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UFTM – Medicina LXXII – Patologia Geral – Marisa Agreli Melo 2013 Alterações Locais da Circulação As alterações locais da circulação têm repercussão sistêmica. 1) Hiperemia Aumento local do fluxo sanguíneo; ou seja, é o aumento da quantidade de sangue no interior dos vasos em determinada parte do organismo. Pode ser classificada em ativa ou passiva. É sempre localizada! A) Ativa Aumento do fluxo sanguíneo local resultante da dilatação arteriolar. A causa é de origem neurogênica ou por mediadores químicos provenientes do endotélio, do sangue e/ou dos tecidos. Pode ser fisiológica, quando há maior demanda; ou patológica, quando está relacionada a inflamações. Consequências e Evolução: Ocorre extravasamento de líquido (edema) e pode haver ruptura dos vasos, gerando hemorragias focais. Morfologia: Ocorre aumento do volume da região, em parte pela hiperemia, em parte pelo edema. O tecido afetado torna-se vermelho (eritema) devido ao congestionamento dos vasos com sangue oxigenado. Há aumento da temperatura local devido à transmissão da temperatura do interior do corpo para a superfície. B) Passiva (Congestão) Processo patológico em que o aumento da resistência pós-capilar causa diminuição do retorno venoso, o que provoca distensão de veias, vênulas e capilares. Pode ser localizada, como no caso de obstrução, compressão ou torção venosa; ou sistêmica, como ocorre na insuficiência cardíaca. Morfologia: Os tecidos com congestão apresentam uma cor que varia do vermelho escuro ao azul (cianose), devido à estase dos glóbulos vermelhos e ao acúmulo de hemoglobina UFTM – Medicina LXXII – Patologia Geral – Marisa Agreli Melo 2013 desoxigenada. Com frequência, a congestão leva ao edema, como resultado do aumento do volume e da pressão. Na congestão passiva crônica de longa duração, a ausência de fluxo sanguíneo causa hipóxia crônica, resultando em lesão tecidual isquêmica e cicatrização. A ruptura dos capilares na congestão crônica pode, também, causar pequenos focos hemorrágicos com subsequente catabolismo de glóbulos vermelhos extravasados, o que pode resultar em pequenos agrupamentos de macrófagos carregados de hemossiderina. Congestão Hepática Fígado Cardíaco: Devido à insuficiência cardíaca, ocorre congestão hepática. Como o coração não é capaz de bombear o sangue adequadamente, este se acumula nas veias centro-lobulares. Características: Aumento do peso e do volume, cor vermelho-azulado, áreas amareladas (esteatose), aspecto em “noz moscada”, hipotrofia de hepatócitos; hemorragia e necrose em casos mais graves. Baço Esclero-Congestivo Baço endurecido (consistência aumentada), aumentado de peso e volume, fibrosado, devido à hipertensão portal. Pode haver focos de hemorragia. OBS.: A hipertensão portal gera congestão no baço porque a veia esplênica é tributária da veia porta. Congestão Renal Rim azulado, avermelhado. Pode ocorrer na insuficiência cardíaca direita. Congestão Pulmonar Geralmente ocorre devido à insuficiência cardíaca esquerda, o que dificulta o retorno do sangue do pulmão para o átrio esquerdo, ficando o sangue acumulado nos pulmões. Pode haver, em consequência, edema pulmonar com dificuldade respiratória, pontos de hemorragia e hemossiderose. UFTM – Medicina LXXII – Patologia Geral – Marisa Agreli Melo 2013 2) Hemorragia Extravasamento de sangue do sistema cardiovascular para compartimentos extravasculares, para cavidades pré-formadas ou para fora do organismo. Evolução: Ocorre lise e fagocitose das hemácias, com liberação de hemoglobina. Desta, extraem-se a porção proteica globina e o grupamento heme. Este último apresenta ferro, que é utilizado na formação do pigmento hemossiderina. O heme é convertido em biliverdina, que é transformada em bilirrubina. As hemorragias podem se classificadas em: por rotura (rexe) e por diapedese ou digestão. A) Hemorragia por Rexe Ocorre ruptura de um vaso, com extravasamento de sangue. As causas podem ser várias, como traumatismo, enfraquecimento da parede vascular ou aumento da pressão sanguínea. No cérebro: Hemorragia extradural ou subdural: Traumatismo é a causa mais comum Hemorragia subaracnóide: Ruptura de aneurisma é a causa mais comum Hemorragia parenquimatosa: Aumento da pressão sanguínea é a causa mais comum B) Hemorragia por Diapedese (Digestão) Extravasamento de hemácias, sem solução de continuidade, devido ao enfraquecimento da parede vascular ou digestão enzimática da mesma. Causas: lesões do próprio vaso (vasculite, hipertensão arterial, aterosclerose) ou lesões das adjacências (tuberculose, úlcera péptica, neoplasias). UFTM – Medicina LXXII – Patologia Geral – Marisa Agreli Melo 2013 Nomenclatura Prefixo “hemo” ou “hemato”, sufixo “ragia” Hematoma: Hemorragia confinada dentro de um tecido Petéquias: Hemorragias minúsculas na pele, nas membranas mucosas ou nas superfícies serosas. Geralmente associadas a aumento local da pressão intravascular ou à diminuição da contagem ou da função plaquetária. Púrpuras: Hemorragias levemente maiores. Equimoses: hematomas subcutâneos maiores Epistaxe: Sangramento nasal Melena: Sangue digerido, enegrecido, proveniente do trato digestório alto Hematúria: Sangue na urina Em cavidades: hemotórax, hemopericárdio, hemoperitônio 3) Hemostasia É a formação de um tampão hemostático no local de uma lesão vascular. Depende da parede vascular, das plaquetas, do sistema fibrinolítico e dos componentes da cascata de coagulação. Após a lesão inicial, existe um curto período de vasoconstricção arteriolar mediada por mecanismos neurogênicos e por fatores de secreção local, como a endotelina (vasoconstrictor potente derivado do endotélio). A lesão endotelial expõe a matriz extracelular subendotelial, que contém colágeno. As plaquetas aderem ao colágeno, formando um agregado plaquetário frouxo. Após a adesão, as plaquetas são ativadas, o que resulta em liberação de seus grânulos. O conteúdo dos grânulos ativa outras plaquetas, age como agregante plaquetário e promove alteração da forma das plaquetas. Com a alteração da forma, são expostos receptores que permitem a ligação do fibrinogênio, o qual faz pontes entre as plaquetas, fortalecendo o coágulo. O colágeno subendotelial e o fator III presente na matriz extracelular ativam, respectivamente, as vias intrínseca e extrínseca da cascata de coagulação. Ambas as vias consistem em uma série de reações químicas que convertem pró-enzimas (zimogênios) em enzimas e ambas culminam em uma via comum, em que protrombina é transformada em trombina e a trombina catalisa a conversão de fibrinogênio em fibrina. As moléculas de fibrina se agregam formando uma rede insolúvel que retém plaquetas, eritrócitos e outros componentes para formar o coágulo. A fibrinólise é o último processo da hemostasia e se resumo à dissolução do coágulo. UFTM – Medicina LXXII – Patologia Geral – Marisa Agreli Melo 2013 4) Trombose É a solidificação do sangue no interior do sistema cardiovascular em um indivíduo vivo. Apresenta as mesmas etapas da hemostasia, exceto a vasoconstricção. Pode ocorrer devido a lesão endotelial, hipercoagulabilidade ou fluxo sanguíneo anormal (estase ou turbulência) Os trombos podem se desenvolver em qualquer parte do sistema cardiovascular (70% dos trombos são formados em veias, 20% ocorrem no coração e 10% em artérias). Com frequência, os trombos apresentam laminações denominadas estrias de Zahn, que representam depósitos pálidos de fibrina e plaquetas, alternando-se com camadas escuras cheias de glóbulos vermelhos. Essas estrias significam que o trombo foi formadono fluxo sanguíneo, e sua presença pode, portanto, distinguir a trombose que ocorre antes da morte do coágulo que ocorre após o óbito. As consequências da trombose dependem do local de formação dos trombos e de serem oclusivos ou não. Pode haver hiperemia passiva (trombo venoso), isquemia, hipotrofia, embolia e necrose coagulativa (infarto). A) Alteração da Parede Vascular/Cardíaca (Lesão Endotelial) A lesão endotelial contribui para a formação de trombos pelo mecanismo exposto acima. No entanto, o endotélio não precisa estar fisicamente rompido para contribuir para o desenvolvimento da trombose. Qualquer alteração no equilíbrio entre as atividades pró- trombóticas e anti-trombóticas das células endoteliais pode influenciar os eventos de coagulação. Exemplos: Placa ateromatosa, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, diabetes mellitus, tabagismo. B) Alteração da Composição Sanguínea (Hipercoagulabilidade) Hipercoagulabilidade é qualquer alteração nas vias da coagulação que predispõe à trombose. Envolve maior viscosidade do sangue (maior hematócrito); deficiência dos fatores inibidores da coagulação; aumento do número de plaquetas (trombocitose); e aumento da função plaquetária. C) Alteração do Fluxo Sanguíneo A turbulência (turbilhonamento) contribui para a trombose por causar lesão endotelial e por alterar o fluxo normal, permitindo que as plaquetas entrem em contato com o endotélio. A turbulência gera, também, locais de estase. Esta é o principal fator no desenvolvimento de trombo venoso. UFTM – Medicina LXXII – Patologia Geral – Marisa Agreli Melo 2013 OBS.: O fluxo sanguíneo normal é laminar, com as plaquetas e as outras células sanguíneas fluido no centro da luz do vaso, separadas do endotélio por uma camada de plasma de movimento mais lento. A estase, ou seja, a redução da velocidade de retorno venoso, também promove ativação endotelial, rompe o fluxo laminar e previne a diluição dos fatores de coagulação pelo fluxo sanguíneo. As placas ateromatosas, além de expor a matriz extracelular, causam turbulência. Os aneurismas causam estase local e turbulência. Classificação dos Trombos Oclusivos (obstruem o vaso) ou Murais (não obstruem o vaso) Sépticos (povoados por fungos, vírus ou bactérias) ou Assépticos (não contaminados) Quando à Constituição Mais fibrina = Hialino Mais plaquetas e fibrina = Branco Mais hemácias e fibrina = Vermelho Hemácias, plaquetas e fibrina = Misto (mais comum) Trombos X Coágulos Trombos Coágulos Aderidos Não aderidos Mais longos (cabeça, corpo e cauda) “Molde” Opacos Brilhantes Secos Úmidos Friáveis Elásticos 5) Embolia É a obstrução vascular provocada por um êmbolo. Êmbolo é qualquer estrutura/corpo não miscível que se desloca pelo sangue e obstrui parcial ou totalmente a corrente sanguínea. Um êmbolo pode ter composição sólida, líquida ou gasosa. UFTM – Medicina LXXII – Patologia Geral – Marisa Agreli Melo 2013 Uma embolia sólida pode ter origem, por exemplo, de um trombo formado nos membros inferiores. O trombo pode se desalojar ou se partir, originando fragmentos (êmbolos), que se deslocam pela corrente sanguínea, podendo obstruir vasos pulmonares, que são mais delgados. Embolia Líquida: Por exemplo, a embolia por líquido amniótico, em que há, no período de parto e pós-parto, infusão de líquido amniótico e/ou tecidos fetais na circulação materna por rompimento das membranas placentárias ou pela ruptura das veias uterinas. Embolia gasosa: Bolhas gasosas dentro da circulação podem coalescer, formando massas espumosas que obstruem o fluxo vascular. Uma forma particular de embolia gasosa, denominada doença da descompressão, ocorre quando indivíduos são expostos a uma diminuição brusca da pressão atmosférica. Estão em risco os mergulhadores, por exemplo. Quando o ar é inalado em alta pressão, quantidades aumentadas de gás são dissolvidas no sangue e nos tecidos. Se o mergulhador sobe muito rapidamente, a solubilidade do gás diminui e formam-se bolhas. Embolia gordurosa: Ocorre em 90% das pessoas com lesões ósseas graves (ossos longos apresentam medula gordurosa). Também pode ocorrer em caso de trauma do tecido adiposo. Embolia linfática: Obstrução de vasos linfáticos, como ocorre, por exemplo, na filariose. 6) Isquemia É a diminuição do fluxo sanguíneo em uma parte do organismo. Etiologia: diminuição da pressão intravascular; alteração da luz vascular (vasoconstricção, espessamento da parede vascular, compressão, bloqueio intraluminal); aumento da viscosidade do sangue; aumento do requerimento sanguíneo Consequências e Evolução: Depende do tipo de órgão (resistência à hipóxia), do tipo de irrigação (dupla, colateral, terminal), do tempo da obstrução (temporária ou persistente), do tipo de obstrução (parcial ou total) Há palidez da área afetada, diminuição do volume e da temperatura, degeneração, hipotrofia e necrose – gangrena UFTM – Medicina LXXII – Patologia Geral – Marisa Agreli Melo 2013 7) Infarto É uma área de necrose coagulativa (isquêmica) que se segue a uma anóxia ou hipóxia devido à interrupção abrupta do fornecimento sanguíneo ou oclusão venosa. Ocorre no paciente vivo. Quase todos os infartos resultam da oclusão arterial trombótica ou embólica. Todo infarto pressupõe necrose coagulativa, mas nem toda necrose coagulativa pressupõe infarto. Classificação Infarto Branco (isquêmico ou anêmico) Não ocorre hemorragia importante ou extensa concomitantemente 99% por tromboembolismo Ocorre em órgãos com circulação única/terminal, como coração, rim, baço e encéfalo Infarto Vermelho (hemorrágico) Ocorre hemorragia importante ou extensa concomitantemente, inundando a área necrosada Ocorre em órgãos com circulação dupla, como pulmão e fígado, e em órgãos com circulação colateral, como o intestino Pode ocorrer em órgãos com circulação única por “invasão” do halo inflamatório hiperêmico hemorrágico ou por reestabelecimento do fluxo sanguíneo (deslocamento ou lise do trombo/êmbolo - medicamento anti-coagulante - , compressão/descompressão do pedículo vascular, ou torção do pedículo) OBS.: Se a oclusão vascular ocorrer brevemente antes da morte do indivíduo, as alterações histológicas podem não ser identificadas, pois o tecido leva de 4 a 12 horas para exibir uma necrose evidente. Evolução Inflamação (formação de halo inflamatório hiperêmico hemorrágico ao redor da área de infarto) e cicatrização (fibrose). No encéfalo, não há cicatrização. Devido à riqueza do tecido nervoso em água e lipídios, ocorre necrose liquefativa.
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