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DIREITO CIVIL – PARTE ESPECIAL DOS CONTRATOS 1. DOS CONTRATOS EM GERAL 1.1 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS As obrigações podem ser surgir da lei (ex.: obrigação de prestar alimentos) ou de um comportamento humano, lícito (negócio jurídico) ou ilícito (que gera a obrigação de indenizar). Os comportamentos humanos traduzem-se por manifestações de vontade. Quanto lícitos e bilaterais, ou seja, quando em conformidade com a lei e quando oriundos de duas partes, encerram um contrato. Nesse sentido, CLÓVIS BEVILÁQUA define contrato como “o acordo de vontades para o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos”. Para SÍLVIO RODRIGUES, contrato é o “acordo de duas ou mais vontades, em vista de produzir efeitos jurídicos”. 1.1.1 Formação dos Contratos Os contratos se formam através do encontro de duas vontades diversas para um fim comum, que se exteriorizam de duas formas: proposta e aceitação. Proposta é o momento inicial da formação dos contratos, ou seja, é o ato pelo qual uma das partes solicita a manifestação de vontade da outra, que deve ser concreto, sério e claro. A proposta, uma vez emitida, obriga a outra parte, nos termos do art. 427 do Código Civil, exceto se o contrário resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. Da mesma forma, também deixa de ser obrigatória a proposta nos casos previstos no art. 428 do Código Civil. A aceitação, por sua vez, é o segundo passo para a formação dos contratos, ou seja, é a declaração emitida pelo aceitante dando conta de sua concordância quanto aos termos da proposta. Uma vez emitida dentro do prazo, a aceitação obriga o seu emitente ou seus sucessores. Se a aceitação é emitida fora do prazo, com adições ou alterações, importará em nova proposta (contraproposta), e dependerá de aceitação do proponente inicial (art. 431, CC). Se a aceitação chegar tarde demais ao proponente e, a este não interessar mais o negócio, cabe-lhe dar ciência imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos (art. 430, CC). A proposta é sempre expressa, embora possa ser feita na forma escrita ou verbal. Já a aceitação pode ser tanto expressa (escrita ou verbal) como tácita. Será tácita quando assim o determinarem os costumes ou quando o seu autor a dispensar, obrigando-se desde já (art. 432, CC). No mais, a proposta pode ser espontânea ou por solicitação, ou seja, por ato de liberalidade do proponente ou a pedido do aceitante. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante (art. 433, CC). Entre os presentes, portanto, considera-se concluído o contrato no instante em que o solicitado, a quem foi dirigida a proposta, emite sua aceitação. Entre os ausentes, os contratos por correspondência tornam-se perfeitos desde quando for expedida a aceitação. 1.1.2 Elementos Constitutivos e Pressupostos de Validade dos Contratos Elementos constitutivos: a) duas ou mais vontades manifestadas por meio de declaração; b) finalidade negocial; c) idoneidade do objeto. Pressupostos de validade: a) capacidade das partes (capacidade civil); b) legitimação para o negócio (ex: ser proprietário de bem imóvel para vendê-lo); c) obediência à forma, quando prescrita em lei; d) objeto lícito, possível, determinado ou determinável. 1.1.3 Princípios do Direito Contratual a) Princípio da Autonomia das Vontades (consiste na prerrogativa conferida aos indivíduos de criarem relações na órbita do direito, desde que se submetam às regras impostas pela lei e que seus fins coincidam com o interesse geral, ou não o contradigam. Este princípio se subdivide em dois: o princípio de contratar ou não contratar; e o princípio de contratar somente aquilo que se quiser)*; b) Princípio da Relatividade das Convenções (significa dizer que os efeitos do contrato só se manifestam entre as partes, não aproveitando ou prejudicando terceiros); c) Princípio da Obrigatoriedade das Convenções ou da força vinculante dos contratos (consagra a idéia de que o contrato, uma vez obedecidos os seus requisitos legais, torna-se obrigatório entre as partes, que dele não podem se desligar senão por outra avença, em tal sentido, isto é, o contrato constitui uma espécie de lei privada entre as partes, cujo descumprimento pode gerar punições ao infrator – pacta sunt servanda). d) Princípio da Boa-Fé Objetiva (segundo este princípio, na interpretação dos contratos, é preciso ater-se mais à intenção do que ao sentido literal da linguagem, e, em prol do interesse social de segurança das relações jurídicas, as partes deverão agir com lealdade e confiança recíprocas, auxiliando-se mutuamente na formação e na execução dos contratos). Obs.: * O princípio da autonomia das vontades, ou seja, a liberdade concedida ao indivíduo de contratar o que entender, encontra limitação na idéia de ordem pública, pois, cada vez que o interesse individual colide com o da sociedade, é o desta última que deve prevalecer. Assim, pode-se dizer que este princípio encontra-se limitado por outro, o “princípio da supremacia da ordem pública”, entendida esta última – ordem pública – como o conjunto de interesses jurídicos e morais que incumbe à sociedade preservar (o que significa dizer que os princípios e normas de ordem pública não podem ser alterados ou violados por convenção entre particulares). 1.2 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 1.2.1 Quanto à sua natureza: a) Unilaterais (quando geram obrigações apenas para uma das partes; ex.: depósito) ou Bilaterais (quando geram obrigações para as duas partes; ex.: compra e venda). b) Onerosos (quando ambas as partes sofrem sacrifícios patrimoniais; ex: compra e venda) ou Gratuitos (quando somente uma das partes sofre um sacrifício patrimonial e outra apenas obtém um benefício; ex.: doação simples). c) Comutativos (é aquele em que a estimativa da prestação a ser recebida por qualquer das partes pode ser efetuada no mesmo ato em que o contrato se aperfeiçoa; ex: locação de coisa) ou Aleatórios (aquele em que pelo menos uma das partes não pode antecipar o montante da prestação que deverá, em troca da que fornece; ex.: seguro). d) Causais (aqueles onde há relação de causa e efeito entre a pretensão de uma parte e a obrigação de outra) ou Abstratos (aqueles que tem valor por sua própria forma, independentemente da causa que o gerou; ex.: cambial). 1.2.2 Quanto à maneira como se aperfeiçoam: a) Consensuais (aqueles que se ultimam pelo mero consentimento das partes; ex.: compra e venda) ou Reais (são os ajustes que dependem, para seu aperfeiçoamento, da entrega da coisa, feita por um contratante ao outro; ex.: comodato, depósito, penhor). b) Solenes (também chamados de formais, são aqueles que dependem de forma prescrita em lei; ex.: compra e venda) ou Não Solenes (também chamados de informais, são aqueles cuja forma é livre). 1.2.3 Quanto à existência ou não de nome próprio: a) Nominados ou típicos (são aqueles a que a lei dá nome próprio, e que se submetem às regras que o pormenorizam). b) Inominados ou atípicos (são aqueles que a lei não disciplina expressamente, mas que são permitidos em virtude do princípio da autonomia das vontades). 1.2.4 Quando considerados entre si: a) Principais (aqueles cuja existência independe da pré-existência de qualquer outro). b) Acessórios (aqueles que existem em função de um principal, e surgem para lhe garantir execução). 1.2.5 Quanto ao seu tempo de execução: a) De execução instantânea (aqueles que se cumprem quando a execução é efetuada por ambas as partes em um só momento; ex.: permuta). b) De execução diferida no futuro (aqueles emque uma das partes, ou ambas, deve cumprir sua obrigação em tempo futuro; ex.: seguro). 1.2.6 Quanto ao seu objeto: a) Preliminares (aqueles cujo objeto é sempre a realização de um outro contrato, definitivo; ex.: compromisso de compra e venda). b) Definitivos (aqueles que tem por um objeto criar vários tipos de obrigações para um ou ambos os contratantes). 1.2.7 Quanto à maneira de sua formação: a) Paritários (aqueles em que há uma fase prévia em que ambas as partes procedem ao debate das suas cláusulas e, em pé de igualdade, discutem os termos do negócio). b) De adesão (aqueles em que todas as cláusulas são previamente estipuladas por uma das partes, de modo que a outra – no geral mais fraca – não possa debater as suas condições, nem propor modificações). 1.3 DA ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO Arts. 436 a 438, CC Diz-se que ocorre uma estipulação em favor de terceiro quando, num contrato entre duas pessoas, pactua-se que a vantagem resultante do ajuste reverterá em benefício de terceiro, estranho à convenção e nela não representado (ex.: Seguro de vida – uma pessoa, o estipulante, mediante o pagamento de prêmios anuais, consegue da seguradora, a promitente, a promessa de pagar a terceiros por aquela indicados, os beneficiários, e por ocasião de sua morte, uma quantia em dinheiro). Constitui, portanto, exceção ao princípio da relatividade das convenções, pois os seus efeitos se produzem sobre terceiros não integrantes da relação jurídica. 1.3.1 Sujeitos: a) Estipulante (é o que obtém do promitente ou devedor, a promessa em favor de terceiro); b) Promitente; c) Beneficiário. 1.3.2 Natureza Jurídica É consensual e de forma livre (só pode ser estipulado pelas partes e não há legalmente uma forma específica para tanto). O terceiro beneficiado pode ser determinado ou determinável (ex.: futuros filhos; nascituro). O benefício concedido ao terceiro deve ser sempre gratuito para que se configure a estipulação em favor de terceiro, ou seja, para o terceiro não pode haver nenhuma obrigação. É obrigatória, ou seja, uma vez estipulada por agente capaz e legítimo, e tendo por fim objeto lícito, a promessa por ele feita é bastante para sujeitá-lo ao cumprimento da mesma e às penas pelo seu não cumprimento. 1.3.3 Disposições gerais Segundo dispõe o art. 436 do Código Civil, tanto o estipulante como o terceiro beneficiado podem exigir o cumprimento da obrigação, quando observado o fato a ela relacionado. De acordo com o art. 437 do Código Civil, havendo no contrato o direito para o terceiro reclamar-lhe a execução, não pode o estipulante exonerar o devedor. Nos termos do art. 438 do Código Civil, o estipulante pode reservar-se no contrato o direito de substituir (inovar) o terceiro nele designado, independentemente de sua anuência e da do outro contratante. Conjugando-se as idéias acima, temos que o art. 436 do CC dá ao terceiro o direito de reclamar a execução da promessa. Já o art. 437 dá ao estipulante o direito de exonerar o devedor, e, portanto, impedir a execução da promessa (ainda que o terceiro a exija), quando não houver previsão expressa no contrato que autorize o terceiro a exigir tal cumprimento. Da mesma forma, o art. 438 dá ao estipulante o direito de substituir o terceiro por outro, mesmo sem o seu consentimento, se este direito estiver contratualmente previsto. Sendo assim, pode o estipulante exonerar o devedor se no contrato não se deixou ao terceiro, de maneira expressa, a prerrogativa de reclamar-lhe execução? Da mesma forma, pode o estipulante substituir o terceiro se também houver no contrato previsão expressa que dê ao terceiro o direito de reclamar sua execução? Em resposta e estes questionamentos, oriundos da aparente contradição entre tais artigos, o doutrinador SÍLVIO RODRIGUES assim define: se a estipulação em favor de terceiro se der a título gratuito, ou seja, se se tratar de ato de mera liberalidade do estipulante para com o beneficiário, a resposta a tais questões seria positiva. No entanto, se a estipulação se der a título oneroso, ou seja, se o ato de liberalidade do estipulante estiver vinculado a um interesse do beneficiário (ex.: quando a estipulação foi obtida para compensar um débito do estipulante), a resposta seria negativa, não poderia o estipulante nem exonerar o devedor e nem substituir o terceiro, sob pena de ser responsabilizado por perdas e danos que a este seriam causados. Assim, o art. 438 do Código Civil somente seria aplicável às estipulações em favor de terceiro, feitas a título gratuito. 1.4 DA PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO Arts. 439 e 440, CC A promessa de fato de terceiro ocorre quando alguém promete que terceiro cumprirá em data e hora específica uma certa obrigação de fazer. Aquele que promete fato de terceiros responde por perdas e danos, quanto este não o executa (ex.: quando alguém promete que um cantor famoso se apresentará em uma data específica em uma determinada casa de espetáculos, fazendo promoção do evento, sem a concordância e sem a ciência do próprio* artista, e este não aparece na data e hora prometidos). Segundo dispõe o parágrafo único do art. 439 do CC, tal responsabilidade não existe quando o terceiro for cônjuge do promitente, dependendo de sua anuência o ato a ser praticado e se, pelo regime de bens, a indenização fosse recair sobre os bens do casal. Obs.: * Se o promitente age com a autorização do terceiro, ou seja, como seu mandatário, nenhuma responsabilidade há para ele promitente, mas sim para o próprio terceiro que o autorizou a tanto. 1.5 DOS VÍCIOS REDIBITÓRIOS Arts. 441 a 446, CC Vícios redibitórios são os defeitos ocultos em coisa recebida em virtude de contrato comutativo, que a tornam imprópria ao uso a que se destina, ou que lhe diminuam o valor. Verificando-se tais vícios, pode o adquirente: a) enjeitar a coisa defeituosa (art. 441, CC); b) ficar com ela e reclamar abatimento no preço (art. 442, CC). Se o alienante não conhecia o vício, ou seja, se agiu de boa-fé, tão somente restitui o valor recebido, mais as despesas do contrato, se houver. Mas, se conhecia o vício, ou seja, se agiu de má-fé, além de restituir o que recebeu, responderá também por perdas e danos (art. 443, CC). Mesmo que o adquirente não possa restituir a coisa recebida, por ter ocorrido o seu perecimento, a responsabilidade do alienante subsiste, se o fato decorrer do vício oculto, já existente ao tempo da tradição (art. 444, CC). 1.5.1 Requisitos Essenciais: a) o defeito deve prejudicar o uso da coisa ou diminuir-lhe sensivelmente o valor; b) o defeito deve ser oculto (se o defeito for aparente, incorre o adquirente em culpa na sua aquisição, assumindo assim eventuais prejuízos); c) o defeito deve existir no momento do contrato (se sobrevier à tradição da coisa, o ônus pelo seu surgimento incumbe ao adquirente, que passou a ser o seu dono – é possível, no entanto, que o defeito só se manifeste após a tradição; imprescindível, mesmo assim, que se prove que já existia antes da tradição). 1.5.2 Ações Judiciais de defesa contra os vícios redibitórios a) Ação Redibitória compete ao adquirente que pretende recusar a coisa defeituosa por ele recebida em virtude de um contrato comutativo (pedido: devolução da coisa + repetição do valor pago + repetir as despesas contratuais + perdas e danos). Prazo p/ propositura: 30 dias para coisa móvel e 01 ano para bens imóveis * e ** (arts. 445 e 446, CC). b) Ação “quanti minoris” é cabível quando o adquirente, em vez de recusar a coisa recebida, deseja apenas reclamar o abatimento do preço, em virtude de defeito que lhe diminui ovalor (pedido: abatimento do valor c/ devolução da quantia paga a maior, se já paga). Prazo p/ propositura: 30 dias para coisa móvel e 01 ano para bens imóveis * e ** (arts. 445 e 446, CC) Obs.: * Os prazos acima mencionados são decadenciais, ou seja, referem-se ao próprio direito em si, e não apenas à possibilidade de propositura de tais ações. Não correrão, no entanto, tais prazos, na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos 30 dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência (art. 446, CC). Obs.2: ** Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, os prazos mencionados contar-se-ão do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de 180 dias, em se tratando de bens móveis; e de 01 ano, para os imóveis (§1º, art. 445, CC). Vício Redibitório ≠ Inadimplemento Contratual (enquanto o segundo significa que o contrato não foi cumprido – integral ou parcialmente, o primeiro demonstra que o contrato foi cumprido, porém com a entrega de uma coisa defeituosa). Vício Redibitório ≠ Erro essencial (enquanto no primeiro o defeito é objetivo, ou seja, o comprador adquiriu exatamente o que queira, no entanto a coisa adquirida apresenta uma imperfeição a ela peculiar, produto do uso ou da má-fabricação, no segundo caso o defeito é subjetivo, ou seja, o adquirente imagina estar adquirindo uma coisa e na verdade adquire outra – existe um ato volitivo que se não teria externado se o não viciasse a falsa concepção da realidade). 1.6 DA EVICÇÃO Arts. 447 a 457, CC Evicção é a perda total ou parcial da coisa em virtude de sentença judicial, que atribui a outrem por causa jurídica preexistente ao contrato (ex: na compra feita de quem não era o real proprietário e por ele se fazia passar, tem o verdadeiro direito de reclamar judicialmente a devolução da coisa, restando ao falso vendedor a responsabilidade por perdas e danos dela oriundo). 1.6.1 Partes: a) Evictor (reivindicante); b) Evicto (vencido na demanda, que adquiriu um bem de quem não era o seu dono); c) Alienante (aquele que responde por perdas e danos por vender bem que não lhe pertence). 1.6.2 Condições para que a evicção se configure: a) Onerosidade da aquisição (uma vez que se a alienação for gratuita, não há prejuízo para o evicto, não havendo, pois, razão para punição patrimonial do alienante, que nenhum lucro obteve); b) Sentença Judicial (a evicção só ocorre quando uma sentença judicial definitiva nega ao adquirente seu direito sobre a coisa, ou seja, o direito do reivindicante e a carência de direito do vendedor só podem ser apurados e declarados judicialmente); c) Denunciação da lide ao alienante (é necessário que o alienante seja notificado do litígio para apresentar sua defesa, nos termos do art. 456 do CC e art. 70 e seguintes do CPC). 1.6.3 Reforço, redução e exclusão da responsabilidade por evicção O art. 448 do Código Civil permite às partes aumentar o valor da indenização quando previsto contratualmente, assim como a reduzi-lo. Também é possível incluir-se no contrato cláusula que exclua qualquer responsabilidade por evicção, desde que, neste caso, tenha o comprador ciência dos riscos que pesam sobre a coisa, e expressamente os assuma (art. 449, CC). No que diz respeito ao aumento do valor, entende a doutrina, em especial SÍLVIO RODRIGUES, que tal aumento somente poderia ocorrer até o limite do próprio valor do prejuízo do adquirente, sob pena de enriquecimento ilícito do mesmo. 1.7 DA EXTINÇÃO DOS CONTRATOS A execução é o modo normal de extinção do vínculo contratual. O instrumento de desfazimento contratual é o distrato, que deve ser feito na mesma forma que o contrato original, ou seja, observados os mesmos requisitos (art. 472, CC). 1.7.1 Causas de extinção do contrato anteriores ou contemporâneas à sua formação: Condição resolutiva: pode ser expressa ou tácita. A tácita está prevista no art. 475 do CC, que a subentende em todos os contratos sinalagmáticos, para o caso em que um dos contraentes não cumpra sua obrigação, autorizando o lesado pela inexecução a pedir judicialmente a rescisão contratual e a indenização das perdas e danos. Por outro lado, nada obsta que as partes a estabeleçam por escrito, caso em que a rescisão contratual operar-se-á de pleno direito, sem necessidade de interpelação judicial, sujeitando o faltoso às perdas e danos, desde que o devedor esteja em mora (art. 474 a 475, CC). Direito de arrependimento: quando os contraentes estipular, expressamente, que o ajuste será rescindido, mediante declaração unilateral de vontade, se qualquer deles se arrepender de o ter celebrado, sob pena de pagar multa penitencial. Tal direito pode, ainda, decorrer, diretamente de lei, nos casos expressos no art. 49 da lei 8.078/90 e do art. 420 do Código Civil. 1.7.2 Causas extintivas do contrato supervenientes à sua formação: Resolução por inexecução voluntária: opera-se quando há inadimplemento culposo do contrato por parte de um dos contraentes, quando há dano causado ao outro e quando há nexo de causalidade entre o comportamento ilícito do agente e o prejuízo. Tal inexecução sujeita o inadimplente ao ressarcimento das perdas e danos. Resolução por inexecução involuntária: quando o inadimplemento se dá por caso fortuito ou força maior, se opera a resolução do contrato de pleno direito, sem ressarcimento de perdas e danos. Resolução por onerosidade excessiva: ocorre quando em virtude de evento extraordinário e imprevisível, se dificulta extremamente o adimplemento do contrato por uma das partes, de modo que o lesado poderá desligar-se da obrigação, pedindo ao juiz a rescisão do contrato ou o reajustamento das prestações recíprocas (art. 478 a 480, CC). Resilição unilateral: é a dissolução do contrato pela simples declaração de uma das partes (muito comum no mandato, no comodato, no depósito e em contratos de execução continuada), que se opera mediante denúncia à outra parte (art. 473, CC). 2. DOS CONTRATOS EM ESPÉCIE 2.1 DA COMPRA E VENDA 2.1.1 Disposições Gerais Arts. 481 a 532, CC Conceito: O art. 481 fornece elementos para conceituarmos o contrato de compra e venda, vejamos: “Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”. Portanto, trata-se de um contrato com obrigações recíprocas: para o vendedor, a obrigação de transferir o domínio; para o comprador, a de entregar o preço. Natureza Jurídica: o contrato de compra e venda tem, em nosso direito, caráter apenas obrigacional, e não real, uma vez que a compra e venda por si só não transfere o domínio da coisa vendida, mas gera apenas a obrigação de transferi-lo. A transferência definitiva se dá apenas com a tradição, se o objeto for móvel, e com o registro (transcrição), se imóvel. Classificação: é um contrato consensual (se aperfeiçoa independentemente da entrega do objeto, apenas pelo acordo de vontades quanto ao preço e à coisa – art. 482, CC), sinalagmático (bilateral, porque envolve obrigações recíprocas a ambas as partes), oneroso (porque implica sacrifício patrimonial para ambos os contratantes), em regra comutativo* (porque a estimativa da prestação a ser recebida por qualquer das partes pode ser feita no ato mesmo em que o contrato é assinado), em alguns casos sujeito à forma prescrita em lei **(no caso de bens imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país, exige a lei a forma de escritura pública – art. 108, CC). Obs 1: * A própria lei contempla hipótese em que a compra e venda éaleatória, como nos casos dos arts. 458 e 459 do Código Civil (emptio spei e emptio rei speratae) Obs 2: ** Em regra a compra e venda independe de forma determinada e, nas Bolsas de Títulos ou de Mercadorias se ultimam verbalmente, por exemplo. Elementos essenciais a) o consentimento (deve ser livre e espontâneo, recaindo sobre o objeto e o preço, com a deliberação de alcançar o resultado final do contrato: a aquisição da coisa e a transferência do preço); b) o preço (deve ser em dinheiro, sério ou não irrisório, determinado ou determinável, pelos próprios contratantes ou por terceiro – arts. 485 a 489, CC); c) a coisa (tudo aquilo que não esteja fora do comércio – disponível, ou seja, não podem ser objeto de compra e venda as coisas insuscetíveis de apropriação e as legalmente inalienáveis)*. Obs: *Em tese, a venda de coisa alheia é nula, pois ninguém pode alienar o que não é seu, exceto em dois casos: quando há a venda de coisa alheia e o vendedor vem depois, e antes de o comprador sofrer evicção, a se tornar proprietário dela; quando ambas as partes sabem desde o início que a coisa é alheia, e o negócio vale como promessa de fato de terceiro. Já a venda de coisa futura é negócio lícito, como exemplifica o art. 458 do CC. Efeitos da Compra e Venda Principais: a) gera obrigações recíprocas para ambos os contratantes; b) acarreta a responsabilidade do vendedor pelos vícios redibitórios e evicção. Secundários: a) quanto à responsabilidade pelos riscos: até o momento da tradição dos móveis e o registro dos imóveis, a coisa pertence ao vendedor, e, por conta dele, correm os riscos da coisa perecer ou se danificar, enquanto os do preço se perder correm por conta do comprador; se já houve a transferência do domínio, pela tradição ou pelo registro, quem sofre as conseqüências do perecimento é o comprador, e da perda do dinheiro, depois de pago, é o vendedor (art. 492, CC). De outro lado, se a coisa for expedida para lugar diverso, por ordem do comprador, por sua conta correrão os riscos, uma vez entregue à transportadora indicada (art. 494, CC); b) quanto às despesas: dispõe o art. 490 do Código Civil que ficarão as despesas da escritura e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradição, podendo, no entanto, ser adotada outra solução de comum acordo; c) quanto à retenção da coisa ou do preço: na compara e venda à vista, cabe sempre ao comprador o primeiro passo, ou seja, o pagamento do preço. Antes disso, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa, podendo retê- la, ou negar-se a assinar a escritura definitiva, até que o comprador satisfaça a sua parte (art. 491, CC). Sendo a venda a crédito, pode o vendedor sobrestar a entrega, se antes da tradição o comprador cair em insolvência, até obter dele caução de que pagará o preço ajustado (art. 495, CC). Da mesma forma, se é o devedor que se torna insolvente, pode o comprador reter o pagamento até que a coisa lhe seja entregue, ou prestada caução. Limitações à Compra e Venda A lei determina certas limitações à efetivação da compra e venda pela falta de legitimação de algumas pessoas em razão de determinadas circunstâncias ou da situação em que se encontram, que não se confundem com a mera incapacidade civil. São elas: a) Venda de ascendente a descendente (art. 496, CC) é anulável a venda de ascendente para descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante (exceto no caso do regime da separação obrigatória de bens) expressamente houverem consentido. A exigência também vale para a venda de avô a neto e assim sucessivamente. Devem consentir os herdeiros necessários ao tempo do contrato, ou seja, os mais próximos em grau, salvo o direito de representação, havidos ou não no casamento e os adotivos. A anuência deve ser expressa, e, por aplicação analógica do art. 220 do CC, do mesmo modo que o instrumento principal, ou seja, por instrumento público (na própria escritura se possível), no caso de bem imóvel, e por instrumento particular, em se tratando de bem móvel.* Tendo em vista não haver previsão nesse sentido, aduz-se que o cônjuge do descendente não precisa consentir com a venda. Obs 1: * Se um dos descendentes é menor ou nascituro, cabe ao juiz nomear- lhe curador especial (art. 1.692, CC), e este comparecerá à escritura, par anuir à venda em nome do incapaz. Obs 2: Se houver a recusa de algum dos descendentes em dar o consentimento, ou o caso for o de impossibilidade (caso do amental), pode o ascendente requerer o suprimento judicial, o que somente será deferido, no primeiro caso, se a discordância não for justificada. Obs 3: A venda realizada sem observância desta limitação é anulável, estando legitimados para a ação anulatória todos os descendentes preteridos. O Código Civil de 1916 não dizia se tal venda era nula ou anulável, apenas a descrevia como proibida (art. 1.132), deixando aos tribunais a decisão em cada caso específico. O Código Civil de 2002 optou, expressamente, pela tese da anulabilidade da venda. b) Venda de bens por pessoa encarregada de zelar pelos interesses do vendedor o art. 497 do Código Civil nega legitimação às seguintes pessoas para a venda dos bens que estejam sob sua guarda (a intenção é manter a isenção de ânimo naqueles que, por dever de ofício ou por profissão, têm de zelar por interesses alheios): I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração; II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta; III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade; IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados. c) Venda da parte indivisa em condomínio (art. 504, CC) o condômino não pode alienar a sua parte indivisa a estranho, se outro consorte a quiser, pelo mesmo valor. Tanto assim que o condômino não consultado sobre a venda pode exercer seu direito de preferência pela ação de preempção, ajuizando-a no prazo decadencial de 180 (cento e oitenta) dias contados da data em que teve ciência da alienação, na qual deverá efetuar o depósito do preço pago, havendo para si a parte vendida ao terceiro. Se mais de um condômino se interessar pela aquisição, preferirá o que tiver benfeitorias de maior valor e, na falta destas, o de quinhão maior. Se as partes forem iguais, todos que quiserem poderão adquirir a parte vendida, depositando o preço (parágrafo único do art. 504, CC). d) Venda entre cônjuges: um cônjuge, qualquer que seja o regime de bens, exceto no da separação absoluta, só estará legitimado a alienar, hipotecar ou gravar de ônus reais os bens imóveis depois de obter a autorização do outro, ou o suprimento judicial de seu consentimento (art. 1.647, I, CC). Já a compra e venda entre cônjuges é lícita somente em relação aos bens excluídos da comunhão (art. 499, CC), posto que, caso contrário, a venda não seria senão um ato fictício (simulação ou fraude à lei), pois se o acervo de bens do casal é comum, não pode haver compra e venda, que pressupõe mutação do patrimônio. Vendas Especiais a) Venda mediante amostra: dispõe o art. 484 do Código Civil que “se a venda se realizar à vista de amostras, protótipos ou modelos, entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a elas correspondem”. Assim, se a mercadoria entregue não for em tudo igual à amostra (que prevalece inclusive sobre a descrição da mercadoria constante no contrato),caracteriza-se o inadimplemento contratual, devendo o comprador protestar imediatamente, sob pena de seu silêncio ser interpretado como aceitação ao produto entregue. É possível, nesse sentido, ao comprador, requerer a vistoria da mercadoria, como medida preparatória da ação de rescisão contratual, cumulada com perdas e danos. b) Venda “ad corpus” e venda “ad mensuram” (art. 500): quando a preocupação das partes é vender e comprar coisa certa e determinada, na forma que existe objetivamente, sem com que a extensão do imóvel constitua situação essencial para a realização do negócio, fala-se que a venda é “ad corpus” (ex.: a compra do “Sítio Cachoeira”); quando a preocupação das partes for vender e comprar uma determinada área de terreno (o negócio é estipulado tendo em vista certa dimensão; ex.: compra de 10.000 m2 para construção de uma fábrica).* Obs 1: * O tipo de venda realizada causa efeitos distintos. Quando a venda se der na forma “ad mensuram” e após sua efetivação perceber o adquirente que as medidas prometidas pelo vendedor não coincidem com as reais, cabe ao comprador exigir o complemento da mesma através de ação judicial específica denominada “ex emptio” ou “ex vendito”. Não sendo isso possível, poderá o vendedor optar por requerer o abatimento do preço, através da chamada ação “quanti minoris”, ou reclamar a resolução do contrato (ação redibitória). 2.1.2 Das Cláusulas Especiais da Compra e Venda 2.1.2.1 Da Retrovenda (arts. 505 a 508, CC) Pela cláusula de retrovenda o vendedor se reserva o direito de recobrar, em certo prazo, o imóvel que vendeu, restituindo o preço, mais as despesas feitas pelo comprador. Tem, portanto, natureza jurídica de pacto acessório, adjecto à compra e venda, que insere uma condição resolutiva expressa, cujo advento desfaz a relação jurídica, transportando as partes para o estado em que se encontravam antes do contrato. Pressupostos: a) que recaia sobre bem imóvel; b) que seja exercido o retrato no prazo máximo de 03 (três) anos* (decadência). Obs.: * não podem as partes prescrever prazo maior para a validade da cláusula de retrovenda, de forma que reputar-se-á como não escrito o excesso eventualmente por elas prescrito. Tendo em vista que esta cláusula só recai nos contratos de compra e venda de bens imóveis, deve a mesma constar expressamente na escritura pública e na transcrição imobiliária correspondente, de modo que eventuais adquirentes de tais bens estejam cientes de sua existência e assumam o risco de seu exercício. Como se nota, uma vez que o compromisso de compra e venda pode assumir o mesmo caráter da cláusula de retrovenda, ou seja, possibilitar a um dos contratantes o desfazimento do negócio, e com a vantagem de se efetivar antes da consolidação definitiva do negócio (portanto antes do recolhimento dos impostos respectivos, por exemplo), sendo pois muito mais eficaz e econômico para as partes, tem a cláusula de retrovenda caído em desuso, sendo hoje “um instituto superado”, como bem alerta SÍLVIO RODRIGUES. 2.1.2.2 Da Venda a Contento e da Sujeita a Prova (arts. 509 a 512, CC) A venda a contento é aquela que se realiza sob a condição de só se tornar perfeita e obrigatória após declaração do comprador de que a coisa o satisfaz. Destina-se, portanto, em geral, a regular os negócios jurídicos que têm por objeto gêneros que se costumam provar, medir, pesar ou experimentar antes de aceitos. Constitui-se, pois, numa venda condicional, uma vez que o negócio somente se aperfeiçoará com a aprovação do adquirente, ou seja, entende-se como realizada sob condição suspensiva. Efeitos: a) enquanto não advier a manifestação concordante do adquirente, mesmo tendo havido tradição, o domínio continua com o alienante (que é quem sofre eventuais perdas ou prejuízos); b) o comprador, antes da concordância, será mero comodatário, e a posse que exerce será precária e direta. O julgamento do comprador, quanto à aceitação ou não do bem entregue pelo vendedor, é de caráter subjetivo, interno, escapando de qualquer interferência do vendedor. A lei não determina prazo específico para que o comprador declare se aceita ou não a coisa. Assim, nos termos do art. 512 do Código Civil, cabe às partes estipularem prazo tal; se após o prazo estipulado o comprador se mantiver silente quanto à sua aceitação, pode o vendedor intimá-lo, judicial ou extrajudicialmente, para que o faça em prazo improrrogável. 2.1.2.3 Da Preempção ou Preferência (arts. 513 a 520, CC) É o negócio em que o comprador de uma coisa se obriga para com o vendedor a preferi-lo, em igualdade de condições, caso venha a vendê-la posteriormente, ou seja, as partes deixam consignado no contrato que, quando for o comprador revender o próprio bem adquirido, tenha que primeiro informar àquele que lhe vendeu das propostas recebidas para que este, se quiser, iguale a melhor proposta e o readquira. Requisitos: a) que o comprador queira vender; b) que o vendedor queira readquirir a coisa, dispondo-se a oferecer o preço encontrado ou ajustado (art. 515, CC); c) que exerça este direito dentro do prazo de 03 dias, se a coisa for móvel, e 60 dias, se imóvel. Finalidade: possibilitar ao alienante recobrar o domínio da coisa vendida. Preempção ≠ Retrovenda: a) enquanto na Retrovenda o mesmo (e primeiro) negócio se resolve, no Pacto de Preferência há uma nova aquisição, ou seja, há um segundo negócio onde o vendedor primitivo adquire o mesmo bem do comprador primitivo; b) enquanto a Retrovenda recai somente sobre bens imóveis, a Preempção pode recair sobre quaisquer tipos de bens; c) enquanto na Retrovenda o vendedor conserva o direito de recobrar a coisa, desde que a queira e mediante a devolução daquilo que recebeu, na Preempção o preferente só pode recomprar a coisa se o proprietário quiser vender e pelo preço que for alcançado no mercado. d) o direito de Preferência é pessoal, e, por isso não pode ser cedido e nem é transmissível aos herdeiros e sucessores (art. 520, CC); já o direito de Retrovenda é transmissível e pode ser cedido aos herdeiros e legatários (art. 507, CC). Se o comprador primário não informar o vendedor primário, a quem se garantiu o direito de preempção, de sua intenção de vender o mesmo bem, pode este último, ao tomar conhecimento do fato, notificar o alienante de sua intenção de exercer o seu direito (art. 514, CC). Se, ainda assim, a venda a terceiro se ultima sem a ciência do titular do direito de preferência, aquele que desatender o direito do preferente responderá por perdas e danos (art. 518, CC). 2.1.2.4 Da Venda com Reserva de Domínio (arts. 521 a 528, CC) Por esta cláusula, o alienante de bens móveis, embora transfira ao adquirente a posse da coisa alienada, conserva pra si o domínio da mesma até ser pago na totalidade o preço ajustado (só se aplica, por conseqüência lógica, às vendas a prestação). Assim, se não houve o pagamento do preço no prazo avençado, e havendo tal cláusula, pode o vendedor reivindicar a coisa ou se reintegrar na sua posse. É, portanto, uma venda condicional, uma vez que o negócio somente se aperfeiçoará com o pagamento integral do preço avençado, ou seja, entende- se como realizada sob condição suspensiva. Nos termos do art. 522 do Código Civil, a cláusula de reserva de domínio deverá ser estipulada por escrito e depende de registro no Cartório de Registro de Títulos e Documentos do domicílio do comprador para valer contra terceiros. Havendo mora do comprador, que se verifica após o protesto do título ou sua interpelação judicial (art. 525, CC), tem o vendedor duas opções: a) pleitearjudicialmente o pagamento das obrigações vencidas e vincendas; b) pleitear a rescisão do contrato e a reintegração de posse da coisa. Procedimentos processuais (arts. 1.070 e 1.071 do CPC): CAPÍTULO XIII DAS VENDAS A CRÉDITO COM RESERVA DE DOMÍNIO Art. 1.070 - Nas vendas a crédito com reserva de domínio, quando as prestações estiverem representadas por título executivo, o credor poderá cobrá-las, observando-se o disposto no Livro II, Título II, Capítulo IV. § 1º - Efetuada a penhora da coisa vendida, é licito a qualquer das partes, no curso do processo, requerer-lhe a alienação judicial em leilão. § 2º - O produto do leilão será depositado, sub-rogando-se nele a penhora. Art. 1.071 - Ocorrendo mora do comprador, provada com o protesto do título, o vendedor poderá requerer, liminarmente e sem audiência do comprador, a apreensão e depósito da coisa vendida. § 1º - Ao deferir o pedido, nomeará o juiz perito, que procederá à vistoria da coisa e arbitramento do seu valor, descrevendo-lhe o estado e individuando-a com todos os característicos. § 2º - Feito o depósito, será citado o comprador para, dentro em 5 (cinco) dias, contestar a ação. Neste prazo poderá o comprador, que houver pago mais de 40% (quarenta por cento) do preço, requerer ao juiz que Ihe conceda 30 (trinta) dias para reaver a coisa, liquidando as prestações vencidas, juros, honorários e custas. § 3º - Se o réu não contestar, deixar de pedir a concessão do prazo ou não efetuar o pagamento referido no parágrafo anterior, poderá o autor, mediante a apresentação dos títulos vencidos e vincendos, requerer a reintegração imediata na posse da coisa depositada; caso em que, descontada do valor arbitrado a importância da dívida acrescida das despesas judiciais e extrajudiciais, o autor restituirá ao réu o saldo, depositando-o em pagamento. § 4º - Se a ação for contestada, observar-se-á o procedimento ordinário, sem prejuízo da reintegração liminar. 2.1.2.5 Da Venda Sobre Documentos (arts. 529 a 532, CC) Trata-se da venda onde a tradição da coisa é substituída pela entrega de seu título representativo e de outros documentos eventualmente exigidos no contrato. 2.2 DA TROCA OU PERMUTA Art. 533, CC É o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra, que não seja dinheiro. Difere-se, portanto, da compra e venda, pois nesta a prestação de uma das partes consiste em dinheiro, enquanto na troca as prestações são sempre ambas em espécie. Nos termos do art. 533 do Código Civil, à troca se aplicam as disposições referentes à compra e venda, exceto: a) as despesas do contrato devem ser repartidas entre os permutantes (inciso I); b) no caso de troca entre ascendentes e descendentes, se os valores forem desiguais, esta só será válida com o consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante (inciso II). 2.3 DO CONTRATO ESTIMATÓRIO Arts. 534 a 537, CC É o contrato pelo qual uma pessoa, denominada consignante, entrega bens móveis à outra, denominada consignatária, que fica autorizada a vendê-los, pagando àquela o preço ajustado, saldo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa consignada (ex.: vendedores de jóias e antiguidades) Segundo o jurista CAIO MÁRIO, tem este contrato natureza jurídica de obrigação alternativa (uma vez que o consignatário tem o direito de escolher entre vender a coisa pelo preço que lhe aprouver, e pagar ao consignante o preço estipulado, ou simplesmente devolvê-la ao consignante). Requisitos: a) entrega da coisa; b) que a coisa seja móvel; c) obrigação de restituir ou pagar (restituir a coisa não deteriorada ou pagar o preço avençado); d) que haja prazo para o seu cumprimento; e) que se estipule o preço das coisas dadas em consignação (podendo o preço de venda ser maior); f) disponibilidade (para que possa o consignante vender a coisa a terceiros, é preciso que sobre a mesma não paire nenhum ônus). Efeitos: a) quanto aos riscos, o contrato estimatório os transfere ao consignatário, que responde pela perda ou deterioração da coisa, não se exonerando da obrigação de pagar o preço mesmo que a restituição se impossibilite sem culpa sua (art. 535, CC); b) os credores do consignatário não tem nenhum direito sobre as coisas a ele dadas em consignação, de modo que não podem penhorá-las ou seqüestrá-las por dívida daquele (art. 536, CC); c) o consignante não pode dispor da coisa antes que ela lhe seja restituída pelo consignatário (art. 537, CC). 2.4 DA DOAÇÃO Arts. 538 a 564, CC Doação é o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere de seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra, conforme bem define o art. 538 do Código Civil. É contrato unilateral (porque envolve prestação de uma só das partes), gratuito (porque se trata de uma liberalidade do doador), consensual (porque se aperfeiçoa pela conjunção das vontades do doador e do donatário) e, via de regra, solene (porque a lei lhe impõe forma escrita, a menos que se trate de bens móveis de pequeno valor). Assim como a compra e venda ou a troca, para que a doação se aperfeiçoe, é necessária a tradição do bem, não bastando o mero contrato, ou seja, é preciso sua entrega, se for móvel o bem, ou sua transcrição, se imóvel. Requisitos: a) natureza contratual; b) animus donandi, ou seja, intenção de doar por mera liberalidade; c) a transferência de bens para o patrimônio do donatário; d) a aceitação do donatário. A aceitação é a manifestação concordante da vontade do donatário, indispensável para o aperfeiçoamento do negócio. Pode ser expressa ou tácita, ou ainda, presumida pela lei. É expressa quando revelada verbal ou escrita e ainda por gestos, quando estes significarem concordância com o negócio proposto. É tácita quando resulta de um comportamento do donatário, incompatível com sua recusa à liberalidade (se este recebe um automóvel e o licencia, emplaca e passa a usá-lo como dono, por exemplo). A aceitação é presumida pela lei nas seguintes hipóteses: a) quando o autor por liberalidade não sujeita a encargo fixa prazo ao donatário para declarar se aceita, ou não, e este se mantém silente. (art. 539, CC); b) quando se tratar de doação pura e o beneficiário for incapaz de manifestar o seu consentimento (art. 543, CC) c) quando a doação é feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa e o casamento se realizar (art. 546, CC); d) na doação feita ao nascituro, quando aceita pelo seu representante legal (art. 542, CC). Forma da Doação Dispõe o art. 541 do Código Civil que a doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular, de forma que se não há formalidade excessiva, no mínimo se reclama a forma escrita. Ainda assim, o parágrafo único deste mesmo artigo considera válida a doação verbal “se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição”. Nos termos do art. 108 do Código Civil, se exige a forma solene de escritura pública sempre que a doação tiver por objeto bens imóveis de valor superior a 30 (trinta) vezes o salário mínimo vigente no País. Espécies de Doação a) Pura ou Simples: é aquela que consiste em mero benefício e na qual o devedor é movido pelo exclusivo espírito de liberalidade, ou seja, quando o doador não impõe nenhuma restrição ou encargo ao beneficiário, nem subordina sua eficácia a qualquer condição. b) Remuneratória: é aquela feita em retribuição a serviços prestados, cujo pagamento não podia ser exigido pelo donatário (é a hipótese da liberalidade feita ao médico que tratou do doador, sem o cobrar, salvando sua vida). c) Onerosa ou com encargo: é aquelana qual se impõe ao donatário uma contraprestação que ele deve cumprir e donde resulta uma vantagem para o doador ou para o terceiro (quando, por exemplo, o doador sujeita o donatário a pensionar um parente dele, ou a oferecer alta cifra a uma entidade assistencial, etc.). d) Em contemplação do merecimento do donatário: quando o doador menciona expressamente o motivo da liberalidade, não sendo necessária a comprovação do merecimento por parte do donatário. É considerada, nos termos do art. 540 do Código Civil, como se simples fosse, ou seja, por mera liberalidade do doador. e) Em forma de subvenção periódica: trata-se de uma pensão, como favor pessoal ao donatário, cujo pagamento termina com a morte do doador, não se transferindo tal obrigação a seus herdeiros e sucessores, salvo se contrário houver, ele próprio, estipulado (art. 545, CC). f) Em contemplação de casamento futuro: é doação subordinada a uma condição suspensiva (si nuptiae sequuntur), que somente terá eficácia se o matrimônio a que se refere vier a ocorrer (art. 546, CC). g) Entre cônjuges: de acordo com o art. 544 do Código Civil, importa adiantamento do que lhes cabe por herança, ou seja, somente é possível nas hipóteses em que o cônjuge participa como herdeiro da sucessão do outro, previstas no art. 1.829 do Código Civil. h) Conjuntiva: é a doação de um ou alguns bens ao mesmo tempo a mais de uma pessoa, e entende-se distribuída por igual entra elas, salvo quando disposto em contrário pelo próprio doador (art. 551). i) De ascendentes a descendentes: nos termos do art. 544 do Código Civil, representam adiantamento daquilo que lhes caberia por herança, ou seja, está limitada ao quinhão respectivo. É possível, no entanto, que a liberalidade venha a beneficiar um filho em detrimento de outro, quando o doador faz constar expressamente que está se dá em relação à sua quota disponível. Apenas quando tal menção não ocorre é que se aplica a regra ora em comento. j) Com cláusula de retorno ou reversão: é aquela portadora de uma condição resolutiva expressa, que determina a volta ao patrimônio do doador dos bens doados, caso este sobreviva ao donatário (art. 547, CC). k) A entidade futura (art. 554, CC): é a doação feita a uma entidade ainda não existente juridicamente, que caduca em 02 (dois) anos, se esta não estiver constituída regularmente. Obs.: O art. 540 do Código Civil estabelece ainda que, tanto a doação remuneratória quanto a doação com encargo não perdem o caráter de liberalidade, no excedente ao valor dos serviços remunerados ou dos encargos impostos. Restrições à liberdade de doar a) Doação de todos os bens do doador (art. 548, CC): é nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador. Não haverá restrição se o doador mantiver alguma fonte de renda ou se reservar para si o usufruto dos referidos bens, ou de parte deles. b) Doação da parte inoficiosa (art. 549, CC): é nula a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento (não existirá tal restrição se o doador não tiver descendentes e nem ascendentes). Como o próprio artigo esclarece, apenas a doação da parte inoficiosa será nula, permanecendo válida a doação quanto ao restante. c) Doação de onde resulta prejuízo para os credores do doador: nos termos do art. 158 do Código Civil (ação pauliana), é possível a revogação de atos de transmissão gratuita de bens quando o devedor os pratique já insolvente, ou quando com eles fique reduzido à insolvência. d) Doação do cônjuge adúltero a seu cúmplice (art. 550, CC): é anulável, ou seja, o consorte do adúltero ou seus herdeiros necessários podem anular a liberalidade feita a seu cúmplice, mesmo se separados de fato, até 02 (dois) anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. Da Promessa de Doação Muito embora todos os contratos possam ser precedidos de um outro, preliminar, embora a doação seja um contrato, a promessa de doação, quando pura, não será vinculativa, uma vez que até sua formalização definitiva será lícito ao promitente doador arrepender-se do negócio. Esse é o entendimento da maioria dos escritores, tais como SÍLVIO RODRIGUES, SERPA LOPES e CAIO MÁRIO, afirmando este último que “a doação pura não pode ser objeto de contrato preliminar”. Tal óbice não existe, entretanto, quanto às doações onerosas, pois estas impõem ao donatário uma obrigação, que uma vez cumprida, vincula o donatário ao cumprimento da sua promessa. Da Revogação da Doação a) Por motivos comuns a todos os contratos: todos os defeitos que infirmam qualquer ato jurídico – erro, dolo, coação, simulação e fraude – podem levar à anulação da doação, como contrato que é. b) Por ser resolúvel o negócio: é o caso do art. 547 do CC, quando o doador estabelece uma situação que, se ocorrida, revoga a doação feita e devolve a ele os bens doados. c) Por descumprimento de encargo (parágrafo único do art. 562, CC): “a doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo, se o donatário incorrer em mora; não havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida”. d) Por ingratidão do donatário: configura-se a ingratidão quando o doador é ofendido pelo donatário, nas seguintes hipóteses (art. 557, CC): “I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele; II - se cometeu contra ele ofensa física; III - se o injuriou gravemente ou o caluniou; IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava”. * Obs 1: * Só podem ser revogadas por ingratidão as doações puras, uma vez que o art. 564 do Código Civil estabelece serem irrevogáveis, por esse motivo, as doações puramente remuneratórias, as oneradas com encargo, as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural ou para determinado casamento. Obs 2: Para que uma doação possa ser revogada, não basta tenha ocorrido uma dessas circunstâncias, é preciso que o doador, e somente ele, ajuíze uma ação revocatória de doação, provando a ocorrência do motivo que alegar, cujo prazo decadencial é de 01 (um) ano, nos termos do art. 559 do Código Civil. Obs 3: A revogação por ingratidão não prejudica os direitos adquiridos por terceiro, nem obriga o donatário a restituir os frutos percebidos antes de sua citação válida, nos termos do art. 563 do Código Civil. 2.5 DA LOCAÇÃO DE COISAS Arts. 565 a 578, CC É o contrato pelo qual uma das partes se obriga a ceder a outra, por tempo determinado ou não, o uso e o gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição (art. 565, CC). Trata-se de contrato bilateral (porque envolve prestações recíprocas de cada uma das partes); oneroso (dado o seu propósito especulativo); consensual (porque independe da entrega da coisa para seu aperfeiçoamento); comutativo (porque cada uma das partes, desde o momento do ajuste, pode antever e avaliar a prestação que lhe será fornecida e que, pelo menos subjetivamente, é equivalente da prestação que se dispõe a dar) e não solene (porque a lei não impõe forma determinada para o seu aperfeiçoamento). Elementos essenciais: a) o objeto: pode ser coisa móvel ou imóvel. O bem móvel deverá ser infungível (se for fungível ter-se-á um contrato de mútuo e não de locação, exceto quando o seu uso tiver sido cedido para ornamentação, como uma cesta de frutas com adornos raros, por exemplo) b) o preço: denominado aluguel ou remuneração, deverá ser fixado pelas partes ou mediante arbitramento, ou ainda por ato governamental, nos casos dos táxis, p.ex.; deve ser sério ou real e determinado ou determinável,podendo o seu pagamento ser em dinheiro ou não. (se não houver preço, ou seja, se o uso e o gozo da coisa forem cedidos a título gratuito, ter-se-á comodato e não locação). c) o consentimento: pode ser expresso ou tácito (não se exige que aquele que loca seja proprietário, mas sim que tenha poderes de administração sobre a coisa). Obrigações do Locador a) entregar ao locatário a coisa alugada (art. 566, I, CC); b) manter a coisa no mesmo estado (compete ao locador fazer os reparos necessários para que a coisa seja mantida em condições de uso, salvo convenção em contrário – art. 566, I, 2ª parte, CC); c) garantir o uso pacífico da coisa (art. 566, II), ou seja, abster-se de praticar qualquer ato que possa afetar ou comprometer o uso e gozo da coisa locada e garantir o locatário contra perturbações emanadas de terceiros, Obrigações do Locatário a) zelar pela coisa alugada como se sua fosse (art. 569, I, 2ª parte, CC), de modo que se não a conserva, pode o locador promover a rescisão da relação locatícia, ou reclamar indenização do prejuízo nos termos do art. 570 do Código Civil; b) servir-se da coisa locada para os usos convencionados ou presumidos (art. 569, II, CC), não podendo alterá-los sem anuência do locador, sob pena de rescisão da locação ou de responsabilização por perdas e danos nos termos do art. 570 do Código Civil; c) pagar o aluguel no prazo legal ou no ajustado (art. 569, II); d) levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros (art. 569, III); e) restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu (art. 569, IV), salvo as deteriorações naturais ao seu uso regular. Termo final da Locação A locação de coisas pode ajustar-se por prazo determinado ou indeterminado. No primeiro caso, a relação locatícia cessa de pleno direito com o advento do termo, independentemente de notificação ou aviso (art. 573, CC), salvo no caso de locação de prédios urbanos, conforme estatui a Lei n.º 8.245/91, impondo-se, portanto, ao locatário o dever de devolver a coisa. Se tal devolução não ocorre, o locador deve reclamá-la mediante notificação judicial dirigida do locatário, a fim de constituí-lo em mora, pois, caso contrário, seu silêncio poderá ser interpretado como concordância com a prorrogação do contrato, por igual aluguel, mas sem prazo determinado (arts.. 574, CC). Se notificado, o locatário não restituir a coisa, poderá ser obrigado a: a) pagar o aluguel que o locador, na própria notificação, arbitrar (art. 575, CC); b) responder pelo dano que a coisa venha a sofrer, embora proveniente de caso fortuito (art. 575, 2ª parte, CC). A locação por prazo indeterminado cessará desde que qualquer das partes resolva dá-la por finda. Se se tratar, entretanto, de locação de imóvel, tem o locatário o prazo de 90 (noventa) dias, após a notificação, para o desocupar (art. 576, §2º, CC). Direito de Retenção do Locatário Estabelece o art. 578 do Código Civil que o locatário goza do direito de retenção, ou seja, de não devolver a coisa no prazo estipulado, para receber o valor das benfeitorias necessárias e o das úteis, quando estas houverem sido feitas com expresso consentimento do locador. Trata-se, portanto, de um direito de defesa concedido ao locatário para que o mesmo possa se recusar a devolver a coisa alugada, após o vencimento do contrato, até que o locador o indenize pelas citadas benfeitorias. Locação de Prédio Urbano – Lei n.º 8.245/91 A locação de prédios urbanos rege-se pela chamada Lei do Inquilinato (Lei n.º 8.245, de 18 de outubro de 1991, com redação atual dada pela Lei n.º 12.112/2009), cujo art. 1º, parágrafo único, proclama continuarem regidas pelo Código Civil as locações de imóveis de propriedade da União, dos Estados e dos Municípios; de vagas autônomas de garagem ou de espaços para estacionamento de veículos; de espaços destinados à publicidade; de apart- hotéis, hotéis residências ou equiparados; e o arrendamento mercantil (leasing). As normas anteriormente estudadas têm, pois, aplicação restrita aos referidos imóveis. Dispõem seus arts. 46 e 47: “Art. 46. Nas locações ajustadas por escrito e por prazo igual ou superior a trinta meses, a resolução do contrato ocorrerá findo o prazo estipulado, independentemente de notificação ou aviso. § 1º Findo o prazo ajustado, se o locatário continuar na posse do imóvel alugado por mais de trinta dias sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação por prazo indeterminado, mantidas as demais cláusulas e condições do contrato. § 2º Ocorrendo a prorrogação, o locador poderá denunciar o contrato a qualquer tempo, concedido o prazo de trinta dias para desocupação. Art. 47. Quando ajustada verbalmente ou por escrito e com prazo inferior a trinta meses, findo o prazo estabelecido, a locação prorroga-se automaticamente, por prazo indeterminado, somente podendo ser retomado o imóvel: I - Nos casos do art. 9º (I - por mútuo acordo; II - em decorrência da prática de infração legal ou contratual; III - em decorrência da falta de pagamento do aluguel e demais encargos; IV - para a realização de reparações urgentes determinadas pelo Poder Público, que não possam ser normalmente executadas com a permanência do locatário no imóvel ou, podendo, ele se recuse a consenti-las); II - em decorrência de extinção do contrato de trabalho, se a ocupação do imóvel pelo locatário relacionada com o seu emprego; III - se for pedido para uso próprio, de seu cônjuge ou companheiro, ou para uso residencial de ascendente ou descendente que não disponha, assim como seu cônjuge ou companheiro, de imóvel residencial próprio; IV - se for pedido para demolição e edificação licenciada ou para a realização de obras aprovadas pelo Poder Público, que aumentem a área construída, em, no mínimo, vinte por cento ou, se o imóvel for destinado a exploração de hotel ou pensão, em cinqüenta por cento; V - se a vigência ininterrupta da locação ultrapassar cinco anos. § 1º Na hipótese do inciso III, a necessidade deverá ser judicialmente demonstrada, se: a) O retomante, alegando necessidade de usar o imóvel, estiver ocupando, com a mesma finalidade, outro de sua propriedade situado nas mesma localidade ou, residindo ou utilizando imóvel alheio, já tiver retomado o imóvel anteriormente; b) o ascendente ou descendente, beneficiário da retomada, residir em imóvel próprio. § 2º Nas hipóteses dos incisos III e IV, o retomante deverá comprovar ser proprietário, promissário comprador ou promissário cessionário, em caráter irrevogável, com imissão na posse do imóvel e título registrado junto à matrícula do mesmo.” O art. 46 da Lei do Inquilinato, acima transcrito, descreve a hipótese denominada de denúncia vazia, ou seja, a possibilidade de resolução do contrato sem qualquer motivação. A morte do locador acarreta, nos termos do art. 10 da referida lei, a transferência do contrato aos herdeiros; a morte do locatário acarreta a sub- rogação nos seus direitos, podendo continuar a locação (art. 11): a) nas locações com finalidade residencial, o cônjuge sobrevivente ou o companheiro e, sucessivamente, os herdeiros necessários e as pessoas que viviam na dependência econômica do falecido, desde que residentes no imóvel; b) nas locações com finalidade não residencial, o espólio, e, se for o caso, seu sucessor no negócio. Em casos de separação de fato, separação judicial, divórcio ou dissolução da sociedade concubinária, a locação prosseguirá automaticamente com o cônjuge ou companheiro que permanecer no imóvel (art. 12), tendo o locador o direito de exigir a substituição do fiador ou o oferecimento de outras garantias previstas. Segundo dispõe o art. 27 da Lei do Inquilinato, o inquilino tem preferência paraaquisição do imóvel (preempção). Se for preterido no seu direito, poderá reclamar do alienante as perdas e danos, ou, depositando o preço e demais despesas do ato de transferência, haver para si o imóvel locado, se o requerer no prazo de 06 (seis) meses, a contar do registro do ato no Cartório de Imóveis, desde que o contrato de locação esteja averbado pelo menos 30 (trinta) dias antes da alienação junto à matrícula do imóvel (art. 33). É livre a convenção do aluguel (art. 17), sendo lícito às partes fixar cláusula de reajuste (art. 18). Após 03 (três) anos de vigência do contrato ou do ajuste anteriormente realizado, não havendo acordo, ao locador ou locatário caberá o ajuizamento de pedido de revisão judicial, a fim de ajustá-lo ao preço de mercado (art. 19). Dos deveres do locador e do locatário: Do locador (art. 22): I - entregar ao locatário o imóvel alugado em estado de servir ao uso a que se destina; II - garantir, durante o tempo da locação, o uso pacífico do imóvel locado; III - manter, durante a locação, a forma e o destino do imóvel; IV - responder pelos vícios ou defeitos anteriores à locação; V - fornecer ao locatário, caso este solicite, descrição minuciosa do estado do imóvel, quando de sua entrega, com expressa referência aos eventuais defeitos existentes; VI - fornecer ao locatário recibo discriminado das importâncias por este pagas, vedada a quitação genérica; VII - pagar as taxas de administração imobiliária, se houver, e de intermediações, nestas compreendidas as despesas necessárias à aferição da idoneidade do pretendente ou de seu fiador; VIII - pagar os impostos e taxas, e ainda o prêmio de seguro complementar contra fogo, que incidam ou venham a incidir sobre o imóvel, salvo disposição expressa em contrário no contrato; IX - exibir ao locatário, quando solicitado, os comprovantes relativos às parcelas que estejam sendo exigidas; X - pagar as despesas extraordinárias de condomínio (por despesas extraordinárias de condomínio se entendem aquelas que não se refiram aos gastos rotineiros de manutenção do edifício, especialmente: a) obras de reformas ou acréscimos que interessem à estrutura integral do imóvel; b) pintura das fachadas, empenas, poços de aeração e iluminação, bem como das esquadrias externas; c) obras destinadas a repor as condições de habitabilidade do edifício; d) indenizações trabalhistas e previdenciárias pela dispensa de empregados, ocorridas em data anterior ao início da locação; e) instalação de equipamento de segurança e de incêndio, de telefonia, de intercomunicação, de esporte e de lazer; f) despesas de decoração e paisagismo nas partes de uso comum; g) constituição de fundo de reserva). Do locatário (art. 23): I - pagar pontualmente o aluguel e os encargos da locação, legal ou contratualmente exigíveis, no prazo estipulado ou, em sua falta, até o sexto dia útil do mês seguinte ao vencido, no imóvel locado, quando outro local não tiver sido indicado no contrato; II - servir-se do imóvel para o uso convencionado ou presumido, compatível com a natureza deste e com o fim a que se destina, devendo tratá-lo com o mesmo cuidado como se fosse seu; III - restituir o imóvel, finda a locação, no estado em que o recebeu, salvo as deteriorações decorrentes do seu uso normal; IV - levar imediatamente ao conhecimento do locador o surgimento de qualquer dano ou defeito cuja reparação a este incumba, bem como as eventuais turbações de terceiros; V - realizar a imediata reparação dos danos verificados no imóvel, ou nas suas instalações, provocadas por si, seus dependentes, familiares, visitantes ou prepostos; VI - não modificar a forma interna ou externa do imóvel sem o consentimento prévio e por escrito do locador; VII - entregar imediatamente ao locador os documentos de cobrança de tributos e encargos condominiais, bem como qualquer intimação, multa ou exigência de autoridade pública, ainda que dirigida a ele, locatário; VIII - pagar as despesas de telefone e de consumo de força, luz e gás, água e esgoto; IX - permitir a vistoria do imóvel pelo locador ou por seu mandatário, mediante combinação prévia de dia e hora, bem como admitir que seja o mesmo visitado e examinado por terceiros, na hipótese prevista no art. 27; X - cumprir integralmente a convenção de condomínio e os regulamentos internos; XI - pagar o prêmio do seguro de fiança; XII - pagar as despesas ordinárias de condomínio (Por despesas ordinárias de condomínio se entendem as necessárias à administração respectiva, especialmente: a) salários, encargos trabalhistas, contribuições previdenciárias e sociais dos empregados do condomínio; b) consumo de água e esgoto, gás, luz e força das áreas de uso comum; c) limpeza, conservação e pintura das instalações e dependências de uso comum; d) manutenção e conservação das instalações e equipamentos hidráulicos, elétricos, mecânicos e de segurança, de uso comum; e) manutenção e conservação das instalações e equipamentos de uso comum destinados à prática de esportes e lazer; f) manutenção e conservação de elevadores, porteiro eletrônico e antenas coletivas; g) pequenos reparos nas dependências e instalações elétricas e hidráulicas de uso comum; h) rateios de saldo devedor, salvo se referentes a período anterior ao início da locação; i) reposição do fundo de reserva, total ou parcialmente utilizado no custeio ou complementação das despesas referidas nas alíneas anteriores, salvo se referentes a período anterior ao início da locação. O locador só pode exigir do locatário as seguintes garantias (arts. 37 e 38): a) caução (que pode ser em bens móveis ou imóveis, em títulos e ações e em dinheiro, não podendo, neste último caso, exceder ao valor de três alugueres); b) fiança; c) seguro de fiança locatícia. Obs: É vedada, sob pena de nulidade, mais de uma dessas modalidades de garantia num único contrato de locação Nas ações de despejo por falta de pagamento de alugueres, o pedido de rescisão pode ser cumulado com o de cobrança dos alugueres e seus acessórios (neste caso, será citado o locatário para responder ao pedido de rescisão, e o locatário e os fiadores para responderem ao pedido de cobrança), devendo ser apresentado, na inicial, cálculo discriminado do valor do débito. O locatário e o fiador poderão evitar a rescisão efetuando, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da citação, o pagamento do débito atualizado, mediante depósito judicial, incluídos os alugueres que se vencerem até a data do pagamento, multas, juros, custas e honorários de advogado (art. 62, com nova redação dada pela Lei n. 12.112/2009). Efetuada a purga da mora, se o locador alegar que a oferta não é integral, justificando a diferença, o locatário poderá complementar o depósito no prazo de 10 (dez) dias, contado da intimação, que poderá ser dirigida ao locatário ou diretamente ao seu advogado, por carta ou publicação no DOE, a requerimento do locador. Não sendo complementado o depósito, o pedido de rescisão prosseguirá pela diferença, podendo o locador levantar a quantia depositada. Julgada procedente a ação de despejo, o juiz determinará a expedição de mandado de despejo, que conterá o prazo de 30 (trinta) dias para a desocupação voluntária. Este prazo, no entanto, será de 15 (quinze) dias se entre a citação e a sentença de 1ª instância já houver decorrido mais de 4 (quatro) meses ou se o despejo houver sido decretado com fundamento no art. 9º ou no §2º do art. 46. Eventual apelação interposta contra sentença que decreta o despejo deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo (art. 58, V). A ação renovatória dos contratos de locação de imóveis destinados ao uso comercial ou industrial encontra-se regulada nos arts. 71 a 74 da Lei do Inquilinato, podendo serajuizada desde que cumulativamente: a) o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado; b) o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos; c) o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos (art. 51). Não sendo renovada a locação, o juiz determinará a expedição do mandado de despejo, que conterá o prazo de 30 (trinta) dias para a desocupação voluntária, se houver pedido na contestação (art. 74, com nova redação dada pela Lei 12.112/2009). Do Leasing O contrato de leasing é, sem dúvida, uma espécie do contrato de locação. Para SÍLVIO RODRIGUES, “trata-se de negócio jurídico complexo pelo qual uma empresa, necessitando de certo equipamento (ou mesmo de determinado imóvel), em vez de adquiri-lo consegue que uma instituição financeira o faça, com o intuito de alugá-lo à mesma empresa, por certo prazo, ao fim do qual o locatário devolverá o equipamento locado; entretanto, do contrato poderá constar, e ordinariamente consta, a possibilidade de o locatário optar pela renovação da locação, ou pela aquisição do mesmo equipamento por um preço residual; que já foi estipulado no momento em que se celebrou a avença”. Por este contrato, portanto, o locatário-financiado encomenda o objeto que deseja, o arrendador-financiador o adquire e aluga-o ao primeiro, que paga um aluguel pré-fixado em prestações periódicas, por determinado prazo. Ao final deste prazo, o locatário pode optar por adquirir a coisa locada (descontados os valores já pagos a título de alugueres), renovar a locação, ou devolver a coisa, podendo locar outra ainda mais moderna para a substituir. 2.6 DO EMPRÉSTIMO Arts. 579 a 592, CC É o contrato que têm por objeto a entrega de uma coisa, para ser usada e depois restituída. O Código Civil divide o empréstimo em duas espécies: o comodato e o mútuo. 2.6.1 DO COMODATO Conceito: é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis, que se perfaz com a tradição do objeto (art. 579, CC). Características: a) gratuidade (não há contraprestação); b) infungibilidade (a coisa a ser restituída não pode ser substituída por outra, ainda que de igual gênero, qualidade e quantidade)*; c) tradição (para que o comodato se aperfeiçoe é necessária a tradição da coisa emprestada). Obs.: * No comodato, a coisa emprestada pode ser móvel ou imóvel (o comodato de bens fungíveis ou consumíveis só é admitido quando destinado a ornamentação, como o de uma cesta de frutas, por exemplo). Classificação: a) real (só se aperfeiçoa com a entrega da coisa); b) unilateral (gera obrigações apenas para o comodatário); c) gratuito (não há contraprestação); d) temporário (embora possa ser firmado por prazo determinado ou indeterminado, o comodato será sempre temporário, porque naquele último caso o seu prazo será presumidamente o necessário para que o comodatário se sirva da coisa para o fim a que se destina – art. 581, CC); e) não solene (a lei não exige forma especial para o comodato, que pode até ser verbal). Obrigações do Comodatário: a) conservar a coisa como se sua própria fosse (art. 582, CC); b) usar a coisa de forma adequada (ou seja, para o fim a que se destina, sob pena de responder por perdas e danos, nos termos do art. 582, CC); c) restituir a coisa (sob pena de responder por aluguel a ser arbitrado pelo comodante, nos termos do art. 582, 2ª parte, CC). Hipóteses de extinção do Comodato: a) pelo advento do termo convencionado ou, não havendo convenção, pela utilização da coisa ao que se destinava; b) pela resolução, por iniciativa do comodante, em caso de descumprimento, pelo comodatário, de suas obrigações (ex.: uso indevido da coisa); c) por sentença judicial, a pedido do comodante, provada necessidade imprevista e urgente (art. 581, 2ª parte, CC); d) pela morte do comodatário (uma vez que as vantagens oriundas do comodato não se transferem aos seus herdeiros). 2.6.2 DO MÚTUO Conceito: é o empréstimo de coisas fungíveis, pelo qual o mutuário obriga- se a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade (art. 586, CC). Características: a) gratuidade (não há contraprestação); b) tem por objeto coisas fungíveis (o que deve ser restituído é uma outra coisa que não aquela entregue pelo comodante, mas de mesmo gênero, qualidade e quantidade que aquela); c) transfere o domínio da coisa emprestada ao mutuário (art. 587, CC), que pode consumi-la, aliená-la ou até abandoná-la. Classificação: a) real (só se aperfeiçoa com a entrega da coisa); b) gratuito (exceto o mútuo feneratício – empréstimo de dinheiro – previsto no art. 591, CC); c) unilateral (gera obrigações apenas para o mutuário); d) temporário (pois o art. 592 do CC estabelece prazos para o mútuo agrícola – até a próxima colheita, de 30 dias se for de dinheiro, e do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungível – se não houver prazo poderá constituir doação); e) não solene (a lei não exige forma especial para o mútuo). 2.7 DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Arts. 593 a 609, CC Conceito: é toda espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, contratado mediante retribuição (art. 594, CC). Suas regras têm caráter residual, ou seja, aplicam-se somente às relações não regidas pela CLT e pelo Código de Defesa do Consumidor (art. 593, CC). Classificação: a) consensual; b) bilateral (gera obrigações para ambas as partes); c) oneroso (as duas partes tem prestações a cumprir); d) não solene. Prazo: o art. 598 do CC estabelece que o contrato de prestação de serviços não poderá ser convencionado por mais do que 04 (quatro) anos. Se firmado sem prazo determinado, presume-se que seu prazo máximo será este, de forma que dar-se-á por findo o contrato após tal período de tempo. Hipóteses de Resolução: a) pelo escoamento do prazo; b) pela conclusão da obra ou do serviço; c) pela morte de qualquer das partes; d) pela resilição mediante aviso prévio (art. 599, CC); e) pelo inadimplemento de qualquer das partes; f) pela impossibilidade de continuação da prestação por motivo de força maior. 2.8 DA EMPREITADA Arts. 610 a 626, CC Conceito: é o contrato em que uma das partes (o empreiteiro) obriga-se a realizar determinada obra, pessoalmente ou por meio de terceiros, mediante remuneração a ser paga pela outra (o dono da obra), de acordo com as instruções desta e sem relação de subordinação. Classificação: a) consensual (aperfeiçoa-se somente com o acordo de vontades); b) bilateral (gera obrigações para ambas as partes); c) comutativo (cada parte pode antever os ônus e vantagens dela advindos); d) oneroso (ambas as partes obtêm proveito, ao qual corresponde um sacrifício); e) não solene (de forma livre). Espécies de Empreitada: a) empreitada de lavor (quando apenas de mão-de-obra); b) empreitada mista (quando o empreiteiro contribui para o obra com seu trabalho e também com os materiais necessários). 2.9 DO DEPÓSITO Arts. 627 a 652, CC Conceito: é o contrato por meio do qual o uma pessoa (o depositário) recebe um objeto móvel alheio para guardar, com a obrigação de restituí-lo quando o depositante o reclamar (art. 627, CC). Espécies de Depósito: a) voluntário (resulta do acordo de vontades) b) necessário ou obrigatório (quando o depositante não pode escolher livremente a pessoa do depositário, sendo forçado pelas circunstâncias a efetuar o depósito com pessoas cujas virtudes desconhece. Se sub-divide em: legal,
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