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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE CURSO DE ODONTOLOGIA CAROLINE COSER MOTA A IMPORTÂNCIA DO ODONTOLEGISTA NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA SÃO BERNARDO DO CAMPO 2015 CAROLINE COSER MOTA A IMPORTÂNCIA DO ODONTOLEGISTA NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao curso de Odontologia, da Universidade Metodista de São Paulo como requisito parcial à obtenção do título de Cirurgião Dentista. Orientador(a): Prof. Darcy Nobile Junior SÃO BERNARDO DO CAMPO, SÃO PAULO 2015 A Monografia intitulada: "A IMPORTÂNCIA DO ODONTOLEGISTA NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA", elaborada por CAROLINE COSER MOTA, foi apresentada e aprovada em _____ de ___________________ de 2015, perante banca examinadora composta por Prof. Darcy Nobile Junior, Prof. Augusto Roque Neto e Prof. Renato Morales Jóias. _______________________________________________________________________ Profº. Darcy Nobile Junior Orientador e Presidente da Banca Examinadora ___________________________________________________________ Profº. Augusto Roque Neto Banca Examinadora _____________________________________________________________ Profº Renato Morales Jóias Banca Examinadora RESUMO Este trabalho foi realizado com o objetivo de discutir a importância da atuação do odontolegista na identificação humana, assim como alguns métodos utilizados para a mesma, e intuito de trazer à comunidade acadêmica algumas informações sobre o assunto. O cirurgião-dentista especialista em Odontologia Legal é chamado de Odontolegista. A atuação do profissional da odontologia legal restringe-se à análise, perícia e avaliação de eventos relacionados com a área de competência do cirurgião dentista, podendo, se as circunstâncias o exigirem, estender-se à outras áreas, se disso depender a busca da verdade, no estrito interesse da justiça e da administração. A boca, ou cavidade bucal, apresenta um grande potencial para identificação, e a atuação do especialista em odontologia legal é de extrema importância, na medida em que o exame de um corpo por meio da boca e das arcadas dentárias pode ser fundamental em alguns casos, sendo a análise odontológica um meio muito utilizado. Palavras-Chave: Odontologia Legal, Odontolegista, Identificação humana, Bite marks, Forensic dentistry ABSTRACT This work was carried out with the objective of discussing the importance of the role of the forensic dentist on human identification, as well as some methods used for same, and aim to bring the academic community some information on the subject. The dental specialist in forensic dentistry is called Forensic Dentist. The professional practice of forensic dentistry is restricted to the analysis, expertise and event assessment related to the area of competence of the dentist and may, if circumstances so require, be extended to other areas if it depend on the search for truth in the strict interests of justice and administration. The mouth, or oral cavity, has great potential for identification process, and the participation of the expert in forensic dentistry is extremely important, in that the examination of a body through the mouth and the dental arches can be critical in some cases, and the dental examination a method widely used. Keywords: Forensic Dentistry, Forensic Dentist, Human Identification, Bite marks SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 6 2. Métodos ............................................................................................................................................... 7 3. Revisão de Literatura ........................................................................................................................... 9 3.1 Antropologia Forense ..................................................................................................................... 9 3.2 Identificação ................................................................................................................................... 9 3.3 Métodos odontológicos de identificação ..................................................................................... 12 3.3.1 Rugoscopia Palatina .............................................................................................................. 12 3.3.1.2 Desenvolvimento e manutenção das rugas palatinas........................................................ 13 3.3.1.2.3 Classificação das rugas .................................................................................................... 13 3.3.2 Identificação pelos dentes .................................................................................................... 22 3.3.2.1 Anomalias dentárias de interesse pericial ......................................................................... 22 3.3.2.2 Classificação das Anomalias ............................................................................................... 22 4. Arcos dentários .................................................................................................................................. 26 4.1 Índices extrínsecos ....................................................................................................................... 26 4.2 Índices Intrínsecos ........................................................................................................................ 27 5. Marcas de Mordida ............................................................................................................................ 29 5.1 Registros da marca das mordidas e comparação com os dentes do suspeito ............................. 32 6. Importância do prontuário odontológico .......................................................................................... 34 7. Conclusão ........................................................................................................................................... 34 Referências ............................................................................................................................................. 35 6 1. INTRODUÇÃO A Odontologia Legal pode ser entendida como uma disciplina que tem como objetivo oferecer esclarecimentos técnicos à Justiça referentes aos conhecimentos da Odontologia e de suas várias especialidades. Esta especialidade desempenha um papel fundamental no processo de identificação de um cadáver de identidade desconhecida. A Odontologia Legal é uma especialidade da odontologia que visa a pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, químicos e biológicos que podem atingir ou ter atingido o homem vivo, morto ou ossada, e até mesmo fragmentos ou vestígios, resultando lesões parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis. A atuação do profissional em odontologia legal restringe-se à análise, perícia e avaliação de eventos relacionados com a área de competência do cirurgião dentista, podendo também estender-se a outras áreas, se as circunstâncias o exigirem. As áreas de competência para a atuação do especialista em odontologia legal incluem: identificação humana; perícia em foro civil, criminal e trabalhista; perícia em área administrativa; perícia, avaliação e planejamento em infortunística; tanatologia forense, elaboração de autos,laudos e pareceres, relatórios e atestados; traumatologia odontolegal; balística forense; perícia logística no vivo, no morto, íntegro ou em suas partes fragmentadas; perícias em vestígios correlatos, inclusive de manchas ou líquidos oriundos da cavidade bucal ou nela presentes; exames por imagem para fins periciais; deontologia odontológica; orientação odontolegal para o exercício profissional e exames por imagens para fins odontolegais (Res. Do CFO-185/93). O cirurgião-dentista especialista em Odontologia Legal é chamado de Odontolegista e pode atuar em universidades, convênios odontológicos, Institutos Médico-Legais (IMLs), consultoria ou, ainda, a atuação como autônomo (CROSP, 2015). As perícias envolvendo assuntos de interesse odontológico devem ser executadas somente por pessoas habilitadas, ou seja, Cirurgiões Dentistas, não sendo admitida a transferência do exame pericial odontológico à outros profissionais (de formações diversas). Ser especialista em Odontologia Legal é uma preferência, já que estes profissionais possuem conhecimentos técnicos e experiência em protocolos de identificação humana (ARAÚJO, 2013). O processo de identificação possui alguns métodos como reconhecimento visual de roupas, objetos pessoais e de impressões digitais, análises de DNA, investigação médica, esquelética, comparações das características anatômicas e/ou patológicas, bem como tratamentos odontológicos presentes nos arcos dentais da vítima, como restaurações, tratamentos endodônticos ou peças protéticas, e na documentação odontológica, entre outros meios de identificação. Os familiares das vítimas também podem ajudar as equipes de investigação, fornecendo algumas informações (VELHO, 2013). Na área criminal, o odontolegista pode atuar na identificação no vivo, no cadáver e em perícias antropológicas 1 . O odontolegista também pode atuar em perícias de lesões corporais, 1 Em crânio esqueletizado. 7 determinação da idade, perícias de manchas, determinação da embriaguez alcoólica e em outros exames periciais. Somente o perito oficial cirurgião-dentista pode emitir laudos conclusivos quanto à capacidade ou incapacidade laboral de um indivíduo. A equipe odontológica oficial pode consultar cirurgiões-dentistas especialistas, ou profissionais de outras áreas para esclarecimentos de diagnósticos, para opinar em assuntos de suas competências ou para fundamentar laudos odontopericiais, quando julgarem necessário. (COUTINHO, 2013). Por fim, este trabalho foi realizado com o objetivo de discutir a importância da atuação do Odontolegista na identificação humana, assim como alguns métodos utilizados para a mesma, e intuito de trazer à comunidade acadêmica algumas informações sobre o assunto. 2. Métodos Foi realizada uma revisão literária, de 1997 até 2015, com pesquisa nos bancos de dados Pubmed, Bireme, Scielo, periódicos, arquivos online, e livros existentes na biblioteca da Universidade Metodista de São Paulo. Foram selecionados 20 artigos. 8 O trabalho possui algumas citações diretas, nas quais foram usados recuos de 3cm para a esquerda, de acordo com as regras de formatação do trabalho fornecidas pela Universidade Metodista de São Paulo. 9 3. Revisão de Literatura 3.1 Antropologia Forense Antropologia forense é a aplicação prática ao Direito de um conjunto de conhecimentos da Antropologia Geral visando principalmente às questões relativas à identidade médico-legal e à identidade judiciária ou policial (CROCE, CROCE JUNIOR, 2004). Conceitua-se identidade como o conjunto de caracteres que individualiza uma pessoa ou uma coisa, fazendo-a distinta das demais. É um elenco de atributos que torna alguém ou alguma coisa igual apenas a si próprio (FRANÇA, 2004). Afrânio Peixoto afirmava que "identidade é o conjunto de sinais ou propriedades que caracterizam um indivíduo entre todos, ou entre muitos, e o revelam em determinada circunstância, e que estes sinais são específicos e individuais, originários ou adquiridos" (FRANÇA, 2004). 3.2 Identificação Denomina-se identificação o processo pelo qual se define a identidade de uma pessoa ou de uma coisa. Sendo assim, identificar uma pessoa é determinar uma particularidade e estabelecer caracteres ou conjunto de qualidades que a fazem diferentes de todos os outros indivíduos (FRANÇA, 2004). Os atributos usados para nos ajudar a determinar a identidade de um indivíduo precisam preencher alguns requisitos, são eles: Unicidade - os elementos ou sinais escolhidos devem permitir a distinção de um indivíduo dos demais; Perenidade - elementos que resistam à ação do tempo, como por exemplo, os ossos, que permanecem após a morte; Imutabilidade - os sinais devem permanecer idênticos a partir do momento em que se formam Praticabilidade - os elementos devem ser facilmente obtidos, como exemplo podemos citar as impressões digitais; 10 Classificabilidade - os elementos devem ser facilmente classificáveis, permitindo o seu arquivamento e facilitando a sua localização sempre que se fizer necessária (IDENTIDADE..., 2010). A identificação de uma pessoa viva ou de um cadáver é mais fácil do que a de um esqueleto, onde precisamos fazer a identificação da espécie, da raça, da identidade, do sexo, da estatura e, principalmente, das características individuais. Dessas características individuais, as mais importantes são os dentes, mas para isso é de total importância que exista um prontuário odontológico bem preenchido, não só com o número de dentes, anomalias ou restaurações. A identificação desse conjunto de características também pode ocorrer através de uma prótese, de uma anomalia rara, ou de uma alteração de caráter ortopédico, de uma radiografia com sequelas traumatológicas, de uma simples radiografia óssea ou dentária, ou de um exame da Impressão Digital Genética do DNA, para serem confrontados com os padrões analisados (FRANÇA, 2004). Finalmente, é necessário que se diferencie o reconhecimento da identificação. O primeiro significa apenas o ato de certificar-se, conhecer de novo, admitir como certo ou afirmar conhecer. É pois uma afirmação laica, de um parente ou conhecido, sobre alguém que se diz conhecer ou de sua convivência. Pode, essa pessoa que reconhece inclusive, assinar um "termo de reconhecimento", cujos formulários habitualmente existem nas repartições médico-legais. Já a identificação é um conjunto de meios ou técnicas empregados para que se obtenha uma identidade. É um procedimento médico-legal cuja finalidade é afirmar efetivamente por meio de elementos antropológicos ou antropométricos que aquele indivíduo é ele mesmo e não outro, conforme afirma Galvão (FRANÇA, 2004). No dia 4 de maio de 1897 aconteceu o conhecido incêncio do Bazar da Caridade (De La Charité) em Paris, onde estava reunida a elite social francesa. Cerca de 200 pessoas morreram, das quais 40 não conseguiram ser identificadas pelos métodos convencionais. Por se tratarem de membros da alta sociedade, o Doutor Halbert Hans, sugeriu que fossem chamados os dentistas das vítimas para proceder à sua identificação (SOUSA, 2013 apud SAXENA, 2010). Oscar Amoedo, Doutor e Professor cubano, naturalizado argentino, e radicado em Paris, coordenou os trabalhos de identificação, e conseguiram identificar com sucesso 90% dos 40 corpos que não tinham sido identificados por outros métodos. Foram comparados os registrosdentários AM com observações minuciosas da cavidade oral das vítimas. Devido a este sucesso, escreveu a primeira publicação oficial registrada com o título "L'Art Dentaire en Médicine Légale", contribuindo consideravelmente para a credibilidade da MDF como ciência de identificação humana (SOUSA 2013, apud FILHO, 2006). 11 Desde as épocas mais antigas, sempre houve a necessidade de identificar pessoas. Resumidamente, podemos citar os seguintes métodos (WOELFERT, 2003): a) Descrição empírica - consiste pura e simplesmente em descrever as características mais evidentes das pessoas. Assim: homem, mulher, alto, baixo, magro, gordo, branco, preto, mulato, loiro etc. Como se vê, passível de inúmeros erros. b) Marcas, mutilações e tatuagens - principalmente na área do crime, foram utilizadas amputações de mãos, orelhas, narizes etc. dependendo da natureza do crime. Em outras situações, marcava-se com ferro quente. Na França, tatuava-se uma flor de lis na fronte dos ladrões. Os nazistas tatuavam números e a estrela de Davi nos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. c) Antropometria - método que consiste em medir vários ossos e diâmetros do indivíduo e registrá-los. Embora seja um período reproduzível, é de difícil obtenção e só serve para adultos. d) Fotografia - quando surgiu a fotografia, no fim do século passado, pensou-se ter encontrado um ótimo método de identificação. Porém, logo se percebeu seu escasso valor. As pessoas envelhecem e mudam de aspecto; podem-se alterar as características dos cabelos facilmente; podem-se retocar as fotos; não é possível classificar as pessoas por fotos para se chegar a uma rápida identificação. e) Datiloscopia - consiste no estudo das impressões digitais. Seu nome provém das palavras gregas daktilos (dedos) e eskopein (examinar). Esse método foi criado por Juan Vucetich, um húngaro naturalizado argentino, no final do século 19 e introduzido no Brasil em 1903. A Odontologia Legal tem sido muito importante nos processos de identificação post-mortem, contribuindo muito com os mesmos, tanto na identificação geral quanto na individual. A identificação humana é uma das áreas de atuação do odontolegista mais conhecidas pelo público e pela mídia, principalmente por causa de grandes acidentes e desastres em massa (MENON, 2010). O auxílio que os odontolegistas prestam no processo de identificação humana não se limita apenas ao reconhecimento de trabalhos odontológicos com a finalidade de determinar a identidade física de um cadáver irreconhecível ou esqueletizado, hoje o simples e duvidoso reconhecimento cedeu lugar ao complexo, científico e seguro processo de identificação odonto-legal (MENON, 2010). Entre as principais vantagens do método odontológico de identificação estão a sua simplicidade, exatidão e baixo custo, características que o tornam processo quase sempre presente nos protocolos de identificação. Pode ser usado em indivíduos vivos (quase sempre desorientados/incapacitados), em cadáveres, e também, pelo fato dos dentes serem as estruturas mais resistentes do corpo humano, em casos de identificação de cadáveres carbonizados, restos 12 esqueletizados, corpos submersos por um longo período de tempo, ou ainda, em estado de decomposição avançado (MENON, 2010). 3.3 Métodos odontológicos de identificação 3.3.1 Rugoscopia Palatina A rugoscopia palatina, ou palatoscopia, é o método de identificação através das rugas palatinas, o estudo sistemático da sua forma, tamanho e posição e ainda das suas múltiplas aplicações em identificação tanto de cadáveres quanto de indivíduos vivos (SOUSA, 2013 apud CORDEIRO, 2004; CASTELLANOS, 2007). Quando a vítima não tem dentes, os métodos disponíveis na Odontologia Legal para identificação são mais limitados. As rugosidades palatinas estão entre as únicas provas retiradas de uma vítima que já não possui os elementos dentários, são uma das únicas características morfológicas de fácil obtenção, cujo padrão pode ser tomado não só diretamente a partir do palato duro, mas, também, a partir da superfície mucosa das dentaduras (TORNAVOI, 2010). A rugoscopia palatina é o estudo das pregas palatinas (forma, tamanho e posição), que tem como finalidade estabelecer a identidade, sendo possível sua aplicação tanto no cadáver recente, como no indivíduo vivo. Vale ressaltar, ainda, que esta técnica não é útil na investigação de suspeitos na cena de um crime, visto que nesse contexto não se espera encontrar este tipo de prova. Outra limitação, de acordo com Gitto et al., consiste no fato de que, a fim de melhorar os padrões de expressão e adaptação de próteses totais superiores, rugas e/ou ranhuras são incorporadas ao aparelho, o que inviabiliza a técnica de comparação para a identificação (TORNAVOI, 2010). Nos dias de hoje, a rugoscopia palatina têm servido para vários propósitos, tendo sido elaborados inúmeros estudos no campo da antropologia, anatomia comparativa, genética, prostodontia, ortodontia e MDF2 (HEMANTH, 2009 apud SOUSA, 2013). 2 Medicina Dentária Forense. 13 3.3.1.2 Desenvolvimento e manutenção das rugas palatinas Geralmente, a superfície da mucosa oral é lisa, sem sulcos, mas apresenta algumas exceções, como, por exemplo, na porção anterior da mucosa palatina, onde encontra-se um denso sistema de rugas, próximo à papila, atrás dos incisivos centrais. As rugas palatinas são formadas no terceiro mês de vida intra-uterina e sofrem apenas alterações de comprimento, em consequência do crescimento e desenvolvimento do palato, da infância à idade adulta, permanecendo na mesma posição durante toda a vida (TORNAVOI, 2010). Acredita-se que nem mesmo doenças, traumatismos e agressões químicas possam promover mudanças na forma das rugas palatinas e que quando alterações são observadas, são menos acentuadas que nos demais órgãos. Estudos comprovam que, frente à alteração decorrente da utilização de disjuntor palatino, elas mantêm padrões constantes, preenchendo os requisitos para identificação humana. No entanto, alguns eventos podem contribuir para mudanças em seu padrão, como a extrema sucção do dedo na infância e a constante pressão por ocasião de tratamento ortodôntico. Ainda é comprovado que a rugosidade palatina apresenta capacidade de resistir às mudanças promovidas pela decomposição por até sete dias após a morte (TORNAVOI, 2010). 3.3.1.2.3 Classificação das rugas Partindo do princípio que o número, ocorrência e organização das rugas palatinas são específicas para cada espécies dentro dos mamíferos, SARAF et al., (2011) defendem que a principal característica que separa as rugas palatinas humanas das rugosidades dos outros mamíferos é que as primeiras são assimétricas (GOMES, 2012). Todas as características à que nos referimos até aqui, tais como a singularidade, perenidade, imutabilidade e baixos custos do exame, reconhecem que as rugas palatinas possuem condições para que possam ser usadas na identificação forense (CORDEIRO, 2004; MIRANDA, 2009 apud GOMES, 2012). Abaixo estão citadas algumas das classificações das rugas palatinas, assim como suas definições: • Classificação de Lysell 14 Aparentemente, foi Lysell, em 1955, quem desenvolveu a primeira classificação válida e aceita para os pares de rugas palatinas. Esta classificação foi baseada na forma, comprimento, direção e unificação das rugas (SAXENA, 2010 apud GOMES, 2012). Lysell classificou as rugas através de seu comprimento em primária (Tipo A e tipo B), secundária e fragmentária, como mostra a tabela abaixo (GOMES, 2012).Tabela 1. Classificação do comprimento das Rugas Palatinas segundo Lysell. Tipos de Rugas Comprimento Rugas primárias A: 5 - 10 mm B: 10 mm ou mais Rugas Secundárias 3 - 5 mm Rugas Fragmentárias < 3 mm Fonte: SAXENA, 2010 apud GOMES, 2012. • Classificação de Thomas e Kotze Thomas e Kotze modificaram a classificação de Lysell, em 1983, adicionando informações e tornando-a mais completa. Esta classificação aborda características como o comprimento das rugas, a área que estas ocupam, sua forma, entre outros (BHULLAR, 2011 apud GOMES, 2012). 15 De uma forma mais específica, as rugas primárias podem adotar as seguintes formas: anelares (formam um anel), papilares (ruga em questão apresenta duas ou mais fendas que não atingem o epitélio que as rodeia), "crosslink" (união de duas pregas), ramos (apêndice com 1mm ou mais), unificadas (duas rugas estão juntas no ponto de origem mas divergem lateralmente), quebradas (quando a fenda da ruga papilar atinge o epitélio que a rodeia), e unidas, com uma ruga não primária (PATIL, 2008 apud GOMES, 2012). Figura 1. Formas das rugas palatinas de acordo com a classificação de Thomas e Kotze: 1 - curvas; 2 - onduladas; 3 - retas; 4 – circulares Fonte: JIBI, 2011 apud GOMES, 2012. • Classificação de Carrea Juan Ubaldo Carrea criou uma classificação para as rugas palatinas, em 1937, de acordo com a sua direção, separando-as em quatro grupos (CAMPOS, 2007). São eles: Tipo I - ruga palatina direcionada de trás para frente; Tipo II - ruga palatina perpendicular à rafe palatina mediana; Tipo III - ruga palatina direcionada da frente para trás; Tipo IV - ruga palatina com várias direções. Na figura 2 podemos ver a classificação de uma forma simplificada: Figura 2. Desenho das Rugas Palatinas de acordo com a classificação de Carrea. 16 Fonte: MIRANDA, 2009 apud GOMES, 2012. • Classificação de Martins dos Santos Segundo MIRANDA (2009), Martins dos Santos baseou-se na posição e forma de cada ruga palatina para criar a sua classificação, denominando as rugas existentes de acordo com a sua posição, na primeira fase de sua classificação (GOMES, INÊS SOARES, 2012): Ruga inicial: representada por uma letra maiúscula, é a ruga mais anterior do lado direito da rafe palatina mediana; Ruga Subinicial: também representada por uma letra maiúscula, é a ruga mais anterior situada no lado esquerdo da rafe palatina mediana; Rugas Subcomplementares: são as restantes rugas que se encontram do lado esquerdo da rafe palatina mediana. Segue abaixo a figura 3, onde podemos observar a classificação de uma maneira mais simplificada: Figura 3. Esquema das Rugas Palatinas de acordo com o sistema de classificação de Martins dos Santos. 17 Fonte: MIRANDA, 2009 apud GOMES, 2012. Na segunda fase de sua classificação, Martins dos Santos associou letras maiúsculas e números, conforme a posição da ruga do palato. Segue abaixo a tabela 2, onde podemos ter melhor entendimento sobre essa classificação (MIRANDA, 2009 apud GOMES, INÊS SOARES, 2012). Tabela 2. Classificação das Rugas Palatinas de Martins dos Santos. Tipo de Ruga Posição anterior Outras posições Ponto P 0 Linha L 1 Curva C 2 Ângulo A 3 Circular C 4 Sinuosa S 5 Bifurcada B 6 Trifurcada T 7 Quebrada Q 8 Anómala A 9 Fonte: CALDAS, 2007 apud GOMES, 2012. 18 Classificação de López de León López de León dizia que existia uma ligação entre o jeito, a personalidade do indivíduo e a morfologia das rugas palatinas. Por ser a classificação mais antiga (1924), só possui importância histórica, sendo rara a sua utilização (MIRANDA, 2009 apud GOMES, 2012). Para criar esta classificação, López de León baseou-se na classificação biotipológica de Hipócrates, diferenciando quatro grupos temperamentais (FILHO, 2006 apud GOMES, 2012). Assim, atribuiu letras maiúsculas de forma a definir a personalidade do indivíduos da seguinte forma (FILHO, 2006; FONSECA et al., 2005 apud GOMES, 2012): B - ruga palatina correspondente a uma personalidade biliosa (colérica); N - ruga palatina correspondente a uma personalidade nervosa; S - ruga palatina correspondente a uma personalidade sanguinária; L - ruga palatina correspondente a uma personalidade linfática. Além da atribuição da personalidade, López de León divide as rugas palatinas em simples e compostas. As rugas simples são divididas e numeradas de acordo com a sua forma. São, de 1 a 5, respectivamente: reta, curva, ângulo, circular e sinuosa. As compostas, como são provenientes de duas ou mais rugas simples, eram classificadas combinando a forma das rugas simples que as formavam. Por exemplo: uma ruga constituída por uma linha e uma angular teria a denominação de 1-3 (Figura 4) (FONSECA, 2005; MIRANDA, 2009 apud GOMES, 2012). Figura 4. Classificação das rugas palatinas de acordo com López de León. 19 Fonte: MIRANDA, 2009 apud GOMES, 2012. Depois da atribuição da letra maiúscula e da divisão anterior, vem a denominação de "1" ou "r", que nos orienta a respeito da posição da ruga a ser analisada, esquerda e direita, respectivamente (FONSECA, 2005 apud GOMES, 2012). Por último é feito o rugograma, que neste caso apresenta a forma de fração, em que o numerador é o lado direito e o denominador o esquerdo. À esquerda das iniciais "1" e "r" colocamos a inicial do temperamento e à direita a quantidade de rugas existentes de cada lado (FONSECA, 2005 apud GOMES, 2012). Classificação de Da Silva Esta classificação, de 1934, separa as rugas palatinas em dois grupos: rugas compostas ou rugas simples, da qual a classificação é feita por meio da numeração das rugas de 1 a 6 conforme a sua forma, como podemos observar abaixo na figura 5 (ESPAÑA, 2010 apud GOMES, 2012). 20 Figura 5. Classificação das Rugas Palatinas de Da Silva Fonte: ESPAÑA, 2010 apud GOMES, 2012. Em alternativa, as rugas compostas, que originam-se da união de várias rugas simples, são classificadas da seguinte maneira: se temos diante de nós um palato onde, do lado direito, existem 2 rugas retas, 1 ruga curva, 1 ruga angulosa, 3 rugas circulares, 0 rugas onduladas e 0 rugas punctiformes, a representação seria 2 1 1 3 0 0. O mesmo seria realizado para o lado esquerdo. Depois, os dois lados são somados resultando numa fórmula final (FONSECA, 2005 apud GOMES, 2012). Esta classificação é dificilmente usada já que existe a possibilidade de descrever cada ruga individualmente por meio da sua forma, e ainda, de descrever todo o sistema de rugas palatinas (CALDAS, 2007 apud GOMES, 2012). Classificação de Trobo Trobo dividiu as rugas palatinas em dois grupos: simples e compostas, mas optou por associar as compostas com a letra "X" e as simples com letras maiúsculas de A a F de 21 acordo com a forma das mesmas, como pode ser visto na tabela abaixo (JURADO, 2009 apud GOMES, 2012). Tabela 3. Classificação proposta por Trobo Tipo de ruga palatina Classificação Punctiforme Tipo A Reta Tipo B Curva Tipo C Angulosa Tipo D Sinuosa Tipo E Circular Tipo F Fonte: CALDAS, 2007 apud GOMES, 2012. As rugas palatinas representam um método odontológico de identificação já consagradocientificamente, porém os sistemas de classificação para as mesmas ainda são de difícil compreensão, tornando-as assim, impraticáveis (FILHO, 2006). Os arcos dentários podem apresentar as seguintes formas (FILHO, 2009 apud GOMES, 2012): • Hiperbólico: os segmentos do arco apresentam-se de forma divergente; • Parabólico: os segmentos não apresentam-se tão divergentes quanto no arco hiperbólico; • Epsilon: segmentos paralelos; • Elíptico: segmentos convergentes. São alguns meios de análise das rugosidades palatinas: • Observação ou insperação intraoral: é justamente o que o nome nos diz, uma inspeção direta do palato usando um espelho. Consiste em um método rápido e sem dificuldades. Sua única desvantagem é que o único registro é a memória do investigador (TORNAVOI, 2010). • Fotografias intraorais: este método também é chamado de palatofotografia, e consiste num método simples e barato. Diferente do método citado acima, este permite que o 22 investigador armazene as informações recolhidas para futuras confrontações, tornando este método mais preciso e confiável. Coloca-se um espelho na boca aberta, apoiando o mesmo na arcada inferior para que a imagem do palato possa ser refletida (FONSECA, 2005 apud GOMES, 2012). 3.3.2 Identificação pelos dentes O conhecimento da anatomia normal dos dentes humanos, macros e microscópicas, é muito importante para o odontolegista. Pode-se usar dados anatômicos da coroa ou apenas fragmentos para o processo de identificação. Quando um investigador, ou perito, examina um elemento dentário, ele deve verificar primeiro se trata-se de dente decíduo ou permanente, para somente depois determinar o grupo a que pertence esse elemento (incisivos, caninos, prémolares ou molares). Depois, ele deve classificar o elemento dentário em superior ou inferior. Também deverá ser analisada a posição do elemento no arco (central ou lateral), primeiro ou segundo, e a qual lado pertence, direito ou esquerdo (SILVA, 1997). Como foi citado acima, poderá ser solicitada ao perito a realização do reconhecimento de fragmentos dentários que não são identificáveis a olho nu, fazendo-se necessário o exame microscópico. Se forem encontradas características dos tecidos dentários -, esmalte, dentina ou cemento -, será constituído um diagnóstico positivo, de certeza (SILVA, 1997). 3.3.2.1 Anomalias dentárias de interesse pericial As anomalias dentárias possuem importância do ponto de vista pericial. Distrofia e anomalia são termos que não devem ser confundidos como a mesma coisa. A distrofia é um fenômeno causado por distúrbio da nutrição, já a anomalia, seria a sua exteriorização ou consequência. Em casos de violência sexual, situação onde geralmente o criminoso morde a vítima, e em casos de mordidas em alimentos, as anomalias serão de suma importância para a identificação do autor (SILVA, 1997). 3.3.2.2 Classificação das Anomalias A) Anomalias de volume (Heterometrias) 23 Dependendo da parte do dente atingida, as heterometrias podem ser: coronárias, radiculares e totais. Ainda, de acordo com o tipo de alteração, podemos ter duas modalidades: nanismo e gigantismo. As anomalias de volume podem atingir um dente ou vários. Geralmente são encontradas em elementos da mesma arcada (SILVA, 1997). B) Anomalias de Número Podem ser de três tipos: anodontia (ausência de dentes); oligodontia (diminuição do número de dentes) e poliodontia (aumento do número de dentes) (SILVA, 1997). C) Anomalias de Forma (Heteromorfias) Desse grupo de anomalias podemos citar: conoidismo, dilaceração, coalescência (concreção, fusão e geminação) e erosão (em fossas, em fissuras e em superfícies). No conoidismo, encontraremos o dente com a forma de dois cones justapostos, pelas bases, geralmente acompanhada de uma anomalia de volume (nanismo total). Na dilaceração, podemos observar uma curvatura do grande eixo do dente, certamente causada por um obstáculo mecânico durante sua calcificação. A coalescência resume-se no ajuntamento de dois ou três elementos dentários e apresenta três variedades: concreção, fusão e geminação, que podemos definir da seguinte maneira (SILVA, 1997): • Concreção: quando dois dentes se encontram em posição viciosa, havendo formação de cemento, que os manterá unidos. • Fusão: consiste na união de dois dentes originados de dois folículos vizinhos. O reconhecimento dessa anomalia é simples, sendo feito por meio da presença de um sulco nítido entre os dois. • Geminação: um único folículo dentário dá origem à dois dentes grudados. Na inspeção clínica não se verifica a existência de um sulco divisor como é no caso da fusão; o diagnóstico diferencial se dá através do exame radiográfico, que revela a existência de só uma câmara pulpar. 24 As erosões, ou hipoplasias, são consequências da interrupção da calcificação, em um determinado tempo, durante a evolução do dente. Microscopicamente, elas se mostram por meio de faixas ou pontos não calcificados. Podem ser encontradas em cinco formas (SILVA, 1997): Em fossa: pode corresponder à falta de nutrição do dente por um trauma qualquer. Quanto ao seu aspecto, parece que a perda ocorreu pela sua remoção por uma cureta. Em fissura: é representada por sulcos contínuos abrangendo tanto a face vestibular como a lingual, sempre dispostos horizontalmente. Em superfície: corresponde a áreas maiores ou menores em que falta o esmalte. Como característica, não são muito profundas. Dentes de Hutchinson: são erosões de forma semilunar, nas bordas livres dos incisivos, causadas por parada de calcificação, não atingindo os ângulos mésioincisal e mésio-distal. Via de regra, são devidas à sífilis, podendo ainda ocorrer por conta de outra causa qualquer que interfira com o fenômeno da calcificação. Dentes em favo de mel: aparecem nos molares, que se apresentam com aspecto irregular, especialmente no que diz respeito às cúspides, que são substituídas por numerosos e pequenos tubérculos. C) Anomalias de Posição (Heterotopias) Também chamadas de anomalias de direção ou de implantação e anomalias de localização. As Anomalias de direção, ou anomalias de implantação, são alterações da posição dos elementos dentários segundo os eixos vertical, transversal e anteroposterior. Assim, temos a giroversão, vestibuloversão, linguoversão, lateroversão, mesioversão e distoversão. As anomalias de localização podem ocorrer por transposição, migração ou gênese, sendo a primeira um caso muito raro onde um dente ocupa o lugar de outro dente no arco (SILVA, 1997). Na migração, o dente erupciona fora do arco, mas em áreas próximas do mesmo. Na gênese, o elemento dentário aparece em outros lugares do organismo, não sendo nenhum deles próximos ou na boca. Pode até mesmo aparecer nos ovários (SILVA, 1997). D) Anomalias de Erupção Podemos citar sete tipos: erupção precoce, erupção retardada, queda preoce, inclusão, impactações, terceira dentição e dentes na época do nascimento. A erupção precoce geralmente ocorre em consequência do hipertireoidismo e pode aparecer tanto na dentição decídua como na permanente. A erupção retardada, diferente da precoce, geralmente acontece por causa de um hipotireoidismo e também pode ser observada em ambas as dentições. 25 Como no hipertireoidismo a erupção dos dentes é precoce, a queda precoce provocará a rizólise prematura dos dentes decíduos e, como consequência, sua queda acontecerá no tempo errado. A inclusão ocorre geralmente nos terceiros molares, caninos, segundo pré-molar e nos incisivoslaterais. Impactações são elementos dentários que não erupcionaram corretamente. A terceira dentição não ocorre no homem, já que o mesmo pertence ao grupo difiodonte, isto é, apresenta duas dentições (SILVA, 1997). Dentes na época do nascimento: segundo Testut (1944), este fenômeno ocorre em cada dois mil ou três mil nascimentos. O dente com o qual a criança pode nascer pode pertencer à dentição pré-láctea (que não existe na espécie humana) e cai logo a seguir. Pode, no entanto, ser um dente decíduo precocemente erupcionado, tratando- se geralmente dos incisivos centrais inferiores, que vão permanecer no arco dentário até sua queda na época normal. Geralmente este fato se deve a um hipertireoidismo materno (SILVA, 1997). 26 4. Arcos dentários O exame dos arcos dentários é um meio que nos proporciona elementos para uma identificação positiva, ou não, considerando que não existem dois arcos dentários idênticos. Os arcos dentários podem ter realce na solução de certos problemas médico-legais, como na identificação de vítimas ou de criminosos, nas lesões apresentadas por um cadáver, quando os arcos dentários tenham funcionado como instrumento corto-contundente, ou, ainda, diante de dentadas, possibilitando reconhecer se foram produzidas pelo homem ou por animal e qual a sua espécie (SILVA, 1997). As dimensões dos arcos dentários estão relacionadas com os fatores evolutivos individuais, ou seja, aumento da base do crânio, aumento da distância intercondílica e, eventualmente, com a redução no número de dentes. Para o estudos dos arcos dentários, podemos lançar mão de índices extrínsecos e intrínsecos (SILVA, 1997): 4.1 Índices extrínsecos Utilizam medidas dos arcos e medidas da face, tais como: • Índice de Flower: Classificação: Microdentes abaixo de 42 Mesodentes 42 45 Megadentes acima de 45 • Índice de Largura do Arco-Largura da Face: Normalmente este índice é igual a 50. 27 • Índice Comprimento do Arco-Comprimento da Face: Também normalmente é igual a 50. 4.2 Índices Intrínsecos Utilizam, exclusivamente, medidas dos arcos dentários (SILVA, 1997): • Índice Largura-Comprimento do Arco: Classificação Dolícoves x 115 Mésoves x 115 130 Euríoves 130 y Segundo Campion (in Izard, 1950), as distâncias que devem entrar no cálculo do índice são a largura ao nível do segundo pré-molar e o comprimento até a face distal do primeiro molar (SILVA, 1997). • Índice Palatino Classificação Leptostafilinos x 79,9 Mesostafilinos x 80,0 84,9 Braquistafilinos 85 y 28 • Índice de Kneese Esse inverteu o índice de Campion, tendo uma melhor distribuição, usando as distâncias já antes sugeridas por Campion (SILVA, 1997). Classificação Euríove x 69,9 Mésove x 70 84,9 Dolícove x y 29 5. Marcas de Mordida Em janeiro de 1978, no estado da Flórida, EUA, Theodore Robert Bundy, ou Ted Bundy, um serial killer, assassinou Martha Bownman e Lisa Levy. Foram encontradas algumas impressões digitais, amostras de sémen e sangue, mas todas essas provas mostraram-se inconclusivas. Entretanto, no seio e na nádega de Lisa Levy foram encontradas marcas de mordida, que foram devidamente fotografadas e depois da confrontação da impressão dentária, com a dentição do suspeito do crime foi possível acusá-lo e posteriormente o mesmo foi considerado culpado, recebendo a pena de morte. O caso de Bundy foi o primeiro onde um criminoso foi condenado à morte na cadeira elétrica no estado da Flórida, EUA, utilizando-se das marcas de mordidas como prova (RAMSLAND, K., 2002; STRAVIANOS, C., 2010 apud ALMEIDA, 2012). Figura 6. Theodore Robert Bundy, mais conhecido como Ted Bundy. Fonte: Google Imagens. Em 1990, uma senhora de 55 anos de idade foi atacada em sua casa, e o criminoso deixou uma mordedura na parte de trás do ombro esquerdo da vítima. A marca da mordida foi fotografada, mas sem usar uma escala, não sendo possível o uso destas para acusar o suspeito, posteriormente. Cinco meses depois foram feitas novas fotos com recurso a uma escala proposta 30 pela American Board of Forensic Odontology (ABFO) e luz ultravioleta com a intenção de recuperar a marca de mordida. Assim foi possível ver a impressão e identificar o criminoso (DAVID e SOBEL, 1994 apud ALMEIDA, 2012). VANRELL, J. (2009) citou Francisco de Assis Pereira, um assassino em série mais conhecido como "maníaco do parque", que carbonizava, mordia e matava suas vítimas. As marcas das mordidas eram deixadas em várias áreas do corpo de suas vítimas, e foram estas que serviram de prova contra esse criminoso e possibilitaram a sua identificação. O estudo das marcas de mordida consiste em uma das formas de identificação humana de grande importância para a Odontologia Legal, auxiliando na exclusão ou inclusão dos seus possíveis autores. As marcas de mordida podem encontradas em vários cenários, mas geralmente são encontradas em casos de abuso sexual e assassinatos. Elas também podem ser encontradas em alimentos (ALMEIDA, 2012). As dentadas humanas são identificadas através de seu formato e tamanho, e apresentam formato ovóide, características elípticas, os dentes e também as marcas dos arcos. Quando as marcas dos caninos maxilares são identificáveis, a distância entre eles deve ser de 2,5 a 4,5 cm. Se a medida for inferior a 3,0 cm, então a mordida provavelmente será de uma criança com a primeira dentição (SILVA, 1997). Figura 7. Imagem de uma marca de mordida humana onde podemos observar as equimoses de sucção, lesões cortocontusas e equimoses. 31 Fonte: Google Imagens. Saber reconhecer uma marca de mordida, fotografá-la, realizar a recolha imediata, assim como uma análise pormenorizada são fatores essenciais para uma correta identificação (ALMEIDA, 2012). Segundo Marques e Sweet (2007), uma dentada ou mordedura é a lesão produzida pelos dentes humanos ou de animais no corpo, em alimentos, nas roupas e outros tipos de objetos, resultante da aplicação rigorosa dos dentes a um substracto que é capaz de ser deformado (FRANCO, 2014). O ato de morder a vítima geralmente é um sinal de que o criminoso pretende machucá-la e dominá-la mas também pode ser um ato de defesa da parte da mesma (BERNITZ, 2006). A American Board of Forense Odontology - ABFO (1986) - sugere como itens de um protocolo de procedimentos para a coleta de evidências os seguintes procedimentos: 1. O registro do quadro clínico odontológico do suspeito e o tempo decorrido entre a produção do ferimento e o exame; 2. O registro fotográfico, incluindo várias tomadas extra e intra-orais,observandose os arcos em oclusão e a máxima abertura da boca; 3. Exame clínico extra-oral dos tecidos, da estrutura óssea e dos músculos. Esta análise colabora no entendimento da dinâmica da mordida; 4. Registro e exame clínico intra-oral completo, que pode incluir: saliva, língua e as condições periodontais do suspeito; 5. As moldagens dos arcos dentários; 6. Registro da mordida em placas de cera, observando-se as diversas relações interoclusais, para estudo da posição da mordida; 7. Obtenção dos modelos de gesso a partir das moldagens realizadas. O protocolo para análise de confrontação de marcas de mordida é feito por meio de duas categorias. A primeira categoria usa as mensurações de certos locais, como a distância intercanina, e é chamada de análise métrica. A segunda usa o emparelhamento físico, também chamado de comparação da forma da injúria ou associação padrão, que é feita através da sobreposição das imagens, avaliando os pontos coincidentes e os divergentes (SILVA, 1997). 32 5.1 Registros da marca das mordidas e comparação com os dentes do suspeito O estudo específico das lesões causadas pelas mordeduras humanas requer uma profunda análise, e mesmo não existindo uma metodologia o investigador, ou perito, necessita seguir algumas etapas importantes. O uso de alguns recursos tecnológicos como microscopia eletrônica, técnicas de radiografias, digitalização das imagens, entre outros meios, certamente ajuda a fornecer mais confiabilidade na demonstração das características da marca de mordida (SILVA, 1997). Geralmente, as marcas apresentam formatos elípticos, ovais ou circulares. Suas características dependem do tipo de movimento, da profundidade da incisão, da laceração, do grau de giroversão dos dentes, presença ou não de anomalias ou patologias em cada marca do dente etc. Nem sempre essas formas são nítidas, por isso os estudos sobre as marcas de mordida promovem a criação da individualidade, incluindo vários elementos dentários nos arcos superior e inferior, uma situação que nem sempre é encontrada na rotina pericial (SILVA, 1997). O meio mais comum de registro das marcas de mordida na pele humana é a fotografia, conseguida com lentes objetivas tipo macro de 100 ou 105 mm. Para que não hajam distorções, a marca da mordida deve ser fotografada em posição paralela ao plano do filme, sempre acompanhada de uma escala, de preferência a escala nº 2 da ABFO, essencial para a análise (SILVA, 1997). 33 Figura 8. Fotografia de uma marca de mordida usando a escala proposta pela American Board of Forensic Odontology - ABFO. Fonte: Google Imagens. Assim que a fotografia da marca da mordida na pele é feita, o perito faz o registro das características dos arcos dentários para a confrontação. Nessa técnica, o mais importante é o registro do contorno das bordas incisais e superfícies oclusais dos dentes, feito em uma folha transparente para que seja possível a sobreposição com a foto da lesão (SILVA, 1997). Vamos ressaltar duas maneiras para a obtenção destes contornos (SILVA, 1997): A partir da fotografia do modelo de gesso do arco do suspeito: usando-se técnica semelhante à descrita, obtém-se a fotografia do modelo de gesso do arco do suspeito. Sobre essa imagem coloca-se a folha de papel transparente ou de acetato, passando- se ao registro do contorno das superfícies incisais, com caneta própria. Com o propósito de evidenciá-las, alguns autores recomendam o clareamento dos bordos incisais dos modelos de estudo com tinta branca, antes da tomada fotográfica. A partir das marcas do modelo de gesso, diretamente sobre a folha transparente ou de acetato: este segundo método de registro é obtido pelo contato direto das superfícies oclusais do modelo de gesso do suspeito com a folha transparente. As superfícies são pintadas com tinta ou lápis carbono e sua impressão é contornada para que, assim como na primeira técnica descrita, seja sobreposta à fotografia da marca da mordida. 34 6. Importância do prontuário odontológico Em algumas situações, não é possível fazer uso de métodos visual e datiloscópico (corpos mutilados, carbonizados etc), e nesses casos é muito comum a dentição estar intacta e fornecer ao perito informações muito importantes para o processo de identificação. Valenzuela et al. mencionaram um caso de um acidente na Espanha, em 1996, onde foi realizada a identificação de 28 vítimas carbonizadas, sendo que 57% aconteceu através dos dentes. Em 43% das vítimas, não foi possível a confrontação pelo meio odontológico, em razão da perda total dos elementos dentários ou a ausência de registros ante-mortem (ARAÚJO, 2013). Autores como ELETA et al. (2005) afirmam que durante a comparação dos registros pré-mortem com os post-mortem, devem ser seguidos alguns critérios básicos, como a presença de concordâncias fortes, o número de discordâncias relativas não deverá ser superior a três e o tempo do prontuário odontológico não deverá ser maior que três anos, para a correta identificação de cadáveres e restos (FRARI, 2008). BRANNON e KESSLER (2001) analisaram 50 catástrofes do ponto de vista da individualização odontológica. Dos problemas presentes em um grande número de desastres, os autores destacaram a inexistência ou a má qualidade dos registros odontológicos prévios, com conteúdos errôneos ou incompletos (FRARI, 2008). A correta elaboração do prontuário odontológico é fundamental, pois este é um item muito importante para a identificação, condenação ou até mesmo para inocentar um indivíduo que já esteja condenado. O prontuário odontológico, ou ficha odontológica, é um conjunto de todas as informações e documentações obtidas durante o tratamento odontológico e, geralmente, é composto de radiografias, fotografias, tomografias, fichas de anamnese, modelos em gesso, plano de tratamento e outros documentos. Além de ser um instrumento de consulta em casos de identificação humana, ele também serve como objeto de proteção civil do profissional da odontologia. Infelizmente, a maioria dos cirurgiões-dentistas não é ciente da real importância de possuir um prontuário completo e adequado como foi comprovado por uma pesquisa realizada por Brito, que teve como objetivo verificar o conhecimento dos cirurgiões- dentistas de Natal - RN, numa amostra de 181 profissionais, o qual observou que a maior parte da amostra confere uma maior importância clínica ao prontuário (52,3%) do que importância jurídica (35,4%), seguida da importância odontolegal (7,7%) (BENEDICTO, 2010). 7. Conclusão 35 A odontologia legal se mostra fundamental nos processos de identificação humana, pela resistência que os elementos dentários apresentam, e principalmente pelo baixo custo e tempo de execução de seus métodos, em comparação com um exame de DNA. É muito importante que o processo de identificação de um indivíduo seja feito por um odontolegista, pois este profissional possui formação específica na área da Odontologia, possuindo o conhecimento necessário para a realização deste processo. É fundamental que o Cirurgião-Dentista preencha corretamente o prontuário de seus pacientes, guardando fotografias, radiografias, modelos de gesso e qualquer outro documento que servirá de auxílio para uma possível identificação, pois em situações de identificação cadavérica, quando há disposição da ficha odontológica do desaparecido, é perfeitamente possível sua identificação pela comparação do odontograma do cadáver com o fornecido pelo dentista dapessoa em questão. Referências 36 ALMEIDA, C. V. S. Marcas de Mordida e a Identificação Humana. Universidade Fernando Pessoa, Porto, POR: 2012. Disponível em: http://hdl.handle.net/10284/3421. 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