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Disciplina: Sociologia
e Meio Ambiente
Edição de unidade 5
Ano 2023
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Camilo Sobreira de Santana 
Universidade Federal do Amazonas Reitor
Sylvio Mário Puga Ferreira
Vice-Vice-Reitora
Therezinha de Jesus Pinto Fraxe
Pró-Reitor de Ensino de Graduação
David Lopes Neto
Pró-Reitor de Extensão e Interiorização
Almir Oliveira de Menezes
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação
Selma Suely BaSelma Suely Baçal de Oliveira
Pró-Reitora de Planejamento e Desenvolvimento Instucional
Kleomara Gomes Cerquinho
Pró-Reitor de Administração e Finanças
Raimundo Nonato Pinheiro de Almeida
Pró-Reitora de Gestão de Pessoas
Maria Vanusa do Socorro de Souza Firmo
DiDiretora da Fundação de Apoio Instucional FAEPI
Luana Marinho Monteiro
Diretor do Centro de Educação a Distância
João Víctor Figueiredo Cardoso Rodrigues
Disciplina: Sociologia e Meio Ambiente
Edição do Reuni Digital
Copyright © 2023 Universidade Federal do Amazonas
Centro de Educação a Distância - CED
 
Editor
(nome)(nome)
Autora
Cloves Farias Pereira
Revisora de área
Selma Maria Silva do Nascimento
Revisão de linguagem EaD e Normazação
Eduardo de Castro Gomes
PProjeto Gráfico
Yuri Eduardo Barros Cardoso
Esta obra foi publicada com o apoio do:
Ministério da Educação
Endereço para Correspondência:
Av. Gal. Rodrigo Octávio, n.º 3000 - Coroado I, Campus Universitário,
Setor Sul, Bloco N Manaus - AM, CEP: 69077-000
Universidade Federal do Amazonas
Pró-Reitoria de Ensino de Graduação.
Centro de Educação a Distância.
E-book, para material didáco do
ensino da Graduação do Curso de Tecnologia
em Gestão Ambiental, 2023.
17 p.; 21cm X 29.7cmcm.17 p.; 21cm X 29.7cmcm.
ISSN XXXX-XXX-XXXX
1. Educação a Distância, material didáco.
2. E-book, Disciplina: Sociologia e Meio Ambiente
CDU XXXX-XXXX
Sumário
Introdução - apresentação do material..............................................3
Unidade 5 Teoria da Modernização ecológica
5.2 Teoria da Modernização ecológica....................................................4
5.3 Capitalismo Sustentável é possível?..................................................8
5.4 Teoria da Modernização ecológica: a abordagem de 
mercado...............................................................................................11
5.5 Crícas à teoria da modernização ecológica...................................23
Referências......................................................................................28
Introdução - apresentação do material
 Nesta unidade, você terá a oportunidade de explorar a Teoria da Modernização Ecológica (TME), 
um novo conceito que ofereceu contribuições teóricas para a Sociologia e Meio Ambiente. Esta unidade 
foi desenvolvida com base nas contribuições de Lenzi (2006), Hannigan (2009), Milanez (2009) e Olivieri 
(2012).
 No contexto das ciências sociais, parcularmente na Sociologia Ambiental, a TME passou a 
desempenhar um papel fundamental ao avaliar a maneira pela qual países, regiões e setores produvos 
estão desenvolvendo uma nova fase do capitalismo industrial.
 Ao término desta seção, será esperado que você tenha compreendido que a perspecva da Teoria 
da Modernização Ecológica implica na visão de que empresas e tecnologia desempenham um papel 
central como agentes de transformação, com foco principal nas mudanças ocorridas dentro do 
mercado. Em uma escala mais abrangente, essa abordagem incorpora os princípios de mercado como 
guias para moldar as polícas ambientais.
 Recomenda-se que você reserve um período para estudar, pois será necessário
aproximadamente 60 minutos para ler todo o conteúdo desta unidade. Planejar um
momemomento adequado para absorver o material permirá que você aproveite ao máximo
o conteúdo disponível.
Boa leitura!
3
Unidade 5: Teoria da Modernização ecológica
5.2 Modernização ecológica e desenvolvimento sustentável
Vamos agora falar sobre a jornada em direção ao desenvolvimento sustentável.
Algumas vezes, isso é chamado de capitalismo sustentável, capitalismo verde ou
ecocapitalismo. Trata-se de uma abordagem dentro do sistema capitalista que busca
equilibrar a produção e a exploração da natureza de forma mais consciente,
incorporando os princípios da ecologia aos princípios fundamentais da economia de
mercado. É uma tentativa de tornar o capitalismo mais sustentável.
Essa faceta do sistema capitalista procura combinar a produção e a exploração
da natureza de maneira mais cautelosa, incorporando os princípios da ecologia aos
fundamentos da economia de mercado (Aquino; Cenci, 2019).
Conforme foi discutido na Unidade 3, a conscientização sobre as preocupações
ambientais ganhou proeminência com o advento do movimento ambientalista na
década de 1970. Um marco fundamental nesse contexto é o livro Primavera Silenciosa,
de Rachel Carson, que evidenciou os danos infligidos ao ecossistema devido à
utilização indiscriminada de pesticidas na agricultura, levando ao envenenamento de
pássaros, peixes e pessoas pela penetração de pesticidas nos ecossistemas.
O despertar ambiental, conforme descrito por Platiau et al. (2005), é um marco
significativo na história da conscientização global sobre questões ambientais. Esse
período, que abrangeu as décadas de 1950 e 1960, testemunhou a formação de um
comitê, composto por cientistas, humanistas, industriais e outros atores relevantes. O
objetivo desse comitê era discutir os desafios e o futuro da espécie humana diante das
crescentes preocupações ambientais.
Desse encontro de diálogo e reflexão resultou na criação do Clube de Roma,
uma organização que desempenhou um papel crucial na conscientização sobre as
questões ambientais emergentes. Um dos produtos mais conhecidos desse esforço foi
o relatório intitulado Os Limites do Crescimento. Nesse documento, procurou-se
demonstrar de maneira clara e convincente a inviabilidade do modelo de crescimento
industrial então predominante. O relatório sinaliza a inviabilidade do crescimento
econômico devido ao esgotamento dos recursos naturais, introduzindo a ideia de um
4
crescimento econômico zero. Deste modo, a preservação ambiental e o crescimento
econômico passaram a ser percebidos como conceitos conflitantes.
Você sabe que o problema ambiental está cada vez mais em evidência, e isso se
deve principalmente à mobilização dos grupos ambientalistas.
Ao longo dos anos esses grupos têm realmente desempenhado um papel
importante em conscientizar as pessoas sobre a ameaça iminente que o capitalismo
industrial representa para o nosso planeta.
Esse cenário foi desencadeado pelo acentuado crescimento econômico da
atividade industrial, pela expansão das áreas urbanas, pelo aumento da renda e pelo
consequente aumento do consumo.
Assim, é de suma importância discernir entre crescimento econômico e
desenvolvimento econômico.
O crescimento econômico, isoladamente, não garante automaticamente
igualdade ou justiça social, pois foca apenas o acúmulo de riqueza, sem abarcar outras
dimensões da qualidade de vida. Em contrapartida, o desenvolvimento econômico se
concentra na geração de riqueza, porém, sua ênfase reside na distribuição equitativa
da riqueza, melhorando a qualidade de vida de toda a população. Isso inclui a
consideração pela qualidade ambiental do planeta, levando em conta a
sustentabilidade a longo prazo.
Faça uma releitura das suas anotações da Unidade 4 e perceba que as economias de
mercado baseadas no crescimento econômico tinham levado ao surgimento da
sociedade de risco, com uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a
capacidade de suporte dos ecossistemas.
Apesar dos bons propósitos do Clube de Roma, os problemas ambientais se
agravaram, levando a Organização das Nações Unidas (ONU) a realizar a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e os Direitos Humanos em Estocolmo, em
1972.
Na década de 1980, surgiu a ideia de abordar as soluções para os problemas
ambientais de forma antecipada e preventiva. Em 1983,a ONU estabeleceu a Comissão
5
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento1, que foi presidida pela
primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Durante esse período, foram
realizadas reuniões públicas tanto em países desenvolvidos quanto em
desenvolvimento, superando a resistência dos proprietários de capital em relação à
proposta do Clube de Roma, que diz respeito ao crescimento econômico zero.
A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento permitiu que
diversos segmentos da sociedade industrial expressassem suas perspectivas sobre
temas como agricultura, silvicultura, água, energia, transferência de tecnologia em
geral. O resultado dessas análises foi apresentado no Relatório Brundtland2, também
conhecido como Nosso Futuro Comum.
Segundo o Relatório Nosso Futuro Comum, uma série de medidas deveriam ser
tomadas pelos países para promover o desenvolvimento sustentável. Entre elas:
● Limitação do crescimento populacional;
● Garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo;
● Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
● Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso
de fontes energéticas renováveis;
● Aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em
tecnologias ecologicamente adaptadas;
● Controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades
menores;
● Atendimento o das necessidades básicas (saúde, escola, moradia).
Uma leitura mais atenta do Relatório Nosso Futuro Comum mostra que ele
tinha como objetivo a sustentação do sistema capitalista, que estava em crise, depois
do pós-guerra.
A resposta do Relatório Nosso Futuro Comum foi dar continuidade ao modelo
de desenvolvimento capitalista, mas agora, baseado na ideia de desenvolvimento
2 Maiores informações sobre o Relatório Brundtland. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Relat%C3%B3rio_Brundtland
1 Maiores informações sobre a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível
em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Comiss%C3%A3o_Mundial_sobre_Meio_Ambiente_e_Desenvolvimento
6
sustentável. Abrindo um novo campo de possibilidade que incorpora no sistema de
consumo de massa a preocupação com a natureza.
Se você realizar uma leitura no capítulo sobre desenvolvimento sustentável do
Relatório Nosso Futuro Comum, você vai perceber duas coisas que prevalecem:
1) crescimento econômico e;
2) inovação tecnológica.
E você sabe o que quer dizer isso na prática?
Isso significa que o capitalismo vai crescer ainda mais, adicionando novas
tecnologias aos processos produtivos e ambientais.
O Relatório Nosso Futuro Comum representa um ponto de partida para uma
resposta à sociedade de crise, buscando conciliar desenvolvimento econômico,
preservação ambiental e justiça social.
A Teoria da Modernização Ecológica (TME) do capitalismo global está, em
grande medida, em consonância com os princípios destacados no Relatório Nosso
Futuro Comum. Isso ocorre porque as principais instituições econômicas dentro das
economias de mercado passaram a admitir a existência da crise ambiental e a apontar
que a solução para enfrentá-la estaria no mercado, na inovação tecnológica e no
consenso político. Como destaca Hannigan (2009, p. 47), “a modernização ecológica
como desenvolvimento sustentável indica a possibilidade de transpor a crise ambiental
sem deixar o caminho da modernização”.
A TME defende a conciliação entre o desenvolvimento econômico e a proteção
ambiental.
E como isso pode ser feito?
Bom, essa abordagem propõe adotar práticas de produção mais limpas, usar
tecnologias ecologicamente conscientes e incluir a mercantilização da natureza nas
estratégias das economias de mercado.
Mas o que é Mercantilização da natureza? O que isso significa?
Significa adotar ferramentas financeiras, como a Redução de Emissões por
Desmatamento e Degradação florestal (REDD), mercado de carbono, bolsa verde e
governança ambiental e social (ESG), atribuindo um preço aos serviços ambientais,
ecossistêmicos ou naturais que a natureza fornece aos seres humanos.
7
Nessa lógica, enquadram-se o que vem sendo chamado de Pagamento por
Serviços Ambientais (PSA). Por um lado, encontramos grupos de povos indígenas,
comunidades tradicionais e agricultores familiares que desempenham um papel
fundamental na conservação de florestas localizadas em unidades de conservação e
terras indígenas. Por outro lado, temos compradores que valorizam esses serviços
ambientais, pagando ou compensando esses grupos pela disponibilidade e qualidade
desses serviços.
O exemplo da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) no Amazonas é um caso de
como os serviços ambientais prestados por comunidades tradicionais que habitam
unidades de conservação podem ser valorizados. A FAS atua como intermediadora na
venda desses serviços ambientais para fundos e empresas internacionais, criando
assim na prática um pagamento anual de R$ 1.000,00 por família pelo seu papel na
conservação das florestas e na manutenção da biodiversidade3.
5.3 Capitalismo Sustentável é possível?
Você já ouviu falar em ESG? A sigla vem do termo em inglês Environmental,
Social and Governance - ou, em português, referindo-se a Ambiental, Social e
Governança. Vamos iniciar com uma pesquisa na internet sobre iniciativas de ESG no
Brasil?
Perceba que a abordagem do mercado financeiro está mudando. Antes de
seguir principalmente para resultados financeiros, agora as empresas estão focadas na
responsabilidade socioambiental, com investimentos que levam em consideração a
estratégia ESG, que considera questões ambientais, sociais e de governança nas
operações e tomadas de decisão das empresas.
Nos dias de hoje, os desafios competitivos nos mercados e a necessidade de
garantir o bem-estar contínuo ao planeta estão gerando grandes mudanças no
desenvolvimento econômico, levando em conta preocupações ambientais e sociais.
Essas mudanças consideram a maneira como os meios de produção impactam o
ambiente e como as soluções tecnológicas são desenvolvidas e como a inovação é
incentivada.
3 Maiores informações sobre o Programa Bolsa Floresta. Disponível em:
https://fas-amazonia.org/transparencia/programa-bolsa-floresta/
8
Há aumento substancial de empresas que estão implementando projetos de
sustentabilidade e, como resultado, estão sendo contempladas com o selo ESG.
As empresas que recebem o selo ESG são reconhecidas por adotar práticas
sustentáveis e responsáveis em suas operações. Esse selo confere uma série de
vantagens estratégicas para essas empresas. Em primeiro lugar, ele amplia a
credibilidade da marca, estabelecendo-a como um líder comprometido com questões
ambientais, sociais e de governança.
Além disso, o selo ESG torna mais fácil atrair recursos financeiros, uma vez que
investidores e financiadores estão cada vez mais interessados em empresas que se
alinham com princípios sustentáveis. Essa credibilidade pode resultar em acesso mais
amplo a financiamento e investimentos.
Outro benefício notável é o reforço das vantagens competitivas. Empresas com
o selo ESG muitas vezes se destacam no mercado, atraindo consumidores conscientes
que valorizam a responsabilidade corporativa. Isso pode levar a um aumento nas
vendas e na participação de mercado.
Por último, mas não menos importante, o selo ESG tende a impulsionar o valor
de mercado das empresas. À medida que a conscientização ambiental e social cresce,
investidores e acionistas estão dispostos a pagar mais por ações de empresas que
demonstram compromisso com práticas sustentáveis. Portanto, o selo ESG contribui
para o crescimento do valor das ações e, consequentemente, para o sucesso financeiro
das empresas contempladas com ele.
A Natura, por exemplo, optou por usar plástico feito de cana-de-açúcar nas
embalagens dos seus xampus. Além disso, eles doaram US$ 1 milhão para ajudar
mulheres que sofreram violência doméstica durante o período de isolamento social. O
Bradesco,outra empresa que se beneficia do selo, garante que toda a energia que
consome vem de fontes renováveis. Eles também investem na educação das crianças e
estão colaborando com o Itaú em um projeto de proteção para a Amazônia. A Renner
definiu um objetivo importante como comprar apenas algodão que venha de lugares
certificados, ou seja, de fazendas que seguem leis ambientais e trabalhistas. A Vivo e o
Cielo, ambas as empresas criaram programas para retirar e descartar corretamente o
lixo eletrônico, como celulares e maquininhas de cartões antigos4.
4 A mão invisível do ESG. Disponível em: https://vocesa.abril.com.br/especiais/a-mao-invisivel-do-esg
9
Além disso, empresas identificaram oportunidades de lucratividade para
investidores na sociedade de risco. Na notícia publicada pela Revista Forbes (Figura 31),
destaca que inundações causadas por chuvas intensas, secas, ondas de calor e frio
extremo, não apenas resultam em tragédias humanas e ambientais, mas também têm
impactos climáticos. Tais eventos podem causar danos substanciais em setores
importantes como agricultura, pesca, mineração, silvicultura e produção de energia.
Apesar das consequências negativas em termos de perdas humanas, essas tragédias
podem gerar oportunidades para empresas investidoras.
Figura 31. ESG como oportunidades para empresas investidoras.
Fonte: Santos, 2023.5
De acordo com um estudo realizado em 2020 pelo banco de investimento
americano Morgan Stanley, os eventos climáticos extremos causaram perdas de R$ 650
bilhões (ou R$ 3,1 trilhões) para a economia global entre 2017 e 2019. No Brasil, os
eventos climáticos resultaram em perdas médias de US$ 2,6 bilhões (ou R$ 13 bilhões)
por ano.
5 Santos, Poliana. Investir em ESG, ou como lucrar com eventos climáticos que levam a perdas de R$ 650
bi. Forbes, 17 ago 2023. Disponível em:
https://forbes.com.br/forbes-money/2023/08/como-ganhar-dinheiro-com-o-incendio-na-casa-do-vizinh
o/. Acesso em: 03 set. 2023.
10
Diante das oportunidades existentes nos impactos ambientais, empresas que
adotam a estratégia ESG têm um papel crucial na redução de riscos e na exploração de
oportunidades de crescimento. Essas estratégias têm o potencial de aumentar os
lucros das empresas. Como resultado, essas empresas que investem em ESG podem
oferecer recompensas atraentes para os investidores.
Há uma abordagem sociológica que considera que desenvolvimento econômico
e questão ambiental são interdependentes. Essa abordagem diz respeito à Teoria da
Modernização Ecológica (TME), que busca mudar a maneira como enxergamos a
relação entre economia e ecologia. Nesse sentido, a iniciativa ESG faz parte da
abordagem TME, ao contribuir com o equilíbrio entre desenvolvimento econômico e
questão ambiental, argumentando que esses dois objetivos podem coexistir
harmoniosamente através de profundas mudanças na sociedade industrial capitalista.
5.4 Teoria da Modernização ecológica: a abordagem de mercado
Hannigan (2009, p. 47) sugere que a Teoria da Modernização Ecológica (TME)
teve suas raízes nos estudos do sociólogo alemão Joseph Huber no início dos anos de
1980. Huber enfatizou que a modernização ecológica representa uma etapa do
desenvolvimento da sociedade industrial, caracterizada por:
Etapa 1: a descoberta industrial;
Etapa 2: a construção da sociedade industrial; e,
Etapa 3: a mudança ecológica do sistema industrial através do processo de
“superindustrialização”.
Olivieri (2009, apud Huber, 1986) argumenta que a ideia central da Teoria da
Modernização Ecológica (TME) é ressaltar que as sociedades industriais estão
dominadas pela predominância da tecno-esfera (sistema industrial e mercado) sobre a
socio-esfera (mundo da vida) e eco-esfera (natureza).
Josep Huber interpreta os problemas ambientais como defeitos ou falhas no
modo como o sistema capitalista foi construído. Ele acredita que é possível superar
esses problemas através de uma reestruturação das instituições fundamentais do
sistema capitalista. Huber sugere que podemos resolver esses desafios modificando as
bases da forma como a sociedade e a economia funcionam, de modo a corrigir as
11
falhas e melhorar a relação entre as pessoas, a tecnologia e o ambiente (OLIVIERI,
2009).
Lenzi (2006) afirma que a abordagem de mercado da TME enfoca os aspectos
econômicos, empresariais e tecnológicos como agentes de mudanças e pressupõe que
os empresários e as empresas desempenham um papel fundamental na condução
dessas transformações. Além disso, essa abordagem também sugere que as políticas
ambientais podem ser guiadas pelos preceitos do mercado. Isso pode significar que as
empresas são incentivadas a adotar práticas ambientalmente sustentáveis quando
essas práticas se tornam economicamente vantajosas devido a incentivos,
regulamentações ou preferências dos consumidores.
A TME propõe que as empresas e o Estado podem ser ajustados para incorporar
a dimensão ambiental. Um dos métodos sugeridos pela TME é a internalização das
externalidades negativas (ver Box I) nos processos de produção e consumo, ou seja,
incorporar os custos ambientais antes não contabilizados nos processos produtivos.
Isso pode ser alcançado através da abordagem de economização da ecologia.
Box 1
Externalidades
Em economia, externalidades ou exterioridades são os efeitos colaterais de uma decisão sobre
aqueles que não participaram dela. Existe uma externalidade quando há consequências para terceiros
que não são levadas em conta por quem toma a decisão.
Geralmente, refere-se à produção ou consumo de bens ou serviços sobre terceiros, que não estão
diretamente envolvidos com a atividade. Ela pode ter natureza negativa, quando gera custos para os
demais agentes (poluição atmosférica, de recursos hídricos, poluição sonora, sinistralidade
rodoviária, congestionamento, etc.), ou natureza positiva, quando os demais agentes,
involuntariamente, se beneficiam (por exemplo, investimentos privados em infra-estrutura e
tecnologia, ou investigação).
O conceito de externalidade foi desenvolvido pela primeira vez pelo economista Arthur Pigou na
década de 192. O exemplo prototípico de uma externalidade negativa é a poluição ambiental. Pigou
argumentou que um imposto (mais tarde denominado "imposto pigouviano") sobre as externalidades
negativas poderia ser usado para reduzir sua incidência a um nível eficiente. Pensadores
subsequentes debateram sobre se é preferível tributar ou regular as externalidades negativas,[5] qual
o nível otimamente eficiente da tributação pigouviana e quais fatores causam ou exacerbam as
externalidades negativas, e como fornecer aos investidores em corporações responsabilidade limitada
para danos cometidos pela corporação.
(...)
Normalmente, autores defendem que cabe ao Estado criar ou estimular a instalação de atividades
que constituam externalidades positivas (como a educação ou investigação), e impedir ou inibir a
geração de externalidades negativas. Isto pode ser feito através de instrumentos tais
como taxação e sanções legais ou, inversamente, renúncia fiscal e concessão de subsídios conforme o
caso.
12
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Externalidades
A TME propõe a ambientalização dos processos econômicos de várias
instituições, como companhias de seguros, instituições de crédito, consumidores
industriais, organizações de certificação e associações industriais. Essas instituições
podem desempenhar um papel fundamental ao incentivar e promover práticas mais
sustentáveis, criando assim uma relação mais harmoniosa entre a economia e o
ambiente.
Tomamos como exemplo a indústria de celulose e papel brasileira, com muitas
empresas em vários lugares do país. Para as empresas deste setor, a ambientalização se
apresenta a partir da demanda cada vez maior por soluções ESG.
Um exemplo é a empresa CMPC Brasil (https://cmpcbrasil.com.br/), segundo
notícia publicada no Jornal Valor Econômico (Figura 32).
Figura 32. Indústria de papel e celulose e ESG.
Fonte: Valor Econômico, 2023.6
6 Falconi.Indústria brasileira de papel e celulose é modelo na adoção de práticas esg. Valor Econômico,
2023. Disponível em:
https://valor.globo.com/conteudo-de-marca/falconi-consultoria/gestao-resultados/noticia/2023/01/16/i
13
A empresa tem um projeto de ESG chamado “BioCMPC" que conserva de 41%
de áreas nativas. A empresa utiliza os resíduos que sobram da produção e as
transformam em 13 novos produtos para o mercado. Além disso, cerca de 85% da
energia necessária para a produção da celulose é gerada pela própria empresa, a partir
da biomassa. E a água que a empresa usa vem de um lago e, depois de sua utilização, é
devolvida com melhores índices de pureza.
Nesse sentido, a TME é um conceito que diz que o sistema capitalista pode
produzir de forma sustentável. Como acontece com a empresa CMPC Brasil que usa
novas tecnologias no seu processo produtivo mais alinhada ao ambiente, como usar
energia limpa em vez de poluir o ar e a água.
Milanez (2009), complementa ainda que a TME envolve diversas áreas de
conhecimento, tais como sociologia, ciência política, engenharia e economia. Este
autor aponta quatro pressupostos centrais dessa teoria:
1) confiança no desenvolvimento científico e tecnológico como principal
estratégia para solucionar problemas ambientais;
2) desenvolvimento de soluções preventivas para os problemas ambientais;
3) possibilidade de se alcançar, simultaneamente, objetivos ambientais e
econômicos; e
4) tomada de decisão baseada no envolvimento direto e cooperativo dos
grupos interessados.
Segundo a abordagem TME, a tecnologia representa uma abordagem mais
eficaz para os desafios do capitalismo responsável. Na Holanda, por exemplo, a
indústria Holandesa do passado causou considerável degradação ambiental, mas
agora, com a pressão dos consumidores as empresas adotam medidas verdes com a
introdução de novas tecnologias e novos instrumentos cooperativos, tais como
relatórios ambientais anuais, auditorias ambientais e sistemas de certificação
ambiental.
A estratégia é tornar os processos produtivos mais eficientes, não só porque é
bom para a economia, mas também para o ambiente. Olhando para como produzimos
ndustria-brasileira-de-celulose-e-papel-e-modelo-na-adocao-de-praticas-esg.ghtml. Acesso em 03 out.
2023.
14
as mercadorias (é daí que veio a ideia da modernização ecológica), ser mais eficiente
significaria usar menos recursos naturais e gastar menos recursos financeiros para
corrigir danos ao ambiente. Com isso em mente, os estudiosos que apoiam a
modernização ecológica acreditam que é possível a implementação de propostas que
ao mesmo tempo trariam simultaneamente benefícios ambientais e econômicos.
Milenez (2009) afirma que apesar de muitos brasileiros estarem conscientes
sobre questões ambientais, essa conscientização ainda não é forte o suficiente para
fazer com que mudem seus comportamentos diários. Isso acontece porque a maneira
como a sociedade enxerga o meio ambiente ainda é vista como algo separado das
atividades do dia a dia.
No Brasil, podemos observar sinais iniciais de mudança social em direção ao
capitalismo sustentável. Há cerca de dez anos, a empresa Braskem
(www.braskem.com.br) deu um passo pioneiro ao introduzir o primeiro plástico verde
em escala industrial, marcando o início da linha de produtos denominados I'm green
(Figura 33). Essa iniciativa não apenas consagrou a Braskem como líder global no
mercado de bioplásticos, mas também refletiu seu compromisso com a
sustentabilidade. Através da evolução dos biopolímeros e da promoção da economia
circular, a empresa encabeçou a produção de resinas termoplásticas nas Américas,
alinhando-se com práticas de ESG e estabelecendo metas ambiciosas, como a
neutralização das emissões de CO2 da planta industrial até 2050.
15
Figura 33. Embalagens de produtos I´m green.
Fonte: Cosmetic Innovation, 2020.7
A inclusão do I'm green em embalagens e a adoção de materiais recicláveis têm
um efeito poderoso nas escolhas dos consumidores. Eles não apenas indicam um
compromisso com a redução do impacto ambiental, mas também incentivam a
consciência ambiental entre os compradores, levando-os a preferir produtos que
estejam com seus valores. Essa abordagem mostra como a conscientização pode ser
impulsionada através do mercado, influenciando as decisões de compra e, por sua vez,
induzindo a demanda por práticas mais atraentes.
Além disso, a educação tem se mostrado uma via valiosa para a promoção da
mudança social. Os jogos de tabuleiro, por exemplo, oferecem uma forma interativa e
envolvente de transmitir conceitos de sustentabilidade, aumentando a compreensão e
a empatia em relação a questões ambientais. Essa abordagem lúdica pode catalisar a
adoção de práticas mais conscientes não apenas entre os jogadores, mas também em
suas redes sociais e comunidades, gerando um efeito cascata de mudança de
mentalidade e comportamento.
7 Janaina. Bioplástico da Braskem é reconhecido como caso transformador no Brasil pela ONU. Cosmetic
Innovation. Disponível em: https://cosmeticinnovation.com.br/tag/im-green/. Acesso em 03 out. 2023.
16
Você conhece o jogo de tabuleiro Banco Imobiliário?
Se ainda não teve oportunidade de conhecer, vale a pena jogar. Trata-se de um
jogo bem popular e clássico do mundo, e é conhecido por sua abordagem que simula o
mundo dos negócios e do investimento imobiliário. No jogo, os jogadores competem
para comprar, vender e alugar propriedades, coletando aluguéis e construindo seu
patrimônio. O objetivo final é acumular a maior fortuna possível, enquanto evita a
falência.
O Banco Imobiliário reflete um contexto capitalista, onde o sucesso é medido
em termos de riqueza acumulada e propriedades adquiridas. Os jogadores interagem
com um mercado simulado, tomando decisões de investimento estratégicas para
maximizar seus ganhos e minimizar suas perdas. O jogo também envolve negociação e
estratégia, à medida que os jogadores buscam obter o controle de grupos de
propriedades para aumentar o valor dos aluguéis.
Em 2008, surgiu uma colaboração entre as empresas brasileiras Estrela e
Braskem, originou a versão Banco Imobiliário Sustentável (Figura 34). Este jogo foi o
primeiro brinquedo confeccionado com polietileno verde (I'm green). Ao contrário do
objetivo econômico do jogo original, esta versão tem como propósito a conscientização
sobre a sustentabilidade.
A dinâmica do jogo está intrinsecamente ligada à temática da sustentabilidade,
abordando questões fundamentais de proteção ambiental, coleta seletiva e
responsabilidade social. Nesse contexto, em vez de utilizar o dinheiro convencional,
cada jogador utiliza créditos de carbono como moeda para adquirir propriedades.
17
Figura 34. Banco Imobiliário Sustentável.
Fonte: Ecografismo, 2013.8
As tradicionais empresas de transporte foram substituídas por entidades como
a Companhia de Reciclagem Energética, Companhia de Reflorestamento, de Agricultura
Orgânica e de Reciclagem Mecânica. Até as cartas de Sorte ou Revés seguem essa
abordagem temática, apresentando situações como "sua empresa foi multada por
poluir" como revés, ou "você protegeu suas terras do desmatamento e lucrou com o
turismo ecológico" como sorte. Isso transforma o jogo em uma ferramenta educativa
que promove uma conscientização sobre práticas de consumo de forma interativa.
A abordagem da TME levanta uma questão importante sobre como as políticas
ambientais são feitas. Ela diz que não devem ser apenas especialistas técnicos a
formulá-las. Pelo contrário, argumentam que pessoas que trabalham em empresas e
também em movimentos sociais têm conhecimento valioso sobre os problemas e
8 Ecografismo. Banco Imobiliário Sustentável. 2013. Disponível em:
https://ecografismo.wordpress.com/2013/02/20/banco-imobiliario-sustentavel/. Acesso em 05 out.
2023.
18
maneiras de resolver questões ambientais. Por isso, elas devem participar na criação,
implementação e monitoramento das políticas públicas que o governo faz sobre o meioambiente.
Podemos tomar como exemplo, os encontros Diálogos Amazônicos (Figura 35),
que ocorreu no período de 4 a 6 de agosto de 2023, em Belém, no estado do Pará. Este
encontro reuniu uma variedade de participantes, incluindo indígenas, ribeirinhos,
quilombolas, artesãos, ativistas ambientais, acadêmicos, entidades da sociedade civil e
governos municipal, estadual e federal.
Figura 35. Plenárias e discussões sobre o futuro da Amazônia nos Diálogos Amazônicos.
Fonte: Brasil, 2023.9
O propósito central dessas discussões foi abordar o futuro da floresta
amazônica a partir de uma perspectiva de desenvolvimento sustentável, que
valorizasse a inclusão social e respondesse à urgência climática imposta pelo
aquecimento global no cenário global.
Sob a coordenação da Secretaria Geral da Presidência da República, os
"Diálogos Amazônicos" foram organizados com o intuito de gerar sugestões e
proposições para os chefes de Estado e de governo, bem como os representantes dos
15 países que participaram da Cúpula da Amazônia. Esta cúpula atraiu líderes
9 Brasil. Presidência da República. Gov.Br. Diálogos Amazônicos evidenciam importância de participação
social. 2023. Disponível em: Diálogos Amazônicos evidenciam importância de participação social —
Secretaria-Geral (www.gov.br). Acesso em: 05 out. 2023.
19
governamentais tanto da América do Sul quanto de outras regiões do mundo, incluindo
a Europa, África, Ásia e o Caribe. Neste contexto, os "Diálogos Amazônicos"
desempenharam um papel essencial como plataforma prévia de discussão e
formulação de abordagens sustentáveis para a preservação e desenvolvimento da
Amazônia, diante dos desafios atuais e futuros.
Segundo Milanez (2009), a TME não é a favor de políticas ambientais muito
rígidas, onde o governo diz exatamente o que as empresas devem fazer. Isso porque
essa proteção pode impedir a criação de novas maneiras de resolver problemas
ambientais. Essa abordagem acredita que é importante ter flexibilidade e permitir
diferentes estratégias para lidar com as questões do meio ambiente.
Para compreender isso, vamos tomar como exemplo, o caso da Prefeitura de
Maringá, que impulsionou o desenvolvimento sustentável da cidade com o Selo Ipê
(Figura 36).
Figura 36. Selo Ipê premia boas práticas sociais e ambientais de empresas.
Fonte: Paraná Portal, Arquivo PMM, 2023.10
A prefeitura reconheceu que as empresas da cidade promovem a consciência
ambiental, de acordo com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da
Organização das Nações Unidas (ONU). Os gestores municipais acreditam que a cidade
precisa se desenvolver economicamente para geração de empregos e impostos. No
10 Paraná Portal. UOL. Arquivo PMM, 2023. Disponível em
https://paranaportal.uol.com.br/maringa-e-regiao/inscricoes-para-selo-ipe-seguem-abertas-ate-setembr
o. Acesso em: 08 out. 2023.
20
entanto, é fundamental que esse crescimento seja aliado à sustentabilidade para
promoção da qualidade de vida e tragam benefícios para as empresas e para a
comunidade.
O exemplo da Prefeitura de Maringá e sua iniciativa com o Selo Ipê é um
excelente exemplo de como as empresas saem de uma postura de reação passiva, de
simplesmente obedecer às regulações ambientais existentes, para incorporar uma
atuação mais ampla e responsável ambientalmente, que podem ser combinados para
criar um ambiente que beneficia tanto as empresas quanto a comunidade local.
A abordagem adotada pela prefeitura demonstra um entendimento de que o
desenvolvimento econômico não precisa aumentar o impacto ambiental. Pelo
contrário, quando as empresas operam de maneira ambientalmente responsável e
contribuem para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, isso não
apenas preserva o meio ambiente, mas também pode trazer vantagens competitivas e
melhorias na imagem das empresas.
Ao incentivar empresas a adotar práticas sustentáveis e reconhecê-las através
do Selo Ipê, a prefeitura de Maringá está promovendo um ambiente onde objetivos
econômicos e ecológicos são estimulados. Isso pode impulsionar a criação de novos
produtos e serviços, estimular a eficiência energética, reduzir o desperdício de recursos
e, em última instância, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
Além disso, ao considerar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU
como referência, a prefeitura está alinhando suas metas com um conjunto global de
objetivos que visam não apenas o crescimento econômico, mas também a justiça
social, a igualdade e a preservação do meio ambiente.
Essa abordagem também demonstra uma compreensão da importância da
parceria entre o setor público e o setor privado para promover mudanças positivas na
comunidade. Ao incentivar as empresas a adotar práticas sustentáveis, a prefeitura
está não apenas beneficiando a cidade em termos de desenvolvimento sustentável,
mas também criando um ambiente onde a colaboração entre os setores pode
prosperar.
Nesse contexto, a função do Estado se configura, delegando determinadas
tarefas, obrigações e estímulos do domínio governamental para o mercado. Isso
sinaliza uma transformação na qual as empresas avançam de uma postura passiva e
21
reativa, meramente aderindo às regulamentações ambientais vigentes, para incorporar
uma postura mais ampla e responsável nesse campo (Lenzi,2006).
Essa mudança implica em uma abordagem mais colaborativa entre o governo e
o mercado, onde o Estado ainda desempenha um papel regulador e de supervisão, mas
também cria incentivos para que as partes interessadas adotem medidas pró-ativas e
preventivas em relação ao meio ambiente. Isso é essencial para alcançar uma eficiência
ambiental duradoura e sustentável (Milanez, 2009).
Essa visão da TME se concentra em criar novas tecnologias ambientais e
encontrar processos de produção mais limpos e menos dependentes de recursos
naturais. Milanez afirma que essa abordagem não considera a redução do consumismo
como uma estratégia viável para mitigar problemas ambientais (pois essa abordagem
não traz benefícios econômicos). Segundo este autor, a inovação ambiental é
fundamental para mudar a maneira como produzimos, onde o sistema de ciência e
tecnologia pode identificar os problemas ambientais e trabalhar junto com empresas e
o governo para criar novas soluções tecnológicas.
Conforme destaca Lenzi (2006) muitas empresas melhoraram seu quadro de
eficiência ambiental e reduziram os impactos causados sobre o meio ambiente, com a
criação de processos de produção mais saudáveis em termos ambientais. A TME toma
como bons exemplos, o sistema de certificação IS0-14001, que confere um selo de
qualidade ambiental às empresas que ajustam seu processo produtivo de modo a
manter a qualidade ambiental.
Na região amazônica, destaca-se o exemplo da Usina Hidrelétrica de Coaracy
Nunes, situada no Amapá, que ostenta a certificação NBR ISO 14001. Segundo
informações da Eletronorte, essa certificação avalia minuciosamente os procedimentos
da unidade, concentrando-se na conformidade com as diretrizes normativas, com o
objetivo de minimizar os efeitos adversos ao meio ambiente, aprimorar a eficácia
operacional e fomentar a sustentabilidade.
22
Figura 37. Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes, situada no Amapá.
Fonte: Eletronorte/Divulgação, G1, 2017.11
https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/operando-ha-40-anos-no-ap-usina-coaracy-nu
nes-devera-ser-privatizada.ghtml
5.5 Críticas à teoria da modernização ecológica
Segundo Olivieri (2012), a abordagem TME construiu um conjunto de princípios
teóricos fundamentados em análises empíricas conduzidas em nações europeias,
pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
cujos padrões de vida se destacam da maioria das nações globais, revelando assim uma
orientação de natureza eurocêntrica.
De acordo com Hannigan (2009), a abordagem TME é considerada apropriada
para nações como Holanda e Alemanha, nos quais os conceitos centrais foram
originados e desenvolvidos. No entanto,essa abordagem parece menos aplicável para
11 Figueiredo, Fabiana. Operando há 40 anos no AP, Usina Coaracy Nunes deverá ser privatizada. G1
Amapá. Disponível em: Operando há 40 anos no AP, Usina Coaracy Nunes deverá ser privatizada |
Amapá | G1 (globo.com). Acesso em 10 out. 2023.
23
descrever a realidade ambiental nos Estados Unidos e em nações em desenvolvimento,
e especialmente em países mais pobres.
Conforme apontado por Lenzi (2006, p. 121-122), a abordagem TME tem
predominantemente vinculações com nações capitalista mais desenvolvidas, devido à
necessidade de cumprir os seguintes critérios para sua implementação:
● Um sistema político aberto e democrático;
● Um Estado intervencionista e legítimo com uma Infraestrutura diferenciada e
avançada;
● Consciência ambiental ampla e organizações ambientais bem organizadas
(ONGs), que tenham recursos para impelir a uma mudança ecológica radical;
● Organizações de negócios capazes de representar produtores em negociações
numa base regional e setorial;
● Experiência e tradição com sistemas de tornada de decisão negociada;
● Um sistema detalhado de monitoração ambiental que gera dados ambientais
públicos, confiáveis e satisfatórios;
● Uma economia de mercado regulada pelo Estado, que controla o processo de
produção e consumo;
● Desenvolvimento tecnológico avançado.
Milanez (2009 apud Cohen, 1997) sugere que nas formas tradicionais de
desenvolvimento, o crescimento econômico e a poluição estão fortemente ligados, ou
seja, à medida que a economia cresce, os problemas ambientais também aumentam
na mesma proporção. No entanto, segundo o autor, quando as sociedades adotam a
modernização ecológica, essa ligação não é mais tão constante. Nesse cenário, a
economia pode se desenvolver de maneira mais rápida do que os impactos ambientais.
No contexto brasileiro, observa-se que o país ainda não atingiu o nível proposto
pelos teóricos da TME em termos de inovação tecnológica voltada para o ambiente. O
desafio para o Brasil reside em desenvolver tecnologias que não apenas reduzam a
pressão sobre os recursos naturais, mas também promovam a distribuição de renda e
contribuam para a diminuição das desigualdades sociais e ambientais presentes no
modelo atualmente adotado.
Os dados atuais do Brasil não mostram uma clara separação entre o
crescimento econômico e os impactos ambientais. As informações disponíveis indicam
24
que o país está focando na produção de bens que utilizam muitos recursos naturais.
Especialmente no caso da energia, onde temos mais informações disponíveis, o
desempenho do Brasil tem piorado de forma considerável.
Hannigan (2009) argumenta que, ao contrário, as empresas que implementam
melhorias ecológicas geralmente o fazem apenas em resposta à pressão regulatória
direta do Estado ou à influência das ações do movimento social. Além disso, ele sugere
que essas melhorias muitas vezes não são óbvias, sendo obtidas por meio de práticas
de relatórios enganosos.
Milenez (2009) corrobora o argumento de Hannigan (2009), segundo ela,
apesar dos avanços, as empresas ainda estão trabalhando mais para promover suas
imagens ambientais por meio de estratégias de marketing (Greenwashing) do que em
realmente diminuir os seus impactos ambientais. Isso sugere que, apesar do crescente
interesse em produtos ecologicamente conscientes, persiste uma discrepância entre o
quanto as pessoas sabem sobre questões ambientais e quanto realmente agem de
maneira sustentável, tanto no nível pessoal quanto nas empresas.
Milanez (2009) concorda com o argumento de Hannigan (2009) e, de acordo
com ela, apesar dos progressos realizados, as empresas ainda estão mais focadas em
promover suas imagens ambientais por meio de estratégias de marketing do que em
reduzir seus impactos ambientais. Isso indica que, apesar do aumento do interesse em
produtos ecologicamente conscientes, ainda persiste uma discrepância entre o
conhecimento das questões ambientais e a eficácia da adoção de práticas sustentáveis,
tanto no âmbito pessoal quanto empresarial.
A TME busca adotar uma posição equilibrada entre os ambientalistas
catastróficos, que afirmam que somente a desindustrialização pode evitar um desastre
ambiental iminente, e os defensores do capitalismo que preferem a abordagem do
negócio à moda tradicional. No entanto, a TME é criticada por ser limitada por um
otimismo tecnológico excessivo, pois propõe que a solução seja a transição da
sociedade industrial poluente do passado para uma futura era superindustrializada,
subestimando a capacidade da tecnologia de resolver os problemas ambientais
(Hannigan, 2009).
Por fim, caro estudante, é importante destacar que a Teoria da Modernização
Ecológica (TME) continua a ser um tema de debate e discussão contínua no campo da
25
teoria ambiental e das políticas ambientais. A questão ambiental é dinâmica e
complexa, e as abordagens para abordá-la estão sempre evoluindo à medida que novas
informações e perspectivas emergem.
Questão de autoavaliação
Qual é a característica fundamental da etapa da sociedade industrial, enfatizado
por Joseph Huber e recomendado por Hannigan (2009), que representa a Teoria da
Modernização Ecológica (TME)?
a) A ascensão das comunidades agrárias.
b) A transformação da sociedade industrial em uma economia de serviços.
c) Uma mudança ecológica do sistema industrial por meio do processo de
"superindustrialização".
d) A ênfase exclusiva na maximização dos lucros financeiros.
Resposta comentada
Alternativa “c”. A mudança ecológica do sistema industrial por meio do processo de
"superindustrialização", representa um conceito central na Teoria da Modernização Ecológica
(TME). Essa noção sugere que na terceira fase da sociedade industrial é possível conciliar o
desenvolvimento tecnológico com a preservação ambiental. A superindustrialização não
implica apenas em aumentar a produção, mas também em compensar como a produção e o
consumo podem ser realizados de maneira mais sustentável e consciente em relação ao meio
ambiente.
Leituras complementares
Saiba mais: leia mais sobre a Teoria da Modernização Ecológica na seguinte reportagem: China
Bonita: avanço da modernização com harmonia entre o ser humano e a natureza, neste site:
https://revistaforum.com.br/global/chinaemfoco/2023/7/18/china-bonita-avano-da-moderniza
o-com-harmonia-entre-ser-humano-natureza-139677.html
Dicas
Para aprofundar a discussão sobre a crítica ao capitalismo sustentável, você pode assistir a
entrevista com Henri Acselrad, denominada "Que desenvolvimento queremos?”.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3gqTwvY3gXA
26
Resumo da Unidade
Nesta unidade vimos que:
▪ A TME está em sintonia com os princípios ressaltados no Relatório Nosso
Futuro Comum. Isso acontece porque as principais instituições dentro
do sistema capitalista confirmam a crise ambiental e indicam que a
solução envolve economia de mercado, inovações tecnológicas e
consenso político.
▪ A proposta é tornar os processos de produção mais eficientes, não
apenas para a economia, mas também para o meio ambiente. Os
pesquisadores que apoiam essa ideia acreditam que é possível adotar
medidas que tragam benefícios tanto para o meio ambiente quanto para
a economia ao mesmo tempo.
▪ A abordagem da TME traz à tona uma questão essencial sobre como as
políticas ambientais são desenvolvidas. Ela sugere que a criação de
políticas não deve ficar apenas nas mãos de especialistas técnicos. Pelo
contrário, argumenta-se que as pessoas que trabalham em empresas e
movimentos sociais também possuem conhecimentos valiosos sobre
problemas e soluções ambientais.
▪ A TME é alvo de críticas devido ao seu otimismo excessivo em relação à
tecnologia. Isso ocorre porque ela sugere que a solução está na
mudança da sociedade industrial poluente do passado para uma futura
era superindustrializada. Essa abordagem pode subestimar a verdadeira
capacidade da tecnologia em resolver os problemas ambientais.
Próxima unidade
Como veremos na próximaunidade, uma das perspectivas muito importante da
Sociologia e Meio Ambiente no Brasil é a dos conflitos ambientais. Veremos três
modalidades de conflitos (Conflitos Ambientais Distributivos, Conflitos Ambientais
Espaciais e Conflitos Ambientais Territoriais) que destacam a complexidade das
questões ambientais e como elas podem envolver não apenas disputas por recursos,
mas também aspectos sociais, culturais e territoriais. Além disso, demonstram como
tais conflitos podem ter impacto em diferentes escalas, desde comunidades locais até
níveis globais, e ressaltam a importância de abordagens justas e sustentáveis na
resolução desses conflitos.
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Referências
AQUINO, Adrieli Laís Antunes; CENCI, Daniel Rubens. Capitalismo verde e
sustentabilidade. Salão do Conhecimento, 2019.
HANNIGAN, J. Sociologia Ambiental. Petrópolis/RJ: Vozes, 2009.
LENZI, Cristiano Luis. Modernização ecológica e a política ambiental
catarinense. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC, n. 39, p. 117-134,
2006.
MILANEZ, Bruno. Modernização ecológica no Brasil: limites e
perspectivas. Desenvolvimento e meio ambiente, n. 20, p. 77-89, jul./dez. 2009.
OLIVIERI, Alejandro. A teoria da modernização ecológica e a mudança
climática. Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros, Ano, v. 3,
p. 33-54, 2012.
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