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Direito Processual Penal II - Prof. Carlos Eduardo Oliveira Conti

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PROCESSO E PROCEDIMENTO
PROCESSO
Processo é o meio eficaz de se atender às pretensões do cidadão. O exercício do direito de agir deflagra a jurisdição e esta instaura o processo, criando a relação jurídico-processual, que nada tem a ver com a relação de direito material que se discutirá no processo.
Processo é o conjunto de atos jurídicos praticados dentro do processo, que chamamos de atos jurídicos processuais.
Natureza jurídica: instaurado o processo através do exercício do direito de agir que deflagrou a jurisdição, cria-se um vínculo entre os sujeitos que funcionará até a satisfação da pretensão. Trataremos então da natureza deste vínculo.
Teoria contratualista: acordo entre as partes (autor e réu), defendida pela doutrina francesa lá pelos idos do século XVII e XIX. Autor e réu aceitavam aquilo que fosse decidido pelo juiz. Esta teoria não prevaleceu, pois o início do processo dava-se independentemente da vontade do réu e, portanto, não poderia haver acordo se o ato não fosse bilateral. Não há que se falar em acordo, pois não há como se exigir que o réu não resista à pretensão do autor.
Quase contrato: devido a resistência do réu, percebeu-se que se não havia um livre acordo entre as partes, haveria um quase contrato. Porém, a lei é a principal fonte de obrigações entre as pessoas, e não havendo lei que obrigasse o réu a aceitar o pedido do autor sem resisti-lo, deixando de exercer seu direito de defesa, não havia como falar em quase contrato.
Relação jurídica: entre os sujeitos processuais que integram o processo. Liame entre os sujeitos com poderes, ônus, direitos, deveres e obrigações.
Entre quem é feita esta relação?
Para Kohler, a relação estabelece-se entre apenas o réu e o autor em sentido horizontal, em um plano meramente linear, excluindo a figura do juiz.
Para Hellwic, a relação é apenas entre o autor e o juiz e entre este e o réu. Ou seja, meramente angular. Não há nenhum vínculo entre as partes, não explicando o que há quando as mesmas aceitam acordos processuais, criando vínculos jurídicos entre si. Não há comunicação entre autor e réu.
A posição predominante é a da relação jurídica triangular, onde existe vínculo entre todos os sujeitos processuais: autor e juiz e vice-versa. Juiz e réu e vice-versa. Autor e réu e vice-versa.
A relação jurídico-processual não se confunde com a relação jurídico-material, sendo ambas autônomas entre si. Mesmo que a relação jurídico-material não exista, haverá a processual, pois quando o réu é absolvido por inexistência material do fato, houve o processo desenvolvido de forma válida, porém negou-se a relação de direito material.
Pressupostos processuais:
Requisitos sem os quais não haverá processo.
De existência do processo: partes (autor e réu), juiz e pedido. A falta dos pressupostos de existência impedem a própria relação processual, pois não há como imaginar uma relação processual sem o autor que deduz sua pretensão em juízo ou contra quem essa pretensão é deduzida. O juiz que substitui a vontade das partes e a própria demanda consubstanciada na postulação da prestação jurisdicional.
De validade do processo: imparcialidade, o juiz deve estar isento de qualquer sentimento ou relação com a causa de julgar com imparcialidade (suspeição e impedimento); competência, limitação jurisdicional, capacidade processual e postulatória.
Procedimento e sua distinção de processo:
Processo é a atividade desenvolvida pelo Estado com o escopo de satisfazer a pretensão de uma das partes. O procedimento é a forma, o modo, o meio pelo qual o Estado alcançará este fim.
Lei 11.719/08 – ritos para os crimes apenados com pena superior a 04 anos e inferior a 04 anos.
As principais alterações da Lei 11.719/08 foram:
a priorização do sistema oral, em detrimento do escrito;
a apresentação de uma defesa preliminar que realmente é uma defesa e não só um papel com o nome das testemunhas;
uma nova fase de saneamento, na qual o juiz pode absolver sumariamente o réu;
a reunião de quase todos os atos do processo em uma só audiência;
mudança de ordem na inquirição das pessoas, passando o réu a ser o último a ser ouvido (antes ele era o primeiro).
Art. 394. O procedimento será comum ou especial.
§ 1º O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo:
I – ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade;
II – sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade;
III – sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei.
Interferência das qualificadoras, causas de aumento e diminuição e circunstâncias agravantes e atenuantes no procedimento a ser aplicado.
Qualificadoras: alteram o próprio patamar máximo cominado no tipo penal, devendo ser considerado para fins de solução do procedimento a ser aplicado.
Causas de aumento e diminuição de pena: se um delito comina pena máxima prevista de três anos e há uma causa de aumento de pena de um terço, a pena máxima que poderá ser aplicada ao agente será de quatro anos. Portando, o procedimento será o ordinário.
Outro exemplo: delito de abandono de incapaz (art. 133), em sua forma simples (detenção de seis meses a três anos), deverá tramitar pelo procedimento sumário. Caso haja a incidência de uma causa especial de aumento de pena (um terço), o procedimento a ser adotado será o ordinário.
Se o percentual de aumento for variável, deve-se utilizar o máximo, a fim de que se descubra o máximo da pena cominada. Mesma coisa no que tange a causa de diminuição, deve-se utilizar o mínimo da diminuição para se vislumbrar a pena máxima que o agente poderá receber ao final do processo.
Resumindo: deve-se verificar qual a situação mais prejudicial possível ao réu (aumento máximo e diminuição mínima), a fim de sabermos a pena máxima que poderá receber.
No que tange ao concurso de crimes, há que ser feita a distinção entre concurso material, formal ou crime continuado.
§ 2º Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposições em contrário deste Código ou de lei especial.
§ 3º Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento observará as disposições estabelecidas nos arts. 406 a 497 deste Código.
§ 4º As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.
§ 5º Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário.
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
I – for manifestamente inepta;
A denúncia tem que ser clara, a fim de possibilitar ao acusado o exercício do contraditório e da ampla defesa.
II – faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal;
Faltando os pressupostos de existência e de validade do processo, a denúncia também será rejeitada.
As condições para o exercício da ação penal são: legitimidade, possibilidade jurídica do pedido e interesse de agir.
A legitimidade é a pertinência subjetiva da penal. Por exemplo, na ação penal pública seja ela condicionada ou incondicionada a legitimidade para oferecer ação penal será do MP; na ação penal de iniciativa privada a legitimidade será do ofendido.
A possibilidade jurídica do pedido caracteriza-se pela viabilidade jurídica do pedido. Ex.: o fato imputado a alguém deve ser considerado crime.
O interesse de agir caracteriza-se pela necessidade e utilidade para propositura da ação penal. Há interesse de agir, em denunciar alguém porque furtou uma caixa de fósforos? Há interesse do Estado em exercer efetivamente o jus puniendi.
III – faltar justa causa para o exercício da ação penal.
Parágrafo único. (Revogado).
Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito,no prazo de 10 (dez) dias.
O despacho que receber ou rejeitar a denúncia deverá ser devidamente fundamentado, onde o juiz deverá expor os motivos pelos quais a denúncia deve ser recebida. Se ele receber a denúncia deverá justificar seu despacho positivo de prelibação, dizendo se estão presentes os pressupostos processuais, as condições para o exercício da ação penal (legitimidade, interesse, possibilidade jurídica do pedido e justa causa). A justa causa é aquele lastro probatório mínimo que deve existir para a propositura da ação penal.
Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído.
Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.
§ 1º A exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código.
§ 2º Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.
A resposta a que se refere a lei é a antiga defesa prévia prevista no artigo 395 modificado pela lei nova. O prazo era de três dias após o interrogatório do acusado. Agora o prazo é de 10 dias. A novidade ficou para o interrogatório do réu que deverá ser feito após a oitiva das testemunhas e demais provas produzidas. Antes a defesa técnica não entrava no mérito, enfrentando-o após a instrução criminal na fase de alegações finais. Com a nova lei o defensor poderá analisar o meritum causae, tendo em vista que agora a lei preceitua que há a possibilidade de se absolver sumariamente o acusado conforme veremos mais adiante.
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I – a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
Legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal, estado de necessidade e exercício regular do direito.
II – a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;
Pressupostos da culpabilidade: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa. Porque o juiz não absolverá sumariamente em caso de inimputabilidade? Porque em se tratando de inimputabilidade, o juiz deverá aplicar uma medida de segurança.
III – que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV – extinta a punibilidade do agente.
Art. 398. (Revogado).
Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente.
O art. 399 dá a entender que a peça acusatória será recebida duas vezes, em razão do recebimento previsto no art. 306. Não. Só há um recebimento da denúncia ou queixa (art. 396).
Qual o momento do recebimento da denúncia ou queixa? Após ou antes da apresentação da defesa inicial?
Segundo Capez, de acordo com o art. 363 do CPP, o processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acusado, formando-se a relação processual. Desse modo, segundo Capez, o recebimento da denúncia ou queixa ocorre antes da citação pessoal do acusado. Não sendo caso de rejeição preliminar, o juiz recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de dez dias.
Capez ainda cita a Lei de Drogas (11.343/06) que prevê a defesa preliminar antes do recebimento da denúncia, sendo o réu notificado para oferecer a defesa preliminar antes do recebimento da denúncia. Caso a denúncia seja recebida, o juiz ordenará a citação do acusado.
Quando a lei (art. 55, Lei 11.343/06) tratou do oferecimento da defesa antes do juízo de admissibilidade de denúncia ou queixa, previu a notificação do acusado e não sua citação pessoal. Somente após o recebimento da inicial acusatória é que a Lei se refere à citação pessoal.
Segundo Rangel, a denúncia é recebida apenas no art. 399 pelos seguintes motivos:
quando a denúncia é oferecida, o juiz determina a citação do réu para responder à acusação;
após o oferecimento da resposta prévia, o juiz é chamado a se manifestar sobre a presença ou não das causas mencionadas no art. 397, isto é, se absolve sumariamente ou não o acusado;
não absolvendo sumariamente o réu, aí sim o juiz recebe a denúncia e determina AIJ.
Ainda, segundo Rangel, a expressão recebê-la-á do art. 396 não significa tecnicamente juízo de admissibilidade da acusação, mas sim o ato de “entrar na posse” da petição inicial penal. A denúncia é distribuída à Vara Criminal e entregue ao juiz que a recebe em suas mãos, sem exercer ainda o juízo de admissibilidade.
A posição do Rangel é mais favorável ao réu, para efeitos de interrupção da prescrição (vide art. 117, I do CP).
§ 1º O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o poder público providenciar sua apresentação.
§ 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.
Passa a viger no nosso ordenamento jurídico o Princípio da Identidade Física do juiz (vide art. 132 do CPC).
Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.
§ 1° As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.
§ 2º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das partes.
Art. 401. Na instrução poderão ser inquiridas até 8 (oito) testemunhas arroladas pela acusação e 8 (oito) pela defesa.
§ 1º Nesse número não se compreendem as que não prestem compromisso e as referidas.
§ 2º A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas, ressalvado o disposto no art. 209 deste Código.
Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução.
Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.
§ 1º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual.
§ 2º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.
§ 3º O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.
Art. 404. Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento da parte, a audiência será concluída sem as alegações finais.
Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes apresentarão, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e, no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá sentença.
Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro próprio, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela ocorridos.
§ 1º Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia,digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações.
§ 2º No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes cópia do registro original, sem necessidade de transcrição.
Art. 531. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 30 (trinta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se, finalmente, ao debate.
Art. 532. Na instrução, poderão ser inquiridas até 5 (cinco) testemunhas arroladas pela acusação e 5 (cinco) pela defesa.
Art. 533. Aplica-se ao procedimento sumário o dispostos nos parágrafos do art. 400 deste Código.
§§ 1º a 4º (Revogados).
Art. 534. As alegações finais serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.
§ 1º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual.
§ 2º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.
Art. 535. Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível a prova faltante, determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer.
§§ 1º e 2º (Revogados).
Art. 536. A testemunha que comparecer será inquirida, independentemente da suspensão da audiência, observada em qualquer caso a ordem estabelecida no art. 531 deste Código.
Art. 537. (Revogado).
Art. 538. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro procedimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo.
§§ 1º a 4º (Revogados).
PROCEDIMENTO DO JÚRI – 1ª FASE
FONTE
ÁVILA, Thiago André Pierobom de. O novo procedimento dos crimes dolosos contra a vida (Lei nº 11.689/08). Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1873, 17 ago. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11596>. Acesso em: 20 de agosto de 2008.
OLIVEIRA, Daniel Bernoulli Lucena de. Lei n° 11.689/08: intimação editalícia da pronúncia e ausência do réu no julgamento. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1850, 25 jul. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11535>. Acesso em: 04 de agosto de 2008.
TRIBUNAL DO JÚRI – PROCEDIMENTO DO JÚRI
COMPOSIÇÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI
O júri é formado por 25 jurados e 1 juiz presidente (juiz togado).
Destes 25 jurados, serão sorteados 7 jurados que formarão o Conselho de Sentença.
CARACTERÍSTICAS DO TRIBUNAL DO JÚRI
Garantia Constitucional
Art. 5º, XXXVIII. É reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
a plenitude da defesa;
o sigilo das votações;
a soberania dos veredictos;
a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
Plenitude de defesa;
Sigilo nas votações, sob pena de se anular o júri;
Soberania dos veredictos.
Esta soberania dos veredictos é absoluta ou relativa?
Depende, em princípio é relativa, porque cabe apelação contra a decisão dos jurados, quando esta decisão for manifestamente contrária às provas dos autos. O Tribunal de justiça pode no máximo mandar a novo júri, sendo que:
O Tribunal do Júri absolve o réu novamente, agora sendo a soberania absoluta.
O Tribunal do Júri condena o réu novamente, onde a soberania dos veredictos é relativa. É cabível a revisão criminal.
É uma garantia constitucional.
Número ímpar de jurados.
As decisões são tomadas por maioria de votos.
É órgão da justiça comum estadual ou federal. Nas justiças especiais não tem júri.
COMPETÊNCIA
Regra geral: julga os crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados, omissivos ou comissivos.
Exceções (não vai a júri):
Latrocínio – Súmula 603 do STF – Justiça Comum;
Competência originária dos Tribunais;
Juiz de Direito e Promotor de Justiça se praticarem crimes dolosos contra a vida serão julgados pelo Órgão Especial do TJ.
PROCEDIMENTO DO JÚRI
Lei nº 11.689/08
Principais inovações
Dentre as principais inovações, destacam-se:
A ordem do procedimento será: recebimento da denúncia, citação, resposta à acusação por escrito em 10 dias, oitiva da acusação sobre preliminares, decisão sobre preliminares (fase implícita no novo procedimento), oitiva de testemunhas de acusação, testemunhas de defesa, interrogatório ao final da instrução, alegações orais pelas partes em 20 minutos (prorrogáveis por mais 10), juiz profere decisão (pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou desclassificação) – art. 406 a 419;
Revogou-se a proibição de juntar documento novo na fase das alegações finais na instrução preliminar (prova ilegítima), prevista no art. 406, § 2º.
Admite-se absolvição sumária no caso de prova da inexistência do fato, falta de provas da autoria ou atipicidade (pela lei antiga era cabível absolvição sumária apenas nas hipóteses de excludente da ilicitude ou culpabilidade) – art. 415;
Contra a absolvição sumária e impronúncia passa a ser cabível recurso de apelação (e não RESE, como na lei antiga) – art. 416;
Revogação do recurso de ofício na hipótese de absolvição sumária;
Revogação da crise de instância (situação na qual, não sendo encontrado o réu para intimação pessoal da decisão de pronúncia, o processo ficaria paralisado até sua eventual localização), admitindo-se doravante a intimação por edital da decisão de pronúncia, mesmo para crimes inafiançáveis – art. 420;
Abolição do libelo e contrariedade ao libelo, passando a existir apenas intimação das partes para arrolarem as testemunhas que pretendem serem ouvidas em plenário – art. 422;
Criação de um relatório do processo a ser elaborado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, após a pronúncia e o arrolamento de testemunhas pelas partes – art. 423, II;
Elevação do número de jurados da lista geral de jurados – art. 425;
Proibição que o jurado que tenha participado de Conselho de Sentença no ano anterior possa participar novamente da lista geral dos jurados – art. 426, § 4º;
Criação de privilégios aos jurados, como prisão especial, desempate em concurso público ou licitações – arts. 439 e 440;
Elevação do número de jurados sendo 25 para comparecerem à reunião periódica, mantendo-se o número de 15 para início da sessão e 7 para composição do conselho de sentença – arts. 433, 447 e 463;
Introdução do sistema de perguntas diretas das partes às testemunhas em plenário, iniciando-se com o juiz, acusação, defesa e jurados – art. 473, caput e § 1º;
Restrição da possiblidade de leitura de peças em plenário – art. 473, § 3°;
Alteração do tempo para sustentação da acusação e defesa em plenário (de duas horas para uma hora e meia) e da réplica e tréplica (de meia hora para uma hora) – art. 477;
Formulação de um terceiro quesito obrigatório, após quesitação da materialidade e autoria, com dizeres: “O jurado absolve o acusado?” – art. 483, III;
Disposição expressa que compete ao juiz presidente julgar o crime, quando houver desclassificação em plenário, mesmo quando se tratar de infração penal de menor potencial ofensivo – art. 492, § 1º;
Revogação do protesto por novo júri.
O julgamento pelo Tribunal do Júri é bifásico ou escalonado. É composto por duas fases:
Fase de formação da culpa ou judicium accusationis;
Fase de acusação ou judicium causae.
JUDICIUM ACCUSATIONIS
Arts. 406/412.
Denúncia ou queixa;
Juízo de prelibação: juiz recebe ou não a queixa. Se receber ordena a citação do acusado para responder a acusação em 10 dias;
Resposta do acusado onde poderá arguir preliminares e alegar tudo que interessa a sua defesa;
AIJ;
Declaração do ofendido, se possível;TA;
TD;
Interrogatório do acusado.
O art. 412 preceitua que o procedimento será concluído em 90 dias. Não restam dúvidas que a inovação legislativa preocupou-se com o art. 5º, LXXVIII da CF.
O dispositivo aplica-se aos réus presos.
DECISÕES POSSÍVEIS DO JUIZ
Pronúncia.
Impronúncia.
Desclassificação.
Absolvição sumária.
PRONÚNCIA
Art. 413 do CPP
O juiz pronuncia quando há prova do crime e pelo menos indícios de autoria. A pronúncia é uma decisão interlocutória não terminativa, encerra a primeira fase do procedimento do júri sem enfrentar o mérito. É um mero juízo de admissibilidade da acusação.
A pronúncia possui natureza jurídica de decisão interlocutória não terminativa. Antigamente, o art. 408, § 1º, denominava esta decisão de “sentença de pronúncia”, impropriedade que foi corrigida pela Lei nº 11.689/08, que a denomina apenas de “pronúncia” no art. 413 e “decisão de pronúncia” no art. 478, I. Essa decisão não põe fim ao processo e não decide o mérito da pretensão punitiva, apenas decide sobre a admissibilidade da acusação, encerrando a primeira fase do procedimento e possibilitando que o réu seja submetido ao julgamento plenário do Tribunal do Júri.
O juiz deve usar uma linguagem simples e imparcial, para não influenciar os jurados. Havendo excesso, a pronúncia é nula e deve ser desentranhada dos autos.
É indispensável a classificação do crime na pronúncia. O juiz pode dar classificação diversa da que consta da denúncia ou queixa. As qualificadoras também devem constar, só podendo ser afastadas quando impertinentes.
PRONÚNCIA E CRIMES CONEXOS
Art. 78, I do CPP
Havendo crime conexo com o crime doloso contra a vida, argumenta Rangel que também esse crime conexo deverá ser objeto da decisão de pronúncia, ou seja, deve o juiz, após pronunciar o crime doloso contra a vida, também analisar se estão presentes os indícios da autoria e materialidade do delito conexo.
Se o réu for pronunciado pelo crime doloso contra a vida, o juiz somente poderá pronunciar ou impronunciar pelo crime da competência do juiz singular, porém jamais absolver ou condenar, subtraindo do júri o crime da competência do juiz singular que, por força da conexão, deve ser levado para o júri.
Nesta situação, defende Rangel que, se o crime doloso contra a vida for pronunciado e o crime conexo for impronunciado, será possível que, posteriormente, se surgirem nova provas, o crime conexo seja novamente denunciado perante o Tribunal do Júri e submetido a novo julgamento.
Adotar-se-á a mesma postura em se tratando de dois acusados. Um por homicídio doloso e o outro por roubo. O juiz não pode pronunciar o autor do homicídio e absolver ou condenar o autor do roubo, pois, por força da conexão entre os crimes, ambos devem ser levados a plenário do júri. O juiz pode pronunciar ou impronunciar o autor do roubo.
EFEITOS DA PRONÚNCIA
O acusado vai a júri;
Interrompe a prescrição;
Se o réu estiver preso, o juiz decidirá se mantém ou revoga a prisão do réu. Se o acusado estiver solto decidirá motivadamente sobre a necessidade da decretação da prisão.
Hoje só se prende se presentes os requisitos da prisão preventiva.
A pronúncia gera efeitos no cível relativamente à obrigação de reparar o prejuízo?
Não. A pronúncia é decisão de cunho meramente processual, não fazendo coisa julgada. Se pronunciado for, o réu será julgado pelo Tribunal popular e poderá ser absolvido. Se o réu for condenado pelo júri, a sentença condenatória transitada em julgado será título executivo judicial (art. 584, II do CPC).
Art. 418: emendatio libeli – correlação entre a pronúncia e a denúncia.
Exemplo: o MP imputa ao acusado homicídio qualificado por motivo fútil, descrevendo os fatos da denúncia. No momento de pedir a pronúncia pede apenas pelo homicídio simples esquecendo de mencionar a qualificadora. Trata-se de errônea classificação do crime. O réu se defende dos fatos que lhe foram imputados. O juiz poderá, sem que haja necessidade de aditamento à denúncia, pronunciar pelo homicídio qualificado.
§ 3º do art. 411: determina expressamente que, encerrada a instrução probatória, será observado, se for o caso, o disposto no artigo 384 do CPP (mutatio libelli). Caso o juiz verifique que restou demonstrada, na instrução, alguma elementar ou circunstância não contida na denúncia, deverá abrir vista dos autos para que o MP adite a denúncia.
Indaga-se: o juiz na fase da pronúncia pode incluir em sua decisão uma qualificadora não contida na denúncia?
Não. Se o réu não se defendeu, durante a instrução da qualificadora objeto da pronúncia, há uma surpresa pra ele, que terá cerceado seu direito constitucional de ampla defesa e do contraditório. Sendo assim, se na denúncia não constar a qualificadora, não estará o juiz autorizado a pronunciar pelo crime qualificado sem a providência anterior do aditamento à denúncia.
INTIMAÇÃO DA PRONÚNCIA
Art. 420
Art. 413. O processo não prosseguirá até que o réu seja intimado da sentença de pronúncia. (redação antiga)
Art. 414. A intimação da sentença de pronúncia, se o crime for inafiançável, será sempre feita ao réu pessoalmente. (redação antiga)
O legislador inovou ao admitir a intimação do acusado por edital. A Lei nº 11.689/2008, todavia, suprimiu a referência outrora existente acerca da intimação para a pronúncia e comprometeu a garantia do cidadão de ser cientificado das acusações que o levarão ao julgamento perante seus pares.
A partir de agora, se o réu não for localizado para tomar ciência da sentença de pronúncia, o juiz intimá-lo-á por edital, dando continuidade aos procedimentos do rito escalonado do júri.
Esse procedimento igualmente será adotado, quando o réu não for localizado para ser informado da data designada para a realização do seu julgamento em plenário ou, intimado, não comparecer no dia marcado.
É bem verdade que tal modificação legal imprimirá maior celeridade ao processo penal, pois, uma vez em crise, agora essa é finda e o feito seguirá seu rumo natural.
Diante dessa crise processual ou de instância, o Estado não quedava inerte. Suspendia o processo, mas autorizava a decretação da prisão preventiva do acusado.
A nova lei apresenta então uma presunção bastante delicada: a de que o réu é fugitivo.
A partir dessa presunção, o legislador impõe ao acusado castigo maior do que a prisão cautelar. Ele autoriza a continuidade do processo e a realização do julgamento sem a presença do indivíduo.
No que concerne à prisão preventiva em face da não localização do acusado nesse ato processual, estariam presentes os requisitos necessários para sua configuração.
A autodefesa é, sem dúvida nenhuma, importante mecanismo para a configuração da plenitude de defesa consagrada no texto constitucional.
NUCCI destaca em sua obra que, em pesquisa de campo realizada perante o 3º Tribunal do Júri de São Paulo, 84,62% dos jurados disseram acreditas às vezes nas palavras do réu. NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais, São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999, p. 343.
Evidentemente, a presença do réu no plenário e o consequente ato de seu interrogatório é o melhor momento para demonstrar sua inocência e se defender.
A presença física não é substituída à altura por depoimento tomado, por exemplo, na primeira fase (iudicium accusationis). Até mesmo o legislador sabe da diferença entre a palavra falada e a escrita. Tanto assim que o novo art. 475 do Código de Processo Penal salienta a necessidade de maior fidelidade na colheita da prova.
Dessa forma, é imensurável o prejuízo ao réu, em face da presunção de que ele fugiu.
Nota-se que mesmo o legislador de 1941, que permitia a decretação da revelia no momento da citação, ousou admitir que o crime fosse julgado em plenário sem a presença do acusado.
Há quem argumente que, se o réu pode calar-se em Plenário, sua ausência não compromete a plena defesa.
O argumento é falacioso, na medida em que o silêncio, como direito que é, constitui uma faculdade, ou seja, uma escolha do réu. É preciso permitir-lhe que decida: calar-se ou defender-se.Coerente a essa lógica, o júri pode até ser realizado sem a presença do acusado, contanto que ele expressamente declare que não deseja estar presente.
Por fim, não custa rememorar o brocado pas de nillité sans grief, para indicar que, se o Ministério Público for sustentar tese de absolvição ou que seja benéfica ao réu, por não haver prejuízo, o plenário poderá ser realizado, mesmo com sua ausência, sem comprometimento dos direitos fundamentais do indivíduo.
Assim, a intimação por edital da pronúncia constitui retrocesso nos direitos do cidadão, bem como a realização da sessão plenária sem a presença do acusado configura inconstitucionalidade patente, por afrontar o direito à plenitude de defesa, especificamente ao impedir a autodefesa em plenário.
Art. 421. Após a preclusão da pronúncia, se houver circunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público para que proceda ao aditamento.
A princípio, há preclusão pro judicato com a decisão de pronúncia, não podendo os fatos serem alterados. Todavia, estabelece o art. 421, § 1º, que, ocorrendo circunstância superveniente à decisão de pronúncia que modifique a classificação do delito, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público. Apesar de não estar explícito, poderá ocorrer aditamento à denúncia para incluir esse novo fato, nova oportunidade de defesa e prolação de nova decisão de pronúncia incluindo esse fato novo, aplicando-se por analogia o art. 384, com sua redação dada pela Lei nº 11.719/08. Exemplo: se a vítima da tentativa de homicídio, que estava hospitalizada durante a instrução preliminar, morre após a pronúncia, é possível nova pronúncia por homicídio consumado. Nesta hipótese, o referido dispositivo condiciona a admissibilidade desta alteração da pronúncia, não sendo cabível, por exemplo, inclusão de qualificadora cuja prova já constava dos autos durante a instrução preliminar.
Exemplo: o acusado foi denunciado e pronunciado pela prática de homicídio tentado. A vítima veio a falecer em razão dos ferimentos que sofrera. A pronúncia deverá ser aditada.
IMPRONÚNCIA
Ocorre quando não há prova do crime ou não há indícios de autoria (art. 413, CPP).
A impronúncia está prevista no art. 414 e ocorre quando não há provas suficientes do crime. Tradicionalmente, a doutrina tem classificado a impronúncia como uma decisão interlocutória mista terminativa, pois a mesma põe fim ao processo sem julgamento de mérito (sua decisão não faz coisa julgada material, pois há possibilidade de reabertura do processo com o surgimento de novas provas).
A impronúncia encerra o processo (coisa julgada formal) sem pôr um fim definitivo à pretensão punitiva (não possui efeito de coisa julgada material). Assim, prevê o parágrafo único do art. 414 que “enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova”. Nessa situação, o surgimento de prova nova é uma condição de procedibilidade específica para a nova ação penal.
Trata-se de provas que já existiam e não foram produzidas no momento oportuno, ou de provas que surgiram após o encerramento do processo com a decisão de pronúncia.
Tradicionalmente, este efeito da impronúncia tem sido justificado ao argumento de que a pronúncia é uma mera decisão de admissibilidade da acusação e o juiz natural dos crimes dolosos contra a vida é o Tribunal do Júri. Assim, não sendo pronunciado, o acusado não foi submetido ao risco de ser condenado, não havendo violação à double jeopardy clause (proibição de ser submetido duas vezes ao risco de condenação, ou, no sistema derivado do europeu continental, ne bis in idem). A gravidade dos crimes dolosos contra a vida também tem justificado essa possibilidade de nova denúncia.
Na hipótese de atipicidade, caso esteja claramente provado que não houve dolo de matar (animus necandi) ou que o autor com certeza não foi autor da infração, ou ainda que o fato não existiu, não será caso de impronúncia, mas sim de absolvição sumária, conforme nova redação do art. 415, III. Antigamente, esta hipótese ensejava impronúncia, o que acabava sendo injusto, pois impedia a formação da coisa julgada material. Obviamente, no caso de ausência de dolo de matar, mas presença de outro tipo de dolo (v.g., de lesionar), não será caso de absolvição sumária, mas sim de desclassificação.
O processo pode ser reaberto quando surgirem novas provas.
Limite: até a prescrição.
Efeitos: se o réu estiver preso, deve ser solto imediatamente.
Recurso cabível: apelação – art. 416 do CPP.
Questão intrincada é a de surgirem novas provas da inocência cabal do acusado após a decisão de impronúncia. Nesta situação, deve ser admissível o ajuizamento de revisão criminal ou mesmo de ação declaratória (por analogia ao art. 4º do CPC) para que se gerem os efeitos da coisa julgada material, da mesma forma que o seria com a sentença de absolvição sumária.
Contra a decisão de impronúncia cabe recurso de apelação, conforma art. 416. Antes da reforma, esta era a hipótese de cabimento de recurso em sentido estrito pela acusação (neste sentido, a Lei nº 11.689/08 alterou a redação do art. 581, IV, para excluir a hipótese de impronúncia).
IMPRONÚNCIA E CRIMES CONEXOS
Exemplo: homicídio doloso e furto. Se o juiz impronunciar o réu por homicídio doloso, não poderá pronunciá-lo, absolvê-lo ou condená-lo pelo crime de furto, pois não terá competência para assim decidir. O juiz deverá aguardar o transcurso do prazo para a interposição do recurso de apelação ou seu improvimento para remeter o crime de furto para o juiz singular (PU do art. 81 do CPP).
IMPRONÚNCIA E EFEITOS CIVIS
Pode ser uma decisão de cunho meramente processual, não impede que a vítima ou seus parentes requeiram a responsabilidade civil do acusado que foi impronunciado.
A ação civil deverá ser proposta pelo processo de conhecimento, pois não é título executivo judicial. A impronúncia não é causa impeditiva da ação civil.
DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME
Natureza jurídica: decisão interlocutória mista não terminativa.
A desclassificação está prevista no art. 419 e ocorre quando, ao final do judicium accusationis, o juiz entender que não há prova de crime doloso contra a vida, mas de outro crime de competência do juiz comum. Trata-se de uma decisão interlocutória mista não terminativa. Nessa situação, deverá o juiz remeter os autos ao juízo comum para que prossiga no julgamento.
Estabelece o art. 411, § 3º, que “encerrada a instrução probatória, observar-se-á, se for o caso, o disposto no art. 384 deste Código”, que trata da mutatio libelli, agora obrigatoriamente com aditamento à denúncia pelo Ministério Público.
A antiga redação do art. 410, que tratava da desclassificação, estabelecia que, no juízo comum o processo prosseguiria com abertura de prazo para a defesa indicar novas testemunhas, diligências complementares pelas partes (antigo art. 499), alegações finais e sentença. Desta forma, previa-se que os atos processuais de instrução probatória praticados perante o juiz do judicium accusationis permanecem válidos. Apesar de a nova redação dada pela Lei nº 11.689/08 não regulamentar como será o procedimento perante o juízo comum, entendemos que esta situação de desclassificação é necessariamente uma hipótese de mutatio libelli, devendo ser aplicado por analogia o disposto no art. 411, § 3º c/c art. 384 do CPP, em respeito ao princípio da correlação e da inércia, havendo aditamento obrigatório, produção de novas provas, debates orais e nova sentença. Mesmo sem previsão expressa, entendemos que as provas produzidas perante o juiz do judicium accusationis podem ser utilizadas para respaldar a decisão condenatória no juízo comum, não havendo que se falar em violação ao princípio do juiz natural pois, naquele momento processual, aquele juiz era competente para apreciar a acusação.
No juízo comum, a classificação anterior do crime doloso contra a vida não pode ser restaurada, pois ocorreu a preclusão da questão. Assim, não cabe conflitode competência para discutir o tema.
Denomina-se desclassificação imprópria quando o juiz altera a capitulação para outro crime também de competência do Tribunal do Júri. Exemplo: desclassificação de homicídio para infanticídio.
A decisão que desclassifica a conduta está, indiretamente, afirmando que o Tribunal do Júri é incompetente para apreciar aquele fato delituoso. Portanto, o recurso contra a decisão de desclassificação é o recurso em sentido estrito, cf. art. 581, II.
Deve-se registrar que, caso a desclassificação ocorra na fase do julgamento plenário (ao final do judicium causae), o juiz presidente deverá sentenciar o crime desclassificado, cf. art. 74, § 3º c/c art. 492, § 1º.
Ocorre quando o crime não for da competência do Júri.
Recurso cabível: recurso em sentido estrito para o Tribunal de Justiça.
Crime conexo: é remetido também ao juiz singular.
Depois da desclassificação, é preciso ouvir a defesa novamente, dando-lhe a oportunidade da ampla defesa (art. 419 do CPP).
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA
Art. 415 do CPP
A absolvição sumária é uma verdadeira sentença de mérito. Trata-se de uma hipótese de julgamento antecipado da lide, na qual antes do término do procedimento em seu rito completo há o encerramento do processo com decisão de mérito, com força de coisa julgada material.
A sentença de absolvição sumária está disciplinada no art. 415, que estabelece:
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:
I – provada a inexistência do fato;
II – provado não ser ele o autor ou partícipe do fato;
III – o fato não constituir infração penal;
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo no caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva.
É necessário que a prova seja incontroversa, irrebatível, à sombra de qualquer dúvida. Havendo indícios da autoria e materialidade e possível tese defensiva de excludente da ilicitude ou culpabilidade não cabalmente comprovada, deverá o juiz pronunciar o réu para que o Tribunal do Júri, juiz natural da causa, examine a questão, em respeito à competência constitucional do Tribunal do Júri.
Na legislação revogada era cabível absolvição sumária apenas nas hipóteses de prova incontroversa de excludente da ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito) ou da culpabilidade (inexigibilidade de conduta diversa, coação moral irresistível, obediência hierárquica, inimputabilidade).
Atualmente, as hipóteses de prova da inexistência do fato, prova da ausência da participação e atipicidade também ensejam a absolvição sumária, conforme art. 415, I, II e III. A situação de ausência de dolo (animus necandi) também é hipótese de atipicidade e, portanto, deve ensejar absolvição sumária.
Por se tratar de norma que afeta o direito material de punir do Estado (possibilidade ou não de o acusador ser novamente processado por um crime), que é mais benéfica, entendemos que esta disposição deve retroagir, cf. CF/88, art. 5º, inciso LE e CP, art. 2º, PU. Assim, as impronúncias proferidas antes da vigência da Lei n° 11.689/08 com argumento de prova cabal de inexistência do fato, prova cabal de o autor não ter sido seu partícipe, ou reconhecimento cabal de atipicidade, deverão produzir os mesmos efeitos da atual absolvição sumária, ou seja, impedirão a nova propositura da ação penal. Obviamente, as antigas impronúncias fundadas da insuficiência de provas ainda permitirão novo oferecimento de denúncia, segundo permite a lei antiga e atual.
A situação de inimputabilidade prevista no art. 26 do CP (incapacidade total decorrente de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado) gerará a denominada absolvição imprópria, prevista nos arts. 96 a 99 do CP, ou seja, o juiz absolverá o acusado, mas imporá medida de segurança, consistente em internação psiquiátrica ou tratamento ambulatorial. Segundo determina o PU do art. 415, o juiz apenas poderá proferir a absolvição imprópria (com medida de segurança) na fase da absolvição sumária caso não haja nenhuma outra tese defensiva mais favorável ao acusado. Assim, caso o acusado tenha uma tese de negativa de autoria ou legítima defesa, em relação às quais não existe prova cabal e sim mera possibilidade, e, subsidiariamente, também tenha a tese de inimputabilidade com laudo conclusivo em incidente de insanidade mental, deverá o juiz pronunciar o acusado e submetê-lo ao julgamento plenário do Tribunal do Júri. A disposição se justifica porque a absolvição própria (pelo reconhecimento da inexistência do fato, ausência de prova da autoria ou participação, atipicidade, excludente da ilicitude ou outra excludente da culpabilidade, situações nas quais não há imposição de medida de segurança) é mais benéfica que a absolvição imprópria, que impõe medida de segurança. Caso a inimputabilidade seja a única tese defensiva, poderá o juiz apreciá-la na absolvição sumária. Obviamente, caso juntamente com a tese de inimputabilidade haja outras teses defensivas, previstas nos incisos do art. 415 que já estejam cabalmente comprovadas, poderá o juiz acatá-las em sede de absolvição sumária, pois as mesmas têm preferência sobre a tese da inimputabilidade.
Antes da reforma de 2008 havia previsão de recurso de ofício após a decisão de absolvição sumária. A doutrina já criticava veementemente o instituto do recurso de ofício, entendendo-o com resquícios de regimes totalitários nos quais a liberdade é uma exceção e, portanto, deveria haver instrumentos processuais de revisão da concessão de liberdade. Muitos defendiam que este instituto já estava não-recepcionado pela CF/88, art. 129, I, que instituiu o sistema acusatório, bem como ofenderia a estrutura garantista da Constituição. A Lei nº 11.689/08 revogou o instituto do recurso de ofício na hipótese de absolvição sumária. Considerando que o recurso de ofício não é propriamente um recurso, já que não é voluntário, mas uma condição de eficácia da decisão, entendemos que a nova lei aplica-se imediatamente, ou seja, os recursos de ofício que estão pendentes de julgamento nos Tribunais deverão ser julgados prejudicados, pois as atuais absolvições sumárias não mais necessitam serem reconfirmadas pela instância superior. Apesar de esta alteração decorrer de uma norma processual, de aplicação imediata sem consideração de sua benignidade, vale lembrar que a alteração é mais benéfica ao réu.
Antigamente era cabível recurso em sentido estrito contra a decisão de absolvição sumária. A Lei nº 11.689/08 revogou o inciso VI do art. 581 e estabeleceu, em seu art. 416, que caberá apelação contra a sentença de absolvição sumária.
Na legislação revogada, entendia-se que o assistente da acusação não possuía legitimidade para interpor RESE contra sentença de absolvição sumária, à luz do art. 271 c/c art. 584, § 1º c/c art. 598. Atualmente, como será cabível apelação, o assistente da acusação passará a ter legitimidade recursal para impugnar a absolvição sumária, cf. art. 598.
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA E CRIMES CONEXOS
O juiz não terá competência para se manifestar em relação ao crime conexo. Havendo absolvição sumária quanto ao crime de homicídio, o juiz deverá esperar o trânsito em julgado da sentença para remeter o processo para o juiz singular.
JUDICIUM CAUSAE – 2ª FASE DO JÚRI
FONTES
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 8ª Edição.
ÁVILA, Thiago André Pierobom de. O novo procedimento dos crimes dolosos contra a vida (Lei nº 11.689/08). Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1873, 17 ago. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11596>. Acesso em: 21 set. 2008.
PREPARAÇÃO DO PROCESSO PARA JULGAMENTO EM PLENÁRIO
Art. 422 do CPP.
Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri, que intimará oMinistério Público ou querelante e o defensor para arrolarem as testemunhas que deseja serem ouvidas em plenário, podendo juntar documentos e requerer diligências.
Antes da Lei nº 11.689/90, as partes eram intimadas nesta fase para juntarem em cinco dias o libelo e a contrariedade ao libelo. Entendia-se que o libelo era a peça de acusação para a segunda fase do julgamento, pois era do libelo que o acusado iria se defender no julgamento plenário do Tribunal do Júri. Portanto, antigamente entendia-se que deveria haver uma correlação progressiva no procedimento do júri entre pronúncia e denúncia, entre libelo e pronúncia e entre questionário e o libelo. Com a abolição do libelo, a correlação permanece sendo entre pronúncia e denúncia, e entre questionário e pronúncia.
O acusado não se defenderá em Plenário do libelo, mas se defenderá diretamente da denúncia, nos limites que foi admitida pela pronúncia.
Nesta fase há oportunidade de acusação e defesa juntarem documentos, requererem diligências e arrolarem testemunhas a serem ouvidas em plenário, até o máximo de cinco testemunhas.
Ao arrolar a testemunha, a parte deve esclarecer se o faz com a cláusula de imprescindibilidade e se requer sua intimação por mandado (ou se responsabiliza pelo comparecimento da testemunha independentemente de intimação). Caso a parte arrole a testemunha com a cláusula de imprescindibilidade, requeira sua intimação por mandado e esta, devidamente intimada, não compareça à sessão de julgamento plenário, o juiz poderá determinar a condução coercitiva da testemunha ou deverá adiar o julgamento plenário (art. 461, caput e § 1º). Caso a testemunha não seja encontrada no endereço declinado ou não tenha sido arrolada com imprescindibilidade, sua ausência não adiará o julgamento plenário.
Dentre as diligências que a acusação pode requerer nesta fase está a realização de reconhecimento pessoal do réu em plenário. Atualmente, a presença pessoal do réu à sessão plenária não é mais obrigatória. Assim, caso a acusação entenda relevante que o réu esteja presente ao plenário para ser submetido a reconhecimento pessoal, deverá requerer ao juízo que o réu esteja obrigatoriamente presente (se preso) ou sua conduta coercitiva.
A ausência de manifestação da defesa nesta fase processual não gera nulidade, pois se presume tão somente que esta não possui testemunhas a arrolar nem documentos a juntar ou diligências a requerer.
Caso uma das partes junte qualquer documento, a parte contrária deverá ser intimada em respeito ao princípio do contraditório. Esta necessidade de intimação do documento juntado pela parte contrária, para possibilitar sua utilização em plenário, vem agora prevista expressamente no art. 479. Caso a parte não junte documento nesta fase, poderá juntá-los posteriormente, com a antecedência mínima de 03 dias úteis, dando-se ciência à outra parte.
Após a manifestação das partes nesta fase, há o despacho saneador, no qual o juiz analisará se há qualquer nulidade que necessite ser sanada, fará relatório sucinto do processo e designará data para o julgamento plenário (art. 423). Após, as partes devem ser intimadas da sessão de julgamento (art. 431).
Para designação de data para julgamento, o art. 429 estabelece a prioridade de marcação entre os diversos processos. Conferir:
Art. 429. Salvo motivo relevante que autorize alteração na ordem dos julgamentos, terão preferência:
I – os acusados presos;
II – dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão;
III – em igualdade de condições, os precedentes pronunciados.
DESAFORAMENTO
Os arts. 427 e 428 preveem a figura do desaforamento.
Desaforamento é a decisão jurisdicional que altera a competência inicialmente fixada pelos critérios constantes do art. 69 do CPP. Será competente para decidir sobre o desaforamento a Instância Superior. A provocação pelo desaforamento pode ser feita tanto pelo magistrado Presidente do Júri quanto pelas partes.
Não há ofensa ao princípio do juiz natural em razão de ser uma medida excepcional, prevista em lei. O desaforamento destina-se justamente a sustentar a imparcialidade do juiz, integridade física do réu e a celeridade do julgamento.
O desaforamento pode ocorrer por questões de segurança, ausência de imparcialidade do júri, local ou demora na realização do julgamento plenário. Nessa situação, o processo será encaminhado para a comarca mais próxima na qual haja condições de se realizar o julgamento.
Interesse na ordem pública: se houver motivos comprovados que o julgamento provocará distúrbios na sociedade local o julgamento poderá ser desaforado.
Dúvida sobre a imparcialidade do júri: não há possibilidade de haver um julgamento justo com um corpo de jurados parcial. Pode ocorrer a dúvida quando se tratar de uma comarca pequena e o crime ter sido gravíssimo, ocasionando uma grande comoção geral na sociedade.
TJSP: “Crime envolvendo ex-Presidente da Câmara Municipal e candidato a Prefeito, que recebeu votação – Fato que causou grande repercussão na comunidade local – Existência, ademais, de opiniões prévias lançadas através da imprensa – Possibilidade de induzir aqueles que participarão do Conselho de Sentença” (Desaforamento 390.699-3/0, Franco da Rocha, 3ª C. Extraordinária, rel. Vito Guglielme, 10.4.2003, JUBI 83/03).
TJSP: “A mera legação de parcialidade dos jurados, desacompanhada de qualquer comprovação idônea e eficaz não basta para justificar o desaforamento” (Processo 321.411-3, Capão Bonito, 2ª C., rel. Canguçu de Almeida, 05.02.2001, JUB 57/01).
TJSP: “A notoriedade da vítima e respectiva família na comarca constitui motivo insuficiente para que haja desaforamento, somente admissível em casos excepcionalíssimos” (Desaforamento 409.061-3/0, Mogi das Cruzes, 6ª C., rel. Haroldo Luz, 29.05.2003, JUBI 84/03).
Outras hipóteses de desaforamento: art. 428.
JULGAMENTO PLENÁRIO
O julgamento plenário é composto por três fases: sessão pública, sala secreta e publicação da sentença.
A fase da sessão pública pode ser dividida em: abertura da sessão, instrução e debates.
Abertura da Sessão
Antes da abertura dos trabalhos o juiz decidirá os casos de isenção ou pedido de dispensa de jurado (formulado pelo próprio jurado) e ainda os pedidos de adiantamento do ato (art. 454 e ss. do CPP).
Apenas haverá participação do assistente da acusação no julgamento plenário se este houver requerido sua habilitação até 5 dias antes do julgamento (art. 430). Antes da reforma da Lei nº 11.689/08, este prazo era de três dias (art. 477, PU). Sua ausência não impede a realização do julgamento.
Antes da reforma, a presença do acusado era essencial para a realização da sessão plenária, na hipótese de crime inafiançável (art. 451, § 1º, a contrario sensu). Atualmente, dispõe o art. 457, caput, que no caso de réu solto, seu não comparecimento não impedirá a realização do julgamento. Isso porque a oportunidade de exercício da autodefesa é obrigatória, mas seu efetivo exercício é facultativo. Assim, o réu deve ser intimado do dia de seu julgamento, mas se não tiver interesse em comparecer para ser interrogado em plenário, esta ausência sua não ensejará qualquer nulidade e o julgamento prosseguirá à sua revelia. Todavia, no caso de réu preso que não foi apresentado a julgamento pela falta de escolta policial, considerando que o Estado possui a obrigação de fazer o réu sob sua custódia estar presente, caso este queira, o § 2º do dispositivo determina que a sessão deverá ser necessariamente adiada. A exceção a esta regra é se o réu preso e seu defensor houverem subscrito requerimentos de dispensa de comparecimento. Alguns doutrinadores argumentam que o réu possui o direito de ser intimado e escolher não estar presente, para evitar a influência de seu status social e aparência (v.g., cor) nos jurados.
A ausência injustificada de testemunha acarreta na imposição de multa de um a dez salários mínimos, da mesma forma que ocorre para o jurado que faltar injustificadamente (art. 458 c/c 436, § 2º).
Caso a parte tenha arrolado atestemunha com a cláusula de imprescindibilidade, requeira sua intimação por mandado e esta, devidamente intimada, não compareça à sessão de julgamento plenário, o juiz poderá determinar sua condução coercitiva ou o julgamento plenário será adiado (art. 461, caput e § 1º). Caso a testemunha não seja encontrada no endereço declinado ou não tenha sido arrolada com imprescindibilidade, sua ausência não adiará o julgamento plenário.
Após estas diligências preliminares, verificando-se que o Ministério Público e defesa estão presentes, e que estão presentes pelo menos 15 dos 25 jurados sorteados para atuarem na reunião periódica, o juiz declarará instalada a sessão pública de julgamento do Tribunal do Júri.
A abertura da sessão é o momento para que as parte arguam as nulidades ocorridas após a pronúncia, sob pena de preclusão.
Após a abertura, os jurados serão advertidos sobre os impedimentos e a incomunicabilidade (art. 466). A incomunicabilidade dos jurados é relativa aos fatos do processo e não impede que os jurados se comuniquem durante o recesso, sobre fatos alheios ao julgamento.
Segue-se com o sorteio dos sete jurados que irão compor o Conselho de Sentença. As partes (defesa e acusação, nessa ordem) poderão recusar de forma imotivada até três jurados (art. 468, caput). As recusas motivadas não têm limite e não entram nessa conta.
Na legislação revogada, havia disposição no art. 461 de que, se os réus tivessem advogados diferentes e um aceitasse um jurado, o outro recusasse e o Ministério Público aceitasse, haveria a separação dos processos. A nova redação do parágrafo único do art. 468 c/c 469, § 1º estabelece que caso um dos advogados de defesa recuse o jurado, este será automaticamente excluído da sessão de julgamento, independentemente de perguntar ao outro advogado se ele aceitaria ou não aquele jurado.
Formado o Conselho de Sentença, o juiz tomará compromisso dos jurados (art. 472).
Instrução em Plenário
Após o compromisso dos jurados inicia-se a instrução plenária. Serão ouvidos o ofendido, testemunhas de acusação, de defesa e interrogatório. Para as testemunhas de acusação a ordem é: juiz presidente, defesa, acusação e jurados. As perguntas das partes agora serão diretas, mas as dos jurados continuam sendo feitas por intermédio do juiz presidente.
A Lei nº 11.690/08 deu nova redação ao art. 212 do CPP para estabelecer que, regra geral, as perguntas são feitas pelas partes de forma direta às testemunhas. Este dispositivo também alterou a ordem da colheita dos depoimentos, pois estabelece que primeiro as partes formularão suas perguntas e após, sobre os pontos nas esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição. Lá a alteração foi realizada para assegurar maior distanciamento do juiz da atividade de colheita de provas, que é ônus das partes, de forma a assegurar-lhe maior imparcialidade e preservar, portanto, o sistema acusatório estabelecido pela Constituição Federal.
Após a colheita dos depoimentos e testemunhos, as partes ou os jurados poderão solicitar a leitura de peças do processo. Antes da reforma, poderia se indicar quaisquer peças do processo (antigo art. 466, § 1º), o que acabava gerando uma longa e improdutiva fase de leitura de peças, normalmente sem que ninguém efetivamente prestasse atenção a esta leitura. Às vezes, era mesmo uma estratégia de uma das partes para “cansar” os jurados. Agora, apenas podem ser objeto de leitura as provas colhidas por carta precatória (que, portanto, não poderiam ser repetidas em plenário) e as provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis. Como exemplos destas últimas podem ser citadas as provas técnicas, como o laudo de exame cadavérico, laudo de exame de local de crime, laudo de exame de confronto balístico e outros.
Após a leitura de peças ocorrerá o interrogatório. Na legislação revogada, o interrogatório era o primeiro ato da instrução plenária, agora é o último. Como visto, a alteração busca privilegiar a ampla defesa, de forma que a autodefesa apenas se exerça após o pleno conhecimento das provas que possui contra si. A ordem das perguntas será: juiz presidente, acusação, defensor e jurados (art. 474, §§ 1º e 2º c/c art. 188). As partes poderão formular perguntas diretas ao réu, mas os jurados as formularão por intermédio do juiz presidente. O § 3º do art. 474 proíbe o uso de algemas pelo réu em plenário, salvo se indispensável à segurança. Busca-se evitar com esta disposição a estereotipização decorrente da associação da imagem de uma pessoa já algemada com a de um criminoso, portanto, de uma pessoa que já condenada - Vide Súmula Vinculante nº 11 do STF.
Debates
Em seguida, haverá os debates orais, com sustentação pelo Ministério Público, assistente de acusação e defesa, pelo prazo de uma hora e meia, havendo oportunidade de réplica e tréplica pelo prazo de uma hora cada. Antes da reforma, o prazo da sustentação era de duas horas e a réplica e tréplica eram de meia hora. Apenas haverá tréplica se o Ministério Público solicitar prazo para réplica. É admissível pedido de reinquirição de testemunha já ouvida em plenário.
Havendo mais de um acusador, o prazo será dividido entre eles, mediante acordo ou fixação pelo juiz. Havendo mais de um réu, o tempo da acusação e defesa será de duas horas e meia na sustentação e duas horas para réplica e tréplica, e divididos pelas defesas mediante acordo ou fixação pelo juiz.
O art. 478 traz inovação quanto à proibição de argumentos durante os debates. Conferir:
Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências:
I – à decisão da pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissíveis a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado;
II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo.
A decisão de pronúncia não pode ser referida como argumento porque ela não traz certeza sobre a imputação, mas realiza mero juízo de admissibilidade da acusação. Muitas vezes, o fato de o réu ter sido pronunciado era utilizado em plenário como argumento de “prova” de que o mesmo era culpado, situação que induzia os jurados a erro, pois necessariamente todos os réus submetidos ao julgamento plenário do Tribunal do Júri deveriam ser antes pronunciados. Portanto, não podem ser utilizados argumentos do tipo: “o réu é culpado, pois o juiz afirmou na pronúncia que havia provas de sua autoria” ou ainda “o réu não é culpado, tanto que o juiz afirmou na pronúncia que havia apenas indícios e não prova cabal”. Da mesma forma, em respeito ao princípio da isonomia processual, caso o réu tenha sido impronunciado e, posteriormente, em grau de recurso (agora de apelação), o Tribunal tenha dado provimento para pronunciar o réu, a defesa não poderá fazer menção ao fato de o juízo ter anteriormente impronunciado o réu por entender que havia insuficiência de provas nem a acusação poderá fazer menção à decisão do Tribunal.
Obviamente, os jurados poderão ter vista do processo após os debates, na fase do art. 480, § 3º, e poderão ler a decisão de pronúncia, todavia, esta decisão não poderá ser um argumento utilizado pelas partes (pois não trata de prova, mas de mero juízo de admissibilidade da acusação). Para evitar esta eventual influência quando da eventual leitura dos autos, o art. 413, § 1º limita a fundação da pronúncia ao estritamente necessário para a admissibilidade da acusação (probabilidade razoável diante dos indícios). Finalmente, o que a lei veda é a referência à pronúncia como argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado; a mera referência à pronúncia como uma fase	do processo, devidamente esclarecendo-se aos jurados o nível de cognição inerente a esta fase processual (que, portanto, não beneficia nem prejudica o acusado no exame final de mérito a ser feito pelos jurados) não pode gerar nulidade, pois não foi violado o princípio de direito que a regra do art. 478, I, pretende proteger. Nesta situação, não haveria nulidadepor ausência de prejuízo efetivo (pas de nullité sans grief). De qualquer sorte, doravante é recomendável estrema cautela para a referência à decisão de pronúncia perante os jurados.
Caso o juiz determine que o réu use algemas para assegurar a segurança, conforme lhe permite o art. 474, § 3º, esta situação não poderá ser utilizada pela acusação como um argumento de que o réu é culpado. Portanto, vedam-se argumentos do tipo: “Srs. Jurados, o réu é um criminoso, tanto que o juiz entendeu que ele é um perigoso à nossa segurança e determinou que ele utilizasse algemas neste plenário”. Da mesma forma, o fato de o réu estar sem algemas também não pode ser utilizado pela defesa como argumento que ele é inocente. Portanto, vedam-se argumentos do tipo: “Srs. Jurados, o réu é inocente, tanto que o juiz entendeu que ele não é um perigo à nossa segurança e não permitiu que ele entrasse algemado neste plenário”.
De acordo com o privilégio contra a autoincriminação, o acusado não é obrigado a falar em seu interrogatório e esta circunstância não pode ser considerada em desfavor de sua defesa, cf. art. 186. Assim, é vedada utilização de argumentos do tipo: “Srs. Jurados, quem não deve não teme, e se o réu ficou em silêncio durante seu interrogatório é porque está escondendo algo, é porque é culpado”.
Da mesma forma, o réu não é obrigado a comparecer para o seu interrogatório. Assim, caso o réu tenha sido intimado para o interrogatório e não tenha comparecido, ou tenha solicitado para não ser interrogado, a defesa não poderá utilizar como argumento em plenário: “Srs. Jurados, estão cerceando o direito de defesa do réu, pois ele sequer deu aos Srs. Sua versão dos fatos”.
Esta nulidade do art. 478 não é automática, pois dependerá da prova do prejuízo e não poderá ser arguida por quem lhe der causa. Assim, por exemplo, se a acusação afirmar que o réu é culpado pois está preso e usando algemas, se ao final o réu for absolvido não haverá qualquer nulidade; apenas se o réu for condenado é que a defesa poderá recorrer alegando a violação ao art. 478. Da mesma forma, se a defesa fizer menção à impronúncia (que foi posteriormente reformada pelo Tribunal) e, ao final, o réu for condenado, não haverá qualquer prejuízo. Trata-se de aplicação do princípio previsto no art. 565, segundo o qual “ninguém pode se beneficiar da própria torpeza”.
Tratando-se de nulidade ocorrida em plenário, a parte contrária deverá imediatamente impugná-la, bem como zelar para que conste da ata sua ocorrência e respectiva impugnação, sob pena de preclusão, conforme determina o art. 571, VIII c/c art. 495, XV.
Não pode ser utilizado na sessão plenária documento que não tenha sido juntado aos autos com antecedência mínima de três dias (art. 479). Esta prova é considerada uma prova ilegítima, ou seja, uma prova produzida com a inobservância das regras processuais. A lei antiga exigia que a parte contrária fosse cientificada da juntada do documento em três dias. Agora, a lei exige que a juntada se dê com antecedência mínima de três dias, exige a intimação da parte contrária desde a juntada, mas não prevê a antecedência mínima para a intimação.
Após, os jurados serão indagados se possuem alguma dúvida e se estão habilitados a julgar. O juiz poderá esclarecer os jurados à vista dos autos, bem como os jurados poderão ter vista do processo. Caso seja imprescindível algum esclarecimento que não possa ser providenciado na sessão, o Conselho de Sentença será dissolvido, indicando-se desde já os quesitos pelo juiz e intimando-se partes a fazê-lo em cinco dias.
Providenciando o esclarecimento aos jurados, o juiz lerá o questionário.
Questionário é o conjunto de quesitos que deverão ser respondidos pelos jurados. A maior alteração no procedimento do Tribunal do Júri ocorreu na forma de elaboração dos quesitos, cuja disciplina anterior era fonte inesgotável de nulidades.
Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido.
Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes.
Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre:
I – a materialidade do fato;
II – a autoria ou participação;
III – se o acusado deve ser absolvido;
IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de penas reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
§ 1º A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.
§ 2º Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação:
	O jurado absolve o acusado?
§ 3º Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue, devendo ser formulados quesitos sobre:
I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
II – circunstância qualificadora ou causa de aumento e pena, reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
§ 4º Sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido após o 2º (segundo) ou 3º (terceiro) quesito, conforme o caso.
§ 5º Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito.
§ 6º Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão formulados em séries distintas.
Art. 484. A seguir, o presidente lerá os quesitos e indagará das partes se têm requerimento ou reclamação a fazer, devendo qualquer deles, bem como a decisão, constar da ata.
Parágrafo único. Ainda em plenário, o juiz presidente explicará aos jurados o significado de cada quesito.
O questionário será elaborado em conformidade com o que determina o art. 483. Há um quesito sobre a materialidade, outro sobre a autoria ou participação, um terceiro quesito indagando se o jurado absolve o acusado. Se o jurado afirmar que absolve o réu, a quesitação já se encerra. Apenas se houver resposta negativa neste terceiro quesito, prossegue-se a quesitação sobre as causas de diminuição da pena, bem como qualificadoras ou causas de aumento da pena. Cada circunstância autônoma deve ser objeto de um quesito específico. Todavia, as teses defensivas tendentes à absolvição estão todas englobadas no terceiro quesito. Outras teses defensivas como desclassificação, tentativa e dúvida quanto à tipificação (v.g. entre homicídio e infanticídio) devem ser objeto de quesitos à parte. Os quesitos devem ser formulados como perguntas simples, de forma afirmativa. Para cada crime haverá uma sequência de quesitação.
Questão interessante é sobre a obrigatoriedade ou não do terceiro quesito, previsto no art. 483, caput, III e § 2º, consiste na quinta pergunta “O jurado absolve o acusado?”. Há quem defenda que este quesito apenas é obrigatório se houve alguma tese defensiva que permita a absolvição (atipicidade do fato, legítima defesa ou outra excludente da ilicitude, excludentes da culpabilidade), pois, caso a defesa apenas tenha requerido a condenação com privilégio, por exemplo, não haveria sentido os jurados absolverem. Esta era a prática antes da reforma processual, pois o antigo art. 484, caput, III, afirmava que apenas haveria quesitação de teses defensivas se estas fossem sustentadas pela defesa, caso contrário, não se quesitaria sobre estas teses. Todavia, esta não é a melhor interpretação do dispositivoatual.
Primeiro, porque a redação do art. 484, caput, é temporária, afirmando que os quesitos indicados devem ser formulados. Segundo, porque o art. 482 esclarece que os jurados serão questionados “sobre a matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido”, reforçando a ideia que o jurado deve se manifestar expressamente sobre a decisão de absolver ou não. Terceiro, porque mesmo no procedimento dos demais crimes, o juiz não fica adstrito às teses das partes, podendo absolver mesmo que não haja pedido de expresso pela defesa, ou ainda poderá condenar mesmo que o Ministério Público requeira a absolvição (cf. art. 385, que, em nossa visão, é de duvidosa constitucionalidade à luz do sistema acusatório). De qualquer sorte, a existência obrigatória deste terceiro quesito seria, numa perspectiva garantista, um filtro processual adicional para a restrição à liberdade.
Caso os jurados absolvam mesmo com prova cabal da culpabilidade (tanto que não houve pedido da defesa de absolvição), caberá à acusação recorrer da decisão com base no art. 593, III, d (decisão manifestamente contrária à prova dos autos), para que o Tribunal anule o julgamento e submeta o réu a novo julgamento popular.
Caso no segundo julgamento o réu seja novamente absolvido, não caberá novamente outro apelo contra este fundamento e também não caberá revisão criminal pro societate. Alguns afirmam que esta possibilidade de os jurados absolverem mesmo quando o juiz togado certamente condenaria, consiste exatamente na “beleza” do Tribunal do Júri, de resguardar a liberdade individual da “perniciosa desenvoltura no decidir” dos juízes profissionais.
Caso os jurados respondam “sim” a este terceiro quesito, o juiz não necessitará indagá-los, regra geral, sobre qual o argumento que justifica a absolvição, por ausência de previsão legal. Considerando que este terceiro quesito sintetiza todas as teses defensivas que ensejam a absolvição (atipicidade, excludente de ilicitude, excludente da culpabilidade e outras) e que jurado não necessita fundamentar sobre qual delas está se manifestando, haverá uma séria dificuldade para se apelar sob o argumento de decisão manifestamente contrária à prova dos autos, pois não se saberá qual foi o argumento concreto que os jurados utilizaram para absolver o réu. Para tanto, é muito importante que haja efetiva observância do disposto no art. 495, XIV, constando da ata do julgamento os argumentos que as partes utilizaram durante sua sustentação oral.
Desta forma, deverá o Tribunal analisar se havia ou não respaldo nos autos para alguma das teses da defesa; se alguma delas poderia ser razoavelmente acolhida por ter respaldo nos autos, não caberá anulação da decisão, ainda que, no caso concreto, não houvesse sido aquela tese específica que os jurados tinham em mente ao afirmar que absolveriam o réu.
Ademais, também é possível que agora o réu seja absolvido mesmo que não haja consenso sobre qualquer das teses defensivas. Por exemplo, se um jurado entender que o fato é atípico, outro entender que houve legítima defesa, outro entender que houve estrito cumprimento do dever legal e um quarto jurado entender que o réu era inimputável, haverá quatro votos favoráveis à absolvição, mesmo sem haver consenso sobre qualquer das teses defensivas. Caso fossem formulados sucessivos quesitos sobre cada uma destas teses defensivas, como no sistema antigo, fatalmente todas seriam superadas e o réu seria condenado.
Outra questão interessante é se o juiz necessita indagar dos jurados especificamente sobre a inimputabilidade (hipótese de absolvição imprópria, com imposição de medida de segurança). Se houver sustentação da tese de inimputabilidade, caso os jurados absolvam o réu, o juiz deverá formular quesitos adicionais para esclarecer o fundamento da absolvição. Isso porque se a absolvição for decorrente de atipicidade ou excludente da ilicitude, a votação deve parar. Todavia, se superados estes quesitos, os jurados afirmarem negativamente ao quesito “ao tempo do fato, o réu possuía capacidade de compreender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com este entendimento?” (CP, art. 26), haverá a imposição da medida de segurança.
O jurado deve esclarecer este ponto, pois, na prática, a absolvição imprópria acarreta restrição de direitos fundamentais do acusado, podendo ensejar a internação compulsória em estabelecimento psiquiátrico. Tanto que, quando se disciplinou a absolvição sumária (art. 415, PU), estabeleceu-se que esta apenas poderia ser proferida no caso de inimputabilidade se não houvesse outra tese defensiva mais favorável, que ensejasse a absolvição própria. Ou seja, se há possibilidade de tese de legítima defesa, por exemplo, e prova cabal da inimputabilidade, o acusado não deve ser sumariamente absolvido (com aplicação da medida de segurança), mas deve ser pronunciado e submetido a julgamento plenário para ser eventualmente absolvido pela ilicitude de sua ação. Apenas caso não haja absolvição própria é que se aplicará a absolvição imprópria. E para saber qual dos fundamentos os jurados estão acolhendo, nesta situação específica de existência de tese de inimputabilidade, é necessário o esclarecimento do motivo da absolvição.
Reconhecemos que a compreensão pelos jurados da quesitação neste tema ficará confusa, pois é possível que alguns jurados entendam que o réu incapaz que cometeu um delito não deve ser absolvido, mas “condenado” à internação psiquiátrica. Caberá ao juiz esclarecer os jurados sobre o significado dos quesitos.
Após a leitura do questionário e a explicação aos jurados do significado de cada um dos quesitos, encerra-se a fase pública do julgamento e os jurados serão encaminhados à sala especial.
A Sala Especial
A sala especial é uma sala reservada, também conhecida como “sala secreta”, com acesso apenas o magistrado, as partes, o escrivão e o oficial de justiça. Não há previsão de participação do réu nesta fase, apenas de seu defensor. Na falta de sala especial, o público será retirado do plenário.
Ocorrerá a votação de cada quesito, recebendo cada jurado duas cédulas com as palavras “SIM” e “NÃO” cada uma, incluindo apenas uma delas na urna. As decisões são tomadas por maioria (4x3).
Há quem argumente que, ocorrendo votação de quatro jurados favoráveis à tese, já deveria ser suspenso o restante da votação, para se evitar que todos os sete jurados se manifestem no mesmo sentido, violando-se o sigilo das votações, pois certamente o réu saberia que todos votaram de forma contrária. A Lei nº 11.689/08 não estabeleceu qualquer regra neste sentido.
Sentença
Encerrada a votação de todos os quesitos, o juiz lavrará sentença e, então, deverá publicá-la mediante a sua leitura na sala pública de sessão, providenciando o escrivão a lavratura da ata dos trabalhos. Eventuais nulidades ocorridas em plenário deverão ser arguidas no ato de sua ocorrência e incluídas na ata, sob pena de preclusão.
Os requisitos da sentença estão previstos no art. 492 e são semelhantes aos previstos no art. 59 et. seq do CP e art. 386 e 393 do CPP.
Caso haja desclassificação em plenário, o juiz presidente passa a ter a competência para julgar o crime desclassificado (art. 492, § 1º) numa espécie de prorrogação de competência. Na vigência da legislação revogada, havia entendimento do STJ no sentido de que, no caso de desclassificação para infração penal de menor potencial ofensivo – IPMPO (v.g., de tentativa de homicídio para lesão corporal leve), os autos deverão ser remetidos ao Juizado Especial Criminal, tendo em vista se tratar e competência constitucional, bem como para que se viabilize a audiência preliminar e eventual conciliação civil e proposta de transação penal.
O art. 492, § 1º, estabelece expressamente que, no caso de desclassificação em plenário para IPMPO, será aplicado o disposto nos arts. 69 e ss. da Lei nº 9.099/95. Estes dispositivos devem ser aplicados diretamente pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, ou seja, este deve indagar à vítima se esta possui interesse em realizar composição

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