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.'~~_'~-~'='-";."'''''''j;a;,;;''''~,ti~\» ."". '-.- '.' ,_--,,-,,',--,_"-'H~-~ '.-"--,,.-,'",~"--' ~, .... Verena Alberti Manualde História. "- r ~j 1 . c~~ I; ... y<",.~'. ... o PROfETO DE PESQUISA Fazerhistóriaoralnaoésimplesmentesaircomumgravadorempunho,algumas perguntasnacabe<¡:a,eentrevistaraquelesquecruzamnossocaminhodispostosa falarum poucosobresuasvidas.Essano<¡:aosimplificadapoderesultaremum punhadodefitasgravadas,depoucaounenhumautilidade,quepermanecemguar- dadassemquesesaibamuitobemo quefazercomelas.Muitasvezestalsitua<¡:aoé criadapor urnaconcep<¡:aotalvezingenuaecertamenteequivocadadequeahistÓ- ria oral,emvezdemeiodeamplia<¡:aodeconhecimentosobreo passado,é,diga- mos, o próprio passadoreencarnadoem fitasgravadas- como seo simples fato dedeixarregistradosdepoimentosdeatorese/outestemunhasdopassadoeximisse o pesquisadordaatividadedepesquisa. Sendoum métododepesquisa,ahistóriaoralnaoéum fim emsi mesma,e simum meiodeconhecimento.Seuempregosó sejustificano contextodeuma investiga<¡:aocientífica,oquepressup6esuaarticula<¡:aocomumprojetodepesquisa previamentedefinido.Assim,antesmesmodesepensaremhistóriaoral,épreciso haverquest6es,perguntas,quejustifiquemo desenvolvimentodeumainvestiga- <¡:ao.A históriaoralsócome<¡:aaparticipardessaformula<¡:aono momentoemque éprecisodeterminaraabordagemdo objetoemquestao:comoserátrabalhado. Nao é nossainten<¡:aodissertarsobrea elabora<¡:aode projetos de pesquisa- issoématériaqueultrapassaosobjetivosdesteManual.Entretanto,comoameto- dologiaadotadaemurnapesquisainfluidiretamentesobreseuandamento,consi- deramosrelevantechamaraaten<¡:aoparaalgunsaspectosascremobservadosquan- do daelabora<¡:aodeprojetosdepesquisaquetomamahistóriaoralcomométodo privilegiadodeinvestiga<¡:ao. 1.1 A escolhadométodo Demodogeral,qualquertema,desdequesejacontemporaneo- istoé,desdeque aindavivamaquelesquetemalgoadizersobreele-, épassíveldeserinvestigado atravésdahistóriaoral.Contudo,comoqualquermétodo,ahistÓriaoraltemuma 30 VERENA ALBERTI MANUAL DE IHSTÓRIA ORAL 31 naturezaespecíficaquecondicionaasperguntasqueopesquisadorpodefazer.Em setratandodeurnaformaderecupera!j:aodopassadoconformeconcebidopelos queo viveram,éfundamentalquetalabordagemsejaefetivamenterelevantepara ainvestiga!j:aoquesepretenderealizar. Deveserimportante,diantedotemaedasquestoesqueopesquisadorsecolo- ca,estudarasversoesqueosentrevistadosfornecemacercadoobjetodeanálise. Ou maisprecisamente:taisversoesdevemser,elasmesmas,objetodeanálise.As- sim,urnapesquisadehistóriaoralpressupoesemprea pertinenciadapergunta "comoosentrevistadosviameveemotemaemquestao?':Ou:"O queanarrativa dosqueviveramoupresenciaramo temapodeinformarsobreo lugarqueaquele temaocupava(eocupa)nocontextohistóricoeculturaldado?" Sejamosmaisclaros.Suponhamosquesepretendaestudarahistóriadedeter- minadaempresa.Haveriadiversasmaneirasdeabordarotema.Urnadelasconsiste empesquisarosdocumentosescritosqueaempresaproduziudesdesuacria!j:ao: seusestatutos,asatasdereunioes,asfaturas,correspondenciaetc.Urnapesquisa sistemáticanessasfontespoderesultarnaprodu!j:aodeumdocumentodetrabalho quedecontadatrajetóriadaempresa,seuspercal<;:os,otipoeonúmerodefuncio- náriosempregadosaolongodosanos,asmudan<;:asderumo,suarela!j:aocomo mercado,aestruturadeprodu!j:aoetc.Urnaoutrapossibilidadeconsisteemem- pregarametodologiadehistóriaoral:dirigiro focodeinteressenaoparaaquilo queosdocumentosescritospodemdizersobreatrajetóriadaempresa,esimpara asversoesqueaquelesqueparticiparamde,outestemunharam,taltrajetóriapo- demfornecersobreo assunto.Issopressup6equeo estudodetaisversoesseja relevanteparaoobjetivodapesquisa. Seo empregodahistóriaoralsignificavoltaraaten<;:aoparaasvers6esdos entrevistados,issonaoquerdizerquesepossaprescindirdeconsultarasfontesjá existentessobreo temaescolhido.Ou seja:voltandoaoexemploacima,casoseja pertinenteestudarahistóriadaempresatomandocomofocoopontodevistados quedelaparticiparam,oconjuntodedocumentosescritosqueelaproduziuserve deapoioparaainvestiga!j:aoedeinstrumentodeanálisedasentrevistas.Umrela- tórioassinadoporumdosdiretoresdaempresa,porexemplo,podeservirdecon- trapontoaversaoqueessemesmodiretorfornece30anosdepoissobreo mesmo assunto. Quantoaescolhadométodo,entao,éprecisocompreenderquea°p!j:aopela históriaoraldependeintrinsecamentedotipodequestaocolocadaaoobjetode estudo.Poroutrolado,elatambémdependedehavercondi<;:6esdesedesenvolver a pesquisa:naoé apenasnecessárioqueestejamvivosaquelesquepodemfalar sobreo tema,masqueestejamdisponíveiseemcondi!j:oes(físicasementais)de empreendera tarefaquelhesserásolicitada. 1.2 A escolhadosentrevistados Comecemosnovamenteporumexercíciodenega!j:ao.Assimcomodizíamosquea históriaoralnaoconstituiumfimemsimesma,independentedeurnapesquisa,a simplesexistenciadeentrevistadosempotencialtambémnaojustificaseuemprego. Ouseja:naoéporqueemdeterminadomomentosedisponhade"pessoas"interes- sadasemfalarsobreo passadoqueiremosiniciarurnapesquisadehistóriaoral. A escolhadosentrevistadosé,emprimeirolugar,guiadapelosobjetivosda pesquisa.Assim,retornandooexemplodapesquisasobreahistÓriadeurnaempre- sa,seseuobjetivoprincipalforoestudodasrela!j:oestrabalhistasestabelecidasem determinadoperíodo,seránecessárioescolherospossíveisentrevistadosentreas pessoasqueefetivamentepodemcontribuirnessesentido,comotrabalhadorcs, diretoresdaempresa,representantessindicaisete.Se,poroutrolado,o interesse específicorepousarsobreasrela<;:6esentrea empresaeo Estado,a cscolhados entrevistadospoderárecairsobreosdirigentesdaempresaealtosfuncion<Íriosdo governo,porexemplo.Porfim,seosobjetivosdapesquisaforemdeámbitomais abrangente,envolvendotodososaspectosvinculadosahistóriadaempresa,ouni- versodeentrevistadosempotencialsealargaráconsiderave]mente,desdeemprcga- dosediretores,passandoporfuncionáriosdogovernoe representantessindicais, eventualmentepor membrosdeoutrasempresas,atéusuáriosdeseusservi<;:ose consumidoresdeseusprodutos,porexemplo. É nocontextodeformula<;:aodapesquisa,duranteaelabora<;:aodeseuprojeto, portanto,queapareceapergunta"quementrevistar?':SUaocorrcnciaésimultánea aop<;:aopelométododahistóriaora],umavezquetal°p!j:aosÓéviávelsehouver pessoasaentrevistar.Seosobjetivosdapesquisaforemclaros,serápossíveldarum primeiropassoemdire<;:aoaresposta,determinandoquetipodepessoaentrevistar (osdiretoresdaempresa,osempregados,osrepresentantessindicais...?),paraen- taoprocederaumasele!j:ao(quaisdiretores,quaisempregados...?). A escolhadosentrevistadosnaodeveserpredominantementeorientadapor critériosquantitativos,porumapreocupa<;:aocomamostragens,esimapartirda p~i<;:aodo entrevistadono grupo,dosignificadodesuaexperiencia.Assim,em primeirolugar,convémselecionarosentrevistadosentreaquelesqueparticipa- ram,viveram,presenciaramouseinteiraramdeocorrenciasousitua<;:6esligadas 32 VERENA AlBERTI MANUAL DE HISTÓRIA ORAL 33 ao temaequepossamfornecerdepoimentossignificativos.O processodeseleyao deentrevistadosem urnapesquisadehistóriaoral seaproxima,assim,da escolha de"informantes"emantropologia,tomadosnaocomounidadesestatísticas,esim comounidadesqualitativas- emfunyaodesuarelayaocomotemaestudado-, seupapelestratégico,suaposiyaonogrupoetc. Escolheressas"unidadesqualitativas"entreosintegrantesdeurnadetermina- dacategoriadepessoasrequerum conhecimentopréviodo objetodeestudo.É precisoconhecero tema,opapeldosgruposquedeleparticiparamouqueo teste- munharameaspessoasque,nessesgrupos,sedestacaram,paraidentificaraqueles que,emprincípio,seriammaisrepresentativosemfunyaodaquestaoquesepre- tendeinvestigar- osatorese/outestemunhasque,por suabiografiae por sua participayaono temaestudado,justifiquemo investimentoqueostransformará ementrevistadosnodecorrerdapesquisa. O conhecimentopréviodoobjetodeestudoérequisitoparaaformulayaode qualquerprojetodepesquisa.Nocasodahistóriaoral,deledependemasprimeiras escolhasquedevemserfeitasnoencaminhamentodapesquisa:quepessoasentre-vistar,quetipodeentrevistaadotarequantaspessoasouvir(sobreosdoisúltimos aspectos,veradiante).Taisescolhasfazempartedapráticadahistóriaoraledevem serobjetodereflexaonomomentodeelaborayaodoprojetodepesquisa.Convém entaorecorrera fontessecundáriaseadocumentayaoprimária,sepossível,para, conhecendomelhorotema,imprimirumabaseconsistenteaorecorte.Casonaose disponhadefontessuficientesparaesseconhecimentoprévio,podeseradequado realizaralgumasentrevistascurtas,decunhoexploratório,queforneyaminforma- yoesúteisparao processodeescolha. No projetodepesquisaconvémlistarosprováveisentrevistadossobreosquais sepretendeinvestiraolongodotrabalho,justificando,emcadacaso,aescolha.Isso podeserfeitoacrescentando-seaonomedopossívelentrevistadoumresumode suaparticipa<¡:aono tema.Tallistagemdevesertomadacomournarelayaodos entrevistadosempotencialdaquelapesquisa,já queestásujeitaa circunstancias quepodemmodificarosrumosdotrabalho. Urnaprimeiracircunstanciadiz respeitoadisponibilidaderealdoatorsele- cionado:éprecisoconsiderarapossibilidadededeterminadaspessoassenegarem a prestardepoimentossobreo assunto,bemcomoqueestejamexcessivamente ocupadasparacederempartedeseutempoarealizayao deentrevistas.Essascir- cunstanciasforyosamentealteram a listageminicialmenteelaboradaepodemre- sultarnasubstitui<¡:aodosnomesantesconsideradosporoutros.Sedeterminado representantesindical,porexemplo,naosedispuser,demodoalgum,a concedera entrevista,éprecisopensarnaconvenienciadesubstituí-loporoutroque,porsua trajetóriaeatuayao,possaocuparespayosemelhantenainvestigayaodoobjetode estudo.Outracircunstanciaquepodealteraralistageminicialdizrespeitoaosur- gimento,no decorrerdapesquisa,denomesantesnaoconsiderados.Durantea realizayaodeurnaentrevista,porexemplo,podeacontecerdedeterminadoentre- vistadochamaraatenyaoparaaatua<¡:aodeumterceiro,antesdesconhecido,cujo depoimentopasseaserfundamentalparaapesquisa.Novosatorese/outestemu- nhaspodemtambémsurgirapartirdoestudomaisdetalhadodadocumentayao sobreoassunto,quepodetrazerinformayoessobreoenvolvimentodeoutraspes- soasnotema. Porfim,épossívelquealistagemsejaaindaalteradaemvirtudedeodesempe- nhodecertosentrevistadosnaocorresponderasexpectativasiniciais.Suapartici- payaonotemapodenaotersidotaoprofundaquantoparecia- oque,dependen- dodapesquisa,podesetransformaremdadosignificativoporquesuscitaareflexao arespeitodasrazoesquelevaramospesquisadoresaimageminicialdoentrevista- do;suadisposiyaoparanarrarerefletirsobreexperienciasvividaspodeserreduzi- da;suamemória,assimcomoacapacidadedearticula<¡:aodopensamentopodem serinsuficientesparaospropósitosdaentrevistaeassimpordiante.Nessescasos, háquedecidir,nodecorrerdapesquisa,secabeacrescentarnovosdepoimentosao conjunto,paracompletaraslacunasabertasporessetipodeinsuficiencia. Podemosconcluirentiíoqueaescolhadosentrevistados,pormaiscriteriosae justificadaquesejaduranteaformulayaodoprojetodepesquisa,sóéplenamente fundamentadanomomentoderealiza<¡:aodasentrevistas,quandoseverifica,cm últimainstancia,apropriedadeounaodaseleyaofeita.É nessemomentoquese podeavaliaraoutrafacedaescolha,aquelaqueatéentaopermanecíadesconheci- dapordizerrespeitoapenasaoentrevistado,naosedeixandoapreenderpeloscri- tériosdopesquisadorantesdeiniciadaaentrevista.Trata-sedoestilodoentrevis- tado,desuapredisposiyaoparafalarsobre<>passado,do graudecontribuiyao daqueledepoimentoparao conjuntodapesquisa. Há,portanto,umúltimofatarqueincidesobreapropriedadedaescolhados entrevistadosdeumapesquisadehistóriaoral,o qual,entretanto,dificilmente podeserincorporadoaoscritériosdesele<¡:aonomomentodeeIabora<¡:aodopro- jetodepesquisa,poisindependedospesquisadoresedaformulayaodoobjetode estudo.Estamosfalandodaquiloquepoderíamoschamarde"bomentrevistado". Hápessoasque,por maisrepresentativasquesejamparafalarsobredeterminado assunto,simplesmentenaoseinteressampor,ou naopodem,explorarextensiva- mentesuaexperienciadevidaediscorrersobreopassado,comotalvezsuaposi<¡:ao ~~ ~~~ 34 VERENA ALBERTI MANUAL DE HISTÓRIA ORAL 35 estratégicano temao fizessecrer.Issonaoquerdizerquea escolhatenhasido equivocada.Ao contrário:elacontinuaplenamentejustificadapelosobjetivosdo estudoepodesetornarparticularmenterelevantequandotomamosaprópriapar- cimóniadodiscursocomoobjetodereflexao,quandonosperguntamosporqueo entrevistado,quetemtodasasrazoesparaprestarumdepoimentoaprofundado sobreoassunto,naosedispoea(naosabe,naoquer,naopode)falarsobreelecom igualintensidade.O idealseriapoderescolherentrevistadosdispostosarevelarsua experienciaemdiálogofrancoeabertoe que,desuaposic¡:aono grupoou em relac¡:aoaotemapesquisado,fossemcapazesdefornecer,alémdeinformac¡:oessubs- tantivaseversoesparticularizadas,urnavisaodeconjuntoarespeitodouniverso estudado.Comon{definicyaodo"bomentrevistado"deAspásiaCamargo: Aqueleque,porsuapercep~aoagudadesuaprópriaexperiencia,oupelaimportanciadas func;:oesqueexerceu,podeoferecermaisdo queo simplesrelatodeacontecimentos, estendendo-sesobreimpressoesdeépoca,comportamentodepessoasougrupos,funcio- namentodeinstituic;:oese,numsentidomaisabstrato,sobredogmas,conflitos,formasde cooperac;:aoe solidariedadegrupal,detransac;:ao,situac;:oesdeimpactoetc.Taisrelatos transcendemo ambitodaexperienciaindividual,eexpressamaculturadeumpovo,país ouNac;:ao,chegando,apartirdecategoriascadavezmaisabrangentes- porquenao?- aodenominadorcomumaespéciehumana" atuac¡:ao,principalmentesesuaexperienciapuderseperpetuar,naformadegrava- c¡:ao,paraalémdomomentodaentrevista. Volternosalistagemdosentrevistadosempotencial,elaboradaduranteafor- mulac¡:aodoprojetodepesquisa.Já prevendoasalterac¡:oesquetallistagempode sofrernodecorrerdapesquisa,podeserútilampliá-lapropositadamente,incluin- do todasaspossibilidadesdeinvestimentopermitidaspelorecortedeanálise,ou seja,ummaiornúmerodepessoaspossível,independentementedeserementrevis- tadasemsuatotalidade.Aoladodesseuniversoextenso,devem-sedestacarasprio- ridades:aquelesatorese/outestemunhassobreosquaisseprocuraráinvestirantes derecorreraalternativas. Como,entretanto,a realizac¡:aodeentrevistasconstituio centrodeumtraba- lhodehistóriaoral,todoplanejamentodeum programadependedeum certo graudedefinic¡:aodaquantidadedeentrevistasquesepretenderealizar.Dependem dessefatoro on¡:amento,o material,o pessoalenvolvido,o cronogramadetraba- lho,entreoutros.Assim,paranaoprejudicaro planejamentodapesquisacoma adoc¡:aodeurnalistagempordemaisextensaeflexível,jáqueéimpossívelprecisar comrigorquantasequaispessoasseraoentrevistadas,convémdeslocaraprevisao paraa quantidadedehorasdeentrevistasgravadasquesepretendealcanc¡:arao finaldo projeto.O númeroestimadodehorasgravadaséumaboabaseparao cálculodecustosdeumprojetodehistóriaoral. No Cpdoc,oobjetivoinicialdeestudaratrajetóriaeodesempenhodaselites políticasbrasileirasfezcomqueo acervoconstituídoatéo iniciodosanos1990 fossecompostopredominantementedeentrevistasdepessoasidosas,quedesem- penharamfunc¡:oesrelevantesemacontecimentoseconjunturashistóricasdesdea décadade1920.A escolhadosentrevistadosmuitasvezescoincidiaentaocomsua predisposic¡:aoevontadedefalarsobreo passado.Geralmenteaspessoasmaisve- lhas,quandoestaoaposentadasou seafastaramdo centrodaatividadepolítica, voltamsuasatenc¡:oesparaaquiloqueforamou fizeram.Comoconseqüencia,se sentemmaisavontadeparafalarsobresuaexperienciaeinterpretaro passado, reavaliandoinclusivesuasposic¡:oeseatitudes,comournaespéciede"balanc¡:o"da própriavida.Alémdenaocorreremmaismuitosriscosaorevelaracontecimentos ouopinioesque,aépocaemqueocorreram,poderiamcomprometerosenvolvi- dos,osentrevistadosidososemgeralgostamdefalarsobreo passadoesobresua 1.3 o númerodeentrevistados I Camargo,Aspásia.Históriaorale história.Rio deJaneiro:Cpdoc,1977,17f.,p. 4-5. (Trabalho apresentadono 1SeminárioBrasileirodeArquivosMunicipais.Niter6i,UniversidadeFederalFlu- minense,2-6ago.1976.) As considerac¡:oessobreaescolhadosentrevistadosemurnapesquisadehistória orallevamnaturalmenteaquestaodequantaspessoasentrevistarao longodo trabalho.Novamentetaldecisaodependediretamentedosobjetivosdapesquisa.Seelaestiversendodesenvolvidaforadoambitodeumprogramadehistóriaoral, onúmerodeentrevistadospodeatéserestringiraumaúnicapessoa,seseudepoi- mentoestiversendotomadocomocontrapontoecomplementodeoutrasfontese forsuficientementesignificativoparafigurarcomoinvestimentodehistóriaoral isoladonoconjuntodapesquisa. Essacircunstancianaoseaplica,entretanto,aquelaspesquisas,institucionais ou nao,queadotama históriaoralcomometodologiadetrabalho,tomandoa prodw;:aodeentrevistasesuaanálisecomoinvestimentoprivilegiado.Nessesca- sos, oqueinteressaéjustamenteapossibilidadedecompararasdiferentesvers6es dosentrevistadossobreo passado,tendo comopontodepartidaecontraponto 36 /' VERENAAlBERTI MANUAL DE HISTÓRIA ORAL 37 permanenteaquiloqueasfontesjá existentesdizemsobreo assunto.Assim,éna- turalque,quantomaisentrevistaspuderemserrealizadas,maisconsistenteseráo materialsobreoqualsedebru~aráaanálise. lssonaoquerdizerquesedevapassararealizarindiscriminadamenteomaior númeropossíveldeentrevistas,comoseasimplesquantidadepudesse,porsisó, garantiraqualidadedoacervoproduzido.Aocontrário:jádissemosqueaescolha dosentrevistadosdeurnapesquisadehistóriaoralseguecritériosqualitativos,e naoquantitativos.Ocorrequetaiscritériosdevemlevaremcontatambémquantos entrevistadossaonecessáriosparaquesepossacome~raarticularosdepoimen- tosentresie,dessaarticula~ao,chegarainferenciassignificativasparaospropósi- tosdapesquisa.Ou seja:urnaúnicaentrevistapodeserextremamenterelevante, maselasóadquiresignificadocompletonomomentoemquesuaanálisepuderser articuladacomoutrasfontesigualmenterelevantes.No casodametodologiade históriaoral,essasoutrasfontessaotambémeprioritariamenteoutrasentrevistas. O númerodeentrevistadosdeurnapesquisadehistóriaoraldevesersuficiente- mentesignificativoparaviabilizarcertograudegeneraliza~aodos.resultadosdo trabalho. Ora,assimcomonaosepodeestabelecercomprecisaoquaisseraoosdepoen- tesdeurnapesquisadehistóriaoralnomomentodeelabora~aodoseuprojeto,é tambémmuitodifícildefinir,deantemao,quantosentrevistadosseraonecessários paragarantirovalordosresultadosdapesquisa.É somenteduranteo trabalhode produ~aodasentrevistasqueo númerodeentrevistadosnecessárioscome~aase descortinarcommaiorc1areza,poiséconhecendoeproduzindoasfontesdesua investiga~aoqueospesquisadoresadquiremexperienciaecapacidadeparaavaliar o graudeadequa~aodomaterialjáobtidoaosobjetivosdoestudo.Esseprocesso ocorreemqualquerpesquisa:éopesquisador,conhecendoprogressivamenteseu objetodeestudo,quepodeavaliarquandoo resultadodeseutrabalhojuntoas fontesjá forneceinstrumentalsuficienteparaquepossaconstruirurnainterpreta- ~aobemfundamentada.Assim,adecisaosobrequandoencerrara realiza~aode entrevistassóseconfiguraamedidaqueainvestiga~aoavan~a. Comoformadeoperacionalizá-la,podeserútilrecorreraoconceitode"satu- ra~ao",formuladoporDanielBertaux.2Deacordocomesseautor,háummomen- toemqueasentrevistasacabamporserepetir,sejaemseuconteúdo,sejanaforma pelaqualseconstróianarrativa.Quandoasentrevistasrealizadasemurnapesqui- sadehistóriaoralcome~amasetornarrepetitivas,continuaro trabalhosignifica aumentaro investimentoenquantoo retornoéreduzido,jáqueseproduzcadavez menosinforma~ao.Esseéomomentoqueoautorchamadepontodesatura~ao,a queopesquisadorchegaquandotemaimpressaodequenaohaveránadadenovo a apreendersobreo objetodeestudo,seprosseguirasentrevistas.Chegando-se nesseponto,é necessáriomesmoassimultrapassá-lo,realizandoaindaalgumas entrevistas,paracertificar-sedavalidadedaquelaimpressao.O conceitodesatura- ~ao,entretanto,sópodeseraplicado,segundoBertaux,casoopesquisadortenha procuradoefetivamentediversificaraomáximoseusinformantesnoquedizres- peitoaotemaestudado,evitandoqueseesboceurnaespéciedesatura~aoapenas emfun.¡:aodeo conjuntodeentrevistadosserdeantemaonmitohomogeneo. Apesardeserimpossívelestabelecercomantecedenciaonúmeroexatodepes- soasaentrevistarnodecorrerdapesquisa,alistagemextensaeftexíveldosentre- vistadosempotencial,acompanhadadoregistrodosquenelasaoprioritários,já forneceurnaidéiado númerodeentrevistasquepodemserrealizadas.Assim,se dissemosserimpossívelfixarpreviamentequantaspessoasseraoentrevistadas,isso naoquerdizerqueaquestaoescapeaqualquertipodeestimativa.Éo recortedo objetodeestudoquevaiinformar,inicialmente,onúmerodepessoasdisponíveise emprincípiocapazesdefornecerdepoimentossignificativossobreoassunto.Setal recorte,por exemplo,recairsobreos dirigentesdeurnaempresa,o númerode entrevistadosempotencialnesseuniversoserádeantemaodelimitadopelonúme- rodediretorese~condi~oesdecederentrevistas.O quesedeveobservaréqueesse númerosejasuficientementerepresentativoparaengendrarumaanálisecompara- tivaconsistente.Seapenasumdiretorestiverdisponívelparaprestarodepoimen- to,éo casodesepensaremampliaro recorte,incorporandooutrascategoriasde atorese/ou testemunhasainvestiga~ao. lA A escolhadotipodeentrevista Sempredeacordocomospropósitosdapesquisa,definidoscomrela.¡:aoaotemae aquestaoquesepretendeinvestigar,épossívelescolhero tipodeentrevistaaser realizado:entrevistastemáticasouentrevistasdehistóriadevida. Asentrevistastemáticassaoaquelasqueversamprioritariamentesobreapar- ticipa~aodoentrevistadonotemaescolhido,enquantoasdehistóriadevidatem comocentrodeinteresseopróprioindivíduonahistória,incluindosuatrajetória desdeainfanciaatéomomentoemquefala,passandopelosdiversosacontecimen- 2Bertaux, Daniel. "L'approche biographique': CahierslnternatianauxdeSacialogie.Paris, PUF, v. 69, juil. 1dec. 1980,p. 197-225. 38 /' VERENA ALBERTI MANUAL DE HISTÓRIA ORAL 39 tos econjunturasquepresenciou,vivenciououdequeseinteirou.Pode-sedizer queaentrevistadehistóriadevidacontém,emseuinterior,diversasentrevistas temáticas,já que,aolongodanarrativadatrajetóriadevida,ostemasrelevantes paraapesquisasaoaprofundados.Podemosconcluirdesdejáqueurnaentrevista dehistóriadevidaégeralmentemaisextensadoqueurnaentrevistatemática:falar sobreurnavida,realizandocortesdeprofundidadeemdeterminadosmomentos, exigequeentrevistadoeentrevistadordisponhamdetempobemmaiordoquese elegessemapenasumdessescortescomoobjetodaentrevista. Apesardessasdiferen~as,ambosostiposdeentrevistadehistóriaoralpressu- p6emarela~ocomo métodobiográfico:sejaconcentrando-sesobreumtema, sejadebru~ndo-sesobreumindivíduoeoscortestemáticosefetuadosemsua trajetória,a entrevistaterácomoeixoabiografiadoentrevistado,suavivenciae suaexperiencia. Decidirentreumououtrotipodeentrevistaaseradotadoaolongodapes- quisadependedosobjetivosdotrabalho.Emgeral,aescolhadeentrevistastemáticas éadequadaparaocasodetemasquetemestatutorelativamentedefinidonatraje- tóriadevidadosdepoentes,como,porexemplo,umperíododeterminadocrono- logicamente,urnafun.¡:aodesempenhadaouo envolvimentoe aexperienciaem acontecimentosouconjunturasespecíficos.Nessescasos,o temapodeserdealgu- maforma"extraído"datrajetóriadevidamaisamplaetornar-secentroeobjeto dasentrevistas.Escolhem-sepessoasquedeleparticiparamou quedeletiveram conhecimentoparaentrevistá-Iasa respeito.Numaentrevistadehistóriadevida, diversamente,apreocupa.¡:aomaiornaoéotemaesimatrajetóriadoentrevistado. Escolheressetipodeentrevistapressup6equeanarra.¡:aodavidadodepoenteao longodahistóriatenharelevanciaparaosobjetivosdotrabalho.Assim,porexem- plo,seno estudodedeterminadotemafor consideradoimportanteconhecere compararastrajetóriasdevidadosqueneleseenvolveram,seráaconselhado realizarem-seentrevistasdehistóriadevida.Ou,poroutra,seapesquisaversar sobredeterminadacategoriaprofissionalousocial,seudesempenho,suaestrutura ousuastransforma~6esnahistória,torna-seigualmenteaconselhadaaop.¡:aopor entrevistasdehistóriadevida. Épossívelqueemdeterminadoprojetodepesquisasejamescolhidosambosos tiposdeentrevistacomoformadetrabalho.Nadaimpedequesefa.¡:amalgumas entrevistasmaislongas,dehistóriadevida,compessoasconsideradasespecialmen- terepresentativasoucujoenvolvimentocomotemasejaavaliadocomomaisestra- tégico,aoladodeentrevistastemáticascomoutrosatorese/outestemunhas.Isso depende,novamente,daadequa.¡:aodesseprocedimentoaospropósitosdoprojeto.Nosprimeiros20anosdeexistenciadoProgramadeHistóriaOraldoCpdoc adotou-sepreferencialmenteaentrevistadehistóriadevidacomométododetra- balho,porqueoprojetoqueorientavaasatividadesvisavaaoestudodatrajetóriae dodesempenhodaselitespolíticasnahistóriacontemporaneadoBrasil.Mesmo nessecontexto,houvecasosemqueaop.¡:aopelaentrevistatemáticasefeznecessá- ria.Muitasvezeso entrevistadonaodispunhadetemposuficienteparaconceder um depoimentodehistóriadevida,geralmentemaislongodo queaentrevista temática.Nessescasos,apesardointeresseemabarcartodasuatrajetóriadevidae detomá-Iocomocentrodaentrevista,éramosobrigadosa elegerdeterminado temanoqualtivessetidournaatua.¡:aodestacada- umperíodo,urnafun.¡:aoque exerceu,aparticipa~oemcertoepisódio,porexemplo-, afimdeevitaraperda deumregistroconsideradorelevanteparao projeto.Emalgunsdessescasosfoi possívelvoharaoentrevistadoanosmaistarde,emcircunstfmciasfavoráveisparaa realiza.¡:aodeurnaentrevistadehi~tóriadevida,o queexplicaemgrandepartea existencia,noProgramadeHistóriaOraldoCpdoc,deduasentrevistasrealizadas como mesmadepoenteemperíodosdistintos. A medidaqueo programafoidiversificandoseusprojetos,muitosdosquais vinculadosapesquisaoriginal,arealiza.¡:aodeentrevistastemáticastornou-semais freqüente.Nessasentrevistas,queseestendemporumaoumaissessocsc podcm terdeduasaseishorasdedura.¡:ao,porexemplo,procuramosdarcontadaparte inicialdavidadoentrevistado(origensfamiliares,socializa.¡:ao,forma.¡:aocte.),a fimdesituarmosmelhorquemfalaeporqueoptou(ounao)pelatrajetóriaqueo levouaparticipardotemaemquestao. 1.5 o papeldoprojetodepesQuisaemprogramasdehistóriaoral Tudooquedissemosatéaquisobreosfatoresquedevemserconsideradosdurante aelabora~aodeumprojetodepesquisadehistóriaoraldizrespeitoainvestiga.¡:ao científicapropriamentedita,ouseja:asquest6esquesecolocamospesquisadorcs, aabordagemdoobjetodeestudoeasdecisoesquedevemsertomadasemfun.¡:ao daop~aopelahistóriaoral.Nessesentido,taisprocedimentosseaplicamaqual- querprojetodepesquisadehistóriaoral,institucionalounao. No presenteitemprocuraremosacrescentarasconsidera.¡:oesjáfeitasasespe- .sjficidadesdeum projetodepesquisaelaboradono ambitodeum programade históriaoral.E aprimeiradelasdiz respeitoaocaráteremprincípiopermanente dasatividadesdepesquisa.Ouseja,aimplanta.¡:aodeumprogramadehistóriaoral ./ 40 VERENA AlBERTI MANUAL DE BISTÓRIA DRAl 41 vemacompanhadadeprojeyoesdelongoprazo;aintenyaodeconstituí-loéatam- bémintenyaodeinaugurarumtipodetrabalhoqueseestenderápormuitosanos, semprevisaodetérmino.Nessesentido,convémemprimeirolugarqueo recorte inicialdoobjetodeestudosejasuficientementeabrangenteparaviabilizaro inves- timentocontínuoderealizacraodeentrevistas.Poder-se-iadenominaresserecorte inicialtemacontinente,passíveldeserdesdobradoemtemasparalelos,objetosde investigayaoespecífica. No Cpdoc,porexemplo,oProgramadeHistóriaOralfoi instituídoem1975 como temacontinente"Trajetóriaedesempenhodaselitespolíticasbrasileiras': Essaescolhaorientou-sepelopróprioperfildainstituiyao,querecolhearquivos privadosdehomenspúblicosequepriorizacomoáreadepesquisaahistóriapolí- ticadoBrasil.Assim,adefinicraodotemacontinentedeumprogramadehistória oraléurnadecisaoeminentementeinstitucional,quetranscendeinteressescon- junturaisepessoais.No interiordoprojetoinicialarrolaram-sesegmentoscomo políticospropriamenteditos,militares,eliteburocrática;temascomotenentismo, Revoluyaode1930,regimemilitar,alémdedivisoesregionaisegeracionais.Coma ampliayaodasáreasdeatuacraodoCentro,osprojetosdehistóriaoralpassarama sevoltartambémparaoutrasdireyoesdeinteressepolítico,económico,sociale cultural,demodoqueatualmentepodemosdefinirnossoacervodeentrevistas comodizendorespeitoaacontecimentoseconjunturasdahistóriacontemponlnea doBrasil,especialmenteapartirdosanos1930. É importantequeumprograma,no momentoemqueé implantado,defina sualinhadeacervo,dadapelo"temacontinente",dentrodoqualdesenvolverásuas atividades.Essalinhadaráaoprogramaurnaidentidadeinstitucional,facilitando inclusiveaconsultadosdepoimentosproduzidos,urnavezqueospesquisadores externossaberaodeantemaoquetipodepreocupacraoregearealizayaodasentre- vistasequetipodeentrevistadospoderaoencontrarno acervo.Se,aocontrário, umprogramaproduzirsuasentrevistassemsepreocuparemmanterummínimo decoen~ncianaescolhadosentrevistadosaolongodosanosenaformulayaodas questoesqueorientamasatividades,o resultadopodeserpoucooperacionalpara finsdeconsulta,urnavezqueseteráblocosdeentrevistasemrelayaoentresiecom umtemaprincipal,tornando-sedifícilidentificaroque,afinal,orientaaqueleacervo equeuniversodeatorese/outestemunhaseleabarca. Poroutrolado,oestabelecimentodotemacontinentetambémdevelevarem contao tipodedemandadosusuáriosempotencial,tendoemvistaaslinhasde acervoadotadasemoutrasinstituiyoes,comoarquivos,bibliotecaseuniversida- des.É importanteverificarseo temacontinenterealmentecontribuiparao de- senvolvimentodapesquisahistóricaedeciencias.humanas;seaqueleconjuntode documentosproduzidosforneceapossibilidadedeinvestimentoemassuntosain- danaocobertosporoutrosacervos,ouse,aocontrário,o temacontinenteescolhi- doresultaráapenasemurnaduplicacraodefontesjá disponíveis. Note-seentaoqueo temacontinente,alémdeviabilizarocaráteremprincí- piopermanentedoprograma,urnavezquepodeserdesdobradoemurnagamade temascorrelatos,tambémdizrespeitoalinhadeacervoquesepretendeinaugurar, tocandoassimemoutraespecificidadebásicadoprojetodepesquisaelaboradono contextodeumprogramadehistóriaoral,qualseja,o objetivodeatenderaum públicodepesquisadores.Pode-sedizerqueesteobjetivoeaperspectivadelongo prazosaoosdoisfatoresprimordiaisquediferenciamoprojetodepesquisadeum programadaqueleformuladoemcaráternaoinstitucional. Ora,apreocupacraocomopúblicodeveserincorporadaaosobjetivosdopro- jetodeimplantayaodeumprogramadehistóriaorale renovadaa cadaprojeto parcialqueforelaboradoaolongodosanos.É precisoterclaroqueumdosobje- tivosdoprogramaéo deabrirseuacervoaconsultadepesquisadoresexternos, queprecisamserinformadossobrequeméoentrevistadoesobreospropósitosda entrevista.É poressarazaoqueaentrevistadevecontemplarahistóriadevidado entrevistado- senaotoda,pelomenosapartedabiografiaquepermiteidentifi- carmelhorquemfalaedequepontosdevista(comojáfoidito:origensfamiliares, socializacraoeformacrao,porexemplo). Seoobjetivodeconstituirumacervoparaserabertoaconsultajá interferena formulacraodasquestoesasereminvestigadasenosprocedimentosderealizacrao dasentrevistas,suainfluenciaéaindamaiornoplanejamentodotrabalhoquese segueagravacraodecadadepoimento.Issoporqueéevidentementenecessárioque aentrevistasejapreservada,alémdetratadaantesdeserliberadaparaconsulta.É precisoqueo programaestabelecraasnormasdetratamento,produzaosinstru- mentosdeauxilioaconsultae,principalmente,providencieacartadecessaodo depoimento,semaqualaentrevistapermanecefechadaaopúblico. O trabalhodafaseposteriorarealizacraodasentrevistas,matériadaqualtrata aparteIII desteManual,deveconstardoprojetodepesquisadeumprogramade históriaoral,poisincidediretamentesobreoplanejamentodasatividades,dosre- cursoshumanos,domaterialnecessário,doorcramentoedosprazos.É nomomen- todeformulacraodoprojetoquesedevefixarqueprocedimentosseraoadotados napreservayaodoacervoeemsuaaberturaparaconsulta. Vejamosagoraoutrosdoisconjuntosdepreocupayoesquedevemserconside- iádosnaimplantayaodeprogramasdehistóriaoral:aequipedetrabalhoeoequi- pamentonecessárioaodesenvolvimentodoprojeto. ,/ 2 FORMA~ÁO DA EQUIPE o númeroeaespecialidadedosprofissionaisqueformamaequipedeumprogra- madependemdiretamentedasdiretrizesfixadasno projetoinicialdepesquisa. Elesdevemlevaremcontaalinhadeacervo,osprocedimentosadotadosnapreser- va~aoenotratamentodasentrevistas,osresultadosesperados,osprazoseosre- cursosfinanceirosdequedispoeainstitui<;:ao. 2.1 PesQ..uisadores Um programadehistóriaoralnaofuncionasemurnaequipedepesquisadores, responsávelpeloestudodasfontesprimáriasesecundáriasrelativasaoobjetode investiga<;:ao,pelaelabora<;:aodoroteirogeraldeentrevistas,pelaprepara<;:aoerea-liza<;:aodasentrevistas,porpartedotratamentodosdepoimelltosgravadosepela análisedomaterialproduzido,comvistasaprodu<;:aodedocumentosdetrabalho quesistematizemosresultadosobtidoscomapesquisa. Assim,o primeiropassodeconstitui<;:aodaequipedeumprogramadevesero deprovidenciaracontrata~aodospesquisadores.Oscritériosdesele<;:ao,alémde passarpelacompetenciaeseriedadedosprofissionais,devemlevaremcontasuas áreasde interessee especialidades.É cmfun<;:aodosobjetivosdapesquisae da abordagemdo objetodeestudoquetaiscritériospodel11serdelineados.Se,por exemplo,determinadoprogramasevoltaparao estudodahistóriadasempresas deurnaregiaoespecífica,tendocomointeresseprimordialsuarelac;aocomafor- mac;aoeconómicadaregiao,éimportantequeconte,cmsuaequipe,compesqui- sadoresespecializadosemhistóriaeconómica.A formac;aodospesquisadoressele- cionados,portanto,devecoincidircomospropósitosdoestudo. Como,entretanto,osobjetivosdeumprogramaultrapassamaquelesdeuma únicapesquisa,jáqueseusresultadosseraosocializadosentreospesquisadoresque consultaremoacervo,convémtambémincorporaraequipepesquisadoresdedife- rentesespecialidades,demodoaabarcar,naprodu<;:aodasentrevistas,umuniverso diV"ersificadodequestoeseabordagens.Assim,aoladodoespecialistaemhistória económicamencionadonoexemplo,podeserconvenientecontarcompesquisado- ,/ 44 VERENAALBERTI MANUAL DE HISTÓRIA ORAL 45 resespecializadosemhistóriapolíticaouemcienciapolítica,paraprocurarenten- derasarticula¡yoesentreasempresaseapolíticalocalenacional;compesquisado- resdaáreadehistóriasocialoudesociologia,paraestudarastransforma~oesen- gendradaspelofuncionamentodasempresas,ouaindacompesquisadoresvoltados paraahistóriadasmentalidadesouaantropologia,paraapreenderpossíveismu- dan~asnasconcep¡yoesdemundogeradaspelocrescimentoeconómico.Mesmo quenaosejapossívelincorporaraequipepessoasefetivamenteespecializadasem diferentesáreasdoconhecimento,convémconsiderararelativadiversidadedeinte- ressescomofatorpositivoparaodesenvolvimentodostrabalhos. Convémprocurarselecionarospesquisadoresdeumprogramaentreaqueles quepossamseadequarametodologiadehistóriaoral,identificando-secomaabor- dagemqualitativa,e,principalmente,entreaquelesquepossamdesempenhara contentoafunyaodeentrevistadores(sobreopapeldoentrevistadornumaentre- vistadehistóriaoral,verparteII). É muitoimportantequeo pcsquisadorseja capazdesustentarumdiálogofrancoeabertocomoentrevistado,respeitando-o enquantodiferenteecontribuindoparaquesejaproduzidoum depoimentode altaqualidade. Observadosessescritériosqualitativosdesele¡yao,vejamosagoraquantospes- quisadoressaonecessáriosparaqueseconstituaurnaequipe.O trabalhodeum programadehistóriaoraléfundamentalmenteumtrabalhodeequipe.Eleexige, comoseveráadiante,constantesdecisoesemconjunto,aseremtomadasemtodas asetapaseconformesurjamproblemasespecíficos- enaosaopoucososcasos quefogemaregra,poistrata-sedeurnametodologiaquedependefundamental- mentedarela~aocomosentrevistados.Assim,é necessárioqueos membrosda equipeestejamintegradosentresi e como projetodepesquisae quediscutam periodicamenteoandamentodasatividades.Paraestabelecerseunúmero,épreci- soconsiderarqueospesquisadoresgeralmentetrabalhamemduplaquandoestaD engajadosnaprepara~aoenarealizayaodeurnaentrevista(sobreaconveniencia dessenúmero,verparteII), equecadaentrevistapodeseprolongarpor muitas semanas,especialmentenocasodasdehistóriadevida.Duranteesseperíodo,cada dupladepesquisadoresestarápreparandoerealizandosessoesdeentrevistaperió- dicas,urnaouduasvezesporsemana. . Ora,o investimentoexigidopelasentrevistassempreultrapassao númerode horasdespendidoemsuagrava~ao:é necessárioprepararcuidadosamentecada sessao,elaborandoosroteirosparciais;reservarpelomenosoquíntuplodotempo degravayaoparaaelabora¡yaodosinstrumentosdeauxílioaconsultaeastarefas deprocessamentodaentrevista(verparteIII), alémdepreverquegeralmentese gastaurnamanhaoutardeinteirasparaagravayaodeurnasessao(éprecisodeslo- car-seatéo localdaentrevista,empreenderurnaconversayaoinicial,instalaro equipamento,reservarespa¡yoparaasinterrup¡yoesetc.).Assim,urnasessaoquese estenda,porexemplo,porduashorasdegravayao,naverdadeexigedospesquisa- doresmaisdedezhorasdededica¡yao,entresuapreparayao,suarealizayaoeseu tratamento.É claroquetalestimativanaotemnenhumcaráterfixoeserveaqui tao-somenteparadeixarclaroqueoinvestimentodopesquisadorultrapassalarga- menteadurayaodeurnaentrevista. Alémdisso,éprecisoconsiderarqueo trabalhorealizadomuitasvezesnaoé visívelesofreatrasossignificativos,emfun<;:aodetentativasfrustradasdecontatar entrevistados,danecessidadederecorreraoutros,quandoosqueestavamprevis- tosestaoimpossibilitadosdedarentrevistas,ouaindadocancelamentodeentre- vistasporpartedo entrevistado.Podeacontecer,porexemplo,deseinterrompcr porváriassemanasum depoimentoemdecorrenciadeurnadoen¡yaou deurna viagemdoentrevistado. Emfun<;:aodovolumedeinvestimentonecessárioaatividadederealizayaode entrevistas,naoconvémqueumpesquisadorseocupedemaisdetressessoespor semana.Assim,cadaduplapode,nolimite,seocupardetresentrevistadossimul- taneamente,secadaum delesestiverfornecendoseudepoimentournavezpor semana.Háqueseconsideraraindaque,durantearealiza<;:aodeentrevistas,aequipe devesereunirperiodicamenteparatrocarinforma<;:oeseavaliaro andamentodos trabalhos.Dessemodo,seurnaduplaestiverengajadaemtresdepoimentossimul- taneamente,realizandoentrevistas,digamos,assegundas,quartasesextas-feiras, nosoutrosdiasestaráocupadacomasatividadesdeprepara<;:aoe tratamentoe comasdiscussoes,naequipe,deavalia<;:aodotrabalho. Issotudoservedepanodefundonomomentodeestabelecerquantospesqui- sadoresseraonecessáriosa execuyaodostrabalhos.Considerandoos prazos,os recursosfinanceirose o númerodehorasgravadasquesepretendeaIcan¡yar,é possívelchegaraumnúmerodepesquisadoressatisfatório,quegarantaaexecu<;:ao dotrabalho. Jáqueo trabalhodeumprogramadehistóriaoralrequero engajamentode urnaequipedepesquisadoresqueavalieconstantementeosresultadosaIcan<;:ados e discutaasquestoesdapesquisa,e já queasentrevistassaopreferencialmente ~alizadasemdupla,segue-sequeonúmeromínimoidealdecomposiyaodaequi- peédequatropesquisadores,quepermiteaforma<;:aodeduasduplasdeentrevis- tadoresegaranteapráticadetrabalhoemgrupo. ./ 46 VERENA ALBERTI MANUAL DE HISTÓRIA ORAL 47 2.3 Técnico de som outrasdisciplinasvinculadasaotemadapesquisa.Trabalhandoemumprograma, o estagiárioadquireexperienciaeseespecializa,podendoinclusivesertreinado comvistasaserincorporadoaequipetaologoestejaformado.O programa,por suavez,podesebeneficiardessetipodetrabalho,designandoaoestagiáriotarefas quevaodesdeaparticipa<;:aonolevantamentodedadosemarquivosebibliotecas paraaprepara<;:aodosroteirosdasentrevistas,passandopelaelabora<;:aodesumá- rioseíndicesepelaverifica<;:aodosdadosnecessáriosaconferenciadefidelidadeda transcri<;:ao,eestendendo-seatéacatalogayaodasentrevistas.Evidentemente,tais tarefasdevemserconstantementesupervisionadas.A qualidadedotrabalhodos estagiáriosdepende,emprimeirolugar,deurnaboasele<;:aoe,emsegundolugar, docuidadocomseutreinamentoinicial.Assim,cabeaospesquisadoresresponsá- veispromovera integra<;:aodo estagiáriocomapesquisa,colocando-oa pardo projeto,do métodoutilizadoedapráticadetrabalho,e avaliando,comele,os resultadosdesuasprimeirastarefas,paraquepossaaprender,naprática,como efetivamentedeveproceder.Urnavezbemtreinado,aequipedoprogramaadquire confian<;:aemseutrabalho,eo estagiáriopassaasetornarelementofundamental paraoandamentodapesquisa. 2.2 Consultores Paracompletaraqualificac¡:aodaequipedepesquisadoresdeumprograma,pode serútil recorreracontratac¡:aotemporáriadeoutrosprofissionais,casohajaneces- sidadedecobriráreasdeconhecimentoespecífico. Suponhamos,porexemplo,queemdeterminadoprojetosetornenecessário aprofundarosconhecimentossobreurnaáreaqueospesquisadoresnaodominam: direitotrabalhista,processodeprodu<;:aodedeterminadamercadoria,contabilidade, geologia...Nessescasos,podeserconvenientecontratarumespecialistanoassunto parafinsdeconsultoria,aquemcaberáesclarecerospesquisadoressobreasespecifici-dadesdamatéria,tornando-oscapazesdeconduzirurnaentrevistasobreoassunto. Eventualmenteosconsultorespodemserchamadosaparticipardealgumas entrevistas.Nessecaso,devemestarapardoprojetoqueorientaapesquisaeda especificidadedametodologiaempregada,bemcomoterosatributosnecessáriosa umbomentrevistadordehistóriaoral. Alémdospesquisadores,a equipedetrabalhodeum programadehistóriaoral devecontarcomumtécnicodesom,encarregadodagrava<;:aoe dastarefasde duplica<;:aoeconservac¡:aodasmídiasgravadas.Parapesquisascujospropósitosnao incluemaconstituic¡:aodeumacervopermanenteparaconsulta,nasquaisosde- poimentosdehistóriaoralsaoproduzidosparausoexclusivodospesquisadores diretamenteenvolvidosnoestudo,épossívelprescindirdo técnicodesom,urna vezquequalquerpesquisadorécapazdeoperarumgravadorportátilpararegis- trarentrevistas.Entretanto,havendonecessidadedepreservarasgravac¡:óespara consultaposterioresendofreqüenteo manuseioeo usodasmídias,cabecontar comumprofissionalespecializadoparacuidardoacervogravado. O técnicodesom,alémdeconheceroequipamentoesercapazdeotimizaros recursosdequedispóe,deveterhabilidadeparaorganizaro materialgravado,or- denandoe catalogandoo arquivosonoroa fim deviabilizarsuaconsulta,bem comosuautiliza<;:aonodecorrerdotratamentodasentrevistas. 2.5 Profissionaisenvolvidosnoprocessamentodasentrevistas 2.4 Estagiários Chamamosdeprocessamentodaentrevistaoconjuntodeetapasnecessáriasapas- sagemdodepoimentodaformaoralparaaescrita(aesserespeito,verparte1II). Naohádúvidadequea consultaaodocumentonaformaescritaoferecemenos dificuldadedoqueaaudic¡:aodesuagravac¡:ao:aleituratranscorrecomrapidezeé maisfácilparaopesquisadorselecionarostrechosquelheinteressam.Alémdisso, agravac¡:aodeumdepoimentonemsempreéclaraeaudível,podendolevaraerros decompreensao,principalmentequandosaoenunciadosnomesprópriosdesco- nhecidosdopesquisador.Poroutrolado,atranscri<;:aodeumdepoimentoenvolve, alémdealtoscustosfinanceiros,urnasériedeproblemasnoquetangeatransfor- ma<;:aododiscursooralemdiscursoescrito.Seousuáriodoprogramaestiverinte- ressadonospormenoresda falado entrevistado- como entona<;:ao,dicc¡:ao,pro- núncia,titubeac¡:óesetc.-, émelhorqueconsulteagravac¡:aododepoimento. Comoambasasformasdeconsultaapresentamaspectosfavoráveisedesfavo- ráveis,adecisaoacercadapassagemdodocumentoda formaoralparaaescrita áevesertomadaemfunc¡:aodospropósitosepossibilidadesdoprograma.Nospri- meiros15anosdeatividadesdoProgramadeHistóriaOraldoCpdoc,porexem- A equipedeum programadehistóriaoralpodeserreforc¡:adapelotrabalhode estagiários,estudantesdegraduac¡:aodasáreasdehistóriaecienciassociais,oude 48 VERENA ALBERTI MANUAL DE HISTÓRIA ORAL 49 plo,todasasentrevistasliberadaseramabertasaconsultanaformadetexto,pas- sandopelasetapasdetranscriyao,conferenciadatranscriyaoecopidesque,mas devidoaosaltoscustoseasnecessidadesdetempoepessoaldisponívelparaas tarefas,nosanos1990passamosa transcreverapenasurnapartedasentrevistas, disponibilizandoasdemaisemáudioouvídeo(ousuáriodoprogramaconsulta diretamenteagravayao). A passagemdasentrevistasdaformaoralparaaescritaimplicacontratarpro- fissionaishabilitadosparaastarefasdetranscrifáopropriamenteditaedecopidesque dasentrevistas,atividadesqueseraoaprofundadasnaparteIII. É convenienteque essesintegrantesdaequipetenham,alémdodomíniodalíngua,algumasnOyoes dotemapesquisado,porqueo conhecimentodosassuntostratadosedasdesigna- yoesutilizadasduranteasentrevistaspodeauxiliá-losadesincumbirem-sedesuas tarefas.Comoatranscriyaoeocopidesquesaofeitosdiretamentenocomputador, énecessárioqueosprofissionaisdominemtambémo processadordetexto(em geralWord)utilizadopeloprograma. O númerodessesprofissionaisvariaemfunyaodaextensaodo projeto,ou, maisespecificamente,emfunyaodashorasdefitasgravadasedoprazoderealiza- yaodapesquisa:quantomaiscurtoesseprazoequantomaishorasgravadas,maior o númerodetranscritoresecopidesquesnecessáriosparao cumprimentodesse trabalho.Suaseleyaopodeserfeitapormeiodetestes,explicando-lhespreviamen- tecomoseesperasejaempreendidaa tarefa.Assim,aocandidatoa transcritor poderásersugeridoquetranscrevaumtrechodeentrevista,enquantoocandidato acopidesquepoderásersolicitadoatrabalharsobrealgumaslaudasdeumtrecho já transcrito. recorrerentaoa editoresespecializados- sejaeditoresdetexto,quandoa entre- vistaforpublicadaemlivro,sejaeditoresdeimagens,quandoaentrevistafortor- nadapúblicaemvídeo,porexemplo.O editorordenaaentrevistadeacordocom urnaseqüenciatemporale/outemática,retirarepetiyoes,reúnetrechosquetratam deum mesmoassunto,divideo materialemcapítulosetc.É necessárioqueseja urnapessoahábilemsuastarefas,quedomineo portugues(ou,nocasodevídeos, osequipamentoseaspossibilidadesdeurnailhadeediyao)equerespeiteasinten- yoeseafaladoentrevistado.O editordificilmentetrabalharásozinho,poiso pro- cessodeediyaodeentrevistasexigeoenvolvimentopermanentedepesquisadorese estagiários,narevisaodotexto,naelaborayaodenotasedeíndices. 2.6 Editores especializados A constituiyaoeapreservayaodeumacervodeentrevistas,suaanáliseesuaaber- turaparaconsultasaoasprincipaismetasdeumprogramadehistóriaoral.Muitos projetospodemtertambémcomoobjetivoapublicayaodasentrevistasgravadas, o quepermiteatingirumpúblicobemmaisamplodoqueaquelequesedirigeao programaparaconsultarosdepoimentos. Comoasentrevistasmuitasvezescontemtrechosrepetidosenaoobedecema urnaordemtemáticaoucronológica(oentrevistadopodepulardeassunto,reto- maremsessoesposterioresumassuntojá tratadoetc.),apublicayaodomaterial tal qualfoi gravadopodetornaro textodesapropriadoparaleitura.É possível
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