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Farmacovigilância e Farmacoepidemiologia Autora Marisa Aparecida Crozara 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 Objetivos O objetivo deste conteúdo é apresentar os conceitos de farmacovigilância e farmacoepidemiologia, abordando as fases do lançamento de novos medicamentos e o histórico dessas disciplinas. Serão discutidas as metodologias de trabalho, os sistemas de farmacovigilância, as notificações, os estudos de utilização de medicamentos, os centros de informações de medicamentos e o uso racional de medicamentos. Além disso, o conteúdo incluirá um histórico das pesquisas clínicas, ética em pesquisa com seres humanos, critérios de admissão e exclusão de pacientes, monitoramento de ensaios clínicos, delineamento de ensaios clínicos, testes estatísticos e a organização da documentação de ensaios clínicos. Histórico da disponibilidade dos medicamentos 1 Identificamos cinco épocas distintas relacionadas à disponibilidade dos medicamentos. Entre o final do século XIX e início do século XX a indústria farmacêutica surgiu, porém, somente nos anos 1920 conhecemos os primeiros medicamentos industrializados. Nessa época, a expectativa era por medicamentos eficazes para o tratamento das doenças existentes. O acesso da população a esses poucos medicamentos era total. Figura - Medicamentos Fonte: khemporn tongphay/Shutterstock. A partir da década de 1940, os lançamentos de novos medicamentos começaram a aumentar até que, na década de 1970, atingiu um número de 7 mil registros. Diante da nova situação, o acesso aos medicamentos passa a ser parcial, pois não existiam recursos suficientes para disponibilizar todo arsenal terapêutico para a população. Foi nesse período que se iniciaram as políticas restritivas, como a lista de medicamentos essenciais para distribuição à população por meio da Central de Medicamentos (CEME), atualmente extinta. Nas décadas de 1980 e 1990, a disparidade econômica entre os países aumentou significativamente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a classificá-los em desenvolvidos e em desenvolvimento, 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/26342e675cb2cffb2643dffa279d5469.jpeg https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/26342e675cb2cffb2643dffa279d5469.jpeg identificando que, nos países em desenvolvimento, a disponibilidade de medicamentos era precária. Ao final do século XX iniciaram-se as grandes fusões das indústrias farmacêuticas, aumentando o monopólio nesse mercado. A pesquisa de novos medicamentos voltou-se para a biotecnologia lançando inovações terapêuticas, porém, com altos preços. A falta de acesso aos medicamentos leva a população a dar início a ações judiciais para garantir o direito aos tratamentos. Aumento do consumo e gastos com medicamentos 2 Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/957835033". Vários fatores colaboraram para o aumento do consumo dos medicamentos: O aumento da expectativa de vida, que passou de 34 anos no início do século XX a 72 anos atualmente; A crescente população de idosos com doenças crônicas e degenerativas; O aumento do consumo de medicamentos; e O consumo de medicamentos obtidos por biotecnologia. No período de 2002 a 2006, o Ministério da Saúde registrou um aumento de 9,6% nos gastos totais em saúde; o aumento nos gastos com medicamentos foi de 123,9% no mesmo período. Esse fenômeno foi global. As vendas mundiais cresceram 9% em 2003, o equivalente a US$ 500 bilhões; quase a metade desses gastos, US$ 230 bilhões, ocorreu nos Estados Unidos e Canadá. A estimativa era de que os gastos com medicamentos prescritos nos Estados Unidos alcancem US$ 500 bilhões em 2013. A partir de 2001, o percentual de aumento dos gastos com medicamentos prescritos foi declinando continuamente até 2007. Em 2006, esse aumento foi de 8% e, em 2007, de 3,8%, alcançando US$ 286,5 bilhões, sendo o menor percentual desde 1961. Isso se deu à perda de 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 exclusividade de medicamentos patenteados, menor número de produtos aprovados e o impacto de problemas de segurança do medicamento. Os medicamentos genéricos conquistaram o seu espaço no mercado. Nos Estados Unidos, em 2008, a cada dez medicamentos vendidos, nove eram genéricos e, aproximadamente, 68% das prescrições foram atendidas com este grupo de medicamentos. No Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, os gastos com o Programa de Medicamentos Excepcionais atingiram 2,5 bilhões de reais em 2009. Comparado a 2007, isso representou um aumento de aproximadamente 1,1 bilhões de reais. Figura - Evolução dos gastos em medicamentos do Ministério da Saúde, 2004-2009 Fonte: IDISA (s.d.). Tabela – Gastos anuais do Ministério da Saúde com medicamentos do Programa de Medicamentos de Dispensação em Caráter Excepcional, 2000-2007 Ano Gasto anual (em reais) 2000 684.975.404,43 2001 777.617.274,95 2002 651.842.605,65 2003 797.490.209,67 2004 1.084.660.016,68 2005 1.343253.116,61 2006 1.406.436.999,30 2007 1.410.181.600,74 Fonte: Carias (2011). Programa de medicamentos excepcionais 2.1 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/7ee6e99553dfe148e45abc95a5ba481a.jpeg https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/7ee6e99553dfe148e45abc95a5ba481a.jpeg Uso de medicamentos: benefício x risco 3 Uso de medicamento e benefício vs. risco Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/365747986". Apesar da redução no aumento dos gastos pela entrada dos medicamentos genéricos no mercado, o consumo de medicamentos cresce e os problemas relacionados ao uso também. Desde o início da utilização dos medicamentos, foram surgindo problemas mostrando que a eficácia não é isenta de riscos; nenhum deles é completamente inócuo. O risco é conhecido desde a Antiguidade. Podemos dizer que a Farmacovigilância possui mais de 160 anos ao registrar-se uma reação adversa a medicamento (RAM) grave. Figura – Medicamentos EM Karuna/Shutterstock. 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/0731542d2f33e4af40c30b2b824d0e5f.jpeg https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/0731542d2f33e4af40c30b2b824d0e5f.jpeg Em 1848, uma paciente de 15 anos faleceu com fibrilação ventricular, após cirurgia na unha de pododáctilo, pelo uso de clorofórmio como anestésico. A revista médica do Reino Unido The Lancet formou uma comissão para o relato de casos associados à anestesia. Criou-se a notificação espontânea que se tornou realidade naquele país. Os trabalhos sobre o uso de clorofórmio foram publicados em 1893. Desenvolvimento da farmacovigilância no mundo 3.1 Desenvolvimento da farmacovigilância no Brasil e no mundo Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/365748030". Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/957835104". 1906: O FDA, antes chamado Órgão Regulador de Medicamentos, aprovou um Ato que exigia que os medicamentos fossem puros e livres de contaminação. Ainda não havia 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 exigências quanto à eficácia. 1922: Foram relatados casos de icterícia em razão do uso de arsênico no tratamento de sífilis. 1937: Cento e sete crianças morreram por ingestão de um xarope de sulfanilamida dissolvido em dietilenoglicol.1952: Foi publicado o primeiro livro sobre eventos adversos: Myller’s Side Effects of Drugs. 1954: Cem pessoas morreram por ingestão de um produto para furunculose que continha estanho. 1960: O FDA iniciou a coleta de notificações de RAMs e financiou o primeiro programa hospitalar de monitorização de fármacos, o Boston Drug Surveillance. 1961: Um obstetra australiano, Willian McBride, relatou um aumento de 20% na malformação fetal chamada focomelia, sendo uma forma rara até então, associada ao uso de talidomida durante a gestação. 1962: A Assembleia Mundial da Saúde reconheceu a gravidade do problema de segurança dos medicamentos e criou a Resolução 2051, estabelecendo o Sistema Internacional de Monitorização de RAMs, definido como Farmacovigilância. A Norma 425 da OMS define Farmacovigilância como o conjunto de procedimentos de detecção, de registro e de avaliação de RAMs para determinar sua incidência, gravidade e sua relação de causalidade, com a forma de dosificação de um medicamento ou fórmula magistral, objetivando a prevenção, com base no estudo sistemático e pluridisciplinar das ações dos medicamentos. 1968: Início dos trabalhos sob a responsabilidade da OMS com a participação de médicos, farmacêuticos, estatísticos, analistas de sistemas e um administrador. Em dois anos foram registradas 24.719 notificações. 1978: O Centro de Farmacovigilância da OMS foi transferido para Uppsala, na Suécia. Atualmente, 108 países oficiais e 34 países-membros associados fazem parte desse Centro. A responsabilidade é da OMS, mas os recursos para execução dos trabalhos são do governo sueco. Figura – Imagens de vítimas da focomelia por talidomida 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/85db28083957565d5179ec73037af509.jpeg https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/85db28083957565d5179ec73037af509.jpeg Fonte: Instituto Phorte (2018). Verifique as orientações para o uso controlado da talidomida no link indicado a seguir: bvsms.saude.gov.br [https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/talidomida_orientacao_para_uso_controlado.pdf] Desenvolvimento da farmacovigilância no Brasil 3.2 Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/957835155". 1970: Lacaz publica o primeiro livro sobre o assunto, Doenças Iatrogênicas, e foram promovidos vários cursos de farmacoterapia, enfocando o uso racional dos medicamentos. A Organização Panamericana de Saúde, em Santiago, no Chile, formou o primeiro grupo de farmacêuticos clínicos que tiveram contato com o programa de Boston. Professores chilenos e espanhóis da área estiveram no Brasil e desenvolveram trabalhos hospitalares enfocando as RAMs. 1985-1987: A Divisão de Medicamentos (DIMED) tentou implantar a política de vigilância sanitária de medicamentos com a assessoria dos professores Juan Laporte e Gianni Tognoni, que não deu certo. Porém, foi feita a tradução de um livro, Epidemiologia do Medicamento, até hoje única em português. Essa época foi quando a farmacoepidemiologia direcionou-se ao desenvolvimento. 1989: Incentivos à formação de profissionais na área de farmacoepidemiologia. 1990: Criação da Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos (SOBRAVIME), que tem se desenvolvido e promove a elaboração de trabalhos na área e a realização de congressos. 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/talidomida_orientacao_para_uso_controlado.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/talidomida_orientacao_para_uso_controlado.pdf 1990: Criação de várias Centrais de Informação de Medicamentos (CIM) em hospitais para suporte aos profissionais, importantes para a farmacovigilância e farmacoepidemiologia. Este desenvolvimento culminou com a implantação de um Sistema Nacional de Farmacovigilância. Em 7 de maio de 2001, a Portaria nº 696/MS criou o Centro Nacional de Monitorização de Medicamentos (CNMM) na Unidade de Farmacovigilância da ANVISA. Figura - Logotipo da ANVISA. Fonte: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em agosto de 2011, o Brasil passou a fazer parte do Programa Internacional de Monitoração de Medicamentos. A Organização Mundial de Saúde admitiu o país no programa coordenado pelo The Uppsala Monitoring Centre – WHO Collaborating Centre for International Drug Monitoring, em Uppsala, na Suécia. Descubra mais sobre o histórico da ANVISA, sua missão, visão e valores no link indicado a seguir: gov.br/anvisa [https://www.gov.br/anvisa/pt-br/acessoainformacao/institucional] 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/cb12b296025248d4ad6867cf7cbaa115.jpeg https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/cb12b296025248d4ad6867cf7cbaa115.jpeg https://www.gov.br/anvisa/pt-br/acessoainformacao/institucional https://www.gov.br/anvisa/pt-br/acessoainformacao/institucional Farmacovigilância3.2.1 Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/957835206". Farmacovigilância é a identificação e avaliação dos efeitos, agudos ou crônicos, do risco do uso dos tratamentos farmacológicos no conjunto da população ou em grupos de pacientes expostos a tratamentos específicos (ANVISA). A farmacovigilância é a ciência que identifica, avalia, compreende e previne os efeitos adversos ou qualquer problema possível relacionado com fármacos (OMS). Os medicamentos podem produzir efeitos indesejáveis significativos para a saúde pública, tornando a farmacovigilância indispensável à regulação sanitária. O que é a RAM? Qualquer efeito nocivo não intencional e indesejado de um medicamento, observado com doses terapêuticas habituais em seres humanos para fins de tratamento, profilaxia ou diagnósticos (ANVISA). Qualquer efeito nocivo, não intencional e indesejado de um medicamento observado em doses terapêuticas habituais em seres humanos para fins de tratamento, profilaxia, diagnósticos ou com objetivo de modificar uma função biológica (OMS). De maneira geral, as RAMs são classificadas em Tipo 1 e Tipo 2 ou, respectivamente, Tipo A e Tipo B. As RAMs Tipo A são previsíveis com base nas ações farmacológicas dos medicamentos; são, frequentemente, dose dependentes, têm elevada morbidade e baixa mortalidade. Estima-se que cerca de 80% do total dos efeitos indesejados de medicamentos são do tipo A. As do Tipo B, por sua vez, são incomuns, não relacionadas à dose, imprevisíveis e potencialmente mais graves. Quando ocorrem, frequentemente é necessária a suspensão do medicamento. Elas podem ser consequência de reações de hipersensibilidade ou imunológicas. Também podem constituir reações idiossincráticas ao medicamento de algum outro mecanismo. As reações tipo B são mais difíceis de predizer, de identificar e representam o maior interesse da farmacoepidemiologia. 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 Ainda são incluídas outras categorias de RAMs, como a do tipo C, relacionada à dose e tempo de uso; do tipo D, relacionada ao tempo de uso – normalmente ocorre após algum tempo de uso –; do tipo E, como reação de abstinência ao fim do uso do medicamento; e do tipo F, relacionada à falha da terapia relacionada à dose e, frequentemente, causada por interação de medicamentos. As reações adversas raras são reações cuja frequência seja de 1 em 1.000 a 1 em 10.000 pacientes expostos. Por exemplo, para detectar um evento adverso que ocorre na população com a frequência de 1:50.000 indivíduos, com um grau de 90% de segurança, seria necessário acompanhar pelo menos 250 mil pessoas em ensaio clínico. Tabela – Classificação das reações adversas quanto à frequência Muito comum> 1/10 > 10% Comum > 1/100 e 1% e 1/1.000 e 0,1% e 1/10.000 e 0,01 e 10.000 pacientes) para a aprovação, nem todas as questões de segurança serão identificadas. A informação das RAMs de baixa frequência de eventos, uso em crianças e gestantes, idosos ou interações, não são conhecidas. O grande interesse da farmacovigilância são as reações graves, ou seja, reações que representem risco de morte ou que resultem em morte, hospitalização ou prolongamento da hospitalização, incapacidade permanente ou significante, anormalidade congênita e efeito clinicamente significante, especialmente as reações não descritas ou pouco conhecidas. Nesta década, a farmacovigilância ampliou-se; além de reações adversas, de falta de eficácia, desvios da qualidade, uso indevido e abuso de medicamentos, incluiu, recentemente, novos itens para observação e estudo: plantas medicinais; medicina tradicional e complementar; produtos derivados de sangue; produtos biológicos; e produtos médico-farmacêuticos e vacinas. 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 Objetivos da farmacovigilância3.2.2 Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/957835257". Os objetivos da farmacovigilância têm sido ampliados nos últimos anos por causa de uma preocupação maior com a questão do uso dos medicamentos e incluem: Identificação de RAMs desconhecidas ou interações; Detecção do aumento de frequência de RAMs conhecidas e determinar fatores que predispõem ao aparecimento de RAMs; Análise dos aspectos quantitativos das RAMs; Criação de programas de formação e informações sobre RAMs dirigidos a todos os profissionais de saúde; e Promoção da análise do equilíbrio entre benefício e risco dos medicamentos comercializados. Além das reações adversas a medicamentos, são questões importantes para a farmacovigilância: Desvios da qualidade de produtos farmacêuticos (afastamento dos parâmetros de qualidade estabelecidos para um produto ou processo); Erros de administração de medicamento; Perda da eficácia; Uso de fármacos para indicações não aprovadas que não possuem base científica adequada; Notificação de casos de intoxicação aguda ou crônica por produtos farmacêuticos; Avaliação de mortalidade; Abuso e uso errôneo de produtos; e Interações com efeitos adversos, de fármacos com substâncias químicas, outros fármacos e alimentos. As RAMs podem ocorrer em virtude de vários fatores tais como: Genética e dieta; 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 Processos usados na fabricação do medicamento que influenciam a qualidade farmacêutica e composição; Distribuição, dispensação e uso do medicamento, incluindo-se indicações, dose e disponibilidade; e Uso de medicamentos de tradição popular e terapias complementares (plantas medicinais), que podem gerar problemas toxicológicos específicos quando usados sozinhos ou combinados com outros medicamentos. A preocupação com o grande volume de RAMs é que, além do sofrimento do paciente, existe um impacto nos gastos com saúde. As internações hospitalares causadas por RAMs alcança 10% ou mais dos casos. Além disso, o atendimento e os serviços para tratar RAMs ficam sobrecarregados em razão das internações, procedimentos e exames necessários. Alguns países gastam de 15% a 20% do orçamento de seus hospitais para lidar com as complicações decorrentes do uso de medicamentos. Além das RAMs, os problemas relacionados a medicamentos incluem abuso, mau uso, intoxicação, falha terapêutica e erros de medicação (OMS, 2004). Nos países em desenvolvimento e em transição a situação pode ser pior, pois há muita limitação quanto à disponibilidade de informações sobre RAMs. A falta de legislação e regulamentação apropriada no campo de medicamentos, incluindo-se notificações de RAMs, também contribui para o problema por causa do grande número de medicamentos com desvios de qualidade, ou falsificados, circulando pelo mercado, pela falta de informações independentes e pelo uso sem controle de medicamentos (OMS, 2004). Gastos com o tratamento das RAMs3.2.3 Métodos utilizados para notificação de suspeitas de RAMs 4 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 Métodos de notificação de possíveis RAMs Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/365748091". Método de notificação voluntária4.1 Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/957835299". Notificação voluntária é aquela na qual o profissional de saúde tem liberdade para notificar uma ocorrência que, em sua opinião, pode ser uma RAM. É um ato universalmente adotado na farmacovigilância, que consiste na coleta e comunicação de reações indesejadas manifestadas após o uso dos medicamentos. O notificador deverá não só comunicar as suspeitas de reações adversas, como também as queixas técnicas relativas ao medicamento. É utilizado em vários países por suas vantagens como a simplicidade, baixo custo e rendimento aceitável. Porém, tem seus pontos falhos, porque não calcula a incidência de reações detectadas por não conhecer a população que 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 utilizou o medicamento, e utiliza as estatísticas de vendas tendo um índice inferior da verdadeira incidência. Por isso, a notificação voluntária exige a complementação com dados de estudos intensivos de monitorização. É popularmente conhecida como método do cartão amarelo, que é a cor da folha utilizada na Grã-Bretanha, e foi um dos primeiros programas a existir mundialmente. Ficha de notificação É um documento no qual se registra as informações necessárias para a avaliação posterior da situação. É composta dos seguintes itens: Dados do paciente: Nome ou iniciais para proteger a identidade do paciente, idade (a importância dessas reações. A reunião de múltiplas notificações sobre uma possível relação causal, previamente desconhecida ou mal documentada, frequentemente gera um "sinal". Sem essas notificações, não há como realizar estudos de causalidade, o que pode levar à subestimação da questão de segurança. Dessa forma, deve ser notificado: No caso de medicamentos novos, todas as reações suspeitas, incluindo-se as não graves. (Em muitos países, os medicamentos ainda são considerados novos até cinco 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 anos, após seu registro no Ministério da Saúde). No caso de medicamentos estabelecidos ou bem conhecidos, todas as suspeitas de RAMs graves e as inesperadas (incomuns). Aumento da frequência de determinada reação. Suspeitas de RAMs associadas a interações – medicamento e medicamento, medicamento e alimento, medicamento e suplementos alimentares (incluindo-se produtos fitoterápicos e de medicina alternativa). Casos de RAM em campos específicos de interesse, tais como abuso de drogas e uso de medicamentos na gravidez e durante a lactação. Suspeita de RAM associada à retirada de medicamentos do mercado. Casos de RAMs decorrentes de superdosagem ou de erro de medicação. Perda de eficácia ou observância de desvios da qualidade do medicamento. É necessário verificar se existem informações complementares, assegurar o controle de qualidade da fonte, avaliar a clareza, identificar campos não preenchidos e garantir a qualidade do diagnóstico e do acompanhamento, para que as informações possam ser numeradas e codificadas. A classificação ATC (Anatomical Therapeutical Chemical Classification – OMS) para medicamentos e a classificação WHO-ART (World Health Organization – Adverse Reaction Terminology) para reações adversas são utilizadas para a posterior classificação e padronização. A análise dos casos deve sempre ser acompanhada de revisão bibliográfica, com busca de informações em bases de dados confiáveis. O Sistema de Notificação Voluntária tem como principais objetivos: Identificar problemas de segurança dos medicamentos: Coletar informações sobre RAMs para detectar problemas que possam não ter sido evidentes durante os ensaios clínicos. Investigar a causalidade: Analisar os relatos para determinar a relação causal entre o uso do medicamento e a RAM reportada. Estabelecer a incidência das RAMs: Avaliar a frequência e a gravidade das RAMs em populações diversas. Facilitar a comunicação de opiniões sobre riscos e benefícios: Prover uma plataforma para que profissionais de saúde e pacientes compartilhem suas percepções sobre os riscos e benefícios dos medicamentos. Informar os profissionais que prescrevem e os pacientes: Divulgar informações atualizadas e precisas sobre a segurança dos medicamentos para apoiar a tomada de decisões informadas. Objetivos do sistema de notificação voluntária 4.1.1 Caracterizam-se por serem métodos ativos de obtenção de informações. Consistem em estudar determinada população, registrando-se todos os eventos aparentemente ou não Métodos de busca ativa4.2 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 relacionados a medicamentos. É um enfoque mais ativo e clínico de farmacovigilância, e o mais completo. Um exemplo de sistema de busca ativa é denominado Trigger, que no sistema de prescrição eletrônica sinaliza medicamentos que podem estar sendo utilizados para o tratamento de uma RAM. Essas prescrições são analisadas posteriormente verificando-se a possibilidade de ser realmente um RAM e, então, proceder à notificação. Estabelecimento da causalidade – uso de algoritmos 4.3 Estabelecimento da causalidade das RAMs por meio de algoritmos Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/365748139". O estabelecimento de uma relação causal entre o medicamento suspeito e a reação observada é fundamental. Para esta finalidade realiza-se a avaliação sistemática das notificações espontâneas de possíveis reações adversas com a aplicação de algoritmos, sendo o algoritmo de Naranjo o mais utilizado (Doherty, 2009). O algoritmo de Naranjo consiste em questionários para determinar o grau de causalidade do efeito adverso. Sua aplicação tem por objetivo classificar as RAMs conforme os scores, dentro de uma das categorias: definidas, prováveis, possíveis, duvidosas (OMS). O algoritmo de Naranjo baseia-se nas respostas a dez perguntas com pontuação predeterminada para classificar as RAMs, conforme os scores obtidos. Tabela – Algoritmo de Naranjo Sim Não Não sabe Pontuação 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 1 - Existe informações conclusivas sobre a RAM? +1 0 0 2 - O evento adverso apareceu quando se administrou o medicamento suspeito? +2 -1 0 3 - A RAM melhorou ao suspender o medicamento ou ao administrar um antagonista específico? +1 0 0 4 - A RAM reapareceu ao readministrar que podem causar esta reação? +2 -1 0 5 - Existem causas alterantivas que podem causar esta reação? -1 +2 0 6 - Ocorreu a RAM depois de se administrar placebo? -1 +1 0 7 - Detectou-se o medicamento no sangue ou em outros fluidos em concentrações tóxicas? +1 0 0 8 - A RAM foi mais severa com uma dose maior ou menos severa ao reduzir a dose: +1 0 0 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 9 - O paciente teve reações parecidas com o medicamento ou com outros medicamentos similares no passado? +1 0 0 10 - A RAM foi confirmada mediante alguma evidência objetiva? +1 0 0 Pontuação Total RAM provada pontuação maior ou igual 9 RAM provável pontuação entre 5 e 8 RAM possível pontuação entre 1 e 4 RAM duvidosa pontuação menor e ou igual a zero Fonte: Elaborado pela autora (2018). Dependendo dos resultados, as decisões são tomadas quanto ao uso e comercialização do medicamento junto às autoridades sanitárias e indústrias farmacêuticas envolvidas, solicitando as medidas cabíveis e ampla informação aos profissionais de saúde e ao mesmo tempo ao público em geral. Desenvolvimento da farmacovigilância no Brasil 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/957835346". Apesar da existência do Sistema Nacional de Farmacovigilância da Anvisa desde 2001, os hospitais não possuíam uma central de farmacovigilância estruturada, pois os dirigentes alegavam um aumento de custos sem previsão de retorno do investimento. O que havia anteriormente eram iniciativas pontuais de farmacêuticos hospitalares, que pouco podiam fazer por falta de recursos humanos e financeiros. Como estratégia, a Anvisa criou, em 2002, a Rede de Hospitais Sentinelas, composta por mais de cem hospitais distribuídos em todos os estados brasileiros, com a finalidade de educar e integrar os profissionais da saúde nessa nova prática de identificar, notificar possíveis RAMs e enviar às autoridades sanitárias os relatos desses problemas, contribuindo, assim, com as ações regulatórias da Anvisa. A maioria são hospitais-escola, e hospitais gerais de grande e médio porte. Figura - Hospital Desenvolvimento da farmacovigilância no Brasil 5 Hospitais sentinelas5.1 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 Fonte: imaginima/iStock. Cada hospital designa um gerente de risco, responsável em dar assistência às áreas de farmacovigilância, tecnovigilância, hemovigilância e vigilância de saneantes. É importante a participação de comissões de infecção hospitalar e de serviços de vigilância epidemiológica, integradas com as farmácias hospitalares, no controle do uso dos medicamentos, já que estes são a maior expectativa para o resultado do tratamento. Este projetofoi outra estratégia para ampliar as fontes de notificação de efeitos adversos a medicamentos e de queixas técnicas de medicamentos, estimulando as ações de saúde em farmácias e drogarias. A proposta é que a farmácia, pública ou particular, deixe de ser um estabelecimento meramente comercial. Para aderir ao projeto, os estabelecimentos devem estar de acordo com as exigências da Vigilância Sanitária e do Conselho Regional de Farmácia, e o farmacêutico deve permanecer no estabelecimento durante todo o horário de funcionamento. Cumpridos esses requisitos, os estabelecimentos recebem o selo de “Farmácia Notificadora”. O farmacêutico deve notificar o Centro Nacional de Monitorização de Medicamentos (CNMM), forjando, assim, um elo entre a população e o governo. Farmácias notificadoras5.2 Reações adversas graves são aquelas que podem levar a hospitalização, incapacidade, anomalias congênitas, ou mesmo a morte, afetando a qualidade de vida e os custos de saúde. Embora os medicamentos sejam desenvolvidos para tratar doenças, todos têm o potencial de causar efeitos indesejados. Ensaios clínicos de pré-comercialização avaliam a segurança e eficácia, mas nem todas as RAMs são identificadas devido ao tamanho limitado das amostras e duração dos estudos. Após a comercialização, o uso mais amplo e prolongado pode revelar novas RAMs, tornando a farmacovigilância pós-comercialização essencial para monitorar e gerenciar essas reações. Figura – Reações adversas graves à medicação Reações adversas graves5.3 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/07923004ea7c2f452005bc2227fbcc53.jpeg https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/07923004ea7c2f452005bc2227fbcc53.jpeg Fonte: Biblioteca Central Pedro Zulen. Farmacoepidemiologia6 O estudo e a aplicação de métodos, conhecimentos e raciocínio epidemiológico aos efeitos (benéficos ou adversos) relacionados ao uso dos medicamentos pela população foi denominada farmacoepidemiologia. Sua origem encontra-se na farmacovigilância, desenvolvida a partir da observação dos efeitos adversos dos medicamentos iniciada por volta dos anos 1950. A farmacoepidemiologia tem por objetivo medir e explicar a variabilidade resultante do uso de medicamentos numa população com a aplicação de métodos epidemiológicos a dados obtidos em trabalhos de farmacologia clínica e terapêutica. A farmacoepidemiologia, segundo Strom (2005), é definida como "o estudo do uso e os efeitos das drogas em um grande número de pessoas". 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/b75ea89223ef0f3ca60e54aa90c02285.jpeg https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/b75ea89223ef0f3ca60e54aa90c02285.jpeg Tipos de estudos epidemiológicos6.1 Tipos de estudos epidemiológicos Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/365748171". É o tipo de investigação em que o pesquisador estuda os efeitos da exposição ou não a um determinado fator. O pesquisador decide quais elementos serão expostos ou não ao referido fator; portanto, há intervenção do investigador nesses estudos. Quando compara indivíduos expostos com outros não expostos ao referido fator, estará conduzindo um ensaio clínico controlado. O ensaio clínico controlado randomizado é o padrão ouro em pesquisa para a obtenção de evidências clínicas para o cuidado à saúde. É baseado na comparação entre duas ou mais intervenções, que são controladas pelos pesquisadores e aplicadas de forma aleatória nos grupos de participantes. Figura – Estudos Epidemiológicos Fonte: PureSolution/Shutterstock. Estudos experimentais6.1.1 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/99615ce8d740998779a531017567eac0.jpeg https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/99615ce8d740998779a531017567eac0.jpeg Em setembro de 2008, o Ministério da Saúde anunciou oficialmente o lançamento do maior estudo já desenvolvido na área de epidemiologia na América Latina, o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto. Conhecido como ELSA Brasil, é uma pesquisa pioneira sobre doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares, e seus fatores de risco na população brasileira. Criado a partir de uma chamada pública lançada, em 2005, pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, o ELSA reúne investimentos de mais de R$ 22 milhões do Governo Federal. Saiba mais sobre o ELSA em: scielo.br [https://www.scielo.br/j/rsp/a/zVxyNzGGLfVksY7Pfk7DPRP/?format=pdf&lang=pt] Estudos observacionais6.1.2 Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/957835387". Estudos em que a informação é sistematicamente colhida e não há uma intervenção ativa do investigador. Observações sistemáticas, especialmente ao longo do tempo, podem permitir conclusão causal, portanto, deve-se respeitar a eficácia desse modelo. Os estudos observacionais podem ser descritivos e analíticos: Estudos descritivos Descrevem uma situação, por exemplo, a distribuição da doença na população em relação ao sexo, idade ou outras características. Podem ser realizados durante períodos de tempo específicos ou em diversos países. Estudos analíticos 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://www.scielo.br/j/rsp/a/zVxyNzGGLfVksY7Pfk7DPRP/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/rsp/a/zVxyNzGGLfVksY7Pfk7DPRP/?format=pdf&lang=pt Geralmente feito pela formulação de hipóteses na tentativa de explicar uma situação, por exemplo: Por que a mortalidade é alta nesse grupo de pessoas? A queda da incidência de gripe pode ser atribuída à vacinação? É comum serem baseados em estudos descritivos prévios. Os estudos observacionais, descritivos e analíticos, podem ser categorizados em transversais, longitudinais e do tipo caso-controle: Estudos transversais Esses estudos, também chamados estudos de prevalência, são muito utilizados na investigação epidemiológica. Medem simultaneamente, em uma população previamente delimitada, a exposição e o efeito no momento de sua realização. Por isso nem sempre é garantido, durante a coleta de dados, que a exposição tenha antecedido o efeito, o que dificulta a interpretação das eventuais associações. São estudos fáceis de realizar e de custo baixo. As informações obtidas são geralmente úteis na avaliação das necessidades de saúde das populações e no planejamento das ações para intervenções. Estudos longitudinais Esses estudos fornecem dados sobre eventos ou mudanças que ocorrem em determinado espaço de tempo. Os dados são coletados mais de uma vez e em diferentes períodos de tempo. O estudo longitudinal no qual um grupo de indivíduos é acompanhado por algum tempo é chamado estudo de coorte. Estudo de caso-controle6.1.3 Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/957835428". Esse tipo de estudo possibilita a comparação entre dois grupos de pessoas. Um dos grupos é composto por pessoas com uma determinada doença (variável de desfecho), e essas pessoas são denominadas casos. O outro grupo é composto por pessoas com características semelhantes aos casos, porém não sofrem da doença, e essas pessoas são denominadas controles. A comparação entre os dois grupos tem por objetivo identificar diferenças de exposição, no passado, a uma ou mais variáveis que possam ter contribuído para a ocorrência da doença. No caso de comprovação de associação estatisticamente significante entre uma variável e a doença, essa passa a ser chamada fator de risco. Tem como vantagem um custo 430.747.638-76- THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 relativamente barato, facilidade na execução e grande utilidade na investigação de causas de doenças, especialmente as doenças raras. Os estudos de caso-controle possibilitam o estudo de várias causas possíveis de uma doença, uma vez que se pode estudar qualquer número de exposições como potenciais fatores de risco usando os mesmos casos e controles. Tabela – Tipos de desenho de pesquisa em função da presença de grupo controle, acompanhamento dos pacientes no tempo e intervenção do pesquisador Fonte: href="http://www.scielo.br/pdf/ramb/v50n2/20787.pdf" target="_blank">scielo.br. Apesar de existir o conceito de que o ensaio clínico controlado e randomizado (experimental) seja o padrão ouro da pesquisa clínica, e o estudo de coorte prospectivo (observacional) o melhor tipo de estudo em sua modalidade, nem sempre é possível aplicá-los em todas as questões científicas. É papel do pesquisador, definir qual o melhor tipo de estudo para sua pesquisa. Frequentemente existe uma hipótese envolvendo uma proporcionalidade entre uma exposição e um efeito. A dificuldade na farmacoepidemiologia é que um efeito clínico pode ser consequência de muitos fatores. O que se quer determinar é em que grau essa ocorrência está ligada ao uso do fármaco. A farmacoepidemiologia pode ser aplicada em dois momentos, no período de pré-marketing de um novo medicamento e na última fase de testes, os ensaios clínicos, quando se avalia a eficácia e a margem de segurança do fármaco em pequenos grupos de indivíduos. Os estudos de pré-comercialização, de maneira geral, são realizados com poucos pacientes e excluem as gestantes, idosos e crianças. Também não são incluídos nesses estudos indivíduos que apresentem outras doenças. As doses utilizadas nos estudos geralmente são mantidas e as condições de seguimento são rigorosas. Além disso, costumam ser de curta duração, de dias a semanas. Toda esta situação faz com que a estratégia nos estudos de pré- comercialização seja artificial e bastante diferente da prática clínica habitual. Assim sendo, os efetuados na população, chamados pós-comercialização, quando o medicamento já está no mercado, pode fornecer dados importantes sobre sua segurança e efeitos nos grupos não previamente investigados. Além disso, podem ser detectados efeitos raros ou retardados ao uso. 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/76a4f917b5ec6237d7777576fd6dadb5.jpeg https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/76a4f917b5ec6237d7777576fd6dadb5.jpeg Estudos de utilização de medicamentos6.2 Estudos de utilização de medicamentos Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/365748220". Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/957835468". A Organização Mundial da Saúde define os Estudos de Utilização de Medicamentos como os estudos “que compreendem a comercialização, distribuição, prescrição, dispensação e uso de medicamentos em uma sociedade, com especial ênfase em suas consequências sanitárias, sociais e econômicas” (DUKES, 1993). Nos Estados Unidos eles são descritos como um processo dinâmico cujo principal objetivo é uma prescrição de medicamentos racional. Todas as definições de estudos de utilização de medicamentos apontam para o uso racional, que dita que os profissionais da saúde devem garantir que o paciente receba o medicamento 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 prescrito na dose e horários corretos, pelo período de tempo necessário, com o menor custo possível. Alcançar tais resultados envolve diferentes profissionais que devem ter conhecimento da terapêutica e dos aspectos sociais e econômicos na aplicação desses recursos. O uso racional dos medicamentos é um processo complexo que a Organização Mundial da Saúde define como a prescrição do medicamento apropriado, disponibilidade a preço acessível, dispensado e administrado corretamente; o medicamento deve ser eficaz, de qualidade e inócuo. Atingir um resultado ideal depende de várias etapas, desde a fabricação do medicamento até a administração ao paciente. Nos países em desenvolvimento temos vários problemas que comprometem esses resultados, desde a comercialização de produtos ineficazes, acesso limitado às informações sobre medicamentos, atenção farmacêutica precária para os pacientes e pouca adesão aos tratamentos até por falta de recursos. Outro agravante para a população é o grande risco das iatrogenias decorrentes do uso irracional e suas consequências econômicas. Estudos de autores norte-americanos demonstram que para cada dólar gasto em medicamentos existe um componente agregado que quase o duplica, por causa do tratamento dos problemas relacionados aos medicamentos, como internações ou seu prolongamento e utilização de outras práticas complementares. Está comprovado que o aumento do número de medicamentos ingeridos aumenta significativamente a possibilidade de reações adversas ou interações que dificultam o sucesso terapêutico. Sendo os medicamentos responsáveis por até 50% dos orçamentos dos estabelecimentos de saúde, o uso desmedido dos medicamentos pode levar a uma situação de alteração dos orçamentos para outros itens, ou medidas restritivas na dispensação, somente considerando o fator financeiro e não o terapêutico. O grande problema não é só reduzir os gastos que são excessivos, mas também identificar se os recursos estão sendo bem aplicados. Os estudos de utilização de medicamentos (EUM) auxiliam a responder estas perguntas, e o mais importante, possibilitam que se tomem medidas para corrigir os possíveis desvios e distorções considerando o perfil de utilização e as tendências do próprio país, região ou instituição. Nos últimos anos houve um crescimento importante dos estudos de utilização em diversos países. Os estudos de utilização incluem aqueles que podem ser realizados dentro do seu conceito, entre os quais se mencionam: Estudo de oferta de medicamentos (tem implícito o conceito de seleção de medicamentos); Estudos quantitativos de consumo de medicamentos; Estudos qualitativos sobre a qualidade da prescrição; Estudos sobre hábitos de prescrição médica; Estudos de cumprimento da prescrição médica; Vigilância orientada a problemas específicos; Planejamento; Organização; e Estudos para avaliar o impacto de intervenções específicas. 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 Esses estudos se realizam, tanto em países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, buscando os mesmos objetivos: obter informações adequadas para selecionar os medicamentos necessários no tratamento das doenças prevalentes, para que se invista o estritamente necessário dos recursos, e que tanto a prescrição médica como o uso pelos pacientes sejam de acordo com os padrões desejados.O estudo quantitativo de consumo de medicamentos se desenvolveu como resposta à necessidade de converter e padronizar dados internacionais de estatísticas de vendas ou de consumo de estoques de farmácia para unidades de significado médico, para obter dados estimados de pessoas expostas a um medicamento ou grupo de medicamentos. Segundo Capellà e Laporte (1997) as aplicações do estudo quantitativo de consumo de medicamentos são: Descrição do consumo de medicamentos numa área determinada; Detecção de desvios no consumo; Detecção de diferenças internacionais e nacionais no consumo; Avaliação de programas de intervenções (ações reguladoras, ações informativas); e Denominador do consumo para o estabelecimento de análises benefício-risco. Outro tipo de estudo de utilização bastante usado é o chamado revisão da utilização. Foi desenvolvido nos EstadosUnidos e é frequentemente usado nos hospitais norte-americanos. É definido como um sistema autorizado e estruturado que se desenvolve para melhorar a qualidade do uso de medicamentos. O termo “autorizado” denota o respaldo da diretoria e dos profissionais envolvidos, e “estruturado” porque se definem claramente os objetivos e métodos para o estudo. O desenvolvimento desses estudos de utilização foi favorecido pela tecnologia avançada, com um grande enfoque para os estudos de qualidade de prescrição. A diferença do método quantitativo para o de qualidade de prescrição é que este permite estabelecer como se usam os medicamentos, enquanto o primeiro só quantifica o consumo. Para o desenvolvimento dos estudos de utilização qualitativos é preciso estabelecer critérios de uso, tais como dose, duração de tratamento e ajustes posológicos, que são comparados com a utilização real. Os desvios detectados são corrigidos por meio de intervenções como programas de educação continuada, recomendações incluídas no guia farmacoterapêutico, limitações de prescrições a certas especialidades médicas e outras. As informações fornecidas por estes estudos são valiosas para a instituição e para o serviço farmacêutico. Esta tecnologia é conhecida no Brasil como prescrição eletrônica. Os EUM classificam-se em retrospectivos, que são realizados depois que o paciente recebeu o medicamento, sem possibilidade de modificar a terapia; e em prospectivos, que são realizados antes da administração dos medicamentos, com a possibilidade de modificá-la se necessário. Os estudos retrospectivos se iniciam com a identificação de um problema que se observa nas bases de dados de consumo dos medicamentos: Gastos muito altos de um medicamento ou grupo terapêutico; Consumo muito elevado de um medicamento; Consumo elevado de medicamentos com indicações muito específicas e padrões de uso muito bem definidos; e 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 Riscos de reações adversas e altos custos no seu tratamento. Identificado o problema, todas as prescrições de um determinado período são revisadas retrospectivamente e comparadas com os padrões estabelecidos, para definir a qualidade da prescrição. Quando já se tem as variáveis estudadas e a identificação dos prescritores, realiza- se a intervenção, que em geral são medidas educativas. Os estudos prospectivos são mais recentes e se realizam pela farmácia que possui a tecnologia de prescrição eletrônica. Quando o programa identifica um possível problema, gera um sinal. Nesses casos, o farmacêutico avalia a prescrição, verifica se existe a necessidade de alteração e informa o médico para que ele realize as modificações pertinentes. Metodologia aplicada nos estudos de utilização 6.3 Metodologia aplicada nos estudos de utilização de medicamentos Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/365748279". 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 Classificação dos medicamentos6.3.1 Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/957835517". Desde os primeiros estudos de utilização havia a necessidade de um sistema de classificação de medicamentos aceito internacionalmente. O estabelecimento de um sistema de classificação é essencial não só em comparações internacionais, mas também nos estudos de acompanhamento de consumo nacionais, na análise das mudanças no consumo ao longo do tempo, nas informações sobre os medicamentos e no seu uso (Capellà e Laporte, 1997). Figura – Medicamentos Fonte: Poznyakov/Shutterstock. O campo de pesquisa de utilização de medicamentos tem atraído um crescente interesse desde os anos 1960. Um trabalho pioneiro, The consumption of drugs: report of a drug study (1966-1967), foi feito por dois consultores da WHO Regional Office for Europe, Arthur Engel e 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/9be8579141ce1cc27caacf440e9e66b5.jpeg https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/9be8579141ce1cc27caacf440e9e66b5.jpeg Pieter Siderius. Este estudo mostrou grandes diferenças no padrão de consumo dos medicamentos em seis países europeus durante o período de 1966 a 1967. Em 1969, em um Simpósio sobre Consumo de Medicamentos em Oslo, o Drug Utilization Research Group (DURG) foi formado e incumbido para desenvolver métodos de aplicabilidade internacional para pesquisa de consumo de medicamentos (Ronning et al., 2000). Já existia um sistema de classificação utilizado pela European Pharmaceutical Market Research Association (EPhMRA) e pelo International Pharmaceutical Market Research Group (IPMRG), oficial em muitos países da Europa e nos Estados Unidos, também utilizada pelo Intercontinental Marketing Services (IMS). Essa classificação tinha algumas limitações, pois classificava os medicamentos até o 3º nível, não permitindo a identificação de um princípio ativo determinado (Capellà e Laporte, 1997). Modificando e ampliando este sistema de classificação, o Norwegian Medicinal Depot (NMD) desenvolveu um sistema de classificação de medicamentos conhecido como Anatomical Therapeutic Chemical (ATC). No sistema de classificação ATC, os medicamentos são divididos em diferentes grupos de acordo com o órgão ou sistema onde o fármaco age, suas propriedades químicas, farmacológicas e terapêuticas. Os medicamentos são classificados em 14 grupos principais: A - Aparelho digestório e metabolismo B - Sangue e órgão hematopoiéticos C - Aparelho Cardiovascular D - Medicamentos dermatológicos G - Aparelho geniturinário e hormônios sexuais H - Preparações hormonais sistêmicas, excluindo hormônios sexuais e insulinas J - Anti-infecciosos gerais de uso sistêmico L - Agentes antineoplásicos e imunomoduladores M - Sistema musculoesquelético N - Sistema nervoso P - Produtos antiparasitários, inseticidas e repelentes R - Aparelho respiratório S - Órgãos dos sentidos V - Vários São classificados em subgrupos em até cinco diferentes níveis: Órgãos ou aparelhos (1º nível); Ex. J – Anti-infecciosos gerais de uso sistêmico. Grupo Terapêutico (2º nível); Ex. J01 – Penicilinas (grupo terapêutico principal) Subgrupo terapêutico (3º nível); Ex. J01C – Penicilinas de amplo espectro Subgrupo químico (4º nível); Ex. J01CA – Ampicilina e antibióticos similares Substância química (5º nível). Ex. J01CA04 – Amoxicilina 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 O sistema ATC adotado pelos países nórdicos é recomendado pelo DURG da OMS para ser usado nos estudos da utilização de medicamentos (Ronning et al., 2000). Dose Diária Definida (DDD)6.3.2 Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link: "https://player.vimeo.com/video/957835570". No Simpósio sobre Consumo de Medicamentos em Oslo, o Drug Utilization Research Group (DURG) também foi incumbido de criar uma unidade de medida padrão para avaliar o consumo de medicamentos. O Norwegian Medicinal Depot (NMD) desenvolveu uma unidade técnica de medida chamada de Defined Daily Dose, ou Dose Diária Definida (DDD). Figura – Medicamentos Fonte: Seksan44/Shutterstock. A DDD é definida como a média assumida de dose diária para adultos na indicação principal do medicamento. Esta unidade tem sido usada na Noruega desde os anos 1970 (Ronning et al., 2000). 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/53773f81a882a996d9c97114ce39acf6.jpeg https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/53773f81a882a996d9c97114ce39acf6.jpeg O uso da DDD como uma unidade de medida possibilita comparativos estatísticos demedicamentos sem influência do período de tempo; entre regiões e países, independente das mudanças de preços e moeda corrente; e diferenças em classificação de medicamentos. A DDD não é uma dose recomendada, apenas uma unidade técnica de medida. A importância deste sistema foi permitir a medida dos dados de consumo de medicamentos, em parâmetros equivalentes, possibilitando estudos de comparação de utilização de medicamentos entre instituições, regiões ou países. Quando apropriado, a DDD de um medicamento é revisada e trocada de acordo com resultados reais de pesquisa. Neste caso, estudos de tendência devem ser especialmente levados em consideração. A lista atual das DDD é resultado de um trabalho multidisciplinar de farmacologistas, farmacêuticos e clínicos, considerando as recomendações da literatura médica, do fabricante e da experiência clínica com o medicamento. A DDD pode ser usada para estimar e comparar o consumo de medicamentos em hospitais nas bases de dados da farmácia hospitalar. O sistema de DDD para uso em estudos é apontada como uma ferramenta para estudos de utilização de medicamentos e revisão de terapêuticas medicamentosas. Na América do Norte, estudos de consumo e utilização de medicamentos focaram a prescrição de um único médico e utilização de medicamentos por um paciente individual. Os escandinavos se voltaram para um foco macroscópico, o total de consumo de medicamentos por estado ou país ou qualquer outra definição de região política ou geográfica. A metodologia é adequada para comparações de vendas e prescrições, não somente entre área, mas através do tempo. Por exemplo, as DDD por 1000 habitantes-dia têm sido usadas para demonstrar diferenças nacionais e internacionais na utilização de antibióticos, antidiabéticos, medicamentos com ação cardiovascular e psicotrópicos. Ela relaciona-se a diferenças na prevalência das doenças e fatores de risco e serve como indicador do uso excessivo de agentes hipnóticos, ansiolíticos, conduzindo a medidas efetivas contra esse uso e suas consequências. Alega-se que a DDD só pode ser usada em nível populacional, o que é incorreto. Possivelmente, esse mal entendido é causado pela confusão da unidade DDD com a DDD/1000 habitantes-dia. Obviamente, a DDD pode ser usada em nível individual, conforme falamos, e inclusive tem sido usada para medir o uso de medicamentos anti-hipertensivos em pacientes individuais e para estimar os efeitos de intervenções na redução do uso individual desses medicamentos. A informação obtida usando a metodologia da DDD em estudos retrospectivos é válida, porque o cálculo da DDD é independente da forma de dosagem, de classificação e dos preços, tornando possíveis os estudos internacionais retrospectivos. Nos hospitais o uso da DDD/100 pacientes-dia foi adotada como uma unidade de medida para o estudo de utilização de diferentes medicamentos. O cálculo é feito dividindo o consumo do medicamento durante um período de tempo pelo número total de pacientes/dia no mesmo período considerado. Deve ser usada a mesma 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 unidade de medida no medicamento e sua respectiva DDD como grama, miligrama, micrograma, miliequivalente ou unidades internacionais. A interpretação do termo paciente-dia e leito-dia gera alguma confusão, porém, são termos distintos; assim, leito-dia é cama à disposição do doente durante um dia, e paciente-dia é um doente ocupando leito durante um dia. Este tipo de relação de consumo permite uma avaliação comparativa, eliminando desvios tais como taxa de ocupação ou número de dias de cada mês. O consumo numa dada área geográfica é expresso em DDD/1000 habitantes/dia. O número de DDD consumidas é calculado de acordo com a fórmula: O resultado indica o número de pessoas, em cada mil, que podem estar recebendo o tratamento padrão em DDD daquele medicamento no período de um ano. O cálculo do consumo em hospitais é expresso em DDD/100 pacientes/dia. O número de DDD consumidas é calculado de acordo com a fórmula: í - í O sistema ATC e a ferramenta DDD são hoje usados internacionalmente, recomendados pela OMS e estão disponíveis no seu site. Cálculo da Dose Diária Definida (DDD)6.4 Os dez primeiros medicamentos de maior gasto, entre 534 itens da padronização de um hospital particular, alcançaram quase 41% em relação ao total dos gastos de um ano. Figura - Percentual dos dez primeiros medicamentos de maior gasto Resultado de estudo de uso de medicamentos com metodologia ATC/DDD 6.5 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 Fonte: Crozara, 2001. O saneamento básico é um dos fatores determinantes da saúde. Há um reconhecimento científico quanto à relação de causalidade entre condições inadequadas de saneamento básico – como abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos e drenagem – e o quadro de saúde pública em um determinado local e momento. Saiba mais sobre a associação entre a cobertura por serviços de saneamento e indicadores epidemiológicos nos países da América Latina acessando o artigo a seguir: scielosp.org [http://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v32n6/a05v32n6.pdf] Considerações finais Foram apresentados os princípios da farmacovigilância, a qual consiste na ciência e nas atividades relativas à detecção, avaliação, compreensão e prevenção de efeitos adversos ou quaisquer outros possíveis problemas relacionados a medicamentos. Também foram apresentados os princípios da farmacoepidemiologia, cujo desenvolvimento como disciplina não teria ocorrido sem os esforços colaborativos da indústria farmacêutica e das universidades. Além do histórico dos medicamentos, seus gastos, riscos e benefícios, foi comentada a questão da infraestrutura das bases de dados, registros e estudos publicados para apoiar as atividades de vigilância pós-comercialização, que podem, em grande parte, ser atribuídas às necessidades da indústria farmacêutica e das autoridades em medicamentos. Autoria Autora Marisa Aparecida Crozara 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/cf852c00568b82a7a43bc5ea05c5616f.png https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator_realize/images/cf852c00568b82a7a43bc5ea05c5616f.png http://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v32n6/a05v32n6.pdf http://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v32n6/a05v32n6.pdf Possui graduação em Farmácia e Bioquímica pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (1980) e mestrado em Curso de Pós-Graduação em Fármaco Medicamentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (2001). Possui especialização em Administração de Instituições de Saúde pela Fundação Getúlio Vargas (1985). Atualmente, é professora visitante do curso de especialização da Universidade IPOG, professor visitante do Instituto de Pós-Graduação da Universidade Oswaldo Cruz. Tem vasta experiência na área de Farmácia Hospitalar com ênfase em Farmacovigilância, Atenção Farmacêutica, Farmacoeconomia e presta consultorias a empresas da área. Glossário Composto xaroposo higroscópico, doce, venenoso, produzido de óxido de etileno (por exemplo, pela reação etileno-glicol) e usado principalmente como solvente, umectante, plasticizante e na produção de resinas de poliéster. Fonte: dicio.com.br/dietilenoglicol [https://www.dicio.com.br/dietilenoglicol/] É uma série potencialmente fatal de contrações descoordenadas, ineficazes e muito rápidas dos ventrículos (câmaras inferiores do coração) causadas por múltiplos impulsos elétricos caóticos. Fonte: msdmanuals.com/fibrilacaoventricular [https://www.msdmanuals.com/pt- br/casa/dist%C3%BArbios-do-cora%C3%A7%C3%A3o-e-dos-vasos- sangu%C3%ADneos/arritmias-card%C3%ADacas/fibrila%C3%A7%C3%A3o-ventricular] Dietilenoglicol Fibrilação ventricular Bibliografia CAPELLÀ, D.; LAPORTE, J. R. Métodosempregados em estudos de utilização de medicamentos. In: STORPIRTIS, S., ed. Apostila IV do Curso de Especialização em Farmácia Clínica Hospitalar (Mod. IX). São Paulo: [s.n.], 1997. CARIAS, Claudia Mezleveckas et al. Medicamentos de dispensação excepcional: histórico e gastos do Ministério da Saúde do Brasil. Revista de Saúde Pública [online], v. 45, n. 2, pp. 233- 240, 2011. CROZARA, M. A. Estudo do consumo de medicamentos em hospital particular. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas). Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. DOHERTY, Martin J. Algorithms for assessing the probability of an Adverse Drug Reaction. Respiratory Medicine CME, v. 2, n. 2, p. 63-67, 2009. ISSN 1755-0017. Disponível em: sciencedirect.com [https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1755001709000050? via%3Dihub] . Acesso em: 27 maio 2024. Bibliografia Clássica 430.747.638-76 - THIAGO LIMA SOUZA - Impresso em 11/08/2025 13:58 - 133 00 00 13 30 00 06 07 76 00 00 https://www.dicio.com.br/dietilenoglicol/ https://www.dicio.com.br/dietilenoglicol/ https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-do-cora%C3%A7%C3%A3o-e-dos-vasos-sangu%C3%ADneos/arritmias-card%C3%ADacas/fibrila%C3%A7%C3%A3o-ventricular https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-do-cora%C3%A7%C3%A3o-e-dos-vasos-sangu%C3%ADneos/arritmias-card%C3%ADacas/fibrila%C3%A7%C3%A3o-ventricular https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-do-cora%C3%A7%C3%A3o-e-dos-vasos-sangu%C3%ADneos/arritmias-card%C3%ADacas/fibrila%C3%A7%C3%A3o-ventricular https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-do-cora%C3%A7%C3%A3o-e-dos-vasos-sangu%C3%ADneos/arritmias-card%C3%ADacas/fibrila%C3%A7%C3%A3o-ventricular https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1755001709000050?via%3Dihub https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1755001709000050?via%3Dihub https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1755001709000050?via%3Dihub DUKES. M. N. G. Drug Utilization Studies. Methods and Uses. Copenhagen: WHO Regional Publications/WHO Regional Office for Europe, 1993. INSTITUTO DE DIREITO SANITÁRIO APLICADO (IDISA). Medicamentos excepcionais e prioridades de saúde no Brasil. Disponível em: idisa.org.br [https://idisa.org.br/site/documento_4062_0__medicamentos-excepcionais-e-prioridades-de- saude-no-brasil.html] . Acesso em: 23 maio 2024. OMS. Organização Mundial da Saúde. Segurança dos medicamentos: um guia para detectar e notificar reações adversas a medicamentos. Brasília: OPAS/OMS, 2004. RONNING M.; HARBO B. T.; STROM H.; HARR L.F.; BLIX H. S.; ULLERUD T. G. Guidelines for ATC classification and DDD assignment. 3ª ed. Oslo: WHO Collaborating Centre for Drug Statistics Methodology, 2000. SOBRAFO. Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia. Guia para notificação de reações adversas em oncologia. 2ª ed. 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