Buscar

Desenvolvimento Motor Normal

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA 13
Desenvolvimento pré-natal do comportamento motor
Duas visões do desenvolvimento motor durante o
período fetal
Planos de movimento e alinhamento postural
Desenvolvimento motor durante a lactância
Primeiro trimestre: alinhamento da cabeça
Segundo trimestre: levantando e sentando
Terceiro trimestre: movimentação constante
Quarto trimestre: finalmente andando
Comportamento motor durante a primeira infância
Desenvolvimento das habilidades locomotoras
Desenvolvimento Motor Normal
Cindy Goldberg e Ann Van Sant
Outras habilidades fundamentais da infância
Mudanças no desempenho das habilidades adquiridas
na lactância
Desenvolvimento das habilidades motoras durante a
segunda infância e a adolescência
Resultados contemporâneos no desenvolvimento
motor
Seqüências do desenvolvimento
Reflexos como componentes fundamentais do
comportamento motor
Nova teoria do desenvolvimento motor
que é desenvolvimento motor? Por que o estudo
do desenvolvimento motor é importante para os
fisioterapeutas? Por que eu deveria estudar desenvolvi-
mento motor se não espero trabalhar com crianças? Algu-
mas dessas informações se relacionam à prática clínica
fora do campo da pediatria?
Tais questões são freqüentemente feitas por estudan-
tes de fisioterapia quando eles começam a estudar o de-
senvolvimento motor. São questões muito importantes, e
cada uma será respondida posteriormente.
O que é desenvolvimento motor? Desenvolvimento mo-
tor é o processo de mudança no comportamento motor, o
qual está relacionado com a idade do indivíduo. O foco na
relação entre a idade e o comportamento motor torna o
estudo do desenvolvimento motor único sob outros pon-
tos de vista. O desenvolvimento motor inclui mudanças
relacionadas à idade tanto na postura quanto no movi-
mento, dois ingredientes básicos do comportamento mo-
tor. Embora este capítulo se concentre no desenvolvimento
motor de bebês e de crianças, o processo de desenvolvi-
mento ocorre durante toda a vida. Adolescentes, adultos
jovens e pessoas com 30, 40 anos ou mais também apresen-
tam contínuas mudanças no comportamento motor.
O que causa essas mudanças? Por muitos anos, os fi-
sioterapeutas atribuíram muitas das mudanças que vemos
no comportamento motor a mudanças que ocorrem no
sistema nervoso central (SNC). Pensava-se que as mudan-
ças do desenvolvimento nas habilidades motoras refle-
tiam a maturação do SNC. Recentemente, entretanto, co-
meçamos a perceber que o sistema nervoso não é a única
estrutura que determina as mudanças do desenvolvimen-
to. Mudanças em outros sistemas do corpo, como as do
sistema musculoesquelético e cardiorrespiratório, também
influenciam o desenvolvimento motor. Naturalmente, o
ambiente no qual vivemos exerce uma influência muito
forte e sistemática no desenvolvimento motor. Por conse-
guinte, as causas do desenvolvimento motor são muitas.
Cada sistema — tanto um sistema do corpo quanto um
sistema ambiental específico — interage de um modo com-
plexo e fascinante para realizar mudanças no comporta-
mento motor conforme envelhecemos.
Por que é importante que os fisioterapeutas entendam o
desenvolvimento motor? As mudanças que ocorrem no de-
senvolvimento motor dos bebês são realmente notáveis.
Ao nascer, o bebê é totalmente dependente, mas no pri-
meiro ano a criança adquire um impressionante grau de
independência física. Ela muda da impotência para a com-
petência em atividades motoras amplas, como sentar, en-
gatinhar e levantar-se, e em habilidades motoras finas,
que incluem a manipulação de vários tipos de objetos.
14 JAN STEPHEN TECKLIN
Muitas crianças já andam em seu primeiro ano de vida. O
padrão natural de progressão em direção à independên-
cia física pode ser um guia muito útil na preparação de
um plano de tratamento para ajudar os indivíduos a supe-
rarem suas limitações e a ganharem independência. O pla-
nejamento do tratamento é facilitado pela compreensão do
processo natural pelo qual a independência física é adquirida.
Por que devo estudar o desenvolvimento motor se não
pretendo trabalhar com crianças? Algumas dessas informa-
ções se relacionam à prática clínica fora do campo da pedia-
tria? Deficiências físicas resultantes de doença ou trauma
podem afetar a independência funcional em qualquer ida-
de. Quando a independência é alterada, o padrão natural
pelo qual os indivíduos ganham pela primeira vez a auto-
suficiência é um guia muito útil para recuperar a inde-
pendência física. O conhecimento sobre desenvolvimento
motor é tão importante para aqueles que trabalham com
adultos jovens ou idosos quanto para aqueles que traba-
lham com crianças ou adolescentes. Entender como se
consegue controlar a postura e os movimentos por meio
da aquisição de habilidades que são parte da nossa vida
diária é uma informação útil para terapeutas em todos os
tipos de prática. O que sabemos sobre as mudanças do
desenvolvimento em um período da vida pode ser usado
para ajudar indivíduos em todas as idades.
Este capítulo aborda o comportamento motor carac-
terístico do período pré-natal e da primeira e da segunda
infâncias. Começando com o período pré-natal, a discus-
são dos variados e claramente bem-adaptados movimen-
tos dos fetos estabelece a etapa para a compreensão da
grande mudança a que o indivíduo se submete, como a
força da gravidade imediatamente experimentada ao nas-
cimento. O notável progresso da infância no alcance de
um grande grau de independência física durante o pri-
meiro ano pós-natal será descrito em linhas gerais. A dis-
cussão irá explorar a extensão de fatores conhecidos por
influenciar o comportamento motor durante os períodos
iniciais do desenvolvimento. Os ganhos motores da infân-
cia serão abordados e as realizações mais importantes se-
rão resumidas. Finalmente, na conclusão do capítulo, dis-
cutiremos brevemente algumas idéias contemporâneas
sobre o desenvolvimento motor, úteis para todos os tera-
peutas que estão tentando entender os fatos que funda-
mentam o comportamento motor, independentemente da
idade dos indivíduos com os quais poderão vir a traba-
lhar.
�DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL
DO COMPORTAMENTO MOTOR
Uma linguagem distinta tem sido desenvolvida para des-
crever os períodos e as características do desenvolvimen-
to motor antes do nascimento. O período pré-natal do de-
senvolvimento é também conhecido como período gestacional.
Esse período dura tipicamente entre 38 e 40 semanas, o
que significa aproximadamente nove meses de gravidez.
A etapa pré-natal é um momento de rápidas mudanças de
desenvolvimento.
A idade do indivíduo em desenvolvimento antes do
nascimento é medida usando-se uma variedade de con-
venções. Idade menstrual (IM) é o termo usado quando a
idade do indivíduo é calculada a partir do primeiro dia do
último período menstrual da mãe. A idade menstrual é
tipicamente medida em semanas. O termo idade gestacio-
nal (IG) tem sido mais usado recentemente e é quase equi-
valente à idade menstrual. A fase pré-natal do desenvol-
vimento pode ser dividida em três períodos: o período
germinal, o período embrionário e o período fetal.
O período germinal começa no momento da fertiliza-
ção e dura duas semanas. É durante essa fase que o ovo
fertilizado — denominado zigoto — submete-se a uma
rápida divisão celular. O zigoto viaja pela tuba uterina para
o útero e, ao final do período germinal, liga-se à parede
uterina. O período embrionário começa duas semanas de-
pois da concepção e dura cerca de seis semanas. Durante
essa fase, o indivíduo em desenvolvimento é conhecido
como embrião. O período embrionário é caracterizado por
rápidas mudanças morfológicas. Durante essa etapa, as
células dividem-se rapidamente, crescendo e diferencian-
do-se para assumir funções especializadas. No final do
período embrionário, o indivíduo em desenvolvimento tem
cerca de 5 cm de comprimento e é reconhecidocomo ser
humano. O período fetal começa na sétima semana da IM
e termina ao nascimento. É nessa fase que o comporta-
mento motor aparece pela primeira vez. Durante o perío-
do fetal, o indivíduo em desenvolvimento é referido como
feto. A Tabela 1.1 mostra um panorama das característi-
cas do desenvolvimento.
Duas visões do desenvolvimento
motor durante o período fetal
Antes dos anos 70, nosso conhecimento do desenvolvi-
mento durante o período fetal estava limitado por não
podermos visualizar o feto. Os métodos usados para re-
gistrar a atividade fetal incluíam relatos maternos dos
movimentos fetais, escuta por meio da parede uterina com
um estetoscópio ou, em algumas ocasiões, ecocardiogra-
mas ou eletromiografias para detectar movimentos por
meio do abdômen da mãe.
Sem a possibilidade de visualizar o feto no útero,
médicos e pesquisadores propuseram que o comportamen-
to motor de bebês abortados poderia ser estudado para
entender o movimento fetal. Hooker (1944), um anato-
mista e pesquisador, estudou fetos abortados que não eram
capazes de manter as funções vitais necessárias para a
vida extra-uterina. Sua pesquisa serviu como um embasa-
mento clássico para a compreensão de como o comporta-
mento motor humano evolui antes do nascimento. Teóri-
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA 15
TABELA 1.1
Desenvolvimento embrionário*
Idade gestacional Características do desenvolvimento
Primeiro mês
2 1/2 semanas A forma e o comprimento são determinados.
Início da placa neural para o cérebro.
O coração começa como um único tubo; pode bater; ainda não há sangue circulando.
3 semanas As células diferenciam-se em três camadas:
1. Ectoderme — camada externa: transforma-se em pele, pêlos, unhas, glândulas sensoriais e
de pele e todo tecido nervoso.
2. Mesoderme — camada média: transforma-se em músculos, órgãos circulatórios ósseos e
algumas das glândulas endócrinas.
3. Endoderme — camada interna: transforma-se em órgãos digestivos, fígado, trato
alimentar, revestimentos e na maioria das glândulas endócrinas.
28 dias A região da cabeça é diferenciada, tomando 1/3 do comprimento do corpo.
Comprimento de O cérebro e a medula espinal primitiva são desenvolvidos.
0,50 cm Olhos, ouvidos e nariz rudimentares aparecem.
O broto inicial dos membros aparece.
Segundo mês O embrião fica com uma aparência mais humana com as características tornando-se mais
identificáveis.
6 semanas Formação dos dentes decíduos.
8 semanas O embrião agora se torna um feto.
Comprimento 2,54 cm Os órgãos tornam-se funcionais.
Peso 18,9 g
Final do terceiro mês Começa maior atividade:
Comprimento 7,6 cm O feto gira a cabeça, dobra o cotovelo, fecha o punho, mexe os dedos dos pés e move os
quadris.
Peso 21,2 g Os movimentos não são detectados pela mãe, entretanto soluços serão sentidos.
Quarto mês Aparecem as impressões digitais.
Comprimento 15,2 cm A mãe começa a sentir os movimentos.
Peso 113,4 g
Quinto mês O feto move-se e gira facilmente.
Comprimento 30,4 cm Padrões regulares de vigília e sono desenvolvem-se.
Peso 500 g O reflexo de sucção está presente.
O batimento cardíaco torna-se regular.
Sexto mês O cabelo cresce mais espesso.
Comprimento 35,5 cm Os olhos abrem e fecham-se.
Peso 1 kg
Sétimo mês
Comprimento 40,6 cm
Peso 1,5 kg
Oitavo e nono meses Começa uma fase mais intensa de crescimento.
Os movimentos fetais começam a ficar mais lentos.
*Adaptada de Kaluger G, Kaluger MF: Human Development: The Span of Life. St. Louis: CV Mosby, 1974.
cos pioneiros em fisioterapia, como Margaret Rood e Do-
rothy Voss, estudaram os achados de Hooker para enten-
der mais detalhadamente as formas primitivas do movi-
mento humano. Elas aplicaram o que aprenderam de
Hooker às suas avaliações do comportamento motor, as-
sim como à seqüência de habilidades motoras que incluí-
ram em seus programas de tratamento.
Desenvolvimento das respostas motoras à
estimulação
De acordo com Hooker (1944), o comportamento motor
pode ser evocado na idade de aproximadamente oito se-
manas de IM. Em seus estudos, o feto foi mantido em so-
lução isotônica sob temperatura corpórea. Ele usou a ponta
16 JAN STEPHEN TECKLIN
de um fio de cabelo para aplicar estimulação tátil à pele
do feto. Ele filmou e registrou cuidadosamente qualquer
resposta motora à estimulação tátil. As respostas mais
precoces foram obtidas apenas quando o toque era apli-
cado em torno da boca, a área perioral. As respostas mo-
toras foram caracterizadas por movimentos de retirada.
O feto fletia lateralmente e rodava a cabeça de modo que
a boca se movia em direção oposta ao local do estímulo.
Hooker nomeou esses reflexos como reações de esqui-
var-se. Na aplicação do estímulo em fetos mais velhos, ele
achou que a área sensível à estimulação tátil se tinha es-
palhado da boca para todas as direções: para cima em
direção ao nariz, para as laterais da face, para o queixo e,
mesmo em indivíduos mais velhos, para o pescoço e parte
superior do tórax. A área expandida da sensibilidade cu-
tânea foi acompanhada por um aumento cada vez maior
da variedade da amplitude de resposta de retirada. Em
fetos mais velhos, foram vistas não apenas flexão e rota-
ção de pescoço, mas também o tronco e a pelve fletiam
lateralmente e rodavam para o lado oposto da estimula-
ção. Essas respostas de variedade de amplitude foram cha-
madas de “respostas corporais completas”. Em um feto de
11 semanas, quando as palmas das mãos eram tocadas,
ocorria um fechamento parcial dos dedos. Em fetos da
mesma idade ou ligeiramente mais velhos, o toque na sola
do pé resultava em flexão plantar dos dedos. Assim como
as primeiras respostas vistas na área perioral, as respos-
tas dos membros superiores e inferiores eram de maior
variedade de amplitude em fetos mais velhos, envolven-
do flexão e retirada do estímulo aplicado na palma ou na
sola. Em fetos mais velhos, as áreas de sensibilidade cutâ-
nea eram encontradas em áreas mais proximais dos mem-
bros, incluindo eventualmente todo o membro superior
ou inferior.
As respostas de fetos mais velhos abrangeram um cres-
cente número de regiões do corpo, e o caráter das respos-
tas também mudou. Ao contrário da retirada da região do
estímulo, houve um aumento na freqüência de respostas
que moviam a face em direção ao estímulo. Essa mudan-
ça gradual na direção — de movimentos contrários ao
estímulo por volta da oitava semana, para o movimento
em direção ao estímulo na 12a semana — tem importan-
tes conseqüências. O feto que se move para longe do estí-
mulo está demonstrando o que pode ser interpretado como
uma função de sobrevivência muito primitiva de proteção
contra lesões. Mesmo depois do nascimento, o indivíduo
não pode retirar-se de todos os toques recebidos na área
perioral, pois a alimentação seria impossível. Em um pe-
ríodo de tempo relativamente curto, na idade de 14 a 15
semanas de IM, todos os movimentos de alimentação pre-
liminares, incluindo abertura e fechamento de boca, ma-
nutenção dos lábios fechados e movimentos da língua,
estavam presentes. Em fetos de 29 semanas de IM, foi
observada sucção audível. O caráter de resposta de tron-
co e membros em fetos mais velhos também foi diferente.
Em vez de continuar a se espalhar, como as respostas cor-
porais completas, algumas ações ficaram restritas a áreas
locais e as respostas foram variadas. Em fetos de 14 a 15
semanas de IM, Hooker descreveu as características dos
movimentos como graciosos e delicados. Nessa idade, as
respostas que envolviam a ação de todo o corpo poderiam
incluir seqüências completas de ação. Por exemplo, movi-
mentos como a extensão da cabeça e do tronco eram segui-
das por rotação e flexão. As seqüências de ação foram des-
critas como “antecipatórias” da vida pós-natal, uma vez que
elas pareciam incluir padrões de ação tipicamente vistos
depois do nascimento como o ato de rolar ou de alcançar.
Os estudos de Hookerforam considerados pelos fisio-
terapeutas uma importante fonte de informação em rela-
ção ao desenvolvimento motor durante o período pré-na-
tal. A suposição de que fetos abortados demonstram um
comportamento típico do comportamento fetal intra-ute-
rino ainda tem sido questionada. Alguns argumentam que
o ambiente de fetos abortados é drasticamente diferente
do ambiente intra-uterino e que o comportamento motor
observado fora do útero não é representativo do desen-
volvimento motor normal que ocorre no ambiente intra-
uterino. Uma segunda crítica a esses estudos é a de que os
fetos estudados estavam morrendo durante o estudo. Fe-
tos nascidos tão prematuros quanto os que Hooker estu-
dou não poderiam respirar para manterem-se vivos. Mui-
tas das reações observadas podem ter sido decorrentes da
diminuição de oxigênio no sangue. Além disso, os fetos
abortados podem ter tido sérias anormalidades que pro-
vocaram o nascimento prematuro. Se foi esse o caso, os
movimentos observados e descritos por Hooker podem não
ser típicos da população normal de bebês nascidos a ter-
mo ou com 37 a 42 semanas de IG.
Desenvolvimento dos movimentos
espontâneos
Os movimentos espontâneos representam uma classe di-
ferente dos movimentos de respostas reflexas. Em vez de
serem evocados, os movimentos espontâneos surgem sem
um estímulo aparente. Reflexos são respostas evocadas, e
seu início depende de um estímulo. Os movimentos es-
pontâneos surgem sem estímulos externos e podem ser
considerados como auto-iniciados, não sendo necessaria-
mente “voluntários”. Na verdade, o termo “movimento
voluntário” pode ser problemático ao se discutir o desen-
volvimento inicial. Vontade implica intenção e propósito,
e não temos uma maneira confiável de determinar a in-
tenção de um indivíduo muito jovem.
Até recentemente, os pesquisadores e os médicos con-
centravam-se na descrição de reflexos ou respostas evo-
cadas do feto e de bebês e ignoravam as ações espontâ-
neas. Essa tendência em concentrar-se nos reflexos é pro-
vavelmente um resultado de nossa cultura científica, que
valoriza experimentos bem-controlados. A preferência pela
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA 17
abordagem de experimentos controlados para documen-
tar o comportamento humano pode ter levado à crença
geral de que os bebês conseguem executar apenas “movi-
mentos reflexos”. Em uma abordagem experimental ao
estudo do movimento, os movimentos espontâneos foram
considerados eventos aleatórios e sem propósito que in-
terferiam no estudo.
Na década de 1970, o avanço tecnológico da monito-
rização ultra-sonográfica do feto trouxe uma revolução
em nosso entendimento do desenvolvimento do movimen-
to durante o período fetal. Milani-Comparetti, um neu-
ropsiquiatra infantil italiano, observou e interpretou os
registros ultra-sonográficos de mais de mil mulheres grá-
vidas. Essas gestantes continuaram a esperar bebês nor-
mais e saudáveis. Milani-Comparetti, até o período de seu
estudo com o ultra-som, tinha sido um firme adepto dos
reflexos como unidade fundamental do comportamento
motor humano. Entretanto, suas observações dos regis-
tros ultra-sonográficos dos fetos em desenvolvimento nor-
mal mudaram seus conceitos mais básicos do desenvolvi-
mento motor. Milani-Comparetti ficou impressionado com
a natureza espontânea e freqüente dos movimentos fetais
iniciais. Ele não achou estímulos que evocassem os movi-
mentos naturais do indivíduo em desenvolvimento.
Ele descreveu o aparecimento seqüencial de ações
espontâneas durante o período fetal e contribuiu para uma
grande compreensão do movimento humano pela descri-
ção de padrões de movimentos primários (PMPs). De acor-
do com Milani-Comparetti, os PMPs são dados fundamen-
tais de ação a partir dos quais todos os movimentos
humanos se desenvolvem. Os padrões de ação surgem de
forma espontânea e posteriormente se tornam ligados a
estímulos sensoriais para formar automatismos primários.
Um automatismo primário é similar a um reflexo. Seu con-
ceito de que os movimentos espontâneos surgem antes dos
automatismos primários foi revolucionário, sobretudo para
aqueles que achavam que o reflexo era a unidade básica
do comportamento motor a partir da qual todos outros
movimentos se originariam.
A rica e vívida descrição de Milani-Comparetti dos
movimentos bem-adaptados do feto é um excelente exem-
plo de como a tecnologia moderna pode ser aplicada para
nos ajudar a compreender o movimento humano. Ele des-
creveu os movimentos precoces como “saltitantes”, os quais
apareciam espontaneamente em fetos de aproximadamen-
te 10 semanas de IG. Uma série de saltos continuava em
sucessão até o feto atingir uma nova posição de descanso
no assoalho uterino. A forma mais precoce de salto envol-
via a extensão dos membros inferiores e a flexão dos mem-
bros superiores. Mais tarde, aparentemente devido ao cres-
cimento fetal dentro do espaço intra-uterino restrito, os
membros superiores eram trazidos para a frente e esten-
diam-se para baixo em frente ao corpo durante os saltos.
Os movimentos locomotores que capacitam o feto a
movimentar-se dentro da placenta foram descritos como
uma parte do comportamento motor na 17a semana de
IG. Milani-Comparetti descreveu uma grande variedade
de movimentos fetais muito bem-adaptados, incluindo a
exploração da face e do corpo com as mãos, agarrar e
mover o cordão umbilical e assim por diante. A sucção
espontânea do polegar e a deglutição foram documenta-
das. Respostas a estímulos visuais e auditivos apareciam
antes do nascimento. Sons ou luzes foram aplicados na
parede abdominal da mãe para examinar as respostas aos
estímulos. Inicialmente, respostas de alarme foram obser-
vadas, com ambas as mãos sendo levantadas para prote-
ger a face aparentemente em um padrão de proteção.
Milani-Comparetti discutiu como as respostas mais
precoces eram usadas, em última instância, “para nascer”.
A locomoção era usada a fim de mover-se para a posição
de nascimento com a cabeça para baixo, encaixada na saída
pélvica. Os movimentos de salto eram usados a fim de
empurrar a parede uterina para iniciar ou cooperar no
processo de nascimento. Os movimentos de respiração,
sucção e deglutição eram preparatórios para a alimenta-
ção depois do nascimento, e as respostas visuais e auditi-
vas preparavam o bebê para receber informações sobre o
novo ambiente pós-natal. Não se pode ler o trabalho de
Milani-Comparetti sem a impressão geral de que o feto se
comporta de modo a refletir a adaptação progressiva ao
ambiente uterino, assim como antecipa o processo de nas-
cimento que ocorre ao final do período gestacional.
Resumo
Existem duas visões distintamente diferentes do período
fetal e, desse modo, das origens dos movimentos huma-
nos. Um ponto de vista baseia-se na pesquisa conduzida
em fetos fora do ambiente uterino, e outro, na pesquisa
conduzida acerca de como os fetos funcionam dentro do
útero. Esta última, um estudo mais natural dos movimen-
tos pré-natais, revela movimentos fetais muito ativos e
espontâneos. A pesquisa conduzida em um ambiente ex-
tra-uterino mostra os movimentos fetais como reflexos.
Tais pontos de vista foram influenciados pela tecnologia
disponível aos pesquisadores na época em que eles con-
duziam seus estudos, mas também foram influenciados
pelas perspectivas predominantes na época em que foram
desenvolvidos. Recentemente, fisioterapeutas vêm-se in-
teressando em movimentos autoproduzidos, depois de um
longo período de concentração nos reflexos e nas reações
dos pacientes. Pode-se perceber agora o quanto é impor-
tante encorajar ações auto-iniciadas, uma vez que são uma
parte integral do movimento humano desde o princípio.
Como resultado, o trabalho de Milani-Comparetti na des-
crição dos movimentos auto-iniciados mais precoces é de
grande interesse para os terapeutas e é, por natureza, re-
volucionário. A perspectiva única de Milani-Comparetticoloca em contraste direto a visão tradicional de que o
feto é um ser reflexo e passivo.
18 JAN STEPHEN TECKLIN
�PLANOS DE MOVIMENTO E
ALINHAMENTO POSTURAL
Antes de discutir os padrões e as habilidades específicos
associados com o desenvolvimento motor normal, parece
útil apresentar o esquema pelo qual o movimento é fre-
qüentemente descrito. O corpo humano tem uma grande
variedade de combinações de movimento disponíveis.
Como resultado dessas combinações, uma pessoa pode
escolher movimentos em segurança nos variados tipos de
terrenos, em superfícies com pouco atrito e, nas situações
em que o equilíbrio é perdido, a pessoa pode tanto recu-
perar uma posição ereta quanto usar as mãos para se pro-
teger durante a queda. O desenvolvimento de força equi-
valente ou balanceada na oposição de grupos musculares
é considerado por muitos como algo importante para se
obter uma boa postura. A falha do desenvolvimento de
força equivalente pode distorcer o alinhamento apropria-
do que, em última análise, leva a movimentos ineficientes
e à resistência reduzida. As estruturas do corpo precisam
suportar grandes esforços e uma carga mecânica aumen-
tada quando os músculos não estão equilibrados e quan-
do os ossos e as articulações estão impropriamente ali-
nhados.
Em termos de movimento, o corpo é dividido em três
planos: frontal, sagital e transverso. O plano frontal divi-
de o corpo em porções anterior e posterior, o plano sagital
divide o corpo em porções direita e esquerda e o plano
transverso divide o corpo em porções superior e inferior.
O movimento dentro do plano sagital ocorre mediante fle-
xões e extensões contra a gravidade. Os movimentos anti-
gravitacionais também ocorrem durante a flexão lateral
dentro do plano frontal. No plano transverso, os movi-
mentos ocorrem com rotação sobre o eixo do corpo. Os
pontos de referência mudam quando o movimento ocorre
por meio do plano de movimento. O movimento que cru-
za o plano frontal torna-se anterior e posterior; movimen-
tos que cruzam o plano sagital tornam-se paralelos ou la-
terais. Em função de a movimentação normal raramente
ser unidimensional, para se obter um alinhamento postu-
ral apropriado, é essencial combinar e controlar todos os
movimentos dentro e por meio dos planos.
O tônus muscular postural normal também é impor-
tante para suavizar os movimentos por meio dos planos
de movimentos. O tônus muscular tem sido descrito por
muitos como a condição do músculo que, embora sem uma
contração ativa, determina a postura do corpo, a amplitu-
de de movimento das articulações e a sensação dos mús-
culos. O tônus muscular normal é alto o suficiente para
permitir movimentos contra a gravidade, e baixo o sufici-
ente para dar completa liberdade de movimento pelos
vários planos e em resposta a vários estímulos.
�DESENVOLVIMENTO MOTOR
DURANTE A PRIMEIRA
INFÂNCIA
A primeira infância é considerada o período do nascimento
até a criança ser capaz de ficar em pé e andar. Tipicamente, a
primeira infância dura aproximadamente um ano. Esse pe-
ríodo é muito instrutivo para os fisioterapeutas. O neonato,
essencialmente incapaz de encarar a gravidade, desenvolve
de forma gradual a habilidade de alinhar os segmentos do
corpo, tanto um segmento em relação ao outro quanto em
relação ao ambiente, alcançando o que é chamado de “pos-
tura normal” da posição ereta. O ambiente gravitacional no
qual o bebê tem que viver é quase completamente conquista-
do durante o primeiro ano. O bebê recém-nascido, capaz de
manter a cabeça apenas por alguns instantes, ganha a habili-
dade de segurar a cabeça em uma postura crescentemente
vertical. A postura fletida dos recém-nascidos dá lugar à pos-
tura estendida da posição ereta. Com o passar do tempo, os
bebês adquirem habilidades locomotoras: primeiro rolando,
depois rastejando-se e engatinhando, então andando com
apoio, até finalmente alcançar a importante marca da loco-
moção independente, como mostra a Tabela 1.2.
Na discussão a seguir, os ganhos motores do primeiro
ano de vida serão discutidos em cada um dos quatro trimes-
tres durante o primeiro ano pós-natal. Um trimestre abrange
um período de três meses. A divisão do primeiro ano em
quatro períodos é útil para entender as rápidas aquisições
motoras do bebê. Em cada trimestre, seu comportamento
será discutido para cada uma das quatro posições: a posição
supina, a posição prona, sentada e em pé. Em vez de focali-
zar uma seqüência mensal de marcos motores, os ganhos
motores do bebê serão resumidos por trimestre.
Primeiro trimestre: alinhamento da
cabeça
O recém-nascido é chamado de neonato — período que
dura duas semanas. A postura do neonato é caracterizada
pela flexão, que, acredita-se, é derivada da postura fleti-
da imposta dentro do útero durante o período pré-natal.
Depois do sétimo mês de gestação, há um espaço limita-
do para os movimentos do feto. A postura fletida também
tem sido atribuída aos níveis de desenvolvimento do sis-
tema nervoso. Especificamente, acredita-se que as re-
giões do cérebro responsáveis pelas habilidades motoras
envolvidas na extensão do corpo contra a força da gravi-
dade não estão completamente desenvolvidas nesse pe-
ríodo. Como resultado da postura fletida, quando o bebê
é colocado na posição prona, os braços e as pernas enro-
lam-se sob o tronco, fazendo com que, desse modo, o peso
do bebê vá em direção à cintura escapular. Embora essa
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA 19
postura flexora inicial coloque a criança em uma posição
que dificulta seus movimentos, o bebê pode desenvolver
uma das mais importantes e básicas habilidades — a de
levantar e girar a cabeça de um lado para o outro. Esse é o
primeiro movimento ativo da criança contra a gravidade
e é realizado usando uma combinação de músculos que
estendem e giram o pescoço. Esse é o principal ganho do
primeiro trimestre.
A posição supina
Quando o bebê está em posição supina, a cabeça e a parte
superior do tronco descansam em uma superfície de apoio
com a cabeça virada para um lado (Figura 1.1). A parte
inferior do tronco em geral está fletida, de modo que as
nádegas não tocam completamente a cama. Tanto os mem-
bros superiores quanto os inferiores são mantidos em uma
postura relativamente simétrica de flexão durante os pri-
meiros dias depois do nascimento. Os pés podem estar
posicionados perto das nádegas, e as mãos com freqüên-
cia estão em contato com o tronco. Os quadris são tipica-
mente mantidos em flexão e continuamente impedidos
de se aproximar da superfície de apoio pela ação dos
músculos adutores do quadril. Os joelhos estão fletidos e
os tornozelos são mantidos em um ângulo agudo de dor-
siflexão. Os braços são mantidos em flexão junto ao cor-
po. Os cotovelos e as mãos estão fletidos.
Por causa da predominância da flexão, é encontrada
alguma resistência quando os membros do bebê são mo-
vidos passivamente em extensão. Os cotovelos, os joelhos
e os quadris voltam à flexão depois de serem estendidos
passivamente. A tendência a manter uma postura fletida
e a voltar a ela quando liberado de uma posição estendida
é chamada de “tônus flexor”. Os mecanismos fisiológicos
responsáveis por esse fenômeno não são claramente com-
preendidos. Acredita-se que a postura reflete a elasticida-
de dos tecidos moles que ficaram confinados em uma pos-
tura flexora no final do período fetal e a atividade do
sistema nervoso central (SNC) nesse ponto inicial do de-
senvolvimento pós-natal.
A postura fletida do recém-nascido é normal, mas
decresce gradualmente. Ao final do primeiro trimestre, o
grau de flexão dos membros diminui. Os pés e os braços
deixam de manter distância da superfície de apoio. Acre-
dita-se que essa mudança resulte de movimentos exten-
sores ativos do bebê e da ação da gravidade.
A postura dos membros superiores do bebê muda du-
rante o primeiro trimestre. Depois de cerca de um mês, quan-
do a cabeça estána posição relativamente central ou na linha
média, a flexão dos membros superiores começa a dar lugar
a uma postura de abdução e de extensão de braços. Inicial-
mente, essa postura é vista quando o bebê está dormindo
TABELA 1.2
Marcos do desenvolvimento motor para o primeiro ano de vida*
Idade média de aquisição Variação normal de idade
Conquistas funcionais (em meses) (em meses)
Mantém a cabeça ereta e firme 0,8 0,7-4,
Vira-se da posição lateral para a posição supina 1,8 0,7-5,
Senta-se com apoio 2,3 1-5
Vira-se da posição supina para a posição lateral 4,4 2-7
Senta-se sozinho (momentaneamente) 5,3 4-8
Rola da posição supina para a posição prona 6,4 4-10
Senta-se sozinho (firmemente) 6,6 5-9
Primeiros movimentos de passos (com apoio) 7,4 5-11
Puxa-se para a posição em pé 8,1 5-12
Anda com auxílio 9,6 7-12
Em pé sozinho 11,0 9-16
Anda sozinho 11,7 9-17
*De Bayley N. Bayley Scales of Infant Development, New York: Psychological Corp.: 1969
FIGURA 1.1 Primeiro trimestre, posição supina.
20 JAN STEPHEN TECKLIN
ou quando todo seu corpo se move em expressão de prazer
ou felicidade. Quando o bebê chora, uma postura flexora
aguda reaparecerá. Quando a cabeça é virada completamen-
te para a direita ou para a esquerda, uma postura assimétri-
ca de membros superiores e inferiores pode ser vista. O
membro superior para o qual a face é virada é freqüente-
mente abduzido para o lado, com o cotovelo estendido. O
membro inferior no lado da face é estendido. O outro mem-
bro superior é abduzido e rodado lateralmente, de modo
que ele fica sobre a cama com o cotovelo fletido. Essa pos-
tura de membros superiores é comumente chamada de pos-
tura reflexa tônico-cervical assimétrica.
Os movimentos do primeiro trimestre envolvem pe-
ríodos de extensão, chutes e empurrões das extremidades
e rotações e inclinações da cabeça e do tronco. A freqüên-
cia e o grau de movimentos estão relacionados com o “es-
tado do bebê”. Antes da alimentação, os bebês tendem a
ser mais ativos. Eles ficam mais quietos e sonolentos de-
pois das refeições. O bebê consegue focalizar objetos man-
tidos a uma curta distância de sua face e seguirá o objeto,
levando a cabeça para a posição da linha média, porém
não além dela. Os bebês não conseguem seguir objetos
além da linha média até o final do primeiro trimestre.
Não é incomum para um bebê rolar de uma posição
supina para uma posição deitada de lado durante o pri-
meiro trimestre. O rolar geralmente resulta da combina-
ção da rotação de cabeça com a extensão da cabeça e do
tronco. Um rolar da posição supina para prona é geral-
mente um evento acidental no começo do segundo tri-
mestre. Um rolar consistente não aparecerá até o final do
segundo trimestre ou durante o terceiro trimestre.
Ao ficar na posição supina, o bebê ocupa-se muito
brincando com as mãos e com os pés e começa a explorar
seu corpo. O esquema corporal do bebê melhora confor-
me ele brinca com as suas mãos, dá estímulo sensorial aos
pés e explora seu corpo na preparação de atividades pos-
teriores. O bebê envolve-se nessas atividades mais comu-
mente com a cabeça na linha média do que se movendo
de um lado a outro. A orientação da linha média permite
a convergência dos olhos e das mãos, que se unem para a
exploração corporal.
A posição prona
Na posição prona, o recém-nascido permanece em flexão
com a cabeça virada para um lado. O neonato tem a capa-
cidade de levantar e de virar a cabeça de um lado a outro.
Um recém-nascido colocado em posição prona consegue
manter o nariz e a boca desobstruídos e livres para a res-
piração. No início do primeiro trimestre, os membros su-
periores são mantidos relativamente perto do corpo em
uma posição fletida. Os membros inferiores curvam-se sob
o bebê, mantendo o abdômen inferior afastado da cama.
Os quadris e os joelhos ficam fletidos em ângulo agudo e
os pés, em dorsiflexão.
Quando acordado e em posição prona, o bebê passa
bastante tempo estendendo ativamente a cabeça e o tron-
co contra a força da gravidade. O bebê levanta a cabeça
repetidamente. Ele parece estar procurando uma orienta-
ção da linha média, mas a cabeça está em geral fora do
centro e oscila para cima e para baixo. Ocasionalmente,
os esforços são tão grandes que a parte superior do tronco
é levantada também, de modo que o bebê suporta seu
peso nos antebraços, que estão em rotação medial e do-
brados sob o tronco (Figura 1.2). A habilidade do bebê
em levantar a parte superior do tórax da superfície de apoio
depende da ação balanceada de flexores e extensores tra-
balhando juntos. Essa postura “nos cotovelos” torna-se cada
vez mais freqüente durante o primeiro trimestre. Com a
freqüência aumentada da extensão ativa da cabeça e do
tronco surge a tentativa de arrumar os cotovelos sob o
corpo e de apoiar o peso da parte superior do tronco nas
mãos. O bebê freqüentemente empurra para cima e então
cai, balançando para frente o tronco com os braços fleti-
dos e para trás em retração. Essa seqüência de empurrar
para cima e então cair em posição prona torna-se pro-
gressivamente comum ao redor do fim do primeiro tri-
mestre.
Sentar e ficar em pé
Durante o primeiro trimestre, o bebê não pode sentar ou
ficar em pé sozinho. Isso não é um problema de força,
uma vez que o bebê consegue desenvolver tensão sufi-
ciente nos músculos para sustentar completamente o peso
do corpo em pé. É necessário ajudar o bebê, pois ele não
possui habilidade e reações de balance*. O controle e a
coordenação sofisticados dos músculos que mantêm o
balance ainda não estão desenvolvidos.
Ao ser mantido na posição sentada, o bebê tem as
costas curvas (Figura 1.3). A cabeça é tipicamente manti-
FIGURA 1.2 Primeiro trimestre, posição de apoio
nos cotovelos.
*N. de T. Reações de balance: nome que se dá so conjunto das rea-
ções de retificação, reação de proteção e reação de equilíbrio.
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA 21
da em uma posição fletida adiante da vertical. Entretan-
to, a menos que o bebê esteja muito sonolento, o queixo
não se inclina; ao contrário, ele é mantido afastado do
tórax pela contração ativa dos extensores do pescoço. A
cabeça balança, com intermitente perda de sua posição.
O balançar da cabeça visto na posição sentada é similar
ao intermitente levantar de cabeça observado na posição
prona.
Durante o curso do primeiro trimestre, a estabilidade
da cabeça aumenta. No final desse período, a maioria dos
bebês segura sua cabeça estavelmente e em alinhamento
com o tronco. A habilidade de manter o alinhamento da
cabeça é chamada de “controle da cabeça”. Primeiro, os
bebês endireitam a cabeça em relação ao tronco; mais tar-
de, eles desenvolvem a habilidade de manter a cabeça ali-
nhada em relação à gravidade. Isto é, o bebê pode manter
a cabeça em posição normal.
Embora incapaz de levantar-se sozinho, quando dado
apoio para o equilíbrio, o recém-nascido consegue man-
ter-se em pé. Essa habilidade é referida como posição ver-
tical primária (Figura 1.4). Tipicamente, o padrão da po-
sição vertical é caracterizado pelos pés cruzados e pela
assimetria nos membros inferiores. O bebê pode ficar na
ponta dos dedos. Ao redor do fim do primeiro trimestre, o
padrão de posição vertical primária começa a diminuir e
é cada vez mais difícil de ser demonstrado. Nessa ocasião,
o bebê progride para um período de astasia. Astasia signi-
fica, literalmente, “sem postura”. Quando alguém tenta
levantá-lo, as pernas cedem e o bebê cai gradativamente
em flexão, não agüentando ou mantendo o peso nos mem-
bros inferiores. A astasia pode aparecer no fim do primei-
ro trimestre e durar até o segundo trimestre.
Em resumo, sentar e ficar em pé não são posturas
independentes no primeiro trimestre. Mas o bebê mostra
sinais do que está para acontecer. Lutando contra a gravi-
dade, ele adquire controle da cabeça e dá um grande pas-
so para vencer a força da gravidade que o havia deixado
tãofisicamente dependente no momento do nascimento.
Segundo trimestre: empurrando e
sentando
O segundo trimestre é marcado por grandes progressos
no combate à força da gravidade. O bebê começa esse
trimestre com a capacidade de manter a cabeça alinhada
em relação ao corpo e avança até a habilidade de sentar
sozinho por curtos períodos de tempo e de empurrar as
mãos e os joelhos. Essas posturas são a base de realiza-
ções posteriores, mas, independentemente disso, permi-
tem uma grande série de interações com o mundo em sua
volta. Sentar e levantar-se com as mãos e com os joelhos
são importantes marcos no caminho da independência fí-
sica. As realizações nas posições supina, prona, sentada e
em pé serão esboçadas nos itens a seguir.
A posição supina
Quando o bebê está em posição supina, uma grande quan-
tidade de atividades pode ser observada. O bebê freqüen-
temente levanta as pernas da superfície de apoio, levan-
do-as para as mãos e para o rosto. Ele alcança os pés com
as mãos e tenta levá-los até a boca para explorá-los (Figu-
ra 1.5, p. 22).
FIGURA 1.3 Primeiro trimestre, sentado com apoio.
FIGURA 1.4 Primeiro trimestre, posição vertical
primária com apoio.
22 JAN STEPHEN TECKLIN
Embora o bebê não role consistentemente da posição
supina, as posições extremas envolvendo o levantamento
dos membros inferiores e a extensão com rotação da cabe-
ça e do pescoço são precursores para a capacidade de rolar.
Essa luta pode levar à perda da posição supina. O peso
das pernas, quando transferido para a direita ou para a
esquerda, pode virar o bebê para a posição deitada de
lado. Essa aparente perda do controle dos membros infe-
riores durante o levantamento pode ser um dos fatores
que levam à capacidade de rolar a partir da posição supi-
na. A maioria dos bebês tenta rolar ativamente durante
esse período e alguns podem vir a adquirir essa habilida-
de durante o segundo trimestre, mas eles a adquirem, em
geral, no terceiro trimestre.
O bebê também coloca os pés na superfície de apoio
com os quadris e com os joelhos flexionados. Essa postura
serve como posição inicial para grandes arrancadas de
extensão que levantam as nádegas e o tronco da superfí-
cie. Esse movimento é chamado de “ponte” (Figura 1.6).
Alguns bebês empurram-se para longe em seus berços por
meio de uma série de movimentos em ponte. Outras ve-
zes, o bebê demonstra forte rotação de cabeça e de pesco-
ço para um lado, juntamente com extensão, como se olhas-
se por cima do ombro. A ação de virar e olhar também
pode levar ao rolamento da posição supina para a postura
deitada de lado durante o segundo trimestre. Embora o
bebê não role consistentemente da posição supina, as pos-
turas extremas envolvendo o levantamento de membros
inferiores e extensão com rotação de cabeça da cabeça e
do pescoço são precursores da capacidade de rolar.
A posição prona
O levantamento e o balanceio intermitentes da cabeça
associados ao esforço em ganhar uma postura ereta na
posição prona durante o primeiro trimestre começam gra-
dualmente a envolver a musculatura do tronco. No início
desse trimestre, o bebê luta na posição prona para elevar
o tronco da superfície de apoio, levantando primeiro os
cotovelos e, em seguida, empurrando-se com as mãos. O
bebê passa bastante tempo empurrando-se (Figura 1.7) e
caindo de volta à posição prona, girando em torno do eixo
do estômago com os braços e as pernas elevados da su-
perfície de apoio. Essa postura-pivô é chamada de “pivo-
tear” ou posição de avião (Figura 1.8).
O bebê aprende a aproveitar a extensão dos braços
ao tentar alcançar brinquedos e tenta transferir o peso
mediante uma série de direções laterais. Essa transferên-
cia de peso está mais madura em qualidade e é caracteri-
zada pelo alongamento no lado que suporta o peso. No
final desse período, quando o bebê se aproveita da posi-
ção de extensão dos braços, há menos perda de controle
da posição anterior (cefálica), uma vez que o centro de
gravidade do bebê se move caudalmente, dando à criança
maior controle nessa posição. O bebê pode transferir o
peso naturalmente enquanto está com os braços estendi-
dos; entretanto, em função de essa tarefa ser difícil, o bebê
pode voltar a apoiar-se nos cotovelos a fim de alcançar
FIGURA 1.5 Segundo trimestre, posição supina,
alcançando os pés.
FIGURA 1.6 Segundo trimestre, posição de ponte.
FIGURA 1.7 Segundo trimestre, empurrando-se
com as mãos.
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA 23
um objeto. Quando o centro da gravidade se transfere la-
teralmente, não é incomum a criança sair da postura ali-
nhada das mãos e dos joelhos. Uma tendência ao balan-
ceio parece ser um exercício de equilíbrio auto-iniciado e
eventualmente leva a uma postura bastante fixa e estável
de mãos e joelhos.
Não é incomum para o bebê empurrar-se com as mãos,
dando um impulso na superfície de apoio enquanto está
em posição prona. Isso é chamado de rastejamento, defi-
nido como o padrão locomotor de movimentos para a fren-
te ou para trás, puxando e empurrando com as extremi-
dades enquanto o abdômen está em contato com a
superfície de apoio. O rastejamento começa durante o se-
gundo trimestre. O engatinhar é um padrão locomotor ca-
racterizado pela elevação do abdômen da superfície de
apoio. Tipicamente, os bebês rastejam antes de engati-
nhar. O rastejamento é uma aquisição do segundo trimes-
tre, ao passo que o engatinhar geralmente aparece no ter-
ceiro ou no quarto trimestres.
Quando rastejam, os bebês tendem primeiro a empur-
rar-se para trás, desenvolvendo mais tarde a capacidade de
mover-se para a frente. As tentativas iniciais de rastejamento
são caracterizadas pela falta de coordenação dos movimen-
tos das extremidades. Logo, desenvolve-se um padrão con-
sistente, muito efetivo para movimentar-se no chão.
Os bebês norte-americanos tendem a gastar muito
tempo na posição prona, sobretudo quando comparadas
às crianças britânicas, que são colocadas mais freqüente-
mente na posição supina para brincar. Experiências em
uma posição comum ou preferida são importantes deter-
minantes da seqüência da aquisição de habilidades moto-
ras. Com freqüência, crianças que passam mais tempo em
uma postura predileta demonstram avanços no alcance
dos ganhos motores realizados naquela postura, enquan-
to as habilidades em outras posturas podem ser ligeira-
mente tardias. É importante lembrar que alguns bebês
preferem a posição supina, ao passo que outros preferem
ficar sentados. Nessas ocasiões, as habilidades na postura
predileta freqüentemente superam as habilidades de ou-
tras posturas. As diferenças nas aquisições motoras entre
as posturas em geral refletem as preferências das crian-
ças. Acredita-se que tais diferenças sejam uma expressão
da individualidade dos bebês e são parte do desenvolvi-
mento normal.
O bebê também começará a empurrar-se com as mãos
e com os joelhos durante o segundo trimestre. Geralmen-
te, esse movimento é realizado primeiro empurrando-se
com as mãos e, então, flexionando a espinha lombar e os
quadris, levantando (aproximando) os joelhos sob o tó-
rax. Inicialmente, a posição de joelhos e mãos está em
uma postura instável, mas, com o tempo, a criança torna-
se bastante competente em empurrar-se para trás na pos-
tura mãos e joelhos e passa a ocupar-se em seqüência de
balanceio: transferindo o peso repetidamente para trás e
para frente, das mãos para os joelhos. Em função de a
criança não ter um bom controle dos quadris, se o peso
for transferido de um lado para o outro, não será inco-
mum que a criança caia da postura mãos e joelhos. A ação
de balanceio parece ser um exercício auto-iniciado de equi-
líbrio e eventualmente leva a uma postura mãos e joelhos
bastante fixa e estável.
A posição sentada
O segundo trimestre é o período no qual o bebê desen-
volve uma postura sentada estável e ereta. A crescente
habilidade do bebê em controlar o troncosuperior é fre-
qüentemente ilustrada pelo posicionamento da mão da
mãe enquanto ela apóia o bebê na posição sentada. É
como se a mãe soubesse intuitivamente quanta liberda-
de deve permitir para que a criança trabalhe contra a
força da gravidade. A experiência de movimentar-se com
certa dificuldade em uma posição sentada protegida, mas
desafiadora, ajuda a criança a desenvolver competência
para sentar.
Primeiro, o bebê senta sozinho enquanto se apóia à
frente com as mãos (Figura 1.9). A postura do tronco e
das extremidades superiores é muito similar à postura al-
cançada quando ele se empurra nas mãos na posição pro-
na (compare as Figuras 1.7 e 1.9). Tanto na posição prona
empurrando-se para cima quanto na posição sentada com
apoio, a cabeça está posicionada verticalmente em rela-
ção à gravidade. O tronco superior está inclinado adiante
da vertical e o peso fica nas mãos. Na posição sentada
com apoio, as pernas em geral são mantidas em posição
circular, com os quadris abduzidos e em rotação lateral e
com os pés em oposição um ao outro. Em um ambiente
com apoio e proteção, o bebê estenderá o tronco, retrain-
do a cintura escapular e flexionando os cotovelos para
trazer os braços na chamada postura de “proteção supe-
rior” por breves instantes de independência na posição
sentada (Figura 1.10). Durante o segundo trimestre os
bebês desenvolvem a capacidade de sentar com apoio por
até 15 a 20 minutos. Períodos de independência na posi-
ção sentada são vistos até o terceiro trimestre. A capaci-
dade de estender os braços para a superfície de apoio a
FIGURA 1.8 Segundo trimestre, posição pivô-prona.
24 JAN STEPHEN TECKLIN
fim de segurar e proteger o corpo contra quedas desen-
volve-se simultaneamente à habilidade de manter o tron-
co estável na posição vertical. Essa é a chamada reação
“pára-quedas” ou “extensão protetora”, caracterizada por
braços abduzidos com extensão dos cotovelos, punhos e
mãos. As reações protetoras são fundamentais para uma
posição sentada segura e independente (Figura 1.11).
A posição em pé
Durante o segundo trimestre, o bebê começa novamente
a suportar o peso nos membros inferiores e é capaz de
ficar em pé com apoio. A postura em pé que se segue ao
período de astasia é denominada “em pé secundária”. A
postura em pé secundária é caracterizada por pernas ab-
duzidas, joelhos estendidos e postura plantígrada dos pés
(Figura 1.12). Na postura plantígrada, as solas dos pés
estão em total contato com a superfície de apoio. A postu-
FIGURA 1.9 Segundo trimestre, sentado sozinho
com apoio à frente nas mãos.
FIGURA 1.10 Segundo trimestre, posição sentada
independente de “proteção superior” por breves instantes.
FIGURA 1.11 Segundo trimestre, posição “pára-
quedas” ou “extensão protetora”, vista de cima.
FIGURA 1.12 Segundo trimestre, em pé com
apoio.
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA 25
ra em pé secundária difere da postura em pé primária
observada durante o primeiro trimestre. Durante a postu-
ra em pé primária, os pés estão freqüentemente cruzados
e em geral ficam na ponta dos pés, com os tornozelos em
flexão plantar. Em contraste, a postura em pé secundária
é caracterizada por membros inferiores abduzidos e por
uma postura plantígrada dos pés.
As atividades na posição em pé aumentam durante o
segundo trimestre. Quando apoiada sob os braços, a crian-
ça primeiro pula para cima e para baixo ao ficar em pé;
no fim do trimestre, a criança começa a transferir o peso
de um lado para o outro, levantando e pisando primeiro
em uma perna e, então, com a outra.
Resumo
As aquisições do segundo trimestre são impressionantes: o
bebê move-se na superfície de apoio pela posição de ponte
ou por rastejamento, senta-se com apoio, levanta-se com as
mãos e com os joelhos e fica em pé com apoio. O bebê está
ganhando o controle do corpo em posturas fundamentais
que levarão a uma maior amplitude de mobilidade. O am-
biente de apoio oferece oportunidades para o bebê explo-
rar o corpo e vencer a força da gravidade evidenciada pelo
aumento de posturas elevadas e verticais.
Terceiro trimestre: movimento
constante
Durante o terceiro trimestre, o bebê torna-se móvel e de-
senvolve a habilidade de movimentar-se pelo ambiente. A
exploração torna-se uma atividade dominante. O impulso
para mover-se contra a força da gravidade parece fortale-
cer-se, de modo que, no final do terceiro trimestre, os be-
bês são capazes de puxar-se para levantar. O mundo está
à sua espera para ser descoberto.
A posição supina
A preferência pela posição supina diminui, sobretudo quan-
do o bebê desenvolve a capacidade de rolar da posição
supina para a prona. O primeiro rolar é freqüentemente
realizado com um forte padrão de extensão de cabeça e
da parte superior do tronco e de rotação com os braços
levantados acima e sobre os ombros (Figura 1.13), ou com
um padrão de flexão bilateral dos membros inferiores, le-
vando as pernas para cima e para o lado (Figura 1.14).
Alguns bebês param na posição deitada de lado antes de
completar o rolar para prona. Alguns passam grande tem-
po deitados de lado, com a parte superior das pernas mo-
vendo-se de trás do corpo para uma posição em frente ao
corpo. Acredita-se que o bebê esteja aprendendo a equili-
brar-se na posição deitada de lado. Alguns bebês usarão o
rolar como meio de locomoção, mas o engatinhar é visto
com mais freqüência.
A posição prona
O terceiro trimestre começa com a criança em posição
prona, pivoteando em círculos sob o estômago. A posição
prona torna-se muito estável para o bebê. Como resulta-
do dessa estabilidade aumentada, o bebê pode usar pa-
drões de movimento de extremidades superiores e infe-
riores mais dissociados ao brincar na posição prona. A fle-
xão lateral do tronco é um forte componente do movi-
mento e o bebê pode brincar na posição deitada de lado.
A posição sentada
A manutenção de uma posição sentada sem suporte é agora
realizada com facilidade. A postura é estável e ereta (Fi-
gura 1.15), com o bebê sentando-se ereto por mais de meia
hora. A criança ocasionalmente se inclina para a frente
sobre as mãos para apoiar-se. É mais típico que as mãos
estejam empenhadas em uma variedade de atividades re-
creativas: alcançando e agarrando objetos, batendo pal-
mas e sendo levadas à boca para exploração.
FIGURA 1.13 Terceiro trimestre, rolando com
extensão da cabeça e da parte superior do tronco.
FIGURA 1.14 Terceiro trimestre, iniciando o rolar
usando as pernas fletidas.
26 JAN STEPHEN TECKLIN
O bebê brinca na posição sentada, usando ambas as
mãos para manipular um brinquedo. Se o brinquedo não
estiver ao alcance, o bebê irá transferir seu peso lateral-
mente na tentativa de recuperá-lo. Pode estar faltando uma
mobilidade adequada dos quadris; entretanto, isso previ-
ne que o bebê se mova para uma posição sentada de lado.
As extremidades inferiores ainda podem ser usadas para
estabilidade, como é mostrada pelo bebê ao usar a base
alargada na posição de sentar em “círculo”.
Algumas crianças escorregam ou “fogem” na posição
sentada. A criança apóia-se em uma mão e gira lateralmen-
te a perna daquele lado para a superfície de apoio enquan-
to a outra perna está elevada com os pés em postura plan-
tígrada. Em seguida, a criança move-se rapidamente com a
perna elevada, fixa o pé e, simultaneamente empurra-se
com a outra perna, deslizando as nádegas pelo chão.
Posição quadrúpede
No final do terceiro trimestre, o movimento da posição
sentada para posição quadrúpede (de gatas) também é
adquirido com facilidade. Fazendo uso dos padrões de mo-
vimento das extremidades superiores, que também ser-
vem como extensão protetora ou reação pára-quedas, a
criança vira-se para o lado com os braços e transfere o
peso das nádegas para as mãos (Figura 1.16). A parte in-
ferior do tronco e as nádegas são levantadas da superfície
de apoio e rodadas para o lado em uma posturasimétrica
em quatro apoios.
A criança assumirá a posição quadrúpede (de gatas)
durante o terceiro trimestre e provavelmente irá envol-
ver-se, em grande parte do tempo, em um comportamen-
to de balanceio. O balanceio fornece intensos estímulos
sensoriais para as extremidades superiores e inferiores e
também ao aparelho vestibular. Algumas crianças assu-
mem uma posição que lembra um urso andando (pés e
mãos), o que requer grande controle da musculatura do
quadril. Uma criança nessa posição pode usar sua cabeça
como um estabilizador enquanto alcança um brinquedo
com uma mão.
Posição em pé
A posição em pé é a favorita dos bebês durante o terceiro
trimestre. Eles ficam tão fascinados por essa postura que
passam grande parte do tempo e direcionam seus esfor-
ços movendo-se da posição ajoelhada para a posição em
pé (Figura 1.17). Inicialmente, a postura em pé é caracte-
rizada por uma posição fletida e instável do quadril. Pos-
teriormente, os quadris são tracionados para frente, na
linha dos ombros, e a posição em pé torna-se cada vez
mais estável. Inicialmente, a criança não tem habilidade
para voltar a sentar-se quando está na postura em pé. É
possível encontrar a criança em um dilema sobre como se
sentar após estar em pé. Com o tempo a criança descobre
como cair, empurrando as nádegas para trás e sentando.
O bebê também pratica a movimentação da posição
ajoelhada para a posição vertical. Em função de a exten-
são dos quadris não estar com o seu componente muscu-
lar fortemente desenvolvido, a força nas extremidades
superiores torna-se importante quando a criança tenta
elevar-se. As atividades de mover-se para ajoelhar ou fi-
FIGURA 1.15 Terceiro trimestre, sentado sem
apoio.
FIGURA 1.16 Terceiro trimestre, transferindo o
peso das nádegas para as mãos.
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA 27
car em pé e brincar com os movimentos dentro e fora da
posição sentada fornecem grande quantidade de estímu-
los sensoriais para as extremidades superiores e para a
cintura escapular. O bebê usa a força das extremidades
superiores para impulsionar e proteger seu corpo, enquan-
to continua a desenvolver mais mobilidade e controle da
pelve e dos quadris.
Depois de levantar, a criança gasta grande energia
perturbando ativamente o equilíbrio. Esse balanceio gra-
dualmente dá lugar à transferência de peso de um lado
para o outro seguido do andar lateral segurando-se na
mobília. Esse é o chamado cruzamento e é a primeira for-
ma de locomoção independente (Figura 1.18). Ao final
desse trimestre, a criança pode começar a subir degraus
baixos, aproveitando-se, desse modo, da maior habilida-
de em fletir os quadris e de liberar uma extremidade infe-
rior do peso.
Quando apoiado em uma posição vertical, o bebê pode
segurar seu peso com os pés fixos; entretanto, quando em
pé apoiando na mobília e quando percorrendo, o centro
de gravidade é freqüentemente jogado para frente, levan-
do o bebê a segurar o peso na ponta dos pés. O bebê usa
de modo alternado os pés fixos e uma postura de flexão
plantar dos pés ao movimentar-se.
Quarto trimestre: finalmente
andando
As posições supina e prona
Quando o bebê está acordado, as posições prona e supina
tornaram-se posturas principalmente transitórias. A crian-
ça fica pouco tempo nessas posturas, as quais são vistas
principalmente transmitindo pontos de estabilidade em
direção a posturas mais altas.
A postura de “gatas” é a base para engatinhar. Esse
padrão locomotor abrange a ação alternada de braços e
pernas opostas na mobilidade anterior. Alguns bebês tor-
nam-se engatinhadores muito habilidosos e preferem essa
forma de locomoção por meses. Mesmo o início da mar-
cha não evitará a preferência de algumas crianças pelo
engatinhar.
O engatinhar plantígrado torna-se parte do repertó-
rio da criança. Essa forma de locomoção envolve o engati-
nhar com braços e pernas estendidas, com os pés em pos-
tura plantígrada (Figura 1.19). O engatinhar plantígrado
é o próximo passo na gradual elevação do tronco contra a
força da gravidade. A extensão completa dos membros
superiores conduzida pela postura de “gatas” e agora a
FIGURA 1.17 Terceiro trimestre, movendo-se para
ficar em pé.
FIGURA 1.18 Terceiro trimestre, percorrendo uma
cerca.
28 JAN STEPHEN TECKLIN
extensão dos membros inferiores levam a uma posição de
engatinhar plantígrado.
A posição sentada
A posição sentada é uma posição muito funcional nesse
período. A facilidade com a qual a criança se move da
posição sentada e de volta para essa posição é bastante
notável tanto ao mover-se da posição sentada para a pos-
tura de “gatas” quanto ao mover-se da posição sentada
para ajoelhada e, então, em pé. As habilidades de equilí-
brio tornam-se muito bem desenvolvidas na posição sen-
tada. A criança com freqüência gira em círculos enquanto
sentada, usando as mãos e os pés para propulsão. Ela sen-
ta fácil e confortavelmente em uma cadeira alta com as
pernas fletidas e os pés apoiados. Pode mover-se para a
posição prona a partir da posição sentada quando brin-
ca ou como parte dos movimentos usados para levantar-
se do chão. Além disso, o aumento da mobilidade e do
equilíbrio oferecem a ela a oportunidade de usar várias
posições sentadas, como a sentada de lado e a sentada
“em W”.
A posição em pé
A posição em pé é a postura preferida pela maioria das
crianças durante o quarto trimestre. Mover-se para a po-
sição em pé apoiando-se nos móveis leva a percorrer a
borda dos móveis enquanto segura-se. A sua habilidade
em recuar para sentar-se a partir da posição em pé é de-
senvolvida no começo desse trimestre, e, no final do tri-
mestre, surge a habilidade de mover-se para uma postura
agachada a partir da posição em pé (Figura 1.20). As
crianças sobem pelos móveis a partir da posição em pé.
Elas em geral conseguem levantar-se em cadeiras ou me-
sas baixas sem dificuldades no final do quarto trimestre.
Os passos iniciam-se na direção diagonal para frente
ou na direção lateral. Esse padrão inicial de passos pode
ser visto nos primeiros passos que a criança dá com as
mãos sendo seguradas (Figura 1.21). Os pais, ao anda-
rem atrás delas segurando suas mãos, estão na melhor
posição para observar o padrão diagonal de passos, que
leva a criança primeiro para um lado e depois para o ou-
tro. Apenas com o tempo a criança faz os movimentos
corretos de perna para uma direção mais dianteira. Ela
progride da locomoção com as duas mãos apoiadas para
a locomoção com apenas uma das mãos para apoio. Com
encorajamento, eventualmente se solta e dá passos sozi-
nha. Os primeiros passos independentes naturalmente
também são na diagonal, levando a uma base de apoio
alargada.
Durante as primeiras tentativas de locomover-se, a
criança pode estar na ponta dos pés, com pouco ou ne-
nhum contato dos calcanhares com o chão. O bebê anda
em uma postura de pés mais aplainados enquanto usa pas-
sos exageradamente posteriores na tentativa de manter o
equilíbrio. O padrão de marcha ainda é imaturo, com a
tendência à flexão lateral de tronco para avançar a perna
em vez de usar um padrão maduro de transferência de
peso. Os braços são mantidos em “proteção superior” (Fi-
gura 1.22), o que ajuda a manter a estabilidade e o con-
trole. A criança tem grande dificuldade com o equilíbrio
ao tentar carregar um brinquedo em uma mão. Uma
FIGURA 1.19 Quarto trimestre, “engatinhando”
com braços e pernas estendidas.
FIGURA 1.20 Quarto trimestre, movendo-se para
trás a partir da posição em pé para sentar.
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA 29
criança nessa idade achará impossível usar as duas mãos
para carregar um objeto por causa da necessidade do uso
das extremidades superiores para estabilização. Quando
a criança tenta carregar um objeto, freqüentemente há o
retorno à locomoção na ponta dos pés na tentativa de
aumentar o apoio e a estabilidade. O padrão de locomo-
ção na ponta dos pés deslocao peso do corpo anterior-
mente, o que a impossibilita de usar um padrão mais ima-
turo e rígido, que dá a ela maior estabilidade. Uma vez
que as extremidades superiores estejam livres novamen-
te, a criança retorna à posição de pés aplainados. A posi-
ção em pé independente torna-se uma característica con-
sistente no repertório motor da criança, causando, desse
modo, mais quedas — porém, ela aprende a recuperar-se
rápida e habilidosamente para terminar a atividade ante-
rior.
Um notável aumento na estabilidade e no controle
ocorre no final do primeiro ano. As posições de proteção
superior e apoio externo são menos necessárias. A criança
consegue carregar brinquedos mais facilmente enquanto
anda, consegue abaixar-se para recuperar um brinquedo
do chão sem apoio externo e pode tentar levantar-se na
ponta dos pés para alcançar um objeto no alto. Quando
empurrada para trás, é mais provável a manutenção do
equilíbrio sem dar um passo para trás, como costumava
fazer. Além de levantar-se na ponta dos pés e agachar-se,
ela consegue levantar uma perna como se fosse subir um
degrau. Esse ato envolve flexão excessiva dos quadris e
uma transferência lateral do peso que, combinadas, po-
dem causar uma perda do equilíbrio e fazer a criança pro-
curar por apoio.
Considerando-se que as tentativas iniciais de loco-
moção do bebê mostram um equilíbrio precário, os gan-
hos no primeiro ano pós-natal são bastante notáveis. Em
pouco tempo, o bebê progride da incapacidade para a
mobilidade independente e a exploração ativa do mun-
do. A locomoção tornar-se-á progressivamente suave e
coordenada. Podem ser observados um progressivo es-
treitamento da base de suporte e passos na direção dian-
teira, com um padrão calcanhar-ponta de contato dos
pés. Os braços movem-se da proteção superior para a
mediana e finalmente para a proteção inferior, com um
FIGURA 1.21 Quarto trimestre, padrão de passos
anteriores e laterais.
FIGURA 1.22 Quarto trimestre, passos
independentes com mãos em posição de proteção superior.
30 JAN STEPHEN TECKLIN
natural balanceio alternado de braços aparecendo even-
tualmente. Com o início de melhores habilidades na loco-
moção e na escalada, mais descobertas estarão ao alcan-
ce da criança.
Dentro de poucos meses depois do início da locomo-
ção, a criança ganhará a habilidade de levantar-se inde-
pendentemente, rolando da posição prona, subindo com
as mãos e com os joelhos, assumindo a posição plantígra-
da e então empurrando-se com os braços para alcançar
um posição em pé independente. Subir e descer dos obje-
tos e engatinhar para cima e para baixo de degraus tor-
nam-se uma rotina.
Resumo
A transição da incapacidade e da dependência física para
a independência durante o primeiro ano depois do nasci-
mento é muito importante para a criança e para a família.
Uma vez que a criança ganha controle sobre seu corpo e é
capaz de resistir à força da gravidade, novos mundos es-
tarão abertos para exploração e o bebê estará menos de-
pendente dos pais para ser segurado e carregado. O con-
trole antigravitacional começa com o levantamento e
alinhamento da cabeça durante o primeiro trimestre. Esse
controle prossegue a partir da cabeça abaixada sobre a
região superior do tórax, com os braços estendidos contra
a força da gravidade e com a sustentação do peso da par-
te superior do tronco no segundo trimestre. O tronco infe-
rior estende e a criança procura a postura vertical sentada
durante o terceiro trimestre. Os membros inferiores são
gradualmente estendidos assim que a criança alcança a
postura plantígrada de engatinhar e empurra-se para le-
vantar. Com o crescente gasto de tempo na posição em
pé, ela desenvolve a habilidade de equilibrar-se nessa pos-
tura e abandona o apoio para sair e andar. A progressão
cefalocaudal da extensão antigravitacional a fim de mo-
ver-se para a postura vertical e o concomitante desenvol-
vimento do equilíbrio na série progressiva de posturas
representam um importante padrão de aquisições que le-
vam à independência física.
�COMPORTAMENTO MOTOR
DURANTE A INFÂNCIA
A primeira infância é período dos 2 aos 6 anos. Até este
ponto do capítulo, a maioria das discussões centralizou-
se na aquisição de novas habilidades motoras. O desen-
volvimento motor durante a primeira infância leva ao al-
cance de novas habilidades, mas não necessariamente a
novos padrões de movimento. Acredita-se que a criança
tenha adquirido todos os padrões de movimento funda-
mentais e que, a partir de então, esteja aprendendo a co-
locá-los em uso em atividades significativas.
Desenvolvimento das habilidades
locomotoras
A criança continua a praticar e a refinar muitas das habi-
lidades motoras adquiridas durante o primeiro ano de vida.
A posição em pé torna-se mais ereta. O agachar pode ser
feito por períodos mais longos, embora uma larga base de
apoio possa ser usada. Subir escadas com as mãos e com
os joelhos torna-se uma tarefa mais fácil, e muitas crian-
ças divertem-se pulando. Na primeira infância, o padrão
locomotor do caminhar é refinado e novas habilidades
locomotoras são adicionadas, incluindo correr, pular, sal-
tar e andar saltitando. Tais habilidades requerem crescen-
tes graus de equilíbrio e controle de força para um desem-
penho bem-sucedido. O desenvolvimento de destreza para
cada habilidade parece depender da combinação entre prá-
tica, crescimento do corpo e maturação do SNC. Quanto
mais refinada uma habilidade, maior deve ser a prática para
o desenvolvimento do controle necessário.
As crianças precisam de oportunidades para exerci-
tar suas habilidades em desenvolvimento dentro das ha-
bilidades motoras fundamentais. O correr é geralmente
adquirido entre os 2 e os 4 anos. O correr difere do andar,
especialmente por causa da “fase de vôo”, durante a qual
não há apoio do corpo. A fase de vôo acontece pela forte
porém cuidadosa aplicação de força propulsiva durante a
fase de apoio do padrão de marcha. Entretanto, o grau de
controle na corrida, como a habilidade de começar e pa-
rar e mudar de direção com facilidade, não é alcançado
até a idade de 5 ou 6 anos. O pular desenvolve-se primei-
ro como a habilidade de descer pulando de lugares mais
altos. A criança pulará pela primeira vez de uma caixa de
aproximadamente 30 cm de altura por volta dos 22 meses
de idade. Essa habilidade é mais característica de um pa-
drão de descida do que de um pulo verdadeiro com os
dois pés saindo do chão simultaneamente. Com o tempo,
surge a habilidade de pular para alcançar um objeto aci-
ma da cabeça e, mais tarde, a habilidade de pular a dis-
tância. Durante a infância, a altura e a distância do pulo
aumentam. Além disso, a forma dos movimentos usados
para pular torna-se mais eficiente. Os saltadores inician-
tes demonstram um agachamento preparatório muito su-
perficial, enquanto os saltadores mais avançados demons-
tram agachamentos mais profundos. Inicialmente, os
braços parecem mover-se para a posição de proteção su-
perior nas crianças mais novas, ao passo que, nas mais
velhas e experientes, os braços tendem a ser usados para
dar impulso, sendo estendidos para o alto e acima da cabe-
ça durante o pulo. Saltadores novos e inexperientes demons-
tram cabeça e tronco flexionados durante o pulo. Em con-
traste, crianças mais velhas e experientes utilizam a extensão
de cabeça e de tronco durante ações que incluam o pular.
O saltar com uma só perna parece ser uma extensão
da habilidade de equilibrar-se enquanto de pé em uma só
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA 31
perna. O saltar com uma perna só é definido como a ele-
vação do corpo do chão com a subseqüente aterrissagem
usando um único pé. O saltar com uma perna só aparece
por volta dos 30 meses, mas não é bem-desempenhado
até a criança ter aproximadamente 6 anos de idade, quan-
do cerca de 10 saltos podem ser realizados em seqüência.
Depois de poder realizar uma série de saltos,a criança
tende a incorporá-los em jogos, como a amarelinha, ou
em passos de dança.
O andar saltitante é um padrão complexo de locomo-
ção que envolve um passo e um salto em uma perna, se-
guido de um passo e um salto da outra perna. O andar
saltitante não é realizado pela maioria das crianças até os
6 anos de idade. Assim como muitas outras habilidades
locomotoras, a prática parece ser um fator importante na
aquisição dessa habilidade. Indivíduos mais velhos que
não tiveram a oportunidade de praticar essa habilidade
freqüentemente não conseguem demonstrar alguns pa-
drões mais sofisticados de locomoção.
Outras habilidades fundamentais da
infância
Arremessar e bater são duas habilidades adicionais que se
submetem às mudanças do desenvolvimento durante a
primeira infância. Embora o arremessar seja uma habili-
dade tipicamente adquirida durante o primeiro ano de
vida, o arremessar com habilidade ainda está em desen-
volvimento durante a primeira infância. Seqüências de
mudanças nos padrões de movimento usados para reali-
zar as tarefas de arremessar e de bater têm sido esboça-
das para o tronco e para os membros inferiores. Diferen-
tes passos no desenvolvimento do padrão de movimento
são descritos para a ação dos braços no arremesso e no
bater. Ao decorrer da infância, a distância do arremesso
torna-se maior. O aumento na distância é atribuível pro-
vavelmente à emergência de padrões de movimento que
aplicam força com mais eficiência no objeto a ser arre-
messado ou golpeado. O agarrar e o chutar são duas habi-
lidades adicionais que vêm sendo estudadas sob uma pers-
pectiva de desenvolvimento.
O agarrar começa a se desenvolver por volta dos 3
anos de idade. A criança inicialmente mantém os braços
estendidos na frente do corpo sem ajustá-los à direção ou
à velocidade do objeto a ser pego. Eventualmente, os bra-
ços são usados para levar o objeto ao corpo e, gradual-
mente, a criança pode ser vista movendo e ajustando a
posição do corpo a fim de interceptar o objeto que está
sendo arremessado. Com idade e experiência, a criança
antecipa o vôo do objeto, movendo-se para chegar a tem-
po de interceptá-lo, e usa as mãos para agarrar com uma
“elasticidade” que absorve a força do objeto.
Chutar requer equilíbrio em um pé enquanto a força é
transferida a um objeto, como uma bola de futebol. No iní-
cio do desenvolvimento dessa habilidade, há pouco balan-
ço posterior ou desvio (finalização) preparatório na perna
que chuta. Com o tempo, aparece o balanço posterior, pri-
meiro no joelho e, mais tarde, envolvendo o quadril. Gra-
dualmente, o desvio e a inclinação anterior do tronco tor-
nam-se parte da ação de chutar. Essas características são
tipicamente vistas em crianças por volta dos seis anos.
Mudanças no desempenho das
habilidades adquiridas na lactância
As mudanças relacionadas à idade nos padrões de movi-
mento usados para desempenhar habilidades primeira-
mente adquiridas durante a lactância continuam durante
a primeira e a segunda infâncias e a adolescência. Uma
série de estudos tem documentado os padrões de movi-
mento esperados nas tarefas, como rolar de supino para
prono, mover-se da posição sentada em uma cadeira para
posição em pé e levantar de supino para ficar em pé.
Rolando de supino para prono
Durante a primeira infância, os padrões de movimentos
usados para rolar de supino para prono estão relaciona-
dos com a idade. Se a criança rolava de supino para prono
para o lado esquerdo, o rolamento seria caracterizado por
alguns padrões. A criança empurra-se com o membro in-
ferior direito, conduzindo-se com o lado direito da pelve
e levantando e estendendo o membro superior direito aci-
ma do nível do ombro esquerdo.
Levantando de uma cadeira
Ao levantar-se de uma cadeira, a criança mais nova pri-
meiro levanta as pernas do assento e então as coloca no
chão. O tronco é fletido anteriormente até que as nádegas
se levantem da cadeira ao mesmo tempo em que a exten-
são de cabeça e tronco começa a levar a criança para a
postura em pé. Em crianças com menos de 6 anos de ida-
de, pode-se esperar que se empurrem do assento da ca-
deira, mas crianças mais velhas usam normalmente seus
braços para empurrar as pernas enquanto se levantam.
Levantando de uma posição supina
As crianças mais novas levantam para posição em pé indo
para a frente a partir da posição supina, usando um pa-
drão de flexão com rotação da cabeça e do tronco. Um
braço estende-se para a frente enquanto o outro empurra
a superfície de apoio, e os membros inferiores assumem
uma posição de agachamento rodada medialmente com a
base alargada. A partir do agachamento, a criança esten-
de-se para vertical. Esse padrão de levantamento alcança
um pico de freqüência por volta dos 7 anos de idade e,
32 JAN STEPHEN TECKLIN
então, declina gradualmente em freqüência durante a se-
gunda infância.
Desenvolvimento de habilidades
motoras durante a segunda infância
e adolescência
A segunda infância é tipicamente o período entre 7 e 10
ou 12 anos de idade. Durante a segunda infância, adoles-
cência e durante o resto da vida humana, as mudanças na
forma do movimento estão relacionadas com a idade. Pa-
rece que o indivíduo está constantemente procurando a
forma mais eficiente de movimento dentro das habilida-
des que ele já alcançou, uma vez que o seu crescimento e
o seu estilo de vida mudam.
As crianças têm forte tendência em desenvolver a auto-
estima, a serem aceitas socialmente, a tornarem-se habi-
lidosas e a explorarem os limites de seu ser físico. Na es-
cola e em várias atividades recreativas, a criança
encontra-se em situações nas quais a competição e a coo-
peração são fortes componentes da atividade física. A se-
gunda infância é um período de lento porém estável cres-
cimento físico que permite uma maturação gradual das
habilidades motoras. As habilidades são aperfeiçoadas e
estabilizadas antes da adolescência. Surgem as preferên-
cias por vários esportes e atividades atléticas.
Meninos e meninas tendem a socializar-se diferente-
mente nas atividades físicas. Apesar das mudanças do
currículo escolar nas últimas duas ou três décadas, que
oferecem mais oportunidades para as meninas participa-
rem de atividades físicas, os meninos ainda têm mais opor-
tunidades disponíveis para adquirir um estilo de vida ati-
vo. Entretanto, ambos serão mais ativos se seus pais lhes
proporcionarem ocasiões para exercitarem-se fisicamen-
te. Meninos e meninas demonstram desempenho melhor
dentro de todas as habilidades fundamentais na primeira
infância. Entretanto, os meninos demonstram velocidade
e força tipicamente maiores em todas as idades quando
comparados com as meninas.
A adolescência começa com mudanças físicas que
marcam a puberdade e termina quando o crescimento fí-
sico cessa. A idade do começo da adolescência é aproxi-
madamente 11 para 12 anos em meninas e 12 para 13
anos em meninos. O estirão de crescimento provavelmen-
te leva ao surgimento de novos padrões de movimento
dentro das habilidades já adquiridas. Mesmo que o pro-
cesso de mudanças do comportamento motor relaciona-
do com a idade continue durante a adolescência e a idade
adulta, as habilidades motoras que permitem a indepen-
dência física são adquiridas principalmente durante o pri-
meiro ano depois do nascimento. Os períodos posteriores
de desenvolvimento parecem dar oportunidade para um
maior refinamento e para o desenvolvimento do controle
e da coordenação, levando a um melhor desempenho das
habilidades.
�IDÉIAS CONTEMPORÂNEAS
SOBRE O DESENVOLVIMENTO
MOTOR
Os conceitos dos fisioterapeutas sobre o desenvolvimento
foram submetidos a grandes mudanças nos últimos 10 a
15 anos. As seqüências de desenvolvimento são vistas de
forma bastante diferente nos dias atuais. Não mais consi-
deramos os reflexos como componentes fundamentais do
comportamento motor e vemos pacientes assumirem pa-
péis cada

Outros materiais