tal adesão o representante mais qualificado é Álvaro Vieira Pinto que em Consciência 
e Realidade Nacional promove a nação (e até mesmo a nação brasileira) ao plano das 
categorias gerais do conhecimento, ao lado da totalidade, objetividade e racionalidade. A 
principal razão de seu desvio indica Guerreiro Ramos foi não ter assimilado a noção de 
comunidade humana universal, a luz da qual se concilia perfeitamente o 
comprometimento do cientista com o seu contexto histórico, e o critério da universalidade 
sem o qual não existe verdadeira ciência. 20-21 
A adesão insensata corresponde a um polo oposto, o combate insensato as ideias de 
Guerreiro Ramos e a sua posição. Desde 1954, com a publicação da Cartilha, surgiram 
nos círculos que se dedicam a ciência social em moldes convencionais, manifestações 
emotivas de hostilidade, ora brutais sobre a forma de injurias e intimidações, campanhas 
difamatórias, ora disfarçadas em considerações metodológicas, crítica que não tem como 
ser levada a sério. 
A mais qualificada crítica a ser focalizada é a escrita por Florestan Fernandes, nos diz 
Guerreiro Ramos, no opúsculo “O padrão de Trabalho cientifico dos Sociólogos 
Brasileiros”, estudo que constitui um magnifico contraponto as ideias de G. R. sendo um 
exemplo do que o autor chamava em 1953 de “sociologia consular”. Segundo o autor as 
principais debilidades cientificas que apresenta o trabalho de Florestan Fernandes são: 22 
 Confunde a ciência sociológica em hábito com a ciência sociológica em ato: a 
crítica é de que o mesmo não teria ultrapassado a área informacional em 
sociologia, seu trabalho reflete uma ideologia de professor de sociologia e não 
uma atitude cientifica de caráter sociológico diante da realidade; 
 Crítica que revela que algo mais que a informação e a erudição são necessários 
para habilitar o estudioso a fazer uso sociológico dos conhecimentos sociológicos, 
ou seja, para a pratica da redução sociológica; 
 A referida crítica pressupõe a falsa noção das relações entre teoria e prática no 
domínio do trabalho cientifico e assim tende a tornar metafórica a disciplina 
sociológica, tornando-a um conhecimento superprivilegiado. 
Teria Guerreiro Ramos dito na Cartilha: “na utilização da metodologia sociológica, os 
sociólogos devem ter em vista que as exigências de precisão e de refinamento decorrem 
do nível de desenvolvimento das estruturas regionais e nacionais. Logo, nos países latino- 
americanos, os métodos e processos de pesquisa devem unir-se com os seus recursos 
econômicos e de pessoal técnico, bem como o nível cultural genérico de suas 
populações”. 22- 23 
Contra esta proposição vários sociólogos convencionais se ergueram e a proclamaram 
absurda e errônea. Afirmou-se que Guerreiro Ramos preconizava um país 
subdesenvolvido que devia ter uma sociologia subdesenvolvida. O tom da crítica era 
altamente emocional impedindo debate sereno e objetivo da tese. Toda a crítica por sua 
vez foi em vão, pois segundo o autor o público compreendeu o que ele dizia, 
contrariamente a alguns sociólogos que tiveram dificuldades de entender o texto em seu 
exato significado. 
Rebatendo esse significado afirmou Florestan Fernandes que o sociólogo deve realizar as 
suas pesquisas, “de acordo com os padrões mais rigorosos do trabalho científico” e que 
“nenhum cientista conseguirá por a ciência a serviço de sua comunidade, sem observar 
de modo integro e rigoroso, as normas e os valores que regulam a descoberta, a 
verificação e a aplicação do conhecimento cientifico”. Guerreiro Ramos afirma como 
lamentável que ele julgue ter apresentado argumento válido contra sua proposição e 
julgue que o público ledor de obras sociológicas se convença de que contra ele tenha 
apresentado ponderação pertinente. 
Guerreiro Ramos sustenta em toda sua linha a proposição de 1953. Que segundo o autor 
foi ditada pela experiência e não reflete nenhum culto livresco. Naquele ano tinha 
ultimado seus estudos sobre o problema brasileiro da mortalidade infantil. Verificando 
em certas repartições federais de saúde a tendência de adotar no Brasil e nisso aplicando 
recursos orçamentários técnicas refinadas de medição do fenômeno em voga na Europa. 
Na França, Bougueois- Pichat distinguia entre mortalidade infantil endógena (proveniente 
de fatores anteriores ao nascimento ou do próprio traumatismo do nascimento) e fatores 
exógenos (derivados de fatores ambientais). 23 
Sugeria corretamente Guerreiro Ramos, que no Brasil as causas da mortalidade infantil 
são grosseiras e portanto, sua medida não precisava e não poda ter precisão que seria 
compreensível nos países em que os seus fatores sociais externos estivessem 
razoavelmente controlados. Florestan Fernandes nega a reconhecer a justeza de tal 
raciocínio, e não discute a ilustração adequada da Cartilha e se joga em considerações 
abstratas que podem surpreender os leitores já avisados acerca do conteúdo da mesma 
indica Guerreiro Ramos. 23-24 
No caso tinha ou não tinha razão de aconselhar que os métodos de pesquisa devem cingir-
se ao nível de desenvolvimento das estruturas regionais e nacionais? Claro que sim. Por 
acaso o diagnóstico da mortalidade infantil no Brasil deixou de ser menos cientifico, por 
não ter utilizado os refinados métodos em voga na Europa? Ao contrário, não só não 
conseguiriam por falta de condições sociais adequadas, obter a precisão de um coeficiente 
de mortalidade infantil endógena, como contribuiria para conjurar imaturidade então 
reinante em certos círculos de especialistas. 25 
Guerreiro Ramos não combatia a técnica estrangeira movido por um nacionalismo 
revanchista mas a considerava em seu significado episódico, evitando que o seu prestigio 
o levasse a ocupar pessoal e gastos em dinheiro em sua inútil reprodução aqui. Afirma ter 
praticado a redução sociológica, que se aplica igualmente na utilização de todas as 
técnicas e métodos de pesquisa característicos de centros estrangeiros. 
Para Ramos um certo provincialismo muito arraigado no Brasil estava até mesmo entre 
os mais eruditos sociólogos convencionais que os impedia de distinguia a sociologia em 
hábito e sociologia em ato. 26 
Assim ataca que Florestan Fernandes permaneceria no âmbito vestibular da ciência 
sociológica o que era vista em algumas de suas narrativas. Sugeria Ramos, que este ao 
invés de pensar um método rigoroso de ajustar as técnicas estrangeiras de pesquisa às 
condições brasileiras, fazia de modo a declarar que tais condições dificultavam o trabalho 
sociológico, como o mesmo dizia: “em face da insuficiência das dotações financeiras... 
são restritas as oportunidades de exploração de técnicas de investigação sociológica 
empregadas correntemente em centrosdo exterior” (Padrão, 21). 
Para Ramos, o verdadeiro sociólogo não idealiza técnicas de pesquisa, e cumpre até o 
dever de desaconselhar dotações financeiras para o emprego ocioso ou predatório de 
técnicas estrangeiras de investigação. Sabe que as técnicas e os métodos são da mesma 
natureza a toda investigação autentica. O que os sociólogos convencionais acreditam ser 
um problema de recurso é quase sempre um problema de atitude cientifica genuína. 
Continua Florestan “como salientam as principais autoridades na matéria, os cânones 
científicos de investigação sociológica ainda não se encontram estabelecidos de uma 
maneira firme e universal” (Padrão, 42). Ramos chama a esta última afirmação de 
provinciana e confusa, pois o que são os “cânones científicos de investigação 
sociológica?” para o autor métodos e técnicas nunca serão estabelecidos “de maneira 
firme e universal”. Se são princípios gerais do raciocínio sociológico tem outros atributos 
de firmeza e universalidade mas também estão sujeitos a historicidade. O culto indevido 
aos “cânones” leva a hipercorreção, a grave cilada, que vitimam todos os que não 
distinguem a ciência em hábito da ciência em ato. 26-27 
Segundo o autor a hipercorreção em sociologia é uma contradição em termos, mas dela 
não estão isentas de todo afirmativas como esta de Florestan Fernandes: “Temos de 
formar especialistas de real competência em seus campos de trabalho, que suportem o 
confronto com colegas estrangeiros”. (A sociologia, 13); ou, “nas condições em que nos 
achamos, temos de nos contentar com os conhecimentos importados de outros centros de 
investigação sociológica”. (Padrão, 79). 
Para Ramos, em tais afirmativas existe muito pouco de sociologia mas muito de 
consciência mistificada e alienada. O que nos impõe aos colegas estrangeiros é o domínio 
do raciocínio que implicam, e que habilita os sociólogos a fazer coisas diferentes, em 
circunstâncias diferentes, sem o prejuízo da objetividade cientifica. Acredita o autor, que 
é esdruxulo advogar ou condenar a importação de conhecimentos. Todos os países são 
importadores de ciência- se trata no caso de como importar. 
O sentido da Cartilha e de sua metodologia geral- a redução sociológica- não é a irracional 
hostilidade ao produto cultural estrangeiro. O que preconiza é a substituição da atitude 
hipercorreta em face de tal produto pela atitude crítico- assimilativa, como o autor indica 
em “A Redução sociológica” diante das ideias de que o sociólogo genuíno é aquele que 
por profissão, é portador do máximo de consciência crítica diante dos fenômenos da 
convivência humana. Em um país periférico o avanço do trabalho sociológico não se deve 
avaliar pela sua produção de caráter reflexo, mas pela proporção em que se fundamenta 
na consciência dos fatores infra- estruturais que o influenciam. A capacidade de utilizar 
sociologicamente o conhecimento sociológico é o que caracteriza o especialista de real 
categoria. Nos países periféricos, a sociologia deixa de ser atrasada na medida em que se 
liberta do “efeito-de-prestígio” e se orienta no sentido de induzir as suas regras no 
contexto histórico- social no qual se integra. Esse tipo de sociologia exige do sociólogo 
um esforço bem maior que o de mera aquisição de ideias e informações especializadas: 
exige a iniciação numa destreza intelectual, numa instancia intelectual que pode ser 
definida com a palavra habitus na acepção que os antigos a empregavam. É preciso 
distinguir a sociologia em hábito da sociologia em ato, nas acepções filosóficas dos 
termos. 28 
O que Aristóteles chamava de hexis e os escolásticos de habitus é uma aptidão inata ou 
adquirida pelo treinamento e a cada ciência cabe um habitus especifico. O mero 
alfabetizado em sociologia por mais exaustiva que seja a sua informação não é sociólogo. 
Redução é precisamente o contrário de repetição. A mera repetição análoga de práticas 
e estudos contraria a essência da atitude cientifica porque perde de vista a particularidade 
constitutiva de toda situação histórica. 29 
No que se refere ao segundo ponto examinado no trabalho de Florestan Fernandes, é de 
que este faz ideia muito simplificada das razões do atraso da sociologia no Brasil. A ele 
parece estranho o imperativo de reformar a própria atitude metódica do sociólogo 
brasileiro em face do patrimônio cientifico alienígena. Supervaloriza aspectos financeiros 
do trabalho sociológico de Ramos, relevantes sem dúvida, mas subsidiários e adjetivos. 
30 
Segundo Florestan: “o conhecimento cientifico não possui dois padrões: um adaptável as 
sociedades desenvolvidas; outro acessível as sociedades subdesenvolvidas” (A 
sociologia, 12). Segundo Ramos, Florestan Fernandes no que se refere a sociologia 
estrangeira é um hipercorreto. Não dá sinal de compreender que num país 
subdesenvolvido, não logra caráter cientifico o trabalho sociológico senão quando se 
compadece com certas regras adjetivas de natureza histórico social que distinguem o seu 
padrão do padrão alienígena. Regras que não afetam os princípios gerais do raciocínio 
sociológico. Imputa Florestan a falta de dotações orçamentarias deficiências cujos 
determinantes reais lhe escapam a percepção. Fala ele também da penúria financeira. “É 
justamente nas áreas do ensino e da pesquisa que são maiores as oportunidades de 
inovação institucional. Há elementos perturbadores na situação em que nos encontramos 
por causa da penúria de meios financeiros, pedagógicos e humanos” (A sociologia, 10). 
Segundo Ramos toda sociedade subdesenvolvida é definida por um complexo geral de 
penúria, e de todos os homens de ciência, o sociólogo, é justamente quem deveria 
particularmente compreender que a penúria só pode ser erradicada pelo esforço coletivo 
de produção, cabe-lhe subordinar a atividade cientifica às prioridades sociais, o que é 
possível sem sacrifício do rigor. 30-31 
Pedir recursos orçamentários para o trabalho sociológico sem consciência sociológica, 
crítica do problema social global dos recursos é prova inequívoca do delito contra a 
sociologia. 
Indica Guerreiro Ramos na Cartilha, que no estágio atual de desenvolvimento das nações 
latinas- americanas, em face de suas necessidades cada vez maiores de investimento em 
bens de produção, é desaconselhável aplicar recursos na prática de pesquisas sobre 
detalhes da vida social, devendo estimular a formulação de interpretações genéricas dos 
aspectos global e parciais das estruturas nacionais e regionais. 
Acredita o autor que os sociólogos convencionais brasileiros são completamente 
alienados no tratamento destas questões de política cientifica. Avaliam as necessidades 
do trabalho sociológico por critérios abstratos, assimétricos e analógicos. Por exemplo na 
crítica de Florestan diz o autor que não existem indícios de que ele tenha ideia de uma 
política geral do trabalho sociológico no país, mas ele julga o padrão de trabalho 
cientifico dos sociólogos brasileiros é uma formula ideal, que nada tem a ver com as 
particularidades históricas e sociais do País. Assim escreve que: “o padrão de trabalho 
intelectual, explorado nos diversos ramos da investigação cientifica é determinado 
formalmente pelas normas, valores e ideais do saber científico”. (Padrão, 11). 
No entanto, em seu opúsculo ele não discute o que significa normas, valores e ideias nem 
suas críticas se referem a situações concretas. Assim o leitor que o lê ignorante quanto ao 
texto a Cartilha acaba por admitir que esteja sendo preconizado um nacionalismo 
sociológico incompatível com as regras cientificas do raciocínio. 32 
De acordo com Guerreiro Ramos, no plano geral do raciocínio sociológico, as “normas”, 
“valores” e “ideais” transcendem as particularidades históricasde cada sociedade 
nacional. No terreno concreto, porém, a utilização prática do saber sociológico obedece, 
em cada sociedade nacional, as “normas”, “valores” e “ideais” específicos que refletem a 
particularidade histórica de sua situação. Devem ser pesquisados e compreendidos pelos 
sociólogo e assim se tornarem pontos de referência de uma política no plano cientifico. 
Sem tal consciência política, o sociólogo não se encontra habilitado a tirar proveito de 
modo socialmente positivo, dos recursos disponíveis. Podendo ainda aceitar ajudas 
financeiras externas para a realização de pesquisas e investigações cujo sútil proposito é 
distrair a intelectualidade das tarefas criadoras do ponto de vista nacional. 
Os sociólogos mais bem pagos comenta Ramos são os preferidos das organizações 
externas financiadoras de investigações, contudo, é nula a participação de tais sociólogos 
convencionais no esforço travado de formular um legitimo pensamento sociológico 
nacional. Se este pensamento esteve surgindo tem sido a revelia e contra a resistência de 
tais sociólogos. 32-33 
Assim acredita Ramos que o sociólogo de um país subdesenvolvido tem o dever de 
procurar meios e modos de transcender a penúria financeira e fazer seu trabalho com 
maior rigor técnico e cientifico acerca dessa penúria, sendo pouco inteligente e 
sociológico dizer que tal penúria decorre a debilidade do trabalho científico, debilidade 
que na verdade ocorrer da alienação da atitude metódica diante do saber e realidade 
nacional. 
Prossegue Ramos com a crítica de que o formalismo de Florestan o leva a afirmações 
ingênuas. Ele identifica o conhecimento sociológico com a sociologia em ato. Acredita 
que no Brasil a sociologia só começa com as grandes escolas de sociologia. Autores a que 
se refere como Fernando de Azevedo e Emílio Willems aos quais atribui importância 
extravagante desproporcional aos que realmente representam são considerados por 
Ramos como sociólogos didáticos, escritores escolares. Tiveram importância difundido 
ensinamentos uteis. Nunca foram, não são, porém, propriamente sociólogos como foram 
Visconde de Uruguai, Sílvio Romero, Euclides da Cunha, Alberto Torres e Oliveira 
Vianna, em suas respectivas épocas. Autores estes que na visão de Ramos, são momentos 
ilustres na formação de um pensamento sociológico brasileiro que utilizavam como 
subsídios as contribuições estrangeiras. Homens que tinham o que fazer- tarefas 
sociológicas próprias e larga consciência de que a medida por excelência do trabalho 
sociológico é sua funcionalidade em relação a realidade nacional. 33-34 
Emílio Willems constitui um autor cujos trabalhos apenas tem interesse escolar, seus 
estudos sobre aculturação e assimilação constituem competentes provas de sua 
atualização didática, porém, não contém nenhuma contribuição no campo da teoria pura 
e nada mais representam do que exercícios. São apenas episódios da história do ensino de 
Sociologia no Brasil e não contam como episódio da história do pensamento sociológico 
brasileiro, ao exaltar este autor Florestan demonstra o caráter de ideologia de professor 
que tem as suas considerações, continuava Ramos que quem permaneceria na memória e 
gratidão dos estudiosos seria Silvio Romero e não Emílio Willems. 34-35 
Segundo o autor o opúsculo de Florestan Fernandes, O padrão do trabalho cientifico dos 
sociólogos brasileiros é um texto documento da ideologia de professor de sociologia no 
Brasil, cujos dois traços salientes dessa ideologia se destacam: 
-provincianismo: quando Florestan crê no dever de zelar pela “pureza” da sociologia e a 
ser levado a sério o âmbito academicamente chamado de sociológico. Assim preza pela 
institucionalização da mesma, sem sua institucionalização os sociólogos optariam por 
modelos pré científicos de explicação da realidade nacional. De acordo com Guerreiro 
Ramos, essa visão ao lado de benefícios acarreta malefícios, entre os de que levar 
estudiosos de escassa habilitação crítica a pensar que os critérios da cientificidade sejam 
livrescos ou institucionais. Critérios tais que para Ramos tem de ser procurados na estreita 
relação entre teoria e prática. O solipsismo sociológico segundo ele só atende a interesses 
extra- científicos da burocracia parasitária, gerada pela prematura institucionalização do 
ensino da sociologia. 35-36 
-bovarismo: consiste em extremar a distância entre o mundo dos sociólogos e dos 
“leigos”, ao ponto de considera-los separados o que Ramos considera como algo falso. 
Florestan consideraria essa distinção como ideal. Para Guerreiro Ramos, nas condições 
atuais da civilização existe de fato essa distância que até certo ponto é necessária. Mas o 
saber cientifico, e em particular, o sociológico, só é privilégio de círculos restritos por 
forças de condições históricas que limitam o acesso das massas ou dos leigos à cultura. 
36-37 
Acredita, no entanto, Ramos que podemos imaginar uma sociedade- limite, que emergiria 
no futuro, da evolução histórica, em que a ciência e sobretudo, a sociologia será 
ingrediente da conduta ordinária dos cidadãos em que a qualidade das relações sociais 
será tão elevada que o indivíduo receberá, no processo informal da convivência, larga 
parte do conhecimento sistemático que hoje só nas escolas e faculdades se adquire. 
Acredita que a vocação da sociologia é tornar-se um saber vulgarizado, ela se volatizará 
no processo social global. Existem sociedades avançadas que passam sem sociologia e 
sem sociólogos e passam muito bem. 
Logo será verdade que existe mesmo a distância entre sociólogos e leigos na escala que 
Florestan imagina? Segundo Ramos não existe. Assim Florestan em sua visão se faz 
ideólogo de uma sociologia insustentável, que nunca existiu, não existe e nunca existirá. 
A sociologia não é exterior a sociedade global, pode transcender a conduta vulgar, mas 
não dividida em duas partes uma muito acima da outra. 37-38 
Florestan segundo o autor tem escrito sobre sociologia militante restando a esperança de 
que se torne um sociólogo militante e assim elimine sua resistência a redução sociológica. 
Segundo Guerreiro Ramos a primeira edição de “A redução Sociológica”, teria induzido 
a elaboração de mais eminente um documento crítico que um militante do Partido 
Comunista já produziu- o ensaio Correntes Sociológicas no Brasil de autoria de Jacob 
Gorender, onde a redução é exposta e analisada em alto nível de competência e 
integridade. 39 
Segundo o autor a militância nos quadros do PC empobrece o horizonte do intelectual e 
até mesmo Gorender não conseguiu escapar a essa “estreiteza especifica”, sendo notório 
o sectarismo em que incorre o autor em seu julgamento. 40 
Gorender não oferece nenhuma objeção a parte essencial do livro, ou seja, a que Ramos 
define a redução e formula suas leis e parece estar de acordo com os autores neste ponto. 
Mas afirma que estes malograram que se “salvaram pela metade” justificando isso ao 
recorrer a aspectos adjetivos da obra. Afirma Ramos que apesar de valorizar e citar 
autores que estão no indez do marxismo- leninismo (Jaspers, Husserl, Heidegger, 
Mannheim) não adere ao sistema de nenhum deles. E isso basta para que Gorender veja 
em A Redução um subjetivismo que não existe. 
Afirma Ramos que a redução em que se fundamenta seu trabalho sociológico é 
originalmente, uma intuição básica resultante da sua condição de intelectual brasileiro, 
sensível a tarefa de fundamentação teórica da cultura nacional. No entanto, o 
desenvolvimento analítico dessa intuição não se verifica num meio abstrato, mas sim num 
espaço filosófico cultural concreto, o do século XX assim Jaspers, Husserl, Heidegger 
além de outros são momentos concretos do saber do séculoXX em elaboração. Logo não 
poderiam deixar de ser o referencial teórico de elaboração do autor. 42 
Gorender escreve que “a redução sociológica” se inspira diretamente na “redução 
fenomenológica” de Husserl e que neste filosofo se apoia o pensamento de Guerreiro 
Ramos, assim este último levanta alguns esclarecimentos acerca deste ponto: 44 
- Faz parte da instrução de todo aquele que se dedica seriamente aos estudos sociológicos 
o conhecimento elementar da fenomenologia e das linhas gerais do pensamento de 
Husserl, instrução que o autor tinha ao escrever A Redução sociológica. No entanto, em 
1858 Ramos não se auto- considerava como fenomenólogo no sentido restrito do termo. 
Apesar de não ter parado de estudar Husserl e a isso ainda não se considerava 
fenomenólogo e nem tinha a intenção de vir a sê-lo. No entanto acredita que não se pode 
ser um sociólogo competente sem um conhecimento elementar das ideias de Husserl, de 
modo que a fenomenologia era a característica essencial da atmosfera cultural da época 
de Ramos. 
- A redução sociológica é husserliana menos porque se aplica o método específico de 
Husserl no estudo social, mas porque participava da tendência geral do trabalho 
sociológico representativo do século XX. 
Continua Guerreiro Ramos a esclarecer de que ao elaborar este livro não teve o propósito 
de aplicar o método husserliano ao estudo social, como Gurvitch, René Toulemont, e 
como admitiram Gorender, Carlos Cossio e Prof. Paulo Dourado de Gusmão. 45 
Este último afirma que Ramos teria feito a redução sociológica o apanhando da 
originalidade de Gurvitch. Ramos por sua vez insiste que a redução sociológica não é 
exatamente a aplicação husserliana no estudo do social. Quem fez tal aplicação foi 
Gurvitch, no texto deste livro em questão Ramos escreveu em 1958: “a redução 
sociológica, embora permeada pela influência de Husserl é algo diverso de uma ciência 
eidética do social”. O que tomou de Husserl foi menos o conteúdo filosófico de seu 
método do que um fragmento de sua terminologia. Jamais passou pela cabeça de Gurvitch 
a ideia de redução sociológica como é concebida em A redução sociológica. Ideia esta 
estranha a Gurvitch que não teria vivida o problema da descolonização do trabalho 
sociológico. Nenhum antes nem depois usou mesmo a expressão redução sociológica. 46-
47 
ANTECENDENTES FILOSÓFICOS DA REDUÇÃO SOCIOLÓGICA 
Teria sido a fenomenologia que tornou a redução um dos seus temas centrais. Husserl tem 
grande papel, contudo, opera com a redução (epoché) em nível extremamente abstrato. 
96 
Levando as últimas consequências as ideias de Husserl, coube a Martin Heidegger 
mostrar, que a epoché implica o problema do mundo. Alcança o autor a compreensão 
teórica pela suspensão das relações referencias constitutivas dos objetos no mundo, pela 
“desmundanização” dos objetos. Eis como se pode entender a redução no autor. Supõe a 
eliminação do ponto de vista cotidiano. Segundo Ramos, a redução sociológica se 
aproxima do que Heidegger chama de entschränken sem confundir-se com esse 
procedimento. 98 
Ela põe a mostra a função e as implicações do produto cultural e os determinantes de que 
resulta. Um objeto cultural é constituído não só pelos seus elementos objetivos, mas 
também pela função que exerce no sistema de objetos do qual faz parte. Para efeito de 
redução sociológica, a função dos objetos é entendida menos em termos de conotação 
material, isto é, enquanto contribuição ao equilíbrio global da comunidade (como 
pensavam os funcionalistas), do que em termos de sentido, de acordo com a 
intencionalidade que possuem numa estrutura referencial. No domínio da redução 
sociológica, há duas acepções da palavra intencionalidade: numa usa-se a palavra para 
esclarecer a consciência que está sempre referida aos objetos. Na outra, a palavra designa 
o conteúdo significativo ou referencial dos objetos do mundo “o para que”. 98-99 
Segundo o autor, sem aceitar o idealismo de Husserl e Heidegger, nada impede de acolher 
a atitude metódica, a qual em essência, se define por um propósito de análise radical dos 
objetos no mundo. Transpondo essa atitude para o âmbito da ciência social, pode-se 
afirmar que cada objeto implica a totalidade histórica em que se integra, sendo 
intransferível na plenitude de todos os seus ingredientes circunstanciais. Pode-se, no 
entanto, suspender ou colocar entre parênteses as notas históricas adjetivas do produto 
cultural e apreender os seus determinantes, de modo que em outro contexto, possa servir 
subsidiariamente e não como modelo para nova elaboração. A redução sociológica se 
opõe a transplantação literal, tal prática largamente realizada nos países de formação 
colonial como o Brasil, implica a concepção ingênua de que os produtos culturais 
produzem o mesmo efeito em qualquer contexto. 99-100 
Desde que se forma no espaço que deixa de ser colonial, a consciência crítica pelo 
imperativo da realização de um projeto comunitário, de uma tarefa substitutiva no âmbito 
da cultura- já não mais se trata de importar objetos culturais acabados e consumi-los, 
agora é preciso, pela compreensão do domínio do processo de que resultaram, produzir 
outros objetos nas formas e com as funções adequadas as novas exigências históricas. A 
redução sociológica só ocorre e se faz necessária nos países em que estão empenhados 
numa tarefa substitutiva. 
ANTECEDENTES SOCIOLÓGICAS DA REDUÇÃO SOCIOLÓGICA 
Para o autor, a redução se encontra em antecedentes próximos ao que se chama de 
sociologia do conhecimento, o seu significado essencial não é o que se nos dá aparente 
ou diretamente, mas o indireto, isto é, aquele que se apreende quando se põe em suspensão 
os seus aspectos externos, referido, porém, ao contexto do qual se faz parte. Quanto a 
atitude redutora em sociologia, deve-se submeter a reflexão a atitude metódica já implícita 
no trabalho sociológico, pois os sociólogos, principalmente nos países coloniais, ainda 
não fazem uso sociológico da sociologia. 101 
Para assumir atitude cientifica, de acordo com o autor, não basta a informação e o 
conhecimento das ideias e dos sistemas. Nada pode suprimir, na formação da atitude 
sociologica cientifica, a prática da redução. O sociólogo não é mero alfabetizado em 
sociologia, não é somente aquele que conhece a literatura deste campo do saber. 
Sociólogo é o que pratica a redução sociológica. 102 
É preciso ainda distinguir redução sociológica de fenomenologia do social (que 
descreveria como se dá o social ou mostraria a sua essência). Tem-se também Gurvitch 
que utiliza o processo redutor para descobrir critérios de classificação de formas de 
sociabilidade. 103 
Segundo Ramos, a redução sociológica embora influenciada por Husserl é algo diverso 
de uma ciência eidética do social. Ela funda-se numa atitude metódica interessada em 
descobrir as implicações referenciais, de natureza histórico- social, de toda sorte de 
produção intelectual e em referir sistematicamente essa produção ao contexto em que se 
verifica, para aprender exaustivamente o seu significado. Os estudos marxistas ou de 
inspiração marxista, sobre correntes de pensamento, doutrinas e ideias fundamentaram-
se em geral num ponto de vista redutor. 105-106 
Segundo o autor, fora dos quadros marxistas, o sociólogo e economista sueco Gunnar 
Myrdal tem sustentado em seus estudos uma posição de grande alcance crítico em face 
de teorias e doutrinas do campo de sua especialidade. Em conferencias proferidas no 
Cairo, denunciou a inadequação à realidade mundial contemporânea de teorias 
econômicas dominantes nos EUA e em países europeus. As ideias expostas estão muito 
próximas da redução sociológica. Tudo parece indicar, no autor, a convicçãode que 
sempre há um resíduo ideológico nas ciências sociais, não se apresentando, para ele, a 
rigor, o problema e uma teoria econômica ideologicamente neutra. O que importa, para 
assegurar a qualidade cientifica da ciência econômica, é verificar se está ideologicamente 
ajustada a realidade. Exprime na conferência o desejo de contribuir para “o ajustamento 
ideológico das ciências sociais a nova situação política do mundo”. O autor não trata 
apenas em tese do condicionamento ideológico da atual literatura do desenvolvimento e 
do subdesenvolvimento. Reconhece haver uma tendência na teoria do comercio 
internacional, de generalizada aceitação nos países dominantes, para evitar o tratamento 
a fundo da desigualdade econômica internacional em virtude do caráter embaraçoso do 
tema. 106-107 
Acredita que os conselhos dados por especialistas e órgãos técnicos de países dominantes 
sobre a política comercial dos países periféricos e mesmo as “pressões” que sobre eles 
exercem, “são comumente racionalizados em termos de uma teoria do comércio 
internacional, baseadas em hipóteses sem realidade”. Para Ramos, Myrdal é um dos 
poucos economistas capazes de submeter sua especialidade a uma reflexão radical. É 
também sociólogo e proclama sem hesitação a impossibilidade do cientista social libertar-
se inteiramente do que chama de “premissas de valor”. Uma “ciência social 
desinteressada” diz Myrdal que nunca existiu e por motivos lógicos nem existirá. O que 
deve guiar o cientista a eleger uma premissa de valor “adequada e significativa em relação 
a sociedade em que vive”. 
Todavia, é na obra de Karl Mannheim que se encontram referencias mais abundantes para 
a fundamentação teórica da redução sociológica. Ainda que não usasse a expressão e não 
tivesse preocupado em refletir sobre suas regras o autor aplicou a redução sociológica no 
estudo de vários assuntos. Para o autor, um objeto cultural não poderá ser compreendido 
em seu próprio e verdadeiro sentido se atentarmos simplesmente para a significação que 
veicula quando só o olhamos como é diretamente- em seu sentido objetivo, devemos 
considera-lo como portador de um sentido expressivo e documental se queremos captá-
lo exclusivamente. 109 
Em último lugar menciona-se Hans Freyer porque a ele deve-se o esforço mais importante 
para a elaboração da redução sociológica. Na obra, A sociologia ciência da realidade, tem 
o ponto de vista de Walther para quem “uma sociologia é o produto orgânico de certa 
cultura e por isso não pode transferir-se simplesmente para outra”. Freyer vê uma 
impregnação histórica no pensamento sociológico até em suas categorias mais abstratas. 
A ideia de adotar na Alemanha modelos e modos da sociologia norte- americana o autor 
reage mostrando a impossibilidade de tal transposição. Contrariamente a sociedade norte-
americana- explica- é a alemã uma sociedade de articulações historicamente complicadas, 
em que tem caráter muito especial conceitos como classe, proletariado, artesanato, 
camponês, Estado. A razão da intransferibilidade literal dos procedimentos sociológicos 
é formulada nos seguintes termos “uma sociologia é a autoconsciência cientifica de uma 
realidade social. Ademais é determinada inseparavelmente por sua história quanto a 
situação de seus problemas e a forma de seu pensamento. Por tais razões é impossível a 
nossa sociologia (alemã) adotar sem maior vexame, como norma para seu próprio 
desenvolvimento, modelos de construção e modos de produção que se formaram em outra 
parte e se acreditam ali”. 110-111

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