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III Curso de inverno tópicos em fisiologia comparativa 10 a 28 jul 2006 departamento de fisiologia instituto de biociências – usp http://www.ib.usp.br/cursodeinverno/ i Comissão organizadora Ana Paula Canel Bluhm Andreas Betz Eduardo Koji Tamura James Fernando Malta da Silva Jessica Ruivo Maximino Merari de Fátima Ramires Ferrari Rafael Cancian Gomes da Cruz Renata Brandt Nunes Rodrigo Pavão alunos de pós-graduação do departamento de fisiologia – ib/usp professor responsável: Prof. Dr. Gilberto Fernando Xavier Apoio: pró-reitoria de cultura e extensão comissão de pós-graduação instituto de biociências ii CRONOGRAMA Data 08 às 12 hs 14 às 18 hs 10/07/06 Aula inaugural Prof. Dr. Gilberto Fernando Xavier Módulo I Biologia molecular Merari de Fátima Ramires Ferrari ____________________ 11/07/06 Módulo I Metabolismo em parasitas Tripanosomatídeos: descrição de alvos quimioterápicos Lucile Maria Floeter-Winter Maíra Natali Nassar Maria Fernanda Laranjeira da Silva Módulo I Fisiologia da pigmentação Ana Paula Canel Bluhm Melatonina e seus efeitos biológicos Eduardo Koji Tamura Erika Cecon 12/07/06 Módulo II Substâncias tóxicas de organismos marinhos Andréa Lucia Campos Natali Módulo I e II Mecanismos de Osmorregulação em animais I e II James Fernando Malta da Silva Luis Alberto Valotta 13/07/06 Módulo II Peixes como modelo biológico para pesquisas em fisiologia comparativa Renato Massaaki Honji Homeostase do cálcio durante o ciclo da muda em crustáceos Bruno Blotta Baptista Módulo II Neuroanatomia básica Emerson Ferraz Coelho Prática de neuroanatomia Andreas Betz Emerson Ferraz Coelho Jessica Ruivo Maximino Merari de Fátima Ramires Ferrari Regiane Xavier de Moraes 14/07/06 Módulo II Modelamento matemático de sistemas biológicos Breno Teixeira Santos A evolução do cérebro dos primatas Rodrigo Pavão Módulo II Evolução da endotermia em mamíferos e aves: um debate de quatro décadas Renata Brandt Nunes As toxinas de anêmonas do mar como ferramentas para entender a fisiologia de tecidos, órgãos e sistemas André Junqueira Zaharenko iii 17/07/06 Módulo II Caracterização do efeito analgésico do composto LAS 390 obtida da peçonha da anêmona Bunodosoma cangicum Wilson Alves Ferreira Junior Memória em aves Sylvia Maria Matsuda Módulo II e III Mecanismos de Osmorregulação em animais II e III James Fernando Malta da Silva Luis Alberto Valotta 18/07/06 Módulo II Neurofisiologia da atenção Arnaldo Cheixas Dias Claudia Franco de Olim Marote Módulo III Exercício físico, hipertensão arterial e comportamentos: interações, efeitos e benefícios Regiane Xavier de Moraes Fisiologia, tempo e cognição: os relógios biológicos nos ensinam a aprender? Luiz Fernando Lopes do Espírito Santo 19/07/06 Módulo III Mecanismos de produção de calor: enfoque comparativo e evolutivo Denise Loli Música e neurociências Felipe Viegas Rodrigues Módulo III Alimentação e digestão em moluscos bivalves Rafael Cancian Gomes da Cruz Drogas: interações moleculares e comportamentais Andreas Betz 20/07/06 Módulo III Cronobiologia – uma visão geral do tempo Cíntia Etsuko Yamashita Jessica Martins Camargo Vitor Hugo Rodrigues Módulo III Comportamento Alimentar Cyrus Villas Boas João Antonio Gimenes Junior Paula Jaqueline de Moura 21/07/06 Módulo III Dopamina e decisão Luiz Eduardo Tassi A ação de poluentes sobre a fisiologia de peixes Tiago Gabriel Correia Módulo III Avaliação e definição dos laboratórios para estágio 24/07/06 Estágio em laboratório Estágio em laboratório 25/07/06 Estágio em laboratório Estágio em laboratório 26/07/06 Estágio em laboratório Estágio em laboratório 27/07/06 Estágio em laboratório Estágio em laboratório 28/07/06 Apresentação de resultados obtidos durante o estágio Apresentação de resultados obtidos durante o estágio iv Índice BIOLOGIA MOLECULAR 1 METABOLISMO EM PARASITAS TRIPANOSOMATÍDEOS: DESCRIÇÃO DE ALVOS QUIMIOTERÁPICOS 4 FISIOLOGIA DA PIGMENTAÇÃO 8 MELATONINA E SEUS EFEITOS BIOLÓGICOS 11 SUBSTÂNCIAS TÓXICAS DE ORGANISMOS MARINHOS 14 MECANISMOS DE OSMORREGULAÇÃO EM ANIMAIS I 17 MECANISMOS DE OSMORREGULAÇÃO EM ANIMAIS II 20 MECANISMOS DE OSMORREGULAÇÃO EM ANIMAIS III 23 EXERCÍCIO TEÓRICO-PRÁTICO: BALANÇO OSMÓTICO EM AMBIENTES MARINHOS, DE ÁGUA DOCE E XÉRICO 26 PEIXES COMO MODELO BIOLÓGICO PARA PESQUISAS EM FISIOLOGIA COMPARATIVA 35 HOMEOSTASE DO CÁLCIO DURANTE O CICLO DA MUDA EM CRUSTÁCEOS 40 NEUROANATOMIA BÁSICA 44 PRÁTICA DE NEUROANATOMIA 46 MODELAMENTO MATEMÁTICO DE SISTEMAS BIOLÓGICOS 51 A EVOLUÇÃO DO CÉREBRO DOS PRIMATAS 54 EVOLUÇÃO DA ENDOTERMIA EM MAMÍFEROS E AVES: UM DEBATE DE QUATRO DÉCADAS 56 AS TOXINAS DE ANÊMONAS DO MAR COMO FERRAMENTAS PARA ENTENDER A FISIOLOGIA DE TECIDOS, ÓRGÃOS E SISTEMAS 58 CARACTERIZAÇÃO DO EFEITO ANALGÉSICO DO COMPOSTO LAS 390 OBTIDA DA PEÇONHA DA ANÊMONA BUNODOSOMA CANGICUM 62 MEMÓRIA EM AVES 65 NEUROFISIOLOGIA DA ATENÇÃO 70 v EXERCÍCIO FÍSICO, HIPERTENSÃO ARTERIAL E COMPORTAMENTOS: INTERAÇÕES, EFEITOS E BENEFÍCIOS 73 FISIOLOGIA, TEMPO E COGNIÇÃO: OS RELÓGIOS BIOLÓGICOS NOS ENSINAM A APRENDER? 78 MECANISMOS DE PRODUÇÃO DE CALOR: ENFOQUE COMPARATIVO E EVOLUTIVO 81 MÚSICA E NEUROCIÊNCIAS 85 ALIMENTAÇÃO E DIGESTÃO EM MOLUSCOS BIVALVES 87 DROGAS: INTERAÇÕES MOLECULARES E COMPORTAMENTAIS 89 CRONOBIOLOGIA – UMA VISÃO GERAL DO TEMPO 91 COMPORTAMENTO ALIMENTAR 94 DOPAMINA E DECISÃO 96 A AÇÃO DE POLUENTES SOBRE A FISIOLOGIA DE PEIXES 101 ANEXO 104 1 BIOLOGIA MOLECULAR Merari F. R. Ferrari No meio do século XVII o pesquisador inglês Robert Hook descreveu o que chamou de “célula”. Muito embora o que Hook tivesse observado não fosse uma célula como a conhecemos hoje, seu achado deu bases para a evolução da pesquisa celular. Schleiden e Schwann, em 1839, propuseram a teoria celular que tinha como princípios o fato de a célula ser a unidade básica de constituição dos organismos e que todas as células originavam-se de células pré-existentes. A descoberta dos experimentos genéticos do monge austríaco Gregor Mendel, em 1900, e a elucidação da molécula de DNA por Rosalind Franklin, James Watson e Francis Crick (1953) tornaram possíveis, e com sentido, a pesquisa para o desvendamento do código genético e sua importância nas mais diferentes respostas e reações a partir das interações do organismo com o meio em que vive. A partir destas descobertas e anseios pela busca de respostas mais específicas quanto ao funcionamento da célula, que de modo geral compõem a resposta final do organismo, houve o desenvolvimento da série de experimentos que culminaram com o que conhecemos hoje por biologia molecular. A figura 1 representa cronologicamente o advento de algumas técnicas utilizadas na biologia molecular. A vantagem principal da biologia molecular é que se podem entender os passos fundamentais de determinada cadeia de eventos para então interferir especificamente no ponto de interesse e, com isso, alterar a resposta final. Foi a partir do advento da biologia molecular que houve uma explosão de síntese de substâncias atuantes em pontos específicos para o tratamento de situações adversas. Dentre as técnicas mais conhecidas e avançadas em biologia molecular, este cursoabordará especialmente a hibridização in situ, o western blotting, o PCR, a terapia gênica, microarrays e RNA de interferência. 2 Resumidamente, utiliza-se hibridização in situ para quantificar determinado gene ou sua expressão através do RNAm pela hibridização de uma sonda marcada (radioativamente ou não) complementar à seqüência de interesse. Figura1. Esquema representando a linha do tempo da evolução das técnicas utilizadas na biologia/fisiologia a partir das descobertas de Hook (célula) e de Mendel (genética). Os microarrays de cDNA são chips contendo sondas específicas para um grande número de genes de determinada espécie, normalmente o genoma completo, que utilizam o princípio da hibridização para otimizar a análise da expressão gênica em diferentes situações. O Western Blotting quantifica proteínas após eletroforese, as quais são detectadas por anticorpos específicos e posteriormente marcadas geralmente com moléculas quimioluminescentes. Através do PCR é possível amplificar o gene ou RNAm para que possa ser quantificado através de eletroforese. O PCR em tempo real utiliza-se de uma sonda acoplada a uma molécula fluorescente que é quantificada à medida que a seqüência é amplificada. A terapia gênica é uma abordagem bastante moderna para interferência nos mais diversos níveis intracelulares. Pode ser usada para deleção, inserção ou modificação de genes. Através de vetores virais ou não virais (lipossomas) 1980 Biologia molecular 1999 Microarray 1989 Terapia gênica 2001 RNAi 1981 Hibridização in situ Western blotting 1986 PCR 1993 real time PCR 1956 Cultura de Células Era da análise genética 1900 Descoberta da genética 1665 Descoberta da célula 3 plasmídeos contendo o gene de interesse são inseridos no interior da célula para interação com o genoma. Os mesmos vetores da terapia gênica podem ser usados para inserir RNAs de interferência que são complementares ao RNAm celular fazendo com que haja digestão do RNA dupla fita gerando micro RNAs que promovem aumento ou degradação de RNAm. Para maiores esclarecimentos sobre as técnicas, pode-se consultar a bibliografia abaixo. Referências Bibliográficas: Gartel, A. L.; Kandel, E. S. (2006) RNA interference in câncer. Biomol. Eng. 23 (1):17-34. Miller, V.M.; Paulson, H. L.; Gonzalez-Alegre, P. (2005) RNA Interference in Neuroscience: Progress and Challenges. Cel. Mol. Neurobiol., 25 (8):1195- 207. Bustin, S.A. (2000) Absolute quantification of mRNA using real-time reverse transcription polymerase chain reaction assays. J. Mol. Endocrinol. 25(2):169-93. Paul J. Planet, P.J.; DeSalle, R.; Siddall, M; Bael, T.; Sarkar, I.N.; Stanley, S.E. (2001) Systematic Analysis of DNA Microarray Data: Ordering and Interpreting Patterns of Gene Expression. Genome Res. 11(7):1149-55. Luo, Z.; Geschwind, D.H. (2001) Microarray Applications in Neuroscience. Neurobiol. Dis. 8:183-193. Sites de interesse: http://www.pubmed.com http://www.nature.com http://www.google.com http://www.nature.com/focus/rnai/animations/index.html (RNA de interferência) http://www.genedetect.com/insitu.htm (hibridização in situ) http://lifesciences.asu.edu/resources/mamajis/western/western.html (western) http://lifesciences.asu.edu/resources/mamajis/pcr/pcr.html (PCR) http://www.ornl.gov/sci/techresources/Human_Genome/medicine/genetherapy.shtml (terapia gênica) 4 METABOLISMO EM PARASITAS TRIPANOSOMATÍDEOS: DESCRIÇÃO DE ALVOS QUIMIOTERÁPICOS Prof. Dra. Lucile Maria Floeter-Winter Maíra Natali Nassar Maria Fernanda Laranjeira da Silva Os protozoários da família Trypanosomatidae apresentam, entre outros, dois gêneros, Trypanosoma e Leishmania, que por serem agentes de graves enfermidades parasitárias são relevantes em saúde pública. No entanto, os outros organismos da família, fornecem a oportunidade de se estabelecer estudos comparativos, utilizando- se assim organismos não patogênicos. Os protozoários do gênero Leishmania, formam um grupo de organismos que apresentam dois hospedeiros obrigatórios em seu ciclo de desenvolvimento: um flebotomíneo e um mamífero. Neste ciclo o homem aparece acidentalmente, e essa infecção pode resultar um complexo quadro de desdobramentos clínicos, denominados genericamente como leishmaniose. As leishmanioses são consideradas pelo Tropical Diseases Research Programme Organização Mundial de Saúde (TDR/OMS), uma das seis doenças de maior importância em Saúde Pública eleitas para o desenvolvimento desse programa. Entre as protozooses, ocupam o segundo lugar, sendo superadas apenas pela malária. Do ponto de vista biológico, organismos do gênero Leishmania apresentam características interessantes. São parasitas intracelulares obrigatórios de células do sistema fagocítico mononuclear de um grande número de hospedeiros vertebrados, os quais adquirem a infecção, na quase totalidade das ocasiões, através do contato com o vetor flebotomíneo (Zuckerman & Lainson, 1977). Nos mamíferos, a principal célula parasitada é o macrófago. O interessante é que essa célula apresenta diversos mecanismos microbicidas: enzimas lisossômicas, intermediários reativos de oxigênio e nitrogênio e mediadores derivados de lipídeos. Contudo o parasita é capaz, por diversas estratégias, algumas conhecidas, de escapar desses mecanismos microbicidas e sobreviver no ambiente hostil. 5 A arginase é uma enzima integrante do ciclo da uréia (Krebs-Henseleit) nos animais uricotélicos, e é expressa em alguns tripanosomatídeos, entre eles Leishmania. A arginase utiliza como substrato L-arginina, produzindo L-ornitina e uréia. Inicialmente seu papel funcional foi associado apenas aos processos metabólicos envolvidos nessa interconversão arginina-ornitina-citrulina. Além disso, a expressão específica é uma das características utilizadas na identificação de organismos da família (Camargo, 1999). Nos últimos anos, uma série de trabalhos vem sendo publicada relatando as propriedades de uma outra enzima, a óxido nítrico sintase induzida (iNOS) que, como a arginase, utiliza a L-arginina como substrato, produzindo citrulina e óxido nítrico (Nathan e Xie, 1994, Mori & Gotoh, 2000), e como a arginase é expressa em macrófagos. A produção de NO é uma importante resposta microbicida dos macrófagos. Nessas células, a enzima iNOS é dependente de L-arginina, assim a arginase pode atuar negativamente na regulação dos níveis de NO produzidos, consumindo o substrato da iNOS (Boucher et al., 1999). Recentemente, foi demonstrado que a presença de um inibidor de arginase, a Nω-hydroxyl-L-arginina, diminui a capacidade de L. major em estabelecer a infecção em macrófagos (Iniesta et al., 2001). Com base nestes resultados, postulamos que um dos papéis funcionais da arginase de Leishmania estaria relacionado com a sobrevivência do parasita no interior dos macrófagos, competindo com a iNOS pelo mesmo substrato. Nosso laboratório tem-se dedicado à caracterização do segmento gênico que codifica a arginase de Leishmania, assim como seu produto de transcrição (da Silva et al., 2002). As informações geradas por essa caracterização permitiram a construção de um transfectante com apenas uma cópia do gene nocauteado e esse organismo mutante foi utilizado em ensaios de infecção in vitro, com macrófagos da linhagem J774. Os resultados dos experimentos apontam para uma baixa taxa na infectividade de macrófagos por L. (L.) amazonensis com uma cópia do gene de arginase nocauteado. Isso parece indicar que a arginase possa ser importante para a virulência e viabilidade do parasitana célula hospedeira. Estudos complementares mostraram que a diminuição da síntese de ornitina, também é responsável por uma diminuição na 6 taxa de proliferação dos parasitas, uma vez que esse composto é precursor na síntese de poliaminas e portanto essencial para a replicação do DNA. Por sua vez, o Trypanosoma cruzi é o agente causador da doença de Chagas, um importante problema de saúde pública na América Latina, onde se estimam que existam aproximadamente 16 - 18 milhões de pessoas infectadas na América Latina e sul dos Estados Unidos (http://www.who.int/ctd/chagas/disease.htm). O T. cruzi apresenta um ciclo de vida complexo alternando entre hospedeiros mamíferos e inseto vetor, um hematófago da família Triatominae. Durante esse ciclo, o T. cruzi passa por distintos estádios evolutivos. Dois deles estão presentes no inseto vetor: tripomastigota metacíclico e epimastigota. Outros dois estão presentes no hospedeiro mamífero: tripomastigota e amastigota. No interior do hospedeiro mamífero, o T. cruzi deve obrigatoriamente invadir as células para poder se diferenciar para formas replicativas e estabelecer a infecção (Brener, 1973). Eventos de regulação de expressão de genes que codificam RNA ribossômico comparando a organização da região promotora de RNA polimerase I, tanto em T.cruzi como em diferentes espécies de Leishmania indicam que a regulação se dá por repressão e que os fatores de transcrição apresentam um comportamento espécie seletivo. A elucidação dessa regulação pode fornecer dados importantes quanto aos aspectos evolutivos envolvendo a região promotora e a maquinaria de transcrição. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Boucher, J. L.; Moali, C.; Tenu, J. P. (1999) - Nitric oxide biosynthesis, nitric oxide synthase inhibitors and arginase competition for L-arginine utilization; Cellular and Molecular Life Sciences, 55: 1015-1028,. Brener, Z. (1973) Biology of Trypanosoma cruzi. Ann. Rev. Microbiol. 27, 347. Camargo, E. P. (1999) Phytomonas and other trypanosomatid parasites of plants and fruit. Adv. Parasitol., 42: 29-112. da Silva, E. R.; Moreno, T. M.; Pioker, F. C.; Silva, C. H. T. P.; Floeter-Winter, L. M. (2002) Genomic organisation and transcription characterisation of the gene encoding Leishmania (Leishmania) amazonensis arginase and its protein structure prediction. Int. J. Parasitol., 32: 727-737. Iniesta. V.; Gómez-Nieto, L. C.; Corraliza, I. (2001) The inhibition of arginase by N�-hydroxy-L- arginine controls the growth of Leishmania inside macrophage. J. Exp. Med. 193, 777-83. 7 Lainson, R.; Shaw, J.J.; Silveira, F. T.; Braga, R. R.; Ryan, L.; Povoa, M. M.; Ishikawa, E. A. Y. A Leishmania e as leishmanioses. - Instituto Evandro Chagas - 50 anos de contribuição a Ciências Biológicas e à Medicina Tropical, 1986. Mori, M.; Gotoh, T. (2000) - Regulation of Nitric Oxide Production by Arginine Metabolic Enzymes. BBRC, 275:715-719. Nathan, C.; Xie, Q. W. (1994) Nitric oxide synthases: roles, tolls, and controls. Cell. 23;78(6):915-918. Orlando, T. C.; Rubio, M.A.; Sturm, N.R.; Campbell, D. A.; Floeter-Winter, L. M. (2002) Intergenic and external transcribed spacers of ribosomal RNA genes in lizard-infecting Leishmania: molecular structure and phylogenetic relationship to mammal-infecting Leishmania in the subgenus Leishmania (Leishmania). - Mem Inst Oswaldo Cruz, 97: 695- 701. Stempliuk, V. A.; Floeter-Winter, L. M. (2002) Functional domains of the rDNA promoter display a differential recognition in Leishmania - Int J Parasitol, 32:437- 447. Uliana, S. R.; Fischer, W.; Stempliuk, V. A.; Floeter-Winter, L. M. (1996) Structural and functional characterization of the Leishmania amazonensis ribosomal RNA promoter. Mol Biochem Parasitol, 76: 245-255. Zuckerman, A.; Lainson, R. (1997) Leishmania. In Parasitic Protozoa, Vol I. (J. P. Kreier, Ed.). Academic Press Inc: New York. 8 FISIOLOGIA DA PIGMENTAÇÃO Ana Paula Canel Bluhm A maioria dos animais apresenta cores variadas com as mais incríveis combinações e nuances. Cor é uma propriedade física de certas substâncias cujas moléculas absorvem luz em certos comprimentos de onda e, portanto, transmitem o comprimento de onda complementar ao absorvido. Estas substâncias são denominadas pigmentos e há uma grande variedade deles presente na natureza. Os grânulos de pigmento são produzidos e armazenados nas células pigmentares ou cromatóforos, que são células especializadas, com muitas projeções citoplasmáticas, que lhe conferem aspecto estrelado. Nos vertebrados, são originárias da crista neural e migram para diversas regiões, apresentando cores variadas, sendo classificadas conforme a natureza química dos pigmentos que armazenam: 9 Melanóforos: pretos ou pardos, contêm grânulos de melanina (melanossomos); 9 Eritróforos: vermelhos, contêm diferentes proporções de pigmentos carotenóides e pteridínicos (eritrossomos); 9 Xantóforos: amarelos, contêm pigmentos pteridínicos e carotenóides em proporções variadas (xantossomos); 9 Leucóforos: brancos, contêm grânulos de purinas (leucossomos); 9 Iridóforos: iridescentes cores metálicas contêm purinas depositadas em finas placas cristalinas. Em aves e mamíferos a diversidade de cromatóforos foi perdida e o único tipo de célula pigmentar presente é o melanócito, célula que sintetiza e armazena melanina. O padrão de cor e a presença de listras e/ou manchas são determinados geneticamente, mas alguns animais podem mudar de cor em resposta a estímulos ambientais, como temperatura (termorregulação), cor do ambiente (favorecendo caça ou escape), iluminação, presença de outros animais (atração de presas ou parceiro sexual), estações do ano e ciclos de dia/noite, permitindo sua adaptação a uma nova 9 situação. Alguns animais podem sofrer mudanças de cor de forma rápida (mudança de cor fisiológica) ou de forma lenta (mudança de cor morfológica). A mudança na coloração dos animais é, na maioria das vezes, regulada pela ação de hormônios ou neurotransmissores. A mudança de cor fisiológica é uma propriedade de alguns invertebrados, como cefalópodes e crustáceos e dos vertebrados pecilotérmicos. São adaptações rápidas, que se completam em minutos ou segundos, não estão presentes em aves e mamíferos, que apresentam apenas uma lenta migração de grânulos de melanina para os queratinócitos vizinhos, penas e pêlos, alem da mudança de cor morfológica. Já a mudança de cor morfológica, que pode ocorrer em todos os animais, é decorrente de alterações na quantidade ou no tipo de pigmento dentro das células pigmentares e/ou na densidade destas (para mais ou para menos). Pode ocorrer como uma resposta direta da célula pigmentar à luz ou à temperatura, como é o caso da resposta de melanócitos humanos à luz UV (bronzeamento). São mudanças extremamente lentas, que podem levar dias ou semanas, mas são mudanças duradouras. Os seres humanos também possuem melanócitos na pele. A cor de nossa pele não depende do número de melanócitos presente em uma determinada área, já que esta proporção é semelhante em todas as raças. O que varia é a taxa de produção ou o tipo de melanina presente, determinados geneticamente. Quando somos expostos à luz solar, a irradiação UV estimula a síntese de melanina nos melanócitos, processo conhecido popularmente como bronzeamento. Este processo tem a importante função de proteger o DNA de nossas células contra danos causados pela radiação ultravioleta. Como este processo é muito lento, recomenda-se a exposição gradual ao sol, para permitir a síntese de melanina em quantidade adequada. Existem diversas patologiasassociadas à pigmentação, que podem ser causadas por mecanismos fisiológicos deficientes, como, por exemplo, o melanoma. Todas as patologias associadas às células pigmentares possuem importância clínica, seja pela sua gravidade ou pelo fator psicológico associado à aparência física do indivíduo. 10 Referências Bibliográficas: Regulação hormonal da célula pigmentar de vertebrados. Visconti, M.A. – Tese (Livre- Docência) – Departamento de Fisiologia/Instituto de Biociências-USP, 1999. Modulação hormonal de células de eritroforoma da linhagem GEM 81 por α-MSH e MCH. Benabou, M.H.P. – Dissertação (Mestrado em Fisiologia) – Departamento de Fisiologia/Instituto de Biociências-USP, 1999. Molecular Biology of the cell, 4.ed. Alberts, B., Johnson, A., Lewis, J., Raff, M., Roberts.K. & Walter. P. Garland Science, 2002. http://fisio.ib.usp.br/labpig/ www.pubmed.com 11 MELATONINA E SEUS EFEITOS BIOLÓGICOS Eduardo Koji Tamura Erika Cecon Melatonina é o hormônio produzido pela glândula pineal, conhecido como hormônio marcador do escuro. A síntese de melatonina inicia-se com a captura do aminoácido triptofano a partir da circulação, que é convertido em 5-hidroxitriptofano e em serotonina. Esta, por sua vez, é acetilada a N-acetilserotonina (NAS) em uma reação dependente da enzima arilalkilamina-N-acetiltransefrase (AA-NAT), cuja expressão gênica varia ao longo do dia. Por fim, a NAS é metilada pela enzima hidroxindol-O-metiltransferase (HIOMT), formando então a melatonina (Simonneaux & Ribelayga, 2003). O controle desta via biossintética está vinculado ao ciclo claro-escuro ambiental. Nos mamíferos, a informação luminosa é percebida pelos fotorreceptores retinianos, transmitida aos núcleos supraquiasmáticos (NSQs) e ao núcleo paraventricular hipotalâmico, que se conecta então aos gânglios cervicais superiores. No período de escuro, as fibras simpáticas pós-ganglionares liberam noradrenalina, que sinaliza através de receptores β-adrenérgicos presentes na glândula pineal e estimula a expressão gênica da enzima AA-NAT, um dos passos limitantes para a síntese de melatonina (Klein et al., 1997). A secreção noturna de melatonina não só sinaliza a presença do escuro ao organismo como também informa sobre a duração do fotoperíodo através da duração de sua liberação (Reiter, 1993) tendo, portanto, grande envolvimento nas respostas adaptativas do organismo às variações circadianas e também sazonais. Além destes efeitos, diversas outras ações são ligadas à participação da melatonina, como por exemplo à mudança de cor de pele em anfíbios, o envolvimento em processos relacionados ao sono, a inibição da iniciação do câncer e do crescimento do tumor, a estimulação do sistema imunológico, entre outros (Reiter et al., 2002). A concentração noturna máxima de melatonina no plasma em mamíferos está na faixa de pM – nM e ações dependentes da produção extra pineal são observadas em concentrações maiores, na faixa de μM – mM. 12 Um dos efeitos mais conhecidos e bem estudados de altas concentrações de melatonina é a capacidade de atuar como antioxidante (para revisão, Reiter et al., 2002). Os radicais livres possuem alta reatividade, o que leva à oxidação de moléculas estruturais e essenciais para a atividade celular. Um outro mecanismo de ação que pode resultar em efeito antioxidante é o aumento da atividade de enzimas como a superóxido dismutase (SOD), glutationa peroxidase e glutationa oxidase. Por se tratar de uma molécula lipofílica a melatonina também possui ações intracelulares e um dos principais mecanismos de ação observados em baixas concentrações é a capacidade de ligação a calmodulina, ligação esta de alta afinidade, sugerindo uma relevância fisiológica (Benítez-King & Antón Tay, 1993). Considerando que a calmodulina participa da maioria dos eventos intracelulares em vertebrados superiores, além de possuir capacidade de ligação e regulação em uma grande diversidade de proteínas-alvos, incluindo enzimas, canais iônicos, receptores e proteínas do citoesqueleto, a interação melatonina-calmodulina, pode interferir em diversas modificações de funções celulares (para revisão, Kortvely & Gulya, 2004). A melatonina também se liga com alta afinidade (pM a nM) a receptores clássicos membrana (MT1 e MT2) que pertencem à família de receptores de sete domínios transmembrânicos, acoplados à proteína G (Reppert et al., 1994), a um “sítio receptor” (MT3), muito provavelmente constituído por uma enzima a quinona redutase II (Nosjean et al., 2000) e a receptores nucleares (Becker-Andre et al., 1994). Devido a esta grande diversidade de mecanismos de ações que ocorrem de acordo com a concentração e com o local de ação, a melatonina tem sido amplamente estudada por diversos grupos e nos mais diferentes sistemas. Apesar dos vários efeitos fisiológicos já demonstrados e bem estabelecidos por toda a literatura, muitos destes efeitos não estão elucidados, possibilitando, um grande campo de estudo com esta importante molécula encontrada nos diversos organismos. Referências Bibliográficas: Becker-Andre, M.; Wiesenberg, I.; Schaeren-Wiemers, N.; Andre, E.; Missbach, M.; Saurat, J. H.; Carlberg, C. (1994) Pineal gland hormone melatonin binds and activates an orphan of the nuclear receptor superfamily. J. Biol. Chem., 269: 28531-28534. 13 Benítez-King, G.; Antón-Tay, F. (1993) Calmodulin mediates melatonin cytoskeletal effects. Experientia, 49: 635-641. Klein, D. C.; Coon, S. L.; Roseboom, P. H.; Weller, J. L.; Bernard, M.; Gastel, J. A; Zatz, M.; Iuvone, M.; Rodriguez, I. R.; Bégay, V.; Flcon, J.; Cahill, G. M.; Cassone, V. M.; Baler, R. (1997) The melatonin rhythm-generating enzyme: molecular regulation of serotonin n- acetyltransferase in the pineal gland. Recent Progress in Hormone Res., 52: 307-58. Kortvely, E.; Gulya, K. (2004) Calmodulin and various ways to regulate its activity. Life Sci., 74: 1065-1070. Nosjean, O.; Ferro, M.; Coge, F.; Beauverger, P.; Henlin, J. M.; Lefoulon, F.; Fauchere, J. L.; Delagrange, P.; Canet, E.; Boutin, J. A. (2000) Identification of the melatonin-binding site MT3 as the quinone reductase 2. J. Biol. Chem., 275: 31311-31317. Reiter, R.J. (1993) The melatonin rhythm: both a clock and a calendar. Experientia, 49(8): 654-664. Reiter, R. J.; Tan, D. X.; Sainz, R. M.; Mayo, J. C.; Lopez-Burillo, S. (2002) Melatonin: reducing the toxicity and increasing the efficacy of drugs. J. Pharm. and Pharmacol., 54: 1299-1321. Reppert, S. M.; Weaver, D. R.; Ebisawa, T. (1994) Cloning and characterization of mammalian melatonin receptor that mediates reproductive and circadian responses. Neuron., 13(5): 1177- 1185. Simonneaux, V.; Ribelayga, C. (2003) Generation of the melatonin endocrine message in mammals: a review of the complex regulation of melatonin syntesis by norepinephrine, peptides, and other pineal transmitters. Pharmacol Reviews. 55:325-395. 14 SUBSTÂNCIAS TÓXICAS DE ORGANISMOS MARINHOS Andréa Lúcia Campos Natali Existe um interesse considerável em explorar o ambiente marinho quanto à busca por substâncias biologicamente ativas. Na natureza elas são úteis em situações de competição, distribuição comunitária agregada ou a resistência a predação por algumas algas (Oliveira, 2002). Com o avanço dos estudos/pesquisas em ecologia bioquímica, grande enfoque tem sido dirigido aos metabólitos secundários das funções vitais. Exemplo disso são aqueles envolvidos com a preservação da espécie e da sua integridade contra os ataques de seuspredadores naturais, sejam eles fungos, bactérias, moluscos ou animais superiores. Outro exemplo é a alelopatia, ou seja, o seqüestro de toxinas de algas da dieta de algumas espécies com finalidade defensiva (Freitas, 1980; Freitas & Jacobs, 1983; Kotaki et al., 1983; Yasumoto et al., 1983) ou substâncias envolvidas para deter a herbívora (ouriço-do-mar e moluscos) (Hay & Fenical, 1988). Os recentes avanços científicos na farmacologia marinha têm revelado diversos compostos bioativos, ampliando as possibilidades de aplicação das algas (macro e microalgas) como fonte direta de medicamentos ou inspirando a síntese de novas substâncias a partir das estruturas moleculares descobertas. Além dos produtos como o agar-agar, a carragenina e os alginatos, as algas têm numerosos constituintes que atraem progressiva atenção em muitos campos, principalmente para a finalidade farmacológica (Hay, 1996). Entre os constituintes das macroalgas encontramos ácidos, como o ácido Kaínico da rodofícea Digenea simplex com atividade vermífuga e neuroativa; os alcalóides, como a tiramina e dopamina que já foram isolados das macroalgas Monostroma, Polysiphonia, Chondrus e Laminaria. Substâncias antibacterianas e antibióticas são encontradas em algas verdes como a Ulva lactuca, rica em ácido acrílico, enquanto substâncias antifúngicas estão presentes na Halimeda opuntia que produz o halimedatriol, o qual tem funções inotrópicas positivas no coração, inibe divisão celular, é antibacteriana e antiviral. 15 Substâncias com funções antilipêmica e antitumoral são encontradas na alga parda Stypopodium zonale, que produz estipoldiona que inibe a polimerização de microtúbulos (Freitas & Marsiglio, 1986; O’ Brien et al., 1989). O elatol e a elatona, isoladas da alga vermelha Laurência sp inibem a divisão celular. A alga Laminaria angustula produz a laminina, que promove um efeito inotrópico negativo e é hipotensiva. A alga verde Caulerpa sp possui propriedades diuréticas. Além desses, já estão bem estabelecidas outras propriedades das algas como: hemostática, hemaglutinante, antilipêmica, antitumoral, hipocolesterolêmica e antiulcerogênica (Sun & Tseng, 1983). Muitos estudos estão voltados para as substâncias de alta toxicidade como a saxitoxina, a tetrodotoxina e derivados (Freitas et al., 1988). A alga rodofícea do gênero Jania foi indicada como fonte de neurotoxinas (goniautoxinas I, II e III – análogas as saxitoxinas) e tetrodotoxina (Kotaki et al., 1983). No Brasil, Freitas et al. (1988) identificaram saxitoxina, goniautoxinas e tetrodotoxina nas algas rodofíceas Jania rubens e Arthrocardia gardneri. Substâncias tóxicas também são encontradas em microalgas, como os dinoflagelados que produzem toxinas que são acumuladas em mariscos ou em peixes. Quando o homem se alimenta desses organismos, pode apresentar sintomas característicos dos envenenamentos provocados pelas substâncias produzidas pelos dinoflagelados. Os envenenamentos podem ser do tipo amnésico (ácido domóico), neurotóxico (brevetoxinas), diarréico (ácido okadaico e derivados), ciguatérico (ciguatoxinas), paralisante (saxitoxinas e análogos) e azaspiracídeo. A alga verde Bryopsis pennata possui substâncias não hemolíticas, antimitóticas, neurotóxicas e musculotrópicas, promovem o efeito cronotrópico e inotrópico positivo em coração de anuros (Sakamoto, 1993). Este último será demonstrado em atividade prática no laboratório farmacológico do professor José Carlos de Freitas. Referências Bibliográficas: Freitas, J. C. (1980) Evidências de um possível comportamento de defesa química em crustáceos Braquiúros. Bol Fisiol. Anim., 4:153-61. 16 Freitas, J. C. & Jacobs, R. S. (1983) Antagonism of the neurotoxic action of the betabungarotoxin on the rat phrenic-nerve hemidiaphragm by the marine natural product, manoalide. Fed. Proc. 42: 374. Freitas, J., C., Marsiglio, A. F. (1986) Pharmacological activity of extracts of some marine algae from Brazilian coast. Bolm. Fisiol. Anim. Univ. S. Paulo. 10, 61-68. Freitas, J. C., Ogata, T., Sato, S.; Kodama, M. (1988) The occurrence of tetrodotoxin and paralytic shellfish toxins in macroalgae from the Brazilian coast. Proc. Japan. Assoc. Mycotoxicol., (Suppl.1): 29-30. Hay, M. E. & Fenical, W. (1988) Marine plant-herbivore interactions: The ecology of chemical defense. Annu. Rev. Ecol. System., 19:111-45. Hay, M. E. (1996) Marine chemical ecology: what’s known and what’s next? J. Exp. Mar. Biol. Ecol. 200, 103-134, 1996. Kotaki, Y.; Tajiri, M.; Oshima, Y.; Yasumoto, T. (1983) Identification of calcareous red algae as the primary source of paralytic shellfish toxins in corral reef crabs and Gastropods. Bull. Japan. Soc. Sci. Fisch., 49: 283-6. O’Brien, E. T.; Asai, D. J.; Jacobs, R. S.; Wilson, L. (1989) Selective inhibition of cytokinesis in sea urchin embryos by low concentrations of stypoldine, a marine natural product that reacts with sulfhydryl groups. Mol. Pharmacol., 35: 635-42. Oliveira, E. C. Macroalgas marinhas da costa brasileira, estado do conhecimento, usos e conservação biológica. Congresso Brasileiro de Botânica, Recife, 2002. Sakamoto, M. M. Ações farmacológicas do extrato de alga marinha Bryopsis pennata (Chlorophyta, Caulerpales). Tese de Doutoramento, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, 124p, 1993. Sun, S. & Tseng, C. K. Pharmacological Studies on Chinese seaweeds in people’s Republic of China. In: International Seaweed Symposium, 11., 1983. Yasumoto, T.; Oshima, Y.; Kotaki, Y. (1983) Analyses of Paralytic Shellfish Toxins in Coral Reef Crabs and Gastropods with the identification of the Primary source of the Toxins. Toxicon, (Suppl.3): 513-6. 17 MECANISMOS DE OSMORREGULAÇÃO EM ANIMAIS I James F. Malta da Silva Dr. Luis Alberto Valotta A capacidade de regular o volume celular em face de desafios osmóticos é um dos mecanismos fisiológicos fundamentais. É, provavelmente, um dos mais antigos e tendo surgido precocemente na evolução. Acredita-se que, quando moléculas auto-replicantes foram envolvidas por membranas fosfolipídicas e iniciou-se a produção de moléculas não difusíveis, um gradiente eletroquímico favorável ao influxo de água foi formado com riscos à ruptura destas estruturas. Para garantir o volume destas protocélulas, pode-se supor que paralelamente à evolução de moléculas auto-replicantes, sistemas de transporte de solutos evoluíram visando à preservação da concentração osmótica (CO) interna igual à do meio e, portanto, garantindo fluxos resultantes de água nulos. Há fortes evidências de que certos mecanismos implicados na regulação de volume também estão implicados tanto com a divisão celular como com a apoptose - morte celular programada. Assim, a regulação e/ou manutenção do volume celular é de fundamental importância para a vida da célula. Mesmo em meios isosmóticos as células estão sujeitas às alterações no volume pelo influxo de água. Isto decorre do efeito Donnan causado pela presença de moléculas impermeantes carregadas negativamente dentro das células, tais como as proteínas e ácidos nucléicos. O modelo que dispomos sobre a relação entre fluxos iônicos e volume celular, basicamente, consiste em descrever a manutenção do volume celular como resultante do equilíbrio dinâmico entre o transporte ativo de solutos (Na+-K+-ATPase) e fluxo passivo através de canais (K+, Cl-, principalmente). Este sistema compensa, sobretudo, o efeito Donnan. A manutenção de volume requer que, em condições normais, influxo e efluxo de água sejam equivalentes, ou seja, fluxo resultante zero. Se a CO extracelular for abruptamente diminuída,as células incharão devido ao influxo de água através da membrana. Esse inchamento celular é revertido com a extrusão de íons e água levando à redução regulatória de volume (regulatory volume decrease - RVD). 18 Quando as células retornarem a valores próximos aos iniciais, estarão praticamente isosmóticas ao novo meio e, ao serem transferidas ao meio anterior, comportam-se agora como em meio hiperosmótico e sofrem redução de volume. Por outro lado, caso a CO extracelular seja abruptamente aumentada, as células murcharão devido ao efluxo de água. Este murchamento celular, então, poderá ser revertida através do ganho de íons e água levando ao aumento regulatório de volume (regulatory volume increase - RVI). Nesta condição, as células tornam-se isosmóticas ao novo meio e, quando transferidas ao meio anterior comportam-se como em meio hiposmótico e aumentam de volume. As variações de volume em células submetidas a choques anisosmóticos são bastante rápidas, da ordem de segundos (Figura 1). Muitas células podem regular e/ou compensar um aumento ou diminuição do seu volume através do fluxo de solutos orgânicos ou inorgânicos, estes habilitam as células a alcançarem seu volume próximo ao normal durante exposições a meios hiposmótiicos ou hiperosmóticos. Em geral, células cuja CO é mantida entre 500-1000 mOsm.kg H2O-1, como em organismos marinhos eurialinos e na medula renal de mamíferos, contém altas concentrações de osmólitos orgânicos e os utilizam durante a regulação de volume. Contudo, nestas células como em outras, a regulação de volume utiliza tanto solutos orgânicos como inorgânicos em proporções que preservam a função celular particular. Referências Bibliográficas; Bortner, C. D.; Cidlowski, J. A. (1996) Absence of volume regulatory mechanisms contributes to the rapid activation of apoptosis in thymocytes. Am. J. Physiol. 271(Cell Physiol.) 40:C950- C961. Chamberlin, M. E.; Strange, K. (1989) Anisosmotic celI volume regulation: a comparative view. Am. J. Physiol. 257 (CeIl Physiol. 26): C159-C173. Deaton, L. E.; Pierce, S. K. (1994) lntroduction: cellular volume regulation - mechanisms and control. J. Exp. Zool. 268: 77-79. Garcia-Perez, A.; Burg, M. B. (1991) Role of organic osmolytes in adaptation of renal cells to high osmolality. J. Memb. Biol. 119:1-13. Hallows, K. R.; Knauf, P. A. Principles of celI volume regulation. In: Cellular and Mollecular Physiology of Cell Volume Regulation, edited by K. Strange. Boca Raton, FL: CRC, 1994, p. 3- 28. 19 Pierce, S. K. (1982) Invertebrate cell volume control mechanisms: a coordinated use of intracellular amino acids and inorganic ions as osmotic solute. Biol.Bull. 163:405-419. Schultz, S. G. (1989) Volume Preservation: then and now. News Physiol. Sci. 4: 169-172. Figura 1. Ativação celular de mecanismos regulatórios de volume em resposta a alterações na concentração do meio. Regulação do volume em relação ao ganho e perda de soluto, redução regulatória do volume (RVD) e aumento regulatório do volume (RVI) respectivamente (Modificado de DEATON & PIERCE, 1994). - Aumento Regulatório de Volume (RVI) Cl- Na+ Na+ Na+ H+ Cl - HCO3- H2O K+ Perda de soluto Ganho de soluto Volume K+ Cl - H2O K+ Cl- Redução Regulatória de Volume (RVD) 20 MECANISMOS DE OSMORREGULAÇÃO EM ANIMAIS II (elaborado a partir de Randall et al., 1997) James F. Malta da Silva Dr. Luis Alberto Valotta A composição do ambiente extracelular em muitos animais se assemelha à água do mar diluída. Esta similaridade pode ter sua origem no mar primitivo no qual se acredita terem ocorrido às etapas mais precoces da evolução. A habilidade de muitos animais em regular a composição de seu ambiente interno é fortemente relacionada à sua habilidade de ocupar ambientes que diferem osmoticamente das necessidades de seus tecidos. Osmorregulação requer trocas de água e sais entre o ambiente extracelular e os ambiente externo para compensar perdas e ganhos obrigatórios ou que não possam ser controlados. O transporte de água e solutos através dos epitélios é fundamental a toda atividade osmorregulatória. As trocas obrigatórias de água dependem: (1) do gradiente osmótico que existe entre os ambientes internos e externos; (2) da relação superfície-volume do animal; (3) da permeabilidade do tegumento; (4) da tomada de alimento e água; (5) das perdas evaporativas de água relacionadas à termorregulação; e (6) da remoção de resíduos metabólicos e digestórios na urina e nas fezes. Tanto animais marinhos como terrestres correm riscos de desidratação, enquanto que animais de água doce devem prevenir-se em relação à hidratação resultante da captação osmótica da água. Aves marinhas, répteis e teleósteos repõem a perda de água bebendo água do mar e secretando ativamente sal através de um epitélio secretor. Peixes de água doce não bebem água: repõem as perdas de sais por transporte ativo. Aves e mamíferos são os únicos vertebrados que secretam uma urina hiperosmótica. Muitas espécies de deserto utilizam mecanismos adicionais para minimizar a perda respiratória de água. A maioria dos rins de vertebrados utiliza filtração, reabsorção e secreção na formação de urina. Um mecanismo de contracorrente presente nos rins de aves e mamíferos permite a produção de urina hiperosmótica. A filtração do plasma no glomérulo é dependente da pressão arterial. Cristalóides e pequenas moléculas 21 orgânicas são filtradas, deixando as células sangüíneas e grandes moléculas para trás. Sais e moléculas orgânicas como açúcares são parcialmente reabsorvidas a partir do filtrado glomerular nos túbulos renais, e certas substâncias são secretadas no fluído tubular. Um sistema multiplicador de contracorrente que inclui o duto coletor e a alça de Henle ajusta os valores extremos que se observam no gradiente de concentração extracelular de sais e uréia que se estende profundamente para o interior da medula no rim de mamíferos. A água é retirada osmoticamente dos dutos coletores e passa através de grandes concentrações medulares de sal e uréia na direção da pelve renal. O controle endócrino da permeabilidade hidráulica do duto coletor determina o volume de água reabsorvida e retida na circulação. Estes procedimentos permitem que a composição da urina difira fortemente das proporções de substâncias que ocorrem no sangue. A formação da urina segue o mesmo padrão geral em todos ou na maioria dos vertebrados e invertebrados. A pré-urina formada contém essencialmente todas as pequenas moléculas e íons que formam o sangue. Na maioria dos vertebrados e em crustáceos e moluscos, essa formação é acompanhada pela ultrafiltração; em insetos, pela secreção de KCl, NaCl, e fosfato, com água e outras pequenas moléculas, como aminoácidos e açúcares que seguem passivamente seus gradientes de concentração, através do epitélio dos túbulos de Malpighi. A pré-urina é modificada subseqüentemente pela reabsorção seletiva de íons e água, em alguns animais, pela secreção de excretas no lúmen do néfron pelo epitélio tubular. Aves e répteis podem beber água do mar, excretando o excesso de sal através de uma glândula nasal de sal. Elasmobrânquios excretam sal por uma glândula retal de sal: constituída de células secretoras de sal similares àquelas encontradas na porção ascendente fina da alça de Henle do rim de mamíferos, na glândula de sal de aves e répteis e nas células de cloreto nas brânquias de teleósteos marinhos. A regulação hormonal da atividade dessas células é também similar em tubarões,em aves, em répteis e em mamíferos. As brânquias de peixes teleósteos e muitos invertebrados realizam osmorregulação pelo transporte ativo de sais, a direção do transporte para dentro em peixes de água doce e para fora em peixes marinhos. 22 O nitrogênio produzido pelo catabolismo de aminoácidos e proteínas é eliminado em uma dentre três formas, dependendo do ambiente osmótico em que vivem os diferentes grupos animais. Amônia, altamente tóxica e solúvel, requer grandes quantidades de água para ser eliminada através das brânquias de teleósteos. Ácido úrico, pouco tóxico e pobremente solúvel, é eliminado como uma suspensão semi-sólida via o rim de aves e répteis. Uréia é a menos tóxica e sua eliminação requer quantidades moderadas de água. Os mamíferos convertem a maioria de suas excretas nitrogenadas em uréia, a qual é excretada na urina; elasmobrânquios usam uréia como um agente osmótico no seu sangue e excretam o excesso de nitrogênio como uréia através de suas brânquias. Referências Bibliográficas: Gilles, R. (Editor) Mechanisms of osmoregulation in animals: maintenance of cell volume (1st edition) John Wiley & Sons, 1979. Gupta, B. L.; Moreton, R. B.; Oschman, J. L.; Wall, B. J. Transport of ions and water in animals (1st edition). Academic Press, 1977. Randall, R.; Burggren, W.; French, K. Eckert Animal Physiology: mechanisms and adaptations (4th edition). W. H. Freeman and Company, 1997. Schmidt-Nielsen, K. Animal Physiology : Adaptation and Environment (1st edition) Cambridge University Press, 1997. Stone, G.; Johnston, I. A.; Willmer, P. J. Environmental Physiology of Animals (2nd edition). Blackwell Science Inc, 2000. Strange, K. (Editor) Cellular and Molecular Physiology of Cell Volume Regulation (1st edition). CRC Press, 1994. Withers, P. C. Comparative Animal Physiology (1st edition). Harcourt Brace, 1992. 23 MECANISMOS DE OSMORREGULAÇÃO EM ANIMAIS III (elaborado a partir de Gilles, 1979) James F. Malta da Silva Dr. Luis Alberto Valotta O problema da regulação de volume celular é um dos elementos cruciais na conquista de diferentes biótopos e no estabelecimento de organismos em ambientes aquáticos com flutuações de salinidade. De acordo, a vida foi originada em algum tipo de oceano e a capacidade de controlar o volume celular é um dos principais pré- requisitos para a invasão de outros tipos de habitats como os ambientes de água doce e terrestre. Os organismos que habitam este meio desenvolveram adaptações osmóticas específicas habilitando a sua manutenção em suas comunidades. Há várias maneiras através das quais o problema da manutenção do volume celular pode ser resolvido. O organismo pode isolar-se completamente do meio externo, evitando dessa forma o ganho ou a perda de água. Esta solução não foi mantida por um grande número de espécies ao longo da evolução. Trocas com o meio externo são necessárias para satisfazer as necessidades celulares. Alguns esporos bacterianos podem sobreviver por longos períodos com um conteúdo baixo de água e sem trocas com o seu meio ambiente; nesta situação, entretanto, seus processos vitais são essencialmente suspensos. Na maioria dos organismos, a água atravessa a membrana celular por difusão em resposta a gradientes osmóticos. Há duas maneiras de evitar mudanças no volume celular enquanto mantém-se a possibilidade de trocas entre o fluído intracelular e o meio ambiente. O primeiro método consiste no controle da Concentração Osmótica (CO) do fluído intracelular em relação a eventuais modificações do meio externo. O segundo método implica no controle da CO do fluído que circunda as células em quaisquer condições externas. A última solução foi adotada por diversos eucariotos e foi denominada a “regulação anisosmótica extracelular”. Embora a existência de um fluído extracelular diferente do meio externo foi observada precocemente na evolução, a efetiva regulação deste meio (os fluídos corpóreos) é um atributo de apenas alguns grupos zoológicos altamente evoluídos. Pode ser encontrado em alguns vermes e moluscos, mas, essencialmente, ocorre em 24 artrópodes e em vertebrados. Além disso, muitos dessas espécies são incapazes de manter o estado osmótico de seu sangue quando a CO do ambiente varia. Os mais eficientes reguladores anisosmóticos formam a categoria denominada dos assim chamados animais homeostáticos; essas espécies podem manter a CO do seu sangue estacionária independente das condições externas. Além de alguns crustáceos e peixes, representantes deste grupo são encontrados entre répteis, aves, e mamíferos. Os íons inorgânicos Na+ e Cl- predominam como efetores osmóticos sanguíneos na maioria dos reguladores anisosmóticos. Uréia é usada por alguns vertebrados inferiores. Este composto orgânico é encontrado essencialmente em ciclostomados e em elasmobrânquios, mas também tem um papel em vários anfíbios e répteis. Há apenas alguns animais homeostáticos. Em todos as outras espécies, as células têm que, algumas vezes, se defrontar com importantes mudanças na CO de seu meio ambiente. Além disso, os eficientes mecanismos de controle da CO sangüínea que atuam em espécies homeostáticas podem estar encobertos sob certas condições ou podem apresentar certa demora em responder a uma nova situação. Isto aponta para a importância dos mecanismos de controle osmótico do fluído intracelular na manutenção do volume celular. Na maioria das espécies de animais eucarióticas, os fluídos intra e extracelulares são mantidos próximos da condição isosmóticas. Os mecanismos implicados neste processo foram denominados como mecanismos de “regulação isosmótica intracelular”. Trabalham para manter o equilíbrio osmótico apesar da presença de solutos aniônicos não-difusíveis no interior das células; estas partículas geram uma pressão osmótica a qual, de outra forma, iria induzir o inchamento e a lise das células de animais por possuírem membranas facilmente distensíveis. Além disso, estes mecanismos são de fundamental importância na resposta regulatória de volume que estas células são capazes de desenvolver após mudanças na CO de seu meio ambiente. Em todos os tecidos e células estudados até o momento, eles implicam no controle ativo do montante de vários efetores osmóticos intracelulares entre os quais os íons inorgânicos Na+, K+ e Cl- e os aminoácidos livres possuem um papel proeminente. 25 Os mecanismos de regulação isosmótica intracelular foram encontrados em tecidos e células de muitas espécies de vários grupos zoológicos incluindo protozoários, invertebrados, e vertebrados. É importante notar que muitos desses organismos ou não possuem, ou possuem de forma muito frágil, a capacidade de regulação anisosmótica extracelular. Pode-se, portanto, concluir que a regulação isosmótica em nível celular um processo mais primitivo o qual apareceu precocemente e persistiu ao longo da evolução. Processos de regulação anisosmóticos devem ter sido adquiridos posteriormente, adicionando às espécies que o possuíam um novo leque de possibilidades. Referências Bibliográficas: Alberts, B.; Bray, D.; Lewis, J.; Raff, M.; Roberts, K.; Watson, J.D. Molecular Biology of The Cell (3rd edition). Garland Publishing Inc, 1994. Flörkin, M. (1962) La regulation isosmotique intracellulaire chez les inevertebrés marins euryhalins. Bull. Acad. R. Belg. Cl. Sci., 48, 687-694. Gilles, R. (Editor) Mechanisms of osmoregulation in animals: maintenance of cell volume (1st edition) John Wiley & Sons, 1979. Gupta, B. L.; Moreton, R. B.; Oschman, J. L.; Wall, B. J. Transport of ions and water in animals (1st edition). Academic Press, 1997.Randall, R.; Burggren, W.; French, K. Eckert Animal Physiology: mechanisms and adaptations (4th edition). W. H. Freeman and Company, 1997. Schmidt-Nielsen, K. Animal Physiology: Adaptation and Environment (1st edition) Cambridge University Press, 1997. Stone, G.; Johnston, I. A.; Willmer, P. J. Environmental Physiology of Animals (2nd edition). Blackwell Science Inc, 2000. Strange, K. (Editor) Cellular and Molecular Physiology of Cell Volume Regulation (1st edition). CRC Press, 1994. Withers, P. C. Comparative Animal Physiology (1st edition). Harcourt Brace, 1992. 26 BALANÇO OSMÓTICO EM AMBIENTES MARINHO, DE ÁGUA DOCE E XÉRICO EXERCÍCIO TEÓRICO-PRÁTICO Elaborado por: Prof. Dr. Luiz Carlos Salomão Introdução Nos animais aquáticos, especialmente nos animais marinhos e estuarinos, as variações da salinidade do meio podem resultar em variações nas concentrações iônica e osmótica do sangue e fluídos extracelulares. Animais marinos hiposmóticos estão sujeitos ao efluxo de água e influxo de íons, contrariamente aos animais de água doce, que por serem hiperosmóticos, estão sujeitos ao influxo de água e efluxo de íons, alterando a Concentração Osmótica (CO) do sangue e líquidos tissulares. Há dois padrões básicos de resposta dos animais a tais variações na salinidade, isto é, osmoconformação e osmorregulação. No primeiro caso, a CO do sangue, hemolinfa ou líquidos extracelulares varia linearmente com a variação da CO do meio. No segundo caso, a CO se mantém constante apesar das variações na salinidade do meio. Entre estes dois casos extremos, osmorregulação e osmoconformação, ocorrem respostas intermediárias. Para se saber o padrão de resposta osmótica, em laboratório, geralmente submetem-se os animais a meios de diferentes salinidades, ou seja, de composições iônicas diferentes e determinam-se as concentrações iônicas e a CO do sangue destes animais nestas diferentes condições experimentais. Já no ambiente terrestre, em que a grande vantagem é a maior disponibilidade de oxigênio, o balanço hídrico é de outra natureza e, muitas vezes, é obtido tanto por ajustes fisiológicos como comportamentais. Tal é que se observa, por exemplo, no banco hidromineral do rato canguru Dipodomys merriami. Entre os mamíferos, 40% das espécies pertence à Ordem dos roedores, a mais numerosa. Distribue-se por todo planeta, mas principalmente na América do Sul. Adaptaram-se aos diferentes ambientes, das regiões polares ao equador, das montanhas as praias e do deserto aos pântanos. A maioria dos roedores é terrestre, mas alguns são arborícolas ou semi-aquáticos. A maior parte dos roedores é de pequeno porte, isto é, de 10 a 20 cm 27 de comprimento e de 50 a 500 g de massa corporal. Alguns, no entanto, como uma espécie de porco espinho (Hystrix cristata) do norte da África chega a atingir massas corpóreas de 20-50 kg. A presença dos roedores tem relevante papel ecológico por serem a principal fonte de alimento para aves e mamíferos carnívoros, havendo uma relação bem estabelecida entre o tamanho da população de roedores e suas presas. A relação com os homens não se limita à destruição da agricultura ou à transmissão de doenças. São úteis como animais de laboratório, por consumirem certos insetos e por propiciarem o arejamento do solo cavando galerias subterrâneas. Entre os mamíferos, são os roedores que ocuparam os mais diferentes ambientes com relação à disponibilidade à água. Estão presentes nos desertos mais áridos onde a água não está disponível, mas que também se tornou dispensável para eles. Nesse sentido, deve-se ressaltar as pesquisas de Schmidt-Nielsen (1964) sobre os hábitos e a fisiologia renal do rato canguru que vive numa região tão inóspita, quanto à disponibilidade de água, que poucas outras espécies lhe fazem companhia. Respostas osmóticas em Perna perna A Tab. 1 apresenta resultados em experimentos realizados com o molusco bivalve Perna perna. Os mexilhões Perna perna foram coletados em costões nas proximidades de São Sebastião e foram transferidos para tanques de cimento amianto e mantidos em água de mesma salinidade do local de coleta, isto é, 1000 mOsm/kg H2O por cerca de 24 h. A seguir foram distribuídos em tanques de cimento amianto contendo água do mar diluída com água destilada, obtendo-se, assim, as diferentes salinidades experimentais. Em cada salinidade experimental foram colocados mexilhões com cunha entre as valvas e sem cunha. A hemolinfa dos animais com cunha foi coletada após 6 h de exposição aos diferentes meios, tempo previamente determinado considerando ser este período o suficiente para as trocas osmo-iônicas. Nos animais sem cunha, as amostras foram obtidas após 24 h. O objetivo das cunhas era o de manter a livre exposição das partes moles do animal aos meios experimentais. Manteve-se arejamento contínuo durante todo o experimento. 28 Tabela 1. Concentração osmótica da hemolinfa de Perna perna, com cunha e sem cunha mantidos em diferentes salinidades. Valores em mOsm/kg H2O. As concentrações osmóticas foram determinadas pelo abaixamento do ponto de congelamento conforme descrito por Salomão (Bolm Fisiol. Animal, Univ. S. Paulo, 4: 143-152, 1980). Meio 250 410 560 700 850 1000 1150 1300 c/ cunha = 417 598 685 864 1016 1150 1320 s/ cunha 910 650 620 730 860 1020 1160 1315 Estes resultados podem ser visualizados na figura abaixo: 29 Respostas osmóticas em Macrobachium olfersii Exemplares de Macrobrachium olfersii foram coletados no Rio Guaecá, cuja salinidade é próxima de zero, transportados para o laboratório em condições que garantiam a sua higidez, onde foram mantidos em tanques de cimento amianto, com água do mesmo local de coleta, continuamente arejada. Após um período de permanência em meios iguais aos dos locais de coleta, os animais foram transferidos para tanques com água do mar diluída a fim de se obter as diferentes salinidades desejadas (concentrações osmóticas). A Tab. 2 indica os valores da concentração osmótica dos oito diferentes meios experimentais e da hemolinfa dos camarões Macrobrachium sp. E a figura 2 mostra estes dados plotados e ajustados por uma função polinomial de 3° grau. Tabela 2. Concentração osmótica (mOsm/kg H2O) da hemolinfa de M. olfersii e dos diferentes meios em que foram mantidos. As concentrações osmóticas foram determinadas pelo abaixamento do ponto de congelamento em um osmômetro Fiske. Meio 0 150 300 450 600 750 900 1000 Hemolinfa 430 480 500 510 550 580 650 800 30 Discussão 1. Como você definiria o comportamento osmótico de M. olfersii e de P. perna? 2. No caso de P. perna, em que sentido a introdução da cunha altera a resposta osmótica? Qual o significado fisiológico desta alteração? 3. Que tecidos ou órgãos seriam mais sensíveis ao estresse osmótico? Por que? 4. Em que níveis compartimentais estes fenômenos podem ser abordados? 5. O que se pode dizer acerca da eurialinidade destes dois animais, a partir dos resultados obtidos? 6. A resposta osmótica de P. perna à variação de salinidade pode ser expressa por uma função do tipo y = ax + b, enquanto que a do M. olfersii seria por uma função do tipo y = ax3 + bx2 + cx + d. Qual o significado fisiológico destas representações? 7. No caso de P. perna com cunha e sem cunha, o que seria uma abordagem reducionista e uma abordagem holística, sistêmica ou integrativa? Osmorregulação no rato canguru O balanço hidromineral no rato canguru se torna crítico em razão do ambienteinóspito em que vive fazendo-o depender apenas da pouca água contida nos alimentos e da água metabólica. A Tab. 3 resume o balanço hídrico do rato canguru. Ganho Perdas Água metabólica 90% Evaporação 16% Água livre nos alim. 10% Respiração 54% Bebida 0% Urina 25% fezes 5% A perda de água através da pele, por evaporação, é reduzida mas chega a 16% enquanto que mais da metade da perda total ocorre através do trato respiratório. As glândulas sudoríparas estão ausentes da superfície do corpo dos roedores, sendo encontradas apenas em determinadas áreas, como nas partes sem pêlo das patas. O 31 estudo da perda de água através da respiração levou Schimidt-Nielsen a descrever um fenômeno interessante que ocorre em outros animais. A Tab. 4 mostra as diferentes formas de indicar a quantidade de água, na forma de vapor, presente no ar em diferentes temperaturas. Vapor de água Temperatura (°C) mmHg kPa % de 1 atm mg H2O/L ar 0 4,6 0,61 0,6 4,8 10 9,2 1,23 1,2 9,4 20 17,5 2,34 2,3 17,3 30 31,7 4,24 4,2 30,3 40 55,1 7,38 7,3 51,1 50 92,3 12,33 12,2 83,2 100 760 101,33 100 598 37 46,9 6,28 6,2 43,9 Como se vê nesta Tabela o ar saturado na tempertura do corpo (37 °C) contém cerca de 2,5 vezes mais água na forma de vapor do que o ar saturado na tempertura ambiente (20 °C), isto é, 43,9 e 17,3 mg/L, respectivamente. Assim, se o ar exalado for resfriado a perda de água por esta via seria menor. De fato a temperatura do epitélio nasal é mais baixa do que de outras regiões do corpo e, portanto, há economia de água. Este mecanismo, encontrado em outros mamíferos e em aves, é denominado de mecanismo de contra-corrente nasal. No homem a temperatura do ar exalado está próxima daquela do corpo. Logo, não há economia de água. A Fig. 3 mostra a quantidade de água recuperada de água em duas condições: a 15 °C e 25 % de umidade relativa do ar (u.r.) e a 30 °C e 25 % 32 A perda de água pelas fezes é minimizada graças à reabsorção retal de água e a eliminação de fezes desidratadas. Desde que a regulação de água está intimamente associada à tempertura, certos hábitos encontrados em animais que vivem em regiões desérticas, como o rato canguru, estão associados a este fenômeno. Os seguintes hábitos são encontrados neste animal: hábitos noturnos – durante o dia permanecem em galerias onde a temperatura é relativamente mais baixa; redução das atividades – uma vez que a produção de calor é inevitável sempre que há contração muscular, o animal mantém- se em atividades reduzidas durante o dia. A Fig. 4 resume as estratégias utilizadas pelo rato canguru para sobreviver num ambiente de grande restrição hídrica. 33 Produção de urina concentrada Esta talvez seja a mais importante adaptação fisiológica do rato canguru. A concentração osmótica da urina deste animal é superior a 6000 mOsm/kg H2O. É um valor elevado, embora valores superiores a 9000 mOsm/kg H2O possam ser considerados em outros roedores de regiões desérticas. (Lembre-se que a concentração osmótica da urina humana varia de cerca de 60 a 1200 mOsm/kg H2O). Rim capaz de produzir urina mais concentrada que o plasma só é encontrada em mamíferos e aves. O “truque simples”, como diz Schimidt-Nielsen, para a produção de urina concentrada reside num fenômeno conhecido com “efeito multiplicador de contracorrente”. Esquemas deste fenômeno são encontrados em praticamente todos os livros de fisiologia. No entanto, valeria a pena ressaltar que os elementos essenciais deste mecanismos são: (1) alça de Henle longa; (2) fluxo em sentido contrário nos dois ramos da alça; (3) transporte ativo; (4) um ramo que reabsorve ativamente soluto deve ser impermeável à água. 34 Discussão 1. Que relação há entre umidade relativa do ar e o balanço hídrico do rato canguru? 2. Que relação há entre a temperatura ambiente, balanço hídrico e temperatura corporal? 3. Em que o mecanismo de contra-corrente nasal difere do mecanismo multiplicador de contra-corrente encontrado no rim? 4. Em que se assemelha a coriza observada no ser humano nos dias frios com aquele observado nos animais com focinho frio? 5. Aves e mamíferos são capazes de produzir urina concentrada. Por que? Referências Bibliográficas: Fyhn, H. J. Rodents. In: Maloiy, G. M. O. (Editor). Comparative Physiology of Osmorregulation in Animal. London, Academic Press, v. 2, 1979. Salomão, L.C.; Luneta, J.E. (1989) The effects of salinity changes on the osmotic and ionic concentrations in the hemolymph of Perna perna (Mollusca: Bivalvia). Bol. Fisiol. Anim., 13: 29-38. Schmidit-Nielsen, K. How animals work (1st edition). Cambridge University Press. 1988. Stucchi-Zucchi, A.; Salomão, L. C. (2000) Effect of osmo-ionic concentration on the compound action potential of the cerebro-visceral connective of Perna perna (Mollusca: Bivalvia). Comp. Biochem. Physiol., 101(A): 109-112. 35 PEIXES COMO MODELO BIOLÓGICO PARA PESQUISAS EM FISIOLOGIA COMPARATIVA Renato Massaaki Honji A Terra possui em torno de 510x106 Km2 de superfície terrestre, dos quais 310x106 Km2 são cobertos pelos oceanos, além disso, uma pequena fração dessa superfície (se comparado com os oceanos) é coberta por rios, lagos, calota e gelo polar. Com base nesses dados, aproximadamente 71% da superfície da Terra são cobertos por água e, neste sentido, o ambiente aquático oferece assim mais espaço habitável se comparado com o ambiente terrestre. Quando nos referimos aos habitantes encontrados no ambiente aquático, lembramos rapidamente dos teleósteos (peixes ósseos), que são o mais numeroso e diverso grupo de vertebrados, representando aproximadamente 50% do mesmo. Englobam cerca de 28.000 espécies viventes que ocupam ambientes aquáticos os mais diversos, ocorrendo desde as altas latitudes até as fossas submarinas dos oceanos. Essa diversidade de espécies viventes também apresenta uma grande variedade morfológica, fisiológica e adaptações comportamentais dentre outras características. Levando em consideração essas informações sobre o ambiente aquático e a diversidade de peixes, enfocamos o nosso estudo na fisiologia da respiração e reprodução dos peixes ao longo da evolução nesses animais; além de analisar as interações e adaptações fisiológicas apresentadas pelos teleósteos nos vários ambientes aquáticos. Em relação à fisiologia respiratória em peixes podemos encontrar os seguintes tipos de respiração: respiração branquial, respiração aérea (facultativa e obrigatória) e respiração pulmonar. A maioria das espécies de peixes apresenta respiração branquial. As brânquias são geralmente ventiladas com um fluxo unidirecional de água, no qual a simples abertura da boca e do opérculo, adicionado ao deslocamento do animal na água, faz com que haja um fluxo em uma única direção (peixes migradores como os atuns e albacora), a grande parte dos peixes apresenta musculatura esquelética na cavidade bucal e opercular, que mantém o bombeamento 36 ativo da água nas brânquias, mantendo assim um suplemento regular de O2. As brânquias dos peixes consistem geralmente de quatro arcos branquiais e desses arcos estendem-se duas fileiras de filamento branquiais, dos quais, cada filamento possui várias lamelas que são estruturas achatadas e densamente enfileiradas onde ocorrem as trocas gasosas. Conforme a água flui entre essas lamelas em uma direçãoo fluxo sanguíneo flui em direção oposta, esse tipo de fluxo é denominado contracorrente. Desta forma, quando o sangue está saindo das lamelas, o mesmo encontra a água cujo oxigênio ainda não foi removido e conforme a água passa entre as lamelas, ela encontra o sangue com uma pressão de oxigênio sempre abaixo e, portanto continua liberando mais oxigênio, desta maneira depois de passar pelas brânquias, a água pode ter perdido mais ou menos 80 a 90% de seu conteúdo de oxigênio. Além das brânquias, muitas espécies de peixes apresentam estruturas capazes de realizarem trocas gasosas como, por exemplo: vesícula gasosa, intestino, estômago, esôfago entre outras estruturas, esses animais são chamados de peixes com respiração aérea. A maioria das espécies de peixes com respiração aérea habitam ambientes aquáticos no qual em algum período do dia ou estação, a concentração de oxigênio é muito baixa ou em ambientes hipóxicos, ou seja, são locais no qual o nível de oxigênio é reduzido. Esses peixes responderão à diminuição da concentração de oxigênio na água, nadando até a superfície para sorver uma bolha de ar pela boca, o que resulta num melhoramento no suprimento de oxigênio. A respiração aérea pode ser facultativa ou obrigatória, ou seja, se o ambiente não estiver hipóxico, o animal consegue retirar da água toda quantidade de oxigênio necessária para a sua manutenção, apenas bombeando a água através das brânquias. Quando o ambiente estiver hipóxico, essas espécies retiram uma parte do oxigênio necessário para a sua manutenção da atmosfera (respiração aérea facultativa). Os rios da Amazônia são bons exemplos de ambiente aquático, no qual se observa uma variação de concentração de oxigênio durante a estação de seca. Muitos Siluriformes apresenta esse tipo de respiração aérea facultativa. Os peixes com respiração aérea obrigatória são aquelas espécies que necessitam subir até a superfície para respirar ar atmosférico, no qual sorvem uma bolha de ar e o oxigênio é 37 absorvido através daquelas estruturas relacionadas acima. Quem disse que peixe não morre afogado!!! Neste caso se o peixe com respiração aérea obrigatória for impedido de subir até a superfície, ele morre afogado sim. Existem apenas três espécies de peixes com respiração pulmonar, uma espécie australiana (Neoceratodus), outra espécie africana (Protopterus) e uma sul- americana (Lepidosiren). Protopterus e Lepidosiren vivem em águas paradas e em lagos, onde a falta de chuvas pode ocasionar o ressecamento total do seu habitat. Essas espécies estivam até a próxima estação chuvosa, onde elas saem dos seus casulos que estavam enterrados na lama. A espécie australiana habita rios e corpos de água lênticos, no qual, também estivam em períodos de seca. A reprodução em peixes, apesar de ser desencadeada por fatores ambientais (temperatura, fotofase entre outros), é controlada endogenamente por um sistema endócrino, principalmente pelo eixo hipotálamo-hipófise-gônadas, que sintetiza e secreta gonadotropinas, esteróides gonadais e hormônios moduladores do processo reprodutivo. De uma forma geral, o controle fisiológico da reprodução em peixes pode ser resumido da forma descrita a seguir. A partir do momento em que a idade e o peso mínimo são atingidos para o início da reprodução, alterações ambientais como o fotofase, temperatura e, possivelmente as chuvas, são captadas através dos olhos, pineal, narinas e receptores cutâneos, que as convertem em sinais eletroquímicos, que são transmitidos via neurônios sensoriais até o hipotálamo. Os fatores ambientais citados estimulam o hipotálamo a sintetizar e secretar o hormônio liberador de gonadotropinas (GnRH), que estimula as células gonadotrópicas na hipófise a sintetizar e secretar a gonadotropina I (GtH I), que via corrente sangüínea chega às camadas foliculares dos oócitos em desenvolvimento e, na camada teca, converte o colesterol em testosterona. Esta é transportada à camada granulosa, onde é aromatizada a 17α-estradiol pela enzima aromatase, também sob influência da GtH I. O 17α-estradiol age no fígado, estimulando a síntese da fosfolipoproteína (vitelogenina) que, também via corrente sangüínea, é “seqüestrada” pelo oócito por micropinocitose, promovendo o crescimento do oócito e incorporação de vitelo. Assim, na fase de vitelogênese, ocorre um aumento nos níveis plasmáticos de 17α-estradiol e testosterona e esse aumento inibe a síntese de GtH I (feed back negativo) e 38 juntamente com a ação do GnRH estimulam a secreção da gonadotropina II (GtH II) nas fases finais dessa vitelogênese. A GtH II estimula a camada teca do folículo a produzir 17α-hidroxiprogesterona, que é transportada à camada granulosa e convertida a 17,20β-dihidroxy-4-pregnen-3-one ou 17,20β-21-trihidroxy-4-pregnen-3- one pela enzima 20α-hidroxiesteróide-desidrogenase, dependendo da espécie considerada. O hormônio 17α-20β-dihidroxy-4-pregnen-3-one é conhecido como o hormônio indutor da maturação final e da ovulação (MIS) na maioria dos peixes. Os rios do Brasil atualmente sofrem com problemas de poluição e a construção de barragens (reservatórios) que afeta toda a comunidade íctica do local. Todo este controle endócrino da reprodução deve ser alterado de alguma forma, quando espécies migradoras (reofílicas) são impedidas de migrar, devido à presença de obstáculos artificiais, como as barragens que, diminui ou até mesmo impede a migração e conseqüentemente a reprodução. O mesmo bloqueio parece ocorrer quando essas espécies migradoras são transferidas para o cativeiro, em operações de cultivo comercial. Neste caso, intervenções hormonais exógenas em determinados níveis do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas são necessárias para dar continuidade ao processo de maturação gonadal. Variações nesse controle endócrino da reprodução são observadas nos teleósteos em várias situações diferentes que, será discutida durante a apresentação. Os ajustes fisiológicos apresentados por esses animais, evidenciando a integração dos sistemas reprodutivos e respiratórios com o ambiente aquático também serão discutidos. Desta maneira será demonstrada a importância de estudos fisiológicos utilizando modelos biológicos como os peixes, que são recursos alimentares de extrema importância para os seres humanos; além da importância ecológica para o ambiente aquático. Referências Bibliográficas: Blázquez, M.; Bosma, P. T.; Fraser, E. J.; Van Look, K. J. W.; Trudeau, V. L. (1998) Fish as models for the neuroendocrine regulation of reproduction and growth. Comp. Biochem. Physiol. C 119: 345 – 364. Moyle, P. B.; Cech, J. J. Fishes. An Introduction to Ichthyology. Prentice Hall, Upper Saddle River. New Jersey. 590p, 1996. 39 Prosser, C. L. Environmental and metabolic animal physiology. Copyright. Wiley-Liss, 1991. Vazzoler, A.E.A.M. Biologia da Reprodução de peixes teleósteos: teoria e prática. EDUEM, Maringá, 169 pp, 1996. Wallace, R.A.; Sellman, K. (1981) Cellular and dynamic aspects of oocyte growth in teleosts. Amer. Zool., 21, 325-343. Weltzeien, F. A.; Andersson, E.; Andersen, O.; Shalchian-Tabrizi, K.; Norberg. B. (2004) The brain-pituitary-gonad axis in male teleosts, with special emphasis on flatfish (Peuronectiformes). Comp. Biochem. Physiol. A 137: 447 – 477. Wootton, R. J. Ecology of teleost fishes. London – New York. Chapman and Hall. 404p, 1990. Zohar, Y.; Mylonas, C. C. (2001) Endocrine manipulations of spawning in cultured fish: from hormones to genes. Aquaculture. 197: 99 – 136. 40 HOMEOSTASE DO CÁLCIO DURANTE O CICLO DA MUDA EM CRUSTÁCEOS
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