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4-Componentes novos, originais e adequados no fornecimento dos serviços 
Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer 
produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de 
reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do 
fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor. 
O artigo impõe um dever para todo prestador de serviço pelo qual, nos 
consertos e nas reparações de qualquer natureza, deverá utilizar componentes: 
1) originais adequados (aqueles produzidos pelo fabricante ou de marca 
por ele sugerida); 
2) novos; 
3) mantenham as especificações técnicas do fabricante, sob pena de 
incorrer em vício de qualidade do serviço, nos moldes do artigo 20. 
A redação do artigo não é muito clara. A autorização em contrário do 
consumidor, deve ser compreendida em relação aos componentes originais e novos 
e jamais as que mantenham especificações técnicas das peças de reposição, já que 
o CDC, norma de ordem pública, tem como forte diretriz padrão mínimo de 
qualidade que atenda à funcionalidade e r a segurança dos produtos e serviços 
oferecidos no mercado de consumo. 
É possível permitir a autorização em contrário do consumidor somente 
quanto à utilização de componentes originais e/ou novos, mas jamais daqueles que 
não mantenham as especificações técnicas do fabricante. 
Se o componente não mantém a especificação técnica do fabricante é 
porque não é adequado para o produto. Ora, o consumidor não tem conhecimento 
técnico suficiente para julgar se uma determinada peça é adequada ou não para que 
produto funcione corretamente e de forma segura (princípio da vulnerabilidade). 
É muito comum a reutilização de peças quando se encontram em bom 
estado e, principalmente, porque as peças originais e novas tornam o serviço bem 
mais oneroso. Mas essa prática é somente permita quando o consunmidor é 
previamente consultado e a aceita, ou seja, para que o prestador de serviços utilize 
peças usadas ou que não sejam originais, será necessária a autorização EXPRESSA 
do consumidor. 
Portanto, é perfeitamente, e juridicamente, possível a utilização de 
peças usadas ou recondicionadas no fornecimento de serviços, desde que 
exista a autorização do consumidor. 
A autorização pode ser verbal, mas é absolutamente recomendável que 
seja escrita para evitar futuras discussões sobre esta importante manifestação de 
vontade do consumidor e considerando, ainda, a infração penal descrita no art. 70 
CDC: 
Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição usados, sem 
autorização do consumidor: 
Pena Detenção de três meses a um ano e multa. 
 5- Pessoas Jurídicas Prestadoras de Serviços Públicos : 
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob 
qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, 
eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. 
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas 
neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos 
causados, na forma prevista neste código. 
 As pessoas jurídicas prestadoras de serviço público, sejam de direito 
público, sejam de direito privado, estão submetidas Às regras do CDC, não só 
devendo prestar serviços adequados, eficientes e seguros, como também estando 
sujeitos a reparar os danos que porventura vierem a causar aos consumidores, nos 
mesmos moldes do art. 14 do CDC. 
OBS: Não é todo serviço público que se submete às regras do CDC, 
mas somente aqueles realizados mediante uma contraprestação ou 
remuneração diretamente efetuada pelo consumidor ao fornecedor (serviços 
uti singuli), nos termos do art. 3º, §2º, pois somente os serviços fornecidos 
mediante remuneração se enquadram no CDC. Já os serviços públicos 
realizados mediante pagamento de tributos, prestados a toda coletividade 
(serviços uti universis), não se submete aos preceitos consumeristas, pois não 
há um consumidor e sim um contribuinte. 
EX: Aplica-se o CDC aos serviços de energia elétrica, de água, telefonia e 
transportes públicos e outros. Já os serviços relativos à segurança e à 
iluminação pública não estariam amparados pelo CDC. 
Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por 
inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade. 
Este artigo trata do risco da atividade econômica, estabelecendo uma 
garantia de adequação dos produtos e serviços (art.18 a 22), em que o empresário 
ou quem explora a atividade econômica deve suportar os riscos provenientes de seu 
negócio. 
O Código estabelece de maneira explícita que o fornecedor não poderá se 
eximir de sua responsabilidade ao argumento de que desconhecia o vício de 
adequação, que tanto pode ser quanto à qualidade, quantidade ou informação dos 
produtos e serviços. Uma vez que constatado o vício, o consumidor tem direito de 
obter a sanção e, ainda, de receber indenização por perdas e danos. 
Infere-se que o art. 443 do Código Civil (vicias redibitórios) não se 
aplica às relações de consumo, pois, segundo o dispositivo legal, a responsabilidade 
se dará de acordo com o conhecimento do vício pelo alienante. Dispõe o art. 443 do 
CC: "Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituírá o que recebeu com 
perdas e danos; se o não conhecia, tão somente restituirá o valor recebido, mais as 
despesas do contrato." 
 Ou seja, para o CC, se o alienante não conhecia o vício, não ficará 
obrigado a arcar com as perdas e danos. O CDC não estabelece essa diferença, 
devendo haver ampla e integral reparação, nos moldes da responsabilidade objetiva, 
sendo dispensável a observância do elemento culpa. A demonstração de boa-fé no 
sistema consumerista não é capaz de elidir a responsabilidade pelo dano causado ao 
consumidor. 
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de 
termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor. 
O que é garantia legal? 
 
Quando você compra um produto ou um serviço existe um prazo para 
reclamar o defeito do produto. Os produtos não duráveis, são 30 dias (exemplos: 
Alimentos, perecem com o tempo). Já os produtos duráveis, são 90 dias 
(exemplos: geladeira, armário, não se perecem com o tempo). 
 
A lei garante isso, por isso é chamado de garantia legal. Está 
estabelecido no CDC e não pode ser alterado pelas partes. 
 
O que é garantia contratual? 
 
Quando o fornecedor celebra um contrato com o consumidor 
estendendo esse prazo da garantia legal. 
 
Exemplo: Você comprou uma geladeira e tem o prazo de 90 dias (garantia 
legal) para reclamar (produto durável). O fornecedor que vende estende esse 
prazo (garantia contratual) para 12 meses ou 24 meses, o que estiver prevista 
no contrato. Essa garantia contratual é FACULTATIVA. O fornecedor pode 
ampliar essa garantia do prazo legal, dando esse benefício ao consumidor. 
 
Garantia legal = Obrigatória 
Garantia contratual = Facultativa. (É A GARANTIA ESTENDIDA) 
 
É justamente isso que diz o artigo 24 do CDC, ou seja, o fornecedor não 
pode estabelecer no contrato que a garantia legal de 30 dias ou 90 dias, pode ser 
revogada em favor da garantia contratual. 
 
É muito comum no comércio, na compra de um calçado o fornecedor 
dizer ao consumidor que ele tem o prazo de 24 horas para realizar a trocar na loja 
se tiver algum “defeito”. Na verdade, isso é um erro, porque o prazo não é de 24 
horas, são 90 dias (garantia legal de produto durável). Quando o fornecedor dá o 
prazo de 24 horas ao consumidor, este está exonerando do consumidor da sua 
garantia legal que, não pode ser alterada e independen de termo expresso. 
 
Outros comerciantes, ainda, costumam colocar que não existe prazo 
para devolução ou troca do produto (reclamação), o que também viola o direito do 
consumidor. Issoé uma forma de eliminar as reclamações, dando uma espécie de 
ignorância dos consumidores em relação ao seu direito da garantia legal. 
 
A garantia legal independe de termo expresso, ou seja, não precisa ter 
um contrato ou um documento dizendo que este prazo está assegurado. É direito já 
garantido ao consumidor a partir da compra. A garantia legal existe naturalmente, 
sendo interna ao produto ou ao serviço fornecido. Mesmo que o fornecedor não 
garanta a adequação do produto e do serviço, a lei o faz, sendo, por isso, nula 
qualquer cláusula exonerativa. 
 
Já na garantia contratual o termo expresso é importante, pois trata de 
um contrato, que é chamada GARANTIA ESTENDIDA. 
 
ATENÇÃO: O FORNECEDO PODE AMPLIAR A GARANTIA LEGAL E 
NUNCA REDUZIR! 
 
Nesse sentido, dispõe o art. 51 do CDC: 
 
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais 
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: 
I -impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor 
por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem 
renúncia ou disposição de direitos. 
 
 Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, 
exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções 
anteriores. 
Esta seção é a III e trata da (Responsabilidade pelos Vícios dos produtos 
e serviços – artigo 18 a 25), as seções anteriores são a I – Da proteção, saúde e 
segurança do consumidor - (artigo 8º a 10 do CDC) e a II – Responsabilidade pelo 
Fato do produto e serviços – (artigo 12 a 17do CDC). 
 
O artigo 25 trata da obrigação de indenizar e de acordo com esse artigo, 
serão proibidas cláusulas que impossibilitem, exonerem ou atenuem a obrigação de 
indenizar nos casos previstos no CDC. 
 
Assim, tanto a garantia legal de segurança (arts. 12 a 17) como a garantia 
legal de adequação {arts. 18 a 25) são obrigatórias por vontade da lei. É muito 
comum frases do tipo "o estacionamento não se responsabiliza por eventuais 
danos sofridos pelo veículo". Cláusula como essa é considerada como não escrita, 
devendo ser excluída no aferimento da responsabilidade pelo fornecedor. 
 
 É nula a cláusula de isenção de responsabilidade do garagista pelo furto de 
veículos ali guar dados (TJRS, Emb. Infringentes 591017603, Rei. Des. Ruy 
Rosado de Aguiar, j. 03/05/1991). 
 
Nesse sentido, dispõe também a Súmula no 130 do STJ: "A empresa 
responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículos ocorridos em 
seu estacionamento." 
 
Assim, a chamada "cláusula de não indenizar" não tem validade perante 
o direito do consumidor, uma vez que o art. 25 veda tal estipulação. Tal cláusula, 
também denominada por alguns doutrinadores de "cláusula exonerativa de 
responsabilidade" ou de "cláusula de irresponsabilidade': consiste em ajuste que 
visa afastar as consequências normais advindas da não execução da obrigação, ou 
seja, de forma prática, objetiva liberar o sujeito do pagamento da indenização. 
 
Conforme dito, o CDC também proíbe a cláusula exonerativa, não 
somente no art. 25, mas também através do art. 51, I, do CDC, ao qualificar como nula 
de pleno direito qualquer estipulação nesse sentido. 
 
Atenção! A única exceção à norma disposta no caput do art. 25 é no 
tocante às relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor-pessoa 
jurídica, prevista no art. 51, I, em que a indenização poderá ser limitada em 
situações justificáveis, como veremos mais adiante. 
 
 § 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos 
responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções 
anteriores. 
Nos mesmos moldes do parágrafo único do “art. 7º. Tendo mais de um 
autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos 
previstos nas normas de consumo”. Todos aqueles que participaram da causação 
do dano, de alguma forma, são responsáveis solidários (§ I o do art. 25) e, se o dano 
for causado por componente ou peça incorporada ao produto ou serviço, haverá 
também uma responsabilidade solidária entre o fornecedor (fabricante, construtor 
ou importador) e o responsável pela incorporação da peça ou componente (§ 2o do 
art. 25). 
 § 2° Sendo o dano causado por componente ou peça incorporada ao 
produto ou serviço, são responsáveis solidários seu fabricante, construtor ou 
importador e o que realizou a incorporação. 
Exemplo: Quando o automóvel apresenta defeito de fabricação em virtude dos 
freios não funcionarem devidamente e, em razão disso, vem a causar danos ao 
consumidor, poderá ser acionada não somente a montadora, como também o 
fabricante dos freios. Conforme dito, a responsabilidade é solidária. Caso a 
montadora seja acionada sozinha (é o que normalmente ocorre) e for 
condenada a ressarcir os danos causados ao consumidor, poderá cobrar 
regressivamente do fabricante dos freios (pois foi este que deu causa ao dano). 
 
Fundando-se o direito do consumidor na responsabilidade objetiva, 
é vedada a denunciação da lide por implicar debate de cunho subjetivo. 
Todavia, o fato do consumidor ter exercido sua pretensão material contra 
apenas uma das corresponsáveis pelo fato não afasta o direito desta de 
demandar, regressivamente, em ação autônoma, a outra empresa 
solidariamente responsável (TJDFT- APC 20010111076290, Rei. Des. 
Natanael Caetano- DJU23/03/2006). 
 
12 - Da Decadência e da Prescrição 
 
1.Decadência 
 
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca 
em: 
l-trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos 
não duráveis; 
 
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis. 
 
§ 1 o Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do 
produto ou do término da execução dos serviços. 
 
 
O CDC separou as duas realidades. Tratou da decadência no art. 26 ("O direito 
caduca ... ") e da prescrição no art. 27 ("Prescreve ... a pretensão"). O direito caduca, a 
pretensão prescreve. No caso específico do CDC, a decadência afeta o direito de reclamar 
dos vícios dos produtos e serviços, a prescrição afeta a pretensão à reparação pelos danos 
causados pelo fato do produto ou do serviço. 
 
Mais tecnicamente, o prazo do art. 26 é de decadência, pois se trata de decurso 
de prazo para que o consumidor exerça um direito potestativo (direito de reclamar), 
impondo uma sujeição ao fornecedor, para que este possa sanar os vícios do produto ou 
serviço em razão da responsabilidade por vício de inadequação estampada nos arts. 18 a 25 
do CDC. 
 
Se o produto ou serviço apresenta vício quanto à quantidade ou qualidade (arts. 
18 e 20 do CDC), ou de algum modo impróprio ao uso e ao consumo (arts. 18,§ 6º, e 20, § 
2º), a lei concede ao consumidor o direito formativo de escolher entre as alternativas de 
substituição do produto: abatimento proporcional do preço, a reexecução do serviço, 
ou a resolução do contrato, com a restituição do preço (art. 18,§2º, e incisos do art. 
20). A lei cuida dessas situações como sendo um direito formativo do consumidor, a ser 
exercido dentro de prazo curto de 30 ou 90 dias, conforme se trata de bens não duráveis ou 
duráveis, respectivamente (art. 26, incisos I e 11). O caso é de extinção do direito formativo 
e o prazo é de decadência. 
 
§ 2° Obstam a decadência: 
 
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o 
fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve 
ser transmitida de forma inequívoca; 
II - (Vetado). 
III- a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. 
 
 
A suspensão do prazo decadencial se dá através das hipóteses previstas 
do §2º do CDC. No que tange ao inciso I, este possui leitura fácil: obsta a decadência 
a reclamação feita pelo consumidor ao fornecedor. 
Todavia, pergunta-se: 
a) A reclamação pode ser verbal? 
b) Tem que ser feita pessoalmente ou pode ser pelo telefone? 
c) Tem que ser feita pelo próprioconsumidor ou por alguma entidade 
de defesa do consumidor em seu nome? 
d) A que pessoa real no fornecedor a reclamação tem que chegar? 
 
É evidente que uma norma protecionista que tenha conferido prazos 
curtos (30 e 90 dias) para o consumidor agir e não decair de seu direito tenha que 
ser interpretada da maneira mais ampla e abrangente possível em relação à forma 
de constituição dessa garantia. Além do fato de que a regra básica é de proteção ao 
consumidor (art. 1º), reconhecido como vulnerável (inciso I do art. 4º), cuja 
interpretação necessariamente deve buscar igualdade real (art. 5º, caput e inciso 
I, da CF), para gerar equilíbrio no caso concreto (art. 4º, III) etc. Essas 
características devem ser levadas em conta para o sentido de tudo o que está 
estabelecido no § 2º. 
Assim, a lei exige que o consumidor comprove que fez a reclamação, 
mas nada impede que esta seja verbal, pessoalmente ou por telefone. A prova dessa 
reclamação, se necessária, será feita no processo judicial, por todos os meios 
admitidos. É claro que, para o consumidor se garantir plenamente e não correr o 
risco de perder seu direito, o ideal será que faça a reclamação por escrito e a 
entregue ao fornecedor: por intermédio de Cartório de Títulos e Documentos; 
mediante o serviço de correios com aviso de recebimento; ou protocolando cópia 
diretamente no estabelecimento do fornecedor. 
STJ enfrentou a questão recentemente, entendendo que a reclamação 
que obsta a decadência pode sim ser feita verbalmente. Vejamos: 
REsp 1.442.597-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 
24/10/2017, DJe 30/10/2017 Ação redibitória. Reclamação que obsta a 
decadência. Forma documental ou verbal. Admissão. Comprovação pelo 
consumidor. A reclamação obstativa da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, 
do CDC pode ser feita documentalmente ou verbalmente. Na origem, trata-se de 
ação redibitória – extinta com resolução do mérito, ante o reconhecimento da 
decadência – por meio da qual se buscava a rescisão do contrato de compra e venda 
de veículo defeituoso. Nesse contexto, discute-se a forma pela qual o consumidor 
deve externar a reclamação prevista no art. 26, § 2º, I, do Código de Defesa do 
Consumidor. Nos termos do dispositivo supracitado, é causa obstativa da 
decadência, a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o 
fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve 
ser transmitida de forma inequívoca. Infere-se do preceito legal que a lei não 
preestabelece uma forma para a realização da reclamação, exigindo apenas 
comprovação de que o fornecedor tomou ciência inequívoca quanto ao 
propósito do consumidor de reclamar pelos vícios do produto ou serviço. Com 
efeito, a reclamação obstativa da decadência pode ser feita documentalmente – 
por meio físico ou eletrônico – ou mesmo verbalmente – pessoalmente ou por 
telefone – e, consequentemente, a sua comprovação pode dar-se por todos os 
meios admitidos em direito. Afinal, supor que o consumidor, ao invés de servir-se 
do atendimento atualmente oferecido pelo mercado, vá burocratizar a relação, 
elaborando documento escrito e remetendo-o ao Cartório, é ir contra o andamento 
natural das relações de consumo. (grifei) 
 
O consumidor deve provocar o fornecedor dentro do prazo decadencial 
para que este possa sanar o vício, o que pode ser feito tanto por escrito quanto 
verbalmente. Após o decurso de 30 dias sem que seja sanado, poderá o consumidor 
fazer uso de uma das alternativas elencadas no art. 18, §1o, CDC. E, por fim, se ao 
final daquele prazo não houver resposta negativa inequívoca, a decadência 
permanece interrompida, permitindo-se o ajuizamento da respectiva ação. 
 
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que 
ficar evidenciado o defeito. 
 
De forma inovadora, o CC estipulou o período máximo em que deverá ocorrer o 
aparecimento do vício oculto: "Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais 
tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de 180 
dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis (art.445, §1º). 
 
Assim, quando o vício aparecer em até 180 dias da entrega efetiva (pois o vício 
estava oculto) o adquirente terá 30 dias para exigir a redibição do contrato ou abatimento 
do preço em se tratando de bens móveis e 01 ano se for bens imóveis. Tratando-se de venda 
de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, 
ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no § 1° do art. 445, se não houver 
regras disciplinando a matéria (art 445, § 2°). 
 
Os vícios tratados pelo CDC, segundo o art. 26, poderão ser, segundo a sua 
natureza: 1) aparente ou de fácil constatação e 2) oculto: 
 
Os vícios aparentes ou de fácil constatação são aqueles cuja identificação não 
exige conhecimento especializado por parte do consumidor, em que a constatação se dá 
apenas com o exame superficial do produto ou serviço. Tal exame poderá se dar através de 
simples visualização sobre o bem (como no caso de um carro com riscos na pintura) ou 
através de experimentação ou uso do bem (carro que ao ser testado pela primeira vez, 
esquenta o motor). 
 
Por sua vez, vício oculto é aquele vício que já estava presente quando da 
aquisição do produto ou do término do serviço, mas que somente se manifestou algum 
tempo depois; ou seja, é aquele cuja identificação não se dá com simples exame pelo 
consumidor. A diferenciação entre vícios aparentes/fácil constatação e ocultos será 
importante para se delimitar o início do prazo decadencial. 
 
O PRAZO DECADENCIAL SERÁ DE 90 DIAS PARA OS PRODUTOS E SERVIÇOS 
DURÁVEIS E DE 30 DIAS PARA OS NÃO DURÁVEIS. 
 
Produtos não duráveis são aqueles que se exaurem após o consumo ao passo 
que os duráveis, a contrario sensu, seriam aqueles que não se exaurem após o consumo, mas 
que também não se perpetuam, tendo sua vida útil. 
 
Entende-se por produtos não duráveis aqueles que se exaurem no 
primeiro uso ou logo após sua aquisição, enquanto que os duráveis, definidos por 
exclusão, seriam aqueles de vida útil não efêmera (STJ. REsp. 114473/RJ, Rel. Min. 
Sálvio de Figueiredo Teixeira, D/ 05/05/1997). 
 
Já em relação aos serviços, a durabilidade está ligada ao resultado pretendido 
com a execução do serviço, e não ao tempo de duração da atividade desenvolvida pelo 
fornecedor. 
Nesse sentido, interessante as observações de Paulo José Scartezzini Guimarães 
de que "o conceito de durável e não durável está ligado aos efeitos que o serviço gera ao 
consumidor. Quando contratamos uma. empresa para a dedetização de nossas residências, é 
irrelevante para a conceituação o fato de a empresa demorar duas horas para realizar o 
trabalho. Para a conceituação jurídica é importante apenas que aquele serviço, segundo a 
informação dada pelo fornecedor, afastará os insetos de nossas casas, por, digamos, seis meses. 
Nesse caso poderemos. classificá-lo como serviço durável:' 
 
Exemplos: São considerados duráveis os serviços de seguro de automóvel; de 
assistência técnica; de reforma de imóveis etc. São considerados não duráveis, por 
sua vez, os serviços de transporte; de lavagem de automóvel; de cabeleireiro, de 
pacote turístico etc. 
 
PRAZOS DE DECADÊNCIA 
VÍCIOS PRODUTOS OU 
SERVIÇOS 
PRAZO INÍCIO DA CONTAGEM 
Aparentes ou de fácil 
constatação 
Não duráveis 30 dias Entrega efetiva do produto 
ou do término da execução 
do serviço 
Duráveis 90 dias 
 
 Oculto 
Não duráveis 30 dias Momento em que ficar 
evidenciado o defeito Duráveis 90 diais 
 
Questão interessante é: Existe prazo máximo para o aparecimento do 
vício oculto, uma vez que a norma não disciplinou nada a respeito? Por exemplo, se 
adquiro um carro e o vício oculto (por estar presente desde a compra) somente se 
manifesta 15 anos depois, estaria aberto o prazo decadencial de 90 dias (produto 
durável) para quefosse sanado o vício pelo fornecedor? 
 
R: Neste ponto, a doutrina considera a vida útil do produto ou serviço 
como limite temporal para o surgimento do vício oculto. 
 
Sustenta Cláudia Lima Marques que ''se o vício é oculto, porque se manifesta 
somente com o uso, a experimentação do produto ou porque se evidenciará muito tempo após 
a tradição, o limite temporal da garantia legal está em aberto, seu termo inicial; segundo o§ 
3° do art. 26, é a descoberta do vício. Somente a partir da descoberta do vício (talvez meses ou 
anos após o contrato) é que passarão a correr os 30 ou 90 dias. Será, então, a nova garantia 
legal eterna? Não, os bens de consumo possuem uma durabilidade determinada. É a chamada 
vida útil do produto." 
 
O STJ, no Resp 984106/SC, Rel. Min_ Luis Felipe Salomão, DJe 20/11/2012, 
também entendeu que o "o Código de Defesa do Consumidor, no § 3° do art. 26, no que 
concerne à disciplina do vício oculto, adotou o critério da vida útil do bem, e não o 
critério da garantia, podendo o fornecedor se responsabilizar pelo vícío em um espaço 
largo de tempo, mesmo depois de expirada a garantia contratual:” 
 
 Ou seja, nos casos dos vícios ocultos, terá que se avaliar o período de vida útil 
do produto para se averiguar a responsabilidade do fornecedor. Se estiver no período da 
vida útil, o fornecedor ainda responderá pelo vício. Se já estiver no fim da vida útil ou se já 
esgotado o período, não haverá responsabilidade. 
 
OBS: O prazo de decadência para a reclamação de defeitos surgidos no 
produto não se confunde com o prazo de garantia legal pela qualidade do produto. 
 
2. Prescrição: 
Art. 27 Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por 
fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a 
contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. 
Parágrafo único. (Vetado). 
 
O artigo trata da prescrição do direito de pleitear judicialmente a reparação 
pelos danos causados por um acidente de consumo (responsabilidade pelo fato do produto 
e do serviço- arts. 12 a 17). 
 
A responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço decorre da 
exteriorização de um vício de qualidade, vale dizer, de um defeito capaz de frustrar a 
legítima expectativa do consumidor quanto à sua utilização de fruição. Um produto ou 
serviço é defeituoso, da mesma sorte, quando sua utilização ou fruição é capaz de adicionar 
riscos à segurança do consumidor ou de terceiros. 
 
Indagação importante é se a norma disposta no art. 27 estaria limitada ao 
"acidente de consumo", ou seja, à ocorrência de vícios de qualidade por insegurança; ou se 
poderia ser aplicada a toda e qualquer ação indenizatória (portanto, prescricional) oriunda 
de relação de consumo, como por exemplo, indenização por inadimplemento contratual ou 
por danos morais sem que haja potencialidade de causar acidente. 
 
O art. 27 é claro no sentido de delimitar sua aplicação às situações concernentes 
à "reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção li deste 
Capítulo;' 
 
A que se refere o art. 27, trata exclusivamente da responsabilidade civil pela 
reparação dos danos causados pelo fornecedor aos consumidores por defeitos relativos ao 
produto ou à prestação do serviço, conforme previstos nos arts. 12 e 14 do CDC. E ao definir 
produto e serviço defeituoso, é taxativo ao afirmar que ocorre quando não oferece e/ou 
fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar (§1º dos arts. 12 e 14). 
 
Assim, ainda que haja relação de consumo, podem haver outras espécies de 
responsabilidade (legal, contratual, extracontratual) que não tratou o CDC. 
 
O STJ já reconheceu que não se aplica o prazo de cinco anos do CDC quando 
houver um inadimplemento contratual sem caracterizar um acidente de consumo. 
 
Em ação de indenização, sendo a causa de pedir o inadimplemento 
contratual, não incide o prazo prescricional estabelecido no art. 27 do CDC, aplicável 
somente à hipótese de danos decorrentes de acidente de consumo. (STJ, REsp 
476.458-SP, Ministr Nancy Andrighi, j. 4/8/2005). 
 
O STJ tem aplicado o prazo decenal (10 anos) para o consumidor ajuizar ação 
contra construtora por atraso na entrega do imóvel (inadimplemento contratual). 
 
"AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS E DANO 
MORAL. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL ATRASO NA ENTREGA DA 
OBRA. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. PRAZO PRESCRICIONAL ART. 205 DO CC. 
DIVERG~NCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA.( ... ) Aplica-se o prazo 
prescricional decenal previsto no art. 205 do CC nas pretensões indenizatórias 
decorrentes de inadimplemento contratual:' (STJ, REsp l5912231PR, ReL Ministro 
João Otávio de Noronha, Terceira Turma, DJ: 09/06/2016) 
 
Pelas mesmas razões, o STJ já decidiu que não se aplica o prazo de cinco anos 
do art. 27 e sim o prazo do CC à indenização em contrato de transporte por atraso de voo, 
por não se caracterizar como acidente de consumo. 
 
A ação de indenização decorrente do inadimplemento do contrato de 
transporte, por atraso de voo, não se aplica o art. 26 do Código de Defesa do Consumidor, 
dispondo essa norma a propósito da decadência em trinta (30) dias no caso de vício 
aparente, de fácil constatação. 
 
De uma maneira didática, podemos sintetizar da seguinte forma: 
 
1. Caso o produto ou serviço apresente vícios (de qualidade ou quantidade), o direito 
"potestativo" ao conserto, substituição do produto, reexecução do serviço, abatimento 
no preço, complemento da quantidade, etc. (arts. 18, § 1º; 19 e 20 do CDC) será exercido 
nos prazos decadenciais do art. 26 do CDC (30 dias para não duráveis e 90 dias para 
duráveis). 
 
2. Independentemente do exercício do direito potestativo (nos prazos decadenciais do art. 
26), havendo acidente de consumo – surgirá o direito subjetivo à indenização (seja de 
danos materiais, seja de danos morais, estéticos, etc.), a pretensão será exercida no prazo 
do art. 27 do CDC (5 anos) nas hipóteses de acidente de consumo ou nos prazos do Código 
Civil quando não há acidente de consumo (3 anos para responsabilidade extracontratual 
e 10 anos para responsabilidade contratual). 
 
 
De forma a sintetizar o posicionamento atual do STJ no tocante aos prazos, 
temos: 
 
PRINCIPAIS PRAZOS PRESCRICIONAIS NO STJ 
SITUAÇÃO DISPOSITIVO LEGAL PRAZO 
Ação de repetição do indébito. Art. 206 § 3°, IV do CC 3 anos 
Ação de repetição do indébito em 
decorrência de declaração de nulidade de 
cláusula de reajuste nos planos de saúde 
Art. 206 § 3°, IV do CC 3anos 
Dano ambiental acarretando danos à 
saúde do consumidor 
Art. 27 do CDC 5 anos 
Acidente aéreo Art. 27 do CDC 5 anos 
Indenização por danos materiais e morais 
decorrentes de falha na prestação de 
serviço 
Art. 27 do CDC 5 anos 
Indenização por erro médico Art. 27 do CDC 5 anos 
Ação revisional e de repetição do indébito 
nos contratos bancários 
Art. 205 do CC 10 anos 
Ação contra construtora por atraso na 
entrega do imóvel 
Art. 205 do CC 10 anos 
Ação de repetição do indébito para 
cobrança de água e esgoto pagos 
indevidamente 
Art.205 do CC e Súmula 
412 do STJ 
10 anos 
Ação de repetição do indébito para 
cobrança de serviços de telefonia pagos 
indevidamente 
Art. 205 do CC 10 anos 
Ações envolvendo inadimplemento 
contratual 
Art. 205 do CC 10 anos 
Ressarcimento de valores dispendidos, 
pelo segurado, com procedimento 
cirúrgico não custeado, pela seguradora 
Art. 205 do CC 10 anos 
Ação de prestação de contas com o escopo 
de obter esclarecimentos acerca da 
cobrança de taxas, tarifas e/ou encargos 
bancários 
Art. 205 do CC 10 anos 
Ação de indenização por negativação 
indevida 
art. 206, § 3°, V, do CC 
(Terceira Turma) e art. 
205 do CC (Quarta 
Turma) 
3 anos 
(Terceira 
Turma) e 10 
anos (Quarta 
Turma)

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