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aula 2.2016 psicologia juridica

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Aula 02. Trabalho do psicólogo como perito nas Varas de Família – regulamentação de guarda e de visita em casos de litígio conjugal. A questão do litígio e seus efeitos nos filhos do casal.
Leitura Básica 
BRANDÃO, E. P. Psicologia Jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Nau, 2005, pg. 51- 80.
A prática do psicólogo em Varas de Família exige o conhecimento básico dos Códigos Jurídicos que regulam a Família no Brasil:
1. Lei da alienação parental
2. Lei da Guarda Compartilhada
3. ECA
4. Direito de Família
É de conhecimento comum que os arranjos amorosos e familiares com que esses operadores se surpreendem hoje em dia – levam a uma interlocução do Direito com outros saberes. Sem o respaldo de uma equipe interprofissional, a ação do Juiz é insuficiente para regular as relações entre os sexos e de parentesco.
O Direito de Família é o ramo do Direito que contém normas jurídicas relacionadas com estrutura, organização e proteção à família – ramo que trata das relações familiares e das obrigações decorrentes dessas relações.
Quando o psicólogo é chamado a dar seu parecer em processos litigiosos de separação – disputas de guarda, regulamentação de visitas, entre outros...ele se depara com argumentos cujos valores já foram revistos e substituídos em lei.
MITOS
1. Pais que querem a guarda dos filhos porque o ex-cônjuge não cumpriu os deveres matrimoniais.
2. A guarda deve ser sempre da mãe e ao pai cabe somente o direito de visita.
HISTÓRIA DO CASAMENTO NO BRASIL
1. Brasil Império: só podiam se casar os católicos – judeus e protestantes não tinham suas relações reconhecidas.
2. Em 1890: Igreja sai da posição de importância nos casamentos e o único casamento válido passa a ser realizado pelas autoridades civis.
3. 1916: Código Civil Brasileiro
3.1: consolida-se a definição de família – “união legalmente constituída pela via do casamento civil”.
3.2: A família era vista como núcleo fundamental da sociedade – legalizada pela ação do Estado – composta por pai+mãe+filhos (família nuclear). Aqui a família era tradicional e patriarcal, onde o homem era o chefe exclusivo da família – “pátrio poder”.
3.3: A separação só poderia ocorrer por justa causa – porém esta resultaria no “desquite” – uma vez que o matrimônio continuaria indissolúvel.
Desquite: delega-se ao inocente o direito de ter os filhos consigo e ao cônjuge “culpado”, é assegurado o direito de visita...salvo impedimento mais importante.
4. Década de 30: Avanços na sociedade – trabalho feminino e a CLT, casamento entre colaterais de 3º. Grau, efeitos civis do casamento religioso e reconhecimento dos filhos naturais fora do casamento.
5. 1946 a 1964: Período democrático. Aqui surge o “Estatuto da Mulher Casada” – onde é dado plenos poderes à mulher e a decisão sobre a prole e o patrimônio deixa de ser exclusividade do homem.
O Movimento Feminista, a entrada da mulher no mercado de trabalho, a pílula anticoncepcional e a liberação sexual – apoiam novos arranjos interpessoais e a hierarquia nos casamentos perde força.
Neste momento – os papéis tradicionais da mulher, do homem e das gerações são postos em “xeque” – os saberes psi surgem como coordenadas para as relações interpessoais e a compreensão destas.
6. 1977: Lei do Divórcio: regulamenta a dissolução da sociedade conjugal e do casamento. A guarda passou a ser conferida ao cônjuge que não teve culpa na separação; os alimentos tornam-se obrigação comum aos dois e as visitas são regulamentadas pelo juiz.
Naquela época surge uma ideia muito forte de que a única capaz de criar os filhos é a mãe e que “SEMPRE” deve ficar com a guarda. Hoje sabe-se que isto não é real e ficará com a guarda dos filhos, aquele que tiver melhores condições para isto – seja o pai ou a mãe.
7. Constituição Federal de 1988: 
7.1: Concubinato – Reconhecido como União Estável
7.2: Casamento não é mais a única forma legítima de constituição de família.
7.3: Elimina a chefia familiar determinando a igualdade de direitos e deveres para ambos os cônjuges – surge o termo “poder familiar”.
PARENTALIDADE X CONJUGALIDADE
É direito de toda criança ser criada e educada por seus dois pais – no seio de uma família (ECA – art. 19).
Compreende-se, portanto, que a separação conjugal de um casal não deve conduzir à dissolução dos vínculos entre pais e filhos.
Quando a guarda é atribuída a somente um dos genitores – isto contribui para o afastamento do genitor descontínuo das decisões que visam à educação e aos cuidados dos filhos.
Assim, a separação do casal conjugal não deve se sobrepor a separação do casal parental – ou seja, a separação do marido e da esposa não deve corresponder ao fim ou à diminuição das funções parentais.
Quando uma disputa de guarda está instalada, o critério de interesse da criança aponta para a verificação individual de necessidades infantis perante a separação dos pais.
A equipe interdisciplinar – por intermédio dos estudos psicossociais serão uma espécie de porta voz da criança – levando em conta seus desejos – mas principalmente suas necessidades.
Assim, uma disputa de guarda é a possibilidade de todos os envolvidos se manifestarem em relação a este processo tão difícil e doloroso.
No entanto, a disputa de guarda em processo litigioso está baseada numa lógica adversarial em que um genitor tenta não somente mostrar que é mais apto para cuidar dos filhos – como também expor as falhas do outro para tal função.
Lide: conflito de interesses – duas pessoas pretendem desfrutar ao mesmo tempo do mesmo objeto de disputa – no caso os filhos.
No litígio a prevalência de interesses de um implica em não atendimento aos interesses do outro.
Abre-se um leque infindável de acusações de uma parte contra a outra – cujas faltas morais teriam sido – como ambos argumentam – responsáveis pelo conflito atual.
Desta forma o juiz precisa de um apoio “técnico” para solucionar esta questão.
Ele formula uma “demanda” (questionamento) que tem como fim encontrar o genitor certo a quem dar a posse da criança. Esta demanda é enviada ao psicólogo e a assistente social (equipe técnica) – que devem prontamente responde-la.
No entanto cabe interrogar se existem instrumentos de avaliação capazes de – objetivamente – medir a capacidade de um genitor de ser melhor que o outro. Deve-se ter cuidado com o contexto em que esta disputa está ocorrendo e também com definições estereotipadas impostas pela própria sociedade.
Deve-se ter cuidado também – ao decidir sobre a guarda unilateral, onde o genitor descontínuo sente-se “simbolicamente” demitido da função parental. Isto colabora com o afastamento deste da criança – pois ele pode sentir-se menos capaz de exercer esta função de forma adequada.
Muitos pais acreditam que por serem visitantes, devem se manter a distância dos filhos – pois consideram que a Justiça dá plenos poderes ao detentor da guarda.
Assim, o detentor da guarda sente-se sobrecarregado e o genitor não detentor sente-se excluído.
O psicólogo deve tomar cuidado para que seu laudo não sirva de combustível para esta disputa. Seu relatório não deve conter argumentos técnicos que exponham defeitos e qualidades dos genitores. Ele deve ser claro e sucinto sobre as características destes, até porque a decisão final deve ser obrigatoriamente do juiz – baseada nas observações do profissional.
Nota-se que a perpetuação do embate familiar – via poder judiciário – é um modo de dar continuidade ao trabalho de luto da separação – às vezes até mesmo da perda do objeto amado – ou é um meio de manter o vínculo com o ex-companheiro. Aqui o litígio está a serviço de uma busca de reencontro ou aproximação daquele ou daqueles que não se conformam em estar separados.
O pior desta situação é que os filhos são usados como instrumento de vingança e constrangimento com o único propósito de magoar e desgastar a relação entre os ex-cônjuges.
Assim, nunca se deve questionar a criança sobre com quem ela quer ficar – isto é uma tortura para ela, que se sente obrigada a partilhar da dor de um e se afastar do outro – quando naverdade o que ela mais quer é ver seus pais juntos – mesmo que “infelizes” – mais ainda constituindo uma família.
Dolto (1975 – “Quando os pais se separam”” – afirma que a criança pode ser ouvida pelo juiz – pois faz parte da família e do processo – porém sua opinião não pode ser decisiva na escolha da guarda – existem muitas variáveis envolvidas na escolha dela.
A criança também pode se sentir culpada pela separação dos pais e esta possibilidade de escolha pode agravar este sentimento.
Desta forma, a escuta do psicólogo aqui deve ser diferenciada pois, ao contrário do que se busca em entrevista psicológica clínica – o sujeito não fala o que lhe vem a mente e sim o que pode favorecer a sua causa. Ao mesmo tempo preocupa-se em não dizer o que pode ser usado contra ele.
No entanto, deve-se levar em conta que todo processo de escuta serve como processo terapêutico – onde o sujeito tem possibilidade de reconhecer sua participação no conflito – tendo como efeito o “separar-se” do outro, sem ficar perdido na verdade.

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