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Professor Dr. Jonas Marcelo Jaski MANEJO DE PLANTAS DANINHAS REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima DIRETORA DE ENSINO EAD Prof. Dra. Giani Andrea Linde Colauto DIRETOR FINANCEIRO EAD Prof. Eduardo Luiz Campano Santini DIRETOR ADMINISTRATIVO Guilherme Esquivel SECRETÁRIO ACADÊMICO Tiago Pereira da Silva COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Prof. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Prof. Ms. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Ms. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE GESTÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS Prof. Dra. Ariane Maria Machado de Oliveira COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE T.I E ENGENHARIAS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE SAÚDE E LICENCIATURAS Prof. Dra. Katiúscia Kelli Montanari Coelho COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Eduardo Alves de Oliveira Jéssica Eugênio Azevedo Marcelino Fernando Rodrigues Santos PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Hugo Batalhoti Morangueira Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira Carlos Henrique Moraes dos Anjos Kauê Berto Pedro Vinícius de Lima Machado Thassiane da Silva Jacinto FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP J39m Jaski, Jonas Marcelo Manejo de plantas daninhas / Jonas Marcelo Jaski. Paranavaí: EduFatecie, 2023. 112 p. : il. Color. 1.Ervas daninhas - Controle. 2. Herbicidas. I. Centro Universitário Unifatecie. II. Núcleo de educação a Distância. III. Título. CDD :23 ed. 632.5 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas dos bancos de imagens Shutterstock . 2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ 3 AUTOR Professor Dr. Jonas Marcelo Jaski ● Doutor em Agronomia (Universidade Estadual de Maringá - UEM). ● Mestre em Agronomia (Universidade Estadual de Maringá - UEM). ● Bacharel em Agronomia (Universidade Federal da Fronteira Sul -UFFS). ● Professor do curso de agronomia do Centro Universitáio Ingá - UNINGÁ Ampla experiência como pesquisador, produzindo artigos científicos aceitos por revistas de alto impacto internacional. Atua como professor no Centro Universi- tário Ingá- UNINGÁ. Além disso, vivenciou a atividade rural desde a infância por ter origem no campo. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/8269242634056252 http://lattes.cnpq.br/8269242634056252 4 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo (a)! Prezado (a) aluno (a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso já é o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, junto com você, construir nosso conhecimento sobre os conceitos fundamentais do manejo de plantas daninhas, afinal são conhecimentos imprescindíveis para atuação do profissional da agronomia. Além de conhecer os principais conceitos e definições, também vamos aprender a classificar as plantas daninhas e aspectos gerais sobre os herbicidas e a resistência das plantas daninhas aos mesmos. Na unidade I, começaremos a nossa jornada pelos conceitos fundamentais da ciência das plantas daninhas, assim poderemos compreender a ecologia das plantas daninhas e estabelecer a importância e os conceitos da infestação de plantas daninhas. Também iremos tratar sobre o banco de sementes no solo e mecanismos de dormência das plantas daninhas. Já na unidade II, vamos ampliar nossos conhecimentos sobre a classificação das plantas daninhas e estabelecer a importância da competição entre plantas daninhas e as plantas cultivadas. Também iremos definir e contextualizar a alelopatia no contexto das plantas daninhas e tratar de conceitos relacionados a interferência e os períodos de convivência das plantas daninhas com as culturas. Depois, na unidade III iremos tratar dos métodos de controle das plantas daninhas. Dessa forma, falaremos sobre os controles preventivo, cultural mecânico, físico, biológico e controle químico de plantas daninhas. Nessa unidade também trataremos sobre integrado das plantas daninhas. Na unidade IV iremos focar no estudo dos herbicidas. Assim, iremos compreender a nomenclatura e como são classificados os herbicidas; conhecer os mecanismos de ação dos herbicidas; estudar sobre formulações e misturas de herbicidas em tanque e por fim falaremos sobre resistência de plantas daninhas aos herbicidas. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE 1 Conceitos Básicos e Biologia de Plantas Daninhas UNIDADE 2 Classificação e Interferência de Plantas Daninhas UNIDADE 3 Métodos de Controle de Plantas Daninhas UNIDADE 4 Herbicidas: Características Gerais 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • • Conceitos e importância de plantas daninhas; • • Ecologia das plantas daninhas; • • Infestação de plantas daninhas; • • Banco de sementes e mecanismos de dormência em plantas daninhas. Objetivos da Aprendizagem • • Conceituar e contextualizar a importância de plantas daninhas; • • Compreender a ecologia das plantas daninhas; • • Estabelecer a importância e os conceitos da infestação de plantas daninhas; • • Definir e entender mais sobre o banco de sementes no solo e mecanis- mos de dormência das plantas daninhas. 1UNIDADEUNIDADE CONCEITOS BÁSICOS E CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHASDANINHAS Professor Dr. Jonas Marcelo Jaski UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS INTRODUÇÃO Olá aluno (a), como vai? Seja bem-vindo (a) a nossa PrimeiraCLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS Segundo Silva et al. (2007), o manejo adequado das plantas daninhas na cultura depende do conhecimento aprofundado do profissional quanto à cultura e as plantas in- festantes. As plantas que emergem no solo antes, tendem a excluir as que surgem depois, dessa forma devemos dar condições para que a cultura se estabeleça antes das plantas daninhas. Para esse manejo ideal é necessário utilizar métodos culturais (atentar para o preparo do solo, época de plantio, cultivar adequado, profundidade de semeadura, etc.) em conjunto com métodos mecânico, químico, e biológico, fazendo um manejo integrado de plantas daninhas. 2.1 Competição por água A competição por água leva as plantas daninhas a competir ao mesmo tempo por luz e nutrientes. Normalmente as plantas daninhas são mais eficientes para aproveitar a água do solo devido a fatores como: capacidade das raízes de se ajustarem osmoticamen- te, magnitude de condutividade elétrica das raízes e regulação estomática. Em agroecos- sistemas, é comum em períodos quentes do dia observarmos plantas cultivadas murchas enquanto as plantas daninhas permanecem turgidas, sem sinal de déficit hídrico (SILVA et al., 2007). 2.2 Competição por luz A competição por luz não é tão significativa quanto a competição por água ou por nutrientes, quando ocorre sombreamento completo das plantas daninhas a competição por luz é irrisória. Existe uma exceção, a planta Sesbania exaltata, que é altamente competitiva com a cultura do arroz por luz. A seleção das culturas para o melhoramento genético foi eficiente para selecionar plantas cultivadas com alto potencial de utilização da luz (SILVA et al., 2007). A competição por luz é influenciada pelo tipo de espécie, se cresce melhor em ambientes bem iluminados (heliófilas) ou pouco iluminados (umbrófilas) e se a rota fotossintética que ela apresenta é C3, C4 ou CAM. As plantas daninhas C4 tendem a competir mais efetivamente por luz com as plantas cultivadas. Dentre as 10 plantas daninhas mais nocivas do mundo, oito delas possuem rota fotossintética C4 anuais ou perenes (Cynodon dactylon, Imperata cilíndrica, Eleusine indica, Cyperus rotundus, Sorghum halepense, Panicum maximum, Echinochloa crusgalli e E. colonum). 2.3 Competição por gás carbônico (CO2) A competição por CO2 geralmente não é significante. No entanto, existe diferença na eficiência de captura de CO2 em plantas C3 e C4, por exemplo. Outro fator que pode ser considerado é a concentração de CO2 e oxigênio (O2) no solo, que apresenta maior concentração de CO2 e deficiência de O2 em solos encharcados, por exemplo. Determinadas espécies como Molinia caerulea são mais tolerantes à alta concentração de CO2 do que Erica tetralix no solo encharcado, podendo ter mais vantagens na competição (SILVA et al., 2007). 44UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS 2.4 Competição por nutrientes Como já vimos na Unidade I, as plantas daninhas possuem características de agressividade que permite a elas ter vantagens em relação às plantas cultivadas. Uma das vantagens é a grande capacidade de aproveitar o ambiente e obter os nutrientes essenciais para seu desenvolvimento, que muitas vezes estão em quantidades inferiores à necessidade apresentada pelas culturas agrícolas em solos brasileiros (SILVA et al., 2007). De acordo com Silva et al. (2007) a quantidade de nutrientes extraída, os teores acu- mulados na matéria seca e o tipo de espécie podem interferir na capacidade de cada planta daninha em competir por nutrientes. A planta daninha Desmodium toruosum, por exemplo, pode acumular 2,4 vezes mais fósforo por grama de massa seca em relação à soja nas mesmas condições de cultivo. A guanxuma (Bidens pilosa) é mais eficiente que o feijoeiro para utilização do fósforo do solo, podendo formar 3 vezes mais matéria seca por unidade de fósforo absorvida do solo comparada com o feijoeiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS A alelopatia é um fenômeno com função chave nos ecossistemas e agroecossiste- mas. Ela ocorre pela produção de compostos químicos (aleloquímicos ou compostos secun- dários) pelas plantas que pode ocorrer diretamente (via exsudação radicular, volatilização e decomposição de resíduos vegetais) ou indiretamente (via decomposição microbiana) para o ambiente. Esses aleloquímicos produzem efeito negativo em outras plantas como: mudanças fisiológicas na respiração, fotossíntese e absorção de íons que acarretam em alterações na germinação e na redução do desenvolvimento das plantas. Por esse motivo plantas com potencial alelopático têm sido estudadas para possivelmente serem usadas no controle alternativo de plantas daninhas (PIRES e OLIVEIRA, 2001). O que podemos notar é que a alelopatia é o inverso de competição. A competição implica na remoção de fatores do ambiente (nutrientes, luz, água), enquanto a alelopatia se refere a introdução de substâncias químicas no ambiente pelas plantas. No entanto, esses dois fenômenos podem ocorrer simultaneamente, se caracterizando como interferência (PI- RES e OLIVEIRA, 2001). 3.1 Compostos aleloquímicos De acordo com Carvalho (2013) os compostos secundários produzidos pelas plan- tas não possuem apenas a função de inibir outras plantas. Os compostos aleloquímicos ou alelopáticos possuem funções ecológicas: a proteção contra herbívoros e patógenos, a atração de agentes polinizadores e dispersores, e a relação planta-planta que é importante na sucessão das espécies. Por exemplo, alguns compostos são produzidos nas flores para atuar como atrativo para agentes polinizadores, fornecendo a cor e o odor das mesmas. Outros compostos atuam como repelente, apresentam toxicidade para animais e insetos. Os principais compostos secundários com ação aleloquímica formados pelas plan- . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 ALELOPATIATÓPICO 45 46UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS tas são divididos em 3 grupos de acordo com Carvalho (2013): ● Terpenos: compostos variados que podem atuar como inseticidas (Ex: limoneno, mir- ceno, esteróides e saponinas), como repelentes ou atrativos (Ex: óleos essenciais e lactonas) e como compostos tóxicos (Ex: saponinas e resinas); ● Compostos fenólicos: Alguns pode atuar como inseticidas (Ex: fitoalexinas, rote- noides e isoflavonoides), como atrativos (Ex: antocianinas) e como repelentes (Ex: taninos); ● Compostos nitrogenados: Alguns podem ser tóxicos (Ex: nicotina, morfina, cocaína, glucosídeos cianogênicos e glucosinolatos). 3.2 Uso da alelopatia para manejo de plantas daninhas A alelopatia pode ser usada no manejo ou controle de plantas daninhas, por exem- plo, na rotação ou sucessão de culturas, no uso de palhada de cobertura (cobertura morta) e na entressafra (cobertura viva) (CARVALHO, 2013). Culturas como alfafa, centeio, crotalária, girassol, sorgo, trigo, mucuna, ervilhaca, fei- jão-de-porco, milheto, capim-braquiária, entre outras, produzem compostos aleloquímicos e podem ser usadas em situações de manejo para a inibição ou redução do crescimento das plantas daninhas. No entanto, é bom se atentar à susceptibilidadeda própria cultura a ser introduzida na área seguida, pois ela pode ser afetada pela cobertura antecedente (CARVALHO, 2013). 3.3 Alelopatia como base para desenvolvimento de novos herbicidas Segundo Barroso e Murata (2021) alguns compostos alelopáticos produzidos pelas plantas que apresentam fitotoxidade podem ser a base de novos herbicidas. Com algumas modificações químicas realizadas se necessário, esses compostos podem ser utilizados para fabricação de novos herbicidas, que podem auxiliar no manejo efetivo e integrado da produção agrícola. A bioprospecção é a descoberta de novos aleloquímicos. Para o isolamento desses compostos o método de isolamento bioguiado (biodirigido) pode ser utilizado para a pesquisa de novos compostos fitoquímicos. Através desse método, é possível determinar as frações que possuem maior atividade biológica. Depois de identificada a fração mais ativa, ela pode ser fracionada novamente para posterior purificação e identificação dos compostos presentes (BARROSO e MURATA, 2021). Bioensaios são realizados após a bioprospecção, no qual são visualizadas respostas biológicas que direcionam as próximas fases: extração, fracionamento, purificação e identificação dos compostos como mostrado na FIGURA 15. 47UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS FIGURA 15 - ESQUEMA QUE REPRESENTA AS ETAPAS DO ISOLAMENTO BIODIRIGIDO DE COMPOSTOS ALELOQUÍMICOS DAS PLANTAS Fonte: Barroso e Murata (2021, p. 118). 3.2 Mecanismos e modo de ação dos aleloquímicos A ação dos aleloquímicos é basicamente baseada na interferência nas atividades vitais das plantas, dentre elas, a respiração, fotossíntese, síntese de proteínas, assimilação de nutrientes e atividade enzimática e as principais são descritos a seguir de acordo com Pires e Oliveira (2001). ● Regulação de crescimento: ○ Divisão celular: Compostos inibidores podem atuar na divisão celular causando diminuição da mesma e alongamento celular. ○ Síntese orgânica: Diversos compostos fenólicos podem modificar a biosíntese orgânica de compostos importantes. ○ Interações com hormônios: Aleloquímicos podem interferir no balanço hormo- nal responsável pelo crescimento vegetal. ○ Efeitos na atividade de enzimas: Compostos secundários, como os compostos fenólicos podem interferir na síntese e função de enzimas. ● Metabolismo respiratório: Alguns compostos, como os monoterpenos, podem causar alteração na taxa respiratória de algumas plantas. Compostos como flavonóides podem interferir na produção de a ATP e quinonas podem inibir a absorção de O2. ● Fotossíntese e processos relacionados: ○ Efeito na fotossíntese: Compostos alelopáticos podem reduzir a taxa fotossintética líquida. Exemplo desse efeito é causado pelo composto escopoletina comprovadamente em plantas de tabaco (Nicotiana tabacum), 48UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS girassol (Helianthus annus) e caruru (Amaranthus reflexus). ○ Resposta estomática: Compostos podem causar fechamento de estômatos e limitar a disponibilidade de CO2. ○ Conteúdo de clorofila: Compostos podem causar clorose em plantas e diminuir a clorofila das folhas e consequentemente o peso seco das plantas. Exemplos de compostos com essa ação: Ácido ferúlico, ácido p-cumárico e ácido vanílico. ● Absorção de nutrientes e processos associados: ○ Absorção de íons e conteúdo mineral: alguns compostos podem inibir o pro- cesso de absorção de íons pelas plantas. Exemplos de compostos com esse efeito: ácido cinâmico, ácido benzóico, hidroquinonas e floretina. ○ Efeito nas membranas: A seletividade da membrana pode ser afetada por compostos alelopáticos, consequentemente interferindo na absorção dos íons. Exemplos de compostos com esse efeito: ácido cinâmico, ácido benzóico. ○ Efeito na relação hídrica da planta: A redução do potencial água nas folhas pode ser causada por compostos como: ácido p-cumárico e ácido felúrico. A redução do crescimento, causada pela interrupção do fluxo de água na planta, também pode ocorrer por efeito de compostos alelopáticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS O grau de interferência é determinado pelo período de convivência das plantas daninhas com as culturas agrícolas. Basicamente, o grau de interferência é intensificado pelo aumento do tempo de convivência múltipla (culturas e plantas daninhas). O grau de interferência depende de múltiplos fatores: comunidade infestante (composição, densidade e distribuição de espécies), a cultura de interesse (espécie, variedade, espaçamento e densidade de plantio), época em que ocorre e extensão da convivência entre as plantas e tudo isso pode ser alterado dependendo das condições de solo, clima e manejo (PITELLI, 1985; SILVA et al., 2007) (FIGURA 16). FIGURA 16 - MODELO ESQUEMÁTICO MOSTRANDO OS FATORES QUE INTERFEREM NO GRAU DE INTERFERÊNCIA ENTRE A CULTURA AGRÍCOLA E AS PLANTAS DANINHAS (COMU- NIDADE INFESTANTE) Fonte: Adaptado de: Pitelli e Durigan (1984). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 INTERFERÊNCIA E PERÍODO CRÍTICO DE CONVIVÊNCIA TÓPICO 49 50UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS O manejo realizado em plantas daninhas visa a diminuir a intensidade de interfe- rência na produtividade das plantas cultivadas, favorecendo o aproveitamento de recursos pela planta cultivada. Porém, uma infestação moderada pode causar danos à produtividade da cultura até mesmo maiores do que uma infestação pesada, devido a fatores como a épo- ca do estabelecimento da infestação. Dessa forma, é necessário o conhecimento da época ideal de controle das plantas daninhas em cada cultura agrícola com o objetivo de evitar a diminuição da produtividade e não prejudicar danos ao ambiente (SILVA et al., 2001). Nesse contexto, Pitelli e Durigan (1984) sugeriram três períodos de interferência para auxílio da decisão da época de controle das plantas daninhas: período anterior à interferência (PAI), período total de prevenção à interferência (PTPI) e período crítico de prevenção à interferência (PCPI). Esses termos são descritos a seguir de acordo com Silva et al. (2007) e Carvalho (2013): 4.1 Período total de prevenção da interferência (PTPI) Período em que a cultura deve ser mantida livre de plantas daninhas logo após o plantio ou emergência para que a qualidade e quantidade da produção não seja prejudi- cada. As plantas daninhas que emergem nesse período, dependendo do ciclo da cultura, podem causar interferência significativa, por isso esse período deve ser de capinas ou de ação residual dos herbicidas. As plantas cultivadas após esse período já podem sombrear as plantas daninhas e impedir o desenvolvimento das mesmas. 4.2 Período anterior à interferência (PAI) É o período após a semeadura ou plantio (início do ciclo) em que a convivência ainda não causa interferência. Nesse período, os recursos disponíveis no ambiente são suficien- tes para suprir as plantas daninhas e cultivadas. Quando ocorre o limite superior desse pe- ríodo, podemos dizer que a interferência compromete de forma irreversível a produtividade econômica da cultura. Teoricamente nesseperíodo, as plantas daninhas não precisam ser controladas, porque a interferência ainda não foi estabelecida. No entanto, se existirem plantas de difícil controle que estejam em fase reprodutiva pode ocorrer aumento do banco de propágulos e possíveis problemas de manejo causando interferência mais intensa posteriormente. Algumas práticas podem contribuir para a diminuição do PAI, como por exemplo, a fertilização, que pode incrementar o crescimento inicial das plantas daninhas e cultivadas, isso pode antecipar a competição por outros recursos do ambiente. 4.3 Período crítico de prevenção da interferência (PCPI) É o período que se inicia no final do PAI e se estende até o final do PTPI, ou seja, é o período no qual a cultura deve ser mantida livre de plantas daninhas até que essas plantas 51UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS não mais interfiram na produtividade das plantas cultivadas. Se o PAI for mais longo que o PTPI, o PCPI não vai ocorrer. Nessa situação é neces- sário apenas um controle entre o final do PTPI e o final do PAI para prevenir a cultura da interferência. Na literatura, existem diversas pesquisas que determinaram os efeitos da interferên- cia de plantas daninhas em diferentes espécies cultivadas. Os períodos PTPI, PAI e PCPI são determinados em dias após a semeadura, podendo variar de uma pesquisa para a outra devido às cultivares utilizadas e a composição específica da comunidade infestante. 52UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS Toda e qualquer prática cultural que incrementa o crescimento inicial da cultura pode contribuir para um decréscimo no período total de prevenção da interferência, permitindo menos cultivos ou uso de herbicidas de melhor efeito residual. Fonte: Barroso e Murata (2021, p.110). A competição das espécies Ipomoea grandifolia, Euphorbia heterophylla e Urochloa plantaginea com a cul- tura da soja afeta negativamente a morfologia e fisiologia da cultura. A área foliar, matéria seca de folhas e taxa líquida de assimilação de CO2 são os principais fatores que explicam o processo competitivo. A planta I. grandifolia compete com a soja principalmente por radiação solar, sendo o fator mais crítico para esta espécie. O nível crítico de dano (NCD - porcentagem de perda de rendimento causada pela presença de uma única planta daninha por m2) é de 54% para I. grandifolia, 29% para U. plantaginea e 26% para E. heterophylla. O número de vagens por planta de soja, que está diretamente relacionado com a perda de produtividade, é um dos fatores mais afetados pela competição com as plantas daninhas. Dentre os nutrientes minerais no tecido foliar da soja, os níveis de nitrogênio são os que mais diminuem com a interferência causada pela competição das plantas daninhas. Fonte: SALOMÃO, H. M. Competição de espécies daninhas com a cultura da soja: determinação do nível de dano e de parâmetros fisiológicos e bioquímicos associados. Dissertação de mestrado. Pato Branco, 2021. UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Bom, chegamos ao fim de mais uma unidade de aprendizado! Agora chegou a hora de você revisar o conteúdo e pesquisar mais sobre os assuntos tratados aqui. Nesta unidade nós vimos muitos exemplos de plantas daninhas e aprendemos que a classificação delas é baseada em grupos que apresentam características semelhantes, seja morfológica, ciclo de vida, hábito de crescimento ou habitat. Esse conhecimento será importante na hora de determinarmos os métodos de controle, pois grupos semelhantes podem ser controlados usando métodos semelhantes de controle. Estudando a competição entre as plantas daninhas e plantas cultivadas, vimos que as daninhas geralmente possuem vantagem competitiva sobre as cultivadas. Porém, a competição entre elas só ocorre quando ao menos um recurso estiver limitado no meio. O manejo ideal das plantas daninhas nas culturas agrícolas depende do conhecimento apro- fundado do profissional quanto à cultura e as plantas infestantes. Quanto ao tema alelopatia, aprendemos que ela pode ser usada a nosso favor no controle ou inibição das plantas daninhas, por exemplo, na rotação ou sucessão de culturas, no uso de cobertura morta e na entressafra. Além disso, os compostos alelopáticos produzidos pelas plantas estão sendo cada vez mais estudados para o desenvolvimento de novos herbicidas, que são muito necessários atualmente, já que existe uma vasta gama de espécies daninhas com resistência aos herbicidas tradicionais. Por fim, nosso estudo sobre o grau de interferência das espécies daninhas nos mostrou que o grau de interferência depende de múltiplos fatores, como a comunidade infestante, o tipo de cultura agrícola e a época em que ocorre a convivência entre as plantas, além disso esses fatores podem ser alterados dependendo das condições de solo, clima e manejo. Espero que você tenha gostado de aprender mais sobre esses assuntos! Espero você na próxima unidade! 53 UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS LEITURA COMPLEMENTAR Períodos de interferência de plantas infestantes na cultura da mandioca, submetida ou não à adubação NPK, em Vitória da Conquista-Ba No trabalho em questão os autores avaliaram o levantamento fitossociológico e de- terminaram os períodos críticos de competição com a cultura da mandioca, submetida ou não à adubação NPK. Para tanto, as plantas infestantes foram colhidas a cada 35 dias, até os 525 dias após a plantação da mandioca, por meio do lançamento aleatório de um quadrado de ferro vazado de 0,5 x 0,5 m (0,25 m2) na área útil das parcelas com e sem adubação. As plantas no interior do quadrado foram cortadas rente ao solo, contadas e identificadas por espécie. Os dados de produtividade de raízes tuberosas foram utilizados para determinar os períodos críticos de competição: período anterior à interferência (PAI), período total de prevenção à interferência PTPI e período crítico de prevenção à interferên- cia (PCPI). O conhecimento dos períodos críticos indica a época mais conveniente para a apli- cação das práticas de controle, sejam elas mecânicas ou químicas. Muitas variações entre resultados nas diferentes regiões acontecem devido às diferenças ambientais, às varieda- des, aos espaçamentos entre as plantas de mandioca e às composições específicas das comunidades (BIFFE et al., 2010). Para o manejo adequado das plantas infestantes é necessária a identificação das espécies presentes na área de cultivo, assim como o conhecimento daquelas que têm maior importância (OLIVEIRA e FREITAS, 2008). Através do levantamento fitossociológico, é possível avaliar a composição da vegetação, obtendo dados de frequência, densidade, abundância e índice de importância relativa das espécies. Tais informações, juntamente com os dados de produtividade das raízes permitem determinar os períodos críticos de competição entre plantas daninhas e a cultura da mandioca e apontar o momento ideal para aplicação dos métodos de controle, deste modo racionalizando os custos de produção e reduzindo o impacto ambiental na cultura de mandioca (ISAAC e GUIMARÃES, 2008; GUGLIERI et al., 2009). Os autores deste estudo realizaram 14 datas de avaliação e encontraram 11.671 espécies de plantas infestantes, sendo 5.674 indivíduos na área adubada e 5.997 na área sem adubação. As plantas pertencem a 51 espécies, distribuídas em 36 gêneros e 15 fa- mílias. As principais famílias em número de espécies foram Malvaceae (14), Asteraceae e Poaceae (ambas com 8). As espécies que apresentaram os maiores índices de valor de importância nos dois experimentos foram Sida rhombifolia, Cynodon dactylon e Brachiaria plantaginea. 54 UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS No tratamento com adubação foram identificadas 45 espécies de plantas daninhas,das quais foram destacadas 10 espécies que somam 90,6% do número de indivíduos e representam 69,2% do índice de valor de importância do trabalho. A espécie Sida rhombifolia esteve presente em todas as épocas de avaliação e apresentou os maiores índices fitossociológicos, seguida pelas poáceas Brachiaria plantaginea e Cynodon dactylon. No tratamento sem adubação foram identificadas 46 espécies de plantas daninhas, sendo que as 10 principais somam 89,7% do número de indivíduos e representam 68,2% do índice de valor de importância do trabalho. A espécie S. rhombifolia, também presente em todas as épocas de avaliação, apresentou os maiores índices fitossociológicos, seguida pelas poáceas C. dactylon e B. plantaginea. Quanto ao efeito da adubação em S. rhombifolia, houve uma redução de 27,8% no número de indivíduos dessa espécie comparado ao tratamento sem adubação. Ao avaliar a produtividade de raízes tuberosas em área sem adubação, constatou-se um PAI de 36 DAP (dias após plantio), PTPI de 173 DAP e PCPI de 36 a 173 DAP. Na área adubada os valores obtidos foram: PAI: 17 DAP; PTPI: 305 DAP, resultados bem diferentes dos encontrados na área não adubada. A utilização da adubação influenciou o aumento da produtividade das raízes tuberosas de 10,5% e contribuiu para uma melhor colonização das espécies infestantes. Apesar da diversidade de espécies e dos seus diferentes comportamentos em relação à adubação, verificou-se maior biomassa fresca de espécies infestantes nas parcelas adubadas, uma vez que essas plantas apresentaram maior eficiência na utilização dos recursos do meio. Como consequência, houve um maior período de permanência das infestantes em competição com a cultura da mandioca, o que contribuiu para a determinação dos períodos críticos citados. Fonte: SOARES, M. R. S. et al. Períodos de interferência de plantas infestantes na cultura da mandioca, submetida ou não à adubação NPK, em Vitória da Conquista-Ba. Revista de Ciências Agrárias, 2019, 42(1): 237-247. 55 UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Tópicos em manejo de plantas daninhas Autor: Silva e Silva (2007). Editora: Ufv. Sinopse: O livro apresenta informações completas sobre bio- logia, métodos de controle, resistência, mecanismo de ação, absorção, translocação, comportamento no solo e tecnologia de aplicação de herbicidas. A obra apresenta conteúdo sobre manejo de ambientes contaminados por herbicidas e também trata sobre a tecnologia de aplicação de herbicidas. FILME/VÍDEO Título: Competição entre plantas daninhas e plantas cultivadas Ano: 2020. Sinopse: O vídeo auxilia no entendimento dos conceitos de PAI, PCPI e PTPI com gráficos e exemplos.. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=XFidFNhSX- -U WEB A página apresenta um texto sobre as plantas daninhas e a competição com a cultura da soja. Os autores relatam que o uso continuado dos mesmos herbicidas pode selecionar bióti- pos resistentes. Link do site: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja/2021/09/01/plan- tas-daninhas-e-a-competicao-com-a-soja/ 56 https://www.youtube.com/watch?v=XFidFNhSX-U https://www.youtube.com/watch?v=XFidFNhSX-U https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja/2021/09/01/plantas-daninhas-e-a-competicao-com-a-soja/ https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja/2021/09/01/plantas-daninhas-e-a-competicao-com-a-soja/ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • • Controle preventivo e cultural; • • Controle mecânico e físico; • • Controle biológico e químico; • • Manejo integrado de plantas daninhas. Objetivos da Aprendizagem • • Conceituar e contextualizar os controles preventivo e cultural de plantas daninhas; • • Compreender os tipos de controle mecânico e físico de plantas daninhas; • • Definir o controle biológico e o controle químico de plantas daninhas; • • Entender conforme o contexto sobre manejo integrado das plantas daninhas. 3UNIDADEUNIDADE MÉTODOS DE MÉTODOS DE CONTROLE DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHASPLANTAS DANINHAS Professor Dr. Jonas Marcelo Jaski UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS INTRODUÇÃO Olá Aluno (a)! Que ótimo ter você aqui de novo para aprender mais sobre as plan- tas daninhas e seus respectivos métodos de controle. Espero que esteja animado (a) para aprender os métodos de controle das plantas daninhas! Nessa unidade começaremos tratando sobre o controle preventivo e cultural de plan- tas daninhas. Dessa forma, vamos estudar a prevenção e erradicação, relacionando essa técnica à legislação vigente no Brasil sobre as pragas quarentenárias ausentes e presen- tes. Trataremos sobre o controle cultural, que está relacionado à rotação de culturas, co- bertura do solo, seleção de genótipos e também ao espaçamento, densidade e época de plantio ou semeadura. No tópico dois da unidade aprenderemos mais sobre o controle mecânico e físico de plantas daninhas. Os métodos mecânicos envolvem a monda, a capina e a roçada. O controle físico envolve a solarização, inundação, controle térmico, cobertura morta, eletrici- dade e fogo. No tópico três, compreenderemos o controle biológico e o controle químico das plan- tas daninhas. O controle biológico está relacionado às estratégias inundativas, aumentati- vas e clássicas para manter um agente de controle das plantas daninhas. Quanto ao con- trole químico, trataremos principalmente sobre as vantagens e desvantagens do mesmo. O tópico quatro está voltado para o manejo integrado de plantas daninhas (MIPD), sendo esse definido como uso integrado de dois ou mais métodos para o controle de plan- tas daninhas. Assim, o MIPD é considerado como a principal ferramenta para redução do impacto ambiental dos herbicidas, baseando-se na integração de métodos de controle. Desejo a você, ótimos estudos! 58 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 CONTROLE PREVENTIVO E CULTURAL TÓPICO 1.1 Prevenção e erradicação As medidas preventivas são aquelas que impedem ou minimizam a introdução e a disseminação de plantas daninhas em determinada área. Em alguns casos, podem estar ligadas a atitudes institucionais ou governamentais. A área ou local pode ser considerada uma propriedade, uma gleba, um município, um estado ou mesmo um País (ALBRECHT et al., 2021). Existe uma legislação no País e também nos Estados que regulamenta a entrada e a comercialização de sementes. Essa legislação apresenta alista de sementes de plantas daninhas que são proibidas para algumas culturas, bem como o limite que é tolerável (SIL- VA et al., 2007). Mesmo o País possuindo legislações, algumas espécies de plantas daninhas que agora são problema foram introduzidas de outros países, como Cyperus rotondus, Cyno- don dactylon, Urochloa decumbens, dentre outras. Dessa forma, é possível perceber que a falha que se teve na adoção de métodos preventivos para conter espécies que hoje causam grandes prejuízos no País (ALBRECHT et al., 2021). Podemos dizer que as medidas preventivas estão associadas a regulamentação nor- mativa, pois o cumprimento da lei e a fiscalização fazem com que se utilize de forma efetiva medidas preventivas de controle. No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci- mento (MAPA) é responsável pelas normatizações com objetivo de controle oficial de certas plantas daninhas (ALBRECHT et al., 2021). De acordo com a Instrução Normativa n. 45, de 22 de agosto de 2018 (BRASIL, 2018) as pragas são regulamentadas como pragas quarentenárias ausentes, presentes e não quarentenárias regulamentadas: ● Praga Quarentenária Ausente (PQA): praga de importância econômica potencial 59 60UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS para uma área em perigo, que não esteja presente no território nacional. Ex: Sonchus arvensis (FIGURA 1 A), Striga spp., Rumex hypogaeus, Urochloa glumaris (Brachiaria paspaloides) e Euphorbia esula (FIGURA 1 B); FIGURA 1 - A) SONCHUS ARVENSIS, POPULARMENTE CHAMADA DE CERRAGEM OU CAR- DINCHA. B) EUPHORBIA ESULA, PLANTA DA FAMÍLIA EUPHORBIACEAE ● Praga Quarentenária Presente (PQP): praga de importância econômica potencial para uma área em perigo, presente no País, porém não amplamente distribuída e que se encontra sob controle oficial. Ex: Amaranthus palmeri em Algodão, Soja e Milho no Estado do Mato Grosso; ● Praga Não Quarentenária Regulamentada (PNQR): Praga não-quarentenária cuja presença em plantas para plantar, afeta o uso proposto dessas plantas, com impacto econômico inaceitável e que esteja regulamentada dentro do território da parte con- tratante importadora. A utilização de sementes e de mudas não certificadas é uma das principais formas de introdução e de disseminação de plantas daninhas. Dessa forma, a Instrução Normativa n° 46, de 24 de setembro de 2013 (BRASIL, 2013), trata sobre as espécies de sementes nocivas toleradas e proibidas na produção, na comercialização e no transporte de semen- tes nacionais e importadas. Dentre as sementes nocivas toleradas de acordo com a Normativa, estão: Acan- thospermum australe, Amaranthus spp., Ambrosia artemisiifolia, Artemisia vulgaris, Avena barbata, Bidens pilosa, Urochloa plantaginea, Conyza bonariensis, Euphorbia heterophylla, Polygonum arenastrum, Raphanus raphanistrum, Rumex spp. e Senna obtusifolia. As sementes nocivas proibidas são: Cuscuta spp., Cyperus rotundus; Eragrotis plana; Hippobroma longiflora, Rottboelia exaltata, Rumex acetosella, Sorghum halepense e Wedelia glauca. Para não introduzir e não disseminar as plantas daninhas, é imprescindível a garan- 61UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS tia da qualidade das sementes, por isso é necessário utilizar sementes certificadas. Dessa forma, o combate de sementes sem certificação (piratas) evita futuros problemas de disse- minação e introdução de plantas daninhas (ALBRECHT et al., 2021). No entanto, além das medidas preventivas legais, é importante utilizar outras práti- cas descritas a seguir, de acordo com Albrecht et al. (2021): ● Limpar os equipamentos de preparo de solo e as colhedoras: implementos/equi- pamentos utilizados em locais infestados com plantas daninhas devem ser limpos após o uso para evitar a disseminação de sementes e de propágulos para outras áreas de cultivo. ● Utilizar esterco fermentado (compostagem): a fermentação completa pela ação de microrganismos e da temperatura é necessária para interferir na viabilidade das sementes e de outros propágulos de plantas daninhas. Isso ocorre porque a simples passagem das sementes pelo trato digestivo dos animais não garante a perda da sua viabilidade. ● Manter livre de plantas daninhas os canais de irrigação e outras áreas próximas à propriedade: Sempre deve-se limpar ou eliminar plantas daninhas no entorno de estradas e carreadores. ● Controle na entressafra: usada para diminuir o recarregamento do banco de semen- tes do solo. ● Sistema adequado de rotação de culturas: prática importante que será tratada nos próximos tópicos. 1.2 Controle cultural É feito pela utilização de práticas de manejo adequado da água e do solo. Com o uso dessas práticas, é possível reduzir o banco de sementes das espécies daninhas e melhorar o estabelecimento das culturas agrícolas (SILVA et al., 2007). O melhor controle para as plantas daninhas pode ser considerado o manejo da pró- pria cultura. Mas como a própria cultura pode ser considerada o melhor método de con- trole das plantas daninhas? Para isso, a cultura deve fechar a entrelinha “no limpo”, sem daninhas, ou com baixa pressão/infestação. E essa condição só é possível quando damos condições competitivas para a cultura. Nesse sentido, o principal foco é fornecer os fatores de produção em termos ecofisiológicos para a cultura e dessa forma diminuir o estresse sobre ela, para favorecer o seu desenvolvimento pleno. Não esquecendo de eliminar ou suprimir as plantas daninhas previamente existentes na área (ALBRECHT L. e ALBRECHT A., 2020). A seguir são descritas as principais práticas utilizadas no controle cultural de plantas daninhas de acordo com Albrecht et al. (2021) e Silva et al. (2007): 1.2.1 Rotação de culturas 62UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS As espécies daninhas geralmente possuem exigências semelhantes ou apresentam o mesmo hábito de crescimento das culturas que são infestadas. Como exemplo, temos o capim-arroz (Echinochloa sp.) que infesta lavouras de arroz; a mostarda em lavouras de trigo; o caruru-rasteiro (Amaranthus deflexus) na cana-de-açúcar. A rotação de culturas é necessária para diminuir a infestação das plantas daninhas porque a mesma área cultivada com uma única cultura por vários anos seguidos, demanda os mesmos manejos culturais, causando um aumento considerável de problemas com plan- tas daninhas. O aumento da infestação ocorre tanto pela simplificação do sistema quanto pela pressão de seleção contínua com o uso dos mesmos herbicidas. Quando se usa a rotação de culturas, com diferentes espécies na mesma área, o sistema fica mais complexo e a flora cultivada e de plantas daninhas muda com o tempo. Dessa forma, é possível realizar a rotação de mecanismos de ação, utilizando diferentes tipos de herbicidas. A rotação de culturas pode ser uma solução simples para algumas plantas daninhas. Por exemplo, a infestação de maria-pretinha (Solanum americanum) (FIGURA 2A) e joá-de- -capote (Nicandra physaloides) (FIGURA 2B) em tomate e batata. Nesse caso o tratamento com herbicida metribuzin é eficiente e a rotação com outra cultura quebra o ciclo de vida da planta daninha e impede seu domínio na área. FIGURA 2 - A) PLANTA MARIA-PRETINHA (SOLANUM AMERICANUM). B) PLANTA JOÁ-DE- -CAPOTE (NICANDRA PHYSALOIDES) É importante escolher uma cultura que apresenta diferentes características culturais e hábitos de crescimento distintos da cultura anterior implantada na área. Além disso, a efetividade da rotação de culturas é aumentada com o uso de culturas competitivas, com potenciais alelopáticas e que forneçam boa cobertura de solo, entre outras características favoráveis ao sistema. 1.2.2 Espaçamento, densidade e época de plantio ou semeadura Deve-se escolher a espécie cultivada baseado na sua morfologia e fisiologia. Tam- bém é necessário observar as espécies de plantas daninhas presentes na área e seus comportamentos climáticos e o clima daregião. 63UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS A utilização de um espaçamento entrelinhas de menor e maior densidade popu- lacional contribui para a redução da interferência das plantas daninhas na cultura. Com isso, se aumenta o potencial competitivo da cultura e ocorre maior sombreamento no solo, dificultando a emergência e a sobrevivência das plantas daninhas (que são sensíveis ao sombreamento). Da mesma forma, a semeadura realizada no período correto melhora a competiti- vidade da cultura, fazendo com que ela tenha melhor desenvolvimento. Também existe a possibilidade de antecipação da semeadura, ante a emergência das plantas daninhas, que pode favorecer o estabelecimento da cultura e sombreamento das plantas daninhas. 1.2.3 Seleção de genótipos A escolha de cultivares deve ser adequada de acordo com a região, deve apresen- tar produção rápida de novos ramos e maior densidade foliar. As cultivares de ciclos mais precoces podem fechar entrelinhas mais rapidamente, sombreando o solo e diminuindo a emergência das plantas daninhas. As variedades transgênicas são exemplos de espécies que podem apresentar maior potencial de desenvolvimento e além disso, podem ser tolerantes a herbicidas. Dessa for- ma, é possível associar o controle cultural (com aspectos mais genéticos) com o controle químico. 1.2.4 Cobertura verde Nessa prática, são utilizadas culturas muito competitivas com as plantas daninhas, como por exemplo: tremoço, azevém anual, crotalária, guandu, nabo, ervilhaca, feijão-de- -porco, centeio e aveia. Deve-se escolher a cobertura de acordo com as condições climáti- cas da área. O uso de cobertura verde permite melhoria da qualidade do solo e a redução do banco de sementes. No entanto, é preciso se atentar para o efeito inibitório que essas plan- tas podem oferecer, que está relacionado com a presença de compostos alelopáticos. A cobertura pode ser incorporada ou acamada ao solo, a cobertura morta cria condições para crescimento de microbiota que pode eliminar sementes dormentes das plantas daninhas por meio de deterioração e perda de viabilidade. 1.2.5 Nutrição A nutrição adequada das plantas cultivadas potencializa as suas habilidades compe- titivas e dessa forma, podem crescer mais rápido e vencer no sistema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS 2.1 Controle mecânico O método de controle mecânico é realizado por algum instrumento que arranque ou corte as plantas daninhas. Diversas práticas podem ser utilizadas dentro desse método de controle. A descrição dos tópicos a seguir é baseada em Albrecht et al. (2021) e Carvalho (2013). 2.1.1 Monda É quando se faz o arranquio ou corte manual das plantas daninhas. A monda é viável apenas para áreas muito pequenas e restritas, pois seu rendimento é muito baixo e a mão de obra é muito onerosa. 2.1.2 Capina manual É o processo de corte ou arranquio das plantas daninhas da área com alguns instru- mentos, como a enxada. Possui maior rendimento operacional comparada à monda, porém também possui alto custo. A capina manual é mais utilizada em áreas com restrição ao uso de herbicidas, bem como de forma complementar ao controle cultural. A capina manual vem sendo muito utilizada nos últimos anos, no “repasse” ou na “catação” de plantas daninhas que sobreviveram aos herbicidas, que podem apresentar populações resistentes a herbicidas. Portanto, a capina é um método adicional de controle das plantas daninhas que pode ser utilizada em cultivos que usam herbicidas. 2.1.3 Roçada manual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2CONTROLE MECÂNICO E FÍSICO TÓPICO 64 65UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS É a prática de roçada utilizando equipamentos manuais, como a foice. É bastante utilizada em pomares ou em pastagens, também em cultivos agroecológicos com o objetivo de diminuir ou retardar o crescimento das plantas daninhas, diminuindo a competição com as culturas. A roçada manual é viável nas áreas em que não é possível realizar a roçada mecâ- nica, devido principalmente à declividade do terreno ou da dificuldade de entrada de má- quinas na área. 2.1.4 Métodos mecânicos As práticas mecânicas podem ser divididas conforme o ciclo da cultura em: ● Primário: práticas de aração, escarificação, entre outras que são utilizadas para operação inicial de preparo de solo, antes do plantio da cultura. ● Secundário: preparo inicial do solo com grade. ● Seletivo: prática realizada por meio de cultivadores, enxadas rotativas e grades le- ves para eliminação das plantas daninhas, depois do plantio, após a emergência da cultura e das plantas daninhas. O ideal é utilizar o método seletivo quando as plantas estão em estágio inicial de de- senvolvimento (plântulas). Em culturas perenes como o café, citros, eucaliptos, pinus, fru- tíferas, entre outras, a roçadeira é utilizada. Existe também a amontoa (feita no amendoim, por exemplo), que pode trazer como benefício secundário o controle de plantas daninhas. A semelhança da planta daninha com a cultura, a germinação da planta daninha, o espaçamento da cultura, a presença de plantas daninhas perenes e o banco de sementes são fatores que interferem diretamente no sucesso do controle mecânico. As desvantagens dessas práticas podem ser: a compactação de solo logo abaixo da superfície movimentada, aumento da erosão, aumento da evaporação diminuindo a umida- de do solo, quebra de dormência de sementes e outros órgãos de propagação vegetativa. O controle mecânico na atualidade vem ganhando espaço em função da perda de eficiência do controle químico, principalmente pelo aumento de espécies daninhas com resistência aos herbicidas. No entanto, os benefícios são muito questionáveis em alguns casos. Por exemplo, o revolvimento do solo com uma boa mecanização pode eliminar as plantas daninhas adultas e permitir o bom uso de um herbicida pré-emergente, porém, o sistema pode ser prejudicado, em função da perda de cobertura de solo e possíveis ero- sões, além da perda de matéria orgânica. A roçada complementar ao controle químico, no entanto, vem sendo favorável. Por exemplo, a roçada (controle mecânico) do capim-amargoso (Digitaria insularis) favorece o esgotamento de reservas do rizoma e a rebrota é controlada por herbicidas (controle quí- mico). Dessa forma é possível observar a nítida intersecção necessária entre os controles dentro no MIPD (Manejo Integrado de Plantas Daninhas). 66UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS 2.2 Controle físico Método em que o controle das plantas daninhas é feito a partir de práticas que exer- çam a influência física sobre as plantas daninhas. As práticas principais do controle físico são descritas de acordo com Albrecht et al. (2021) e Carvalho (2013): 2.2.1 Inundação A água é utilizada para controle de plantas daninhas terrestres. Um exemplo é o con- trole do arroz-vermelho no arroz irrigado. Entretanto, são necessários grande quantidade de água e cuidados especiais em áreas novas para este manejo. FIGURA 3 - MANEJO DA ÁGUA EM ARROZ IRRIGADO 2.2.2 Controle térmico Altas temperaturas são utilizadas em ambientes aquáticos para o controle de plantas daninhas, utilizado principalmente em reservatórios de água. Não é uma prática muito co- mum, no entanto, quando utilizadaem conjunto com o controle mecânico em reservatórios de água, pode ser eficiente. No Brasil, foi testada e foi eficiente para o controle de aguapé (Eichornia crassipes), salvínia (Salvinia auriculata). tanner-grass (Urochloa subquadripara) e alface-d’água (Pistia stratiotes). 2.2.3 Solarização É uma prática que consiste na cobertura do solo com filme de polietileno, causando o aumento da temperatura, que juntamente com a umidade poderá fazer com que o banco de sementes de plantas daninhas germine, e após isso a alta temperatura acabará matando as plântulas (FIGURA 4). É uma prática que deve ser realizada nos meses mais quentes do ano. 67UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS FIGURA 4 - ÁREA COM FILME DE POLIETILENO. PROCESSO DE SOLARIZAÇÃO DO SOLO Este controle é oneroso, tornando-se inviável em grandes propriedades, porém em pequenas produções de hortaliças e na produção de mudas é muito utilizado, apresentan- do alta eficiência em até 5 cm de profundidade do solo. Em áreas com alta infestação de tiririca (Cyperus spp.), às plantas, ao emergirem, podem furar o filme, causando prejuízos ao agricultor, por isso nesse caso a solarização não é recomendada. 2.2.4 Cobertura morta É uma técnica associada ao controle cultural. Consiste na cobertura do solo com restos vegetais, podendo ser utilizados diversos materiais. O plantio direto é um exemplo, em que se mantêm os restos culturais sobre o solo, formando uma cobertura (FIGURA 5). FIGURA 5 - ÁREA DE PLANTIO DIRETO COM COBERTURA MORTA NO CULTIVO DE SOJA 68UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS A cobertura apresenta três principais efeitos sobre as plantas daninhas: ● Físico: as sementes fotoblásticas positivas não germinam pelo impedimento físico da passagem de luz para o solo. As sementes que não necessitam de luz germinar terão maior dificuldade para romper a camada protetora. ● Microbiológico: Altera as condições do solo, melhorando as condições da biologia do solo, que pode causar a deterioração de algumas sementes de plantas daninhas. ● Alelopático: Compostos alelopáticos podem ser liberados durante a decomposição dos restos vegetais, causando a supressão do crescimento ou controlando as plan- tas daninhas. 2.2.5 Eletricidade (eletrocussão) Descargas elétricas provenientes de um equipamento, manual ou tracionada por trator, eletrocuta as plantas daninhas pelo contato direto dos eletrodos aplicadores com a planta. Uma descarga elétrica de alta tensão, que varia de 5.000 até 15.000 volts, é aplica- da através desse contato. A morte da planta daninha ocorre pela temperatura e pela disso- ciação molecular por eletrólise da descarga elétrica. 2.2.6 Fogo Processo de queima da vegetação. É um manejo bastante antigo, podendo ser rea- lizado nas plantas daninhas ainda jovens ou em vegetação morta. No Brasil, foi muito uti- lizado no passado em vegetações jovens, antes da colonização pelos indígenas, e depois na cultura do algodão. Atualmente não se utiliza mais essa técnica devido ao surgimento de herbicidas seletivos. Foi muito utilizado em canaviais, em que a queimada era realizada para facilitar a colheita manual e ao mesmo tempo, controlava as plantas daninhas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 CONTROLE BIOLÓGICO E QUÍMICO TÓPICO 3.1 Controle biológico O controle biológico ocorre pela ação de parasitas, predadores ou patógenos, com a finalidade de manter a população do outro organismo a uma densidade menor do que ocorreria em sua ausência. O controle biológico das plantas daninhas na prática ainda é incipiente, principalmente devido a suas especificidades e complexidade (ALBRECHT et al., 2021). O controle biológico das plantas daninhas pode ser utilizado como ferramenta do manejo integrado de plantas daninhas com o objetivo de reduzir populações em níveis de dano econômico pela mitigação do problema. Os tópicos a seguir serão descritos baseados em Carvalho (2013), Albrecht et al. (2021) e Tessmann (2011). 3.1.1 Estratégia clássica Realizada pela importação e consequente liberação de patógenos da região de ori- gem das plantas daninhas. O agente de biocontrole deve ser capaz de se estabelecer e de se autoperpetuar na nova área. Dessa forma, não é desejada a erradicação das plantas daninhas, mas sim a estabilização permanente de populações dessas espécies em níveis aceitáveis. O sucesso do estabelecimento depende da similaridade do novo ambiente com o ambiente de origem, bem como da especificidade do inimigo natural, por exemplo, artró- podes e fungos podem ser específicos. Na Índia, temos o exemplo da liberação da cochonilha-do-carmim (Dactylopius ceylo- nicus) (do Brasil) para controlar Opuntia littoralis e Opuntia oricola (espécies de cacto). Na Austrália outro exemplo, com o controle de Opuntia sp. pela importação da mariposa Cac- 69 70UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS toblastis cactorum (mariposa-do-cacto da Argentina). Nos EUA, houve o controle da Erva- -de-são-joão (Hyperium perforatum) pelo besouro Crysolina quadrigemina. 3.1.2 Estratégia inundativa (bioherbicida) Ocorre por aplicações periódicas de patógeno, semelhante a aplicações de herbi- cidas. Envolve a multiplicação massal de agentes de biocontrole, que podem ser fungos (micoherbicidas) ou bactérias. Nesse caso, não é desejado que os agentes se disseminam rapidamente e não devem causar epidemias na estação seguinte. Os agentes são específicos ao alvo, sendo assim, possuem registro, são formulados e padronizados. O ingrediente ativo do produto são os organismos vivos (esporos ou frag- mentos de micélio). Um exemplo é o micoherbicida registrado em 1942 no Canadá (Colle- totrichum gloeosporioides f. sp. malvae), sendo o primeiro produto registrado. Produtos à base de clamidósporos de Phytophthora palmivora em formulação líquida, Colletotrichum gloeosporioides f. sp. malvae para controle de Malva pusilla e Alternaria cassiae para con- trole de Senna obtusifolia são registrados nos EUA. 3.1.3 Estratégia aumentativa É uma técnica usada para inimigos naturais (fungos, geralmente) de difícil produção em larga escala e que necessita de periódico restabelecimento do agente de controle que são aplicados somente em partes das áreas em que se pretende obter controle. É uma modalidade menos utilizada. É uma estratégia pesquisada para patógenos não cultiváveis (carvões e ferrugem). Por exemplo, a ferrugem (Puccinia canaliculata) controlou efetivamente as tiriricas (Cype- rus rotundus e Cyperus esculentus) por aplicação de bioherbicida registrado nos EUA. 3.1.4 Amplo espectro Ocorre pela manipulação artificial dos inimigos naturais para o controle de plantas daninhas. Como exemplos, temos a carpa-capim (peixe herbívoro) que come vegetação aquática; aves como patos, gansos e marrecos; e animais como carneiro, bode, entre ou- tros, que fazem pastejo seletivo. 3.1.5 Vantagens do controle biológico ● Depois da introdução do o agente biológico na área, ele permanece controlando as plantas daninhas, no entanto não é o caso do controle inundativo (necessita de rea- plicação); ● Não existe toxicidade para o ambiente ou para mamíferos; ● Pode ser utilizado em de difícil acesso, como lagos e florestas, etc. 71UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DEPLANTAS DANINHAS 3.1.6 Desvantagens do controle biológico ● Depois de introduzido, não pode ser controlado o organismo biológico (para que seja atingido seu objetivo); ● Pode não haver diferenciação da planta de valor econômico da planta daninha pelo agente biológico; ● Desenvolvimento intensivo de pesquisas (custo e tempo de pesquisa) para descobrir um agente de biocontrole com especificidade; ● Controle biológico é lento e não erradica a planta daninha; ● O controle biológico de apenas uma planta daninha num ambiente agrícola que possui diversidade de populações de plantas daninhas pode se tornar inviável, havendo a necessidade de aplicação de outros métodos de controle. 3.2 Controle químico Método no qual são utilizados produtos químicos (herbicidas) para o controle das plantas daninhas. A origem dos herbicidas pode ser sintética (normalmente orgânicos), na- tural ou biológica (como aquelas derivadas de aleloquímicos). Os herbicidas agem no me- tabolismo e na fisiologia das plantas, inibindo a germinação, ou o crescimento da plântula, ou o desenvolvimento da planta adulta (ALBRECHT et al., 2021). As primeiras pesquisas com controle químico de plantas daninhas ocorreram no final do século XIX, em que foram utilizados sais de cobre para o controle de algumas eudicotile- dôneas. O sulfato ferroso foi testado no início do século XX no controle de plantas daninhas em trigo. No entanto, somente durante a Segunda Guerra Mundial o interesse em produzir herbicidas cresceu, primeiramente para desfolhar florestas. O 2,4-D (FIGURA 6) foi descoberto em 1942, o que deu início à produção de herbici- das em escala comercial. Após 1950, surgiram herbicidas dos grupos amidas, carbamatos, triazinas, entre outros. Com o passar do tempo, foram sendo desenvolvidos novos produtos e o controle químico foi empregado como o principal método de controle de plantas dani- nhas. Atualmente os herbicidas somam em torno de 50% dos defensivos agrícolas comer- cializados (CARVALHO, 2013). 72UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS FIGURA 6 - ESTRUTURA QUÍMICA DO 2,4-D É muito flexível a utilização dos diferentes grupos de herbicidas, ou misturas des- tes, podendo ser posicionados em pré-plantio-incorporado (PPI), pré-emergência (PRE) ou pós-emergência (POS). As classificações dos herbicidas serão tratadas na próxima uni- dade de estudo. Abaixo são listadas as principais vantagens e desvantagens do controle químico de acordo com Carvalho (2013) e Albrecht et al. (2021). 3.2.1 Vantagens do controle químico ● É rápido e eficaz no controle de diversas espécies; ● Pode ser utilizado para o controle de plantas daninhas na linha da cultura e no solo; ● Pode ser aplicado em diversas fases da cultura; ● Pode controlar plantas daninhas perenes e persistentes; ● Existem produtos seletivos às plantas cultivadas; ● Permite o cultivo mínimo ou plantio direto. 3.2.2 Desvantagens do controle químico ● Contaminação ambiental (de solos, rios, lençol freático etc); ● Exigência de mão de obra mais qualificada e técnica; ● Presença de resíduos em alimentos podendo trazer riscos para o ser humano e para os animais; ● Pode se manter no solo, podendo causar danos para as culturas subsequentes; ● Risco de deriva podendo causar danos em culturas vizinhas; ● Pressão de seleção de espécies resistentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 MANEJO INTEGRADO DE PLANTAS DANINHAS (MIPD) TÓPICO O manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD) é realizado pelo uso integrado de dois ou mais métodos para o controle de plantas daninhas. O MIPD ainda não possui base científica sólida em ecologia de populações para se determinar os níveis populacionais crí- ticos de controle das plantas daninhas, diferente do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e de Doenças (MID), que já são mais consolidados (CARVALHO, 2013). O MIPD é considerado a principal ferramenta para redução do impacto ambiental dos herbicidas, baseando-se na integração de métodos de controle. Esse manejo torna os sistemas de cultivo desfavoráveis às plantas daninhas, minimizando seus efeitos. As estra- tégias envolvem a utilização conjunta do controle químico e visa a redução da utilização de herbicidas (NUNES; TREZZI e DEBASTIANI, 2010). No MIPD, a ideia é associar a Prevenção aos métodos de curto prazo (mecânicos, físicos e químicos) e métodos de longo prazo (cultural e biológico) e dessa forma, otimizar o controle de diversas plantas daninhas com características distintas. O MIPD também visa à redução de custos de controle das plantas daninhas, reduzir o custo de produção e além disso, diminuir o impacto ambiental causado pelo excessivo uso de herbicidas (CARVA- LHO, 2013). Geralmente o controle das plantas daninhas anuais é realizado com herbicidas ou capinas. No entanto, o controle das plantas daninhas perenes, principalmente com reprodu- ção vegetativa, é mais difícil, em que a integração de diferentes métodos de controle é mais eficaz nesse manejo. Por exemplo, o controle químico é pouco eficiente para o controle da tiririca (Cyperus rotundus), que se propaga por tubérculos e além disso, o controle mecâni- co pode causar o aumento da densidade populacional dessa planta daninha. Portanto, para a tiririca, a integração do controle mecânico (época seca) com o químico com herbicidas (época úmida) apresenta um eficiente controle. Outra integração de controle eficiente para a tiririca é o uso de culturas de cobertura, logo após dessecada e deixada como uma cama- da de palha sobre o solo (CARVALHO, 2013). 73 74UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS A utilização de roçada (controle mecânico) na entrelinha e aplicação de herbicidas na linha de plantio para controle das plantas daninhas em culturas perenes é uma integra- ção eficiente. Outro método utilizado é o consórcio entre culturas, por exemplo, o sistema agricultura-pecuária. Outro exemplo eficiente de MIPD é o manejo da água e a aplicação de herbicidas na cultura do arroz irrigado. Por fim, podemos considerar a prática cultural de rotação de culturas efetuada de maneira correta (não apenas sucessão de culturas) como uma estratégia de MIPD. Isso ocorre devido a todos os processos de manejo da rotação envolvendo as diferentes cul- turas. O preparo do solo, tratamentos fitossanitários, uso de diferentes espaçamentos e herbicidas, cobertura morta e cobertura viva no solo, potencial alelopáticos, entre outros fatores, influenciam diretamente na população de plantas daninhas da área. Assim, quando o produtor realiza a rotação de culturas, acaba usando a integração do método de Preven- ção com outros métodos de controle, mesmo sem se dar conta disso (CARVALHO, 2013). 75UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS Para a implementação adequada do MIPD, devemos considerar também a composição florística e a fitossociologia das plantas daninhas, banco de sementes e histórico da área, bem como os períodos e níveis de interferência. Fonte: Albrecht et al. (2021, p. 164). Alguns métodos de controle de plantas daninhas promovem o revolvimento do solo, alterando as suas propriedades biológicas, podendo afetar a qualidade do solo e a produtividade das culturas. Dessa forma, os métodos de controle de plantas daninhas:roçadora, grade, enxada rotativa, aplicação de herbicida de pré e pós-emergência e capina manual foram comparados ao controle sem capina. Os efeitos diretos e indiretos e seus processos, na microbiota do solo foram avaliados na cultura do cafeeiro.. O efeito dos métodos de controle de plantas daninhas na microbiota do solo sob cafeeiro foi ordenada da seguinte forma: menor impacto negativo: capina manual e enxada rotativa; impacto intermediário: roçado- ra, grade, sem capina e aplicação de herbicidas de pré-emergência; e maior impacto negativo: aplicação de herbicidas de pós-emergência (MELLONI et al., 2013) Fonte: MELLONI, R. et al. Métodos de controle de plantas daninhas e seus impactos na qualidade microbia- na de solo sob cafeeiro. Processos e Propriedades do Solo. Rev. Bras. Ciênc. Solo, 37 (1). 2013. UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade tratamos sobre os métodos de controle das plantas daninhas e o manejo integrado de plantas daninhas (MIPD). Os métodos preventivos são aqueles que impedem ou minimizam a introdução e a disseminação de plantas daninhas em determina- da área. Também tratamos sobre o método cultural, que é uma importante ferramenta de controle das plantas daninhas, realizado através de práticas de manejo adequado da água e do solo, no qual envolve a rotação de culturas, a cobertura verde e a nutrição das plantas. Já o controle mecânico é realizado por algum instrumento que arranque ou corte as plantas daninhas. O controle físico é realizado a partir de práticas que exerçam influência física sobre as plantas daninhas. Todos esses métodos descritos nessa unidade podem ser empregados em conjunto favorecendo o manejo integrado. Dessa forma, a prevenção e a erradicação, somadas aos métodos de controle aqui descritos, constituem o MIPD. Na prática, a divisão dos métodos é para fins didáticos, pois sabemos que todos estão inter-relacionados e são interdepen- dentes dentro de um contexto de sustentabilidade dos sistemas produtivos. Assim terminamos mais uma unidade de estudos sobre as plantas daninhas. Te en- contro na próxima unidade para tratarmos especificamente sobre o controle químico com o uso de herbicidas. 76 UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS LEITURA COMPLEMENTAR Recomenda-se a leitura do artigo: Manejo integrado de plantas daninhas na cultura do milho. O manejo integrado de plantas daninhas (MIPD) é considerado a principal ferramen- ta para reduzir o impacto ambiental dos herbicidas. O MIPD baseia-se na integração de métodos de controle, tornando os sistemas de cultivo desfavoráveis às plantas daninhas, minimizando seus efeitos. As estratégias podem ser utilizadas em conjunto com o método químico, permitindo a redução da utilização de herbicidas. Uma estratégia de manejo de plantas daninhas foi realizada de forma integrada com o método químico na redução da utilização de herbicidas na cultura do milho. O estudo buscou avaliar o efeito do manejo integrado do espaçamento entre linhas, ou de híbridos de milho com características morfológicas distintas e redução dos níveis de herbicidas, para controlar plantas daninhas na cultura do milho. Os níveis de manejo de plantas daninhas utilizados no estudo foram (capinado, sem capina e atrazine + foramsulfuron + iodosulfu- ron). Foram avaliados a altura e o ângulo foliar vertical das plantas, o número de plantas daninhas e a matéria seca de plantas daninhas por área. O ângulo foliar de plantas de milho torna-se mais planófilo com a adoção de espaçamentos reduzidos entre linhas, mas outras características de plantas de milho estão envolvidas no desempenho dos espaçamentos. O uso do espaçamento de 0,45 m entre linhas não contribui para a redução dos níveis de herbicidas para a cultura, mas sua adoção beneficia o manejo de plantas daninhas e o ren- dimento de grãos. Fonte: NUNES, A. L.; TREZZI, M. M.; DEBASTIANI, C. Manejo integrado de plantas daninhas na cultura do milho. Bragantia, Campinas, v.69, n.2, p.299-304, 2010. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0006- 87052010000200006. Acesso em: 08 set. 2022. 77 https://doi.org/10.1590/S0006-87052010000200006 https://doi.org/10.1590/S0006-87052010000200006 UNIDADE 3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Matologia: estudos sobre plantas daninha Autor: Arthur Arrobas Martins Barroso e Afonso Takao Murata; Editora: Fábrica da Palavra; Sinopse: O livro apresenta capítulos de muita importância para o manejo sustentável das plantas daninhas. São 16 capítulos que tratam desde a ecologia da população e comunidades de plantas daninhas até o manejo das principais plantas daninhas resistentes no Brasil. Também apresenta os mecanismos de ação dos herbicidas e o manejo em culturas geneticamente modificadas. FILME/VÍDEO Título: Métodos de controle controle de plantas daninhas. Ano: 2021. Sinopse: O vídeo trata sobre os métodos de controle de plantas daninhas, citando exemplos e imagens. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=vYuPDOC- tkMs WEB A página traz informações sobre o Manejo Integrado de Plan- tas Daninhas na cultura da soja e trato sobre os métodos de controle que podem ser utilizados, principalmente o controle cultural. Link do site: https://maissoja.com.br/metodos-de-controle-de- -plantas-daninhas-controle-cultural/ 78 https://www.youtube.com/watch?v=vYuPDOCtkMs https://www.youtube.com/watch?v=vYuPDOCtkMs https://maissoja.com.br/metodos-de-controle-de-plantas-daninhas-controle-cultural/ https://maissoja.com.br/metodos-de-controle-de-plantas-daninhas-controle-cultural/ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • • Classificação dos herbicidas; • • Mecanismos de ação dos herbicidas; • • Formulações e misturas de herbicidas em tanque; • • Resistência de plantas daninhas aos herbicidas. Objetivos da Aprendizagem • • Compreender a nomenclatura e como são classificados os herbicidas; • • Definir e contextualizar os mecanismos de ação dos herbicidas; • • Contextuar sobre formulações e misturas de herbicidas em tanque; • • Conceituar e compreender mais sobre resistência de plantas daninhas aos herbicidas. 4 UNIDADEUNIDADE HERBICIDAS: HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS CARACTERÍSTICAS GERAISGERAIS Professor Dr. Jonas Marcelo Jaski UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS INTRODUÇÃO Olá Aluno (a)! Vamos iniciar agora nossa última unidade da disciplina de manejo de plantas daninhas! Espero que esteja animado (a) para finalizar esse estudo! Nessa unidade aprenderemos sobre as principais características relacionadas aos herbicidas. No primeiro tópico nós vamos conhecer a nomenclatura e as diferentes classifi- cações dos herbicidas que inclui a classificação quanto à seletividade, quanto à época de aplicação, quanto à translocação e quanto ao mecanismo de ação. No segundo tópico trataremos sobre a diferença entre mecanismo de ação e modo de ação dos herbicidas nas plantas e abordaremos cada mecanismo de ação. Esse as- sunto é muito importante e por isso é mais extenso e requer mais atenção, são diversos mecanismose dentro de cada deles estão distribuídos os herbicidas atualmente utilizados para o controle químico das plantas daninhas. Em nosso terceiro tópico abordaremos os diferentes tipos de formulações de herbi- cidas e as misturas de herbicidas em tanque. Esse é um tema importante, pois de acordo com a mistura utilizada no tanque pode ocorrer antagonismo entre ingredientes ativos dos herbicidas ou sedimentação e separação de fases, prejudicando a eficácia do controle. Por último em nosso tópico 4 iremos conceituar a resistência das plantas aos herbicidas no qual veremos os conceitos suscetibilidade, tolerância, resistência (cruzada e múltipla). Também veremos os mecanismos que conferem resistência às plantas daninhas, os fatores que favorecem o surgimento de resistência e por fim, o manejo e prevenção da resistência de plantas daninhas a herbicidas. Desejo a você, ótimos estudos! 80 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 CLASSIFICAÇÃO DOS HERBICIDAS TÓPICO 1.1 Nomenclatura dos herbicidas Os herbicidas são nomeados de três formas: pelo nome químico usado para descre- ver a estrutura química do produto; pelo nome comum (nome do ingrediente ativo), geral- mente o nome pelo qual os herbicidas são conhecidos internacionalmente e na literatura; e pelo nome comercial, em função do marketing dos fabricantes os herbicidas recebem um nome fantasia. Dessa forma, um mesmo ingrediente ativo pode receber nomes comerciais diferentes de acordo com o fabricante ou da formulação (OLIVEIRA Jr., 2011). Por exem- plo, o nome químico do glifosato é N-(fosfonometil)glicina, nome comum: glifosato e nomes comerciais existem diversos, como Roundup (FIGURA 1), Agrisato, Glifosato Agripec, Gli- fosato Fersol, Glifosato Nortox e Gliz. 81 82UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS FIGURA 1 - PRODUTO COMERCIAL DE GLIFOSATO 1.2 Formas de Classificação de Herbicidas Atualmente são usadas diversas formas de classificação dos herbicidas. É importan- te conhecer e se familiarizar com os termos usados na Ciência das Plantas Daninhas para compreender essa parte da disciplina. Vários dos termos são utilizados nos sistemas de classificação, que serão descritos nos próximos tópicos de acordo com Oliveira Jr. (2011) e Oliveira Jr. et al. (2021). 1.2.1 Classificação quanto à seletividade ● Herbicidas seletivos: quando aplicados nas culturas, não matam essas espécies, ou seja, matam somente as plantas daninhas da cultura. Dessa forma, são seletivos a determinada cultura. ● Herbicidas não seletivos: possuem amplo espectro de ação, ou seja, matam a maior parte das plantas, não possuem seletividade. São muito utilizados na dessecação, no plantio direto. No entanto, a seletividade depende da interação entre diferentes fatores. Por exem- plo, cultivares geneticamente modificadas com tolerância aos herbicidas podem alterar a seletividade dos herbicidas. Temos o exemplo da soja geneticamente modificada (tolerante ao glifosato). 1.2.2 Classificação quanto à translocação ● Herbicidas de contato: São aqueles que não se translocam na planta ou se translo- 83UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS cam de forma muito limitada. Dessa forma, só irão causar danos nas partes da planta que entram em contato direto com o herbicida. Sendo assim, é necessária boa cober- tura de aplicação. O efeito do herbicida nas plantas é rápido e agudo (em questão de horas). ● Herbicidas sistêmicos: São translocados via xilema, floema, ou por ambos. Pos- suem efeito demorado, crônico. 1.2.3 Classificação quanto à época de aplicação ● Pré-plantio e incorporado (PPI): São herbicidas aplicados ao solo e que posterior- mente precisam de incorporação mecânica ou por meio de irrigação. Geralmente o mecanismo de ação desses produtos requer contato entre o herbicida e plântulas antes ou durante a emergência, possuem baixa solubilidade em água, são sensíveis a fotodegradação e são altamente voláteis (possuem alta pressão de vapor). ● Pré-emergência (PRÉ): São herbicidas aplicados após a semeadura ou plantio, po- rém, antes da emergência da cultura e das plantas daninhas. Pode haver casos em que os herbicidas são aplicados em pré-emergência das plantas daninhas, mas após a emergência da cultura. Dessa forma, as aplicações são dirigidas às entrelinhas da cultura (já com certa altura). ● Pós-emergência (PÓS): São herbicidas aplicados após a emergência das plantas daninhas, mas a cultura nem sempre está emergida. Por exemplo, na dessecação antes do plantio, a cultura ainda não está presente. Entretanto, na maioria das vezes as aplicações em PÓS são realizadas quando as plantas daninhas e as culturas estão emergidas. 1.2.4 Classificação quanto ao mecanismo de ação Os herbicidas são agrupados de acordo com a sua forma de atuação nas plantas, sendo uma das classificações mais utilizadas. O estudo dos mecanismos de ação dos herbicidas necessita de conhecimentos relacionados à fisiologia vegetal, química e bio- química. Conhecer os mecanismos de ação dos herbicidas é de fundamental importância para o entendimento do comportamento dos herbicidas nas plantas e no ambiente, de me- canismos de seletividade e do efeito de fatores ambientais na eficiência destes produtos a campo. Trataremos no próximo tópico dos principais grupos de mecanismos de ação dos herbicidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 MECANISMOS DE AÇÃO DOS HERBICIDAS TÓPICO Primeiramente vamos esclarecer a diferença entre mecanismo de ação e modo de ação. ● Mecanismo de ação: Refere-se ao primeiro ponto do metabolismo das plantas em que o herbicida atua (sítio de ação). Assim, o mecanismo de ação é normalmente o primeiro de uma série de eventos metabólicos que resultam na expressão final do herbicida sobre a planta. ● Modo de ação: Conjunto de todos os eventos metabólicos que inclui desde os sin- tomas visíveis da ação do herbicida sobre a planta até a morte ou expressão final do herbicida sobre a planta. A classificação dos herbicidas pelo mecanismo de ação está em constante atua- lização devido ao surgimento de novos herbicidas e também da elucidação de sítios de atuação nas plantas. Atualmente a classificação aceita internacionalmente é de acordo com Herbicide Resistence Action Committee (HRAC), na qual os herbicidas são classificados de acordo as classes químicas e seus respectivos sítios de atuação por ordem alfabética (OLIVEIRA Jr. et al., 2021). Trataremos dos principais mecanismos de ação, importantes no Brasil, de acordo com Oliveira Jr. (2011) e Oliveira Jr. et al. (2021) nos próximosUnidade da discipli- na de Manejo de plantas daninhas. Vamos mergulhar em conceitos e conhecimentos que você irá levar para sua vida profissional! Acredito que, assim como eu, você deve estar com muitas expectativas para iniciar essa caminhada de aprendizagem. Então procure um lugar ideal para iniciar seus estudos, porque vamos realizar uma introdução à ciência das plantas daninhas agora. Vamos aprender que a priori nenhuma planta é considerada daninha, no entanto qualquer espécie pode atingir o status de daninha quando a sua presença interfere negati- vamente na produtividade da cultura de nosso interesse ou mesmo na qualidade do nosso produto final. Assim, ter conhecimento sobre as plantas daninhas e seu manejo é essencial para um engenheiro agrônomo. Nesse contexto, vamos tratar em nosso primeiro tópico sobre conceitos essenciais relacionados às plantas daninhas, além disso vamos aprender sobre os termos utilizados para denominação das plantas daninhas e entender a importância, seja negativa ou positi- va dessas plantas. Em nosso segundo tópico vamos abordar mais sobre a ecologia e biologia das plan- tas daninhas desde a sua origem e evolução até as suas características de agressividade. Já no tópico três, vamos conhecer como ocorre a infestação das plantas daninhas a partir da sua reprodução e disseminação. No último tópico dessa unidade, vamos tratar de um assunto importante que é o banco de sementes ou propágulos de plantas daninhas no solo, bem como o balanço de entradas e saídas do banco de sementes. Também vamos tratar nesse tópico sobre dor- mência e germinação das plantas daninhas, sendo a primeira, uma característica importan- te que confere às plantas daninhas a capacidade de longevidade e manutenção do banco de sementes. Desejo a você, ótimos estudos! 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 CONCEITOS E IMPORTÂNCIA DE PLANTAS DANINHAS TÓPICO 8UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS 1.1 Planta daninha O conceito de planta daninha é discutido por vários autores, mas vamos simplificar e definir de acordo com Carvalho (2013, p. 02) que se refere a planta daninha como: “qual- quer planta que cresça espontaneamente em um local de atividade humana e cause pre- juízos a essa atividade”. A planta daninha sempre está relacionada com a indesejabilidade em relação a uma atividade humana, ou seja, está prejudicando direta ou indiretamente a atividade humana, que pode ser cultivo comercial, jardim, refinaria de petróleo, entre outras (SILVA et al., 2007). A princípio nenhuma espécie é considerada daninha, no entanto, qualquer espécie pode se tornar daninha quando seu crescimento interfere negativamente na produtividade da cultura e/ou na qualidade do produto ou no processo de colheita. Há espécies de plan- tas que são altamente competitivas, mas podem ser úteis em outras situações como para controle de erosão, reciclagem de nutrientes ou como fornecedoras de néctar para abelhas, por exemplo (SILVA et al., 2007). As plantas daninhas são divididas em comuns e verdadeiras de acordo com Mari- nis (1972): ● Comuns: não conseguem sobreviver em condições adversas. Um exemplo são as chamadas plantas voluntárias ou também conhecidas popularmente como plantas guaxas ou tigueras. Essas plantas ocorrem, por exemplo, em um sistema de sucessão milho/soja, as plantas de milho que emergirem na época da semeadura da soja prove- nientes de sementes remanescentes no solo são consideradas daninhas. ● Verdadeiras: apresentam características específicas que permitem a sua sobrevivência em condições adversas, como por exemplo a dormência, germinação desuniforme, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS alta rusticidade, não podem ser melhoradas geneticamente, alta resistência a pragas e doenças, habilidade de produzir muitas sementes viáveis, além de apresentarem formas variadas de multiplicação, como tubérculos, estolões, rizomas, bulbos, etc. Ex: Desmodium tortuosum produz até 42.000 sementes por planta que são facilmente disseminadas por animais ou máquinas. 1.2 . A ciência das plantas daninhas De acordo com Carvalho (2013) a denominação de “Ciência das Plantas Daninhas” foi intitulada pela Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas e alguns outros au- tores. No entanto, o nome ainda não é bem definido, alguns pesquisadores denominam-a como Herbologia, que no caso não seria um termo totalmente correto por se referir apenas à erva, porém mais adiante veremos que o hábito de crescimento herbáceo não se aplica para todas as plantas daninhas. Outra denominação também usada é Matologia, ou seja, estudo do mato. A Ciência das plantas daninhas ou matologia é multidisciplinar, dessa forma integra muitas áreas do conhecimento, desde ciências básicas até ciências específicas de forma- ção. No decorrer das unidades, nós veremos como o estudo das plantas daninhas é multi- disciplinar e envolve conhecimentos de várias outras disciplinas do curso. Outros conceitos importantes são os relacionados aos termos utilizados para des- crever plantas daninhas. Alguns termos não expressam a definição correta. O termo erva daninha, por exemplo, não é apropriado porque sabemos que existem também uma parte das plantas daninhas que são arbustivas ou arbóreas. O termo planta invasora também é comum, no entanto uma planta invasora só é daninha se estiver causando efeito negativo em área de interesse humano. Portanto, se a planta invasora estiver em outro ambiente que não seja de interesse humano ela não é considerada planta daninha (CARVALHO, 2013). O termo planta infestante pode ser considerado sinônimo de planta daninha, pois quando presente em ambientes com atividade humana, provavelmente, será uma plan- ta daninha verdadeira. O termo planta espontânea também é utilizado, porém, nem toda planta espontânea será uma planta daninha. Certamente toda planta daninha é espontâ- nea, aquela que germina e emerge espontaneamente, no entanto, não se tem certeza de que ela irá prejudicar uma atividade humana e obrigatoriamente a planta daninha faz isso (CARVALHO, 2013). Utilizaremos em nossos estudos o termo planta daninha, que retrata corretamente as plantas que causam prejuízos em áreas de atividade humana e crescem espontaneamente nessas áreas. 1.3 Importância das plantas daninhas As plantas daninhas causam prejuízos diretos e indiretos, por isso possuem importância econômica e social. Em média, 20 a 30% dos custos de produção de uma lavoura são destinados para o controle das plantas daninhas (SILVA et al., 2007). No entanto, alguns autores consideram efeitos positivos das plantas daninhas, por exemplo seu uso medicinal e alimentício (CARVALHO, 2013). 9 10UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS 1.3.1 Aspectos negativos 1.3.1.1 Prejuízos diretos De acordo com Silva et al. (2007) além da redução da produção as plantas daninhas podem causar: ● Redução da qualidade do produto comercial: Exemplos desse prejuízo são tubér- culos de tiririca crescendo dentro de tubérculos de batata ou presença de sementes de picão-preto (Bidens pilosa) na fibra de algodão. ● Não-certificação de sementes de culturas: sementes de plantas daninhas proibidas colhidas junto com sementes de culturas de interesse podem impedirtópicos. 2.1. Inibidores da ACCASE – Grupo A Características do grupo: ● Inclui dois grupos químicos, os ariloxifenoxipropionatos (APPs) e as ciclohexanodio- nas (CHDs) com grandes semelhanças no espectro de controle, eficiência, seletivi- dade e modo de ação. 84 85UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS ● São classificados como sistêmicos. ● Controlam gramíneas anuais e perenes. ● As dicotiledêoneas (tanto plantas daninhas quanto culturas) são normalmente tole- rantes. ● A absorção dos herbicidas ocorre via foliar, porém, resíduos presentes no solo po- dem resultar em carryover (resíduos fitotóxicos que permanecem no solo e podem afetar culturas sensíveis cultivadas após a cultura em que foi usado o herbicida) para gramíneas cultivadas em sucessão. ● Quando aplicados em pós-emergência em misturas em tanque com auxinas sinté- ticas ou com inibidores da PROTOX podem apresentar antagonismo (ou seja, um prejudica a ação do outro). ● Muitas vezes é necessário utilizar adjuvantes para melhorar a absorção foliar. O modo de ação está relacionado à acetil-coenzima A carboxilase (ACCase), que é onde esses herbicidas atuam. Como consequência, ocorre a inibição da síntese de ácidos graxos a qual bloqueia a produção de fosfolipídios usados na construção de novas mem- branas necessárias para o crescimento celular. Em gramíneas os primeiros sintomas podem ser vistos nos meristemas (próximos aos entrenós), com descoloração, necrose e morte das gemas de crescimento. As folhas mais desenvolvidas podem apresentar coloração arroxeada ou avermelhada, semelhante aos sintomas de deficiência de fósforo São exemplos de herbicidas desse grupo: APPs: Fenoxaprop-p-ethyl (Podium EW, Rapsode, Starice) e Haloxyfop-p-methyl (Gallant R, Verdict R, Venture). CHDs: Clethodim (Poquer, Select 240 EC, Select One Pack) e Profoxydim (Aura 200). 2.2 Inibidores da ALS – GRUPO B Características do grupo: ● Herbicidas que inibem a acetolactato sintase (ALS), enzima importante na de bios- síntese de aminoácidos valina, leucina e isoleucina. ● Os grupos químicos que fazem parte são: Imidazolinonas, pirimidinil(tio)benzoatos, ulfonilaminocarbonitriazolinonas, sulfonilureias e triazolopirimidinas. ● Podem ser utilizados em doses muito baixas com alta eficiência. ● Possuem baixa toxicidade para mamíferos e boa seletividade para diversas culturas agrícolas importantes. ● Muitas plantas daninhas são resistentes devido a seletividade causada pelo uso generalizado. ● As imidazolinonas e as sulfonilureias são eficientes em doses muito baixas (ao solo. ● A atividade de microrganismos do solo é a principal responsável pela decomposição desse tipo de herbicida. ● Como ocorre a degradação dos carotenoides, e sem a presença dos carotenoides, as clorofilas não são capazes de se manterem funcionais e estáveis. Portanto, sem clorofila as plantas apresentarão “albinismo”. ● O arroz e a soja são tolerantes ao Clomazone. São exemplos desse grupo de herbicidas: Isoxaflutole (Fordor 750 WG, Provence 750 WG), Mesotrione (Callisto, Lumica, Meristo) e Clomazone (Gamit, Gamit Star, Gamit 360 CS). 2.7 Inibidores da EPSP sintase – GRUPO G Características do grupo: ● Grupo do herbicida glyphosate, produto mais utilizado e estudado no mundo. ● Amplo espectro de ação, não é seletiva. ● Atua apenas em pós-emergência, não atua em pré-emergência devido à forte sorção ao solo (fica indisponível para absorção pelas plantas). ● Possui baixa volatilidade, entretanto, problemas de deriva são frequentes. ● Existem culturas tolerantes ao glyphosate (maior causa de deriva em culturas sus- cetíveis). ● O modo de ação do glyphosate envolve o bloqueio da enzima EPSPs (5-enolpiru- vilchiquimato-3-fosfato sintase), responsável por catalisar a ligação dos compostos chiquimato 3-fosfato (S3P) e fosfoenolpiruvato (PEP), produzindo o enolpiruvilchiqui- mato-3-fosfato e fosfato inorgânico. ● A absorção do glyphosate ocorre pelas folhas e outras partes aéreas das plantas. Após a absorção, ocorre a translocação e acumulação nos meristemas. ● As plantas morrem em dias ou semanas com início lento dos sintomas clorose e necrose. ● A seletividade pode ser adquirida por aplicações dirigidas nas entrelinhas de várias culturas perenes, (não pode atingir as folhas). ● A partir da obtenção de plantas transgênicas (soja, milho e algodão no Brasil, e ca- nola, mamão, alfafa e beterraba açucareira em outros países) o glyphosate passou a ser usado para o controle seletivo de plantas daninhas nessas culturas. São exemplos de nomes comerciais do Glyphosate (grupo químico das glicinas): Roundup Transorb, Roundup WG, Zapp QI 620. 89UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS 2.8 Inibidores da glutamina sintetase (GS) - Grupo H Características do grupo: ● O amônio glufosinate é o único herbicida deste mecanismo de ação; ● Possui amplo espectro de ação, não seletivo; ● Atualmente pode ser utilizado para controle de plantas daninhas em algumas cultu- ras com o surgimento da tecnologia Liberty Link® (inserção de gene de resistência ao amonio glufosinate em algodão, canola, beterraba açucareira, soja e milho); ● O mecanismo de ação está relacionado pela inibição da enzima glutamina sintetase (GS), a qual é responsável em converter o glutamato e a amônia em glutamina. São exemplos de herbicidas comerciais do Amônio glufosinate (grupo químico ácido fosfínico): Finale, Liberty, Fascinate BR. 2.9 Inibidores do crescimento inicial - Grupos K1, K2 e K3 No Brasil, são comercializados os subgrupos K1 e K3. No subgrupo K1 estão os herbicidas inibidores da formação de microtúbulos (ex: benzamidas, dinitroanilinas, fosfo- roamidatos e piridinase) e no subgrupo K3 estão os inibidores da divisão celular (cloroace- tamidas). As características desse grupo são: ● Atuam causando a paralisação do crescimento da raiz e da parte aérea de plântulas e também pode ocorrer a morte do meristema apical; ● No solo desaparece rapidamente por apresentar alta pressão de vapor, fotólise e decomposição microbiana; ● São eficientes para controle de sementes em germinação de gramíneas anuais e de algumas folhas dicotiledôneas; ● São aplicados normalmente em pré-emergência, no entanto a incorporação do pro- duto ao solo aumenta a sua eficiência diminuindo as perdas. O modo de ação dos herbicidas do subgrupo K1 é a inibição da formação de micro- túbulos, inibindo a mitose. Já o modo de ação do subgrupo K3 é pouco elucidado, sabe-se que ocorre a inibição de algumas proteínas nos meristemas apicais da parte aérea e das raízes. Com a inibição ocorre a paralisação da divisão celular e aumento de tamanho das células, causando inibição do crescimento de ambas as partes (raiz e parte aérea). São exemplos de herbicidas desse grupo: Trifluralin (Premerlin 600 EC, Trifluralina Nortox Gold) e S-metolachlor (Dual Gold, Gardomil). 90UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS 2.10 Inibidores da síntese de (celulose) parede celular – Grupo L Características do grupo: ● Grupos químicos das nitrilas (dichlobenil, chlortiamid), benzamidas (isoxaben), tria- zolocarboxamidas (flupoxam) e alkylazine (indaziflam). ● Apenas o indaziflam é registrado para aplicação em pré-emergência das plantas daninhas no Brasil. ● Utilizado em baixas dosagens com alta persistência no solo. ● Recomendado para café, citros, e cana-de-açúcar no Brasil. ● Herbicidas formulados com mistura de indaziflam com metribuzin e isoxaflutole es- tão disponíveis no mercado. ● Possui amplo espectro de controle, controla plantas daninhas dicotiledôneas e mo- nocotiledôneas. ● O mecanismo de ação envolve a inibição da síntese de celulose. Ocorre a inibição da incorporação da glicose na parede celular, assim ocorre a má formação do tecido. ● Os sintomas em plantas suscetíveis são: paralisação do crescimento, engrossamen- to de raiz e redução de celulose na planta. ● A seletividade desses herbicidas pode ser obtida pela seletividade de posição (locali- zação do herbicida no solo). Assim, culturas como citros e café (perenes) não entram em contato com o produto aplicado no solo devido ao sistema radicular profundo. 2.11 Auxinas sintéticas – Grupo O São estruturalmente semelhantes às auxinas naturais das plantas, por isso também são conhecidos como mimetizadores de auxina, reguladores de crescimento ou herbicidas hormonais. O 2,4-D faz parte desse grupo, sendo o primeiro composto orgânico sintetizado para utilização como herbicida seletivo. Os herbicidas mimetizadores de auxina apresentam as seguintes características: ● São herbicidas que afetam o crescimento das plantas de maneira similar às auxinas naturais das plantas, entretanto, são mais persistentes e mais ativos; ● São herbicidas sistêmicos, podendo controlar diversas plantas perenes; ● Doses muito baixas já podem causar efeitos nas plantas, o que pode levar a proble- mas com deriva para culturas sensíveis, bem como a reutilização de pulverizadores sem lavagem adequada; ● Culturas como tomate, uva, algodão, soja e as cucurbitáceas são sensíveis a con- centrações muito baixas destes herbicidas; ● São seletivos para as gramíneas e controlam dicotiledôneas anuais ou perenes. O mecanismo de ação, ou seja, a ação inicial desses herbicidas está relacionada ao metabolismo de ácidos nucleicos e a plasticidade da parede celular. Esses produtos cau- 91UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS sam a acidificação da parede celular pelo estímulo da atividade da bomba de prótons da ATPase, ligada à membrana celular. A redução no pH apoplástico induz à elongação celular pelo aumento da atividade de certas enzimas responsáveis pelo afrouxamento celular. A epinastia das folhas e pecíolos é o primeiro sintoma da ação do herbicida nas plan- tas de folhas largas. Depois outras funções metabólicas são afetadas causando deforma- ções nas nervações e no limbo foliar. Também é comum o crescimento e engrossamento de raízes e tumores ao longo do caule da planta (principalmente nós). A morte das plantas ocorre entre 3 e 5 semanas após a aplicação. Exemplos desse grupo são: Dicamba (Atectra, Dicamax), Picloram (Browser, Leo- pard, Padron), Triclopyr (Garlon NA, Sector, Dorado), 2,4-D (DMA 806 BR, U 46 BR, 2,4-D Nortox) e Quinclorac (Facet) 2.12 Mecanismo de ação desconhecido – Grupo Z Herbicidas que ainda não tiveram a elucidação completa do mecanismo de ação são classificados no grupo Z. São exemplos: ácido arilaminopropiônico, pirazóliuns, organoar- senicais,dentre outros. No Brasil, o herbicida registrado desse grupo é o MSMA (Ancosar 720, MSMA 720 Dow AgroSciences, Volcane) para algodão, café, cana, citros e áreas não cultivadas, com largo espectro de ação sobre gramíneas e espécies de folhas largas anuais. Esse herbicida pertence ao grupo químico dos organoarsenicais ou arsenicais or- gânicos e usado pós-emergência (absorção é via foliar). Na cultura do algodão é aplicado em jato dirigido. A destruição de membranas celulares é o sintoma inicial e a dessecação ocorre rapidamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 FORMULAÇÕES E MISTURAS DE HERBICIDAS EM TANQUE TÓPICO 3.1 Principais tipos de formulações dos herbicidas A formulação de um herbicida é a forma física que o ingrediente ativo desse produto se apresenta. De acordo com Foloni e Carbonari (2009) a aplicação eficiente dos herbici- das depende de fatores como: tecnologia utilizada, pulverizador, condições meteorológi- cas, operador, ingrediente ativo (i.a.) e formulações dos produtos (FOLONI e CARBONARI, 2009). A formulação de um agrotóxico, incluindo o herbicida, é composta por vários elemen- tos (formulação química). Dentre os compostos, o ingrediente ativo (líquido ou sólido) é a parte biologicamente ativa, que se une aos ingredientes inertes, que podem ser solventes, surfactantes, antiespumantes, emulsificantes, estabilizadores, antimicrobianos, anticonge- lantes, corantes e reguladores de pH (OLIVEIRA et al. 2021). Uma formulação adequada de um herbicida deve cumprir os seguintes critérios: fa- vorecer a dispersão do formulado no veículo, adequar a formulação para o uso, proporcio- nar maior eficiência do ingrediente ativo, reduzir a toxicidade, a fotodegradação e a volatili- zação, e quando possível facilitar o manuseio. A água (solvente universal), na maioria das vezes é o solvente utilizado para a solu- bilização de herbicidas. Dessa forma, a água pode influenciar na calda final em função da qualidade e da quantidade. A qualidade da água está relacionada com as características. Por isso, deve-se ter cuidado de escolher a fonte de água (rios, açudes, poços artesianos) e estação do ano (inverno, outono, primavera e verão), as características físicas e químicas (pH, concentração de cátions, dureza, turbidez e temperatura) podem ser alteradas em função da fonte e da temperatura (OLIVEIRA et al., 2021). As principais formulações utilizadas comercialmente para as classes dos herbicidas apresentados anteriormente são descritas a seguir de acordo com Oliveria et al. (2021): 92 93UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS ● Concentrados solúveis (SL): Formulações líquidas límpidas a opacas para aplica- ção do ingrediente ativo em forma de solução que será diluído em água. O i.a. deve apresentar alta solubilidade em água para ser formulado em SL. As vantagens do SL são: alta solubilidade em água (não é necessária alta agitação no tanque), menor entupimento de filtros e de pontas de pulverização. As desvantagens são: menor atividade biológica e menor qualidade de características de aplicação. ● Concentrados emulsionáveis (EC): Formulações líquidas e homogêneas aplicadas na forma de emulsão, após diluição em água. Nesse caso, o i.a. diluído em solvente à base de óleo é em seguida diluído em água, passando a ter uma aparência leitosa. Geralmente é necessária a adição de emulsificantes para melhorar a solubilidade dos i.a. (que são solúveis em óleo) na água e assim, impedir a separação de fases. A formulação adquire característica de alta solubilidade em água e não necessita de cuidados especiais no preparo da calda. No entanto, pode apresentar formação de cristais em baixas temperaturas. ● Suspensões concentradas (SC): São suspensões estáveis de i.a. em água que serão aplicadas após diluição em água. São partículas suspensas no líquido, que necessitam de constante agitação para que a mistura fique homogênea. As SC ten- dem a precipitar, formando a separação de fases, dessa forma, deve-se sempre agitar bem a embalagem antes da utilização do produto. ● Emulsão de óleo em água (EW): Solução de i.a. em um líquido orgânico disper- so com glóbulos finos diluídos em uma fase aquosa, sendo líquida heterogênea. É considerada mais segura ao ambiente, por não utilizar solventes orgânicos voláteis. ● Pós molháveis (WP): Formulações mais antigas, sendo sólidas na forma de pó que deve ser diluído em água para aplicação (suspensão). A formulação geralmente é composta pelo ingrediente ativo (sólido), dispersante (aniônico) e o agente umectan- te. A partir dessa formulação, é possível compactar altas concentrações de i.a. No entanto, a desvantagem é que necessita de constante agitação no tanque de pulveri- zação para não ocorrer separação de fases. Além disso, a pesagem do produto pode ser perigosa sem a utilização de EPI e pode haver entupimento de filtros e pontas pelos sólidos suspensos. ● Grânulos dispersíveis em água molháveis (WG): Formulações sólidas constituída de grânulos, que são diluídos em água (desintegração) para a aplicação. É seme- lhante ao pó molhável, mudando apenas a granulometria. Possui a vantagem de não gerar poeira e bem como o WP também possui alto teor de i.a., porém, é um mais complexo e mais caro. 3.2 Misturas de herbicidas em tanque A mistura de produtos no tanque de pulverização é uma prática comum nas proprie- dades rurais para a aplicação de herbicidas, inseticidas, fungicidas e fertilizantes via foliar. Para o controle das plantas daninhas a mistura de produtos é muito utilizada devido à dimi- nuição de custos e eficiência, principalmente para o controle de plantas resistentes. 94UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS A mistura de produtos fitossanitários atualmente é regulamentada pela instrução normativa número 40 (IN 40, 11 de outubro de 2018), a qual atribui responsabilidade ao engenheiro agrônomo a recomendação da mistura de produtos. Dessa forma, a incompati- bilidade de produtos deve estar especificada na receita agronômica. A interações entre os produtos pode gerar os seguintes efeitos de acordo com Quei- roz, Martins e Cunha (2008): ● Aditivo: ocorre se o efeito da mistura for semelhante ao efeito dos produtos aplicados individualmente. ● Sinérgico: ocorre interação positiva, ou seja, um produto melhora a eficácia do outro. ● Antagônico: ocorre interação negativa, ou seja, um produto prejudica a efi- cácia do outro. A incompatibilidade entre produtos pode ser física (relacionadas às formulações e os solventes) e química (relacionadas às moléculas dos produtos). Dessa forma, uma mistura inadequada pode comprometer a homogeneidade da calda final. Além disso, pode causar obstrução dos sistemas de filtragem interferindo na vazão e na formação do jato de pulveri- zação, consequentemente reduzindo a eficácia dos produtos no alvo de controle (PETTER et al., 2013). Outro indicador da incompatibilidade das misturas pode ser visualizado no fundo do tanque de pulverização com o acúmulo de resíduos ao final da aplicação. Por isso a limpe- za dos componentes ao final da aplicação é essencial para retirada de acúmulo dos resí- duos (OLIVERIA et al., 2021). 3.2.1 Recomendações para mistura em tanque As misturas de produtos podem ser classificadas de acordocom Campli (2015): ● Misturas formuladas: quando a mistura de ingredientes ativos já vem pronta no produto comercial; ● Misturas em tanque: quando são adicionados no tanque pulverizador, dois ou mais produtos. A mistura em tanque deve ter uma sequência específica para adição de cada pro- duto. Essa ordem de adição dos produtos pode modificar a compatibilidade final. Dessa forma, deve ser realizada a leitura dos rótulos dos produtos e seguir as recomendações. Quando não temos informação, é recomendado fazer uma prova de compatibilidade entre produtos antes da mistura (OLIVERIA et al., 2021). A sequência de adição dos produtos na mistura deve seguir de acordo com as for- mulações, viscosidade e solubilidade de cada produto. Dessa forma, é possível evitar a ocorrência de floculação, formação de grumos, separação de fases, decantação e insolu- bilidade. 95UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS Outros fatores como a concentração do ingrediente ativo e a agitação da calda tam- bém são imprescindíveis para não ocorrerem incompatibilidades físicas e químicas (FER- REIRA, 2019). Além da ordem de aplicação, a mistura deve ser agitada e permanecer sob agitação constante desde o preparo até durante a aplicação. Dessa forma, é ideal que se tenha um sistema de agitação no tanque dos pulverizadores. Caso a agitação não seja realizada, os produtos podem não solubilizar ou não se dispersar adequadamente na cauda, sendo depositados no fundo do tanque. Entretanto, a agitação muito intensa também pode ser prejudicial, causando formação de espuma e possível desestabilização entre surfactantes e ingredientes ativos, formando aglomerados (caso haja emulsões na mistura) (GAZZIERO et al.,2021). De modo geral, de acordo com Gazziero et al. (2021) a ordem seguida de adição de produtos no tanque é a seguinte: 1. Água até 2/3 do volume a ser aplicado; 2. Iniciar o processo de agitação e manter até o final; 3. Condicionadores de água (agentes sequestrantes, acidificantes e tamponantes), agentes redutores de deriva, agentes antiespumante e de compatibilidade (caso te- nha necessidade); 4. Pós molháveis (WP); 5. Produtos granulados, granulados dispersíveis em água (WG) (verificar a indicação de pré-mistura na bula); 6. Suspensões concentradas (SC); 7. Concentrados solúveis (SL); 8. Concentrados emulsionáveis (EC); 9. Demais adjuvantes (caso haja indicação); 10. Fertilizantes foliares (caso haja indicação); 11. Restante da água necessária. A temperatura também deve ser considerada quando se deseja fazer a mistura em tanque, pois ela influencia na velocidade de dissolução e dispersão dos produtos. Tempe- raturas mais altas geralmente favorecem a rápida solubilidade em água. Temperaturas baixas (épocas mais frias do ano) muitas vezes favorecem a incompatibilidade e dificuldade de dissolução (GAZZIERO et al., 2021). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS AOS HERBICIDAS TÓPICO Uma série de fatores que envolve a consolidação das áreas de plantio direto, aumento de áreas produtivas, diminuição da disponibilidade de mão-de-obra no campo e o aumento da disponibilidade e eficiência de produtos químicos contribuíram para a ascensão no consumo de herbicidas nos últimos anos. Assim, os herbicidas ainda são considerados as principais ferramentas de controle das plantas daninhas, mesmo dentro do controle integrado (INOUE e OLIVEIRA Jr., 2011). Com a intensa utilização dos herbicidas, a resistência de plantas daninhas a estes produtos vem crescendo cada vez mais. Um dos principais fatores que leva à seleção de populações resistentes é o uso recorrente dos mesmos herbicidas ou mecanismos de ação na mesma área, consequentemente causando falhas no controle. Dessa forma, é ideal conceituar alguns termos utilizados para entender melhor esse assunto. Os conceitos abordados estão de acordo com Inoue e Oliveira Jr. (2011). ● Suscetibilidade: característica inata que uma população ou planta apresenta sendo controlada pelo herbicida, ou seja, apresenta seu crescimento ou desenvolvimento reduzido pelo herbicida. ● Tolerância: capacidade inata de uma população ou planta de sobreviver e se repro- duzir após receber a aplicação do herbicida, mesmo podendo sofrer algum nível de injúria. Essa capacidade existe nessas plantas antes mesmo da primeira aplicação do herbicida. ● Resistência: habilidade herdada que permite a uma população ou planta sobreviver e se reproduzir após a exposição a uma dose (dose registrada, constante na bula) do herbicida que seria letal para a população natural. Ou seja, é a capacidade adquirida de sobreviver a determinados tratamentos com herbicidas. 96 97UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS ● Biótipos: são indivíduos semelhantes dentro da população, ou seja, apresentam carga genética semelhante. ● Resistência cruzada: resistência de um biótipo de plantas daninhas referente a dois ou mais herbicidas que possuem um único mecanismo de ação. ● Resistência múltipla: resistência de um biótipo de planta daninha referente a dois ou mais mecanismos de ação distintos. A cada ano, os casos de resistência vêm aumentando no Brasil e no mundo. Atual- mente em todo o mundo existem 513 casos únicos de resistência, com 267 espécies (154 dicotiledôneas e 113 monocotiledôneas) (FIGURA 2). As plantas daninhas desenvolveram resistência a 21 dos 31 sítios de ação de herbicidas conhecidos e a 165 herbicidas diferen- tes. Além disso, foram relatadas plantas daninhas resistentes a herbicidas em 96 culturas em 72 países. No Brasil, são registrados 53 casos, sendo crescentes os casos de resistên- cia múltipla (resistência a dois ou mais mecanismos de ação) (HEAP, 2022). FIGURA 2 - NÚMERO DE CASOS ÚNICOS DE RESISTÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS A HERBICIDAS NO DECORRER DOS ANOS MUNDIALMENTE Legenda: Eixo y: Número de casos únicos. Eixo x: Anos. Fonte: HEAP (2022). De acordo com HEAP (2022) nos últimos anos houve um aumento nos casos de espécies de plantas daninhas resistentes, principalmente, aos Inibidores da ALS (Grupo B), seguido por Inibidores do fotossistema II (Grupo C1) (FIGURA 3). Como já vimos anteriormente nesta unidade, os casos de resistência de plantas daninhas aos inibidores da ALS aumenta principalmente devido ao uso generalizado dos herbicidas desse grupo. 98UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS FIGURA 3 - NÚMERO DE ESPÉCIES DE PLANTAS DANINHAS NO MUNDO RESISTENTES A HERBICIDAS POR MECANISMO DE AÇÃO COM O PASSAR DOS ANOS Legenda: Vermelho: Inibidores da ALS (Grupo B); Azul-escuro: Inibidores do fotossistema II (Grupo C1); Verde: Inibidores da ACCase (Grupo A); Preto: Mimetizadores da auxina (Grupo O); Azul-piscina: Atuantes no fotossistema I (Grupo D); Azul: Inibidores da EPSPS (Grupo G); Amarelo: Inibidores da formação de mi- crotúbulos (Grupos K1 e K2). Eixo y: Número de espécies. Eixo x: Anos. Fonte: HEAP (2022). No Brasil, temos exemplos de casos de resistência, destacando-se as apresentadas na Tabela 1: 99UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS TABELA 1 - NOME CIENTÍFICO E NOME COMUM DE ESPÉCIES DE PLANTAS DANINHAS RESISTENTES E OS RESPECTIVOS HERBICIDAS AOS QUAIS ELAS POSSUEM RESISTÊNCIA. Nome científicoN o m e comum Herbicida Oryza sativa A r r o z - vermelho imazapic e imazethapyr Lolium multiflorum Azevém glyphosate, clethodim e iodosulfuron-methyl Conyza bonariensis, C. canadensis e C. sumatrensis Buva glyphosate Digitaria insularis C a p i m - amargoso glyphosate Echinochloa crus- -galli C a p i m - arroz bispyribac-sodium, imazethapyr, penoxsulam e quinclorac Euphorbia hetero- phylla Leiteiro acifluorfen-sodium, cloransulam-methyl, chlorimuron-ethyl, diclosulam, flumetsulam, flumiclorac-pentyl, fomesafen, imazamox, imazaquin, imazethapyr, lactofen, metsulfu- ron-methyl e nicosulfuron e glyphosate Sagittaria montevi- densis Sagitária bentazon, bispyribacsodium, ethoxysulfuron, imazethapyr, metsulfuron-methyl, penoxsu- lam e pyrazosulfuron-ethyl Fonte: HEAP (2022). 4.2 Mecanismos que conferem resistência De acordo com Inoue e Oliveira Jr. (2011) são três os mecanismos gerais que explicam o desenvolvimento da resistência das plantas daninhas a herbicidas, podendo influenciar no modo de ação destes produtos. ● Alteração do local de ação: Alteração ocasionada por mutação natural ou por mutação induzida fazendo com que a molécula do herbicida não consiga exercer a ação fitotóxica no local específico a sua respectiva ação dentro da planta, como apresentado na FIGURA 4, a molécula do herbicida se encaixa no substrato da 100UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS planta suscetível, entretanto na planta resistente a molécula não se encaixa devido à alteração do local de ação na planta. Herbicidas que apresentam este mecanismo de resistência são os inibidores da ALS e os inibidores da ACCase. FIGURA 4 - REPRESENTAÇÃO DOS LOCAIS DE AÇÃO DO HERBICIDA ATRAZINE DENTRO DE UMA PLANTA SUSCETÍVEL E UMA RESISTENTE Fonte: Inoue e Oliveira Jr. (2011, p. 196). ● Aumento na capacidade de metabolização do herbicida: Ocorre quando o biótipo resistente consegue metabolizar a molécula do herbicida mais rapidamente do que os biótipos suscetíveis. Esse processo torna a molécula inativa antes que cause da- nos à planta. Grupos de herbicidas que apresentam esse mecanismo de resistência em plantas são inibidores dos fotossistemas I e II, inibidores da EPSPs, inibidores da ACCase, inibidores da ALS, mimetizadores da auxina e inibidores da divisão celular. ● Compartimentalização: Nesse mecanismo, as plantas resistentes removem os her- bicidas das partes metabolicamente ativas da célula e armazenam em locais inativos (vacúolos das células ou tecidos) localizados distantes dos sítios de ação do herbi- cida. Herbicidas que apresentam esse mecanismo de resistência em plantas são os bipiridílios (pertencem ao grupo dos atuantes no fotossistema I e mimetizadores da auxina. 4.3 Fatores que favorecem o surgimento da resistência Vargas et al. (2016) afirma que os fatores que favorecem o surgimento da resistência das plantas daninhas são: ● Pressão de seleção: é a pressão exercida pela aplicação repetitiva de um determinado herbicida ou de herbicidas diferentes com o mesmo mecanismo de ação que seleciona os biótipos resistentes. Esses biótipos ocorrem naturalmente em baixa frequência, e a pressão de seleção faz com que a frequência dos indivíduos 101UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS resistentes aumente na população. Dessa forma, uma planta daninha resistente surge a partir da seleção de um biótipo já existente e resistente, que, pela pressão de seleção, encontra condições de multiplicação. ● Características das plantas daninhas: As plantas daninhas possuem alta variabili- dade genética, ciclo curto e alta produção de sementes. Essas características favo- recem a rápida multiplicação e consequentemente surgimento de novos indivíduos resistentes. ● Características dos herbicidas: Os herbicidas são altamente eficientes para al- gumas espécies, alguns possuem persistência prolongada e os herbicidas de ação folhar não possuem residual. A utilização de um único mecanismo de ação repetiti- vamente na mesma área favorece a seleção dos indivíduos resistentes. ● Características das práticas culturais: O uso da monocultura e a utilização do controle químico como principal método de controle também favorecem o surgimen- to de populações resistentes. 4.4 Manejo e prevenção da resistência de plantas daninhas a herbicidas Utilizar práticas que diminuam a pressão de seleção, uma delas a alternância de me- canismos, é muito importante para proteger e prolongar o período de uso dos herbicidas. Vargas et al. (2016) recomendam o uso das seguintes práticas para evitar o agravamento da seleção de espécies tolerantes e resistentes: ● Arrancar e destruir as plantas suspeitas de resistência na área; ● Não usar consecutivamente herbicidas com o mesmo mecanismo de ação na mes- ma área; ● Realizar rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação; ● Fazer aplicações sequenciais de herbicidas com diferentes mecanismos de ação; ● Realizar a rotação de culturas; ● Sempre monitorar a população de plantas daninhas e o início do aparecimento da resistência (FIGURA 5); ● Impedir que plantas resistentes ou suspeitas produzam sementes, controlando-as antes dessa fase; ● Utilizar práticas para esgotar o banco de sementes. ● Utilizar o Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD). 102UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS FIGURA 5 - OBSERVAÇÃO DE PLANTAS DE BUVA (CONYSA BONARIENSIS) RESISTENTES APÓS A APLICAÇÃO DO HERBICIDA PRÓXIMAS DE PLANTAS SUSCETÍVEIS (FORAM AFETA- DAS PELO HERBICIDA) Fonte: Vargas (s/d). 103UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS O processo evolucionário espontâneo que ocorrem em populações é responsável pela resistência de plantas daninhas a herbicidas, que por sua vez, atuam como agentes selecionadores de indivíduos resistentes. Fonte: Christoffoleti et al. (1994). O Paraquat é um herbicida de contato não-seletivo atuante no fotossistema I (grupo dos bipiridíliuns). Recentemente sua comercialização e uso foram proibidos no Brasil, por ser considerado um produto altamente tóxico. Pesquisas mostraram que este produto apresenta índice de mortalidade superior a 70% em humanos. Na cultura da soja e em outras culturas anuais, o paraquat era muito utilizado para dessecação. Com a proibição dessa molécula, ingredientes ativos alternativos com eficácia semelhante foram testados na cultura da soja. Os produtos indicados e as dosagens recomendadas possuem diquat como ingrediente ativo: Diquat+ Hydrocarbon (2+0,5 L/ha), Diquat+ Hydrocarbon (1+0,5 L/ha), Diquat +Flumioxazina+ Hydrocarbon (1+0,05+0,5 L/ha) e Diquat+Flumioxazina+ Hydrocarbon (1 + 0,1 + 0,5 L/ha). Fonte: ROSA, L. F. Avaliação de herbicidas para dessecação da soja como alternativa em substituição ao paraquat. Monografia. UFT – Universidade Federal do Tocantins. 2021. UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final desta unidade de aprendizado e também do conteúdo! Agora chegou a hora de você revisar o conteúdo através de pesquisas direcionadas aos temas mais complexos. Estudando essa unidade pudemos classificar os herbicidas em diferentes métodos de classificação, agora sabemos o que são herbicidas seletivos e não seletivos, sistêmicos e não sistêmicos. Também definimos herbicidas pós-emergentes, pré-emergentes e pré- -plantio. Os herbicidas estão em constante estudo pelos pesquisadores e os mecanismos de ação sempre estão sendo elucidados e atualizados. Dessa forma, frequentemente são descobertas novas moléculas e novas rotas de atuação dos herbicidas nas plantas. Por isso é importante estudar os mecanismos existentes e ficar atento às novas atualizações a cada ano. As misturas dos herbicidas com outros produtos ou com outros herbicidas é uma prática comum nas pulverizações. Existe um regulamento para as misturas em tanque. Para realizar as misturas é necessárioseguir uma sequência específica para adição de cada produto. Além disso, a mistura deve estar em constante agitação e a temperatura baixa pode prejudicar a diluição. Dessa forma, deve ser realizada a leitura dos rótulos dos produtos e seguir as recomendações. Quando não há informações completas, é ideal rea- lizar testes de compatibilidade entre produtos antes da mistura. Estudando a resistência das plantas tratada no último tópico, percebemos que é um problema grave na agricultura. Os casos de resistência cruzada e múltipla de plantas da- ninhas aos herbicidas no mundo e no Brasil estão em constante crescimento devido à alta pressão de seleção. Uma das formas ideais de prevenir o surgimento de espécies resisten- tes é a utilização do Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD). Espero que você tenha gostado de aprender sobre os herbicidas e também espero que não pare por aqui! 104 UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS LEITURA COMPLEMENTAR Artigo: GONÇALVES, E. A. et al. Avaliação do controle químico da tiririca (Cyperus rotun- dus) com diferentes mecanismos de ação. Revista Unimar Ciências, 2021. Disponível em: http://201.62.80.75/index.php/ciencias/article/view/1682/946 Acesso em: 14 set. 2022. A tiririca (Cyperus rotundus) é considerada a planta daninha mais disseminada e agressiva na agricultura, principalmente devido a sua forma eficiente de reprodução, provocando reduções quantitativas e qualitativas na produção mundial das principais culturas. Para o controle químico da tiririca podem ser utilizados o 2,4-D, glifosato e halossulfurom-metílicosão. Os dois primeiros são herbicidas sistêmicos que proporcionam o controle de plantas daninhas já desenvolvidas (utilizadas em conjunto ou isoladamente). O terceiro faz parte do grupo dos inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS).Para serem eficazes os herbicidas utilizados precisam ser absorvidos e translocados em quantidades suficientes para os tubérculos. Esse artigo indicado avalia o controle químico da tiririca com os ingredientes ativos glifosato, 2,4-D e halossulfurom-metílico, bem como a persistência desse efeito sobre a rebrota dos tubérculos. Os resultados descritos pelos autores mostraram que o herbicida halossulfurom- metílico para o controle da tiririca foi eficiente e superior aos demais tratamentos. Além disso, embora tenha sido eficiente nos primeiros 12 dias após a aplicação, o glifosato não inibiu totalmente o desenvolvimento e brotação da tiririca a longo prazo. 105 http://201.62.80.75/index.php/ciencias/article/view/1682/946 UNIDADE 4 HERBICIDAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Guia de herbicidas Autor: Benedito Noedi Rodrigues e Fernando Sousa de Almeida (in memoriam) Editora: Do Autor Sinopse: O livro traz 102 fichas técnicas de herbicidas, sendo 73 ingredientes ativos isolados e 29 misturas prontas, num total de 311 marcas comerciais. É uma edição atualizada, incluindo novas informações. Os herbicidas são mencionados pelo seu nome comum e apresentados por ordem alfabética, tanto em relação a ingredientes ativos isolados quanto a misturas prontas. Os nomes científicos e vulgares das plantas daninhas citadas neste livro são os mesmos citados nas bulas dos respec- tivos produtos. FILME/VÍDEO Título: Fisiologia de Herbicidas Ano: 2020 Sinopse: O vídeo traz aspectos relativos à fisiologia de mecanis- mos de ação de herbicidas e sua aplicabilidade na agricultura. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=WhWbb- cpWW5Q 106 https://www.youtube.com/watch?v=WhWbbcpWW5Q https://www.youtube.com/watch?v=WhWbbcpWW5Q REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBRECHT, L. P. et al. Métodos de controle de plantas daninhas. In: BARROSO, A. A. M.; MURATA, A. T. Matologia: estudos sobre plantas daninhas. Jaboticabal: Fábrica da Palavra, 2021. 145-169 p. ALBRECHT, L. P.; ALBRECHT, A. J. P. Manejo de plantas daninhas na cultura do milho. Plantio Direto & Tecnologia Agrícola, v. 173, v. 29-33, 2020. BARROSO, A. A. M.; MURATA, A. T. Matologia: estudos sobre plantas daninhas. Jabo- ticabal: Fábrica da Palavra, 2021. 547 p. BARROSO, A. A. M.; MURATA, A. T. Matologia: estudos sobre plantas daninhas. Jabotica- bal: Fábrica da Palavra, 2021. 547 p. BRACCINI, A. L. 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Para tanto abordamos as definições teóricas e, neste aspecto, acreditamos que tenha ficado claro para você o quanto é necessário para um engenheiro agrônomo os conhecimentos sobre plantas daninhas, pois qualquer cultura que você irá trabalhar poderá ter a interferências das plantas daninhas. Tendo em vista as características de agressividade e estudando o grau de interferência das espécies daninhas vimos que este depende de múltiplos fatores, como a comunidade infestante, o tipo de cultura agrícola e a época em que ocorre a convivência entre as plantas, sendo alterados dependendo das condições de solo, clima e manejo. Dessa forma, o manejo ideal das plantas daninhas nas culturas agrícolas depende do conhecimento aprofundado do profissional quanto à cultura e as plantas infestantes. Ao trabalhar com os métodos de controle, pudemos aprender mais sobre o método cultural, controle mecânico, físico, bem como o controle biológico e químico das plantas daninhas. Sabendo que o uso dos métodos em conjunto favorecem o manejo integrado de plantas daninhas (MIPD), com maior chance de controle e menor risco de seleção de espécies reisitentes. Quando estudamos os herbicidas observamos que são os principais produtos utilizados pelos agricultores para controle das plantas daninhas. Dessa forma, estão em constante estudo e os mecanismos de ação sempre estão sendo elucidados e atualizados. Vimos a importância dos cuidados ao misturar herbicidas no tanque ou misturar com outros produtos e que existe um regulamento pra esse fim. Por fim, estudando a resistência das plantas daninhas sendo um problema grave na agricultura em constante crescimento devido à alta pressão de seleção. Diante de todo o conteúdo exposto, cabe a você como futuro profissional, a responsabilidade de atuar de forma idônea e responsável para recomendar o manejo eficiente das plantas daninhas. Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado! 112 ENDEREÇO MEGAPOLO SEDE Praça Brasil , 250 - Centro CEP 87702 - 320 Paranavaí - PR - Brasil TELEFONE (44) 3045 - 9898 Shutterstock Site UniFatecie 3:a certificação, como por exemplo, leiteiro (Euphorbia heterophylla), arroz vermelho (Oryza sativa), feijão-miúdo (Vigna unguiculata), capim-massambará (Sorghum halepense). ● Intoxicação de animais: plantas como cavalinha (Equisetum piramidale), chibata (Ar- rabidae bilabiata), cafezinho (Palicourea marcgravii) quando ingeridas podem causar a morte de animais. ● Parasitismo em algumas plantas: Plantas como a erva de passarinho (Phoradendron rubrum) podem parasitar plantas de citros e erva-de-bruxa (Striga spp.) parasitam plantas de milho. Essa última é uma praga quarentenária ausente no Brasil, ou seja, ainda não está ocorrendo no país com alto risco de introdução, sendo a pior invasora do milho (FIGURA 1). FIGURA 1 - ERVA-DE-BRUXA (STRIGA HERMONTHICA) PARASITANDO PLANTAS DE MILHO 11UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS ● Redução do valor da terra: Algumas plantas como tiririca (Cyperus rotundus) e los- na-brava (Artemisia verlotorum) em áreas de olerícolas ou jardins podem ter custo alto de controle e este pode acabar sendo inviável. 1.3.1.2 Prejuízos indiretos Silva et al. (2007) menciona os prejuízos indiretos: ● Disseminação de pragas e doenças: As plantas daninhas podem hospedar agentes causais nocivos de espécies cultivadas. Por exemplo, plantas de guanxuma (Sida spp.) são hospedeiras de pulgões (Aphis spp.) e da mosca-branca (Bemisia tabaci) que podem transmitir o vírus do mosaico-dourado do feijoeiro, soja, algodão e outras. O capim-massambará (Sorghum halepense) é hospedeiro do vírus do mosaico da cana-de-açúcar. Uma vasta gama de espécies de plantas daninhas (~50 espécies) são hospedeiras de nematóides que causam cisto na soja (gênero Meloidogyne e Heterodera). ● Restrição de práticas culturais: Algumas espécies como corda-de-viola (Ipomoea spp.) podem impedir ou prejudicar a realização da colheita, aumentando as perdas e diminuindo a eficiência das máquinas. Plantas espinhosas como Capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), arranha-gato (Acacia plumosa) e carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum) podem impedir a colheita manual de algumas culturas. ● Criação de ambiente conveniente: pode haver ambiente favorável para desen- volvimento de agentes vetores ou animais peçonhentos (escorpiões, aranhas ou cobras). ● Problemas em ambientes aquáticos: As plantas daninhas podem prejudicar a pesca, dificultar a irrigação e manejo da água, bem como prejudicar o funcionamento de hidrelétricas. Plantas de aguapé (Eichornia crassipes) e taboa (Typha angustifolia) (Figura 2) podem ocasionar maior perda de água de reservatórios, diminuindo a eficiência do uso da água e também dificultar a navegação. FIGURA 2 - A) INFESTAÇÃO DE PLANTAS DE AGUAPÉ (EICHORNIA CRASSIPES) E B) TABOA (TYPHA ANGUSTIFOLIA) EM LAGO 12UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS 3.1.2 Aspectos positivos Carvalho (2013) cita os aspectos que podem ser considerados positivos das plantas daninhas: ● Cobertura vegetal: a presença das plantas daninhas pode trazer benefícios para o solo, melhorando a estruturação, mantendo a umidade e diminuindo o potencial de escorrimento superficial. ● Hospedeiras de Inimigos naturais: às plantas daninhas podem hospedar inimigos naturais de patógenos das culturas comerciais, favorecendo a ocorrência do controle biológico. ● Ornamentação: Algumas plantas daninhas podem ser usadas como plantas orna- mentais, como por exemplo a corda-de-viola (Ipomoea spp. e Merremia spp.) que são usadas como trepadeiras. ● Farmacologia: Plantas com flor-das-almas (Senecio brasiliensis), melão-de-são- -caetano (Momordica charantia), mamona (Ricinus communis), fedegoso (Senna obtusifolia) entre muitas outras possuem efeitos medicinais. ● Alimentação: Espécies como azevém (Lolium multiflorum), caruru (Amaranthus spp.), trevo (Trifolium spp.), entre outras, são utilizadas na alimentação humana e/ ou animal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 ECOLOGIA DAS PLANTAS DANINHAS TÓPICO 2.1 Origem e evolução As plantas daninhas tiveram origem ecologicamente nos primórdios da Terra, antes dos seres humanos. Elas existem desde quando nossas plantas cultivadas ainda eram silvestres. Com o passar do tempo, ocorreu a domesticação e consequentemente o melho- ramento das espécies cultivadas, isso fez com que a agressividade que era essencial para sobrevivência em condições adversas, fosse retirada gradativamente dessas plantas. Por sua vez, as plantas silvestres foram evoluindo pela pressão de seleção, se tornando cada vez mais eficientes quanto à sobrevivência (BRIGHENTI e OLIVEIRA, 2011). As plantas daninhas são espécies pioneiras, ou seja, plantas especializadas em colonizar áreas em que a vegetação foi eliminada (CARVALHO, 2013). Acredita-se que a origem inicial das plantas daninhas foram distúrbios naturais, como o degelo global (de- glaciação) após o congelamento global que ocorreu por volta de 11 a 14 mil anos (MUZIK, 1970 citado por BRIGHENTI e OLIVEIRA, 2011). Com o início da agricultura as plantas daninhas se estabeleceram graças a seleção realizada pelo homem de plantas cultivadas (benéficas) e daninhas (maléficas). Na verda- de, o homem é quem cria o ambiente favorável para a ocorrência das plantas daninhas, sendo provavelmente o responsável pela sua evolução (BRIGHENTI e OLIVEIRA, 2011). Carvalho (2013) cita exemplos de plantas que foram selecionadas ou não totalmente domesticadas pelo homem e depois foram abandonadas por algum motivo de não sucesso, se tornando plantas daninhas, como o é caso do capim-massambará (Sorghum halepense) (Figura 3A). Outras plantas daninhas muito problemáticas surgiram do cruzamento entre espécies selvagens e raças de plantas cultivadas, como no caso da evolução do arroz-ver- melho (Oryza sativa) na cultura do arroz (Figura 3B). 13 14UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS FIGURA 3 - A) CAPIM-MASSAMBARÁ (SORGHUM HALEPENSE) B) ARROZ-VERMELHO (ORYZA SATIVA) De acordo com Carvalho (2013) atualmente, o principal problema de manejo de plantas daninhas está relacionado à evolução proveniente da pressão de seleção causada pelos herbicidas. O uso inadequado desses produtos favorece a seleção de biótipos resis- tentes de plantas. Esse tema será tratado mais adiante em nossos estudos. 2.2 Agressividade Carvalho (2013) menciona agressividade como a capacidade da planta de perpetuar e se estabelecer num local. A agressividade é justamente o fator que torna as plantas da- ninhas especialistas em colonizar agroecossistemas. Esse fator reflete aspectos relaciona- dos à reprodução, dispersão e à capacidade de interferência, que veremos mais adiante em nossos estudos. As plantas daninhas possuem vantagens em relação às cultivadas, pois podem se estabelecer e proliferar rapidamente na área e por consequência tornar-se uma espécie dominante. Silva et al. (2007) descrevem as características principais de agressividade das plan- tas daninhas: ● Alta capacidade de produção de dissemínulos (sementes, bulbos, rizomas, es- tolões, tubérculos, etc.): Como são plantas pioneiras, de maneira geral as plantas daninhas produzem grande número de dissemínulosou propágulos e isso contribui para a manutenção do banco de sementes no solo. Esses dissemínulos favorecem a variabilidade genética populacional que possibilita a ocorrência de plantas resistentes às pressões de seleção. Ex. Amaranthus retroflexus produz mais de 100 mil semen- tes por planta; a serralha (Sonchus oleraceus): 400 mil sementes por planta; a buva (Conyza spp.): cerca de 175 mil sementes por planta (Figura 4); a tiririca (Cyperus rotundus): além de produzir centenas de sementes viáveis, multiplica 1 tubérculo em 126 em 60 dias e cada tubérculo possui em torno de 10 gemas. 15UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS FIGURA 4 - A) PLANTA DE BUVA (CONYZA CANADENSIS) PRODUZINDO SEMENTES B) ASPECTO DAS SEMENTES EM BUVA ● Viabilidade de sementes em condições desfavoráveis: Sementes de campainha (Convolvulus arvensis) permanecem viáveis mesmo depois de passar pelo trato di- gestivo de bovinos ou suínos e 54 meses submersas em água. ● Germinação em grandes profundidades: característica resultante da evolução cau- sada pela pressão de seleção. Permite condições de umidade para germinação mes- mo a superfície do solo estando seca. Algumas plantas daninhas podem germinar e emergir em até 20 cm de profundidade como o amendoim-bravo (Euphorbia hetero- phylla), 17 cm como a aveia-branca (Avena fatua) e 12 cm como Ipomoea sp. ● Desuniformidade no processo de germinação: É uma estratégia importante, pois se todas as sementes germinarem ao mesmo tempo, o controle seria mais fácil e rápido devido a diminuição do banco de propágulos. Essa desuniformidade ocorre devido aos processos complexos de dormência e também à disposição de sementes em diferentes níveis de profundidade do solo. ● Mecanismos alternativos de reprodução: a reprodução pode ocorrer por meio de estruturas vegetativas (assexuada) e simultaneamente sexuada e assexuada. Ex. o capim-massambará (Sorghum halepense) produz sementes e rizomas; as tiriricas (Cyperus spp.) produzem sementes e tubérculos; a grama seda (Cynodon dactylon) produz sementes e estolões. ● Facilidade de dispersão de propágulos: As sementes são facilmente disseminadas para grandes distâncias, são pequenas e leves e muitas vezes possuem estruturas de dispersão. São transportadas pelo vento, pela água, por animais, pelo homem, por máquinas, etc. ● Rápido desenvolvimento e crescimento inicial: Geralmente as plantas daninhas crescem mais rápido que outras, passando do estado vegetativo para o reprodutivo 16UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS rapidamente. Na cultura da soja, por exemplo, a Brachiaria plantaginea pode dominar facilmente a área se não controlada no momento correto. ● Grande longevidade das sementes: A longevidade está relacionada com o processo de dormência das sementes. Sementes de ançarinha-branca (Chenopodium album) possuem longevidade estimada de 1.700 anos é de lótus-da-Índia (Nelumbo nucifera), de 1.040 anos. Já sementes de erva-de-bicho (Polygonum spp.) tem longevidade de 400 anos no solo e bolsa-do-campo (Thlaspi arvense) podem estar viáveis no solo por 30 anos. ● Capacidade de maturação de frutos e sementes após o desligamento da planta- -mãe: As plantas daninhas como picão-preto (Bidens pilosa) e maria-mole (Senecio vulgaris) podem desenvolver sementes viáveis a partir de estruturas florais em desen- volvimento, ou seja, mesmo sem terem atingido a maturação prévia na planta-mãe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 INFESTAÇÃO DE PLANTAS DANINHAS TÓPICO A infestação envolve o processo de reprodução, disseminação, armazenamento de sementes no solo, germinação e estabelecimento das plantas daninhas na área. Todo pro- cesso é ajustado por complexos mecanismos de dormência. Através desse processo, às plantas daninhas garantem sua sobrevivência no solo (Tópico 4), perpetuação e possível reinfestação ou recolonização (CARVALHO, 2013). 3.1 Reprodução A reprodução pode ocorrer via sexuada (seminífera) ou assexuada (vegetativa). A reprodução sexuada necessita da polinização e fecundação do óvulo e na reprodução as- sexuada isso não ocorre. Algumas plantas daninhas ainda podem apresentar, na mesma planta, os dois tipos de reprodução (CARVALHO 2013). 3.1.1 Reprodução sexuada A reprodução sexuada ocorre pela polinização, seguida de fecundação (ou fertiliza- ção). A polinização é feita pelos grãos de pólen no estigma (receptor feminino). A fecun- dação ocorre quando através da fusão do gameta feminino com o gameta masculino que origina a semente. A semente, então, é a unidade sexuada de reprodução. A maioria das plantas daninhas se autopolinizam (são autógamas) e hermafroditas (possui flores mascu- linas e femininas na mesma planta e também pode apresentar flores na mesma planta com aparelhos reprodutores masculinos e femininos) (LORENZI, 2002). Outra parte das plantas daninhas são alógamas, ou seja, necessitam de agentes po- linizadores para reprodução sexuada. De acordo com Carvalho (2013), os principais tipos de polinização das plantas daninhas são: 17 18UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS ● Anemofilia: polinização pelo vento; ● Entomofilia: polinização por insetos; ● Ornitofilia: polinização por aves; ● Hidrofilia: polinização pela água; ● Quiropterofilia: polinização por morcegos; ● Antropofilia: polinização pelo homem. Plantas daninhas comuns em nossa região são exemplos de espécies que se repro- duzem apenas por sementes (sexuada): caruru (Amaranthus spp.) (Figura 5), buva (Cony- za spp.), azevém (Lolium multiflorum) e picão-preto (Bidens spp.). FIGURA 5 - PLANTA DE CARURU (AMARANTHUS HYBRIDUS) PRODUZINDO SEMENTES 3.1.2 Reprodução assexuada A reprodução assexuada é aquela que ocorre quando não há a fusão de gametas, ou seja, não há polinização e fecundação. Nesse caso, as plantas originárias são conside- radas clones da planta-mãe, apresentando características idênticas geneticamente. De acordo com Carvalho (2013) os principais tipos de reprodução assexuada das plantas daninhas são: ● Apomixia: Há a formação de sementes sem a fecundação dos óvulos; ● Multiplicação vegetativa: enraizamento de bulbos, tubérculos, rizomas ou estolões (propágulos); ● Brotação: brotação de gemas presentes em folhas, caules ou raízes; ● Fragmentação: brotação de gemas em folhas, caules ou raízes de estruturas frag- mentadas. Fragmentação é diferente de brotação porque na brotação a estrutura se encontra junto da planta-mãe e na fragmentação é separada da planta-mãe. 19UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS As principais estruturas de reprodução das plantas daninhas e exemplos das mes- mas, são mencionados a seguir de acordo com Carvalho (2013): ● Bulbo: estrutura de reserva e de reprodução vegetativa subterrânea. Em plantas cultivadas são comuns em cebola. Ex. de plantas daninhas: trevos (Oxalis spp.). ● Tubérculo: caule subterrâneo com função de reserva e reprodução vegetativa, ge- ralmente arredondado e curto. Em plantas cultivadas é típico de batata-inglesa. Ex. de plantas daninhas: tiririca (Cyperus spp.) e falsa-tiririca (Hypoxis decumbens). ● Rizoma: caule do tipo subterrâneo com aspecto de raiz que possui função de re- produção vegetativae de reserva. Ex. de plantas daninhas: grama-seda (Cynodon dactylon), capim-amargoso (Digitaria insularis) e tiririca (Cyperus spp.). ● Estolão: Também chamado de estolho, é um tipo de caule longo com função de reprodução vegetativa. Cresce paralelamente ao solo, geralmente em profundida- des superficiais. Apresenta poucas folhas e aspecto de perfilho. Difere-se do rizoma porque não faz parte do caule principal da planta. Ex. de plantas daninhas: grama- -boiadeira (Luziola peruviana) e grama-seda (Cynodon dactylon). 3.1.3. Reprodução sexuada e assexuada em plantas daninhas As plantas daninhas podem apresentar tanto reprodução vegetativa quanto seminífe- ra. As plantas que apresentam essa característica geralmente são perenes e possuem alto potencial infestante, consequentemente, são de difícil controle. São exemplos as plantas daninhas: sagitária (Sagittaria spp.), trapoeraba (Commelina spp.), tiririca (Cyperus spp.) (Figura 6), capim-dos-pampas (Cortaderia selloana), capim-amargoso (Digitaria insularis) e grama-seda (Cynodon dactylon) (CARVALHO, 2013). FIGURA 6 - A) PLANTA DE TIRIRICA (CYPERUS ROTUNDUS) PRODUZINDO SEMENTES E B) SUAS ESTRUTURAS DE REPRODUÇÃO ASSEXUADAS (RIZOMA E TUBÉRCULO). 3.2 Disseminação A disseminação é processo de espalhamento de propágulos (bulbos, tubérculos, rizomas e es- tolões) e sementes de plantas daninhas. A disseminação pode ser considerada um sinônimo de dispersão, porém, a última se refere apenas a distribuição de sementes (CARVALHO, 2013). 20UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS De acordo com Brighenti e Oliveira (2011) a dispersão de plantas daninhas é rea- lizada por autocoria: meios próprios ou inerentes à planta-mãe. Os frutos se abrem ou caem no solo liberando as sementes. Ex: Capim-arroz (Echinochloa crus-pavonis) e arro- z-vermelho (Oryza sativa) e Euphorbia Heterophylla que pode lançar suas sementes em até 5 metros de distância (propulsão mecânica); alocoria: agentes de dispersão externos. Podem ser diversos: ● Hidrocoria: Dispersão pela água. Comum em várias espécies, especialmente aque- las que possuem estruturas reprodutivas secas e leves; ● Anemocoria: Dispersão pelo vento. Importante para espécies que possuem adap- tações como pilosidade (presença de pelos), como por exemplo a couvinha (Poro- phyllum ruderale) que possui sementes com papilhos pilosos carregados facilmente pelo vento. Outros exemplos de sementes com pilosidade são dente-de-leão (Tara- xacum officinale) e buva (Conyza spp.). Sementes muito leves também se beneficiam do vento para dispersão como as sementes de caruru (Amaranthus spp.) e beldroega (Portulaca oleracea). ● Zoocoria: transporte dos propágulos por animais. Dividida em Epizoocoria: quan- do o propágulo é carregado externamente ao corpo do animal, ex: capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) e picão-preto (Bidens pilosa). Endozoocoria: quando o propá- gulo é ingerido e carregado internamente ao corpo do animal, sendo excretado pelas fezes, ex: grama-batatais (Paspalum notatum) ingerida por bovinos e plantas com frutos carnosos e coloridos como melão-de são-caetano (Momordica charantia) ● Antropocoria: Disseminação pelo homem. Pode ser voluntária ou involuntária. Mui- tas plantas foram introduzidas de forma voluntária pelas pessoas para fins ornamen- tais ou econômicos. Exemplo importante é o capim-brachiaria que foi introduzido da África no Brasil para servir como forrageira. Outro exemplo de antropocoria foi a dis- seminação do capim-arroz (Echinochloa spp.) por estruturas reprodutivas misturadas às sementes de arroz cultivado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 BANCO DE SEMENTES E MECANISMOS DE DORMÊNCIA EM PLANTAS DANINHAS TÓPICO 4.1 Banco de sementes no solo De acordo com Braccini (2011) o banco de sementes do solo é definido como todas as sementes viáveis que estão enterradas ou na superfície do solo. Relembrando os con- ceitos vistos anteriormente, vamos considerar neste tópico “banco de sementes”, porém, sabemos que podem haver outras estruturas de reprodução (bulbos, rizomas, estolhos, etc.) presentes no solo, então também podemos chamar de “banco de propágulos” para englobar todas as estruturas. O solo funciona como um reservatório de sementes e propágulos, em que pode ha- ver entradas e retiradas dos mesmos, como mostrado na Figura 7. 21 22UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS FIGURA 7 - MODELO DA DINÂMICA DO BANCO DE SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS NO SOLO Fonte: Barroso e Murata (2021, p. 48). O balanço entre a entrada de novas sementes e as perdas (germinação, deterioração, predação, parasitismo e dispersão) (Figura 7) é o que regula o tamanho e composição de espécies do banco de sementes. As entradas principais ocorrem pela produção de novas sementes por plantas que ficaram na área após controle e dispersão de sementes via vento, maquinários, animais, água e o homem, como já vimos no tópico anterior. As retiradas variam de acordo com a espécie de planta, a dormência, as condições ambientais e a presença de microrganismos e predadores (MONQUERO e SILVA, 2005). O banco de sementes é considerado como principal fonte de sementes de plantas daninhas para infestações futuras, podendo conter milhares de sementes/m2 (BRACCINI, 2011). A compreensão dessa dinâmica dos bancos de sementes pode melhorar consideravelmente as estratégias de manejo das plantas daninhas. A redução desse reservatório pode melhorar os problemas causados por essas plantas nas áreas agrícolas e dessa forma gerar economia para os agricultores, especialmente reduzindo a utilização de herbicidas (MONQUERO e SILVA, 2005). 4.1.1 Classificação dos bancos de sementes Os bancos de sementes são classificados em transitórios e persistentes de acordo com Braccini (2011): ● Banco de sementes transitório: é composto por sementes que permanecem viáveis por até um ano no solo. São raras as plantas daninhas que fazem parte deste tipo de banco como exemplo podemos citar: aveia-brava (Avena fatua) e Cauda-de-raposa (Alopecurus myosuroides). 23UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS ● Banco de sementes persistente: é composto por sementes que só germinam após o período de um ano. Muitas dessas sementes não germinam logo após sua formação por possuírem mecanismos de dormência. São consideradas as principais fontes de infestações futuras em áreas agrícolas e podem estar enterradas mais profundamente no solo. Algumas espécies produzem sementes que podem permanecer viáveis por muitos anos e essa longevidade pode dificultar o manejo da área de cultivo. 4.1.2 Densidade e composição do banco de sementes do solo A composição e a densidade variam de acordo com o histórico da área de cultivo e pelas práticas culturais adotadas. O tamanho do banco de sementes pode chegar a mais de um milhão de sementes por metro quadrado de área e sua composição engloba ampla variedades de espécies (BRACCINI, 2011). Segundo Braccini (2011), geralmente os bancos de sementes apresentam 70 a 90% do total de sementes composto por poucas espécies dominantes, porém, consideradas as mais prejudiciais aos sistemas agrícolas, por possuírem alta capacidadede adaptação aos ambientes e resistência às medidas de controle. Os outros 10 a 20% é composto geral- mente por espécies adaptadas à área geográfica e não adaptadas às práticas culturais da área de cultivo. Os maiores bancos de sementes são os de ambientes cultivados, de acordo com Fenner (1995) citado por Braccini (2005) o tamanho dos bancos de sementes varia dependendo do ambiente, em áreas cultivadas de 20.000 a 40.000 sementes/m2, em pradarias/pântanos de 5.000 a 20.000 sementes/m2, em florestas temperadas de 1.000 a 10.000 sementes/m2, em florestas tropicais de 100 a 1.000 sementes/m2, e em florestas de regiões montanhosas de 10 a 100 sementes/m2. 4.1.3 Metodologia para estudo do banco de sementes A estimativa qualitativa e quantitativa de sementes presentes no solo pode ser verificada pela germinação direta das amostras do solo ou extração física das sementes seguida de ensaios de viabilidade. Essa estimativa é importante ferramenta para os agricultores para um possível planejamento do controle para impedir aplicação inadequada de herbicidas em condições de pré-emergência (MONQUERO e SILVA, 2005). Normalmente um dos métodos mais utilizados para quantificação de sementes nesse caso é a coleta de amostras de solos e em seguida de deposição em bandejas em condições favoráveis de germinação, seguido de enumeração da emergência de plantas. Outro método que pode ser utilizado é o método de separação mecânica das sementes do solo pela utilização de peneiras, flutuação em água, fluxo de ar ou separação manual (BRACCINI, 2011; MONQUERO e SILVA, 2005). 24UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS 4.2 Dormência e germinação de sementes A dormência e germinação estão ligados à dinâmica do banco de sementes ou pro- págulos das plantas daninhas. A dormência é um processo relacionado à manutenção das sementes no solo e a germinação é relacionada à retirada das sementes do banco, que permite a geração de uma nova planta e consequentemente mais estruturas de reprodução (CARVALHO, 2013). 4.2.1 Dormência Quando as sementes estão em condições do ambiente ideais para a germinação e mesmo assim não germinam, elas são consideradas dormentes. A dormência é diferente da quiescência, que se refere a não germinação da semente por falta de condições favoráveis do ambiente. A dormência é um fenômeno que pode levar poucos dias ou até vários anos para ser superada (BRACCINI, 2011). De acordo com Braccini (2011) a maioria das plantas daninhas apresenta algum tipo de dormência, a qual contribui para a longevidade e manutenção do banco de sementes dessas plantas, dificultando seu controle. A dormência das sementes pode ser classificada como primária ou secundária. A dormência primária ocorre quando a semente ainda está ligada fisiologicamente à planta- -mãe. A dormência secundária está relacionada a fatores ambientais, como luz e tempera- tura, quando a semente não está mais ligada à planta-mãe (BRACCINI, 2011). Os principais mecanismos ou causas de dormência de sementes de plantas daninhas são descritos a seguir de acordo com Carvalho (2013) e Braccini (2011), (lembrando que são mecanismos que causam a dormência primária): ● Embrião imaturo: maturidade morfológica ou fisiológica incompleta do embrião. Nesse caso é necessário um tempo de maturação após a dispersão. Ex: carrapicho- de-carneiro (Acanthospermum hispidum); ● Impermeabilidade do tegumento à água: pela dureza do tegumento, as sementes não absorvem água quando colocadas em condições favoráveis. São as chamadas “sementes duras”. Ex: fedegoso (Senna obtusifolia) e trevo-vermelho (Trifolium incarnatum); ● Impermeabilidade do tegumento ao oxigênio: restrições do tegumento à absorção de O2 e/ou liberação do gás carbônico, geralmente pela presença de mucilagem ou consumo do oxigênio pelo embrião. Ex: muito comum em gramíneas (família poaceae) como aveia-silvestre (Avena fatua) e as braquiárias; ● Restrições mecânicas: o tegumento ou outras estruturas envoltórias do embrião são resistentes ou duras. Ex: Caruru (Amaranthus spp.) e grama-batatais (Paspalum notatum); ● Embrião dormente: o embrião é dormente devido a condições fisiológicas no em- 25UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS brião. Ex: erva-de-bicho (Polygonum spp.); ● Dormência provida por inibidores internos: presença de compostos inibidores como ácido abscísico (ABA), cumarina e compostos fenólicos podem inibir a ger- minação das sementes. A luz e a temperatura são outros fatores que interferem no processo de dormência causada por inibidores internos. Ex: Caruru (Amaranthus retroflexus); ● Combinação de causas: Sementes de Panicum spp. Paspalum spp. e Braquiária são exemplos de espécies que possuem mais de um mecanismo de dormência (em- briões imaturos, impermeabilidade a gases e inibidores internos). Agora que já conhecemos as causas da dormência vamos entender como é feita a superação ou quebra de dormência para a germinação das sementes das plantas daninhas. Existem vários métodos de superação de dormência que podem ser utilizados dependendo do mecanismo que ocorre na semente, podendo ser naturais ou induzidos pelo homem. Os principais mecanismos de superação de dormência em plantas daninhas são descritos a seguir de acordo com Carvalho (2013) e Braccini (2011): ● Escarificação mecânica: expor as sementes contra superfícies abrasivas (pedra, lixa, carbonato de silício) para eliminar ou desgastar parte do tegumento. ● Escarificação ácida: colocar as sementes em substâncias ácidas (ácido sulfúrico, ácido cítrico) por determinado tempo. ● Secagem: colocar as sementes em condições de umidade muito baixa; ● Estratificação: colocar as sementes em ambiente arejado, com temperatura e umi- dade baixas por um período variável de tempo dependendo da espécie. Baixas tem- peraturas são usadas para quebrar a dormência causada por embrião dormente. ● Temperaturas alternadas: colocar as sementes em condições de temperaturas al- ternadas altas e baixas. Indicada para tornar as sementes mais permeáveis ao oxi- gênio. ● Exposição à luz ou escuro: colocar as sementes em condições de escuro, luz ou a combinação dos dois. 4.2.2 Germinação Quando é superada a dormência, se houver condições ambientais adequadas a semente está apta a germinar. A germinação se inicia após a embebição e ocorre por um conjunto de processos fisiológicos e metabólicos, completando com o rompimento do tegu- mento pelo caulículo (futuros caules e folhas) e/ou a radícula (futuras raízes) (CARVALHO, 2013). Existem dois fatores importantes que podem controlar a germinação das sementes, a luz e o balanço hormonal. As espécies que são influenciadas pela luz são chamadas fo- toblásticas. As fotoblásticas positivas germinam na presença de luz e as fotoblásticas negativas germinam no escuro (ausência de luz) (CARVALHO, 2013). 26UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS O balanço e interação hormonal pode controlar ou inibir a germinação, como já vi- mos nos mecanismos de inibição. O ácido giberélico (GA3), as citocininas e o etileno são substâncias que estimulam a germinação das sementes (BRACCINI, 2011; CARVALHO, 2013). 27UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS “A demanda cada vez maior de alimentos, fibras e energia, para uma população crescente de consumidores, requer aumento de área cultivada ou de produtividade. Em ambos os casos, um dos entraves é o manejo inadequado das plantas daninhas”. Fonte: Silva et al. (2007, p. 07). As plantas daninhas do gênero Striga (Orobanchaceae) são parasitas obrigatórios de raízes de cereais, como o milho. Elas prejudicam o crescimento normal do hospedeiro por três processos: competição por nutrientes, prejuízo na fotossíntese e efeitos fitotóxicos após a ligação ao hospedeiro. As espécies de Striga sãoeconomicamente importantes em mais de 50 países. Os métodos de controle que podem ser utilizados para essa espécie são: medidas preventivas, controle cultural, genético, mecâ- nico, biológico e químico. Deve ser feita a integração dos diferentes métodos para o adequado controle da espécie. No Brasil e em diversos outros países essa planta está listada entre as pragas quarentenárias ausentes. Dessa forma, em áreas com suspeita de infestação é necessário conhecer o histórico e verificar se há presença de nódulos referentes à infecção. Fonte: Silva e Gazziero (2018). UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Que ótimo, terminamos a nossa primeira unidade de estudo sobre as plantas dani- nhas! Espero que esteja empolgado (a) para saber ainda mais sobre essas plantas que são um grande problema na agricultura, mas são incrivelmente resistentes e persistentes. Nessa unidade, nós vimos conceitos que são básicos e iniciais para uma melhor compreensão do que está por vir em nossos estudos. Nós identificamos que o conceito de planta daninha é relativamente simples e está relacionado com a capacidade dessas plantas em interferir ou prejudicar alguma atividade do ser humano. Dessa forma, também pudemos notar que o termo mais utilizado atualmente para se referir a essas plantas é o termo “plantas daninhas”. As características de agressividade e a capacidade de disseminação das plantas daninhas nos mostram o porquê dessas plantas apresentam grande dificuldade de controle ou manejo na prática. Como engenheiros agrônomos nós temos que ter a noção de colocar esses conhecimentos sempre aplicados à prática. Então vamos sempre tentar correlacio- nar esses conceitos e conhecimentos básicos com a agricultura e com as dificuldades do produtor rural, para que tenhamos soluções para resolução desses problemas. O banco de sementes e propágulos das plantas daninhas é considerado como principal fonte que acarreta em infestações futuras e por isso é de grande importância para nossos estudos. A dormência e a germinação, que ocorre com a quebra da dormência, são fatores que merecem atenção e estão totalmente relacionados ao manejo das plantas daninhas. Nós também tratamos de fatores, como os hormônios vegetais ou a luz, que interferem diretamente na germinação das plantas. Portanto, esses conceitos iniciais tratados nessa unidade vão fazer a diferença quando nós evoluirmos em nossos estudos. Vamos com tudo! Até a próxima unidade! 28 UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS LEITURA COMPLEMENTAR O reconhecimento da importância da qualidade física e química do solo, em termos agronômicos, bem como o conhecimento da composição e da dinâmica dos bancos de se- mentes pode contribuir para o aperfeiçoamento do manejo em diferentes sistemas de culti- vo. Dessa forma, Melo et al. (2021) realizaram estudo com objetivo de quantificar o número de germinantes viáveis no banco de sementes de plantas daninhas em área submetida a cinco diferentes sistemas de manejo do solo. A pesquisa foi realizada no ano agrícola de 2018. Os tratamentos consistiram do uso associado entre cinco diferentes sistemas de manejo do solo: vegetação nativa, cultivo mí- nimo, sistema plantio direto, sistema convencional e convencional com rotação de culturas. Quatro profundidades de solo foram avaliadas: 0-5; 5-10; 10-15 e 15-20 cm. Foi utilizada a metodologia de emergência das sementes em solo, as plântulas resultantes da germinação foram contadas e identificadas após três meses. Melo et al. (2021) mostraram com esse estudo que o manejo do solo com sistema de plantio direto e cultivo mínimo proporcionam menor número médio de germinantes por me- tro quadrado em relação ao sistema convencional. A presença de resíduos vegetais sobre a superfície do solo no sistema de plantio direto age diretamente na germinação e emer- gência de plantas daninhas no banco de sementes do solo. As sementes estabelecidas nas profundidades até 10 cm do solo são mais susceptíveis à germinação. Fonte: MELO, A. K. P. et al. Quantificação do banco de sementes de plantas daninhas sob diferentes siste- mas de manejo do solo. Nativa, Sinop, v. 9, n. 4, p. 367-372, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.31413/ nativa.v9i4.11290. Acesso em: 05 jul. 2022. 29 https://doi.org/10.31413/nativa.v9i4.11290 https://doi.org/10.31413/nativa.v9i4.11290 UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS E BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Biologia e manejo de plantas daninhas Autor: Rubem Silverio de Oliveira Jr; Jamil Constantin; Miriam Iroko Inoue. Editora: Omnipax. Sinopse: são abordados aspectos relacionados aos conceitos básicos sobre plantas daninhas. São discutidos os principais métodos de manejo e também estratégias alternativas relacio- nadas ao controle biológico e à alelopatia. São tratados concei- tos básicos sobre o controle químico das plantas daninhas e são discutidas as principais formas de classificação dos herbicidas. São discutidos temas relacionados ao desenvolvimento e diag- nóstico da resistência de plantas daninhas aos herbicidas e ao destino destas moléculas no solo e no ambiente. FILME/VÍDEO Título: Banco de sementes de plantas daninhas Ano: 2020 Sinopse: O vídeo trata sobre o banco de propágulos do solo; dormência primária e secundária; causas da dormência de sementes; entradas e saídas do banco de propágulos. Link do vídeo: https://maissoja.com.br/banco-de-sementes-de- -plantas-daninhas-no-solo/ WEB A página traz uma visão atual sobre a redução de Bancos de Sementes de Plantas Daninhas. O autor nos mostra noções de como as condições de solo e clima, cultivares utilizadas e uso de herbicidas podem influenciar a eficiência da redução dos bancos de sementes e seus períodos de sobrevivência. Link do site: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja/2021/10/11/re- ducao-de-bancos-de-sementes-de-plantas-daninhas/ 30 https://maissoja.com.br/banco-de-sementes-de-plantas-daninhas-no-solo/ https://maissoja.com.br/banco-de-sementes-de-plantas-daninhas-no-solo/ https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja/2021/10/11/reducao-de-bancos-de-sementes-de-plantas-daninhas/ https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja/2021/10/11/reducao-de-bancos-de-sementes-de-plantas-daninhas/ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • • Classificação das plantas daninhas; • • Competição entre plantas daninhas e culturas agrícolas; • • Alelopatia; • • Interferência e período crítico de convivência. Objetivos da Aprendizagem • • Compreender a classificação das plantas daninhas; • • Estabelecer a importância da competição entre plantas daninhas e plantas cultivadas; • • Definir e contextualizar a alelopatia no contexto das plantas daninhas; • • Entender e conceituar a Interferência e os períodos de convivência. 2UNIDADEUNIDADE CLASSIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DE PLANTAS DANINHASDANINHAS Professor Dr. Jonas Marcelo Jaski UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS INTRODUÇÃO Olá Aluno (a)! Que bom iniciarmais uma unidade da disciplina de manejo de plan- tas daninhas com você! Espero que esteja animado (a) para aprender muito mais sobre a matologia! Nessa unidade, intensificaremos nossos conhecimentos adquiridos na unidade anterior, pois vamos aprender um pouco mais sobre a biologia e comportamento das plantas daninhas e sua relação de interferência com as plantas cultivadas. Além disso, vamos introduzir conceitos já relacionados a nossa próxima unidade, em que vamos nos aprofundar ainda mais no controle e manejo das plantas infestantes. No primeiro tópico, vamos abordar a classificação das plantas daninhas, tratando da classificação botânica, da classificação quanto ao hábito de crescimento, quanto ao ciclo vegetativo e quanto ao habitat das plantas daninhas. Nessa parte eu trouxe vários exem- plos de espécies, acompanhado de imagens das mesmas para facilitar a sua memorização de algumas plantas daninhas mais comuns. Em nosso segundo tópico, estudaremos a competição entre plantas daninhas e cul- turas agrícolas, abordando principalmente a competição por luz, água, gás carbônico e nutrientes minerais. No tópico três definiremos e contextualizaremos a alelopatia, que é um fenômeno comum em ecossistemas naturais e agrícolas, caracterizada pela produção de compostos químicos pelas plantas direta ou indiretamente no ambiente. Nesse tópico vamos conhecer os principais compostos aleloquímicos, o uso da alelopatia para manejo de plantas dani- nhas, a Alelopatia como base para desenvolvimento de novos herbicidas e os mecanismos de ação dos compostos aleloquímicos. No último tópico da unidade vamos tratar da interferência e período crítico de convi- vência, conceituando Período total de prevenção da interferência (PTPI), Período anterior à interferência (PAI) e Período crítico de prevenção da interferência (PCPI). Desejo a você, ótimos estudos! 32 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 CLASSIFICAÇÃO DAS PLANTAS DANINHAS TÓPICO As plantas daninhas são classificadas de acordo com características semelhantes e reunidas em grupos para facilitar seu estudo. A divisão e agrupamento das plantas dani- nhas é realizada com base em parâmetros como: ciclo vegetativo, hábito de crescimento, habitat e taxonomia. Essas classificações podem facilitar a escolha de métodos de controle efetivos, pois alguns herbicidas por exemplo, apresentam seletividade de acordo com as diferentes características morfológicas e fisiológicas das plantas (FONTES et al., 2003). 1.1 Classificação botânica A classificação botânica é a primeira etapa a ser realizada para a elaboração de um programa de manejo de plantas daninhas, porque a partir dela é possível a identificação correta das espécies. As plantas são agrupadas em classes, ordens, famílias, gêneros e espécies de acordo com suas características morfológicas. A campo o mais importante é reconhecer os principais gêneros e espécies, principalmente nos estádios iniciais de crescimento, no qual as plantas daninhas podem ser manejadas com maior facilidade (BARROSO e MURATA, 2021). As classes eudicotiledônea (dicotiledônea) e monocotiledônea abrangem quase todas as plantas daninhas (cerca de 30.000 espécies), englobando aquelas de maior importância na agricultura (ex. eudicotiledôneas: famílias Amaranthaceae e Asteraceae e monocotiledôneas: famílias Poaceae e Cyperaceae) (SILVA et al., 2007; BARROSO e MURATA, 2021) (FIGURA 1). 33 34UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS FIGURA 1 - DIFERENÇA ENTRE PLANTAS MONOCOTILEDÔNEAS (PARTE SUPERIOR DA IMAGEM) E DICOTILEDÔNEAS (PARTE INFERIOR DA IMAGEM). MONCOTILEDÔNEAS: SEMENTES COM UM COTILÉDONE, RAIZ FASCICULADA, FEIXES LÍBERO-LENHOSOS DO CAULE ESPALHADOS, FOLHAS COM NERVURAS UNINÉRVIAS OU PARALELINÉRVIAS, FLORES TRÍMERAS (PÉTALAS EM MÚLTIPLOS DE 3). DICOTILEDÔNEAS: SEMENTES COM DOIS COTILÉDONES, RAIZ PIVOTANTE, FEIXES LÍBERO-LENHOSOS DO CAULE EM CÍRCULOS, FOLHAS COM NERVURAS RETICULADAS OU PENINÉRVIAS, FLORES DÍMERAS, TETRÂMERAS OU PENTÂMERAS De acordo com Carvalho (2013) o desenvolvimento dos primeiros herbicidas orgâ- nicos gerou a classificação que separava as plantas daninhas em dois grandes grupos: as “folhas largas” (dicotiledôneas), controladas por herbicidas latifolicidas e as “folhas estrei- tas” (monocotiledôneas), controladas por herbicidas graminicidas. No entanto, essa classi- ficação possui limitações: poucos herbicidas podem ser específicos ou seletivos dentro dos níveis de classificação botânica; e existem plantas como a trapoeraba (Commelina spp.) e sagitária (Sagittaria spp.) que podem ser incluídas erroneamente no grupo das “folhas lar- gas”, porque possuem limbo foliar largo, mas também nervação paralelinérvea. 1.2 Classificação quanto ao hábito de crescimento A classificação quanto ao hábito de crescimento das plantas daninhas é descrita a seguir de acordo com Silva et al. (2007) e Carvalho (2013): ● Herbáceas: plantas com caules ou colmos não lignificados e de pequeno porte. Re- presentam a maioria das plantas daninhas de importância na agricultura. Ex: caruru (Amaranthus spp.), mentrasto (Ageratum conyzoides) (FIGURA 2), espérgula (Sper- gula arvensis); 35UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS FIGURA 2 - ASPECTO HERBÁCEO DE AGERATUM CONYZOIDES ● Arbustivas e Subarbustivas: plantas de médio porte, apresentando caule com ramificação desde a base e lignificado. São principalmente importantes no plantio direto, pastagem e reflorestamento. Ex: subarbustivas: fedegoso (Senna obtusifolia) e cheirosa (Hyptis suaveolens), arbustiva: Fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum) (FIGURA 3); FIGURA 3 - A) ASPECTO SUBARBUSTIVO DE HYPTIS SUAVEOLENS E B) ARBUSTIVO DE SOLANUM LYCOCARPUM ● Arbóreas: plantas com caule lignificado com ramificações acima da base do caule e de grande porte. São importantes em áreas de reflorestamento e pastagem. Ex: em- baúba (Cecropia peltata) (FIGURA 4); 36UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS FIGURA 4 - ASPECTO ARBÓREO DE CECROPIA PELTATA ● Trepadeiras: plantas que utilizam como suporte outras plantas para seu crescimento. Ex: corda-de-viola (Ipomoea spp.) e balãozinho (Cardiospermum halicacabum) (FI- GURA 5); FIGURA 5 - ASPECTO DE TREPADEIRA DE A) CARDIOSPERMUM HALICACABUM E B) IPO- MOEA BUSH ● Parasitas: plantas que crescem sobre outras, absorvendo fotoassimilados da planta hospedeira. Podem ser parasitas da parte aérea [ex: cipó-chumbo (Cuscuta racemo- sa) (FIGURA 6 A) e erva-de-passarinho (Struthanthus spp.)] e parasitas do sistema radicular [ex: erva-de-bruxa (Striga spp.) (FIGURA 6 B) e a orobanche (Orobanche spp.)]; 37UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS FIGURA 6 - A) PLANTA CUSCUTA RACEMOSA PARASITANDO A PARTE AÉREA DE UMA ÁRVORE E B) PLANTA STRIGA HERMONTHICA PARASITANDO RAIZ DE MILHO ● Epífitas: plantas que crescem sobre outras, porém não se utilizam dos fotoassimilados da planta sobre a qual se desenvolve. Ex: bromélias. ● Hemiepífitas: plantas que se desenvolvem como as epífitas inicialmente e depois seu sistema radicular chega ao solo. Ex: mata-pau (Caussopa schotii).1.3 Classificação quanto ao ciclo vegetativo De acordo com Silva et al. (2007) e Carvalho (2013) às plantas daninhas podem ser classificadas como anuais, bienais e perenes. ● Anuais: plantas que completam seu ciclo de vida no período de um ano (geralmente ciclo entre 40 e 160 dias). As anuais de inverno germinam no outono ou inverno, produzindo os frutos na primavera e morrem no verão nabiça [(ex: nabiça (Raphanus raphanistrum) e língua-de vaca (Rumex spp.) (FIGURA 7 A)]. As anuais de verão germinam na primavera, crescem no verão e completam seu ciclo no outono [(ex: caruru (Amaranthus spp.) (FIGURA 7 B) e papuã (Urochloa plantaginea)]. As plantas anuais consistem na maioria das plantas daninhas de importância agrícola e normalmente o principal mecanismo reprodutivo é por sementes. FIGURA 7 - ASPECTO GERAL DA PLANTA RUMEX SP. E B) AMARANTHUS SP 38UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS ● Bianuais: plantas que completam seu ciclo de vida normalmente em dois anos, germinando e crescendo no primeiro e se reproduzindo e morrendo no segundo. Podem ser bianuais em determinada região e em outras regiões anuais como Leonurus sibiricus. O controle dessas plantas deve ser realizado no primeiro ano. No Brasil, são poucas as espécies daninhas bianuais, ocorrendo com maior frequência no sul do país. Exemplos: rubim (Leonurus sibiricus) e erva-tostão (Boerhavia diffusa) (FIGURA 8). FIGURA 8 - A) LEONURUS SIBIRICUS E B) BOERHAVIA DIFFUSA ● Perenes: plantas que vivem mais de dois anos e renovam o crescimento a partir do mesmo sistema radicular. São melhor controladas por herbicidas sistêmicos, porque o sistema mecânico pode estimular ainda mais o crescimento das partes vegetativas. As plantas perenes podem ser subdivididas: ○ Perenes herbáceas simples: realizam reprodução por sementes ou vegetativa (se cortadas ou injuriadas) Ex: dente-de-leão (Taraxacum officinale) (FIGURA 9 A); ○ Perenes herbáceas complexas: realizam reprodução por sementes e por es- truturas vegetativas. Ex: grama-seda (Cynodon dactylon) (FIGURA 9 B) e tiririca (Cyperus rotundus) (FIGURA 11); ○ Perenes lenhosas: possuem crescimento secundário de caules, incrementados anualmente. Ex: Mata-pasto (Senna obtusifolia) (FIGURA 10 A); ○ Perenes rizomatosas: se reproduzem por rizomas (caules subterrâneos) que se propaga distante da planta-mãe. Ex: Sorghum halepense (FIGURA 10 B); ○ Perenes estoloníferas: se reproduzem por estolão com nós e raízes que origi- nam novas plantas. Ex: Brachiaria purpuracens; ○ Perenes tuberosas: se reproduzem por tubérculos. Ex: tiririca (Cyperus rotun- dus) (FIGURA 11). 39UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS FIGURA 9 - A) TARAXACUM OFFICINALE E B) CYNODON DACTYLON FIGURA 10 - A) SENNA OBTUSIFOLIA PRODUZINDO FLORES E FRUTOS E B) SORGHUM HALEPENSE FIGURA 11 - A) CYPERUS ROTUNDUS PRODUZINDO FLORES E B) SEUS TUBÉRCULOS 1.4 Classificação quanto ao habitat A classificação quanto ao habitat, é descrita a seguir de acordo com Silva et al. (2007) e Carvalho (2013): ● Terrestres: plantas que se desenvolvem sobre o solo. As plantas terrestres podem ser indicadoras de solos férteis (Ex: Amaranthus spp. e Portulaca oleracea) ou de solos de baixa fertilidade (Ex: Aristida pallens e Sida spp.) por preferirem esses tipos de solos. 40UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS FIGURA 12 - A) C (PORTULACA OLERACEA) E B) CAPIM-BARBA-DE-BODE (ARISTIDA PALLENS) Fonte: 12 B: Nazal e Acuña (2013, p. 119). ● Plantas daninhas de baixada: plantas que preferem solos orgânicos úmidos. Ex: Cuphea carthagenensis e Alternanthera philoxeroides (FIGURA 13). FIGURA 13: A) TRIPA-DE-SAPO (ALTERNANTHERA PHILOXEROIDES) E B) SETE-SANGRIAS (CUPHEA CARTHAGENENSIS) ● Aquáticas: são subdivididas como descrito abaixo e na Figura 14: ○ Marginais (ou de talude): plantas terrestres que se desenvolvem às margens de corpos d’água. Ex: capim-fino (Urochloa purpurascens); ○ Emergentes: plantas que as raízes ancoradas ao fundo do corpo d’água e as folhas na superfície. Ex: taboa (Typha angustifolia); ○ Flutuantes fixas: plantas com raízes ancoradas ao fundo do corpo d’água e com folhas na superfície. Ex: vitória-régia (Victoria amazonica), ○ Flutuantes livres: plantas com raízes não ancoradas ao fundo do corpo d’água e com folhas na superfície. Ex: aguapé (Eichornia crassipes); ○ Submersas livres: apresentam raízes não ancoradas ao fundo do corpo d’água e folhas abaixo da superfície. Ex: algas verdes; 41UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS ○ Submersas fixas: apresentam as raízes ancoradas ao fundo do corpo d’água e as folhas abaixo da superfície. Ex: elódea (Egeria densa). FIGURA 14 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DAS FORMAS BIOLÓGICAS DE VIDA DAS PLANTAS AQUÁTICAS. A: ANFÍBIA OU MARGINAL, B: EMERGENTE, C: FLUTUANTE FIXA, D: FLUTUANTE LIVRE, E: SUBMERSA FIXA, F:SUBMERSA LIVRE Fonte: Leroy (2015, p. 18) adaptado de: Irgang et al. (1984). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 2 CLASSIFICAÇÃO E INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS A competição é uma interação que ocorre entre seres vivos que é prejudicial para ambos os indivíduos envolvidos (CARVALHO, 2013). Uma planta utiliza água, luz, gás carbônico, oxigênio e nutrientes minerais para completar seu ciclo de vida. Esses recursos podem se tornar escassos durante o processo de crescimento, isso é agravado quando há presença de outras plantas que também necessitam dos mesmos recursos, no mesmo espaço. Essa relação gera uma competição planta-planta que podem ser da mesma espécie ou de espécies diferentes (SILVA et al. 2007). Portanto, a competição de planta-planta só ocorre quando ao menos um recurso estiver limitado no meio. O simples fato de os indivíduos estarem convivendo no mesmo local não garante que a competição vai se estabelecer, pois se o meio em que as plantas estão oferece o recurso em quantidade suficiente para atender a demanda de ambas as espécies então não ocorre a competição (CARVALHO, 2013). Apesar de ambas as plantas na competição serem prejudicadas, nos ambientes agrícolas as plantas daninhas geralmente possuem vantagem competitiva sobre as plantas cultivadas (SILVA et al., 2007). Essa vantagem está relacionada com os temas que discutimos na unidade I, devido aos fatores de agressividade das plantas daninhas e a característica de seleção das plantas cultivadas no melhoramento genético, que geralmente não considera a capacidade competitiva das mesmas, mas sim o aumento de produção. Quando a planta daninha se estabelece junto ou antes da planta cultivada a competição entre elas se torna um fator crítico para o desenvolvimento da cultura agrícola. No entanto, se a cultura se estabelece antes da planta daninha na área, dependendo de seu vigor e velocidade de crescimento inicial, pode inibir ou reduzir significativamente o estabelecimento de plantas daninhas na área. Porém, as plantas daninhas podem ainda se sobressair se o estande da cultura for desuniforme ou a população de plantas for muito baixa (SILVA et al., 2007). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2COMPETIÇÃO ENTRE PLANTAS DANINHAS E CULTURAS AGRÍCOLAS TÓPICO 42 43UNIDADE 2