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SANTOS, Boaventura. Uma cartografia simbólica das representações sociais (RESUMO)

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SANTOS, Boaventura. Uma cartografia simbólica das representações sociais
Resumo 1	2
Introdução	2
Compreender os mapas	2
Uma cartografia simbólica do direito	3
O direito e a escala	4
O direito e a projeção:	5
O direito e a simbolização	6
Para uma concepção pós-moderna das representações sociais	8
Resumo 2	8
O direito e a escala	9
Resumo 1
“Uma cartografia Simbólica das representações sociais - Prolegómenos a uma concepção pós-moderna do direito.”
Introdução
Enquanto o pensamento clássico privilegiou as metáforas espaciais, o pensamento moderno privilegia as metáforas temporais. O privilegiar das metáforas temporais, e, portanto, do tempo, levou a que a história aspirasse a ser concebida como a ciência social global na qual todas as demais ciências sociais teriam seu fundamento.
O debate sobre o pós-modernismo se iniciou, ou pelo menos, toou fôlego, na arquitetura, a arte do espaço construído.
Enquanto na déc. De 70, a geografia tendera a reduzir o espaço às relações sociais ocorrendo no espaço. Nos últimos anos, ela começou a recuperar a dimensão espacial para investigar a sua eficácia específica sobre as relações sociais. Em outras palavras, trata-se agora de investigar o que especificamente do fato destas ocorrerem no espaço. O espaço é impensável sem o tempo. É melhor falar em uma entidade complexa: o espaço-tempo.
O autor se propõe, neste artigo, a demonstrar as virtualidades analíticas e teóricas de uma abordagem sociológica que tome por matriz de referência a construção e a representação do espaço.
São vários os modo de representar o espaço. Dentre eles, o autor selecionou os mapas, e dentre eles, os mapas cartográficos. Ele parte deles para analisar um fenômeno marcante do Estado e das sociedades modernas, o direito. A comparação proposta é entre os mapas e o direito. O direito é um conjunto de representações sociais, um modo específico de imaginar a realidade que, a seu ver, tem muitas semelhanças com os mapas (cartografia simbólica do direito). 
Essa abordagem tem um duplo mérito: 1) resolver alguns problemas da sociologia do direito até agora sem solução; 2) a concepção do direito em sociedade contribui para a construção de um pensamento pós-moderna do direito.
Compreender os mapas
A cartografia simbólica do direito pressupõe o conhecimento prévio dos princípios e procedimentos que presidem à produção e ao uso dos mapas, para o que recorro à ciência que os estuda de modo sistemático, a cartografia. 
Neste capítulo o autor discorre sobre mapas:
A principal característica estrutural dos mapas reside em que, para desempenharem adequadamente as suas funções, têm inevitavelmente de distorcer a realidade.
Mapa de Jorge Luís Borges: ele conta a história de um imperador que encomendou um mapa que fosse a representação exata de seu império, que devia ser fiel até o mínimo detalhe. Ao fim, conseguiram terminá-lo, o mapa que coincidia ponto por ponto com o império. Só havia um problema: ele não era muito prático, pois era do tamanho do império.
Para ser prático o mapa não pode coincidir ponto por ponto com a realidade. Os mapas distorcem a realidade através de 3 mecanismos principais: a escala, a projeção e a simbolização. 
Os mapas devem ser fáceis de usar. Daqui resulta uma permanente tensão entre representação e orientação. Como vimos no mapa de Borges, representação a mais pode impedir a orientação. Inversamente, uma representação muito rudimentar da realidade pode proporcionar uma orientação rigorosa. Mapas que privilegiam a representação: cartografia francesa, mapas-imagem; Mapas que privilegiam a orientação: mapas instrumentais. 
Escala: 1º grande mecanismo de representação/ distorção da realidade. Implica uma decisão sobre o grau de pormenorização da representação. Os mapas são sempre uma versão “miniaturizada” da realidade. O que torna o mapa tão útil é o seu gênio da omissão, é o reduzir da realidade à sua essência. A geografia tem contribuído muito para o estudo das escalas, quer das escalas de análise, quer das escalas de ação. Um dado fenômeno só pode ser representado numa dada escala. Mudar a escala implica mudar o fenômeno. 
O mecanismo da escala também se aplica à ação social. O poder tende a representar a realidade social e física numa escala escolhida pela sua virtualidade para criar os fenômenos que maximizam as condições de reprodução de poder. A representação/ distorção da realidade é um pressuposto do exercício do poder. 
Projeção: 2º grande mecanismo da produção de mapas. Para serem úteis, os mapas têm de ser facilmente manuseados e armazenados. É precisamente através da projeção que as superfícies curvas da terra são transformados em superfícies planas nos mapas. Em 1º lugar: os vários tipos de projeção não distorcem a realidade caoticamente. Por outro lado, as diferentes projeções distorcem diferentemente as várias características do espaço. 
A decisão sobre o tipo e o grau de distorção a privilegiar é condicionada por fatores técnicos, mas não deixa de ser baseada na ideologia do cartógrafo e no uso específico a que o mapa se destina. A 2º obs. sobre a projeção é que todos os mapas têm um centro, um espaço físico ou simbólico a que é atribuída uma posição privilegiada e à volta do qual se dispersam organizadamente os restantes espaços.
Simbolização: 3º grande mecanismo de distorção/ representação cartográfica da realidade. Diz respeito aos símbolos gráficos usados para assinalar os elementos e as características da realidade espacial selecionados. Os sinais icônicos são sinais naturalísticos que estabelecem uma relação de semelhança com a realidade representada. Os mapas podem ser feitos para serem vistos ou serem lidos.
Uma cartografia simbólica do direito
Essas características dadas acima sobre a cartografia ajudará a entender os conceitos e demais instrumentos analíticos em que se funda a cartografia simbólica do direito que o autor trata ao decorrer do texto.
Ele entende que circulam na sociedade não uma, mas várias formas de direito ou modos de juridicidade. O direito oficial, estatal, que está nos códigos e é legislado pelo governo ou pelo parlamento, é apenas uma dessas formas. Essas diferentes formas variam quanto aos campos da ação social ou aos grupos sociais que os regulam. Ele parte, desse modo, do pluralismo jurídico.
Ele procurará mostrar que as várias formas de direito têm em comum o fato de serem mapas sociais e de, tal como os mapas cartográficos, recorrem de mecanismos da escala, da projeção e da simbolização para representar e distorcer a realidade. E também mostrar que as diferenças entre elas podem se reconduzir a diferenças nos tipos de escala, de projeção e de simbolização utilizados por cada uma. 
Para tanto, ele recorre de vários estudos de sociologia do direito: feitos no Brasil, em Cabo Verde e, em Portugal.
O direito e a escala
Uma das virtualidades mais interessantes da cartografia simbólica do direito consiste na análise do efeito da escala na estrutura e no uso do direito. O Estado moderno assenta no pressuposto de que o direito opera segundo uma única escala, a escala do Estado. 
Nas duas última décadas, a investigação do pluralismo jurídico chamou a nossa atenção na existência de direitos locais nas diversas camadas sociais (zonas rurais, igreja, zonas marginais, etc). Trata-se de formas de direito infra-estatal, não oficial, informal, e mais ou menos costumeiro. 
Mais recentemente ainda, a investigação sobre as trocas econômicas internacionais permitiu detectar a emergência de uma nova lex mercatoria, um espaço jurídico internacional em que operam diferentes tipos de agentes econômicos cujo comportamento é regulado por novas regras internacionais e relações contratuais estabelecidas pelas empresas multinacionais, pelos bancos internacionais ou por associações internacionais dominadas por umas ou por outros.
Estes desenvolvimentos sócio-jurídicos revelam, pois, a existência de 3 espaços jurídicos diferentes a que correspondem 3 formas de direito: o direito local, o direito nacionale o direito mundial. O que distingue estas formas de direito é o tamanho da escala com que regulam a ação social. São criadas realidades jurídicas diferentes.
As diferentes ordens jurídicas operam em escalas diferentes e traduzem objetos empíricos eventualmentente iguais em objetos jurídicos distintos. Na prática social, porém, as diferentes escalas jurídicas interagem de diferentes maneiras. 
O direito tende a construir a realidade que se adequa à sua aplicação. Só podemos comparar interesses sociais e graus de consciência de grupo dentro do mesmo espaço sócio-jurídico e, portanto, no interior da mesma forma de direito.
A primeira implicação da identificação de diferentes escalas de juridicidade éo fenômeno da interlegalidade e para o seu complexo funcionamento. 
A segunda grande implicação tem a ver com os padrões de regulação associados com cada escala de legalidade. 
Estamos perante dois modos antagônicos de imaginar e construir a realidade, um adequado a identificar a posição e o outro adequado a identificar o movimento: 
1) A legalidade de grande escala, rica em detalhes. Essa forma de legalidade cria um padrão de regulação baseada na representação e adequado a identificar posições.
2) A legalidade de pequena escala, pobre em detalhes e reduz os comportamentos e as atitudes a tipos gerais e abstratos de ação. Esta forma de legalidade cria um padrão de regulação baseado na orientação e adequado a identificar movimentos.
A terceira e última implicação da análise das escalas de regulação jurídica diz respeito ao que o autor designa por Patamares de regulação. 
Qualquer que seja o objeto social regulado e o objetivo da regulação, cada escala de legalidade tem um patamar de regulação próprio com que define o que pertence à esfera do direito e o que é dela excluído. Este patamar é o produto da operação combinada de 3 patamares: o de detecção, o de discriminação e o de avaliação.
O direito e a projeção:
As formas de direito distinguem-se também segundo o tipo de projeção da realidade social que adotam. A projeção é o procedimento através do qual a ordem jurídica define as suas fronteiras e organiza o espaço jurídico no interior delas. 
A projeção não é um procedimento neutro. Tipos diferentes de projeção criam objetos jurídicos diferentes e cada objeto jurídico favorece uma certa formulação de interesses uma concepção própria de conflitos e dos modos de os resolver. 
Cada ordem jurídica assenta num fato fundador, um super-fato, ou uma super-metáfora, que determina o tipo de projeção adotado. As relações econômicas privadas constituídas no mercado são o super-fato em que se assenta o direito burguês moderno, do mesmo modo que a terra e a habitação concebidas como relações políticas e sociais são o super-fato subjacente ao direito não oficial das favelas do Rio de Janeiro.
Segundo o tipo de projeção adotado, cada ordem jurídica tem um centro e uma periferia. Isso significa, em primeiro lugar, que o capital jurídico de uma dada forma de direito não se distribui igualmente pelo espaço jurídico desta. Tende a concentra-se nas regiões centrais, pois é aí que é mais rentável.
Nessas regiões, o espaço é mapeado com mais detalhe e absorve mais recursos institucionais, tais como tribunais e profissionais do direito, e mais recursos simbólicos, como sejam os tratados dos juristas e a ideologia e cultura jurídicas dominantes.
O fato de cada tipo de projeção da realidade produzir um centro e uma periferia mostra que a mapeação jurídica da realidade social não tem sempre o mesmo grau de distorção. Tende a ser mais distorcida à medida que caminhamos do centro para a periferia do espaço jurídico. As regiões periféricas são também aquelas que em que é mais densa a interpenetração entre as várias formas de direito que convergem na regulação da ação social.
O segundo efeito da projeção diz respeito ao tipo de características do objeto social que são privilegiadas pela regulação jurídica. A este respeito o autor distingue dois tipos de projeção: a projeção egocêntrica e a projeção geocêntrica. 
A projeção egocêntrica privilegia a representação das características subjetivas e particulares das ações sociais, que, na aparência pelo menos, são de natureza predominantemente consensual ou voluntarista. 
A projeção geocêntrica privilegia a representação das características objetivas e gerais das ações sociais padronizadas que, na aparência pelo menos, são de natureza predominantemente conflitual. 
Segundo o tipo dominante de projeção adotado, podem distinguir-se duas formas de direito: o direito egocêntrico e o direito geocêntrico.
Há uma tensão crescente entre o direito geocêntrico dos Estados-nações e o novo direito egocêntrico dos agentes econômicos transnacionais.
Na opinião do autor, estamos a assistir a emergência de novos particularismos estruturalmente semelhantes aos estatutos pessoais e corporativos da sociedade antiga e medieval descritos por Max Weber.
As novas formas de particularismo, corporativismo e personalismo caracterizam-se pelo fato de este direito mundial ser talhado segundo os interesses das empresas ou bancos mais poderosos.
A análise do direito segundo os tipos de projeção permite-nos ainda ver a relatividade da distinção entre direito e fato, ou seja, entre a avaliação normativa e a descrição factual da realidade, uma distinção teorizada até à exaustão pela ciência jurídica. 
Clifford Geertz chama a nossa atenção para as diferenças nos modos como as várias culturas jurídicas constroem a diferença entre direito e fato. Os fatos, quando nomeados pelas normas, são já meros diagramas da realidade, como diria Geertz.
Nos termos da classificação de outro antropólogo, Pospisil, o direito geocêntrico produz uma justiça legalista. Ao contrário, o direito egocêntrico tende a apagar a distinção entre direito e fato e a ser mais exímio na fixação dos fatos do que na fixação das normas. Permite a explosão dos fatos e por essa razão pode dizer-se que produz uma justiça de fatos, para utilizar a expressão de Pospisil.
O direito e a simbolização
A simbolização é a face visível da representação da realidade. É o procedimento técnico mais complexo, pois que a sua execução é condicionada, tanto pelo tipo de escala, como pelo tipo de projeção adotados.
A semiótica, bem como a retórica e a antropologia cultural têm dado contributos importantes para o estudo da simbolização jurídica da realidade.
Do ponto de vista do autor, é necessário juntar a estes contributos o contributo da crítica literária e é precisamente a partir desta última que ele distingue dois tipos-ideais de simbolização jurídica da realidade: o estilo homérico e o estilo bíblico. Estas designações metafóricas referem-se a construções teóricas extremas de que as ordens jurídicas vigentes na realidade social se aproximam em maior ou menor grau.
Em seu entender, este contraste na representação da realidade verifica-se também na representação jurídica da realidade. 
Estilo jurídico homérico: quando a simbolização jurídica da realidade apresenta as duas seguintes características: por um lado, a conversão do fluxo contínuo da ação social numa sucessão de movimentos contínuos mais ou menos ritualizados, como por ex. A celebração de um contrato. E por outro lado, a descrição formal e abstrata da ação social através de sinais convencionais, referências e cognitivos.
Estilo jurídico bíblico: Cria uma juridicidade imagética e caracteriza-se pela preocupação em integrar as descontinuidades da interação social e jurídica nos contextos complexos em que ocorrem e em descrevê-las em termos figurativos e concretos através de sinais icônicos, emotivos e expressivos. 
Assim, embora o Estado moderno tenha um estilo predominantemente homérico, o estilo bíblico está presente e com grande intensidade noutras formas de direito que circulam na sociedade. 
Mas o contraste entre os dois estilos de simbolização é ainda mais evidente nas situações de pluralismo jurídico em que a prática social obriga a uma circulação permanente atravésde ordens jurídicas com estilos diferentes de simbolização.
Estudos empíricos feitos pelo autor que envolvem situações desse tipo:
Cabo Verde: é fácil concluir que a institucionalização da justiça popular depois da independência visa realizar uma síntese ou fusão entre o direito costumeiro local e o direito nacional do novo Estado. 
Lutas sociais e jurídicas no Recife: Revela que, tanto os moradores das favelas, como a Igreja Católica que os apoia, buscam uma relação de complementariedade momentânea e instável entre o direito não oficial das favelas e o direito nacional estatal.
Crise revolucionária da sociedade Portuguesa (1947 – 75): Resulta evidente que não há qualquer tentativa de complementariedade ou fusão, mas antes uma contradição aberta entre duas formas de direito, a legalidade democrática e a legalidade revolucionária.
Para uma concepção pós-moderna das representações sociais
Os mapas são objetos vulgares, triviais. Fazem parte do nosso cotidiano, ao mesmo tempo em que nos orientam.
Ao usar como metáfora de base um objeto tão comum e vulgar como o mapa, a cartografia simbólica do direito pretende contribuir para vulgarizar e trivializar o direito de modo a abrir caminho para um novo senso comum jurídico. O conhecimento científico moderno constitui-se contra o conhecimento do senso comum.
Do ponto de vista do autor, a ciência pós-moderna tem de estar suficientemente longe do senso comum existente para poder criticar e eventualmente recusar, mas, por outro lado, tem de estar suficientemente próxima dele para manter presente o único objetivo legítimo da ciência que é a constituição de um novo senso comum.
A cartografia simbólica do direito aqui tratada é uma das vias possíveis de acesso a uma ciência pós-moderna.
Ao longo do texto foram apresentados 2 componentes básicos de uma visão pós-moderna do direito:
1) pluralismo jurídico: Refere-se a sobreposição, articulação e interpenetração de vários espaços jurídicos misturados.
2) Interlegalidade: É dimensão fenomenológica do pluralismo jurídico.
As virtualidades da cartografia simbólica são fundamentalmente 3:
1) O modo de pensar e analisar as práticas institucionais dominantes sem depender das formas de auto-conhecimento produzidas pelos quadros profissionais que as servem.
2) A atenção a materialidade da sociologia e às regras específicas da sua eficácia.
3) Análise estrutural e análise fenomenológica. O divórcio entre estes dois tipos de análise constitui um dos calcanhares de Aquiles da sociologia moderna.
Os mapas são um campo estruturado de intencionalidades, uma língua franca que permite a conversa sempre inacabada entre a representação do que somos e a orientação que buscamos. A incompletude estruturada dos mapas é a condição da criatividade com que nos movimentamos entre os seus pontos fixos. 
Resumo 2
Perelman diz que, enquanto o pensamento clássico privilegiou as metáforas espacias, as pós modernas valorizam as metáforas temporais, sendo a historia a principal ciencia social na qual todas as outras se fundamentaram. Vem ocorrendo o renascimento espacial, da importância dada às metáforas espaciais. O pós modernismo tomou força na arquitetura. A propria geografia, que havia abdicado do estudo territorial para estudar as relações sociais, agora volta a estudar o espaço, para analisar o que ele influenciou nas relações sociais. 
Não se pode falar do espaço sem o tempo, um é dependente do outro. Sucessão de tempo é também sucessão de espaço, e vice-versa. Todos os aspectos da realidade são influenciados por conceitos pré-definidos de tempo- espaço, como as relações entre sociedade e Estado, de individuo e comunidade...
Analisando o direito a partir dos mapas cartograficos: 
O direito é um modo especifico de imaginar a realidade, assim como os mapas. Devemos ver o direito como um mapa, o que permitirá:
- criar uma conceitualização sociologa do direito autonoma da que tem sido elaborada pelos juristas, e isso permitirá criar um objeto teórico proprio da sociologia do direito.
- contribuirá para uma criação pós- moderna de direito.
Um mapa deve distorcer a realidade, mas isso nao implica em distorção da verdade, se os criterios de distorção da realidade forem conhecidos. Representação e orientação são dois pontos que `brigam' entre si quando da elaboração de um mapa, pois privilegiando-se um, abdica-se de outro. 
A escala é o primeiro mecanismo de distorção da realidade, decide o grau de representacão. Mapas envolvem decisões sobre coisas mais importantes a serem mostradas, de acordo com a escala. A escolha da escala define a função do mapa.
A escala também é utilizada por administradores e legisladores sociais, que definem as politicas em pequena escala e aplicam em grande escala. A distorção do poder é pressuposto do exercicio do poder. 
O segundo mecanismo para a projeção de um mapa é a projecção. Para um mapa ser util, ele deve ser de fácil manuseio e armazenamento, ou seja, deve ser posto em papel. Isso requer distorção, mas distorção organizada. A opção por que tipo de distorção será adotado depende da ideologia do cartógrafo e na finalidade do mapa.
Todo mapa deve ter um centro, considerando as regiões periféricas como menos importantes. 
O terceiro mecanismo de distorção da realidade é a simbolização, já que simbolos são utilizados para representar elementos no mapa, como terra e mar. Sinais icónicos apresentam semelhança com a realidade a ser representada; sinais convencionais são mais gerais, não apresentam simbolos semelhantes a realidade. Os mapas podem variar de finalidade, podem ser para serem lidos ou vistos. 
Circulam, hoje em dia, diversas formas de direito, sendo o estatal, que está nos códigos, somente uma delas. Essas formas variam de acordo com o campo de atuação, com quem regula, com a durabilidade, com o modo que lida com conflitos, com o modo de reprodução da legalidade e distribuição de conhecimento juridico. As varias formas de direito tem em comum o fato de serem como mapas, e utilizarem escalas e projeções para distorcer a realidade.
O direito e a escala
O Estado moderno parte do pressuposto que só existe uma escala para o direito, a estatal. Por muito tempo a sociologia do direito aceitou isso. Nas duas ultimas décadas, começou-se a investigar o pluralismo juridico, como as formas de direito infra-estatal, de zonas perifericas, zonas rurais, igrejas... Além disso, o capital transnacional criou um espaço juridico transnacional, direito mundial, supra- estatal sendo, geralmente informal. Esse direito cria sua oficialidade a medida que vincula o direito estatal e também o internacional publico.
Há 3 espaços juridicos que conrrespondem a 3 formas de direito: direito local, nacional e mundial. O que os difere é o tamanho da escala que utilizam para regular as ações sociais, e criam realidades juridicas diferentes. Objetos impiricos iguais (fatos iguais) podem se transformar em objetos juridicos diferentes, tendo relevancia diferente. 
A vida socio-juridica é constituida por diferentes espaços juridicos que operam simultaneamente e com escalas diferentes. É mais importante estudar as relações entre os espaços juridicos e suas escalas do que cada um individualmente.
Identificar e analisar diversas escalas de juridicidade é importante para
1) analisar a interlegalidade;
2) analisar os padroes de regulação referentes a cada escala (redes de ações). Em uma favela, o direito local seria de grande escala, valorizaria os pormenores da favela. O direito estatal seria de pequena escala, e representaria as relações da comunidade para com o Estado. 
Os diferentes tipos de escala condicionam a rede de ações, que são definidas por limites. Os limites podem ser pré-definidos pelo âmbito ou pela ética das interações. 
- Segundo o âmbito: redes de ações estratégicas (pequena escala) ou táticas (grande escala). 
- Segundo a ética: redes de ações instrumentais (pequena escala) ou edificantes (grande escala). 
As sociedades que estão mergulhadas em uma determinada escala, vaise comportar de acordo com as redes de ações daquela escala, com aquela legalidade. Quando houver interlegalidade, ou seja, quando a legalidade de pequena escala se cruzar com a de grande escala, haverá embate. 
 3) patamares de regulação. Cada escala de legalidade tem um patamar de regulação, que possui 3 níveis:
- patamar de detecção. Distingue o relevante do irrelevante para sofrer regulação.
-patamar de discriminação. Identifica diferenças das ações, que permitem ou não empregar regulação especial. Detecta o que deve ser tratado como igual ou diferente. 
- patamar de avaliação. Distingue o legal do ilegal, define o sentido da regulação de acordo com a ação.
As formas de direito também se distinguem de acordo com a projeção da realidade social que adotam. Tipos diferentes de projeção criam objetos jurídicos diferentes, e cada objeto jurídico ve os conflitos de formas diferentes, assim como a forma de resolve-los. De acordo com a projeção, cada ordem jurídica tem seu centro e periferia. Ex: direito burguês tem centro na economia, direito das favelas tem centro na posse de terras. O capital jurídico de uma determinada forma de direito se concentra no seu centro. Nas áreas periféricas é comum haver penetração de mais de uma forma de direito. 
O objeto varia de acordo com a projeção. Pode-se diferenciar projeção egocêntrica de projeção geocêntrica. A egocêntrica privilegia características subjetivas e individuas das ações sociais, enquanto a geocêntrica privilegia as características objetivas e gerais. Dai resulta o direito egocêntrico e o direito geocêntrico.
Weber diz que houve uma passagem do direito egocêntrico para o greocentrico, visto que no passado o direito surgiu para fins consensuais e pertencia a uma determinada classe social. As pessoas eram classificadas pelo direito através da sua classe, cada indivíduo possuía uma qualidade jurídica própria. Tanto era assim que havia o jus civile (para romanos) e o jus gentis (para nao romanos). O desenvolvimento do direito terrae, de toda a gente, que seria um direito geocêntrico, foi muito lento. Esse processo, segundo, Weber, culminou na Revolução social, quando o estado passou a controlar todos por um direito geral e abstrato. 
Weber entende que, ainda hoje, em determinados lugares ainda existe um direito mais particular, mas esse se restringe a área de atuação que lhe foi delimitada. Não pode-se dizer que hoje impera o direito geocêntrico absoluto, pois ainda se ve novas formas de direito egocêntrico. Isso fica muito claro nos casos nos quais se abdica do direito nacional a favor de tratados internacionais, que favorecem empresas transnacionais. Conflito entre direito geocêntrico dos Estados-nações e o direito egocêntrico das empresas transnacionais.
A diferença entre direito e fato muda muito de acordo com a projeção. O direito geocêntrico, por ser mais geral e objetivo, tende a radicalizar a distinção entre a normatividade e a realidade fática, se preocupa mais com as normas abstratas. O direito egocêntrico reduz a distancia entre norma e fato, se importando muito mais com o fato. 
Há dois tipos de simbolização jurídica da realidade: o estilo homérico e o estilo bíblico. Esses são tipos ideias, os tipos jurídicos se aproximam mais ou menos desses tipos.
Estilo homérico: representação jurídica da realidade converte o fluxo continuo das ações sociais em ações descontinuas, e descreve formalmente e abstratamente a ação social. Juridicidade instrumental.
Estilo bíblico: juridicidade imagética. Se preocupa em integrar descontinuidades das ações sociais e jurídicas, e descreve-las através de sinais expressivos e emotivos.
Em todo período histórico há uma tensão entre esses estilos. O direito mundial emergente, das transnacionais, possui estilo bíblico. Um mesmo juiz pode alternar entre esses dois estilos, dependendo do caso. 
Legalidade democrática e legalidade revolucionaria são duas formas de direito que não buscam se complementar, visto que uma contradiz a outra. A legalidade democrática procura isolar a representação jurídica da realidade da crise revolucionária, e para isso distingue direito e fato e descreve a realidade de forma formal e abstrata, estilo homérico. A legalidade revolucionária busca integrar a representação jurídica com o contexto social que tem lugar, e pra isso não distingue norma e fato e utiliza descrição figurativa e informal, estilo bíblico.
Pluralismo, para o autor, não significa a coexistência de duas ou mais ordens jurídicas autônomas e geograficamente segregadas, como é para a antropologia jurídica, mas trata-se da sobreposição de vários espaços jurídicos misturados. 
Interlegalidade é um processo dinâmico, porque as diversas escalas, projeções e simbolizações são diferentes, portanto a mistura sempre será instável. 
A fragmentação da realidade e da legalidade pressuposta é uma construção social por meio da escala, da projeção e da simbolização. Como o direito Estatal é o vigente, os indivíduos tendem a não reconhecer como como jurídicas as ordens normativas que utilizam escalas diferentes.
Virtudes da cartografia simbólica:
é modo de pensar e analisar as praticas dominantes, e para isso buscou recursos fora dos utilizados oficialmente, institucionalmente, fora do direito vigente.
As regras de escala projeção e simbolização tem dimensão técnica própria. Os interesses de grupos e de classes fazem tudo acontecer, mas não explicam o acontecimento de nada, isto é, explica-se somente como certo fenômeno ocorreu, mas não o que de fato ocorreu. As regras de escala projeção e simbolização explicam esse `o que’. 
Permite combinação de analise estrutural e analise fenomenológica, combina com a ação prática que se busca, língua franca entre o que somos e o que buscamos. A incompletude dos mapas é o espaço para a criatividade, para circular entre os pontos fixos.

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