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4-Componentes novos, originais e adequados no fornecimento dos serviços
Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer
produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de
reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do
fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor.
O artigo impõe um dever para todo prestador de serviço pelo qual, nos
consertos e nas reparações de qualquer natureza, deverá utilizar componentes:
1) originais adequados (aqueles produzidos pelo fabricante ou de marca
por ele sugerida);
2) novos;
3) mantenham as especificações técnicas do fabricante, sob pena de
incorrer em vício de qualidade do serviço, nos moldes do artigo 20.
A redação do artigo não é muito clara. A autorização em contrário do
consumidor, deve ser compreendida em relação aos componentes originais e novos
e jamais as que mantenham especificações técnicas das peças de reposição, já que
o CDC, norma de ordem pública, tem como forte diretriz padrão mínimo de
qualidade que atenda à funcionalidade e r a segurança dos produtos e serviços
oferecidos no mercado de consumo.
É possível permitir a autorização em contrário do consumidor somente
quanto à utilização de componentes originais e/ou novos, mas jamais daqueles que
não mantenham as especificações técnicas do fabricante.
Se o componente não mantém a especificação técnica do fabricante é
porque não é adequado para o produto. Ora, o consumidor não tem conhecimento
técnico suficiente para julgar se uma determinada peça é adequada ou não para que
produto funcione corretamente e de forma segura (princípio da vulnerabilidade).
É muito comum a reutilização de peças quando se encontram em bom
estado e, principalmente, porque as peças originais e novas tornam o serviço bem
mais oneroso. Mas essa prática é somente permita quando o consunmidor é
previamente consultado e a aceita, ou seja, para que o prestador de serviços utilize
peças usadas ou que não sejam originais, será necessária a autorização EXPRESSA
do consumidor.
Portanto, é perfeitamente, e juridicamente, possível a utilização de
peças usadas ou recondicionadas no fornecimento de serviços, desde que
exista a autorização do consumidor.
A autorização pode ser verbal, mas é absolutamente recomendável que
seja escrita para evitar futuras discussões sobre esta importante manifestação de
vontade do consumidor e considerando, ainda, a infração penal descrita no art. 70
CDC:
Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição usados, sem
autorização do consumidor:
Pena Detenção de três meses a um ano e multa.
5- Pessoas Jurídicas Prestadoras de Serviços Públicos :
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob
qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados,
eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas
neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos
causados, na forma prevista neste código.
As pessoas jurídicas prestadoras de serviço público, sejam de direito
público, sejam de direito privado, estão submetidas Às regras do CDC, não só
devendo prestar serviços adequados, eficientes e seguros, como também estando
sujeitos a reparar os danos que porventura vierem a causar aos consumidores, nos
mesmos moldes do art. 14 do CDC.
OBS: Não é todo serviço público que se submete às regras do CDC,
mas somente aqueles realizados mediante uma contraprestação ou
remuneração diretamente efetuada pelo consumidor ao fornecedor (serviços
uti singuli), nos termos do art. 3º, §2º, pois somente os serviços fornecidos
mediante remuneração se enquadram no CDC. Já os serviços públicos
realizados mediante pagamento de tributos, prestados a toda coletividade
(serviços uti universis), não se submete aos preceitos consumeristas, pois não
há um consumidor e sim um contribuinte.
EX: Aplica-se o CDC aos serviços de energia elétrica, de água, telefonia e
transportes públicos e outros. Já os serviços relativos à segurança e à
iluminação pública não estariam amparados pelo CDC.
Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por
inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.
Este artigo trata do risco da atividade econômica, estabelecendo uma
garantia de adequação dos produtos e serviços (art.18 a 22), em que o empresário
ou quem explora a atividade econômica deve suportar os riscos provenientes de seu
negócio.
O Código estabelece de maneira explícita que o fornecedor não poderá se
eximir de sua responsabilidade ao argumento de que desconhecia o vício de
adequação, que tanto pode ser quanto à qualidade, quantidade ou informação dos
produtos e serviços. Uma vez que constatado o vício, o consumidor tem direito de
obter a sanção e, ainda, de receber indenização por perdas e danos.
Infere-se que o art. 443 do Código Civil (vicias redibitórios) não se
aplica às relações de consumo, pois, segundo o dispositivo legal, a responsabilidade
se dará de acordo com o conhecimento do vício pelo alienante. Dispõe o art. 443 do
CC: "Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituírá o que recebeu com
perdas e danos; se o não conhecia, tão somente restituirá o valor recebido, mais as
despesas do contrato."
Ou seja, para o CC, se o alienante não conhecia o vício, não ficará
obrigado a arcar com as perdas e danos. O CDC não estabelece essa diferença,
devendo haver ampla e integral reparação, nos moldes da responsabilidade objetiva,
sendo dispensável a observância do elemento culpa. A demonstração de boa-fé no
sistema consumerista não é capaz de elidir a responsabilidade pelo dano causado ao
consumidor.
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de
termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.
O que é garantia legal?
Quando você compra um produto ou um serviço existe um prazo para
reclamar o defeito do produto. Os produtos não duráveis, são 30 dias (exemplos:
Alimentos, perecem com o tempo). Já os produtos duráveis, são 90 dias
(exemplos: geladeira, armário, não se perecem com o tempo).
A lei garante isso, por isso é chamado de garantia legal. Está
estabelecido no CDC e não pode ser alterado pelas partes.
O que é garantia contratual?
Quando o fornecedor celebra um contrato com o consumidor
estendendo esse prazo da garantia legal.
Exemplo: Você comprou uma geladeira e tem o prazo de 90 dias (garantia
legal) para reclamar (produto durável). O fornecedor que vende estende esse
prazo (garantia contratual) para 12 meses ou 24 meses, o que estiver prevista
no contrato. Essa garantia contratual é FACULTATIVA. O fornecedor pode
ampliar essa garantia do prazo legal, dando esse benefício ao consumidor.
Garantia legal = Obrigatória
Garantia contratual = Facultativa. (É A GARANTIA ESTENDIDA)
É justamente isso que diz o artigo 24 do CDC, ou seja, o fornecedor não
pode estabelecer no contrato que a garantia legal de 30 dias ou 90 dias, pode ser
revogada em favor da garantia contratual.
É muito comum no comércio, na compra de um calçado o fornecedor
dizer ao consumidor que ele tem o prazo de 24 horas para realizar a trocar na loja
se tiver algum “defeito”. Na verdade, isso é um erro, porque o prazo não é de 24
horas, são 90 dias (garantia legal de produto durável). Quando o fornecedor dá o
prazo de 24 horas ao consumidor, este está exonerando do consumidor da sua
garantia legal que, não pode ser alterada e independen de termo expresso.
Outros comerciantes, ainda, costumam colocar que não existe prazo
para devolução ou troca do produto (reclamação), o que também viola o direito do
consumidor. Issoé uma forma de eliminar as reclamações, dando uma espécie de
ignorância dos consumidores em relação ao seu direito da garantia legal.
A garantia legal independe de termo expresso, ou seja, não precisa ter
um contrato ou um documento dizendo que este prazo está assegurado. É direito já
garantido ao consumidor a partir da compra. A garantia legal existe naturalmente,
sendo interna ao produto ou ao serviço fornecido. Mesmo que o fornecedor não
garanta a adequação do produto e do serviço, a lei o faz, sendo, por isso, nula
qualquer cláusula exonerativa.
Já na garantia contratual o termo expresso é importante, pois trata de
um contrato, que é chamada GARANTIA ESTENDIDA.
ATENÇÃO: O FORNECEDO PODE AMPLIAR A GARANTIA LEGAL E
NUNCA REDUZIR!
Nesse sentido, dispõe o art. 51 do CDC:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
I -impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor
por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem
renúncia ou disposição de direitos.
Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite,
exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções
anteriores.
Esta seção é a III e trata da (Responsabilidade pelos Vícios dos produtos
e serviços – artigo 18 a 25), as seções anteriores são a I – Da proteção, saúde e
segurança do consumidor - (artigo 8º a 10 do CDC) e a II – Responsabilidade pelo
Fato do produto e serviços – (artigo 12 a 17do CDC).
O artigo 25 trata da obrigação de indenizar e de acordo com esse artigo,
serão proibidas cláusulas que impossibilitem, exonerem ou atenuem a obrigação de
indenizar nos casos previstos no CDC.
Assim, tanto a garantia legal de segurança (arts. 12 a 17) como a garantia
legal de adequação {arts. 18 a 25) são obrigatórias por vontade da lei. É muito
comum frases do tipo "o estacionamento não se responsabiliza por eventuais
danos sofridos pelo veículo". Cláusula como essa é considerada como não escrita,
devendo ser excluída no aferimento da responsabilidade pelo fornecedor.
É nula a cláusula de isenção de responsabilidade do garagista pelo furto de
veículos ali guar dados (TJRS, Emb. Infringentes 591017603, Rei. Des. Ruy
Rosado de Aguiar, j. 03/05/1991).
Nesse sentido, dispõe também a Súmula no 130 do STJ: "A empresa
responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículos ocorridos em
seu estacionamento."
Assim, a chamada "cláusula de não indenizar" não tem validade perante
o direito do consumidor, uma vez que o art. 25 veda tal estipulação. Tal cláusula,
também denominada por alguns doutrinadores de "cláusula exonerativa de
responsabilidade" ou de "cláusula de irresponsabilidade': consiste em ajuste que
visa afastar as consequências normais advindas da não execução da obrigação, ou
seja, de forma prática, objetiva liberar o sujeito do pagamento da indenização.
Conforme dito, o CDC também proíbe a cláusula exonerativa, não
somente no art. 25, mas também através do art. 51, I, do CDC, ao qualificar como nula
de pleno direito qualquer estipulação nesse sentido.
Atenção! A única exceção à norma disposta no caput do art. 25 é no
tocante às relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor-pessoa
jurídica, prevista no art. 51, I, em que a indenização poderá ser limitada em
situações justificáveis, como veremos mais adiante.
§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos
responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções
anteriores.
Nos mesmos moldes do parágrafo único do “art. 7º. Tendo mais de um
autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos
previstos nas normas de consumo”. Todos aqueles que participaram da causação
do dano, de alguma forma, são responsáveis solidários (§ I o do art. 25) e, se o dano
for causado por componente ou peça incorporada ao produto ou serviço, haverá
também uma responsabilidade solidária entre o fornecedor (fabricante, construtor
ou importador) e o responsável pela incorporação da peça ou componente (§ 2o do
art. 25).
§ 2° Sendo o dano causado por componente ou peça incorporada ao
produto ou serviço, são responsáveis solidários seu fabricante, construtor ou
importador e o que realizou a incorporação.
Exemplo: Quando o automóvel apresenta defeito de fabricação em virtude dos
freios não funcionarem devidamente e, em razão disso, vem a causar danos ao
consumidor, poderá ser acionada não somente a montadora, como também o
fabricante dos freios. Conforme dito, a responsabilidade é solidária. Caso a
montadora seja acionada sozinha (é o que normalmente ocorre) e for
condenada a ressarcir os danos causados ao consumidor, poderá cobrar
regressivamente do fabricante dos freios (pois foi este que deu causa ao dano).
Fundando-se o direito do consumidor na responsabilidade objetiva,
é vedada a denunciação da lide por implicar debate de cunho subjetivo.
Todavia, o fato do consumidor ter exercido sua pretensão material contra
apenas uma das corresponsáveis pelo fato não afasta o direito desta de
demandar, regressivamente, em ação autônoma, a outra empresa
solidariamente responsável (TJDFT- APC 20010111076290, Rei. Des.
Natanael Caetano- DJU23/03/2006).
12 - Da Decadência e da Prescrição
1.Decadência
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca
em:
l-trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos
não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
§ 1 o Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do
produto ou do término da execução dos serviços.
O CDC separou as duas realidades. Tratou da decadência no art. 26 ("O direito
caduca ... ") e da prescrição no art. 27 ("Prescreve ... a pretensão"). O direito caduca, a
pretensão prescreve. No caso específico do CDC, a decadência afeta o direito de reclamar
dos vícios dos produtos e serviços, a prescrição afeta a pretensão à reparação pelos danos
causados pelo fato do produto ou do serviço.
Mais tecnicamente, o prazo do art. 26 é de decadência, pois se trata de decurso
de prazo para que o consumidor exerça um direito potestativo (direito de reclamar),
impondo uma sujeição ao fornecedor, para que este possa sanar os vícios do produto ou
serviço em razão da responsabilidade por vício de inadequação estampada nos arts. 18 a 25
do CDC.
Se o produto ou serviço apresenta vício quanto à quantidade ou qualidade (arts.
18 e 20 do CDC), ou de algum modo impróprio ao uso e ao consumo (arts. 18,§ 6º, e 20, §
2º), a lei concede ao consumidor o direito formativo de escolher entre as alternativas de
substituição do produto: abatimento proporcional do preço, a reexecução do serviço,
ou a resolução do contrato, com a restituição do preço (art. 18,§2º, e incisos do art.
20). A lei cuida dessas situações como sendo um direito formativo do consumidor, a ser
exercido dentro de prazo curto de 30 ou 90 dias, conforme se trata de bens não duráveis ou
duráveis, respectivamente (art. 26, incisos I e 11). O caso é de extinção do direito formativo
e o prazo é de decadência.
§ 2° Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o
fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve
ser transmitida de forma inequívoca;
II - (Vetado).
III- a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
A suspensão do prazo decadencial se dá através das hipóteses previstas
do §2º do CDC. No que tange ao inciso I, este possui leitura fácil: obsta a decadência
a reclamação feita pelo consumidor ao fornecedor.
Todavia, pergunta-se:
a) A reclamação pode ser verbal?
b) Tem que ser feita pessoalmente ou pode ser pelo telefone?
c) Tem que ser feita pelo próprioconsumidor ou por alguma entidade
de defesa do consumidor em seu nome?
d) A que pessoa real no fornecedor a reclamação tem que chegar?
É evidente que uma norma protecionista que tenha conferido prazos
curtos (30 e 90 dias) para o consumidor agir e não decair de seu direito tenha que
ser interpretada da maneira mais ampla e abrangente possível em relação à forma
de constituição dessa garantia. Além do fato de que a regra básica é de proteção ao
consumidor (art. 1º), reconhecido como vulnerável (inciso I do art. 4º), cuja
interpretação necessariamente deve buscar igualdade real (art. 5º, caput e inciso
I, da CF), para gerar equilíbrio no caso concreto (art. 4º, III) etc. Essas
características devem ser levadas em conta para o sentido de tudo o que está
estabelecido no § 2º.
Assim, a lei exige que o consumidor comprove que fez a reclamação,
mas nada impede que esta seja verbal, pessoalmente ou por telefone. A prova dessa
reclamação, se necessária, será feita no processo judicial, por todos os meios
admitidos. É claro que, para o consumidor se garantir plenamente e não correr o
risco de perder seu direito, o ideal será que faça a reclamação por escrito e a
entregue ao fornecedor: por intermédio de Cartório de Títulos e Documentos;
mediante o serviço de correios com aviso de recebimento; ou protocolando cópia
diretamente no estabelecimento do fornecedor.
STJ enfrentou a questão recentemente, entendendo que a reclamação
que obsta a decadência pode sim ser feita verbalmente. Vejamos:
REsp 1.442.597-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em
24/10/2017, DJe 30/10/2017 Ação redibitória. Reclamação que obsta a
decadência. Forma documental ou verbal. Admissão. Comprovação pelo
consumidor. A reclamação obstativa da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I,
do CDC pode ser feita documentalmente ou verbalmente. Na origem, trata-se de
ação redibitória – extinta com resolução do mérito, ante o reconhecimento da
decadência – por meio da qual se buscava a rescisão do contrato de compra e venda
de veículo defeituoso. Nesse contexto, discute-se a forma pela qual o consumidor
deve externar a reclamação prevista no art. 26, § 2º, I, do Código de Defesa do
Consumidor. Nos termos do dispositivo supracitado, é causa obstativa da
decadência, a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o
fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve
ser transmitida de forma inequívoca. Infere-se do preceito legal que a lei não
preestabelece uma forma para a realização da reclamação, exigindo apenas
comprovação de que o fornecedor tomou ciência inequívoca quanto ao
propósito do consumidor de reclamar pelos vícios do produto ou serviço. Com
efeito, a reclamação obstativa da decadência pode ser feita documentalmente –
por meio físico ou eletrônico – ou mesmo verbalmente – pessoalmente ou por
telefone – e, consequentemente, a sua comprovação pode dar-se por todos os
meios admitidos em direito. Afinal, supor que o consumidor, ao invés de servir-se
do atendimento atualmente oferecido pelo mercado, vá burocratizar a relação,
elaborando documento escrito e remetendo-o ao Cartório, é ir contra o andamento
natural das relações de consumo. (grifei)
O consumidor deve provocar o fornecedor dentro do prazo decadencial
para que este possa sanar o vício, o que pode ser feito tanto por escrito quanto
verbalmente. Após o decurso de 30 dias sem que seja sanado, poderá o consumidor
fazer uso de uma das alternativas elencadas no art. 18, §1o, CDC. E, por fim, se ao
final daquele prazo não houver resposta negativa inequívoca, a decadência
permanece interrompida, permitindo-se o ajuizamento da respectiva ação.
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que
ficar evidenciado o defeito.
De forma inovadora, o CC estipulou o período máximo em que deverá ocorrer o
aparecimento do vício oculto: "Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais
tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de 180
dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis (art.445, §1º).
Assim, quando o vício aparecer em até 180 dias da entrega efetiva (pois o vício
estava oculto) o adquirente terá 30 dias para exigir a redibição do contrato ou abatimento
do preço em se tratando de bens móveis e 01 ano se for bens imóveis. Tratando-se de venda
de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial,
ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no § 1° do art. 445, se não houver
regras disciplinando a matéria (art 445, § 2°).
Os vícios tratados pelo CDC, segundo o art. 26, poderão ser, segundo a sua
natureza: 1) aparente ou de fácil constatação e 2) oculto:
Os vícios aparentes ou de fácil constatação são aqueles cuja identificação não
exige conhecimento especializado por parte do consumidor, em que a constatação se dá
apenas com o exame superficial do produto ou serviço. Tal exame poderá se dar através de
simples visualização sobre o bem (como no caso de um carro com riscos na pintura) ou
através de experimentação ou uso do bem (carro que ao ser testado pela primeira vez,
esquenta o motor).
Por sua vez, vício oculto é aquele vício que já estava presente quando da
aquisição do produto ou do término do serviço, mas que somente se manifestou algum
tempo depois; ou seja, é aquele cuja identificação não se dá com simples exame pelo
consumidor. A diferenciação entre vícios aparentes/fácil constatação e ocultos será
importante para se delimitar o início do prazo decadencial.
O PRAZO DECADENCIAL SERÁ DE 90 DIAS PARA OS PRODUTOS E SERVIÇOS
DURÁVEIS E DE 30 DIAS PARA OS NÃO DURÁVEIS.
Produtos não duráveis são aqueles que se exaurem após o consumo ao passo
que os duráveis, a contrario sensu, seriam aqueles que não se exaurem após o consumo, mas
que também não se perpetuam, tendo sua vida útil.
Entende-se por produtos não duráveis aqueles que se exaurem no
primeiro uso ou logo após sua aquisição, enquanto que os duráveis, definidos por
exclusão, seriam aqueles de vida útil não efêmera (STJ. REsp. 114473/RJ, Rel. Min.
Sálvio de Figueiredo Teixeira, D/ 05/05/1997).
Já em relação aos serviços, a durabilidade está ligada ao resultado pretendido
com a execução do serviço, e não ao tempo de duração da atividade desenvolvida pelo
fornecedor.
Nesse sentido, interessante as observações de Paulo José Scartezzini Guimarães
de que "o conceito de durável e não durável está ligado aos efeitos que o serviço gera ao
consumidor. Quando contratamos uma. empresa para a dedetização de nossas residências, é
irrelevante para a conceituação o fato de a empresa demorar duas horas para realizar o
trabalho. Para a conceituação jurídica é importante apenas que aquele serviço, segundo a
informação dada pelo fornecedor, afastará os insetos de nossas casas, por, digamos, seis meses.
Nesse caso poderemos. classificá-lo como serviço durável:'
Exemplos: São considerados duráveis os serviços de seguro de automóvel; de
assistência técnica; de reforma de imóveis etc. São considerados não duráveis, por
sua vez, os serviços de transporte; de lavagem de automóvel; de cabeleireiro, de
pacote turístico etc.
PRAZOS DE DECADÊNCIA
VÍCIOS PRODUTOS OU
SERVIÇOS
PRAZO INÍCIO DA CONTAGEM
Aparentes ou de fácil
constatação
Não duráveis 30 dias Entrega efetiva do produto
ou do término da execução
do serviço
Duráveis 90 dias
Oculto
Não duráveis 30 dias Momento em que ficar
evidenciado o defeito Duráveis 90 diais
Questão interessante é: Existe prazo máximo para o aparecimento do
vício oculto, uma vez que a norma não disciplinou nada a respeito? Por exemplo, se
adquiro um carro e o vício oculto (por estar presente desde a compra) somente se
manifesta 15 anos depois, estaria aberto o prazo decadencial de 90 dias (produto
durável) para quefosse sanado o vício pelo fornecedor?
R: Neste ponto, a doutrina considera a vida útil do produto ou serviço
como limite temporal para o surgimento do vício oculto.
Sustenta Cláudia Lima Marques que ''se o vício é oculto, porque se manifesta
somente com o uso, a experimentação do produto ou porque se evidenciará muito tempo após
a tradição, o limite temporal da garantia legal está em aberto, seu termo inicial; segundo o§
3° do art. 26, é a descoberta do vício. Somente a partir da descoberta do vício (talvez meses ou
anos após o contrato) é que passarão a correr os 30 ou 90 dias. Será, então, a nova garantia
legal eterna? Não, os bens de consumo possuem uma durabilidade determinada. É a chamada
vida útil do produto."
O STJ, no Resp 984106/SC, Rel. Min_ Luis Felipe Salomão, DJe 20/11/2012,
também entendeu que o "o Código de Defesa do Consumidor, no § 3° do art. 26, no que
concerne à disciplina do vício oculto, adotou o critério da vida útil do bem, e não o
critério da garantia, podendo o fornecedor se responsabilizar pelo vícío em um espaço
largo de tempo, mesmo depois de expirada a garantia contratual:”
Ou seja, nos casos dos vícios ocultos, terá que se avaliar o período de vida útil
do produto para se averiguar a responsabilidade do fornecedor. Se estiver no período da
vida útil, o fornecedor ainda responderá pelo vício. Se já estiver no fim da vida útil ou se já
esgotado o período, não haverá responsabilidade.
OBS: O prazo de decadência para a reclamação de defeitos surgidos no
produto não se confunde com o prazo de garantia legal pela qualidade do produto.
2. Prescrição:
Art. 27 Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por
fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a
contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
Parágrafo único. (Vetado).
O artigo trata da prescrição do direito de pleitear judicialmente a reparação
pelos danos causados por um acidente de consumo (responsabilidade pelo fato do produto
e do serviço- arts. 12 a 17).
A responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço decorre da
exteriorização de um vício de qualidade, vale dizer, de um defeito capaz de frustrar a
legítima expectativa do consumidor quanto à sua utilização de fruição. Um produto ou
serviço é defeituoso, da mesma sorte, quando sua utilização ou fruição é capaz de adicionar
riscos à segurança do consumidor ou de terceiros.
Indagação importante é se a norma disposta no art. 27 estaria limitada ao
"acidente de consumo", ou seja, à ocorrência de vícios de qualidade por insegurança; ou se
poderia ser aplicada a toda e qualquer ação indenizatória (portanto, prescricional) oriunda
de relação de consumo, como por exemplo, indenização por inadimplemento contratual ou
por danos morais sem que haja potencialidade de causar acidente.
O art. 27 é claro no sentido de delimitar sua aplicação às situações concernentes
à "reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção li deste
Capítulo;'
A que se refere o art. 27, trata exclusivamente da responsabilidade civil pela
reparação dos danos causados pelo fornecedor aos consumidores por defeitos relativos ao
produto ou à prestação do serviço, conforme previstos nos arts. 12 e 14 do CDC. E ao definir
produto e serviço defeituoso, é taxativo ao afirmar que ocorre quando não oferece e/ou
fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar (§1º dos arts. 12 e 14).
Assim, ainda que haja relação de consumo, podem haver outras espécies de
responsabilidade (legal, contratual, extracontratual) que não tratou o CDC.
O STJ já reconheceu que não se aplica o prazo de cinco anos do CDC quando
houver um inadimplemento contratual sem caracterizar um acidente de consumo.
Em ação de indenização, sendo a causa de pedir o inadimplemento
contratual, não incide o prazo prescricional estabelecido no art. 27 do CDC, aplicável
somente à hipótese de danos decorrentes de acidente de consumo. (STJ, REsp
476.458-SP, Ministr Nancy Andrighi, j. 4/8/2005).
O STJ tem aplicado o prazo decenal (10 anos) para o consumidor ajuizar ação
contra construtora por atraso na entrega do imóvel (inadimplemento contratual).
"AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS E DANO
MORAL. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL ATRASO NA ENTREGA DA
OBRA. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. PRAZO PRESCRICIONAL ART. 205 DO CC.
DIVERG~NCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA.( ... ) Aplica-se o prazo
prescricional decenal previsto no art. 205 do CC nas pretensões indenizatórias
decorrentes de inadimplemento contratual:' (STJ, REsp l5912231PR, ReL Ministro
João Otávio de Noronha, Terceira Turma, DJ: 09/06/2016)
Pelas mesmas razões, o STJ já decidiu que não se aplica o prazo de cinco anos
do art. 27 e sim o prazo do CC à indenização em contrato de transporte por atraso de voo,
por não se caracterizar como acidente de consumo.
A ação de indenização decorrente do inadimplemento do contrato de
transporte, por atraso de voo, não se aplica o art. 26 do Código de Defesa do Consumidor,
dispondo essa norma a propósito da decadência em trinta (30) dias no caso de vício
aparente, de fácil constatação.
De uma maneira didática, podemos sintetizar da seguinte forma:
1. Caso o produto ou serviço apresente vícios (de qualidade ou quantidade), o direito
"potestativo" ao conserto, substituição do produto, reexecução do serviço, abatimento
no preço, complemento da quantidade, etc. (arts. 18, § 1º; 19 e 20 do CDC) será exercido
nos prazos decadenciais do art. 26 do CDC (30 dias para não duráveis e 90 dias para
duráveis).
2. Independentemente do exercício do direito potestativo (nos prazos decadenciais do art.
26), havendo acidente de consumo – surgirá o direito subjetivo à indenização (seja de
danos materiais, seja de danos morais, estéticos, etc.), a pretensão será exercida no prazo
do art. 27 do CDC (5 anos) nas hipóteses de acidente de consumo ou nos prazos do Código
Civil quando não há acidente de consumo (3 anos para responsabilidade extracontratual
e 10 anos para responsabilidade contratual).
De forma a sintetizar o posicionamento atual do STJ no tocante aos prazos,
temos:
PRINCIPAIS PRAZOS PRESCRICIONAIS NO STJ
SITUAÇÃO DISPOSITIVO LEGAL PRAZO
Ação de repetição do indébito. Art. 206 § 3°, IV do CC 3 anos
Ação de repetição do indébito em
decorrência de declaração de nulidade de
cláusula de reajuste nos planos de saúde
Art. 206 § 3°, IV do CC 3anos
Dano ambiental acarretando danos à
saúde do consumidor
Art. 27 do CDC 5 anos
Acidente aéreo Art. 27 do CDC 5 anos
Indenização por danos materiais e morais
decorrentes de falha na prestação de
serviço
Art. 27 do CDC 5 anos
Indenização por erro médico Art. 27 do CDC 5 anos
Ação revisional e de repetição do indébito
nos contratos bancários
Art. 205 do CC 10 anos
Ação contra construtora por atraso na
entrega do imóvel
Art. 205 do CC 10 anos
Ação de repetição do indébito para
cobrança de água e esgoto pagos
indevidamente
Art.205 do CC e Súmula
412 do STJ
10 anos
Ação de repetição do indébito para
cobrança de serviços de telefonia pagos
indevidamente
Art. 205 do CC 10 anos
Ações envolvendo inadimplemento
contratual
Art. 205 do CC 10 anos
Ressarcimento de valores dispendidos,
pelo segurado, com procedimento
cirúrgico não custeado, pela seguradora
Art. 205 do CC 10 anos
Ação de prestação de contas com o escopo
de obter esclarecimentos acerca da
cobrança de taxas, tarifas e/ou encargos
bancários
Art. 205 do CC 10 anos
Ação de indenização por negativação
indevida
art. 206, § 3°, V, do CC
(Terceira Turma) e art.
205 do CC (Quarta
Turma)
3 anos
(Terceira
Turma) e 10
anos (Quarta
Turma)