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Disciplina: Sociologia e Meio Ambiente Edição de unidade 5 Ano 2023 Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Camilo Sobreira de Santana Universidade Federal do Amazonas Reitor Sylvio Mário Puga Ferreira Vice-Vice-Reitora Therezinha de Jesus Pinto Fraxe Pró-Reitor de Ensino de Graduação David Lopes Neto Pró-Reitor de Extensão e Interiorização Almir Oliveira de Menezes Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação Selma Suely BaSelma Suely Baçal de Oliveira Pró-Reitora de Planejamento e Desenvolvimento Instucional Kleomara Gomes Cerquinho Pró-Reitor de Administração e Finanças Raimundo Nonato Pinheiro de Almeida Pró-Reitora de Gestão de Pessoas Maria Vanusa do Socorro de Souza Firmo DiDiretora da Fundação de Apoio Instucional FAEPI Luana Marinho Monteiro Diretor do Centro de Educação a Distância João Víctor Figueiredo Cardoso Rodrigues Disciplina: Sociologia e Meio Ambiente Edição do Reuni Digital Copyright © 2023 Universidade Federal do Amazonas Centro de Educação a Distância - CED Editor (nome)(nome) Autora Cloves Farias Pereira Revisora de área Selma Maria Silva do Nascimento Revisão de linguagem EaD e Normazação Eduardo de Castro Gomes PProjeto Gráfico Yuri Eduardo Barros Cardoso Esta obra foi publicada com o apoio do: Ministério da Educação Endereço para Correspondência: Av. Gal. Rodrigo Octávio, n.º 3000 - Coroado I, Campus Universitário, Setor Sul, Bloco N Manaus - AM, CEP: 69077-000 Universidade Federal do Amazonas Pró-Reitoria de Ensino de Graduação. Centro de Educação a Distância. E-book, para material didáco do ensino da Graduação do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, 2023. 17 p.; 21cm X 29.7cmcm.17 p.; 21cm X 29.7cmcm. ISSN XXXX-XXX-XXXX 1. Educação a Distância, material didáco. 2. E-book, Disciplina: Sociologia e Meio Ambiente CDU XXXX-XXXX Sumário Introdução - apresentação do material..............................................3 Unidade 5 Teoria da Modernização ecológica 5.2 Teoria da Modernização ecológica....................................................4 5.3 Capitalismo Sustentável é possível?..................................................8 5.4 Teoria da Modernização ecológica: a abordagem de mercado...............................................................................................11 5.5 Crícas à teoria da modernização ecológica...................................23 Referências......................................................................................28 Introdução - apresentação do material Nesta unidade, você terá a oportunidade de explorar a Teoria da Modernização Ecológica (TME), um novo conceito que ofereceu contribuições teóricas para a Sociologia e Meio Ambiente. Esta unidade foi desenvolvida com base nas contribuições de Lenzi (2006), Hannigan (2009), Milanez (2009) e Olivieri (2012). No contexto das ciências sociais, parcularmente na Sociologia Ambiental, a TME passou a desempenhar um papel fundamental ao avaliar a maneira pela qual países, regiões e setores produvos estão desenvolvendo uma nova fase do capitalismo industrial. Ao término desta seção, será esperado que você tenha compreendido que a perspecva da Teoria da Modernização Ecológica implica na visão de que empresas e tecnologia desempenham um papel central como agentes de transformação, com foco principal nas mudanças ocorridas dentro do mercado. Em uma escala mais abrangente, essa abordagem incorpora os princípios de mercado como guias para moldar as polícas ambientais. Recomenda-se que você reserve um período para estudar, pois será necessário aproximadamente 60 minutos para ler todo o conteúdo desta unidade. Planejar um momemomento adequado para absorver o material permirá que você aproveite ao máximo o conteúdo disponível. Boa leitura! 3 Unidade 5: Teoria da Modernização ecológica 5.2 Modernização ecológica e desenvolvimento sustentável Vamos agora falar sobre a jornada em direção ao desenvolvimento sustentável. Algumas vezes, isso é chamado de capitalismo sustentável, capitalismo verde ou ecocapitalismo. Trata-se de uma abordagem dentro do sistema capitalista que busca equilibrar a produção e a exploração da natureza de forma mais consciente, incorporando os princípios da ecologia aos princípios fundamentais da economia de mercado. É uma tentativa de tornar o capitalismo mais sustentável. Essa faceta do sistema capitalista procura combinar a produção e a exploração da natureza de maneira mais cautelosa, incorporando os princípios da ecologia aos fundamentos da economia de mercado (Aquino; Cenci, 2019). Conforme foi discutido na Unidade 3, a conscientização sobre as preocupações ambientais ganhou proeminência com o advento do movimento ambientalista na década de 1970. Um marco fundamental nesse contexto é o livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, que evidenciou os danos infligidos ao ecossistema devido à utilização indiscriminada de pesticidas na agricultura, levando ao envenenamento de pássaros, peixes e pessoas pela penetração de pesticidas nos ecossistemas. O despertar ambiental, conforme descrito por Platiau et al. (2005), é um marco significativo na história da conscientização global sobre questões ambientais. Esse período, que abrangeu as décadas de 1950 e 1960, testemunhou a formação de um comitê, composto por cientistas, humanistas, industriais e outros atores relevantes. O objetivo desse comitê era discutir os desafios e o futuro da espécie humana diante das crescentes preocupações ambientais. Desse encontro de diálogo e reflexão resultou na criação do Clube de Roma, uma organização que desempenhou um papel crucial na conscientização sobre as questões ambientais emergentes. Um dos produtos mais conhecidos desse esforço foi o relatório intitulado Os Limites do Crescimento. Nesse documento, procurou-se demonstrar de maneira clara e convincente a inviabilidade do modelo de crescimento industrial então predominante. O relatório sinaliza a inviabilidade do crescimento econômico devido ao esgotamento dos recursos naturais, introduzindo a ideia de um 4 crescimento econômico zero. Deste modo, a preservação ambiental e o crescimento econômico passaram a ser percebidos como conceitos conflitantes. Você sabe que o problema ambiental está cada vez mais em evidência, e isso se deve principalmente à mobilização dos grupos ambientalistas. Ao longo dos anos esses grupos têm realmente desempenhado um papel importante em conscientizar as pessoas sobre a ameaça iminente que o capitalismo industrial representa para o nosso planeta. Esse cenário foi desencadeado pelo acentuado crescimento econômico da atividade industrial, pela expansão das áreas urbanas, pelo aumento da renda e pelo consequente aumento do consumo. Assim, é de suma importância discernir entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico. O crescimento econômico, isoladamente, não garante automaticamente igualdade ou justiça social, pois foca apenas o acúmulo de riqueza, sem abarcar outras dimensões da qualidade de vida. Em contrapartida, o desenvolvimento econômico se concentra na geração de riqueza, porém, sua ênfase reside na distribuição equitativa da riqueza, melhorando a qualidade de vida de toda a população. Isso inclui a consideração pela qualidade ambiental do planeta, levando em conta a sustentabilidade a longo prazo. Faça uma releitura das suas anotações da Unidade 4 e perceba que as economias de mercado baseadas no crescimento econômico tinham levado ao surgimento da sociedade de risco, com uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas. Apesar dos bons propósitos do Clube de Roma, os problemas ambientais se agravaram, levando a Organização das Nações Unidas (ONU) a realizar a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e os Direitos Humanos em Estocolmo, em 1972. Na década de 1980, surgiu a ideia de abordar as soluções para os problemas ambientais de forma antecipada e preventiva. Em 1983,a ONU estabeleceu a Comissão 5 Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento1, que foi presidida pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Durante esse período, foram realizadas reuniões públicas tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, superando a resistência dos proprietários de capital em relação à proposta do Clube de Roma, que diz respeito ao crescimento econômico zero. A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento permitiu que diversos segmentos da sociedade industrial expressassem suas perspectivas sobre temas como agricultura, silvicultura, água, energia, transferência de tecnologia em geral. O resultado dessas análises foi apresentado no Relatório Brundtland2, também conhecido como Nosso Futuro Comum. Segundo o Relatório Nosso Futuro Comum, uma série de medidas deveriam ser tomadas pelos países para promover o desenvolvimento sustentável. Entre elas: ● Limitação do crescimento populacional; ● Garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo; ● Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; ● Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis; ● Aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas; ● Controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades menores; ● Atendimento o das necessidades básicas (saúde, escola, moradia). Uma leitura mais atenta do Relatório Nosso Futuro Comum mostra que ele tinha como objetivo a sustentação do sistema capitalista, que estava em crise, depois do pós-guerra. A resposta do Relatório Nosso Futuro Comum foi dar continuidade ao modelo de desenvolvimento capitalista, mas agora, baseado na ideia de desenvolvimento 2 Maiores informações sobre o Relatório Brundtland. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Relat%C3%B3rio_Brundtland 1 Maiores informações sobre a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Comiss%C3%A3o_Mundial_sobre_Meio_Ambiente_e_Desenvolvimento 6 sustentável. Abrindo um novo campo de possibilidade que incorpora no sistema de consumo de massa a preocupação com a natureza. Se você realizar uma leitura no capítulo sobre desenvolvimento sustentável do Relatório Nosso Futuro Comum, você vai perceber duas coisas que prevalecem: 1) crescimento econômico e; 2) inovação tecnológica. E você sabe o que quer dizer isso na prática? Isso significa que o capitalismo vai crescer ainda mais, adicionando novas tecnologias aos processos produtivos e ambientais. O Relatório Nosso Futuro Comum representa um ponto de partida para uma resposta à sociedade de crise, buscando conciliar desenvolvimento econômico, preservação ambiental e justiça social. A Teoria da Modernização Ecológica (TME) do capitalismo global está, em grande medida, em consonância com os princípios destacados no Relatório Nosso Futuro Comum. Isso ocorre porque as principais instituições econômicas dentro das economias de mercado passaram a admitir a existência da crise ambiental e a apontar que a solução para enfrentá-la estaria no mercado, na inovação tecnológica e no consenso político. Como destaca Hannigan (2009, p. 47), “a modernização ecológica como desenvolvimento sustentável indica a possibilidade de transpor a crise ambiental sem deixar o caminho da modernização”. A TME defende a conciliação entre o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental. E como isso pode ser feito? Bom, essa abordagem propõe adotar práticas de produção mais limpas, usar tecnologias ecologicamente conscientes e incluir a mercantilização da natureza nas estratégias das economias de mercado. Mas o que é Mercantilização da natureza? O que isso significa? Significa adotar ferramentas financeiras, como a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal (REDD), mercado de carbono, bolsa verde e governança ambiental e social (ESG), atribuindo um preço aos serviços ambientais, ecossistêmicos ou naturais que a natureza fornece aos seres humanos. 7 Nessa lógica, enquadram-se o que vem sendo chamado de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Por um lado, encontramos grupos de povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares que desempenham um papel fundamental na conservação de florestas localizadas em unidades de conservação e terras indígenas. Por outro lado, temos compradores que valorizam esses serviços ambientais, pagando ou compensando esses grupos pela disponibilidade e qualidade desses serviços. O exemplo da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) no Amazonas é um caso de como os serviços ambientais prestados por comunidades tradicionais que habitam unidades de conservação podem ser valorizados. A FAS atua como intermediadora na venda desses serviços ambientais para fundos e empresas internacionais, criando assim na prática um pagamento anual de R$ 1.000,00 por família pelo seu papel na conservação das florestas e na manutenção da biodiversidade3. 5.3 Capitalismo Sustentável é possível? Você já ouviu falar em ESG? A sigla vem do termo em inglês Environmental, Social and Governance - ou, em português, referindo-se a Ambiental, Social e Governança. Vamos iniciar com uma pesquisa na internet sobre iniciativas de ESG no Brasil? Perceba que a abordagem do mercado financeiro está mudando. Antes de seguir principalmente para resultados financeiros, agora as empresas estão focadas na responsabilidade socioambiental, com investimentos que levam em consideração a estratégia ESG, que considera questões ambientais, sociais e de governança nas operações e tomadas de decisão das empresas. Nos dias de hoje, os desafios competitivos nos mercados e a necessidade de garantir o bem-estar contínuo ao planeta estão gerando grandes mudanças no desenvolvimento econômico, levando em conta preocupações ambientais e sociais. Essas mudanças consideram a maneira como os meios de produção impactam o ambiente e como as soluções tecnológicas são desenvolvidas e como a inovação é incentivada. 3 Maiores informações sobre o Programa Bolsa Floresta. Disponível em: https://fas-amazonia.org/transparencia/programa-bolsa-floresta/ 8 Há aumento substancial de empresas que estão implementando projetos de sustentabilidade e, como resultado, estão sendo contempladas com o selo ESG. As empresas que recebem o selo ESG são reconhecidas por adotar práticas sustentáveis e responsáveis em suas operações. Esse selo confere uma série de vantagens estratégicas para essas empresas. Em primeiro lugar, ele amplia a credibilidade da marca, estabelecendo-a como um líder comprometido com questões ambientais, sociais e de governança. Além disso, o selo ESG torna mais fácil atrair recursos financeiros, uma vez que investidores e financiadores estão cada vez mais interessados em empresas que se alinham com princípios sustentáveis. Essa credibilidade pode resultar em acesso mais amplo a financiamento e investimentos. Outro benefício notável é o reforço das vantagens competitivas. Empresas com o selo ESG muitas vezes se destacam no mercado, atraindo consumidores conscientes que valorizam a responsabilidade corporativa. Isso pode levar a um aumento nas vendas e na participação de mercado. Por último, mas não menos importante, o selo ESG tende a impulsionar o valor de mercado das empresas. À medida que a conscientização ambiental e social cresce, investidores e acionistas estão dispostos a pagar mais por ações de empresas que demonstram compromisso com práticas sustentáveis. Portanto, o selo ESG contribui para o crescimento do valor das ações e, consequentemente, para o sucesso financeiro das empresas contempladas com ele. A Natura, por exemplo, optou por usar plástico feito de cana-de-açúcar nas embalagens dos seus xampus. Além disso, eles doaram US$ 1 milhão para ajudar mulheres que sofreram violência doméstica durante o período de isolamento social. O Bradesco,outra empresa que se beneficia do selo, garante que toda a energia que consome vem de fontes renováveis. Eles também investem na educação das crianças e estão colaborando com o Itaú em um projeto de proteção para a Amazônia. A Renner definiu um objetivo importante como comprar apenas algodão que venha de lugares certificados, ou seja, de fazendas que seguem leis ambientais e trabalhistas. A Vivo e o Cielo, ambas as empresas criaram programas para retirar e descartar corretamente o lixo eletrônico, como celulares e maquininhas de cartões antigos4. 4 A mão invisível do ESG. Disponível em: https://vocesa.abril.com.br/especiais/a-mao-invisivel-do-esg 9 Além disso, empresas identificaram oportunidades de lucratividade para investidores na sociedade de risco. Na notícia publicada pela Revista Forbes (Figura 31), destaca que inundações causadas por chuvas intensas, secas, ondas de calor e frio extremo, não apenas resultam em tragédias humanas e ambientais, mas também têm impactos climáticos. Tais eventos podem causar danos substanciais em setores importantes como agricultura, pesca, mineração, silvicultura e produção de energia. Apesar das consequências negativas em termos de perdas humanas, essas tragédias podem gerar oportunidades para empresas investidoras. Figura 31. ESG como oportunidades para empresas investidoras. Fonte: Santos, 2023.5 De acordo com um estudo realizado em 2020 pelo banco de investimento americano Morgan Stanley, os eventos climáticos extremos causaram perdas de R$ 650 bilhões (ou R$ 3,1 trilhões) para a economia global entre 2017 e 2019. No Brasil, os eventos climáticos resultaram em perdas médias de US$ 2,6 bilhões (ou R$ 13 bilhões) por ano. 5 Santos, Poliana. Investir em ESG, ou como lucrar com eventos climáticos que levam a perdas de R$ 650 bi. Forbes, 17 ago 2023. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-money/2023/08/como-ganhar-dinheiro-com-o-incendio-na-casa-do-vizinh o/. Acesso em: 03 set. 2023. 10 Diante das oportunidades existentes nos impactos ambientais, empresas que adotam a estratégia ESG têm um papel crucial na redução de riscos e na exploração de oportunidades de crescimento. Essas estratégias têm o potencial de aumentar os lucros das empresas. Como resultado, essas empresas que investem em ESG podem oferecer recompensas atraentes para os investidores. Há uma abordagem sociológica que considera que desenvolvimento econômico e questão ambiental são interdependentes. Essa abordagem diz respeito à Teoria da Modernização Ecológica (TME), que busca mudar a maneira como enxergamos a relação entre economia e ecologia. Nesse sentido, a iniciativa ESG faz parte da abordagem TME, ao contribuir com o equilíbrio entre desenvolvimento econômico e questão ambiental, argumentando que esses dois objetivos podem coexistir harmoniosamente através de profundas mudanças na sociedade industrial capitalista. 5.4 Teoria da Modernização ecológica: a abordagem de mercado Hannigan (2009, p. 47) sugere que a Teoria da Modernização Ecológica (TME) teve suas raízes nos estudos do sociólogo alemão Joseph Huber no início dos anos de 1980. Huber enfatizou que a modernização ecológica representa uma etapa do desenvolvimento da sociedade industrial, caracterizada por: Etapa 1: a descoberta industrial; Etapa 2: a construção da sociedade industrial; e, Etapa 3: a mudança ecológica do sistema industrial através do processo de “superindustrialização”. Olivieri (2009, apud Huber, 1986) argumenta que a ideia central da Teoria da Modernização Ecológica (TME) é ressaltar que as sociedades industriais estão dominadas pela predominância da tecno-esfera (sistema industrial e mercado) sobre a socio-esfera (mundo da vida) e eco-esfera (natureza). Josep Huber interpreta os problemas ambientais como defeitos ou falhas no modo como o sistema capitalista foi construído. Ele acredita que é possível superar esses problemas através de uma reestruturação das instituições fundamentais do sistema capitalista. Huber sugere que podemos resolver esses desafios modificando as bases da forma como a sociedade e a economia funcionam, de modo a corrigir as 11 falhas e melhorar a relação entre as pessoas, a tecnologia e o ambiente (OLIVIERI, 2009). Lenzi (2006) afirma que a abordagem de mercado da TME enfoca os aspectos econômicos, empresariais e tecnológicos como agentes de mudanças e pressupõe que os empresários e as empresas desempenham um papel fundamental na condução dessas transformações. Além disso, essa abordagem também sugere que as políticas ambientais podem ser guiadas pelos preceitos do mercado. Isso pode significar que as empresas são incentivadas a adotar práticas ambientalmente sustentáveis quando essas práticas se tornam economicamente vantajosas devido a incentivos, regulamentações ou preferências dos consumidores. A TME propõe que as empresas e o Estado podem ser ajustados para incorporar a dimensão ambiental. Um dos métodos sugeridos pela TME é a internalização das externalidades negativas (ver Box I) nos processos de produção e consumo, ou seja, incorporar os custos ambientais antes não contabilizados nos processos produtivos. Isso pode ser alcançado através da abordagem de economização da ecologia. Box 1 Externalidades Em economia, externalidades ou exterioridades são os efeitos colaterais de uma decisão sobre aqueles que não participaram dela. Existe uma externalidade quando há consequências para terceiros que não são levadas em conta por quem toma a decisão. Geralmente, refere-se à produção ou consumo de bens ou serviços sobre terceiros, que não estão diretamente envolvidos com a atividade. Ela pode ter natureza negativa, quando gera custos para os demais agentes (poluição atmosférica, de recursos hídricos, poluição sonora, sinistralidade rodoviária, congestionamento, etc.), ou natureza positiva, quando os demais agentes, involuntariamente, se beneficiam (por exemplo, investimentos privados em infra-estrutura e tecnologia, ou investigação). O conceito de externalidade foi desenvolvido pela primeira vez pelo economista Arthur Pigou na década de 192. O exemplo prototípico de uma externalidade negativa é a poluição ambiental. Pigou argumentou que um imposto (mais tarde denominado "imposto pigouviano") sobre as externalidades negativas poderia ser usado para reduzir sua incidência a um nível eficiente. Pensadores subsequentes debateram sobre se é preferível tributar ou regular as externalidades negativas,[5] qual o nível otimamente eficiente da tributação pigouviana e quais fatores causam ou exacerbam as externalidades negativas, e como fornecer aos investidores em corporações responsabilidade limitada para danos cometidos pela corporação. (...) Normalmente, autores defendem que cabe ao Estado criar ou estimular a instalação de atividades que constituam externalidades positivas (como a educação ou investigação), e impedir ou inibir a geração de externalidades negativas. Isto pode ser feito através de instrumentos tais como taxação e sanções legais ou, inversamente, renúncia fiscal e concessão de subsídios conforme o caso. 12 Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Externalidades A TME propõe a ambientalização dos processos econômicos de várias instituições, como companhias de seguros, instituições de crédito, consumidores industriais, organizações de certificação e associações industriais. Essas instituições podem desempenhar um papel fundamental ao incentivar e promover práticas mais sustentáveis, criando assim uma relação mais harmoniosa entre a economia e o ambiente. Tomamos como exemplo a indústria de celulose e papel brasileira, com muitas empresas em vários lugares do país. Para as empresas deste setor, a ambientalização se apresenta a partir da demanda cada vez maior por soluções ESG. Um exemplo é a empresa CMPC Brasil (https://cmpcbrasil.com.br/), segundo notícia publicada no Jornal Valor Econômico (Figura 32). Figura 32. Indústria de papel e celulose e ESG. Fonte: Valor Econômico, 2023.6 6 Falconi.Indústria brasileira de papel e celulose é modelo na adoção de práticas esg. Valor Econômico, 2023. Disponível em: https://valor.globo.com/conteudo-de-marca/falconi-consultoria/gestao-resultados/noticia/2023/01/16/i 13 A empresa tem um projeto de ESG chamado “BioCMPC" que conserva de 41% de áreas nativas. A empresa utiliza os resíduos que sobram da produção e as transformam em 13 novos produtos para o mercado. Além disso, cerca de 85% da energia necessária para a produção da celulose é gerada pela própria empresa, a partir da biomassa. E a água que a empresa usa vem de um lago e, depois de sua utilização, é devolvida com melhores índices de pureza. Nesse sentido, a TME é um conceito que diz que o sistema capitalista pode produzir de forma sustentável. Como acontece com a empresa CMPC Brasil que usa novas tecnologias no seu processo produtivo mais alinhada ao ambiente, como usar energia limpa em vez de poluir o ar e a água. Milanez (2009), complementa ainda que a TME envolve diversas áreas de conhecimento, tais como sociologia, ciência política, engenharia e economia. Este autor aponta quatro pressupostos centrais dessa teoria: 1) confiança no desenvolvimento científico e tecnológico como principal estratégia para solucionar problemas ambientais; 2) desenvolvimento de soluções preventivas para os problemas ambientais; 3) possibilidade de se alcançar, simultaneamente, objetivos ambientais e econômicos; e 4) tomada de decisão baseada no envolvimento direto e cooperativo dos grupos interessados. Segundo a abordagem TME, a tecnologia representa uma abordagem mais eficaz para os desafios do capitalismo responsável. Na Holanda, por exemplo, a indústria Holandesa do passado causou considerável degradação ambiental, mas agora, com a pressão dos consumidores as empresas adotam medidas verdes com a introdução de novas tecnologias e novos instrumentos cooperativos, tais como relatórios ambientais anuais, auditorias ambientais e sistemas de certificação ambiental. A estratégia é tornar os processos produtivos mais eficientes, não só porque é bom para a economia, mas também para o ambiente. Olhando para como produzimos ndustria-brasileira-de-celulose-e-papel-e-modelo-na-adocao-de-praticas-esg.ghtml. Acesso em 03 out. 2023. 14 as mercadorias (é daí que veio a ideia da modernização ecológica), ser mais eficiente significaria usar menos recursos naturais e gastar menos recursos financeiros para corrigir danos ao ambiente. Com isso em mente, os estudiosos que apoiam a modernização ecológica acreditam que é possível a implementação de propostas que ao mesmo tempo trariam simultaneamente benefícios ambientais e econômicos. Milenez (2009) afirma que apesar de muitos brasileiros estarem conscientes sobre questões ambientais, essa conscientização ainda não é forte o suficiente para fazer com que mudem seus comportamentos diários. Isso acontece porque a maneira como a sociedade enxerga o meio ambiente ainda é vista como algo separado das atividades do dia a dia. No Brasil, podemos observar sinais iniciais de mudança social em direção ao capitalismo sustentável. Há cerca de dez anos, a empresa Braskem (www.braskem.com.br) deu um passo pioneiro ao introduzir o primeiro plástico verde em escala industrial, marcando o início da linha de produtos denominados I'm green (Figura 33). Essa iniciativa não apenas consagrou a Braskem como líder global no mercado de bioplásticos, mas também refletiu seu compromisso com a sustentabilidade. Através da evolução dos biopolímeros e da promoção da economia circular, a empresa encabeçou a produção de resinas termoplásticas nas Américas, alinhando-se com práticas de ESG e estabelecendo metas ambiciosas, como a neutralização das emissões de CO2 da planta industrial até 2050. 15 Figura 33. Embalagens de produtos I´m green. Fonte: Cosmetic Innovation, 2020.7 A inclusão do I'm green em embalagens e a adoção de materiais recicláveis têm um efeito poderoso nas escolhas dos consumidores. Eles não apenas indicam um compromisso com a redução do impacto ambiental, mas também incentivam a consciência ambiental entre os compradores, levando-os a preferir produtos que estejam com seus valores. Essa abordagem mostra como a conscientização pode ser impulsionada através do mercado, influenciando as decisões de compra e, por sua vez, induzindo a demanda por práticas mais atraentes. Além disso, a educação tem se mostrado uma via valiosa para a promoção da mudança social. Os jogos de tabuleiro, por exemplo, oferecem uma forma interativa e envolvente de transmitir conceitos de sustentabilidade, aumentando a compreensão e a empatia em relação a questões ambientais. Essa abordagem lúdica pode catalisar a adoção de práticas mais conscientes não apenas entre os jogadores, mas também em suas redes sociais e comunidades, gerando um efeito cascata de mudança de mentalidade e comportamento. 7 Janaina. Bioplástico da Braskem é reconhecido como caso transformador no Brasil pela ONU. Cosmetic Innovation. Disponível em: https://cosmeticinnovation.com.br/tag/im-green/. Acesso em 03 out. 2023. 16 Você conhece o jogo de tabuleiro Banco Imobiliário? Se ainda não teve oportunidade de conhecer, vale a pena jogar. Trata-se de um jogo bem popular e clássico do mundo, e é conhecido por sua abordagem que simula o mundo dos negócios e do investimento imobiliário. No jogo, os jogadores competem para comprar, vender e alugar propriedades, coletando aluguéis e construindo seu patrimônio. O objetivo final é acumular a maior fortuna possível, enquanto evita a falência. O Banco Imobiliário reflete um contexto capitalista, onde o sucesso é medido em termos de riqueza acumulada e propriedades adquiridas. Os jogadores interagem com um mercado simulado, tomando decisões de investimento estratégicas para maximizar seus ganhos e minimizar suas perdas. O jogo também envolve negociação e estratégia, à medida que os jogadores buscam obter o controle de grupos de propriedades para aumentar o valor dos aluguéis. Em 2008, surgiu uma colaboração entre as empresas brasileiras Estrela e Braskem, originou a versão Banco Imobiliário Sustentável (Figura 34). Este jogo foi o primeiro brinquedo confeccionado com polietileno verde (I'm green). Ao contrário do objetivo econômico do jogo original, esta versão tem como propósito a conscientização sobre a sustentabilidade. A dinâmica do jogo está intrinsecamente ligada à temática da sustentabilidade, abordando questões fundamentais de proteção ambiental, coleta seletiva e responsabilidade social. Nesse contexto, em vez de utilizar o dinheiro convencional, cada jogador utiliza créditos de carbono como moeda para adquirir propriedades. 17 Figura 34. Banco Imobiliário Sustentável. Fonte: Ecografismo, 2013.8 As tradicionais empresas de transporte foram substituídas por entidades como a Companhia de Reciclagem Energética, Companhia de Reflorestamento, de Agricultura Orgânica e de Reciclagem Mecânica. Até as cartas de Sorte ou Revés seguem essa abordagem temática, apresentando situações como "sua empresa foi multada por poluir" como revés, ou "você protegeu suas terras do desmatamento e lucrou com o turismo ecológico" como sorte. Isso transforma o jogo em uma ferramenta educativa que promove uma conscientização sobre práticas de consumo de forma interativa. A abordagem da TME levanta uma questão importante sobre como as políticas ambientais são feitas. Ela diz que não devem ser apenas especialistas técnicos a formulá-las. Pelo contrário, argumentam que pessoas que trabalham em empresas e também em movimentos sociais têm conhecimento valioso sobre os problemas e 8 Ecografismo. Banco Imobiliário Sustentável. 2013. Disponível em: https://ecografismo.wordpress.com/2013/02/20/banco-imobiliario-sustentavel/. Acesso em 05 out. 2023. 18 maneiras de resolver questões ambientais. Por isso, elas devem participar na criação, implementação e monitoramento das políticas públicas que o governo faz sobre o meioambiente. Podemos tomar como exemplo, os encontros Diálogos Amazônicos (Figura 35), que ocorreu no período de 4 a 6 de agosto de 2023, em Belém, no estado do Pará. Este encontro reuniu uma variedade de participantes, incluindo indígenas, ribeirinhos, quilombolas, artesãos, ativistas ambientais, acadêmicos, entidades da sociedade civil e governos municipal, estadual e federal. Figura 35. Plenárias e discussões sobre o futuro da Amazônia nos Diálogos Amazônicos. Fonte: Brasil, 2023.9 O propósito central dessas discussões foi abordar o futuro da floresta amazônica a partir de uma perspectiva de desenvolvimento sustentável, que valorizasse a inclusão social e respondesse à urgência climática imposta pelo aquecimento global no cenário global. Sob a coordenação da Secretaria Geral da Presidência da República, os "Diálogos Amazônicos" foram organizados com o intuito de gerar sugestões e proposições para os chefes de Estado e de governo, bem como os representantes dos 15 países que participaram da Cúpula da Amazônia. Esta cúpula atraiu líderes 9 Brasil. Presidência da República. Gov.Br. Diálogos Amazônicos evidenciam importância de participação social. 2023. Disponível em: Diálogos Amazônicos evidenciam importância de participação social — Secretaria-Geral (www.gov.br). Acesso em: 05 out. 2023. 19 governamentais tanto da América do Sul quanto de outras regiões do mundo, incluindo a Europa, África, Ásia e o Caribe. Neste contexto, os "Diálogos Amazônicos" desempenharam um papel essencial como plataforma prévia de discussão e formulação de abordagens sustentáveis para a preservação e desenvolvimento da Amazônia, diante dos desafios atuais e futuros. Segundo Milanez (2009), a TME não é a favor de políticas ambientais muito rígidas, onde o governo diz exatamente o que as empresas devem fazer. Isso porque essa proteção pode impedir a criação de novas maneiras de resolver problemas ambientais. Essa abordagem acredita que é importante ter flexibilidade e permitir diferentes estratégias para lidar com as questões do meio ambiente. Para compreender isso, vamos tomar como exemplo, o caso da Prefeitura de Maringá, que impulsionou o desenvolvimento sustentável da cidade com o Selo Ipê (Figura 36). Figura 36. Selo Ipê premia boas práticas sociais e ambientais de empresas. Fonte: Paraná Portal, Arquivo PMM, 2023.10 A prefeitura reconheceu que as empresas da cidade promovem a consciência ambiental, de acordo com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Os gestores municipais acreditam que a cidade precisa se desenvolver economicamente para geração de empregos e impostos. No 10 Paraná Portal. UOL. Arquivo PMM, 2023. Disponível em https://paranaportal.uol.com.br/maringa-e-regiao/inscricoes-para-selo-ipe-seguem-abertas-ate-setembr o. Acesso em: 08 out. 2023. 20 entanto, é fundamental que esse crescimento seja aliado à sustentabilidade para promoção da qualidade de vida e tragam benefícios para as empresas e para a comunidade. O exemplo da Prefeitura de Maringá e sua iniciativa com o Selo Ipê é um excelente exemplo de como as empresas saem de uma postura de reação passiva, de simplesmente obedecer às regulações ambientais existentes, para incorporar uma atuação mais ampla e responsável ambientalmente, que podem ser combinados para criar um ambiente que beneficia tanto as empresas quanto a comunidade local. A abordagem adotada pela prefeitura demonstra um entendimento de que o desenvolvimento econômico não precisa aumentar o impacto ambiental. Pelo contrário, quando as empresas operam de maneira ambientalmente responsável e contribuem para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, isso não apenas preserva o meio ambiente, mas também pode trazer vantagens competitivas e melhorias na imagem das empresas. Ao incentivar empresas a adotar práticas sustentáveis e reconhecê-las através do Selo Ipê, a prefeitura de Maringá está promovendo um ambiente onde objetivos econômicos e ecológicos são estimulados. Isso pode impulsionar a criação de novos produtos e serviços, estimular a eficiência energética, reduzir o desperdício de recursos e, em última instância, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Além disso, ao considerar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU como referência, a prefeitura está alinhando suas metas com um conjunto global de objetivos que visam não apenas o crescimento econômico, mas também a justiça social, a igualdade e a preservação do meio ambiente. Essa abordagem também demonstra uma compreensão da importância da parceria entre o setor público e o setor privado para promover mudanças positivas na comunidade. Ao incentivar as empresas a adotar práticas sustentáveis, a prefeitura está não apenas beneficiando a cidade em termos de desenvolvimento sustentável, mas também criando um ambiente onde a colaboração entre os setores pode prosperar. Nesse contexto, a função do Estado se configura, delegando determinadas tarefas, obrigações e estímulos do domínio governamental para o mercado. Isso sinaliza uma transformação na qual as empresas avançam de uma postura passiva e 21 reativa, meramente aderindo às regulamentações ambientais vigentes, para incorporar uma postura mais ampla e responsável nesse campo (Lenzi,2006). Essa mudança implica em uma abordagem mais colaborativa entre o governo e o mercado, onde o Estado ainda desempenha um papel regulador e de supervisão, mas também cria incentivos para que as partes interessadas adotem medidas pró-ativas e preventivas em relação ao meio ambiente. Isso é essencial para alcançar uma eficiência ambiental duradoura e sustentável (Milanez, 2009). Essa visão da TME se concentra em criar novas tecnologias ambientais e encontrar processos de produção mais limpos e menos dependentes de recursos naturais. Milanez afirma que essa abordagem não considera a redução do consumismo como uma estratégia viável para mitigar problemas ambientais (pois essa abordagem não traz benefícios econômicos). Segundo este autor, a inovação ambiental é fundamental para mudar a maneira como produzimos, onde o sistema de ciência e tecnologia pode identificar os problemas ambientais e trabalhar junto com empresas e o governo para criar novas soluções tecnológicas. Conforme destaca Lenzi (2006) muitas empresas melhoraram seu quadro de eficiência ambiental e reduziram os impactos causados sobre o meio ambiente, com a criação de processos de produção mais saudáveis em termos ambientais. A TME toma como bons exemplos, o sistema de certificação IS0-14001, que confere um selo de qualidade ambiental às empresas que ajustam seu processo produtivo de modo a manter a qualidade ambiental. Na região amazônica, destaca-se o exemplo da Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes, situada no Amapá, que ostenta a certificação NBR ISO 14001. Segundo informações da Eletronorte, essa certificação avalia minuciosamente os procedimentos da unidade, concentrando-se na conformidade com as diretrizes normativas, com o objetivo de minimizar os efeitos adversos ao meio ambiente, aprimorar a eficácia operacional e fomentar a sustentabilidade. 22 Figura 37. Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes, situada no Amapá. Fonte: Eletronorte/Divulgação, G1, 2017.11 https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/operando-ha-40-anos-no-ap-usina-coaracy-nu nes-devera-ser-privatizada.ghtml 5.5 Críticas à teoria da modernização ecológica Segundo Olivieri (2012), a abordagem TME construiu um conjunto de princípios teóricos fundamentados em análises empíricas conduzidas em nações europeias, pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cujos padrões de vida se destacam da maioria das nações globais, revelando assim uma orientação de natureza eurocêntrica. De acordo com Hannigan (2009), a abordagem TME é considerada apropriada para nações como Holanda e Alemanha, nos quais os conceitos centrais foram originados e desenvolvidos. No entanto,essa abordagem parece menos aplicável para 11 Figueiredo, Fabiana. Operando há 40 anos no AP, Usina Coaracy Nunes deverá ser privatizada. G1 Amapá. Disponível em: Operando há 40 anos no AP, Usina Coaracy Nunes deverá ser privatizada | Amapá | G1 (globo.com). Acesso em 10 out. 2023. 23 descrever a realidade ambiental nos Estados Unidos e em nações em desenvolvimento, e especialmente em países mais pobres. Conforme apontado por Lenzi (2006, p. 121-122), a abordagem TME tem predominantemente vinculações com nações capitalista mais desenvolvidas, devido à necessidade de cumprir os seguintes critérios para sua implementação: ● Um sistema político aberto e democrático; ● Um Estado intervencionista e legítimo com uma Infraestrutura diferenciada e avançada; ● Consciência ambiental ampla e organizações ambientais bem organizadas (ONGs), que tenham recursos para impelir a uma mudança ecológica radical; ● Organizações de negócios capazes de representar produtores em negociações numa base regional e setorial; ● Experiência e tradição com sistemas de tornada de decisão negociada; ● Um sistema detalhado de monitoração ambiental que gera dados ambientais públicos, confiáveis e satisfatórios; ● Uma economia de mercado regulada pelo Estado, que controla o processo de produção e consumo; ● Desenvolvimento tecnológico avançado. Milanez (2009 apud Cohen, 1997) sugere que nas formas tradicionais de desenvolvimento, o crescimento econômico e a poluição estão fortemente ligados, ou seja, à medida que a economia cresce, os problemas ambientais também aumentam na mesma proporção. No entanto, segundo o autor, quando as sociedades adotam a modernização ecológica, essa ligação não é mais tão constante. Nesse cenário, a economia pode se desenvolver de maneira mais rápida do que os impactos ambientais. No contexto brasileiro, observa-se que o país ainda não atingiu o nível proposto pelos teóricos da TME em termos de inovação tecnológica voltada para o ambiente. O desafio para o Brasil reside em desenvolver tecnologias que não apenas reduzam a pressão sobre os recursos naturais, mas também promovam a distribuição de renda e contribuam para a diminuição das desigualdades sociais e ambientais presentes no modelo atualmente adotado. Os dados atuais do Brasil não mostram uma clara separação entre o crescimento econômico e os impactos ambientais. As informações disponíveis indicam 24 que o país está focando na produção de bens que utilizam muitos recursos naturais. Especialmente no caso da energia, onde temos mais informações disponíveis, o desempenho do Brasil tem piorado de forma considerável. Hannigan (2009) argumenta que, ao contrário, as empresas que implementam melhorias ecológicas geralmente o fazem apenas em resposta à pressão regulatória direta do Estado ou à influência das ações do movimento social. Além disso, ele sugere que essas melhorias muitas vezes não são óbvias, sendo obtidas por meio de práticas de relatórios enganosos. Milenez (2009) corrobora o argumento de Hannigan (2009), segundo ela, apesar dos avanços, as empresas ainda estão trabalhando mais para promover suas imagens ambientais por meio de estratégias de marketing (Greenwashing) do que em realmente diminuir os seus impactos ambientais. Isso sugere que, apesar do crescente interesse em produtos ecologicamente conscientes, persiste uma discrepância entre o quanto as pessoas sabem sobre questões ambientais e quanto realmente agem de maneira sustentável, tanto no nível pessoal quanto nas empresas. Milanez (2009) concorda com o argumento de Hannigan (2009) e, de acordo com ela, apesar dos progressos realizados, as empresas ainda estão mais focadas em promover suas imagens ambientais por meio de estratégias de marketing do que em reduzir seus impactos ambientais. Isso indica que, apesar do aumento do interesse em produtos ecologicamente conscientes, ainda persiste uma discrepância entre o conhecimento das questões ambientais e a eficácia da adoção de práticas sustentáveis, tanto no âmbito pessoal quanto empresarial. A TME busca adotar uma posição equilibrada entre os ambientalistas catastróficos, que afirmam que somente a desindustrialização pode evitar um desastre ambiental iminente, e os defensores do capitalismo que preferem a abordagem do negócio à moda tradicional. No entanto, a TME é criticada por ser limitada por um otimismo tecnológico excessivo, pois propõe que a solução seja a transição da sociedade industrial poluente do passado para uma futura era superindustrializada, subestimando a capacidade da tecnologia de resolver os problemas ambientais (Hannigan, 2009). Por fim, caro estudante, é importante destacar que a Teoria da Modernização Ecológica (TME) continua a ser um tema de debate e discussão contínua no campo da 25 teoria ambiental e das políticas ambientais. A questão ambiental é dinâmica e complexa, e as abordagens para abordá-la estão sempre evoluindo à medida que novas informações e perspectivas emergem. Questão de autoavaliação Qual é a característica fundamental da etapa da sociedade industrial, enfatizado por Joseph Huber e recomendado por Hannigan (2009), que representa a Teoria da Modernização Ecológica (TME)? a) A ascensão das comunidades agrárias. b) A transformação da sociedade industrial em uma economia de serviços. c) Uma mudança ecológica do sistema industrial por meio do processo de "superindustrialização". d) A ênfase exclusiva na maximização dos lucros financeiros. Resposta comentada Alternativa “c”. A mudança ecológica do sistema industrial por meio do processo de "superindustrialização", representa um conceito central na Teoria da Modernização Ecológica (TME). Essa noção sugere que na terceira fase da sociedade industrial é possível conciliar o desenvolvimento tecnológico com a preservação ambiental. A superindustrialização não implica apenas em aumentar a produção, mas também em compensar como a produção e o consumo podem ser realizados de maneira mais sustentável e consciente em relação ao meio ambiente. Leituras complementares Saiba mais: leia mais sobre a Teoria da Modernização Ecológica na seguinte reportagem: China Bonita: avanço da modernização com harmonia entre o ser humano e a natureza, neste site: https://revistaforum.com.br/global/chinaemfoco/2023/7/18/china-bonita-avano-da-moderniza o-com-harmonia-entre-ser-humano-natureza-139677.html Dicas Para aprofundar a discussão sobre a crítica ao capitalismo sustentável, você pode assistir a entrevista com Henri Acselrad, denominada "Que desenvolvimento queremos?”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3gqTwvY3gXA 26 Resumo da Unidade Nesta unidade vimos que: ▪ A TME está em sintonia com os princípios ressaltados no Relatório Nosso Futuro Comum. Isso acontece porque as principais instituições dentro do sistema capitalista confirmam a crise ambiental e indicam que a solução envolve economia de mercado, inovações tecnológicas e consenso político. ▪ A proposta é tornar os processos de produção mais eficientes, não apenas para a economia, mas também para o meio ambiente. Os pesquisadores que apoiam essa ideia acreditam que é possível adotar medidas que tragam benefícios tanto para o meio ambiente quanto para a economia ao mesmo tempo. ▪ A abordagem da TME traz à tona uma questão essencial sobre como as políticas ambientais são desenvolvidas. Ela sugere que a criação de políticas não deve ficar apenas nas mãos de especialistas técnicos. Pelo contrário, argumenta-se que as pessoas que trabalham em empresas e movimentos sociais também possuem conhecimentos valiosos sobre problemas e soluções ambientais. ▪ A TME é alvo de críticas devido ao seu otimismo excessivo em relação à tecnologia. Isso ocorre porque ela sugere que a solução está na mudança da sociedade industrial poluente do passado para uma futura era superindustrializada. Essa abordagem pode subestimar a verdadeira capacidade da tecnologia em resolver os problemas ambientais. Próxima unidade Como veremos na próximaunidade, uma das perspectivas muito importante da Sociologia e Meio Ambiente no Brasil é a dos conflitos ambientais. Veremos três modalidades de conflitos (Conflitos Ambientais Distributivos, Conflitos Ambientais Espaciais e Conflitos Ambientais Territoriais) que destacam a complexidade das questões ambientais e como elas podem envolver não apenas disputas por recursos, mas também aspectos sociais, culturais e territoriais. Além disso, demonstram como tais conflitos podem ter impacto em diferentes escalas, desde comunidades locais até níveis globais, e ressaltam a importância de abordagens justas e sustentáveis na resolução desses conflitos. 27 Referências AQUINO, Adrieli Laís Antunes; CENCI, Daniel Rubens. Capitalismo verde e sustentabilidade. Salão do Conhecimento, 2019. HANNIGAN, J. Sociologia Ambiental. Petrópolis/RJ: Vozes, 2009. LENZI, Cristiano Luis. Modernização ecológica e a política ambiental catarinense. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC, n. 39, p. 117-134, 2006. MILANEZ, Bruno. Modernização ecológica no Brasil: limites e perspectivas. Desenvolvimento e meio ambiente, n. 20, p. 77-89, jul./dez. 2009. OLIVIERI, Alejandro. A teoria da modernização ecológica e a mudança climática. Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros, Ano, v. 3, p. 33-54, 2012. 28