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Resenha do livro Nascimentos das Fábricas - DECCA

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A origem etimológica da palavra trabalho data do século XIV, mas com um significado diferente do utilizado hoje. Vindo do latim tripalium, um instrumento de tortura constituído por três estacas de madeira, trabalhar era a tortura dos que não podiam pagar impostos ou dívidas. A partir do latim, o termo passou para o francês travailler, que tem como significa sentir dor, sofrer. Com o passar do tempo, passou a ter outro uso, para determinar atividades exaustivas, difíceis. 
Um dos principais fatores para a mudança do significado da palavra trabalho, de uma atividade que se ligava ao esforço físico e sofrimento, para uma das mais valorizadas atividades humanas se deu pelo entendimento, por parte dos burgueses capitalistas, de que só seria possível deter parte do poder se houvesse o controle sobre a sociedade. E essa mudança teve forte apoio no surgimento da fábrica mecanizada, pois nela o homem pobre teve o primeiro contato com o mundo burguês e seus diferentes pensamentos sobre o valor do trabalho.
O pensamento da criação de novas tecnologias começa a ser retirado na criação das fábricas, pois o capitalista consegue forçar uma ideia de que já existe algo mais eficiente do que seria possivelmente pensado pelo operário. Isso faz com que pensemos numa lógica já definida, algo não controlado pelo mercado, mas por mecanismos de controle social. Essa inibição de raciocínio aparece para que exista um maior controle sobre o operário, ao lhe retirar saberes que eram conhecidos para reger uma ordem de domínio técnico e político. 
Um dos maiores dispositivos infligidos pela classe burguesa no relógio moral de cada homem foi a autodisciplina, o controle a si mesmo e a crítica a ociosidade, que conseguiram ser implantadas de tal maneira na classe trabalhadora que viajaram no tempo, e hoje em dia são regras normais da sociedade como um todo. Decca urge ao leitor para que perceba como as ideias de uma classe dominante afetaram todas as esferas da sociedade na época e como estas viraram os ideais dos dias de hoje. 
O putting-out system pode ser visto como o precursor do sistema de fábricas, mesmo com o processo de produção ainda controlado pelo trabalhador. Mas manter o controle de diversos empregados em diferentes localidades não era algo fácil para o capitalista, até porque grande parte dos seus produtos acabava sendo falsificada, desviada ou feita com matérias primas de qualidade inferior àquela fornecida. A ideia da criação da fábrica era justamente ter esse controle sobre os trabalhadores em um só lugar e de todo o processo de produção, assim criando uma maior hierarquização e uma maior disciplina no trabalho. 
As quatro razões enumeradas por David Dickson em Tecnologia Alternativa para a constituição do sistema de fábrica resumem bem os motivos da necessária criação desse sistema. O controle e comercialização de toda a produção dos artesãos é facilitado com a aglomeração destes em um único lugar. A maximização da produção através do aumento do número de horas e aumento da velocidade e ritmo de trabalho, pois com essa proximidade do capitalista, pode haver um maior controle sobre os horários dos funcionários. Controle de inovação tecnológica, para que essa só possa ser usada visando o acúmulo de capital, pois, se cada artesão pudesse modificar sua forma de manufatura, as matérias primas e maneiras de montagem utilizadas poderiam variar por toda a fábrica, assim diminuindo o controle imposto pelo capitalista, pois este teria que prover matérias primas diferentes ou talvez novos instrumentos. E a criação da organização que tornava imprescindível a figura do empresário capitalista, necessária para a criação da ordem na fábrica. 
A necessidade da criação das fábricas, embora pareça que tenha sido para a concentração do maquinário, mostra-se mais indispensável na parte organizativa e disciplinar, pois nela surgiu a imposição de um determinado padrão tecnológico, que seria um padrão para garantir a ordem, disciplina e controle na produção por parte do capitalista. Esse padrão não permitia avanços tecnológicos, mas fazia com que o controle e a hierarquia fossem empregados. 
Muitas das primeiras fábricas que obtiveram êxito em sua existência, conseguiram tal fato pela qualidade das suas direções, e não por uma substancial mudança na qualidade do trabalho. Isso se deve pelas novas relações de poder hierárquicas e autoritárias.
A luta dos trabalhadores contra esse sistema autoritário surgiu com o movimento dos quebradores de máquinas. Este movimento não era somente contra a existência do maquinário, mas sim como um mecanismo de pressão contra a nova direção das empresas e o marco organizador que essa tecnologia impunha. 
O que é interessante notar ao se pensar no engenho de açúcar é a sua peculiar organização de social de trabalho. De um lado o trabalho assalariado, técnico e hierarquizado, onde a disciplina foi imposta em função dos quadros de especialização no trabalho. Do outro lado o trabalho escravo, não qualificado, rotineiro e meramente quantitativo, onde a disciplina era imposta pela aplicação de um método de trabalho bem severo e autoritário, de modo a reduzir as formas de resistência ao trabalho servil.
A vitória do sistema fabril se deve não pelos avanços tecnológicos e utilização de maquinário, mas sim pela hierarquização difundida em sua implementação. O controle do processo produtivo fez com houvessem algumas revoltas no início, porém nas seguintes gerações foi possível perceber como a imposição dos novos valores de trabalho foram melhor difundidas entre as classes e, assim, resolvendo o problema da sua aceitação por parte dos novos trabalhadores.
Bibliografia: 
https://en.wikipedia.org/wiki/Putting-out_system
http://leandroeconomista.blogspot.com.br/2013/01/fichamento-decca-edgar-salvadori-de-o.html
http://dialogosdosubsolo.blogspot.com.br/2010/05/introducao-o-objetivo-do-presente.html

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