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;C x [^*/rr*- 6 Desenvolvimento da Personalidade A abordagem desenvolvimentista oferece uma perspectiva da teoria da per- sonalidade orientada para o tempo, já que se ocupa das seqüências ou está- gios universais através dos quais a personalidade evolui, a partir de seus primórdios na infância. Primeiramente, as teorias fonnais do desenvolvímento devem ser di- ferenciadas do esforço de identiÍìcar as condiçõgs_-b-!_o-!{-giçps e gqcisj;.qqe inÍuslpi-erlr"*p*d-eq-ç-u:glyut-u-to,,.-façiftïndo-:iêÌardaìdc,-ntàtaatrao ou âis, torcendo o curso "nqpn4l.'. Neste livro, esses aspectos foram discutidos sôA"b fítúlo-de determúáìtes da personalidade (capítulos 2 e 3). Nossa preocupação, no presente capítulo, volta-se exclusivamente para o desen- volvimento formal, isto é, parâ a descrição e catalogação da seqüência de alteraçÕes psicológicas pelas quais tipicamente todas as pessoas passaÍì, na progressão da infância à idade adulta e à vellúce. A perspectiva da teoria forntal do desenvolvimento na psicologia é análoga à da embriologia, que pesquisa os estágios por que passain os em- briões humanos e infra-humanos desde a concepção até o nascirnento. In- vestigando bebês prematuramente nascidos em vários períodos intra-uteri- nos, os embriologistas demonstraríun que o feto humano czuninha através de estágios deÍìnidos em sua resposta à estimulação da face com um pêlo duro ou algum outro objeto (por exemplo, Hooker, 1943). Num estágio muito primitivo, o embrião reage à estimulaçã'o com uma resposta difusa. que abrange todo o corpo. Mais tarde, à medida que se transforma nun.r feto, a resposta se toma cadavez mais diferenciada. Finalmente, quando o feto se aproxima da maturidade integral que antecede o nascimentcì, a resposta se torna altamente locnlizada e específica, isto é, sornente a parte imediata do corpo que é tocada reage à estimulação. O desenvolvimento fetal inclui comprovadamente uma regressão através de certos estágios neu- romusculares. Essa progressão constitui uma lei biológica universal * apli- ca-se a virtualmente todos os casos e também a outras espécies. A tarefa de catalogar e compreender os estágios do desenvolvimento psicológico, é cla- ro, revela-se muito mais complicada do que na ilustração acima, que lida com urna forma de organização neurológica relativamente limitada. Não l'Mnaor*/r*2* àfuL *"A/-"L e)**/ /^zã'Ìt,'/, Eat Z*-l,,arL i e * n )^. g", ?4 Í f)7 desenvalvimento 199198 personalìdade obstante, a ilustração retrata o modo como, na anâltse formal do desenvol- vimento, a atençãô é dirigida para os estágios universais por que passam certas estÍutuÍas e proçesaos, e não para os fatores que respondem pelo desenvolvimento. visto que as estruturas e processos da personalidade_ não podem ser diretamente õbservados, devendo ser inferidos do padrão observado de rea- ção num dado contexto situacional, não surpreende que os estágios do àesenvolvimento da personalidade tenham sido diversamente concebidos por diferentes autorós. Por elggplg,-9{n-igle-úliÃ-e*.-ds-d9.leqyelY"f-n-elt9 osicolóeico. Freud enfaììffiãlevolpgão-dar-p-ulsõe-s-g-d-a-s etaonões, parti' ht"r--frta-a;a;rf ã" o s f iê i'ï!'. e!1o s_ap g 1 _d9_ ü d a- O ut ro s a u to re s. o r i e n - tàiÍõs*Fmãõ-õõ3ênïalVffi ent%*CoIg933g9!,ip-ql lalq11:s-! " PIg dQminante- mçrrË:ffi-_rq9Etjpjde,r-cóint;voiúãqdõsimpulsos-oupa.drões"emoçien'ats. e concentÍaram sgg;at-ençao*qua.ss*inJ.e-ir-am-e-rr-t-a-o-a aognição-o.u p-9$!4Ír-l9n: to a.iaptatïïõïüiòr ainda, õomo Erikson, preservaram a visão básica im- -prieiru neenãüsé de Freud, mas fìzeram modificações (como a ênfase no ãesenvolvimento das relações sociais) e ampliações do esquema até abran- ger períodos posteriores da vida. Algumas das diferenças entre as teonas ão dìsenvolvimento emergem dos fenômenos variáveis do desenvolvimento, enquanto outras dizem re--speito aos períodos da vida que s{o enfatizados. como no caso da descrição e dinâmica da personalidade, nosso breve exalne não poderá cobrir todas as variações teóricas importantes. A compa- ração das diferentes abordagens se reitringirá aqui principalmente a dois dos sistemas de pensamentJmais influentes, quais sejam, o de Freud (in- cluindo algumas adições e modificações feitas por Erikson).e o de Piaget. Um examã de algumas das idéias e pesquisas atuais sobre o desenvolvimen- to da personatidaãe acompanhará nossas discussões teóricas' Pulsões e Emoções: A Teoria Psicossexual de Freud Já mencion'amos o aspecto desenvolyimentista da teoria de Freud, por "*rtrpf", no capítulo â, onde fizemos referência aos tipos de1-ersonalida- de oà1, anal e frflicu. ó l"ito, se recordará de que Freud (I933b'1949) acreditáva que o desenvolvimento da personalidade prosse-gue através de uma série de estágios predeterminadoi e biologicamente. fixos'. cada um caractenzado po, ú-u zona do corpo particularmente sensível ou "erótica"' O foco do prazer t"*"of "o-"ç"ïo ttascimento pela boca-(estágSo ora[)' Ã* á"rú":se' jraduatmente pãra o ânus durante o segundo ano de vida trtt"gi" anat\ ei eventualmente, para a genitâha, por volta do-terceiro ouq"rrio-""o de vida (estágio fitlico). Conquanto essa seqüência d_e desenvol- vimento seja universJ, u".*p.riência afãta sobremodo o resultado final. Por exemplo, como observamos no capítulo 5, o excesso- aç"9-q-t1fi^c-q,ç{9 oU sua falta acentuada podem fazer com que a pessoa ltqye ftxada-ou psi- ;" Ëãâ m Ãr e Dãilïjiáãá. "óôi aïsìiiï "dize r. -ìiüm ïtjsseí prime i ros ê itá gi osíiilrftallslt-r-pat{iqáãá; ËôrqssEf:qi4er; ìiüú.-ittisses" piirleiros estágios psçS$Sj_qflj;_rj9:r-tdjftç"*que" -o- 4,qg.e-g,u-o.ly"-t*ql!o.' p-9$-e,rio1 dq p91so,nali; 'dã!ã;""r.á:ü-r!-:tett-lõ__in ll.,Ja-cüô.,uoa parl! oás"êri-èigias da pessoa será dedicada a prëòôüfaçõõs maíi primitiu"t (como estimular a região oraldediCada a pregçupaçõeS mars pnmltlYas (como eSIunUraI a legla' orar coifr atiiiièntôs,-bëbidãs--etc).-Se_a-fixaÇãò for particularmente gtave, como ocgilg,-pôi éi-e-1npto, Ogüdo à,privaçãc oupun!ção extremas, a pessoa fica- rá iüjêíÍá a distúrbios neuróticos ou psicóticos. Embora cada um dos estágios freudianos acarrete conflitos e dificul- dades para o indivíduo , talvez nada seja tão significativo para a determina- çao d o d e s e nvolvim enio .dÀp€rsonaJldad*e- nnad Ua*q-UanJ o. -o,c om p lexo deÉaipo. Esse problemufpticost";:r-4*$ lgt.a..ciqJr.çnd..Ur-4!ç-p-e-slágio. fálisa e afeti ambos ffiïffifi-t qüe de maneiras diferentes. Em essên- -F cla, o comptexo se refere ao amor da criança pequena pelo genitor de sexo oposto " u *u intensa hostilidade para com o genitor do mesmo sexo. como o leitor poderá lembrar, observúos no capítulo 1 qu", quando Jay (nos- so estudã de caso ilustrativo) era pequena, seu relacionamento com o pai era significativamente mais estreito e satisfatório do que com a mãe - uma manifistação comportamental teoricamente freqüente do complexo de Éaipo. Examinemós esse complexo mais pormenorizadamente, discutindo o pioblema primeiramente no iaso do menino, que é mais simples'^ o primeiro objeto de amor do menino é sua mãe ou alguém que de- sempenhã "rse pupeÍ, e ele busca um acesso total a sua afeição' Essa posse' no ôntanto, è õUitaculizada pela presença rivalizante do pai' O apego do menino à mãe e a competição com o pai constituem o triângulo Íunoroso familiar, ou, dito de outra maneira, o primeiro encontro da criança com aquilo a que lvVhite e watt (1973) chamaram o "eterno triângulo". Freud (1933à) d"t"t.u"u o dilema do menino da seguinte maneira: (...) Quando um menino (a partir dos dois ou três anos de idade) entre na fase fáü- ca de seu desenvolvimento ütidinal, experimenta sensações prazelosas em seu órgão sexual e aprende a bussá-las voluntariamente pela estimulação manual, transforma-se no amaJrte de sua mãe. Deseja possuí-la fisicamente, pelos modos que conjecturou a partir de suas observações e intuições sobrea vida sexual, e tenta seduzi-la mostÍan- ào-he seu órgão masculino, que sente orgulho de possuir' Numa palawa' sua mas- cul-inidade pÍecocemente despertada busca assumir o lugar do pai com a mãe;aüás' o pai teú sìdo até então umìnodelo invejado pelo menino, g1aças àforçafísicaque "ri" p"r""b" nele e à autoridade de que o vê revestido. O pai torna-se então um rival quesecolocanocamhhodofilho,doqualestegostariadeliwar.se.(Citadoem Ivlischel, 1976, P. a3.) A resposta natural do menino a essa situação consiste em desenvolver sen- ümenìos de hostilidade (e ciúme) paia com o pai. Mas o menino também 200 personalidade percebe seu pai, realisticamente, como sendo muito mais forte do que ele e com probabilidade de retaliar os desejos hostis do filho com sua própria hostilidade. A propósito, não é incomum que o apego entre o menino e a mãe seja encarado pelo pai com certo aborrecimento, especialmente quan- do o pai se sente inseguro de seu relacionamento com a esposa. Isso, acres- cido das freqüentes advertências do pai ao filho sobre a masturbação, po- deria acrescentar reaüsmo à impressão de perigo proveniente do pai, expe- rimentada pelo menino. A retúação temida pelo menino edípico foi concebida por Freud como a "castração", isto é, a destruição literal ou simbólica do órgão ofensivo - o pênis - que expressa sua masculinidade. A menina já não possui um pênis, fato esse que o menino acredita ter sido a punição dela por transgressões semelhantes. De qualquer modo, o meni- no vivencia a "ansiedade de castração" proporcionalmente à intensidade de seus anseios sexuais em relação à mãe e a seu grau concomitante de hos- tilidade para com o pai. O problema edípico da menina, muitas vezes designado por comple- xo de Electra, é algo análogo ao do menino. Como no câso deste, o pro- blema se inicia pelo apego à mãe na primeira infância, mas essa ligação estreita deve deslocar-se posteriormente, para o pai. Como e por que ocor- re essa mudança de modo algum está teoricamente claro (ver, por exemplo, Helene Deutsch, 1944, para uma exposição a esse respeito). Quando a me- nina "catexiza" o pai como objeto de amor, passa a enfrentar a compe- tição da mãe de modo paralelo ao caso do menino com o pai. Ela também percebe a ausência do pênis em si mesma, inveja sua posse pelo menino("inveja do pênis") e responsabiiza a mãe por sua perda. (Ampliaremos essa explicação numa seção posterior.) A partir de aproximadamente seis anos de idade até a adolescência, o triângulo amoroso ou romance familiar tende a arrefecer. O que acontece é que, como solução para a tensão insuportável produzida pelo perigo da castração no menino, ou pelas conseqüências de sua ocorrência passada, no caso da menina, os anseios eróticos e hostis do triângulo familiar ficam re- duzidos. A criança entra no que é freqüentemente chamado período de Iatêncio, no qual reprime os sentimentos eróticos em relação ao genitor do sexo oposto. Além disso, pelo mecanismo de "identificação com o agres- sor", a criança assume os valores morais e comportamentais do genitor do mesmo sexo (o que leva à tipiÍicação sexual, cf. capítulo 3). Por exemplo, no caso do menino, a ansiedade de castração é reduzida pela defesa Íepres- siva, pois esta elimina sua consciência dos sentimentos eróticos e hostis; além disso, por tornar-se semelhante ao pai, através da identiÍìcação, con- segue a aprovação dele e, desse modo, nada tem a temer dele. A propósito, pelo fato de as crianças assumirem os valores e outros padrões de seus pais a fim de resolver parcialÍnente seus conflitos nesse ponto, Freud conside- rou o superego como "herdeiro" do complexo de Édlpo - em outras pala- o t)q) lrl o)! qt o .gEï.u q) ! ox(D o- E oC) oE o o)o :tU' .9 CD r(O LU o o) c .fo -oo2 !Fauc5ôoÒ oìe .S t{J a) È a lÌoÈÈr!ò s:ì\5oBxÈ8-Aeu o(J o oì o: o o -õ .3ü co s o 'Èq 3t!c üË PËoì a() o(J desenvolvimento 201 q.)T o .9 (J o f'.r\ o) o E .9 o- oo $";ì5ò> 6La.-\oor bo0io O-ü=Èo o* ^oõcìo .()Ë Ëì :! ^esfj.Jr tuLèc or !o soOE t,H o'; ÓO >oc IO !o9o o- .:lON P= .9 'D -:e(J3- ëc oqiEË ãoÈãX. UJ IL ^ 1. - O o -,-: o > o otr: :: cEro õõi!.Ë'-oEoË-E*!- .o õ i: o " oE '3ERo9.go oo-FccrloËEq!Ë'&$Ë !1.: :'õ o ç;ì ts c X o:O aõ3'Ëã3.s-s =O6-d €.e -.ã .e E o#f oô oõc -of oO,o^ I qlíd oo 9::! n ì5;E n ::ËË :gËHE, ËÈë 3r *; sãÈ ãËE ËE À,Ë =ãE oIG .sE õ!JG oÈ o s€ 3ôcôFs Bo-o:<Eõ .oo(too- 3;,H ç =È E ãO-GEtr!-o ^ o.'3rH E'õ Í\o ô c.= oÕi.;à ç.e Ë'o sÈ € Ë 3 OLõôO-fÈ:oo "9orBE'3 o.9õ .OôCLGF6ÈO 'i oõ(J! o- rÈ -O O.goo 9.- JruO- 'ãoÈt eg^9uG"L O O L'=z o'; õ' .i S9.E ãs o R.E óu:?ô'Ë9PE 9roFO= .5 sõ', ob; .9 .g ,E'P q'Ë OoooG ooc '=! =>o:?c'Í! H .=G ciè E ooo-o ão ^ o: ^FGFrõ õc E oSïç:E +: o g= 6'FôgC.=-=n bpã!t,õoË.ì ìPc -L6oG .2o oE o Ê .f ii .:õds o -ÔlGoOE'3 o -9çBôRoc- <{ trE _5€ ocE oo 'Eo 6dor eOco.9otsE!+lË o= *a'F o oE ,-.oo .=olof-9Ë .99- '-ôL;E :Q8*a^ ; o o-- * n60I d a ã ôE oÈFo õo.R.l9liEe Ë-8É: .rã 9? ó à;'; ,Hdg ËERÉ'3o ü*;G ãË F :'s Ë g -& F ã Eè F Fa Cn è ^+ ê, ,.È€ *Ëe s 2O2 personalidade desenvolvimento 203 yras, o superego começa a desenvolver-se como decorrência da ruta edípicae dos mecanismos, parã enfrentá-la. Um-resumo da seqüência de aconteci-mentos nos complexos de Édipo e de Electra á?;;;;;"d" io quaoro 14.As rutas emocionais do iomance-f"r*il; #ilï;il;enso duranteo período de latência, até a adores"ên.r", quando a irrupção dos anseioseróticos rompe a armadura o.rrnriuu-.-o comprexo de Éãipo ressuÍge empleno ügor. o *qryr_-o*9_Tr"inu ruaio, tg_rgl*;J;";;ï;o desistindod9 genitor aãGx;opõrr" c"*ã;ü91o de amor eirótico e escolhendo umparceiro sexuar fora da famrlia imeoütá. o r*r-",ï';""ilï ficam entãolivre s para esr a bere cer "-i';ã;lìã;; iãti"ur- aïã' ã ;úï;;'il sexo op ostoe, ao fazê-lo, pasl:un, para o estâgio geniml maorio-Jo-àJsinvotvimentopsicossexual, que incluì a- capacidíd" ã" "-rr genuinamente e de trabalharde maneira produtiva e eficaz- somente os indúíduo, n"uJo, p"*anecem " e mp e rr a d o s " n um n íve I p ré -g à il ;1, -; õ" " Ë ;;,-;ï ;ïïï; i. Relacíonamentos Sociais: As Contribuições de Eriksonpara a Teoria psicossexual de Freud Embora Erik Erikson (1g59,1g63) tenha a-dotado alguns dos pressupostosfreudianos fundamentais sobre " á.r"nuoiui-;rr;-à'ü;;tdidade (por f]-emnlg,^estágios que se desdobram n,rma seqriencia invariável), fez diver-sas modificações dignas de nota. Duas deras i""ru"À-ÁJ;;;;;r" que a deFreud no interjogJdo cont"rú ,o;J;r* os estágios biorógicos e umaampliação dos estágios, de cinco t".ãi, "àJ, rãli;;ï;;;;;"gLnitar; paraoito. Examinemos rapidamente esìas Juas contriUuições: 1. Erikson friso.u que cada estágio (ou ,,idade,,) psicossexual tem seumodo caracter ístico de i nteração r"""ú i.'eo, _"""-pto,;;;;;;rs bio rógi-cos vinculados ao estágio primitivo orar consistem em estimurar a membra_na mucosa da boca com arimentos e outros objetos revados até a cavídade lji]:l"rt".o"r-fud9, "revar para d"ntro'l I a modaridade básíca das reraçõestnterpessoais. A mãe -r"**ú_ i1"f,:ïiïlï:ffïrr"J;?$-:* S.:p"ql"l"t d" qu,e e p .n.o.me,io."para a provísãp do sus_tento necessário. "u qqgs_qg!Ë.-!_ã-ó."* ...r_ese_o-nde às necessidades da crian_ _ -çì:- D u- ni odõï e rn e iE a n it, nï*t4 io ; ;; i*ì;-# ;;;;;; ;"ï: co nt ro I a re disciplinar o funcionamento iãt"riinrí e outras atividades da criança.Desenvolve-se" uma luta interpesrout Àiuìiu, a ,,desprender-se,, (das fezes)versus "agarrar-se", ruta essa que é importante para o desenvorvimento psi-cológico do traço de a.utonomia na personalidade, em contraste com ostraços de vergonha e dúvida. Erikson escreve da seguinte maneira sobreessa ínterpenetração do bíológico " Oo ,o"iàt, A maturâção musculia.rpÍepara o terreno para a experimentâçâo com dois conjuntos simultâneos de modalidades sociais: agíÌrrâr-se e desprender-se, como ocorÍe com to- das essas modalidades, seus conflitos básicos podem levar, por Íìm, a expectativas e atitudes hostis ou afáveis. Assim, agarrar pode tornar-se uma retençâo ou refreamen- to destrutivo e cruel, ou pode tornar-se um padrão de cuidado:ter e preservar. Tam- bém o desprendimento pode converter-se numa liberação hostil de ÍbÍças destrutivas, ou üansformar-se numa atitude relaxada de "deixar correr" ou ,.deixar ser', (1963,p.2st). Em resumo, Erikson traça um paralelo entre as atitudes sociais ou interpessoais e os processos biológicos requeridos nos diferentes estágios psicossexuais, para apontar païa a interdependência de ambos. o estilo básico de resposta é determinado pelo processo biológico característico de cada estágio em particular, sendo sua expressão física e social influenciada, além üsso, pelas circunstâncias interpessoais em que se acha a criança. Em sua análise, Erikson apontou múto mais do què Freud para os aspec- tos interpessoais de cada estágio psicossexual. (Na verdade, Eiikson se iefe- re aos estágios do desenvolvimento como sendo de natureza ,'psicossocial',, e não psicossexual, o que reflete sua crença na impoúância clos aspectos interpessoais.) 2' Ao ampliar os estágios do desenvorvimento da personaridaoe\ EJtf3l-*_l9"tg-e'1rrn"*c!*e:c-illetr!-o*,ptigglg_-s,t-c_g Lig1Íjc-alyg ?o-l9ls9 oe tooo / o*gf-!_o_y-i$"lr.-9,-!{,g-_gpelg._s-_{!tp_t!-,e_ o_s primeiros cinco ou seis ânos, cômof suìteniãüa Fieud. Õãoã estágio condui a p".só. ãtrâüãs de'uma nova cri-1, se ou conflito, que precisa ser satisfatoriamente resolvido puru qru o"o.r.' o progresso bem-sucedido para o estágio seguinte. cada crise, como mostra / o quadro 15, tem um aspecto positivo e um aspecto negativo (por exem-{plo, confiança básica versus desconfÍança), e o desenvolvimento ideal exigei maior incorporação dos aspectos positivos dos conflitos. o quadro xsi, esclarece os estágios de Erikson e mostra como se relacionam com o de-l senvolvimento dos vários componentes da personalidade. Talvez o acréscimo mais famoso na ampliação eriksoniana da teoria psicossexual se expresse nos termos "identidáde egóica" - o resultado da luta da puberdade para resolver o complexo de Édipo do estágio fálico freudiano. Ao discutir a crise entre identidade e confusão de papéis, Erik- son (1968) escreve: A adolescência é o último estágio da infância. o processo adolescente, contud.o, só é completamente concluído quando o indivíduo subordina suas identificações infantis a uma nova espdcie de idenüficação, conseguida através da absorção da sociabilidade e do aprendizado competitivo com e entre seus pÍÌÌes de igual faixa etária. Essas novas identificações já nâo se caracterìzam pela atitude brincalhona da infância e pelo delei- 2O4 personalidade te experimental com a juventude: com terrr'vel urgéncia, elas forçam o indivrduo jo- vem a escolhas e decisões que, com premência cad,avez maior, levam a compromis- sos "por toda a vida". A tarefa a ser executadâ nesse momento pela pessoa jovem e desenvalvìmento 205 Ouadro 15 (cont.) O Êxito Traz O Fracasso Traz Ouadro 15 As Oito Etapas do Desenvolvimento do Ego Segundo Erikson* 59 Etapa Puberdade e Adolescência(cercade 12a2Oanos) O Êxito Traz O Fracasso Traz ldentidade do Ego Perspectiva temporal Seguro de s; mesmo Experimentador de papéis Aprendizado Polarização sexual Liderança ou capacidade de seguir o I íder Compromisso ideológico. Confusão de Papéis ConÍusão temporal lnseguro de si mesmo Fixação aos papéis Paralisia no trabalho Confusão bissexual Confusâo de autoridade Confusão de valores. 19 Etapa Primeira lnfância(nascimento até aproximadamente um anol(corolário do estágio sensorial oral de Freud) Confiança Básica versus Desconfiança Resultado da afeição e gratificação das Resurtado de maus-tratos sistemáticos, necessidades, reconhecimento mútuo. negrigência e privação oe amoi; desmame excessivamente precoce ou abrupto, iso_ lamento autista. 4? Etapa Meados da Meninice(cerca de seis a sete anosl(corolário do estágio de latência de Freud) lndústría versus lnferioridade A criança tem um senso de dever e reari- Hábitos precários de trabarho; evita a zaçâ'o, desenvolve competência escolar e competição intensa, s"nt"-rá fadada à social, empreende tarefas reais, coloca a mediocridade; calmaria que anteced€ asfantasia e o brinquedo numa perspectiva tormentas da puberdade; pode confor- melhor, aprende a conhecer o mundo das mar-se num comportamento escravizado;ferramentas e a identiÍicação de tarefas. sentimento de futilidade. il 69 Etapa lnÍcio da ldade Adulta -ld.! 29 Etapa Segunda lnfiância (cerca de um a três anos)(corolárío do estágio muscular anal de Freudl Autonomia versus Vergonha e Dúvida 33 Etapa Começo da Meninice (cororário(:ï::,:;,:ï::Tff ï"à'"X?,ï,o"Freudl lniciativa versus Culpa lmaginação viva, testagem vigorosa da Falta de espontaneidade, ciúme infantil, realídade, imitaçâo dos adultos. antecí- "complexo de castração,,; desconfiado,pação de papéis. evasivo; iníbição de papéis.' lntimidade Capacidade de comprometer-se com os outros, possibilidade de "genitalidade verdadeira", Lieben und Arbeiten - "amar e trabalhar"; "mutualidade do or- gasmo genital". velsus lsolamento Evita a intimidade; "problemas de cará- ter"; comportamento promíscuo; repu- dia, isola e destrói as forças aparente- mente perigosas. A criança se vê como uma pessoa indivi- A criança se sente inadequada, duvida dedualizada, separada de seus pais mas ain- si mesma, reduz a aprendizagem de âpti-da dependente' g:,ï"r.i::i:."ru;"""ffi::tr, procura 79 Etapa Meados da ldade Adulta versus EstagnaçãoGeneratìvidade Produtivo e criativo para si mesmo e para os outros; orgulho e prazer parentais; maduro, enriquece a vida, introduz e orienta a geração seguinte. Egocéntrico, improdutivo; invalidade pre- coce, excesso de amor por si mesmo, em- pobrecimento pessoal. auto-indulgência. 89 Etapa Final da ldade Adulta I ntegridade Aprecia a continuidade entre passado, presente e futuro; aceitação do ciclo da vida e do estilo de vida; o indivíduo aprendeu a cooperar com as inevitabilida- des da vida; "estado ou qualidade de ser completo, não dividido ou não Íraciona- do; inteireza" (Webster's Dictionaryl i "a morte perde seu caráter doloroso". versus Desespero O tempo é cuno demais; não encontra signiÍicado na existéncia humana, per- deu a fé em si mesmo e nos outros, de- seja uma segunda oportunidade no ciclo da vida, com maiores vantagens; ausén- cia de sentimento de ordem no mundo ou de um sentido espiritual; "medo da morte". * "As Oito Etapas do Desenvolvimento do Ego no Homem segundo Erikson,,(pp. 578-580), extraÍdo de Ledford J. Bisci-rof, lnterpreting personatity Theory, 29 ed., Copyright @ 1964, 1970 de Ledford S. BischoÍ. Com permissão de Harper & Row Publishers, lnc. personalidade poÍ sua sociedade é estupenda. Ela eúge, nos diferentes indivíduos e nas diferentes sociedades, grandes variações quanto à duração, intensidade e ritualização da adoles- côncia. As sociedades oferecem, conforme as necessidades dos indivíduos, períodos intermediários mais ou menos sancionados entre a infância e a idade adulta, freqüen- temente caracterizados por uma combinação de imaturidade prolongada e precocida- de provocada. 1p. 155) Ao enfatizar o esforço do indivíduo para descobrir seu próprio lugar no mundo e descobrir com sucesso sua própria natuÍeza singulai, isto ã, con- seguir a identidade do ego, Erikson sublinha o período do final da adoles- cência e início da idade adulta mais do que Freud. Kenneth Kenniston(1965,1968), um dos autores mais signifiCativos que escrevem sobre a ge- ração mais jovem de indivíduos que protestam contra o social, e que foi muito influenciadopor Erikson, refere-se a um novo estágio de 'Juìentu- de" em que as relações entre o próprio indivíduo " o mundo constituem a preocupação fundamental do adulto jovem, às voltas com sistemas políti- cos e sociais que amiúde lhe parecem estranhos. Poderíamos também notar que boa parte do interesse atual de profissionais e leigos no desenvolvi- mento adulto, envelhecimento e morte (temas que iremos abordar em bre- ve) decorre dos pontos de vista de Erikson sobre o desenvolvimento am- pliado da personalidade. g Controvérsia e os Estágios Psicossexuais A teoria psicossexual teve uma enorÍne influcncià no pensamento psicoló- gico, particularmente na psicologia clínica, em que muitas formas de psi- copatologia foram vistas como baseadas em perturbações no desenvolü- mento psicossexual. As anáüses antropológicas e sociológicas foram também amplamente influenciadas por essa teoria. Por exemplo, o exÍune das prá- ticas de desmame e treino de controle esfincteriano em diferentes cultúras e subculturas inspirou-se no interesse pelas premissas da teoria psicossexual de Freud. Estudam-se as variações dessas práticas para determinar sua in- fluência na personalidade típica encontrada numa dada cultura. Não há parte da teoria freudiana que seja mais controvertida do que a concepção do desenvolvimento psicossexual e a idéia correlata de sexuali-' dade infantil. Embora todos concordem em que as experiências do início da infância são de importância vital para o desenvolvimento da personalidade, muitos autores (por exemplo, Horney, 1937) questionaram a ênfase freu- diana quase exclusiva nos impulsos sexuais. os estágios do desenvolvimen- to psicossexual foram ústos por Freud como reflexos de uma lei biológica universal. Ele prestou pouca atenção à maneira como a cultura poderia haver contribuído para cada estágio. Na verdade, por essas e outras;razões, desenvolvímento 207 muitos psicólogos e feministas vêm atualmente atacando a teoria freudianapor degradar as mulheres e retratá-las como o "segundo sexo',. Algumas dessas críticas são indubitavelmente justifìcadas; ou-tras parecem basear-se de modo algo injusto em aspectos isôhdos da tóoria freudiana (por exem- p.lo, a inveja do pênis), sem a devida consid.eração para com a toialidade do sistema teórico ou o clima social da época de Fr"ua 1.r. Mitchell, lg74b).Examinemos um pouco mais detalhadamente argumas dessas questões. A partir de nossa discussão anterior sobre o estágio fá-lico, o leitorpoderá lembrar'se de 9u9, uma vez que a menina observa-as diferenças ana-tômicas entre sua genitrília e a dos meninos, sente que lhe falta algt varo- so. Esse sentimento se intensiÍìca e se manifesta no ciúme e, eventuímente, na inveja do pênis. A menina sente raiva de sua condição Ííti"r " vê a mãe como causadora dela. Numa atitude de desafio e etpêrunça de obter ump€nis ou um substituto dele, a menina se volta para o pai. oüserve-se que as meninas não temem a castração da rqesma forma qur ós meninos, pois acre-ditam que ela já ocorreu e, portanto, é um fató da vida. Embora Freud acreditasse que a Íìmeaça de castração punha Íim ao complexo edípico masculino, pensou que a constatação de uma..deficiência eenìtal" realmen-te iniciava ou estimulava o complexo de Édipo femininõ. como afirmou Freud (1974a) sobre a menina: (...) Ela reconhece o fato de sua castração e, com ele, também a superioridade dohomem e sua própria inferioriclade; entretânto, rebela-se contrâ esse estado de coisas indesejado. A partir dessa atitude diúdida abrem-se três cursos de desenvolvimento. o primeiro leva a unr recuo geral em relação à sexuaüdade. A menina, amed.rontadapela comparação com os meninos, fica insatisfeitâ com seu clitóris e desiste de sua atividade fálica e, com ela, de sua sexualidade em geral e de boa parte de sua mas- culinidade em outros cÍunpos. o segundo curso leva-a " up*g*-r" com desaÍìadora auto-ahrmação à masculinidade ameaçada. Até um estágio incrivelmente tardio ela se prende à esperança de conseguü um pênis em algum momento. Essa esperança se transforma no objetivo de sua vida, e a fantasia de ser homem, a despeito de tudo o mais, freqüentemente persiste como fator formativo através de períodãs prolongados. Esse "complexo de masculinidade" nas mulheres também pode resultar numa escolha de objeto homossexual manifesta. Somente se seu desenvolyimento seguir o lerceiro caminho, que é muito sinuoso, cheganí a menina a atingir a atitude feminina normal lìnal, em que toma o pai como seu objeto e, desse modo, encontra seu Íumo paÍa aforma feminina do complexo de Édipo. Assim, nas mulheres, o complexo oe Éaipo é o produto Íìnal de um desenvolvirnento bastante prolongado. Ele não é destruído, mas sim criado por inÍluência da castração... (p. 43). -. uma conseqüência interessante dessa falta do medo da castração nas mulheres é o desenvolvimento do superego. o leitor poderá .r"ord'u, qr. o superego foi considerado por Freud'como uma decãrrência do conflito edípico. Numa tentativa de enfrentar as ansiedades associadas ao complexo de Édipo, a criança utiliza mecanismos inconscientes que a ajudam a recal- 208 personalidade car ou afastar da consciência o romance familiar. Um desses mecanismos, a identificação, conduz à incorporação dos valores e padrões do genitor do mesmo sexo (e também da sociedade) e, dessa forma, contribui Para o desenvolvimento do superego. Mas o que acontece ao superego quando as ansiedades e conflitos não são excessivamente intensos, como no caso da múher (lembre-se de que ela não tem ansiedade de castração)? Um resul- tado óbvio seria a resõluçao incompleta do complexo de Édipo, isto é, a menina nâ'o o leva a um término definitivo e, conseqüentemente, seu supe- rego não é altamente desenvolvido. Freud afirma: (...) Na ausência do medo da castração, falta o motivo principal que leva os meninos a superarem o complexo de Édipo. As meninas permanecem nele por um pelíodo indeterminado de tempo; mais tarde, vêm a demoli-lo e, ainda assim, de maneira in- completa. Nessas circunstâncias, a formação do superego necessariamente sofre; ele não consegue atingir a força e independência que lhe conferem seu signiÍìcado cultu- ral, e as feministas não ficam satisfeitas quando lhes apontamos os efeitos desse fator sobre o caríter feminino médio. (1974ò, p. 88)(...) Não posso fugir à idéia (embora hesite em expresú-la) de que, nas mulhe- res, o nível do que é eticamente normal difere daquilo que se vê nos homens. Seu superego nunca é tão inexorável, tão impessoal e tão independente de suas origens emocionais quanto exigimos que seja no homem. Os traços de caráter que os críti- cos de todas as épocas levantaram contra as mulheres - o fato de exibirem menor senso de justiça do que os homens, estarem menos prontas a submeter-se às grandes exigências da üda e serem mais freqüentemente inJluenciadas em seus julgamentos por senümentos de afeição ou hostilidade - todos eles seriam amplamente explicados pela modifÌcação na formação de seu supeÍego, que inferimos acíma (1974c,p.25). Quais são as provas, se é que existem' que apóiam a caracteúzação freudiana do desenvolvimento psicológico feminino? O leitor poderá recor' dar-se, conforÍne o capítulo l, de que Freud baseou amaioria de seus pon- tos de vista teóricos em suas observações de pacientes em psicanálise - uma estratégia idiográÍìca baseada em estudos de caso (ver, por exemplo, os artigos sobre Dora, 1905, e o Pequeno Hans, 1933a). Obviamente, essas observãções podem sofrer mútas fontes de tendertciosidade potencial (Lie- bert e Spiegler, 1974). Por exemplo, os pacientes de Freud provavelmente não eram representativos da população geral e seus comportamentos no divã (associações, lembranças etc.) não seriam típicos de seu comporta- mento global. Ademais, as observações podem ter sido tendenciosas em funçâ'o ãas próprias expectativas e hipóteses de Freud. Numa reüsão das pesquisasempíricas sobre o complexo de Édipo feminino e sua resolução, Shetm"n (1971) concluiu que há poucas provas:(a) de que ainveja do pê' nis desempenhe um papel crucial no desenvolyimento da mulher normal;(b) de qrrË o "o*pleio'de Éaipo feminino exista; ou (c) de que as mulhe- i"i ten6-u- um superego mais fraco do que os homens. Por exemplo, Sher- marÌ observa: desenvolvimento As mulheres mostÍam um superego mais forte, no sentido de terem menor número de comportamentos que transgridam as leis, maior conformismo, código moral mais restrito, ficarem mais perturbadas pelos desvios e anteciparem a punição de uma fon- te intema e não externa. As mulheres tendem também a julgar mais severamente as violações sociais (1971, p. 88). Margaret Mead (1974) e outros observaram também que, em algumas cul- turas, os meninos exibem uma inveja considerável da anatomia feminina e das funções de parturição. Até mesmo a crença de Freud de que os orgas- mos vaginais e clitorianos são diferentes e que os primeiros são preferidos pela mulher psicologicamente madura têm sido questionados pelas pesqui- sas recentes sobre o sexo. Em outros termos, Freud achava que o clitóris se equacionava com o pênis e que a menina se transformaria numa mulher mais completa ao renunciar a essa fonte de pÍazeÍ e deslocar seus desejos para a vagina mais "passiva". No processo, encontraria eventualmente um "substituto do pênis", isto é, tendo uma Íìlha ou, preferivelmente, um fi- lho (1974b, p. 87). Masters e Johnson (1966), entretanto, descobriram que os orgasmos clitorianos e vaginais não se distinguem e que não existe nada que se possa chamar de orgasmo vaginal sem orgasmo clitoriano. To- da a área genital está envolvida no orgasmo feminino, independentemente de onde possa ocorïer, de início, a estimulação. Que depreender então das visões de Freud sobre o desenvolvimento psicossexual em geral e o desenvolvimento psicológico feminino em parti- cular? Como vimos, os escritos de Freud certamente não são elogiosos para com a "personalidade feminina", podem ser criticadps como chauvinistas, parecem mais preocupados com as influências biológicas do comportamen- to (por exemplo, diferenças anatômicas) do que com as influências sociais e são extremamente difíceis de validar do ponto de vista empírico. Se não aceitarmos seus pressupostos teóricos básicos, tais como a sexuúdade in- fantil e o inconsciente, os demaìs conceitos (como a ansiedade de castração e a inveja do pênis) tornam-se cômicos e "ideologicamente perigosos" (Mit- chell,l974b). A despeito de todas as suas falhas, as visões de Freud sobre o desen- volvimento da personalidade realmente fornecem um arcabouço conceitual importante para a compreensão do modo como a sociedade molda e influ- encia nossos comportamentos e identidade sexual (ver também capítulo 3). Se quisermos examinar a visão de Freud,no contexto de sua época e como algo simbólica, ela nos oferecerá unia compreensâ'o significativa sobre o modo como os meninos e meninas incorporam os padrões e valores de uma sociedade patriarcal (dominada pelo pai) e, por sua vez, transmitem-nas a seus Íilhos (cf. Mitchell , 1974a). Por exemplo, Freud referiu-se muitas ve- zes ao "fato da castração" nas meninas (como anteriormente citado neste capítulo) e, não obstante, nenhuma mulher é jamais literalmente castrada. 209 { q I 1 i Aquilo a que talvez ele se estivesse referindo - e isso é uma especulação - era a constatação, pela menina, de que lhe faltavam muitos dos privilégios sociais concedidos aos homens em nossa sociedade. Janeway (1974) assim escreveu sobre essa possibilidade : (...) Nenhuma mulher foi privada do pênis; pÍua começar, ela nunca o possuiu. Ela íoi, eÍil:elarrto, privada de algo mais, de que os homens desfrutam, isto é, da autono- mia, liberdade e poder de conbolâr seu destino. Ao insistir falsamente na privação feminina do órgão masculino, Freud estava apontando paxa uma privação real' de que tinha plena consciência. Na época de Freud" as vantagens desfrutadas pelo sexo mas- culino em rclação ao sexo feminino inferior eram, eúdentemente, ainda maiores do que são hoje em dia, e etam também aceitas, em medida muito maíor, como sendo inevitáveis - algo de que não se poderia escapnÍ. As mulheres eram castradas sociais óbvias e a mutilação de sua potencialidade como criaturas humanas capazes de rca\- zação era bastante arráloga ao ferimento físico... (p. 58). O debate acereà da teoria psícossexual de Freud tende a continuaÍ por algum tempo e, com grande probabilidade, o me$no devetâ acontecer com as acusações de chauvinismo. Embora nossa sociedade seja ainda do- minada pelo homem (mesmo que isso pareça estar-$e modificando, ainda que lentaÍnente), e emboÍa as opiniões de Freud sobre as mulheres possam ter contribuído, em pequena escala, pÍya perpetuat essa supremacia mas- culina, sua posição controvertida deve ser avaliada, como todas as posições teóricas, em teÍrnos de sua utiüdade çientíftca Paia gerar pÍevisões sobÍe eventos verificáveis (Hall e Lindzey, 1978). Ao concluirmos esta seção, caberia assinalaÍ que Freud freqüente- mente reviu suas opiniões sobre o desenvolvimento psicossexual feminíno e nunca ficou inteirament€ satisfeito com sua compÍeensão sobre esse tóPi- co. Ao término de uma palestÍa sobre as mulheÍes, ele comentgu, em certa ocasião: lsso é tudo que lhes tinha a dizer sobre a feminilidade. Ê certamente incompleto e fragmentário e nem sempÍe soa amistoso. (.,.) Se og senhores desejarem Saber mais so- brc a feminilidade, índaguem a padA de suas próprías experiências de vida, ou Íecor- ram aos poetas, ou aguardem até que a c1êng6 lhes possa dar ínformações mais pro- fundas e maie coerentes (Freud, l974b,p:93).
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