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1 Qualidade de vida em mulheres mastectomizadas com limitação articular do ombro: Uma revisão bibliográfica Raymara Santos de Souza 1 raymaras@gmail.com Dayana Priscila Maia Meija 2 Pós-graduação em Ortopedia com Ênfase em Terapia Manual – Faculdade Ávila Resumo Este estudo tem por objetivo discutir sobre o tratamento Fisioterapêutico utilizado no tratamento do câncer de mama, bem como sua atuação na promoção de qualidade de vida do paciente, baseando-se em revisão bibliográfica. Na maioria dos casos os sintomas do câncer resultam de doenças secundárias. Na atualidade, no tratamento cirúrgico do câncer de mama tem se buscado um tratamento conservador, menos agressivo na abordagem do tumor primário e dos linfonodos axilares. Com a evolução do tratamento do câncer, existe a necessidade de uma abordagem multidisciplinar desta patologia. A fisioterapia vem se mostrando uma grande aliada na busca da qualidade de vida após o tratamento do câncer de mama, promove a integração do lado operado ao resto do corpo e às atividades cotidianas auxiliando na prevenção de complicações decorrentes da cirurgia. Palavras-chave: Câncer de mama; Fisioterapia; Qualidade de Vida. 1. Introdução O Câncer é uma alteração que ocorre no código genético das células tornando-as doentes ou cancerígenas. Tal patologia se reverte num caso de saúde pública em função do número crescente de casos. Segundos dados do Instituto Nacional do Câncer-INCA (1996) no Brasil a cada 36 minutos morre uma vítima de câncer de mama e a cada 50 mil novos casos registrados no país 70% destes já é detectado em estágios avançados o que não mais raramente resulta em mutilação e morte dos pacientes. Apesar das campanhas massivas na luta contra o Câncer os índices crescem de forma alarmante em todo mundo. O câncer de mama é o vilão que mais mata mulheres no país e o segundo em incidência no Amazonas. Este fato aponta para a necessidade de programas que estimulem o diagnóstico precoce da doença (INCA, 1996). O estudo tem por objetivo discutir sobre o tratamento Fisioterapêutico utilizado no tratamento do câncer de mama, bem como sua atuação na promoção de qualidade de vida do paciente. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica realizada e baseada em livros, artigos científicos, websites renomados como os da Bireme, Scielo e Biblioteca Virtual da Unicamp. Entende-se que a literatura pesquisada é o passo inicial na construção efetiva de um protocolo de investigação, ou seja, após a escolha de um assunto é necessário fazer uma revisão bibliográfica do tema apontado. A pesquisa se justifica por promover um entendimento mais abrangente acerca do distúrbio em questão, expandindo informações pertinentes ao assunto e fornecendo subsídios para os 1 Pós-graduando em Ortopedia com Ênfase em Terapia Manual 2 Orientador: Graduado em Fisioterapia, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Mestrando em Aspectos Bioéticos e Jurídicos da Saúde 2 profissionais que atuam na área. Não com a pretensão de esgotar o tema, mas suscitar o desejo de desvelar esse caso de saúde pública. 2. Câncer Os estudos realizados por Robbins (1996) apontam a palavra câncer como um termo comum para todos os tumores malignos. Esse termo veio do latim e poderia ser traduzido como “caranguejo”, pois se adere a qualquer local que acomete de forma obstinada como um caranguejo. O câncer ou neoplasia pode ser exposto como “uma massa anormal de tecido, cujo crescimento ultrapassa e se mostra descoordenado em relação aos dos tecidos normais e persiste da mesma maneira excessiva após a cessação dos estímulos que produziriam a mudança” (ROBBINS, 1996, p.45). Urge a necessidade de acrescentar que esta massa anormal não apresenta nenhum propósito e consome o hospedeiro uma vez que o crescimento neoplásico compete com as células de tecidos normais pelos suprimentos de energia (PALMEIRA et al, 2002). O câncer incide em um grupo heterogêneo de doenças que se distinguem pela perda do controle da divisão celular, desencadeando a manifestação de massas celulares atípicas (PALMEIRA et al, 2002). Os determinantes causais de câncer são variados, podendo tanto ser externos ou internos ao organismo, estando ambos inter-relacionados. No que se refere às causas externas, estas se relacionam com o meio ambiente e com os hábitos ou costumes próprios de um ambiente sócio-cultural (FERRARI & HERZERBERG, 1996). Para os autores citados anteriormente, em relação às causas internas, estas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas, estão ligadas à capacidade do organismo de defender- se das agressões externas. Em todos os casos, 80% a 90% dos cânceres estão associados a fatores ambientais. Na maioria dos casos os sintomas do câncer resultam de doenças secundárias. A grande parte dos cânceres apresenta-se localizados de formas bem profundas no corpo humano (Guia da Saúde Familiar, 2001). O Guia da Saúde Familiar (2001, p.20) "explica que os cânceres encontram-se alojados profundamente no corpo e somente uma minoria pode ser sentida no exame médico, e raramente pelo paciente”. No entender de Harrison (1994) o câncer pode ser bem determinado por quatro características que descrevem o modo pelo qual as células cancerosas atuam de modo diferente das normais: Clonalidade – O câncer se origina de alterações genéticas numa única célula, que prolifera para formar o clone de células malignas. Autonomia – O crescimento não é adequadamente regulado pelas influências bioquímicas e físicas normais do ambiente. Anaplasia – Ausência de diferenciação normal e coordenada das células. Metástases – As células cancerosas desenvolvem a capacidade de crescimento descontínuo e disseminação para outras áreas do corpo. Ocorre a necessidade que novos vasos sanguíneos sejam desenvolvidos para que aconteça a nutrição destas células, em um processo denominado angiogênese (ALMEIDA et al, 2005). A manutenção e o acúmulo de massa dessas células desenvolvem os tumores malignos e elas também podem adquirir a capacidade de se desprenderem do tumor e de migrarem, invadindo inicialmente os tecidos vizinhos, podendo chegar ao interior de um vaso sanguíneo ou linfático e, através destes, disseminarem-se, chegando a órgãos distantes do local onde o tumor se iniciou, formando as metástases (ALMEIDA et al, 2005). 3 2.1 PROCESSO DE CARCINOGÊNESE 2.1.1 ESTÁGIOS A formação do câncer em geral acontece lentamente, podendo levar anos para que uma célula cancerosa ocasione um tumor detectável. Esse processo sofre vários estágios antes de chegar ao tumor: a) Estágio de iniciação: é o início da formação do câncer, onde as células sofrem o efeito de um agente carcinogênico (agente oncoiniciador) gerando alterações em alguns de seus genes. Nesta fase as células encontram-se geneticamente alteradas, mas não sendo ainda possível se detectar um tumor clinicamente. b) Estágio de promoção: é o segundo estágio, é onde as células geneticamente modificadas, ou seja, "iniciadas", sofrem a implicação dos agentes cancerígenos classificados como oncopromotores. A célula iniciada é modificada em célula maligna, de forma lenta e gradual. Faz-se necessário um período extenso e contínuo de contato com o agente cancerígeno promotor para que ocorra essa modificação. A interrupção do contato com agentes promotores muitas vezes cessa o processo nesse estágio. c) Estágio de progressão: o terceiro e último estágio e se diferencia pela propagação descontrolada e irreversível das células alteradas. Nesse estágio o câncer já está alojado,evoluindo até o aparecimento das primeiras manifestações clínicas da doença (MS/INCA, 1996). 2.2 CÂNCER DE MAMA Para Camargo e Marx (2000), o câncer na atualidade se constitui da terceira causa de óbitos no mundo, onde cerca de 6 milhões de pacientes de pacientes atingidos, representam a porcentagem de 12%. O câncer de mama tornou-se um problema de saúde pública no Brasil. É o tipo de câncer que mais acomete as mulheres nas regiões Sul e Sudeste, além de ser o tipo de maior mortalidade no Brasil (KLIGERMAN, 2000). Como acrescenta Neiva (2003, p.146): "o câncer de mama é o que mais causa mortes entre as mulheres, sendo registrado um alto percentual de mortes decorrente a esse tipo de câncer". Câncer é a denominação para um conjunto de mais de cem doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se metástase para outras regiões do corpo (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER- 2000). Estudos realizados pelo Instituto Nacional do Câncer – INCA, indicam que o câncer de mama é relativamente raro antes dos 35 anos de idade, mas acima desta faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente. Os homens também podem desenvolver câncer de mama, porém é raro, constituindo menos de 1% dos casos de câncer de mama. Se diagnosticado em fases iniciais, o câncer de mama tem ótimas chances de cura, com uma sobrevida de 5 anos de 97% (INCA, 2008). A nível mundial é o segundo tipo de câncer mais frequente e mais comum entre as mulheres. A cada ano, cerca de 22% dos casos novos de câncer em mulheres são de mama. Este representa o primeiro lugar em número de intervenções cirúrgicas realizados no país anualmente, gerando muitas vezes comorbidades, visto que causa problemas de ordem psicológica (INCA, 2008). Em se tratando do Brasil, é o tipo que mais acomete as mulheres, e que no Amazonas é o segundo tipo (INCA, 2008). 2.3 Fatores de Risco Os fatores de risco pautados à vida reprodutiva da mulher (menarca precoce, nuliparidade, idade da primeira gestação a termo acima dos 30 anos, anticoncepcionais orais, menopausa 4 tardia e terapia de reposição hormonal) estão bem estabelecidos em relação ao desenvolvimento do câncer de mama. Além desses, a idade continua sendo um dos mais importantes fatores de risco (HENNEY e DEVITA, 1988). Diversos são os fatores que podem predispor ao surgimento do câncer mamário, dentre eles podem ser citados a idade, a história familiar, a dieta, a obesidade, o álcool, fatores reprodutivos e hormonais, história de câncer, fatores genéticos, influências étnicas e radiação (HENNEY e DEVITA, 1988). A incidência de câncer de mama em mulheres com menos de 25 anos é relativamente baixa (representando menos de 1% dos cânceres de mama), mas esta se eleva a partir dos trinta anos de idade e aumenta ainda mais em idades avançadas e após a menopausa (LIPPMAN, 1998). De acordo com a literatura estudada, mulheres que têm seu primeiro filho em idade mais avançada têm maior chance de obter o câncer de mama. Para Lippman (1998, sp.): Três fatores que têm maior impacto sobre a incidência do câncer de mama na vida de uma mulher são a idade da menarca, a idade da primeira gestação levada a termo e a idade da menopausa. Mulheres cuja menarca ocorre aos 16 anos de idade têm apenas 50 a 60% do risco de câncer de mama durante a vida do que aquelas cuja menarca se dá aos 12 anos. O risco de desenvolver o câncer de mama aumenta caso exista histórico de câncer familiar. Filhas ou irmãs de pacientes com câncer de mama correm o dobro ou o triplo do risco de desenvolver o câncer do que as mulheres sem um parente de primeiro grau afetado (LIPPMAN, 1998). O risco de câncer estará elevado se a mãe ou irmã tiveram câncer na pré-menopausa, e não é significativamente alto em mulheres cujas mães ou irmãs adquiriram câncer na pós- menopausa (LIPPMAN, 1998). Para Giuliano (1996, p. 341) o câncer de mama pode estar relacionado a fatores como obesidade, álcool e dieta, principalmente se houver uma grande quantidade de gordura na ingesta da pessoa, e se o consumo de álcool também estiver presente. [...] quanto maior for a fase reprodutiva da mulher maior será a chance de ocorrer um câncer de mama. Não há uma clara associação entre a irregularidade menstrual ou a duração da menstruação e o câncer mamário. A lactação não interfere na incidência do câncer mamário, porém, uma mulher que nunca teve um filho tem um risco aumentado de desenvolver a neoplasia mamária em relação às mulheres multíparas (GIULIANO, 1996). O câncer de mama é uma doença dependente de hormônio. Mulheres sem ovários funcionais que nunca receberam reposição estrogênica não desenvolvem câncer de mama. Estudos apontam a falta de associação entre o câncer mamário e o uso de contraceptivos orais, independente do tempo de uso, da história familiar e da existência de doença mamária benigna (LIPPMAN,1998). Segundo Giuliano (1996), o uso de estrogênio a longo prazo é um dos fatores predisponentes desse câncer. Portanto, a dose de estrogênio no pós-menopausa deverá ser relativamente baixa ou estar em combinação com progestogênios. Para o autor se uma mulher já manifestou câncer em uma das mamas, ela terá 50% de chance de desenvolver o câncer na mama contralateral. Se houver história de câncer endometrial, carcinoma ovariano e câncer do cólon, a mulher estará mais predisposta ao surgimento do câncer mamário. Entre 5 e 10% das pacientes com câncer de mama têm mutações hereditárias que causam a doença. O BRCA-1 e o BRCA-2 são dois genes que foram identificados e que juntos são responsáveis pela maioria das mutações (BENNET e PLUM, 1997). Estima-se que existam mutações tanto no BRCA-1 quanto no BRCA-2 em 1% de todas as mulheres, e isso resulta em maior risco de câncer de mama, excedendo 50% antes de 50 anos 5 e alcançando 80% aos 65 anos de idade. Assim, como um traço hereditário, o câncer de mama se encontra entre as doenças genéticas mais comuns do mundo (BENNET e PLUM, 1997). Mulheres asiáticas correm um risco bem menor de câncer de mama do que as de países ocidentais, o que talvez esteja relacionado com a menarca em idade mais tardia e com as concentrações inferiores de estrogênio e progesterona (BENNET e PLUM, 1997; LIPPMAN, 1998). A mama é um dos órgãos mais suscetíveis aos efeitos da radiação ionizante. A exposição à radioterapia e a fluoroscopias aumenta o risco de desenvolver a malignidade (HENNEY e DEVITA, 1988). 2.4 Prevenção A prevenção primária dessa neoplasia ainda não é totalmente possível devido à variação dos fatores de risco e as características genéticas que estão envolvidas na sua etiologia. Novas estratégias de rastreamento factíveis para países com dificuldades orçamentárias têm sido estudadas, uma vez que até o momento é recomendado a mamografia para mulheres com idade entre 50 e 69 anos como método efetivo para detecção precoce (BENNET e PLUM, 1997). Figura 1 - Modelo causal para detecção de casos de Câncer - Fonte: Adaptado de GUTIEREZ AF, SANDOVAL-MEX AM, MEJIA-ARANGURE JM, RENDOM-MACIAS ME, MARTINEZ-GARCIA MC. Clinical and Social Factors that Affect the Time to Diagnosis of Mexican Children With Cancer. Med. Pediatr. Oncol., 2002 Ainda não existem maneiras de prevenir o câncer de mama, pois não são conhecidas a natureza e a ocorrência imediata do insulto carcinogênico. Mas o que faz muita diferença na sobrevivência contra a doença é a detecção precoce, através do auto-exame, exame clínico e mamografia (LIPPMAN, 1998). O Ministério da Saúde aconselha como tática para rastreamento populacional um exame mamográfico, pelo menosa cada dois anos, para mulheres de 50 a 69 anos e o exame clínico anual das mamas, para mulheres de 40 a 49 anos. 6 O exame clínico da mama deve ser realizado em todas as mulheres que procuram o serviço de saúde, independente da faixa etária, como parte do atendimento à saúde da mulher. Nas mulheres de grupos populacionais considerados de risco elevado para câncer de mama (com história familiar de câncer de mama em parentes de primeiro grau) recomenda-se a realização do exame clinico da mama e a mamografia, anualmente, a partir de 35 anos.a Instituto Nacional do Câncer elenca ações de prevenção ao câncer da seguinte forma de acordo com a tabela a seguir: FATORES DE RISCO AÇÕES DE PREVENÇÃO Tabaco Difundir informações cientificas sobre a questão; Promover ações de educação comunitária; Proteger o não fumante ou fumante passivo proibindo o uso do fumo em locais públicos; Estimular associações de combate ao fumo; Aconselhar fumantes a para de fumar; Dieta Estimular a ingestão diária de frutas, vegetais e cereais; Evitar alimentos em conserva, salgados e defumados; Reduzir a ingestão de alimentos gordurosos e carnes; Aconselhar para a manutenção do peso ideal; Exposição a agentes carcinógenos Proteger os indivíduos no ambiente do trabalho e em geral; Medicamentos Usar medicamento somente com prescrição medica; Desestimular a automedicação; Radiações Evitar exposição a luz solar após determinados horários; Adotar medidas de proteção individual e ambienta contra as radiações ionizantes; Realizar exames radiológicos somente sob prescrição médica; Agentes infeciosos e parasitarios Prevenir e controlar as doenças infecciosas e parasitarias; Estimular o uso de contraceptivo de barreira; Orientar quanto a relação entre promiscuidade sexual e câncer; Tabela 1 – Ações de Prevenção Primária do Câncer. Fonte: INCA/ MS, 2002. Abaixo apresenta-se a incidência de Câncer de Mama no Brasil, distintos por região. Sudeste Sul Centro-oeste Nordeste Norte 68/100.000 67/100.000 38/100.000 28/100.00 16/100.00 Tabela 2 – Incidência do Câncer. Fonte: INCA - 2008 O INCA relata que: As taxas de incidência aumentam rapidamente até os 50 anos, e posteriormente o mesmo se dá de forma mais lenta. Essa mudança no comportamento da taxa é conhecida na literatura como "Clemmesen´s hook", e tem sido atribuída à menopausa. Alguns estudos apontam que ocorrem dois tipos de câncer de mama relacionados com a idade. O primeiro está associado com a pré-menopausa e é caracterizado por ser mais agressivo e estrogênio receptor (ER) negativo. O segundo ocorre após menopausa e está associado com características indolentes e principalmente por ser estrogênio receptor positivo. As variações morfológicas também estão relacionadas ao ER, como os carcinomas medulares em ER - negativos e os carcinomas tubulares e lobulares em ER - positivos. 2.5 Diagnóstico Os tumores de mama crescem em velocidades diferentes, mas alguns oncologistas estimam que o tumor dobra de tamanho a cada 100 dias. Como o câncer se inicia de 7 uma célula anormal, com esta velocidade de crescimento ela não se torna palpável durante vários anos. (ISMAEL.COM) O quadrante súpero-lateral da mama contém a maior porção de tecido glandular e é o local de maior incidência de tumores mamários (GARDNER et al, 1988). De acordo com Giuliano (1996), os focos de câncer são descobertos com maior frequência pela paciente e com menor frequência pelo médico durante o exame de rotina da mama. As anormalidades impalpáveis são melhores detectadas pela mamografia de triagem, que é cada vez mais frequentemente utilizada. A grande maioria dos nódulos de mama são descobertos pela própria paciente, casual ou intencionalmente. Isso vem demonstrar a importância da mulher na detecção precoce do câncer mamário (AVELAR e SILVA, 2000, p.11). Avelar e Silva (2000) relatam que a ondulação da pele, a retração da papila ou a erosão cutânea geralmente estão evidentes, mas estes são sinais da doença em um estado avançado. A palpação dos nódulos é mais fácil em mulheres idosas com mamas mais gordurosas que em mulheres mais jovens com mamas mais densas. A palpação de uma massa mamária evidente deve ser considerada um possível carcinoma, sendo a biópsia essencial para o diagnóstico. Aproximadamente 30 - 40% das lesões consideradas malignas se mostrarão benignas ao exame histológico. Inversamente 20 - 25% das que são consideradas benignas mostram-se malignas na biópsia (GIULIANO, 1996). Em 70 a 80% dos casos, a mulher encontra uma massa endurecida e circunscrita na mama. O diagnóstico de câncer é praticamente certo quando essa massa estiver aderida à pele ou aos músculos profundos, ou quando houver edema da pele ou retração do mamilo (HENNEY E DEVITA, 1988). Os parágrafos seguintes, os quais mostram de forma sucinta a evolução dos métodos de diagnóstico, foram escritos de acordo com Bennet e Plum (1997). Inicialmente, o diagnóstico e o tratamento eram procedimentos que andavam juntos. Numa paciente com suspeita de câncer de mama era realizada uma incisão sob anestesia geral com a análise do tumor feita por biópsia. Se o câncer fosse confirmado, era realizada uma mastectomia imediatamente, e a mulher, ao acordar, enfrentava o diagnóstico de câncer e a perda de sua mama. Atualmente, o diagnóstico e tratamento são procedimentos separados. A biópsia por agulha sob uma anestesia local permite o diagnóstico da paciente sem estar hospitalizada. Se o câncer for detectado, a paciente e o médico podem discutir sobre as opções de tratamento. O diagnóstico de câncer de mama necessita de confirmação tecidual. Essa confirmação é feita geralmente por biópsia excisional (retirada da massa inteira), aspiração por agulha fina (FNA) a qual é útil para verificar a malignidade do tumor, mas necessita de confirmação histológica formal. Pode ser usada ainda a biópsia por agulha de Core, que se for positiva para a neoplasia, pode ser considerada como diagnóstico definitivo de câncer. As biópsias por agulha Core podem distinguir câncer invasivo dos não invasivos (HARKEN e MOORE, 1999). Uma mamografia deve preceder qualquer procedimento de biópsia para que seja evitada alguma distorção na mama. As imagens da mama descartam lesões contralaterais e múltiplos focos na mama ipsilateral, e algumas vezes é feita à biópsia se a área de interesse foi de fato retirada (BENNET e PLUM, 1997). Após os 40 anos de idade, a mulher deve realizar uma mamografia anual para descarte de câncer de mama ou para detectá-lo o mais precoce possível, o que acarreta uma redução de 25 a 30% na possibilidade de morte devido ao câncer de mama (LIPPMAN, 1998). Com o aprimoramento tecnológico da mamografia, da radiografia digitalizada, o uso de incidências ampliadas e a maior habilidade na interpretação, associadas a técnicas diagnósticas mais modernas, é esperado que se identifiquem os cânceres de mama de forma mais confiável e precoce (LIPPMAN et al., 1998). 8 De acordo com o Guia da Saúde Familiar (2001, p.37): Uma vez que o diagnóstico do câncer tenha sido confirmado, o médico colocará o paciente a par dos próximos passos. É mais provável que ele dê prioridade ao tratamento contra o câncer, mas é importante que o plano geral de cuidados inclua os sintomas físicos, bem-estar psicológico e outras circunstâncias familiares e sociais. Esse tipo de situação é bastante inusitado, porém faz parte da rotina dos profissionais da saúde. 2.6 TIPOS DE CIRURGIA A mastectomia é o artifício cirúrgico caracterizado pela retirada da mama para disseminaçãodo câncer (MACHADO, 2003), ou seja, remoção total do tecido mamário, que pode ser realizada de várias maneiras, comprometendo as funções da paciente a depender do quadro já instalado e do método cirúrgico utilizado como tratamento curativo. Na atualidade, no tratamento cirúrgico do câncer de mama tem se buscado um tratamento conservador, menos agressivo na abordagem do tumor primário e dos linfonodos axilares. A descoberta do Linfonodo sentinela foi utilizado pela primeira vez em 1960 e oferece uma melhor reabilitação as pacientes (MACHADO, 2003). Esse tratamento conservador obedece critérios rígidos quanto a sua indicação, sem comprometer a sobrevida das pacientes (MACHADO, 2003). 2.6.1 Mastectomia radical de Halsted Antigamente, a mastectomia radical era considerada a única opção terapêutica para o câncer de mama, esse tipo de mastectomia incide na remoção da mama, dos músculos peitoral maior e menor, extirpação dos linfonodos axilares ipsilaterais e das cadeias linfáticas supraclaviculares, mediastinais e mamários internos (HENNEY e DEVITA, 1988; GIULIANO, 1996). Para Thomson et al (1995)esse tipo de procedimento, além de não trazer muitos benefícios em termo de sobrevivência, tornou-se pouco utilizada por não apresentar maior sucesso que os procedimentos menos agressivos. Pode ocasionar muitas vezes, edema de braço e retração torácica, em consequência da remoção do músculo peitoral menor, o que possivelmente dificultará a colocação de prótese. Muitos tipos e formas de próteses externas são utilizadas para os casos de remoção da mama, todavia, estas próteses não dão estática e conforto a paciente, já que são frequentemente deselegantes e desconfortáveis. Por outro lado, existem várias técnicas de cirurgia reparadora, a qual deve ser escolhida de acordo com a necessidade da paciente (HENNEY E DEVITA, 1988). 2.6.2 Mastectomia radical modificada tipo Patey Para Goffi (2000,sp) A mastectomia tipo Patey difere da radical pela preservação do músculo peitoral maior, o músculo peitoral menor pode ser dissecado parcial ou integralmente. É indicada nas lesões iniciais, em tumores localizados nos quadrantes laterais da mama, onde a via linfática interpeitoral tem menor probabilidade de estar comprometida. Oferece os benefícios da preservação da musculatura e pelo resultado estético. 2.6.3 Mastectomia radical modificada tipo Madden Nesta forma de cirurgia são removidas a glândula mamária, juntamente com a aponeurose anterior e posterior do músculo peitoral maior, os linfonodos interpeitorais, sendo preservado 9 os músculos peitoral maior e menor. Sua indicação é preferencial em tumores de até 3 centímetros, e quando não houver metástase em linfonodos axilares (GIULIANO, 1996). 2.6.4 Mastectomia segmentar ou tumorectomia Neste procedimento ocorre a extirpação do tumor com uma quantidade mínima de tecido vizinho, visando preservar a maior parte possível da mama. É indicada para mulheres com lesões pequenas, de menos de dois centímetros, localizadas na periferia da mama e com boa quantidade de tecido mamário permanente para assegurar o efeito estético desejado (HENNEY E DEVITA, 1988). 2.6.5 Quadrantectomia Consiste na remoção do quadrante mamário onde está localizado o tumor, incluindo a pele sobrejacente e a fáscia do músculo peitoral maior. Em casos onde os nódulos tumorais são de pequeno tamanho, não se localizando centralmente e não apresentando traços de metástase em linfonodos, pode ser utilizada essa técnica (GIULIANO, 1996; HENNEY e DEVITA, 1988). 2.7 Reconstrução da Mama Reconstrução da mama é um procedimento amplamente utilizado a um grupo de cirurgias que visa a reparação de uma mama, total ou parcialmente. A necessidade de reconstrução de mama pode ser decorrente de uma má formação congênita, das deficiências de crescimento mamário, de sequelas de mastectomias ou de queimaduras (GIULIANO, 1996). A reconstrução pode ser executada durante a mesma operação que a mastectomia. Como alternativa, a reconstrução pode ocorrer semanas, meses ou anos após a mastectomia (GIULIANO, 1996). A vantagem da reconstrução imediata é que a mama será reconstruída durante a mesma operação que a mastectomia. A vantagem é que a paciente se submete a apenas uma operação e um período de recuperação. Isso significa que é possível evitar a experiência de ter somente uma das mamas ou nenhuma delas (GIULIANO, 1996). A vantagem da reconstrução tardia é que o paciente se concentra na sua recuperação pós- câncer e reconquiste a sua força. A reconstrução tardia da mama também oferece mais tempo para considerar as opções e tomar uma decisão esclarecida sobre a reconstrução (GIULIANO, 1996). Existem diferentes formas de Reconstrução da mama. O método escolhido será baseado em vários fatores, incluindo: A saúde e estilo de vida; O tamanho de suas mamas; A quantidade de pele e tecido remanescente. 3. A FISIOTERAPIA NO TRATAMENTO DO CÂNCER 3.1 Intervenção Fisioterapêutica no Pré e Pós Operatório Com a evolução do tratamento do câncer, existe a necessidade de uma abordagem multidisciplinar desta patologia. Entende-se que a intervenção de outros profissionais determina um melhor prognóstico para esses pacientes (BARACHO, 2007). A mulher após a intervenção sofre transformações e passa a ter uma imagem realidade de seu esquema corporal face às mudanças importantes em níveis anatômicos, fisiológicos e funcionais. (...) Baseada nestas alterações é que a reabilitação física torna-se primordial por apresentar um conjunto de possibilidades terapêuticas físicas susceptíveis de serem empregadas desde a fase mais precoce da recuperação funcional do membro superior e cintura escapular até a profilaxia e o tratamento de sequelas, como aderências cicatriciais e linfedemas (BARACHO, 2007, p.556). 10 Citando Leal et al: (...) o tratamento fisioterapêutico se apresenta como uma alternativa em prevenir comprometimentos funcionais ou mesmo em restaurar e manter a mobilidade do membro afetado, auxiliando o retorno às atividades de vida diária normais. Oliveira (2007) relata que qualquer tratamento cirúrgico adotado tem cerca de 63% de chance de desenvolver alguma complicação física. Segundo Batiston e Santiago (2005), as complicações pós-operatórias variam de acordo com a técnica empregada, mas seu surgimento não depende da técnica cirúrgica utilizada. De acordo com seu estudo a limitação da amplitude articular do ombro homolateral é a complicação pós- cirúrgica que mais justifica o encaminhamento para o fisioterapeuta. Oliveira (2007) cita estudo realizado com 744 mulheres operadas há pelo menos dois anos por Kwan et al. em 2002, “aproximadamente metade era sintomática, apresentando problemas no ombro ou braço após cirurgia para câncer de mama, e esta proporção aumentou para 70% naquelas submetidas à dissecção e radioterapia axilar”. Em estudo de Sugden et al. (1998) 24% das mulheres observadas que apresentavam amplitude de movimento total antes da realização da radioterapia, ao final desenvolveram problemas persistentes de movimentação do ombro. E outros estudos sugerem que esta limitação seria devido à fibrose subcutânea, não só dos músculos, tendões ou nervos, mas também da musculatura inferior (OLIVEIRA, 2007). (...) Segundo Fernandez (2000), os últimos graus de amplitude articular são deveras importantes para a prevenção de complicações, como o linfedema do membro superior homolateral à cirurgia, uma vez que, a contração muscular é um dos fatores que influencia o transporte da linfa, favorecendo a sua aspiração para dentro do vaso. Se a amplitude de movimento não estiver totalmenterecuperada, a contração das fibras musculares da cintura escapular não será normal, aumentando o risco de desenvolver o linfedema (PICARÓ e PERLOIRO, 2005). Oliveira (2007) relata que a “disfunção do ombro pode ser agravada pela radioterapia, pela extensão da cirurgia, tempo de imobilização da articulação do ombro no pós-operatório e pelo tipo de incisão utilizada na cirurgia”. A reabilitação pós-mastectomia tem sido a realização de exercícios ativos, “pois a contração muscular aumenta o fluxo e a absorção da linfa e contribui para a redução do edema; favorece a manutenção da força e elasticidade muscular e amplitude de movimento funcional” (OLIVEIRA, 2007). Em estudo realizado por Isaksson e Feuk (2000) com 48 pacientes submetidas à mastectomia que receberam orientações da fisioterapia para realização de exercícios, 9% apresentou comprometimento do braço em comparação com outro estudo sem acompanhamento fisioterapêutico, o qual a incidência foi de 32% (OLIVEIRA, 2007). Silva et al (2007) em seu estudo sobre a eficácia dos exercícios terapêuticos no ganho de amplitude articular do ombro pós-mastectomia depois de doze semanas avaliou que as pacientes submetidas ao seu protocolo tiveram um aumento de 9,6% na flexão e 15,4% na abdução do membro comprometido, o que facilitou a execução das atividades de vida diária (AVD`s). De acordo com Baracho (2004) a terapêutica do câncer de mama acarreta a mulher uma série de conseqüências de ordem física e emocional. Ao tomar conhecimento do diagnóstico uma gama de problemas são desencadeados em função da tensão emocional. Ocorre uma tensão reflexa nos ombros e região cervical. De modo que uma avaliação pré-operatória bem executada é fundamental para elaboração de um plano eficaz no pós-operatório, pois oferece subsídios para um tratamento de qualidade e melhor recuperação da paciente. Nesta etapa é feita a anamnese contendo toda a história clínica do paciente nos prontuários hospitalares para que este possa ter maior compreensão do quando clínico presente (BARACHO, 2004). 11 Função pulmonar Avaliação funcional dos ombros e cintura escapular Avaliação das amplitudes do ombro e cintura escapular Avaliação da força dos membros superiores. Avaliação da perimetria dos membros superiores. Avaliação postural, observando-se a presença de problemas posturais Tabela 3 – Exame Físico do Pré-operatório. Fonte: Baracho, 2004 Geralmente o paciente é encaminhado ao fisioterapeuta antes da cirurgia, para que seja fortalecida a função pulmonar, o que vai facilitar no transcorrer da recuperação pós-cirúrgica (BARACHO, 2004). Após as devidas avaliações, o paciente receberá informações a cerca da cirurgia, com as devidas orientações. A atuação da Fisioterapia promove a reabilitação física da paciente no período pós-operatório prevenindo e tratando algumas complicações comuns como: alterações respiratórias e posturais, aderência cicatricial, retrações, fibrose, dor na incisão cirúrgica, e região cervical, alterações de sensibilidade, linfedemas, diminuição de amplitude de movimento (ADM), fraqueza, encurtamentos musculares, além de alterações psicológicas, como modificação de auto-imagem (BARACHO, 2004). No pós-operatório imediato a Fisioterapia tem por objetivo evitar as complicações próprias da falta de mobilidade no leito e orientar sobre os cuidados com o membro ipsilateral à cirurgia e o posicionamento no leito (BARACHO, 2007). (...) existem algumas controvérsias na literatura sobre a utilização dos exercícios livres de membro superior no pós-operatório imediato. Silva ET AL., concluíram, em seu estudo, que a realização de exercícios ativos e alongamentos com amplitude livre desde o primeiro dia de pós-operatório permitiu boa recuperação da capacidade funcional do ombro, sem aumento de seroma ou deiscência. Observaram também que a movimentação livre oferece a mulher maior bem-estar, respeita seu limite de dor e diminui o medo de movimentar o ombro espontaneamente, promovendo o retorno mais precoce às atividades do dia-a-dia e sua reintegração social mais rápida. (BARACHO, 2007, p. 561) O acompanhamento no pós-operatório tardio deve ser empregado em todos os pacientes submetidos à cirurgia de câncer de mama, com o objetivo de auxiliar na manutenção do resultado obtido cirurgicamente, evitar complicações, tentar restabelecer as funções do membro e fazer com que a paciente retorne o mais rápido possível as atividades de vida diárias – AVD`s (BARACHO, 2004). De acordo com Pardo (2004) as principais sequelas oriundas da mastectomia são: lesões musculares; lesões de nervos do plexo braquial; hemorragias; complicações na cicatrização; alterações na sensibilidade; fibrose áxilo – peitoral; alterações posturais; algias; diminuição ou perda total da amplitude articular e movimento; diminuição da força muscular; comprometimento da capacidade respiratória; perda ou redução da capacidade funcional do MS ipsilateral a mastectomia. 12 Após a alta hospitalar a paciente deve iniciar o tratamento fisioterapêutico ambulatorial. De acordo com a literatura pesquisada, 15 dias após a cirurgia a reabilitação funcional é mais dinâmica, com maior amplitude de movimento, porém levando em consideração o estado clínico da paciente (BARACHO, 2004, p.460). Os principais objetivos desta fase são, de acordo com Baracho (2004): Prevenir ou tratar as complicações respiratórias; Prevenir complicações circulatórias; Prevenir infecções; Prevenir aderências, fibroses e contraturas; Ganho de amplitude de movimento casa tenha alguma limitação; Aumento da força muscular; Reeducação postural; Orientações sobre os cuidados com o membro superior. As avaliações realizadas na paciente devem ser comparadas, para que a reabilitação funcional alcance o sucesso desejado e promova a qualidade de vida a paciente. De acordo com Baracho (2004, p.460) o trabalho pode ser realizado individualmente ou em grupo, baseado nos seguintes princípios: Mobilização da cicatriz para evitar aderências; Exercícios ativos de MMSS para aumento da ADM; Orientação sobre auto-massagem; Exercícios respiratórios; Exercícios para ganho de força de MMSS com baixa resistência; Relaxamento da cintura escapular; Reeducação postural; Dinâmicas de grupo. 4. Metodologia O método da pesquisa utilizado foi dialético e se justifica segundo Gil (2002) “há certos princípios comuns a toda abordagem dialética que é contrária a todo conhecimento rígido: tudo é visto em constante mudança, pois sempre há algo que nasce e desenvolve e algo que se desagrega e se transforma”. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica realizada e baseada em livros, artigos científicos e websites renomados como os da Bireme, Scielo e Biblioteca Virtual da Unicamp. 5. Resultados e Discussão De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a qualidade de vida é entendida como “a percepção do indivíduo tanto de sua posição na vida, no contexto da cultura e nos sistemas de valores nos quais se insere, como em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Segundo Sales et al (2001), qualidade de vida é descrita como uma sensação de bem estar na execução das atividades físicas, intelectuais e psíquicas, dentro da realidade particular de cada indivíduo. A fisioterapia vem se mostrando uma grande aliada na busca da qualidade de vida após o tratamento do câncer de mama, promove a integração do lado operado ao resto do corpo e às atividades cotidianas auxiliando na prevenção de complicações decorrentes da cirurgia (CARDOSO eOLIVEIRA, 2004). Segundo Moreira et al (2005), há uma concordância clínica de que a paciente deve ser tratada como um todo, globalmente, o estigma do câncer, a mutilação, a estética, a limitação nas atividades da vida diária após a cirurgia, a rotina de exames, e as complicações não são os 13 únicos problemas apresentados. De acordo com Albino et al (2007), a retirada de parte ou total da mama traz efeitos físicos, psicossociais, sexuais e emocionais que vão afetar diretamente a qualidade de vida das pacientes. De acordo com Teixeira (1996), a forma pela qual os sujeitos entendem a realidade vai determinar a sua maneira de se conduzir na vida. Assim, dependendo do que a paciente sabe sobre a sua doença, seu real significado, seus riscos e controle de suas atitudes e estilo de vida, se encaminharão para a prática no seu cotidiano. O fisioterapeuta como membro da equipe de saúde poderá ser um elemento multiplicador de conhecimento através da promoção de educação em saúde das pacientes mastectomizadas no que proporcionará o desenvolvimento de hábitos sadios de vida, possibilitando maior segurança e melhor aceitação da doença (MOREIRA, 2004). Mulheres com câncer de mama adicionaram experiências de adaptação psicológica durante o ciclo de tratamento. Intervenções que venham a auxiliar a reduzir o impacto negativo do tratamento na qualidade de vida devem ser designados e integradas nas rotinas de prática clínica (NAGEL et al apud MOREIRA et al, 2005). Além da reabilitação física, a fisioterapia exerce um admirável papel na recuperação de mulheres mastectomizadas, fornecendo informações e suporte de forma a auxiliar a paciente a alcançar um sentimento de controle, numa circunstância que ameaça seu mundo emocional e físico (BATISTON e SANTIAGO, 2005). “De maneira geral, concorda-se que a fisioterapia deve ser incluída no planejamento de assistência para reabilitação física da mulher no período pós-operatório do câncer da mama, prevenindo algumas complicações, promovendo adequada recuperação funcional e consequentemente, propiciando melhor qualidade de vida (SILVA et al, 2004). Para avaliar uma mulher mastectomizada como um todo, faz-se necessário uma avaliação de vários aspectos: o grau dos sintomas, o estado emocional, o estado de humor e a adaptação à nova aparência física. Podendo esses aspectos ser medidos através de um instrumento quantitativo, como os questionários de qualidade de vida (MOREIRA et al, 2005). Ainda de acordo com Moreira et al (2005), os principais motivos para que o fisioterapeuta se preocupe em averiguar a qualidade de vida de suas pacientes são: Justificar diferentes formas de terapêuticas de tratamento; Identificar as sequelas de doenças; Provar a eficácia de determinados métodos; Identificar quanto uma determinada alteração ou doença interferem na vida do indivíduo. Em questionário sobre qualidade de vida realizado com 14 mulheres antes e após tratamento fisioterapêutico por Moreira e Manaia (2005), que destinava-se a averiguar o impacto do tratamento fisioterapêutico na qualidade de vida dessas mulheres, indicou que após o tratamento as pacientes melhoraram ou diminuíram “sua disfunção da amplitude de movimento e da força muscular da cintura escapular, a reeducação / correção postural, a imagem corporal e a auto-estima dessas mulheres”. De acordo com estudo realizado por Albino e Albertini (2007), a qualidade de vida das mulheres mastectomizadas está intimamente ligada à capacidade de realizarem suas atividades de vida diária, por isso a importância da fisioterapia nestas mulheres, pois atua nos aspectos físico-funcionais. 6. Conclusão O caminho do enfrentamento do câncer de mama não é fácil. É descrito por muitas mulheres como uma incomensurável onda emocional, uma montanha russa que favorece uma reviravolta na vida, no início, durante e depois da doença. 14 Independente do tipo de cirurgia a ser empregada no tratamento do câncer de mama, vai haver uma enorme repercussão em um corpo que antes era visto e sentido de uma forma, depois modificado, recusado e com limitações. Além do aspecto emocional afetado, o físico com sua diminuição da capacidade funcional vai ser questionado por essa mulher como um fator a ser recuperado, onde irão persistir dúvidas e ansiedade, deixando a mulher mastectomizada ainda mais abalada. O papel do fisioterapeuta não será somente tratar limitações de uma determinada parte do corpo e nem somente restabelecer o retorno desta mulher a prática de suas atividades, será, contudo ajudar a enfrentar o medo, a dor, as frustrações e a superar a cada dia suas limitações, melhorando assim sua qualidade de vida. A reabilitação, a adaptação de sua auto-imagem ao seu novo corpo, proporcionada pela fisioterapia traz mais conforto e prazer com o ganho de sua capacidade em fazer algo que antes estava restrito, melhorando sua auto-estima e a percepção de si mesma. Em relação a tudo que a cerca, seu âmbito familiar, seu trabalho, sua vida social, a fisioterapia tem uma enorme responsabilidade na melhora da qualidade de vida através da reabilitação e adaptação de sua condição atual, tem como objetivo transformar a mulher mastectomizada de dependente e incompetente para uma mulher independente e competente ao ajudar a superar suas limitações e seus medos. 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