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ão há tema mais importante do que o plano divino 
da salva ão em favor de um mundo perdido. 
•ECADO E SALVAÇÃO examina o próprio coração da mensagem evan-
gélica: a obra de Deus por nós. sobretudo na cruz. Depois, passa a tratar 
de forma mais ampla de sua obra em nós. 
Diferentemente de livros sobre teologia a Dstrata, Pecar o e Sa va ao 
fornece não apenas informações teóricas, mas tam Dem orientações pra-
ticas para a vida diária O livro procura mostrar a inter-relação entre os 
componentds da salvação investigando conceitos como justificação. san-
tificação. perfeição e impecabilidade 
Convertido do agnosticismo ao cristianismo lá mais e • anos 
George Knight vem estudando desde então o que significa ser salvo 
aquilo que Deus faz por nós e em nos 
Este livro é. sob vários aspectos o resultado de uma pesquisa pessoal: 
a combinação de descobertas bíblicas estudos acadêmicos e encontros 
com cristãos Pecado e Salvação é unia obra clara e informativa, que o 
ajudará a compreender me or o p ano c ivino c a rec ençáo 
George R Knight professor aposentado de 
História da Igreja no Seminário Teológico da 
Uilivers:ckide Andrews Autor de muitos livros. 
escreveu a série Adventist Heritace e a série 
/Men 1/1/hite além de diversos comentai ios c e-
vouionais da Bíblia 
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forma elegante e 
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este livro você encontrará 
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ulrews. Seus diversos livros 
bre a história e teologia el. 
reja Adventista do Sétimo 
-11 sido publicados em várias 
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autores adventistas mais 
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SEALVAÇÃO 
O QUE É SER PERFEITO AOS OLHOS DE DEUS 
GEORGE R. KNIGHT 
Tradução 
José Barbosa da Silva 
Casa Publicadora Brasileira 
Tata SP 
Título original em inglês: 
SIN ANO SALVA] ION 
Copyright C) da edição em inglês: Review and He alei. Hauelstown. EUA. 
Direitos internacionais reservados. 
Direitos ele tradução e publicação em 
língua portuguesa reservados à 
CASA PUBLICADORA BRASILEIRA 
Rodovia SP 127 - km 106 
Caixa Postal 34 - 18270-970 - Tatuí, SP 
Tel.: (15) 3205-8800 - Fax: (15) 3205-8900 
Atendimento ao cliente: (15)3205-8888 
www.cpb.com.br 
" edição: 4 mil exemplares 
2016 
Coordenação Editorial: Vanderlei Dor neles Editoração: 
Glauber S. Araújo e Vanderlei Dorneles Revisão: 
Jéssiea Nlanfrim 
Projeto Gráfico: Thays Lóin 
Programação 1 isual: Alexandre Gabriel 
Capa: Renan Nlartin 
Imagem de Copo: Pearl / Liglitstock 
IMPRESSO NO BRASIL Printed in Brazil 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Knight. George R. 
Pecadoe Sal N. ação :oqueéserperfeitoaos 
olhos de Deus /George R. Knight : tradução 
.losé Barbosa da Sik a. - ratui. SP : Casa 
Publicadora Brasileira 2016. 
Titulo original: Sin and salvation 
Bibliografia. 
ISBN 978-85-345-2254-0 
1. Adventistas do Sétimo Dia - Doutrinas 
2. Justificação (Teologia cristã) 3. Perfeição - 
Aspectos religiosos - Adventistas do Sétimo Dia 
4. Santidade -Adventistas do Sétimo Dia 
5. Santificação-Adventistas do Sétimo Dia 
I. Vítulo 
16-99110 	 CDD-234 
Índices para catálogo sistemático: 
I. Salvação: Doutrina cristã 	234 
Os textos bíblicos citados neste livro foram extraídos da versão 
-Almeida Revista e Atualizada. 2" edição. salvo outra indicação. 
jat 	 
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a Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial. 
por qualquer meio. sem prévia autorização escrita do autor e da Editora. 
EDITORA AMUADA 
I ipologia: 	arnock Pro Iíghc Displa} 11.2/14 - 131 65/34215 
Dedicado a 
Roger e Peggy Dudley 
que exemplificaram em minha vida a generosidade do amor. 
Sumário 
PALAVRA AO LEITOR 	 6 
CAPITULO 1 - Fariseus São Boas Pessoas 	, „ ,• • . , 	• • 	10 
. 	 . 
A mosca no azeite do farisaísmo 
O problema em ser bom 
O farisaísmo ainda vive 
CAPITULO 2- Pecado Original e Não0riginal 
Pecado original 
O núcleo do pecado 
• Pecados que não são pecados 
Perspectiva conclusiva 
	 28 
CAPITULO 3- Usos Ilegítimos da Lei 	 57 
O propósito da lei 
• Identificando a verdadeira lei 
O cristão e a lei 
CAPÍTULO 4- Justificação Durante uma Vida, Santificação em um Momento 	73 
Recebendo o que não merecemos 
Tomando posse do que não merecemos 
Justificação e ternas correlatos 
A justificação universal 
Justificação durante uma vida, santificação em um momento 
Justificaçãoesantificação- termosrelativos 
CAPITULO 5- Mais Sobre Santificação 
Crescimento em Cristo 
Tensão entre o ideal e o real 
Além da santificação de "varal" 
O Espírito Santo ea santificação 
E as obras'? 
	 108 
"Boas" obras e "más" obras 
E o esforço humano? 
Obras no juízo 
A santificação e os "meios da graça" 
CAPíTULO 6 - Santificação, Perfeição e o Exemplo deJesus 	136 
Além da interpretação negativa das boas-novas 
Imitando Jesus: o imperativo do Novo Testamento 
A essência da tentação e da vitória de Cristo 
O caráter de Cristo 
CAPÍTULO 7 - Concepção Bíblica de Perfeição e Impecabilidade 	lã 
Sede perfeitos: uma ordem bíblica 
Perfeição bíblica 
Impecabilidade bíblica 
Perfeitos, porém pecadores 
John Wesley e a perfeição bíblica 
CAPÍTULO 8- Ellen White, Perfeição e Impecaõilidade 	 176 
Luz "maior" e luz "menor" 
Equívocos sobre a perfeição de caráter 
Perfeitos como Cristo 
Perfeição: um processo dinâmico 
Impecáveis, mas ainda pecadores 
A natureza da perfeição de caráter 
CAPÍTULO 9 - Perfeição ea ÚltimaGeração 	 193 
A Bíblia e a última geração 
Ellen White, o fim e a purificação do santuário 
Reproduzindo perfeitamente o caráter de Cristo 
Subsistindo no tempo de angústia sem um mediador 
A fé vivida por Enoque e Elias 
Dois tipos de perfeição eo fim 
CAPÍTULO 10- Crescendo na Perfeição pela Eternidade 	 219 
A natureza da perfeição terrena 
Ressurreição, trasladação e a perfeição contínua 
Crescimento durante a eternidade 
ÍNDICE DE NOMES E TEMAS 	 228 
Palavra ao Leitor 
N ão há tema mais importante do que o plano divino da salvação em 
favor de um mundo perdido. Pecado e Salvação é o segundo volume 
da série que escrevi sobre o plano redentor de Deus. O primeiro, The 
Cross of Christ [A Cruz de Cristo"], enfoca especificamente a obra de Deus 
por nós e a importância do sacrifício de Cristo na crttz. O presente livro, 
além de continuar tratando da obra de Deus em favor das pessoas, inclui 
também a obra divina na vida delas, em termos de santificação e perfeição. 
Os dois volumes juntos analisam o tema geral do plano da redenção e sua 
esfera de abrangência. 
Pecado e Salvação também procura mostrar a inter-relação entre os 
componentes da salvação. A tese subjacente ao livro é q e(diferentes con-
ceitos de pecado levam a diferentes estratégias de "obter" justiça.)0 livro 
mostra que o maior erro da visão farisaica dominante na época de Cristo 
era sua definição de pecado. Urna definição equivocada levou os fariseus 
a conceitos improdutivos (e até mesmo destrutivos) de justiça e perfeição. 
Infelizmente, o problema e a confusão não morreram com os fariseus do 
primeiro século a.C. 
Os adventistas do sétimo dia também têm se esforçado continuamente 
para compreender como as pessoas são salvas. Alguns enfatizam o esforço 
humano, a santificação e, de certo modo, a perfeição com pleta. Já outros 
acham que a salvação se restringe basicamente à justificação (forense) e 
que a santificação humana é obtida vicariamente por intermédio da vida 
perfeita de Cristo. Outros ainda, minimizando o esforço humano, sugerem 
• que "Jesus já fez tudo" - a parte que nos cabe, depois de aceitar a Cristo, é 
apenas nos sentar e apreciar a viagem! 
Como muitos de meus livros, este se desenvolveu a partir de minha 
experiência pessoal. Durante 45 anos, ensineiherdamos culpa. "O pecado': escreveu ela, "é a herança dos filhos. 
O pecado os separou de Deus. Jesus deu sua vida para poder unir com Deus 
os elos partidos. Com relação ao primeiro Adão, os seres humanos nada re-
ceberam dele senão a culpa e a sentença de morte:' 2 Dentro dessa mesma 
perspectiva, temos o comentário de Deus nos dez mandamentos de que irá 
visitar "a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta gera.ção daqueles 
que me aborrecem (tx 20:5; cf 34:7; Nm 14:18; Dt 5:9). 
Precisamos, porém, ir ambas as afirmações feitas no parágrafo anterior 
dentro do contexto mais amplo da revelação de Deus. Embora não haja 
dúvida de que Deus visita a iniquidade do pai em seus descendentes, se , 
quisermos compreender as declarações aparentemente contraditórias da 
Bíblia, devemos primeiramente entender o motivo dessa visitação. 
A própria Ellen White nos ajuda a enxergar,i solução do problema quando 
comenta txodo 20:5: "E inevitável que os filhos sofram as consequências das 
más ações dos pais, mas não são castigados pela culpa deles, a não ser que parti-
cipem de seus pecados. Dá-se, entretanto, em geral o caso de os filhos andarem 
nas pegadas de seus paistor herança e exemplo)bs filhos se tornam participan-
tes do pecado do pai. Más tendências, apetites pervertidos e moral vil, assim 
como enfermidades físicas e degeneração, são transmitidos como um legado. 
de pai a filho, até a terceira e quarta geração" 
James Denney também nos ajuda a esclarecer a relação entre herança e cul-
pa. "Hereditariedade': escreve ele, "não é destino; o que recebemos de nossos 
34 1 Pecado e Salvação 
pais não tece em torno de nós urna rede de culpa e sofrimento da• qual não 
poderemos jamais nos desvencilhar': caso pertençamos a Deus. 
£ incredulidade imoral e covarde afirmar que as ações de nossos ante-
passados determinam nosso destino. "Os pecados dos pais só são danosos 
k 
-,) quando os filhos cometem os seus próprios. A predisposição herdada pode 
0 o ser forte, mas não é tudo na natureza de urna pessoa; somente quando ela 
1 t2 ignora ou renuncia a relação com Deus e voluntariamente• se apropria da 
herança ruim, é que ela a converte em condenação: 1 '6 
Se for assim, então somos forçados a perguntar: "Por que todos . pecam? 
Por que o pecado é urna experiência humana universal? Por que ninguém 
escapa de suas garras? 
Albert Knudson nos aponta a resposta. EleS sugere que temos de en-
frentar a(universalidade tanto do pecado quanto da culpa) Mas há entre os 
dois uma incoerência. Enquanto a culpa implica liberdade, a universalida-
de do pecado parece indicar uma causa anterior à decisão ou disposição 
das pessoas de pecarem. "Se o pecado se deve ao livre-arbítrio, não parece 
haver nenhuma razão para que deva ele ser universal. Sua universalida-
de sugere um elemento necessário, urna tendência ou predisposição inata 
para o mal, que precede o exercício da liberdade?' 
( Ellen White comunga do mesmo ponto de vista quando observa que 
temos não só "tendências cultivadas para o mal'; mas também tendên-
cias herdadas. É devido a essas tendências herdadas para o pecado quetas 
crianças não precisam ser, ensinadas a pecar)") 
Não importa quão ignorante urna pessoa possa ser, ressalta John C. 
Ryle, "ela sempre sabe como pecar!" Isso ocorre porque somos, "por na-
tureza, filhos da ird((Ef 2:3))"De dentro, do coração dos homens, é que 
procedem os maus designi6s, a prostituição" e assim por diante (Mc 7:21). 
\i (.. "0 bebê mais lindo" escreve Ryle, "nãO\ ', como sua mãe [...] carinhosamen-
te o chama, um pequeno 'anjo; [...1 mas pequeno 'pecador'")Não que 
ele peque conscientemente na condição e\ bebê, mas é um pecador no 
sentido de que nasce com tendência para escher pecar assim que tiver 
idade suficiente para isso) ' 
John Faulkner apresenta uma primorosa síntese do ponto de vista bíblico 
sobre o pecado original, quando esCreve que "o pecado original aponta para a 
condição pela qual os pais de nossa raça receberam, por voluntária transgressão, 
Pecado Original e Não Original 1 35 
a disposição para o mal, transmitida por leis naturais a seus descendentes:' Ellen 
White se refere aos "corruptos canais da humanidade?° 
(Embora a culpa e o pecado não possam ser transmitidos de uma gera-
ção para a outra, a tendência ou propensão inata para o pecado pode. Essa 
inclinação inata para o pecado ("o pendor da carne" [Rrn 8:71) continua a 
ser a tendência dominante na vida de uma pessoa até ser revertida pela 
experiência da conversão através do novo nascimento) 
Depois de mencionar todas estas coisas sobre bebês «corno pecadores 
potenciais com natureza propensa para o mal, talvez seja tempo de men-
cionar que as crianças nascem com algo além da tendência para pecar. 
Esse fato se tornou evidente nas grandes batalhas travadas pela teolo-
gia do século 19 sobre a malignidade da natureza humana. 
Leonard Woods adotou a posição de que as crianças nascem más por-
que a depravação moral (1) é tão universal quanto a razão e a memória; 
(2) manifesta-se tão logo as crianças tenham idade suficiente .para revdar 
o que sentem; (3) não pode ser atribuída a qualquer alteração na natureza 
das crianças depois de seu nascimento; (4) manifesta-se espontaneamente 
e é difícil de ser erradicada; e (5) permite fazer o prognóstico de que toda 
criança será uma pecadora. 2' 
Henry Ware refutou os cinco argumentos de Woods, afirmando que 
r 
as crianças poderiam servir facilmente para estabelecer tanto~de 
natural como a depravação naturalAfinal de contas, ressaltou Ware, se 
e verdade que as crianças manifestam inclinação para o mal, também é 
verdade que manifestam inclinação para o bem. 
Em segundo lugar, se as inclinações depravadas surgem precocemen-
te, o mesmo ocorre com as inclinações corretas. 'Em terceiro lugar, se não 
podemos atribuir à origem das tendências viciosas a alterações posteriores 
ao nascimento, também não podemos fazê-lo com relação às tendências 
virtuosas. Em quarto lugar, tanto as propensões degradantes quanto as edi-
ficantes são espontâneas e difíceis de ser eliminadas. Em quinto lugar, se é 
possível prever que todas as crianças irão pecar, é igualmente correto pre-
ver que elas também manifestarão traços positivos de carátern 
(Alguns teólogos reconheceram que os seres humanos possuem tanto ten-
dências boas quanto ruins desde o nascimentopilliam Newton Clarke, por 
exemplo, defendia que toda pessoa recebia uma dupla herança de bondade 
36 1 Pecado e Salvação 
e de maldade. Ele se opunha tenazmente à ideia de que as pessoas são mo-
aluntute neutras. Ao contrário, "Deus certamente dotou a humanidade com 
uma tendência para o transcendente; j... ] a natureza é favorável à bondade': — 
E possível promover a bondade aperfeiçoando "o capital comum': Em outras 
palavras, a humanidade pode ser melhorada por meio de engenharia ambien-
tal e social." 	• 
Ellen White concorda com Clarice, até certo ponto, quando admite 
existir em cada coração apercepção do que é reto e um anelo de bonda-
• de)Mas contra estes princípios há um poder contendor, antagônico': No 
entanto, para ela, a natureza humana é mais favorável ao mal do que ao 
bem. Em cada indivíduo, continua a escritora, há "um pendor para o mal, 
uma força à qual, sem auxílio, não poderá ele resistir': As pessoas só podem 
vencer sua propensão para o mal por meio do "poder" de Cristo." 
Diferentemente do que afirmam seus intérpretes, Ellen White nunca 
defendeu que as pessoas nascem moralmente neutras. Ao contrário, "toda 
pessoa" herda "um pendor para o mal" Esse "pendor" se acha tão entranhado, 
conforme veremos no capítulo 4, que somente o poder convertedor de Cristo 
pode lhe corrigir a influência degradante. A engenharia social e a reformula-
ção genética são insuficientes para corrigir o inveterado problema do pecado. 
(Com exceção de Cristo, a Bíblia não descreve nenhuma outra criança 
que tenha vivido urna vida completamente livre de pecado e que tenha "nas-
cido de novo" ou "nascido do alto"por ocasião de seu nascimento natural.) 
Ter pais tementes a Deus não é suficiente para inclinar a balança da depra-
vação inata."pesmo as crianças nascidas nas melhores famílias cristãs pre-
cisam superar o orgulho espiritual, a autossuficiência e o egocentrismo. E é 
exatamente nessas coisas, e não nos atos obviamente ímpios, que reside o 
centro do pecado. Voltaremos a esse tema na próxima seção deste capítulo. 
O fato de algumas pessoas não saberem o momento exato em que se 
converteram não significa quern não estejam convertidas. Os casos mais 
difíceis de Petaddno Novo Testamento são de filhos mais velhos e das 
moedas que nao se perderam (Lc 15). 
Esses "heróis da moralidade" são com frequência os mais incorrigíveis 
de todos os pecadores pelo fato de serem, pelo menos na aparência, pessoas 
corretas. Por não sentirem necessidade, nunca caem "em si" (Lc 15:17). Sua 
retidão moral faz deles críticos ferrenhos (v. 25-30). Essa atitude revela que 
Pecado Original e Não Original 37 
o coração deles não é reto, apesar de suas ações exteriores se mostrarem 
exemplares. Conforme descobrimos pela experiência dos fariseuknada é 
mais enganador do que o pecado da convicção da própria bondade) 
O grupo mais difícil de converter no ministério de Cristo era cons-
tituído por aqueles que não sentiam necessidade de conversão. Esse é o 
perigo dos fariseus, tanto antigos quanto modernos(Queiramos ou não, 
reconheçamos ou não, confessemos ou não, cada pessoa tem um "pendor" 
para o mal que precisa ser corrigido, ainda que essa inclinação esteja com-
pletamente camuflada por "pedigree" cristão e bondade exterior.) 
Os resultados "do" pecado original 
Antes de passarmos para outro tópico, precisamos examinar os resul-
tados "do" pecado original. Gênesis 3 apresenta uma vívida descrição do 
que ele acarretou. Em primeiro lugar, as consequências religiosas do peca-
do foram: Adão e Eva ficaram alienados de Deus. A Bíblia relata que eles 
esconderam-se da presença do Senhor Deus" e que tiveram "medo" de 
Deus (Gn 3:8-10). Depois de haver destronado a Deus e "o amor a Deus 
de seu lugar de supremacia na alma': distanciaram-se dele. 2€ 
É perfeitamente possível compreender essa alienação no âmbito humano. 
Por exemplo, crianças que desobedecem às ordens da mãe não conseguem . 
encará-la nem olhá-la no rosto. Há algo no coração deles que desejam escon-
der. Da mesma forma( culpa torna a presença de Deus insuportávelp pe-,, 
cado fraturou a unidade que havia entre as pessoas e Deus.. 
A alienação provocada pelo pecado entre a divindade e a humanidade 1 
já teria sido suficientemente ruim se tivesse se limitado a um esconder-se , 
passivo da presença de Deus. Mas o pecado, por sua própria natureza, é mais 
grave do que isso: é urna ativa rebelião contra Deus. Eis a razão por que Tiago [ 
afirma que o mundo natural está em "inimizade [hostilidade] contra Deus" : 
(Tg 4:4, RSV). E Paulo nos diz que Deus estendeu a mão para nos salvar, 
quando éramos ainda seus inimigos (Rm 5:10; Cl 1:21, 22). 
"Ora, um inimigd: explicou Leon Morris, "não é só alguém que falha em ser 
um bom e fiel amiga É alguém pertencente ao grupo oposto: Pecadores são, 
por definição, "os que investem esforços em uma direção contrária à de Deus?' 
?E 9. Um segundo resultado do pecado são sua4,mplicações sociais. las 
'surgiram de imediato, na primeira briga da primeira família da erra. 
38 1 Pecado e Salvação 
Quando Deus perguntou a Adão• se ele havia comido o fruto proibido, 
imediatamente Adão culpou Eva. "A mulher que me deste por esposa, ela 
me deu da árvore, e eu comi" (Gn 3:12) .(Isso foi o suficiente para estragar o 
primeiro casamento perfeito do mundo) 
A grande tragédia dos efeitos sociais do pecado original é que eles não se 
limitaram a Gênesis 3.0 relato de Gênesis 4 a 11 trata sobre os efeitos sociais 
crescentes do pecado. Ele se desdobra no desentendimento entre Caim e 
Abel, tornando-se, depois, um tema predominante de toda a Escritura. 
Um terceiro conjunto de resultados do pecado original foram astina-
plicações pessoais) O pecado afeta o relacionamento da pessoa com seu 
próprio "eu': Depois de questionar Adão, Deus se voltou para Eva e lhe per-
guntou: "Que é isso que fizeste?" Ela respondeu: O diabo me levou a fazer 
isto (Gn 3:13, parafraseado). Identificamos aqui o problema das pessoas 
que relutam ou que, na maioria dos casos, não são capazes de confrontar a 
si mesmas e avaliar corretamente suas ações e motivações ocultas. "Enga-
noso é o coração, mais do que todas as coisas" (Jr 17:9). 
Os efeitos religiosos, sociais e pessoais do pecado decorremida mu-
dança que sobrevem.à natureza humana no momento da queda) Con-
siderando que Deus criara originariamente Adão e Eva a suarn imagem 
(Gn 1:26, 27), os filhos do casal foram gerados à imagem de seus pais 
decaídos (Gn 5:3). A condição decaída, conforme já vimos, apresentava 
pendor: o mal. 
A Bíblia está repleta de figuras de linguagem descrevendo seres huma-
nos caídos. "Tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas" 
('II 1:15). Ao longo de toda a história, eles também são retratados como 
"egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfernadores, desobedientes 
aos pais, ingratos, irreverentes" e assim por diante (2Tm 3:1-5; cf. Gn 6:5, 6; 
Rm 1:18-32)4,A descrição bíblica da "pessoa natural nunca é agradável, 
embora alguns indivíduos possam praticar pecados socialmente mais 
aceitáveis do que outros)Para a Bíblia, a mente e o coração não converti-
dos se inclinam para a carne (Rm 8:4-8). 
•A queda afetou a orientação espiritual de cada indivíduo. Daí a afir-
mação de Ellen White de que "o coração do homem é, por natureza, frio, 
escuro e desagradável': "O coração, por natureza, é mau." Ainda que 
Adão tenha sido dotado originariamente com mente bem equilibrada e 
Pecado Original e Não Original 1 39 
pensamentos puros, "pela desobediência, suas faculdades foram perver-
tidas, e o egoísmo tornou o lugar do amor?' 
Esses problemas, conforme já vimos, continuaram a afetar a posteri-
dade de Adão. Embora alguns indivíduos possam• alegar não terem sido 
infectados pelo vírus do pecado, isso é desmentido tanto pela revelação de 
Deus quanto pela observação humana) 
O teólogo puritano Thomas Gáaker descreveu corretamente o cora-
ção natural quando o comparou a "um livro eivado de erros tipográficos" 
e a "um terreno baldio onde cresce, como era de se esperar, toda sorte de 
erva daninha" e que não produz nada de bom, caso não seja bem cultivado': 
Para Bernard Rama), o problema com o pecador. "não é cometer esse 
ou aquele pecado': mas o fato de "todo o [seu] psiquismo ser semelhante a 
um navio cujo leme ficou preso no ângulo errado?' 
O leme" que direciona a vida humana é, sem dúvida, a força de von-
tade — esse "poder de decisão ou de escolhi' que "governa a natureza do 
homem': Foi esse poder de importância crucial — a vontade — que a queda 
"entortou" para o mal. A essência dos efeitos do pecado original, que tem 
afetado todas as gerações desde Adão, reside na vontade mal dirigida, Con-
forme se evidencia na vida diária pela tendência humana de escolher o 
mal ao invés do bem. 
Pode-se afirmar, portanto, que, embora tenha havido urna queda, o ser 
humano continua em trajetória descendente. "Todo pecado cometido ,' es-
creve Ellen White, "desperta os ecos do pecado original:' O resultado é 
que todos os seres humanos ao longo da história, com exceção de Cristo, 
"pecaram e careceni da glória de Deus" (Rm 3:23).3° 
O plano de salvação, conforme o expõe o Novo Testamento, pressu-
põe a universalidade do pecado humano. Tanto é que, somente depois 
de demonstrar a abrangência universal do pecado, em Romanos 3:23, é 
que Paulo começa a explicar, a partir do verso 24, a salvação por meio 
de Cristo. 
O NÚCLEO DO PECADO 
O fato de o pecado ser definido como amor não deve surpreender os 
cristãos. A Bíblia possui várias palavras para "amor; embora a mais impor-
tante delas seja agapé. Esse termo reflete o tipo de amor que Deustem pelos 
40 I Pecado e Salvação 
seres humanos, amor que o faz dispensar-lhes supremo cuidado, mesmo 
que eles não mereçam. Agapao é o verbo que os escritores do Novo Testa-
mento empregam para descrever o relacionamento de Deus para com os 
seres humanos. Agapê no Novo Testamento também se refere a um modo 
de vida que segue o modelo do amor de Deus pela humanidade." 
O Senhor espera que as pessoas o amem (agapao) e se amem umas às 
outras assim como Ele as amou (ver Mt 22:36-40)(A dificuldade surge quan-
do o amor é direcionado para a coisa errada)Jesus condenou os fariseus, 
por exemplo, porque eles 'amavam (agapao) ios melhores assentos nas si-
nagogas" (Lc 11:43, RSV). De igual modo, Demas, "tendo amado (agapao) 
o presente séculos; abandonou o caminho cristão (2Trn 4:10). É por isso que 
João admoesta seus leitores a não 'amarem o mundo nem as coisas que há 
no mundo: Os que tais coisas fazem não possuem o amor do Pai (1Jo 2:15). 
Essas passagens não dizem que há algo de errado com o mundo. Mas 
ensinam que é errado colocar qualquer coisa no lugar de Deus (Pecado é 
o amor direcionado para a coisa errada)E amar mais a criatura do que .o 
Criador. Não faz diferença alguma se essa criatura .é algo externo ou a pró-
pria pessoa. Amar algo ou alguém mais do que Deus é pecadopecado é 
mirar o amor no alvo errado, acompanhado de um estilo de vida que segue 
na direção dessa finalidade) 
Essa definição constitui a própria base do pecado de Eva em Gênesis 3. 
Evidentemente, o pecado já existia antes de Gênesis 34Teve sua origem no 
Céu)quando Lúcifer procurou se tornar igual a Deus, isto é, quando pas-
sou a amar a si mesmismais do que a seu criador (Is 14:12-14). 32 A rebelião 
de Lúcifer provocou "peleja no Céu:Como resultado, 'foi expulso o grande 
dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo 
o mundo, sim, foi atirado para a Terra" (Ap 12:7-9), 
Voltamos a encontrar a serpente enganadora enfrentando Eva em 
Gênesis 3. Foi no Éden que essa criatura, mais sagaz que todos os animais 
selváticos, começou a minar a autoridade de Deus. 
Primeiramente, o adversário procurou fazer Eva duvidar da palavra 
de Deus (Ele realmente disse para não comer da árvore? [v. 1]). Depois, 
Satanás colocou em dúvida a real intenção divina quanto ao que o 
4 Senhor havia dito (Ora, Deus não vai matar pessoas só por tocar em 
uma fruta! [v. 2-4]). 
Pecado Original e Não Original I 41 
19' Em terceiro lugar, o tentador semeou dúvidas sobre a bondade de 
Deus, sugerindo que ele estava reservando de forma egoísta as melhores 
coisas para si mesmo (v. 5, 6). "Sereis como Deus" foi a sugestão. Ora, se 
Deus não é confiável, você pode fazer as coisas a seu próprio modo. Ponha 
sua confiança em si mesmo. Torne-se mestre de seu próprio destino. 
Seguindo essa linha de raciocínio, a mulher "tomou-lhe do fruto e co-
meu (v. 6). As perguntas que nos ocorrem agora são: "Quando foi que Eva 
pecou? Em que consistiu seu pecado?" 
LGostaria de salientar que o pecado de Eva não começou quando tomou 
do fruto e comeu. Essas ações foram o resultado do primeiro pecado, e não 
o pecado, exclusivamente) 
Eva pecou primeiro quando desprezou a palavra que Deus lhe dirigira 
e aceitou a sugestão de Satanás. Ela pecou quando disse a Deus que paras-
se de importuná-la para que ela pudesse fazer as coisas do seu jeito. E ela 
pecou quando se rebelou contra Deus e colocou sua própria vontade no 
centro de sua vida, valorizando mais a própria opinião do que a de Deus. 
k seu pecado de rebeliãofluíram os atos pecaminosos. O ato em si não 
foie'o primeiro pecado, mas resultado do pecado que lhe governava o coração) 
Ela caiu antes de tomar do fruto. Eva caiu quando colocou o amor por algo 
(o fruto) e por alguém (ela mesma) acima de seu amor a Deus. Por isso, 
James Orr afirma corretamente que(a essência do pecado é fazer da minha 
vontade, e não da de Deus, "a lei suprema de minha vida'.' 39 
O, P e- c,43, o ie -re5771 uni igasdp---7 
951-0 fccA90 ceer.A1 PPE Dc- c/ ft ,D cor>, (9....r 
Desinteresse pelo pecado Al os rEcAm IN0 go '51 , 	cf ‘2 6?fr -6: Cr? rgiti 
A- SUA IMAGtfri (DG- SER cie 
(Neste ponto, eu gostaria de sugerir que a maioria dos cristãos, inclusive 
os adventistas do sétimo dia, não estão retriag ir?4-esggd7:nOr)ecado. 
Estão preocupados com atos pecaminosos como assassinato, roubo e de-
sonestidade, mas não com o pecado. Imperfeições ou manchas na super-
fície são sintomas de pecado, mas não são o próprio pecado) 
Não fique irritado. Eu sei que a Bíblia diz que "o pecado é a transgressão 
• da lei" (no 3:4) e que Ellen White afirma que "a única definição válida de pe-
cado é que ele é a transgressão da ler 4 Permita-me, porém, apresentar-lhe a 
perspectiva total da Bíblia a respeito do pecado e da lei. O primeiro conceito 
será tratado no presente capítulo, e o segundo será abordado no capítulo 3. 
Neste momento, podemos dizer que o pecado é definido, pelo menos, em 
42 I Pecado e Salvação E /viço IniPcssvAL (in\yrie.s HunIANi 
três aspectos: (1) um estado de rebelião, (2). um relacionamento quebrado e 
(3) uma ação. 
O pecado, em seu nível mais básico, não é um mal impessoal, um "resí-
duo de comportamento animal" ou ainda, um traço maligno incorporado 
ao caráter humana Ao contrário, pecado é rebelião contra o Deus do uni-
verso (Is 1:2, 4; Os 7:13). 344ecado é, portanto, algo pessoal e não impessoal. 
"Pequei contra ti',' lamenta o salmista, "contra ti somente" (251:4).(pecado 
é um ataque pessoal contra a autoridade de Deus.) 
A "carne" (a natureza humana não convertida), escreve Paulo, "é inimiga 
de Deus" (Rm 8:7, RSV). O pecador mantém uma relação de "inimizade" com 
Deus (Rm 5:10).1ém de ser pessoal, o pecado também é moral. É um ato 
deliberado da vontade ao se rebelar contra Deus. Pecado é, fundamen-
talmente, urna escolha contra Deus) 
Herbert Douglass observa corretamente que "o pecado é o punho fechado 
da criatura no rosto do seu Criador; o pecado é o ser criado desconfiando de 
Deus, confiscando dele o senhorio de sua vida". Semelhantemente, Emil Brun-
ner afirma que pecado "é como o filho que atinge o rosto do pai com raiva, [...] 
é a arrogante autoafirmação da vontade do filho acima da vontade do paf: 36 
A história de Eva retrata o pecado como o desejo de ser "como Deus" 
(Gn 3:5). Pecado é a escolha de Caim de "fazer as coisas do seu jeito': e não do 
jeito de Deus (Gn 4:1-7). "O pecado, na visão bíblica': escreve Orr, "consiste 
na revolta da vontade da criatura contra suarn legítima lealdade à soberana 
vontade de Deus, o estabelecimento de uma falsa independência, a substi-
tuição do viver-para-Deus pelo viver-para-si-rnesmd: 37 A mesma força que 
propulsionou a rebelião do filho pródigo (Lc 15:11 -32), a saber, o pecado, 
tem direcionado a atividade humana através dos corredores da história. 
É fácil perceber, a partir dessa perspectiva, que todo pecado sempre 
constitui um desrespeito ao primeiro grande mandamento e o primeiro 
do decálogo: `Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda 
a tua alma e de todo o teu entendimento." "Não terás outros deuses diante 
de mim" (Mt 22:37; Éx 20:3). 
V. precisoU reconhecer que o pecado, como rebelião)não é apenas um 
conjunto de atos distintos, mas, conforme já vimos em nossa discussão 
sobre o pecado original, constitui um estado de decaimento. Os seres hu-
manos possuem uma natureza pecaminosa que os impele a cometer atos 
Pecado Original e Não Original 1 43 
pecaminosos. Por essa razão, James Denney ressalta: tToda pessoa sincera 
fica triste não só pelo que faz, mas pelo que é. 0 pecado que pesa sobre 
nós, H que nos derrota, que nos faz clamar: 'Desventurado homem•que 
sou! Quem me livrará?: é mais do que atos isolados Hl É a nossa própria 
natureza que deve ser redimida e renovada, 
O pecado, como um estado de rebelião e exaltação de nossa vontade 
acima da vontade de Deus, está estreitamente associado ao egocentrismo. 
Não foi por acaso que Ellen White escreveu que, "sobo cabeçalho de 
egoísmo, vinham todos os outros pecados': "Nada mais ofensivo há para 
Deus que este espírito acanhado, e que cuida só de si:' 39 
Estreitamente relacionado com o egoísmo, o egocentrismo e o amor 
próprio doentio eStá o problema do orgulho. Foi por causa do orgulho e 
da autossuficiência rebelde que Lúcifer se transformou no diabo, que Eva 
se tornou a mãe de uma raça pecadora e que os doze discípulos de Cristo 
deixaram de recebera bênção divina, por viverem discutindo entre si sobre 
quem era o maior (ver Is 14:12-15; Ez 28:13-17; Gn 3; Mt 18:1). C. S. Lewis 
ponderou que "o orgulho conduz a todos os outros vícios: é o estado mental 
ganti-Deus":* dessa natureza rebelde que fluem todos os atos pecaminosos) 
O pecado como rebelião apresenta vínculos muito estreitos com o pecado 
como relacionamento quebrado. 0 fato mais óbvio sobre Gênesis 3 é que a 
queda fraturou todos os relacionamentos humanos, a começar pela alienação 
de Deus -- crucial para todos os outros distanciamentos. Isaías adverte o Israel 
da antiguidade que suas "iniqüidades" haviam causado "separação" entre eles e 
Deus. Os seus "pecados" haviam encoberto deles o rosto de Deus (Is 59:2). Para 
Paulo, a pessoa não convertida. está "alienadd de Deus (Cl 1:21). 
(Visto que a Bíblia define pecado tomando a Deus como referência, pecacl) 
é um conceito relacional)Existem apenas duas maneiras de se relacionar com 
Deus. Podemos dizer sim . sua vontade ou dizer:"não" Não dispomos de outra 
opção. Dizer "sim" a Deus é chamado de um relacionamento de fé. Mas dizer 
"não" a ele é pecado de rebeliãok\lenhuma criatura moral pode ignorar. a Deus. 
Reagimos a Ele somente de duas maneiras: com fé ou por meio do pecado. . 
, 	Se pecado é primeiramente um relacionamento quebrado com Deus, 
1 j então justiça e fé têm que ver necessariamente com a restauração desse 
I. , relacionamento. 42 E se o pecado consiste em uma rebelde desconfiança 
r de Deus, entã4a fé deve se centrar na confiança) Pecado, portanto, não é 
44 1 Pecado e Salvação 
primeiramente algo ético, mas religioso.(A.ssim, pois, pecado é um relacio-
namento quebrado não com um código legal, mas com o Senhor da lei) 
Neste ponto, alguém poderá estar dizendo que minha apresentação 
soa perigosamente parecida com aquilo que alguns chamam pejorativa-
mente de "nova teologia: Se for assim, espero demonstrar que essa é a 
"nova teologia do sermão do monte. 
CO pecado como estado de rebelião e o pecado como relacionamento 
quebrado acham-se diretamente relacionados com o pecado como ação) 
Jesus deixou isso claro quando afirmou que "o que sai da boca vem do 
coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem 
maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos teste-
munhos, blasfêmias" (ML 15:18, 19; Cf. Mc 7:20-23). "Porque a boca fala 
do que está cheio o coração. O homem bom tira do tesouro bom coisas 
boas; mas o homem mau do mau tesouro tira coisas más" (Mt 12:34, 35). 
Encontramos o mesmo conceito na declaração de Jesus, afirmando que 
urna "árvore má produz frutos maus"; e no pensamento de Tiago de 
que de uma fonte amarga só jorra água amarga (Mt 7:17, 18; Tg 3:11). 
Brunner capta esse discernimento bíblico quando ressalta que, para a 
Bíblia, o coração representa "o órgão de toda a personalidade': O pecado 
tem sua sede no coração pervertido da humanidade. O coração "é a sede 
do Estado-Maior, [..] é o vértice da personalidade, o seif que se rebela con-
tra o Senhor"43 É por isso que a Bíblia equipara a conversão ao recebimento 
de um "novo coração" (Ez 11:19; 18:31; Ef 3:17). 
k Ser um pecador não significa cometer uma série de atos dissoáados, 
mas possuir um coração mau que gera más ações durante toda a vidapJohn 
Macquarrie expressou muito bem esse conceito ao escrever que "a atitude 
pecaminosa se expressa em atos pecaminosos; no iftprego popularildo ter-
mo, 'pecado' eralmente significa praticar alguma ação errada ou um ato de 
transgressão. o onto de vista te ó icoiporém, o interesse está mais na 
atitude do que-nos atos pontuais que dela decorrem, pois é na atitude que 
reside o mal fundamentar.44 
Isso não significa que os atos isolados de pecado não sejam importantes. 
Afinal, não diz a Bíblia que "pecado é a transgressão da lei" (1Jo 3:4)? Mais 
uma vez, Ellen White acertou em cheio quando escreveu que "a única de-
finição de transgressão válida para nosso mundo é a transgressão da ler:45 
Pecado Original e Não Original 1 45 
lAtos isolados de transgressão são pecados. Além disso, constituem os 
sintomas do PECADO: as manifestações visíveis de uma natureza e de um 
coração pecaminososPodernos descrever a ideia graficamente como segue: 
PECADO 	pecados 
Ou seja, o coração pecaminoso, o coração em rebelião voluntária con-
tra Deus, produz atos de pecado na vida diária. 
Ramm comenta de forma expressiva que, "embora seja possível definir 
o pecado como transgressão da lei, isto não provê uma dimensão exata de 
sua gravidade' Foi essa dificuldade que, conforme vimos no capítulo 1, 
fez os fariseus incorrerem em equivocos.(0 fato de verem o pecado apenas 
como uma série de ações distintas os levou, naturalmente, a considerar 
também a justiça como uma série de ações distintas. Sua visão inadequada 
de pecado os predispôs para uma visão inadequada de salvação) 
Paul Althaus registra que os teólogos escolásticos do tempo de Martinho 
Lutero cometeram o mesmo erro. Eles só pensavam "nas transgressões da 
lei [em termos de] pensamentos, palavras e atos'Y Para a igreja medieval, a 
salvação consistia em alcançar a vitória sobre essas ações. Foi, sem dúvida, 
essa concepção que obrigou Lutero a iniciar a Reforma Protestante. 
(A salvação cristã é muito mais profunda do que uma mera limpeza da 
vida exterior, por mais importante que isso seja. A salvação requer uma 
transformação total do coração e da vida, bem como uma nova relação 
com Deus. Desse coração transformado, conforme veremos nos capítulos 
4 e 5, fluirão outros tipos de ação) 
O problema com a "teoria atômica': segundo a qual o pecado consiste 
em distintos atos de transgressão, é não levar em conta ou não admitir a 
existência de uma natureza moral.(0 ser humano não é urn conjunto de 
boas e más ações, mas uma personalidade com "inclinação" para Deus ou 
contra ele. Vencer o pecado não é apenas se esforçar para ser melhor.) 
i Gerrit C. Berkouwer obsfrva que a Bíblia vê "o homem em função do 
i
seu direcionamento total de vida: o homem pecador, culpado e rebelde 
contra Deus. Na perspectiva bíblica, não há possibilidade de escapar ou 
fugir da condição humana de culpa e perdição': 
46 l Pecado e Salvação 
• A Escritura descreve, portanto, os seres humanos em termos de su-
jeição, servidão e escravidão, de um processo de degeneração impossível 
de ser revertido sem a intervenção divina. A humanidade está "morta 
em pecado" e "perdida" (Rm 6:6; Ef 2:1, 5; 4:18; Cl 2:13; Lc 19:10, RSV). 
Somente na cruz podemos ver a profundidade do pecado e a magnitude 
da ação necessária para curar essa doença* propósito da obra de Deus é 
salvar pessoas, e não polir se aspecto exterior) 
.g c ,W o 5 GUALI -Trn vos 
tt 	aup N 1- ) 	-r VOS 	I3A,V2.- 2-A9 'A- O SO fESPLI) 
Outros aspectos do pec do et -EN7 A 9 A O e, OMISÇA 6PAVI .7)/16) 
Antes de encerrar esta discussão sobre a definição de pecado como 
estado de rebelião, corno relacionamento quebrado e como uma série de 
atos, precisamos examinar brevemente outros aspectos do pecado. Primei-
ramente, tentação não •é pecado. Jesus foi tentado, mas não pecou. Nem eu 
peco quando sou tentado. O pecado ocorre quando reconheço que uma 
coisa é tentação, mas mesmo assim decido agir em conformidade com ela 
e, para todos os efeitos, é como se eu estivesse dizendo para Deus "cair fora: 
Em segundo lugar, um ato pecaminoso pode ser tanto de comissão 
quanto de omissão. Infelizmente, a maioria dos cristãos só pensa no peca-
do em termos de cometer um ato perverso, sem entender que o pecado é 
infinitamentemais amplo do que apenas fazer coisas erradas. Inclui tam-
bém o deixar de fazer o bem ao próximo. 
"O poder de condenação da lei de Deus': alerta Ellen White, "estende-se 
não só às coisas que praticamos, mas às coisas que deixamos de praticar. 
- [...] Devemos não só cessar de fazer o mal, mas também aprender a fazer o 
bem."49. Nã vívida descrição feita por Jesus do juízo final, os "bons" fariseus 
5 são pegos totalmente de surpresa, porque se concentraram apenas nos 
pecados de comissão, esquecendo os pecados de omissão (Mt 25:31-46). 
Minha crença é a de que podemos parar de praticar o "mar e ainda assim 
continuar sendo, no fundo, egoístas •e mesquinhos. .A verdadeira prova de trans-
formação total e internalização dos princípios de Deus é uma vida que constan-
temente se desvela em amor para servir aos outros. À vista disso, a maior parte 
das virtuosas atividades farisaicas ficam muito aquém do infinito ideal de Deus. 
Com isso em mente, podengos concordar com a avaliação de Henry W Robin-
son de queVanto nossa pecaminosidade quanto a atividade da graça de Deus 
são muito mais profundas do que a maioria das pessoas consegue imaginar.5°) 
Pecado Original e Não Original 47 
Devido ao enfoque distorcido do pecado como sendo atos de comis-
são, a maior parte dos programas de perfeição enfatiza apenas o negativo. 
Alguém pode deixar de fazer determinadas coisas por meio da pura força 
de vontade, mas amar "genuinamente" o inimigo só é possível mediante o 
pleno poder transformador do Espírito Santo. Isso signifiea que até mes-
mo uma pessoa "boa" precisa da experiência da conversão.(A verdadeira 
questão não é se não odiamos a Deus, mas se amamos a Ele e a seus filhos 
criados mais do que amamos o nosso "eu") 
Um terceiro aspecto do pecado a destacar é que nem todos os pecados 
têm a mesma gravidade. Ellen White escreve que b pecado que mais se 
aproxima de ser desesperadamente incurável é o orgulho da opinião pró-
pria e o egoísmo': Em Caminho a Cristo, lemos que;'Deus não considera 
todos os pecados igualmente graves; há aos seus olhos, como aos do ho-
mem, gradações de culpa". 
Embora pecado algum seja "pequeno" a sua vista, Deus, avalia cada um 
em sua devida gravidade. Os seres humanos podem enfatizar pecados ex-
ternos tais como «embriaguez, "ao passo que o orgulho, o egoísmo e a 
cobiça muitas vezes não são reprovados. No entanto, esses são pecados 
especialmente ofensivos a Deus, pois são contrários .à benevolência. de seu 
caráter e àquele desinteressado amor que é a própria atmosfera do uni-
verso não caído': Os que caem em pecados grosseiros, acrescenta White, 
sentem vergonha e necessidade da graça, mas hão os orgulhosos?' 
V por isso que os pecados "vegetarianos" dos fariseus são mais peri-
gosos e difíceis de curar do que os dos publicanos. Não é incomum que 
fariseus e perfeccionistas de todas as eras possam sucumbir anfipecados 
. 	• 
 
GcAos oupArs 	CLS 
	
mais graves, porém invisiveis. ) 	)( 
	
a 	r GCA4)"não 
to pecados. Um bom lugar para começar a discussão sobre o assunto é 
D livro de Tiago. Ele escreveu que "aquele que sabe que deve fazer o bem e 
ão o faz nisso está pecando" (Tg 4:17). Paulo também estabeleceu ligação 
Ttre o pecado e o conhecimento humano quando afirmarn que "pela lei 
?.m o pleno conhecimento do pecado" (Rm 3:20; cf. 4:15; 7:7). 
501 Pecado e Salvação 
• Mas, e se a pessoa não conhece a lei e viola seus preceitos? Essa pessoa 
está "pecando"? Ou o que dizer do indivíduo que incorre em erros, mas 
não tem consciência disso? Essa pessoa pecou? Em outras palavras, exis-
tem pecados por ignorância ou não intencionais? 
Tudo leva a crer que Paulo acreditava na existência desse tipo de pe-
cado. Escrevendo a Timóteo, ele confessa ter sido "noutro tempo [...] blas-
femo, e perseguidor, e insolente" com Cristo.(Do ponto de vista legal, ele 
pecou, embora não tivesse consciência ética de suas açõesiO apóstolo 
ressalva, porém, que obteve "misericórdia': pois havia feito aquilo "na igno-
rância, na incredulidade (1Tm 1:13). 
• Esse pecado precisou ser perdoado? A resposta de Paulo é positiva. 
A graça de Deus "transbordou" sobre ele. "Cristo Jesus': admite o após-
tolo, "veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o prin-
cipal:' O apóstolo recebeu "misericórdia" (v. 14-16). 
• A diferença entre os pecados conscientes e os inconscientes é bastante ex-
plícita no Antigo Testamento Foi por isso que Davi suplicou a Deus que o 
absolvesse das "faltas ocultas" e que o guardasse dos "pecados insolentes" (SI•
19:12, 13, RSV). Herbert C. Leupold caracteriza as faltas ocultas de Davi como 
"pecados de fraqueza cometidos inadvertidamente. São aqueles pecados que 
normalmente nem mesmo percebemos que os cometemos': Já os "pecados in-
solente? do salmista são aqueles cometidos "em desafio ao Senhor': 52 
Moisés Menciona diversas variedades de pecado(Embora seja possível 
equiparar os pecados insolentes de Davi com o pecar "à mão levantada" 
(Nm 15:30, ARC), o conceito reiterado de alguém. que peca "por ignorân-
cia' (Lv 4:2, 13, 22, 27; Nm 15:27 a sem dúvida (basta ler o contexto), 
certo grau de desobediência consciente) 
Assim, pois, o "pecado por ignorânciadrtanto atos conscientes de 
desobediência quanto ofensas cometidas por fraqueza e fragilidade huma-
na:" Apesar disso, ãé mesmo as ações pecaminosas cometidas por puro 
acidente e sem a intenção de prejudicar alguém eram disciplinadas pela 
legislação mosaica (ver Ëx 21:12-14). 
• Pecados conhecidos específicos exigiam sacrifícios pessoais específi-
cos na legislação levitica. Além disso, o povo tinha de oferecer diariamen-
te, pela manhã e pela tarde, um holocausto por seus pecados acidentais. 
O dia da expiação anual também estabelecia providências para os "pecados 
Pecado Original e Não Original 51 
que o povo havia cometido por ignorância (Hb 9:7, NVI).(0s únicos 
pecados pelos quais não se podia fazer expiação no sistema sacrifical do 
Antigo Testamento eram osdõço fornIa_atrevAl por 
pessoas que se recusavam a se arrepender e/ou a parar de cometê-los. Não 
havia esperança para essas pessoas, nem no Antigo (ver Nm 15:30, 31) 
nem no Novo Testamento (Hb 10:269 
A essa altura é importante admitir que a definição mais abrangente de 
pecado não é o pecado como sendo apenas "transgressão da lei': Arnold 
Wallenkampf apresenta com precisão os aspectos mais amplos ao salien-
tar que "o apóstolo Paulo oferece a definição decisiva de pecado quando 
afirma que 'tudo o que não provém de fé é pecado' (Rm 14:23):' É assim, 
pois, que Wallenkampf fala de pecados "morais" (deliberados) e "amorais 
(atos de ignorância). Mas se apressa em ressaltar que os pecados por ig-
norância ou pecados resultantes da imaturidade ou da fraqueza humana 
(pecados amorais) também "causarão nossa morte eterna, ,a menosue 
aceitemos a Jesus como o nosso Salvador." 54 c'GgI,11.ge,rflogl _G:' c-?, é , . 
? 
/ 	A teologia wesleyana faz uma distinção bastante útil entre os conceito
s?
eti t- 
cos e legais de pecado. O conceito ético envolve a intenção &pecar, ao passo 
que o conceito legal "inclui qualquer infração da perfeita vontade de Deud" i 
A distinção entre os conceitos _éticos_e legais de pecado se baseia no 
ensino de John Wesley de que existem pecados "corretamente assim cha-
mados" e pecados "impropriamente assim chamados". O primeiro consiste 
na transgressão voluntária de uma lei conhecida, enquanto o segundo re- 
presenta "a transgressão involuntária de uma lei divina, conhecida ou não': i 1 
Tanto os pecados corretamente identificados quanto aqueles que não o , 1/4 
são, adverte ele, precisam da "reparação do sangue':" 	 1/4 
z 
Para Wesley, o "pecado impropriamente assim chamado" tem mais a 
ver com "equívocos" cio que com obstinada "rebelião': Esse tipo de pecado 
tem sua origem na ignorância, nas fraquezas da carne, nos reflexos e assim 
por diante. Vale notar, porém, que a linha que divide o 'pecado correta-
mente assim chamado" e o "pecado impropriamente assim chamado" nem 
sempre é clara na vida diária. 
Por exemplo, quando fico zangado, minha atitude é voluntária ou in-
voluntária? "Talvez': escreve J. Robertson McQuilkin, "tenha sido invo-
luntária no inicio, mas se continuarmos no estado de ira, ela certamente 
52 1 Pecado e Salvação 
se tornará voluntária:' É importante também ressaltar que um "pecado 
impropriamente assim chamado" pode se tornar un -i "pecado correta-
mente assim chamado': caso a pessoa seja advertida e se recuse a mudar 
de atitude (ver Tg 4:17). 57 
Embora não empregue a terminologia de Wesley, Ellen White revela 
os mesmos conceitos. "Se alguém que diariamente comunga com Deus 
se desvia do caminho': escreveu ela, "não é porque peque obstinadamente; 
pois quando percebe seu erro, torna a fixar os olhos em Jesus, e o fato de 
haver errado não o faz menos querido ao coração de Deus: Ellen White 
insiste que "ser levado ao pecado sem se aperceber — não pretendendo 
pecar, [...1 é muito diferente daquele que planeja deliberadamente entrar 
em tentação e planeja um curso de pecaddss 
Assim sendo, o que Ellen 'White denomina "pecado voluntário" equivale 
ao pecado propriamente assim chamado" de Wesley, enquanto o pecado 
involuntário (erro ou pecado por ignorância) pode ser equiparado ao "pe-
cado impropriamente assim chamado': Tanto John Wesley quanto Ellen 
White chamam de "erros" os "pecados impropriamente assim chamados':" 
O aspecto revelante a ser ressaltado nesta seção é que os escritores bí-
blicos, Ellen White e teólogos como Wesley chamam esses "erros" de pe-
cado, e não de malP É importante lembrar também que tanto o sistema 
sacrifical do Antigo Testamento quanto a morte expiatória de Cristo co-
brem ambos os tipos de pecado: por insolência ou ignorância. Esse ensino 
será muito Útil nos capítulos 7 a 9, quando procurarmos dewendar o signi-
ficado da perfeição na Bíblia e nos escritos de Ellen White. 
PERSPECTIVA CONCLUSIVA 
Passamos bastante tempo examinando o problema do pecado, pois 
uma compreensão incorreta do pecado leva inevitavelmente a uma visão 
inadequada da salvação. John C. Ryle ressalta que, "se a pessoa não perce-
ber como é grave a enfermidade que lhe acomete a alma, seu contenta-
mento com soluções falsas e imperfeitas será algo previsível':" 
Compreender o pecado é também um pré-requisito para um adequa-
do conceito de perfeição. "Sempre que o conceito de pecado for defor-
mado, naturalizado ou racionalizado': postula Hans LaRondelle, "a ideia de 
perfeição sofrerá, por consequência, a mesma sentença."62 
Pecado Original e Não Original 1 53 
O problema é que o pecado é enganoso. Ellen White escreve que "muitos 
se enganam acerca do estado de seu coração. Não entendem que o coração 
natural é enganoso mais que todas as coisas, e perverso" (Jr 179). Esse pro-
blema é especialmente difícil para os que sofrem do pecado da "bondade" 
(1,c 15:25-29, por exemplo). Os que se julgam "razoavelmente bons" não sen-
tem a necessidade de se tornar participantesda graça de Deus." 
Para o teologo medieval Anselmo, somente "os que verdadeiramente 
reconhecem a gravidade da cruz [...] verdadeiramente reconhecerão a gra-
vidade do pecado"" 
Para curar a enfermidade do pecado é necessário morte e ressurreição, 
primeiramente em Cristo e depois em cada um de seus filhos. Assim como 
Cristo teve sua cruz, assim devemos ter a nossa Além da cruz, porém, e 
estreitamente associada a ela, está a vida ressurreta Grande parte do res-
tante deste livro abordará esses temas. Mas, primeiro, é preciso estudar a lei 
e suas funções desempenhadas no universo criado por Deus e na vida de 
cada ser humano. 
' Karl Menninger, Man against Hirnself (Nova York, NY: Harcourt, Brace 8,c World, A 
Harvest Book, 1938), p. 3. 
Karl Menninger, Whatever Became of Sin? (Nova York,NY:Hawthorn, 1975), p. 45, 48, passim. 
Orval H Mowrer, lhe Crisis in Psychiatry and Religion (Princeton, NJ D Van Nostrand, 
1961), p. 40. 
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Atonement (Nova York, NY: American Tract Society, 1909), p. 88. 
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Ellen G White, Caminho a Cristo (Tann, SR Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rom]), p. 18. 
g Bernard Ramm, Offense to Reason: A Theology of Sin (San Francisco, CA. Harper & Row, 
1985), p. 157; John Macquarrie, Principies of Christian Theology, 2' ed. (Nova York: Charles 
Scribner's Sons, 1977), p. 69; Reinhold Niebuhr, lhe Mature and Destiny of Man: A Christian 
Interpretation (Nova York, NY: Charles Scribner's Sons, 1964), v. 2, p. sa 
9 Emil Brunner, lhe Christian Doctrine of Creation and Redemption, trad. Olive Wyon 
(Philadelphia, PA: Westminster, 1952), p. 90; Ramm, p. 10-37; John Stembeck, East of Eden 
(Nova York, NY: Bantarn, 1967), p. 366. 
ga James Orr, lhe Christian View of God and the World (Nova York, NY: Charles ScribnerS 
Snnq 1R971 n 1 R? 
54 1 Pecado e Salvação 
" Albert Banes, citado em H. Shelton Smith,,Changing Conceptions of Original•Sin (Nova 
York, NY: Charles Scribner's Sons, 1955), p. 129; Ramm, p. 50. 
" Blaise Pascal, citado em Rarnm, p. 1. a Blaise Pascal, Pensées 	 
13 Ramm, p. 76; Washington Gladden, citado em Smith, p. 176. 
14 Ellen G. White, Orientação da Criança (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rorn]), p. 475. 
15 Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatu!, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), p. 306. 
16 James Denney, Studies in 7heology (Londres, Inglaterra: Hoclder and Stoughton, 1895), 
p. 90, 91. 
17 Albert C. Knudson, lhe Doctrine of Redernption (Nova York, NY: Abingdon-Cokesbury, 
1933), p. 263 (grifo nosso). 
" Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tata SP: Casa Publicadora Brasileira, 
2001 1CD-Rom1), p. 671. Cf. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatu!, SP: Casa Publicadora 
Brasileira, 2001 [CD-Romp, p. 306. 
19 John C. Ryle, Holiness: lis Nature, Hindrances, Difficulties, and Roots (Welwyn, Inglaterra: 
Evangelical Press, 1979), p. 5, 3. 
20 John Alfred Faulkner, Modernism and the Christian Faith (Nova York, NY: Methodist 
Book Concern, 1921), p. 280; Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatu!, SP: Casa Publi-
cadora Brasileira, 2001 [CD-Rorn]), v. 1, p. 344. 
21 Leonard Woods, citado em Smith, p. 79, 80. 
22 Henry Ware, citado em ibid., p. 82, 83. 
23 Wilhiarn Newton Clarice, An Outline of Christian 7heology (Nova York, NY: Charles Scribner's 
Sons, 1898), p. 244,245. 
24 Ellen G. White, Educação (Tatu!, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993), p. 29. Cf H. R. 
Mackintosh, Fie Christian Experience of Forgiveness (Londres, Inglaterra: Nisbet, 1927), 
p. 63. 
25 Para um ponto de vista contrário a este, ver Marvin Moore, lhe Refiner's Fire (Bolse, ID: 
Pacific Press, 1990), p. 132, n. 6. A ideia de que , a pessoa pode "nascer de novo" é bastante 
difundida em certos setores do adventisrno. 
2.6 Jalnes Orr, God's Image in Man, 2" ed. (Nova York, NY: K C Armstrong and Son, 1906), 
p. 223. 
Leon Morris, The Atonement (Downers Grove, ILInterVarsity, 1983), p. 136, 137. 
28 Ellen G. White, O Maior Discurso de Crista (Tatui: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rorn]), p. 21; Ellen G. White, O Desejado de fadas as Nações (Tatu!, SP: Casa Publi-
cadora Brasileira, 2001 [CD-Rom]), p. 172; Ellen G White, Caminho a Cristo (Tatui, SP: 
Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rorn]), p. 17. 
29 lbornas Gataker, citado em Bryan W. Bali, 7he English Connection: lhe Puntan Roots of , 	 ' Seventh-day Adventist Belief (Cambridge, Inglaterra: James Clarice, 1981), p. 68; Ramm, 
p. 149. 
3° Ellen G. White, Caminho à Cristo (Tatu! : Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rorn]), 
p. 47; Ellen G. White, Revim and Herald, 16 de abril de 1901, p. 241. 
31 Ver Colin Brown, ed., "Love”, lhe New International Dictionary of New Testament 7heology 
(Grand Rapids, MI: Zondervan, 1986). Cf. Daniel Day Williams, The Spirit and the Forms 
of Love (Nova York, NY: Harper & Row, 1968), p. 16-51; C. S. Lewis, The Four Lovas (Nova 
York, NY: Harcourt Brace Jovanovich, 1960). 
Pecado Original e Não Original 1 55 
32 Para a aplicação de Isaías 14:12-14 a LUdfer, ver George R. Knight, The Cross of Christ, p. 20. 
33 Orr, p. 216. 
"• Ellen G. White, Manuscrito 8, 1888, em 7he Ellen G. White 1888 Materiais (Washington, 
DC: Ellen G. White Estate, 1987), p. 128. 
35 Herman Ridderbos, Paul: An Outline of His Theolog,y, trad. J. R. De Witt (Grand Rapids, 
MI: Eerdmans, 1975), p. 105; Ramm, p. 81, 95; Edmond Jacob, Theology of the Old Testament, 
trad. A. W Heathcote e P. J. Allcock (Nova York, NY: Harper & Row, 1958), p. 283; Eichrodt 
Theology of the Old Testament, trad. J. A. Baker (Londres, Inglaterra: SCM Press, 1967), v. 2, 
p. 400. 
36 Herbert E Douglass, Why Jesus Waits, ed. rev (Riverside, CA: Upward Way Publishers, 
1987), p. 53; Emil Brunner, The Mediatbn trad. Olive 'Wyon (Nova York, NY: Macmillan, 1934), 
p. 462. Cf Brunner, Christian Doctrine ofCreation and Redemption, p. 92. 
Orr, p. 172 	 ' 
38 James Denney, lhe Christian Doctrine ofReconciliation (Londres, Inglaterra: James Clarke, 
1959), p. 196. 
" Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003), 
v. 4, p. 384; Ellen G. White, Parábolas de Jesus (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), p. 400. 
4° C. S. Lewis, Mere Christianity (Nova York, NY: Macmillan Paperbacks, 1960), p. 109. Cf, 
George R. Knight, Philosophy and Education: An Introduction in Christian Perspective, 4a 
ed. (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2006), p. 184-192. 
41 Para saber mais sobre esse tema, ver Gustaf Aulén, The Faith of the Christian Church, trad. E. 
H. Wahlstrom (Philadelphia, PA: Muhlenberg, 1960), p. 231-236; Emil Brunner, 7he Letter to 
the Romans (Philadelphia, PA: Westminster, 1959), p. 161. 
" Ver George R. Knight, lhe Cross of Christ, p. 73-75. 
" Emil Brunner, Christian Doctrine of Creation and Redemption, p. 94. 
44 Macquarrie, p. 261. Cf. Martin Luther, in Paul Althaus, lhe 7heology of Martin Luther, trad. 
R. C. Schultz (Philadelphia, PA: Fortress, 1966), p. 144, 145. 
" Ellen G. White, Manuscrito 9, 1890, em 7he Ellen G. White 1888 Materiais, p. 537. 
Ramm, p. 40. 
47 Althaus, p. 153. 
48 Berkouwer, p. 241. Ver também James Denney, Studies in 7heology, p. 80-85; Knudson, 
p. 240,241; Ramm, p. 40. 
49 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rord, v. 1, p. 220. 
" Henry W Robinson, Redemption and Revelation (Londres, Inglaterra: Nisbet, 1942), p. 241. 
SI Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), 
v. 7, p. 199, 200; Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 
2001 [CD-Rom]), p. 30. 
52 Herbert C. Leupold, Exposition of the Psalrns (Grand Rapids, MI: Baker, 1969), p. 183. 
" Roland K. Harrison, Leviticus(Downers Grove, IL: InterVarsity, 1980), p. 60, 61. 
54 Arnold Valentin Wallenkampf, What Every Christian Should Know About Being JustOed 
(Washington, DC: Review and Herald, 1988), p.25. 
" Laurence W Wood, 'A Wesleyan Response" e "lhe Wesleyan Viewil em Donald L. AlexandeE 
ed., Christian Spirituality: Five Views of Sanctification (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1988), 
p. 39, 113. 
56 I Pecado e Salvação 
" John Wesley, A Plain Account of Christian Perfection (Kansas City, MO: Beacon Hill Press 
of Kansas City, 1966), p. 54. 
57 Ibid., p. 55; J. Robertson McQuilkin, "The Keswick Perspective2 em Melvin E. Dieter, 
Anthony A. Hoekema, Stanley M. Horton e J. Robertson McQuilkin, eds., Five Views on 
Sanctification (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1987), p. 172. Ver também Leo George 
Cox, John Wesley's Concept of Perfection (Kansas City, MO: Beacon Hill Press of Kansas 
City, 1964), p. 180; Leon Chambers e Mildred Chambers, Holiness and Human Nature 
(Kansas City, MO: Beacon Hill Press of Kansas City, 1975), passirn. 
" Ellen G. White, Review and Herald, 12 de maio de 1896, p. 290, Ellen G. White, Nossa Alta 
Vocação (Tata SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rom]), p. 175. 
59 Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), p. 162; Wesley, A Plain Account of Christian Perfrction, p. 55; Ellen G. White, 
Mensagens Escolhidas (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rom]), v.1, p. 360. 
" Para um ponto de vista oposto ao apresentado nesta passagem, ver Dennis E. Priebe, 
Face-to-Face With the Real Gospel (Boise, ID: Pacific Press, 1985), p. 28-30. 
61 	Ryle, p. 1. 
62 Hans K. LaRondelle, Perfection and Perfectionisrn (Berrien Springs, MI: Andrews University 
Press, 1971), p. 3. 
63 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatuí, SP:-Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), v. 1, p. 320; Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo (Tattil, SP: Casa 
Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rom]), p. 7. 
64 Anselmo, citado em Ramm, p. 38. 
CAPÍTULO 3 
Usos Ilegítimos da Lei 
lls abemos, porém': escreve •o apóstolo Paulo em uma passagem bas-
tante esclarecedora, "que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de 
modo legítimo" (1Tm 1:8). A verdade surpreendente é que pode-
mos usar a lei de maneira indevida. Paulo sugere que podemos abusar dela, 
e que a perfeita lei de Deus pode se tornar ruim, se for empregada para 
fins para os quais nunca foi feita.10ma das grandes tentações da natureza 
hurnana é empregar mal a lei de Deus) 
Paulo estava bem ciente do problema, porque havia sido um fariseu que 
podia "confiar também na carne"; alguém que era "irrepreensível" "quanto 
à justiça que há na lei" (Fp 3:4, 6). Em sua experiência pré-cristã, o apóstolo 
se orgulhava de suas realizações morais diante de Deus. No melhor sentido 
farisaico da palavra, ele tinha sido um atleta moral, que empregava todos os 
esforços para agradar a Deus pela obediência a seus mandamentos. 
Em outras palavras,. Paulo alcançou a posição farisaica que "uma pessoa 
pode atingir em um relacionamento correto com Deus pela observância 
meticulosa de tudo que a lei prescreve. Pois se essa pessoa cumpre todas as 
obras da lei, torna-se justa para com Deusi'l O método pelo qual era possí-
vel alguém ser considerado correto ou justo diante de Deus era mediante 
a observância da lei de Deus. A obediência levava à justificação. A lei era 
para ele um meio de alcançar a justiça. 
Foi precisamente esse conceito que o Paulo convertido passou a con-
siderar o modo "ilegítimo" de utilizar a lei de Deus. Em outro contexto, ele 
escreve que a lei moral (incluindo os dez mandamentos) era santa, justa e 
boa (Rm 7:12). "Boa para quê?" é a pergunta que devemos fazerydé mes-
mo o que é santo, justo e bom pode ser usado de maneira profana, injusta 
e ruim, quando se descaracteriza a finalidade para a qual foi criado)Se 
for para ter um efeito benéfico na vida cristã, a lei de Deus deve ser usa-
da legitimamente (tendo em vista o propósito para a qual foi concebida). 
Quando, porém, é mal aplicada, torna-se um agente de morte. 
o 
58 1 Pecado e Salvação 
Nem Cristo nem. os escritores do Novo Testamento minimizaram a im-
portância da lei. Procuraram, sim, colocá-la em seu devido lugar Em parte al-
guma da Escritura isso poderia ser mais claro do que na obra-prima teológica 
de Paulo — a epístola aos Romanos. Vimos no capítulo anterior que, antes de 
poder tratar efetivamente da salvação (iniciada em Romanos 324), primeiro 
ele tinha que demonstrar a profundidade e universalidade do pecado humano. 
Essa foi sua principal tarefa em Romanos 1, 2 e 3:1=23. Em Romanos 
3:23, o apóstolo resume seu argumento concluindo vigorosamente que os 
judeus não eram melhores que os gentios, "pois todos pecaram e carecem 
da glória de Deus': Portanto, todos precisam ser "justificados gratuitamen-
te, por sua graça'', posta ao alcance do ser humano mediante o sacrifício de 
Cristo e recebida pela fé (Rm 3:24, 25). 
O ponto que queremos destacar no rnomento é que Paulo usou os pri-
meiros três capítulos de Romanos não só para provar a universalidade do 
pecado, mas também para começar a desenvolver a ideia de que a lei é 
impotente e inapta para resolver o problema do pecado. 
Em Romanos 3:20, portanto, ele lança um ataque frontal contra a maneira 
farisaica de abordar a justiça, ao afirmar que "ninguém será justificado [feito 
justo] diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno co-
nhecimento do pecado': Essa questão precisava ser abordada ...acrescentada 
às conclusões do apóstolo a respeito do pecado, antes que ele pudesse come-
çar a tratar adequadamente da solução divina para o problema do pecado. 
A.. impotência da lei para salvar se tornou um dos principais temas das epís-
tolas paulina4A. lei',' escreveu Paulo, "suscita a irá' (Rm 4:15; cf. 6:23), "O homem 
não é justificado por obra,s da lei" (G12:16).'Todos quantos, pois, são das obras 
da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: `Maldito todo aquele que 
não permanece em todas as coisas escritas no livro da lei, para pratica-las: 
E' evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus" (G13:10, 11) 
(rn 	
. 
E suma, a lei reVela que ternos um problema sério em nossa vida, mas 
não apresenta soluções. A única coisa que da faz é deixar uma sentença de 
morte pendurada sobre a cabeça das pessoas. Foi por isso que Paulo ficou 
bastante incomodado ao ver que as pessoas tentavam usar a lei para obter 
salvação (G13:1-3)) 
Martinho Lutem certa vez teria afirmado que, "se uma pessoa pudes-
se ser salva pelo monastério',' essa pessoa seria ele mesmo. Ele também 
Usos Ilegítimos da Lei I 59 
4g. chegou à mesma conclusão que seu predecessor farisaico: Paulo. opo-
sição que Paulo e Lutero movem contra "todo método de obter salvação 
por meio de uma fórmula legal", sugere Gerrit C. Berkouwer, "é intensa e 
obstinada", porque essas técnicas se tornam "concorrentes de Crist6: 2 ) 
A oposição de Paulo, continua Berkouwer, "não é contra a lei, mas con-
tra o homem pecador que se acha bom o suficiente para obter justiça dian-
te de Deus e que utiliza a lei como uma escada"? 
A importância da lei para Paulo é clara Depois de ter afirmado que ela 
não podia ser usada para justificar ninguém diante de Deus (Rm 320), que 
todas as pessoas estavam sob condenação por causa da universalidade do pe-
cado (3:23; cf. 415,623) e que a salvação só era obtida pela graça de Deus me-
diante a fé (3:24, 25, 28), ele imediatamente faz a ressalva de que(o método da 
fé não "anula a ler Ao contrário, o método da fé "confirma a lei) (331). 
Paulo emprega uma boa parte dos capítulos.? a 15 de Romanos, explican-
do o significado de Romanos 331 para a vida cristã, mas primeiro ele precisa-
va continuar sua discussão sobre como uma pessoa se "salvâ' da "ira' .' de Deus. 
A discussão de como uma pessoa se torna justa (justificada) diante de 
Deus é o ponto focal de Romanos 4 e 5. Somente depois de mostrar como 
alguém se justificaé que Paulo passa a discutir o 'papel da lei na vida da 
pessoa justificada (capítulos 7-15). 
O presente livro seguirá o mesmo roteiro progressivo apresentado por 
Paulo em Romanos. Antes, porém, é preciso analisar a finalidade da lei e sua 
verdadeira natureza Afinal de contas, "a lei é boa, se alguém dela se utiliza 
de modo legítimo" (1Tm 1:8). O que significa usar a lei de forma legitima? 
o 	 O PROPÓSITO DA LEI 
f 
•Y O primeiro propósito da lei é revelar Deus para nós. 'A lei moral dada 
por Deus ao homem no princípio", observou Loraine Boettner, "não foi um 
pronunciamento arbitrário ou caprichoso, mas uma exn de seu ser. 
Ele mostrou ao homem qual era a natureza divina: 4 
Devemos ver a lei de Deus como uma expressão do caráter e da vontade 
de Deus. Ela não é arbitrária. Deus não ordena o amor e proíbe o assassínio 
por causa de um capricho, mas porque "é de sua própria natureza prescre-
ver certas ações e proibir outras. Deus declara que o amor é bom, porque 
ele próprio é amor. Mentir é errado porque o próprio Deus não mente". 
60 1 Pecado e Salvação 
A lei revelada é um reflexo do seu caráter.' Não foi por acidente que Paulo 
afirmou que a lei é "santa, justa e boa" e "espiritual" (Rm 7:12, 14). 
A lei, como reflexo do caráter de Deus, aponta para sua segunda finalidade. 
Ela serve corno padrão de julgamento daquilo que é9 caráter humano ideal 
Deus criou os seres humanos a sua "imagem" e "semelhança" (Gn 1:26,27). Seu 
ideal para cada pessoa era que ele ou ela refletisse perfeitamente o caráter 
divino. Daí a afirmação de Ellen White: 'As condições da vida eterna, sob 
a graça, são exatamente as mesmas que eram no Éden — perfeita justiça, 
harmonia com Deus, conformidade perfeita com os princípios de sua 
A lei de Deus foi um padrão não só no Éden, mas também desempe-
nhará a mesma função no juízo final ao fim desta era (Rrn 2:12-16; Ap 14:6, 
7, 9, 12; Ec 12:13, 14). 7 
A lei como padrão de julgamento está diretamente relacionada a uma 
terceira função da lei, isto é, a de apontar e condenar o pecado no coração 
e na vida humana. "Pela lei'; diz Paulo "vem o pleno conhecimento do 
pecado': "Eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei" 
(Rm 3:20; 7:7). Ira e morte são o fruto da quebra da lei (Rm 4:15; 5:12, 
17; 6:23). John Wesley resumiu de forma bem pitoresca a função condenatória 
da lei quando escreveu que um dos objetivos da lei é despertar "aqueles que 
ainda dormem à beira do precipício do infernd: 8 
Uma das grandes realidades da vida é que as pessoas muitas vezes não 
têm consciência de seus defeitos e pecados mais graves. Eu, por exemplo, 
sou muito mais consciente dos pecados dos meus filhos do que dos meus 
próprios. Os pecados deles são para mim urna fonte constante de irritação, 
se decido me concentrar neles. Eles, por sua vez, estão bastante cientes de 
quando eu erro o alvo. 
Onbora nossos julgamentos a respeito dos outros possam ser razoavel-
mente precisos, Deus deseja que enfrentemos nossas falhas pessoais) Pois, 
conforme Tiago, o Senhor nos deu sua lei para funcionar como "um espelho" 
(Tg 1:23-25). Antes de eu sair de manhã para o trabalho, ponho-me diante do 
espelho para descobrir o que está certo e o que está errado com meu rosto e 
cabelo. 0 espelho me diz que nem tudo está pronto para a exposição pública, 
pois tenho algo no rosto e o cabelo não está devidamente penteado. 
Ora, a função do espelho é mostrar as coisas que precisam ser melho-
radas. De posse desse conhecimento, devo recorrer ao sabonete, à toalha 
Usos Ilegítimos da Lei I 61 
e ao pente. Não é o espelho que vai limpar meu rosto ou pentear meu 
cabelo. O objetivo do espelho é apontar as melhorias necessárias; ele não é 
o instrumento capaz de efetuar essas mudanças. 
O mesmo acontece com a lei de Deus. Quando eu me comparo com a 
lei, descubro que tenho problemas na minha vida. Mas a lei não pode, por 
si só, corrigir esses problemas. Ela tem outra função: dizer-me que sou um 
pecadote■ lei revela os meus problemas e necessidades, mas não os resolve) 
Um quarto objetivo da lei é apontar para além de si mesma e da peca-
minosidade humana. O problema da lei é que ela não oferece nenhuma 
esperança para o transgressor Diante da lei transgredida, sou apenas um 
pecador que merece a condenação .e a morte eterna (Rm 6:23). Mesmo 
que eu só tenha violado a lei uma única vez em pensamento, palavra ou 
ação; aos olhos dela estou condenado. A lei de Deus não oferece nenhuma 
misericórdia nem perdão. Embora estabeleça os padrões da justiça, ela não 
tem remédio algum para quem a transgride. 
(c.A. luz da lei transgrediria, o pecador é indefeso e sem esperança. Deus 
usa a lei, portanto, para nos conduzir da desesperança humana para Jesus 
Cristo como a resposta à perdição da humanidadepaulo compara a lei na 
experiência nacional de Israel a uma espécie de motorista de ônibus esco-
lar, que transporta as crianças para a escola. A lei não é o professor, mas 
aquele que conduz os alunos ao professor Assim, a lei levou ou direcionou 
Israel para Cristo em um sentido histórico (GI 3:23-25). 
No âmbito pessoal, a lei ainda desempenha essa mesma função em 
cada vida humana. A condenação da lei transgrediria nos direciona para 
Cristo, a quem podemos confessar nossos pecados e receber tanto o per-
dão quanto a purificação (1Jo 1:9; 2:1, 2). Depois de cumprir a função de 
nos levar ao Mestre (Cristo), ela deixa de servir para esse propósito. Não 
volta a exercer mais o papel de condutor até que nos afastemos do Mestre 
novamente. Ai ela entra em ação mais uma vez e nos leva de volta a nossa 
única fonte de esperança e perdão. 
Os puritanos dos séculos 16 e 17 costumavam expressar a função con-
dutora da lei em direção a Cristo caracterizando-a como "uma serpente 
abrasador Ela "fere, pica e atormenta a consciêncii, dirigindo-nos assim 
"para o Senhor Jesus que, erguido na cruz à semelhança da serpente abrasa-
dora erguida no deserto, nos oferece a cura': "Para o pensamento puritano, 
62 1 Pecado .e Salvação 
a afiada agulha da lei, enquanto alfineta a consciência [com sua ponta], per-
manece ligada à linha escarlate do evangelho:' 9 
Assim sendo, escreve Hans LaRondelletA lei de Deus não destrói o 
evangelho de Cristo, antes, pelo contrário, revela que o evangelho da graça 
é necessário e indispensávelIoi com esse conceito em mente que Paulo 
admitiu: "Eu, mediante a própria lei, morri para a lei" como meio salvação 
(G12:19). Para lierman Ridderbos, a lei "espancou" Paulo "até a morte" e o 
condenou em seu julgamento. Mas ele se tornou justo (justificado) diante 
de Deus pela fé na morte de Cristo na cruz (cf. Gl 2:16-21). 10 
A quinta função datei é agir como guia moral e padrãode justiça para 
a vida cristã. Embora não seja capaz de salvar uma pessoa do pecado, a lei 
tem um papel válido na vida do cristão convertido. O puritano John Flavel 
não poderia ter expressado isso melhor quando escreveu:CA lei nos envia 
a Cristo para sermos justificados, e Cristo nos envià de volta à lei para ser-
mos regulamentados») cPurr0 NA LCI" 
Wesley disse essencialmente a mesma coisa quando afirmou que "por 
um lado, a lei continuamente nos aponta ao evangelho e abre caminho 
para ele. Por outro lado, o evangelho sempre nos leva a um cumprimento 
mais rigoroso da lei?' 
Os argumentos apresentados por Havei e Wesley se baseiam funda-
mentalmente na declaração de Paulo em Romanos 3:31, quando este afir-
ma que a fé estabelece ou confirma a lei, em vez de anulá-la. O restante do 
livro de Romanos fornece sólidas evidências para as conclusões desses teó-
logos Podemos dizer o mesmo com relação ao Novo Testamento em geral. 
(O. Novo Testamento ensina claramente que, embora não seja um mé-
todo de salvação, a lei serve para o cristão convertido como uma definição 
normativa do pecado e um guia para o viver cristão) 
Embora Paulo, ao se tomar cristão, não esteja mais sob a condenação da 
lei (Rm 8:1), ele ainda está "debaixo da lei de Cristo" (1Co 9:21). Para o cal-
vinistaholandês Berkouwer,tos mandamentos são, para o crente, o miseri-
cordioso dom do Deus salvadort0 teólogo wesleyano Melvin Dieter sugere 
que, para a pessoa convertida, ' lei i'se torna um evangelho': enquanto nos 
atrai "para uma vida de amor, que é a finalidade da lei': Seguindo uma abor-
dagem semelhante, Anthony Hoekema equipara o guardar a lei cristã com 
o viver no Espirito, quando escreve que "os crentes guiados pelo Espirito são 
Pu e ece_po " 	 Usos Ilegítimos da Lei j 63 
precisamente os que fazem o melhor que podem para guardar a lei de Deus. 
[...] A vida cristã deve ser [...] uma vida pautada pela lei2 3 
João Calvino, o grande reformador de Genebra, definiu propriamente 
o papel da lei na vida cristã. A "função principal, da lei, afirmava ele, "en-
contra seu lugar entre os crentes em cujo coração o Espírito de Deus já 
vive e reina. [...] A lei é o melhor instrumento para capacitar os crentes a 
aprender diariamente qual a vontade de Deus, que tanto anelam conhe-
cer:" Voltaremos à "função principal" da lei no capítulo 5. 
ILEnquanto: isso, devemos ressaltar novamente que um dos maiores e 
mais graves equívocos da história religiosa é a incapacidade de estabelecer 
uma clara distinção entre o que se deve fazer para ser moralista e o que é 
preciso fazer para ser salvo/Foi aí que os fariseus se enganaram redonda-
mentetPor não compreenderem a profundidade do problema do pecado, 
achavam que podiam se tornar justos guardando a lei. Visto que os fariseus 
não entendiam o propósito da lei, nem o poder do pecado em sua vida 
(Rm 3:9), afirma Berkouwer, "a lei de Deus não lhes incutia nenhum terror'2 5 
Essa subestimação dos efeitos da queda (o pecado original e seus resul-
tados) fez com que acreditassem ser capazes de vencer o pecado como fez 
Adão antes da queda (e posteriormente Cristo, o segundo Adão). 
[Para combater esse erro popular, Ellen White escreveu "Era possível 
a Adão, antes da queda, formar um caráter justo pela obediência à lei de 
Deus. Mas deixou de fazê-lo e, devido ao seu pecado, nossa natureza se 
acha decaída, e não podemos nos tornar justos. Visto como somos pecam,,i-
nosos, profanos, não podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa:I'j 
John H. Gerstner amplia as ideias acima. 'A errônea interpretação da 
lei [e da observância da lei] feita pelos fariseus',' explica ele, "residia em uma 
visão errônea de humanidade. Para eles, a queda de Adão era coisa tão 
simples quanto o primeiro caso de uma pessoa que decide agir errado. 
Achavam que as pessoas ainda eram capazes de viver corretamente após a 
queda, caso fossem guiadas pela lei:" 
Paulo, Martinho Lutero, João Calvino, John Wesley, Ellen White e muitos 
outros ao longo da história se opuseram sistematicamente a essa teologia In-
felizmente, porém, o farisaísmo ergue sua cabeça a cada geração, muitas vezes 
com uma explicação teológica contemporânea e atual Tais opiniões não estão 
inteiramente mortas entre os adventistas do sétimo dia, mesmo no século 21. 
64 j Pecado e Salvaçao Ji 	ui*ut 	titi víwc 
IDENTIFICANDO A VERDADEIRA LEI 
e Os dez mandamentos não são a "verdadeira lei': De fato, no contexto da 
história do universo através da eternidade, eles são o que se pode chamar 
de objetivação e normatização da lei.) 
Não é preciso pensar muito, nem durante muito tempo para se chegar 
à conclusão de que a lei, conforme expressa nos dez mandamentos, não é 
sua forma eterna e universal. Pegue como exemplo o quarto mandamento. 
Afirma-se ali claramente que Deus deu o sábado como um memorial da 
criação do planeta Terra (ver Ex 20:8-11; Gn 2:L3). Até mesmo o ciclo 
de sete dias (de vinte e quatro horas cada) aponta, para o nosso planeta 
e sistema solar, fatores determinantes do preceito sabático encontrados 
no decálogo. O sábado do quarto mandamento representa, portanto, um 
princípio universal e eterno da lei moral. Esse princípio pode ter outra ex-
pressão em lugares em que o tempo tenha outras delimitações. 
Ellen White sugere essa linha de pensamento. 'A lei de Deus': reconhe-
ce ela, lá existia antes de o homem ter sido criado. Os anjos eram gover-
nados por ela. Satanás caiu porque transgrediu os princípios do governo 
de Deus [...]. 
'Após o pecado e queda de Adão, coisa alguma foi tirada da lei de Deus. 
Os princípios dos dez mandamentos existiam antes da queda e eram de cará-
ter apropriado à condição de uma santa ordem de seres. Depois da queda, os 
princípios desses preceitos não foram mudados, mas foram dados preceitos 
adicionais que viessem ao encontro do ser humano em seu estado decaído:" 
Em outra parte ela volta a enfatizar: `A lei de Deus existiu antes de ter sido 
criado o homem. Adaptava-se às condições de seres santos; mesmo os anjos 
eram por da governados. Depois da queda, não foram alterados os princí-
pios da justiça: Mas Ellen White admite em outro contexto que, depois da 
transgressão de Adão, os princípios da lei "foram definitivamente dispostos e 
expressos de modo a adaptar-se ao homem em seu estado decaidd: 19 
Embora a nova "expressão" e "disposição" da lei depois da queda incluís= 
se, sem dúvida, aspectos cerimoniais, incluía também aasa tão da lei. 
Afinal de contas, ninguém precisava lembrar aos santos anjos do Céu para 
não roubar, cometer adultério ou matar. 
Os anjos guardavam a lei sem saber, porque ela estava escrita no coração 
deles. 'Amor'; lemos, "é o grande princípio que atua nos seres não caídos:'2° 
Usos Ilegítimos da Lei j 65 
Não é necessário ordenar-lhes: "Não i matarás" ou "Não furtarás': porque 
eles são positivamente motivados a cuidar um do outro de coração(So-
mente depois da entrada do pecado, a lei precisou ser expressada em 
termos negativos, visto ser dirigida agora a seres movidos por egoísmo e 
motivações negativas.) 
Visto que qualquer discussão aclarada sobre justiça e/ou perfeição depen-
de de uma compreensão correta da lei de Deus, :é ..d a mais extrema importân-
cia identificarmos corretamente o que Charles Colson chamou de "a lei por 
trás da lei?' 
O Antigo Testamento compreende pelo menos três leis: amoral, a civil 
e a cerimonial. Além disso, a Escritura se refere aos livros de Moisés e até 
mesmo a todo o Antigo Testamento como "a lei': Sendo assim4a palavra lei, 
na Bíblia, possui muitos significados) 
No Novo Testamento, porém, Jesus ressalta com clareza cristalina a 
natureza da LEI por trás das leis. Quando lhe perguntaram sobre o grande 
mandamento, ele respondeu: 'Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu 
coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande 
e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu 
próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a 
Lei e os Profetas" (Mt 22:37-40; cf. Dt 6:5; Lv 19:18). 
Paulo e Tiago repetem o conceito de Jesus, mas indicam uma redução 
maior da lei a um único e fundamental preceito. Paulo afirma que "o cum-
primento da lei é o amor" (Rm 13:10) e que "toda a lei se cumpre em um 
só preceito, a saber: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmod" (G1 5:14). 
Já Tiago, não só concorda com Paulo, mas 'também expressa a suprema 
unidade da lei, ao afirmar que "qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça 
em um só ponto, se torna culpado de todos" (Tg 2:10 . 
O conceito subjacente a essas discussões a e 1 ovo Testamento possui 
diversas facetasbia, a lei é unificas rn vez de estar alicerçada em 
muitos princípios, a lei só possui um fundamento. No âmbito mais básico, 
podemos resumir a lei em uma palavra: amor. 22)Esse é o mesmo termo o 
empregado por João para sintetizar o caráter de Deus. Lemos em 1 João 4:8 
que "Deus é amor': Isso faz todo sentido, se a lei é um reflexo do seu caráter. 
Mas a Bíblia começa a explicar claramente o significado do amor para 
que os seres humanos e outros seres criados consiffam ver sim imnnrtA nri 
66 1 Pecado e Salvação 
em situações concretas. Para os seres não caídos, é possível pensar na lei, 
necessariamente, sob dois aspectos: amor a Deus e amor ao próximo. 
Depoisem diversas ocasiões as duas 
primeiras abordagens e flertei com a terceira, somente para descobrir que 
todas são, para dizer o mínimo, inadequadas. Eis a razão de estarmos aqui 
tentando compreender esse tema complexo. 
Palavra ao Leitor 1 7 
Desde minha conversão do agnosticismo ao cristianismo em 1961, te-
nho procurado compreender o que significa ser salvo - o sentido da obra 
de Deus por nós e em nós. Este livro é, de certa forma, resultado de minha 
experiência pessoal; embora seja também fruto dos inúmeros contatos que 
mantive com pessoas que tentam viver uma vida cristã, de estudos acadêmi-
cos e reminiscências biográficas sobre o tema. tJada é mais importante para 
mim do que compreender como ser justo diante de Deus e estar preparado 
para desfrutar seu reino de amor, tanto na era presente como na era porvir. 
Assim, Pecado e Salvação é mais do que um livro sobre teologia abs-
trataA teologia, em sua melhor forma, visa não só fornecer informações 
teóricas, mas também orientações práticas para a vida diária. Uma teologia 
que não ajuda a superar as crises e os desafios do cotidiano é, no mínimo, 
insatisfatória. J.spero que assugestões apresentadas neste estudo não só ilu-
minem a mente dos meus leitores, mas também produzam discernimento 
sobre a luta pertinaz e int nsa que as pessoaaravam diariamente por viver 
em um mundo de pecado. 
Com exceção do "A Cruz de Cristo'; o presente livro guarda estreita re-
lação com o tema de meus outros livros. Temos, em primeiro lugar, / Used 
to Be Perfect.. A Study ofSin and Salvation ("Eu Costumava Ser Perfeito: Um 
Estudo sobre Pecado e Salvação"] (2001), que tanto resume como amplia a 
tese apresentada em Pecado e Salvação. Também abordei muitos dos temas 
tratados no livro atual em Exploring Galatians and Ephesians ["Investigando 
Gálatas e Efésios"] (2005), Walking With Paul Through the Book ofRomans 
["Caminhando com Paulo Através do Livro de Rom anos"] (2002) e, de uma 
perspectiva histórica, em minha trilogia sobre as discussões sobre justifica-
ção pela fé na assembleia daAssociação Geral de 1888:From 1888 toApos-
tasy: The Case ofA. Tfones ["De 1888 à Apostasia: O Caso de A. T. Jo nes"] 
(1987). Angry Saints: Tens ions and Possibilities in the Advegist Struggle our 
Righteousness by Faith ["Santos Zangados: Tensões e Possibilidades na Luta 
em Torno daJu stificação pela Fe] (1989 )eAUserjriendlyGuidetothe 1888 
Message [A mensagem de 1888 (CPB, 2003)]. 
De todos os meus livros publicados, Pecado e Salvação foi, em vários as-
pectos, o livro mais difícil deser escrito. Apesar datentação de me desviar dos 
temas difíceis nele tratados, procurei enfrentar cada um deles de forma res-
ponsável. Nenhuma obra, obviamente, é capaz de fazer justiça à profundidade 
8 1 Pecadoe Salvação 
e complexidade do plano da salvação. Embora seja nosso privilégio iniciar tal 
estudo em nossa existência terrena, continuaremos, através da eternidade, a 
compreender cada vez mais a riqueza daobra de Deus. 
Uma coisa me surpreendeu mais do que outras, durante a pesquisa 
para este livro: o enorme consenso que existe entre cristãos de diferentes 
contextos e denominações quanto aos elementos fundamentais da gran-
diosa obra salvífica de Deuspor e em seu povo. Até mesmo adventistas de 
posições aparentemente antagônicas geralmente encontram base comum 
quando são forçados a ser específicos em "questões difíceis" de natureza 
tanto teórica quanto prática. Grande parte das batalhas travadas entre co-
munidades cristãs tem mais a ver com as definições de estágios e termino-
logias do que com as ideias centrais do tema propriamente dito. 
Embora eu mesmo tenha considerado o problema desalentador, vi que 
era também proveitoso quando descobri entre os cristão mais concor-
dância de opiniões sobre o assunto do que percebi a princípio. Confor-
me minha pesquisa progredia fiquei cada vez mais convencido de como 
eram sábias as palavras do bispo anglicano John C. Ryle, quando afirmou: 
( "O último dia mostrará quem está certo e quem está errado" em nossa 
compreensão de santidade "Enquanto isso, estou bastante convicto de 
que demonstrar amargura e frieza para com aqueles que não conseguem 
conscienciosamente concordar conosco somente revela a nossa ignorân-
cia da verdadeira santidade: 11 ) 
Permita-me acrescentar uma palavra sobre o estilo. Tentei neste livro 
fazer o difícil casamento entre a linguagem popular e a precisão acadêmi-
ca. O resultado é um meio-termo que, espero, edifique o leitor e o esthnule 
a um interesse mais profundo pelo assunto. 
De modo geral, procurei redigir o texto em grandes e claras pinceladas, 
de sorte que os temas do evangelho fossem apresentados de forma enfáti-
ca e como parte de um todo unificado. Devo lembrar ainda que os capítu-
los oito e nove, mais do que os outros, tratam de questões especificamente 
adventistas.Liberei espaço extra para eles, visto constituírem os aspectos 
centrais da discussão e da escatologia adventista. 
Este livro foi publicado em 1992s ob o título ThePhariseels'GuidetoPerfret 
Holiness: A Study ofSin and Salvation ["Guia Farisaico para a Perfeita Santi-
dade: Um Estudo sobre Pecado e Salvação'''. Fora as mudanças editoriais, 
Palavra ao Leitor 1 9 
o conteúdo permanece praticamente inalterado. As duas exceções vão para a 
ampliação e enriquecimento das seções que tratam da "questãoda justificação 
universal"e para adefinição filosófica grega de perfeição como impecabilidade. 
São muitas as pessoas com quem estou em débito ao escrever este li-
vro. Agradeço especialmente a Raoul Dederen, Atilio Dupertuis e Robert 
Olson por terem lido todo o original da primeira vez em que foi publi-
cado; e a Robert Johnston pela leitura do primeiro capítulo. As críticas e 
sugestões dessas pessoas contribuíram para que o original se tornasse mais 
preciso. O livro ficou melhor graças aos seus aportes e teria ficado ainda 
melhor, caso eu tivesse seguido todos os conselhos que me deram. Joyce 
Werner merece também minha gratidão por haver digitado todo o texto, 
que escrevi a mão. 
Um agradecimento especial vai também para Mika Devoux por fazer 
uma versão digitalizada mais limpa do exemplar escaneado . Agradeço 
também à minha esposa, Bon nie, por digitar as emendas aparentemen - 
te intermináveis; e, por fim, a Gerald Wheeler e a Jeannette Johnson por 
acompanhar o livro em todo o seu processo de editoração. 
Acredito piamente que Pecado e Salvação: O que é ser perfeito aos olhos 
de Deusserá uma bênção para seus leitores ao buscarem viver sua vida "em 
Cristo': 
George R.Knight 
Rogue River, Ore gon 
John C. Ryle,Ho liness itsNature, Hindranees,Difficulties,andRoots (Welwyn, Inglaterra: 
Evangelical Press, 1979), p. xiv, xv. 
CAPÍTULO 1 
Fariseus São Boas Pessoas 
Ainda 
inda fico •desconcertado• quando leio I:a , Bíblia} Veja, por exemplo, 
: - a maneira como o Novo Testament6 retrata os fariseus. Apesar da 
impressão deixada a respeito deles pela;deScrição bíblica, os fariseus 
eram o que:havia de melhár no povo judeu, A kwish,Encyclopedia está 
bastante correta quando afirma ser impossível fazer uma "avaliação:com-
pleta do caráter dos fariseps com base nos escritos do Novo Testamento, 
os:quais adotam lima postura polémica eu t relação a , eles? : i 
Encontramos também uma grande dose de verdade na denúncia, feita 
pela Encyclopaedia JuAtica, contra a 'suposição equivocada de que as re 
ferências do.Ncivo Testamento a eles como IiipéCritaS ou'raça de vfboras! 
(Mt 3:7; Lc 18:9) sk. aplicam ao grupo inteiro': Os lideres fariscas ;esti:mim 
'cientes da eitstência de membros dissimulados em seu meio e frequ'ente-
Mente-os descreviam corno 'chagas" cmi-Npragas do partido fa. risaico? - 
- Muitos cristãos precisam rever sua opinião a respeito dos fariseds. Eles 
não eram apenas boas pessoas; eram as melhores. Eram não só moralmen-
te corretos, mas; também extremamente sinceros em buscar ao Senhor; 
bem corno em proteger o nome, alei e a Palavra de Deus. 
Sem dúvida, a igreja e o mundoda queda, porém, a lei precisava de explicações adicionais por 
causa da degeneração da raça humana. Embora haja provas substanciais 
de que os princípios contidos nos dez mandamentos já existissem antes do 
Sinai, Deus achou melhor txpor formalmenteps dois grandes princípios 
da lei sob a forma de dez preceitos, quando fundou a nação de Israel como 
seu povo especial (Ex 19, 20). 
Os primeiros quatro mandamentos ilustram aspectos concretos do 
princípio do amor a Deus, enquanto os seis últimos particularizam formas 
específicas do amor ao próxima 
Assim sendo, é possível representar a progressão da lei de um para dois 
e depois para dez, da seguinte maneira: 
Noo\R 	Noncrui-VTI Z.A 'A 0 
LEI ----> leis 
(A ideia é que as leis de Deus fluem a partir da LEI de Deus) 
O conceito é similar ao que aprendemos sobre o pecado no capítulo 2. 
Vimos ali que pecados (atos de rebelião) têm sua origem no PECADO (na-
tureza decaída). Logo, 
sEpenetaço ) , 
'COrze5-17LI 	co/oxio 9 Cu) 
PECADO —> pecados --MO.s . vec»"Nao$ 
Veremos nos últimos capítulos que a unicidade do PECADO e a unicidade 
da LEI estão diretamente relacionadas com a unicidade da justiça. Descobri-
remos que JUSTIÇA (natureza convertida) levará à justiça (ações). Logo, 
, 	JUSTIÇA -- justiça CAsi6c5 ) 
Vimos anteriormente que um dos problemas fundamentais do farisaísmo 
era aEtomização)do pecado em urna série de atos. A atornizaçâo do pecado 
está (1i/retamente relacionada coma atomização da lei e da justiça. Embora os 
5"\WHOK et-r-tA it. O oofin- Ro É E: 	Usos Ilegítimos da Lei I 67 
',PA ,s77(/ A G 
cristãos precisem entender a natureia dos pecados, das leis e dos atos justos, 
eles também precisam compreender o PECADO, a LET e a JUSTIÇA caso dese-
jem compreender a concepção bíblica de perfeição. O fato de os fariseus do 
passado não compreenderem o PECADO e a LEI os impedia de compreender 
a JUSTIÇA. Todo o Novo Testamento se posiciona contra seus equívocos. 
Além dai.2~1 de, umnSoaspecto da lei bíblica é que ela é es-
,sencialmente positiva e não n_e_gatiya. Jesus demonstrou claramente a in-
suficiência da religião negativa quando contou a história da pessoa que 
varreu sua vida, deixando-a limpa e organizada, mas não a preencheu com 
cristianismo vivo e transbordante. O último estado dessa pessoa, segundo 
ele, tornou-se pior do que o primeiro (Mt 12:43-45). "Uma religião que 
consiste apenas em regras que ordenam não faça isto, não fctça aquilo': re-
conhece 'William Barday, "acaba sempre em fracasso." 23 
A mesma verdade aparece no diálogo de Jesus com o jovem rica O jovem 
era exímio com as "proibições" legais, mas se esquivou quando Jesus sugeriu as 
infinitas possibilidades inerentes a amar o próximo de verdade. Jesus desviou 
a atenção das dez negativas legais para alei positiva do amor. Isso, é claro, foi 
mais do que o jovem estava disposto a se comprometer: Ele se sentia relativa-
mente confortável quanto ao aspecto negativo da lei, mas não estava prepara-
do para o alcance ilimitado da lei em todas as áreas de sua vida (Mt 19:16-22). , 
A pergunta dei Pedro sobre a quantidade de vezes que deveria perdoar o 
seu irmão ensina a mesma lição. Ele duplicou a regra rabinica de três perdões e, 
cheio de boas intenções, acrescentou mais um. Afinal de contas, perdoar sete 
vezes é uma boa quantidade, se você pensar bem sobre o assunto. 
A resposta de Cristo (perdoar 490 v -ezes) sugere perdão ilimitado. Essa 
resposta, é óbvio, era mais do que o discípulo estava disposto a negociar. 1 
De fato, o que Pedro (e outras pessoas "normais" junto com ele realmen- , 
te queria saber era quando poderia parar de amar seu próximo. 'Quando 
posso largar todas essas 'gentilezas' e retribuir a eles o que realmente me- s 
recem?" era a verdadeira pergunta. A resposta de Cristo, na parábola dos 
dois devedores, é: nunca (ver Mt 18:21-35)) 
Como Pedro, ficamos mais .à vontade com os aspectos negativos que com 
os positivos. Queremos saber quando teremos cumprido nossa quota de bon-
dade, para podermos relaxar e voltar a ser nós mesmos --- normais. .O negativo 
restringe o alcance da justiça, tornando-a humanamente viável e alcançável. 
68 1 Pecado e Salvação 
Por este motivo, legalistas de todas as formas são levados a focalizar no "não 
farás': A alternativa cristã é a justiça infinita expressa na solicitude para com 
Deus e para com a humanidade, sintetizada nos dois grandes mandamentos 
do amor 
Por estranho que pareça, muitos acham que enfatizar os dois grandes 
mandamentos significa enfraquecer as exigências impostas ao cristão na vicia 
diária. Cristo demonstrou diversas vezes que o que acontece é exatamente o 
oposto. Nesses dois mandamentos, escreveu Ellen White, "se compreendem 
o comprimento e a largura, a profundidade e a altura da lei de Deus': 
No sermão da montanha, Cristo expôs os princípios da lei e começou a 
demonstrar seu significado espiritual e abrangência. São os "princípios': suge-
riu Ellen VVhite, que "permanecem para sempre a grande norma de justiça?' 
(0 enfoque negativo da religião decorre de um enfoque negativo da lei) 
O mundo está cansado de religião negativa. O pastor Kiriune a liberdade cristã 
à observância da "lei da liberdade" (Tg 2:12), em oposição a estar sujeito à 
escravidão do pecado (cf. Rm 6:18, 19). 27 
O cristão pode se relacionar com a lei de duas formas básicas. A primeira 
se chama legalismo. Segundo James Stewart, o legalismo possui três caracte-
rísticas: (1) "é uma religião de redenção pelo esforço humano"; (2) representa 
ima "tendência de importar um espírito mercenário dentro da religião" (ex: 
'fiz isto: agora me dê a recompensa"); 43) tem "predileção por negativas':") 
Richard Rice assinala que "o legalismo é incrivelmente ingênuo': porque 
`subestima drasticamente os efeitos do pecado sobre os seres humanos': 
pecado não só destrói nossa capacidade de guardar a lei (ver Rm 3:9), 
nas também coloca todas as pessoas debaixo de condenação (ver 5:12). 
Mas o legalismd; acrescenta Rice, "é mais do que ingênuo; é absolutamen-
e pecaminoso. Pois parte da orgulhosa suposição de que seres humanos 
lecaídos são capazes de, por conta própria, fazer algo para merecer o favor 
livino. Nada há mais distante da verdade:" 
70 Pecado e Salvação 
• A chave para compreender as declarações de Paulo contra a lei é que 
o enfoque legalista da lei torna a pessoa independente de Deus. A pessoa 
que ganhasse a recompensa da salvação por meio da obediência ,à lei teria 
motivo para se vangloriar de suas realizações (Rm 3:27; 1Co 1:29). Isso 
conduz ao orgulho, a própria antítese da fé (Fp 3:4, 7; Rm 4:2). 3° 
William L. Walker aponta para o óbvio, quando afirma que "o legalismo 
[...] é 'natural; e facilmente encontra favor nos homens'2 1 É agradável pen-
sar que podemos fazer algo para obter a nossa salvação (ou pelo menos 
parte dela), mas a verdade é exatamente o oposto (Ef 2:8-10). Paulo atingiu 
o cerne da questão quando afirmou: "Se .a justiça é mediante a lei, segue-se 
que morreu Cristo em vão" (G12:21). 
(A salvação não muda :a lei, mas transforma nossa relação para com ela. 
Além de nos libertar da condenação da lei (Rm 8:1), a salvação nos fornece 
um :poderoso incentivo para observá-la. 32 ) 
Se o mais claro ensinamento de Cristo sobre a relação entre a lei e a graça 
na salvação se encontra na parábola do fariseu e do publicano (Lc 18:9-14), a 
história de Zaqueu talvez seja a melhor ilustração da observância da lei espi-
ritual por uma pessoa salva em reação à graça de Deus (Lc 19:1-10). Imedia-
tamente após ser salvo, Zaqueu resolveu partilhar com os pobres a metade 
de seus bens e restituir quatro vezes mais àqueles a quem havia prejudicado. 
A nova vida que o publicano passou a levar com relação à lei era uma prova 
de que fora salvo. Zaqueu reverteu o seu estilo de vida: do egoísmo para o 
altruísmo. Essa transformação é prova de um novo nascimento. 
Não poderíamos encontrar contraste maior do que entre o coletor de 
impostos convertido e o jovem rico (Mt 19:16-22). Quando uma pessoa 
se converte, o amor a Deus começa a fluir naturalmente de seu coração, e 
não produz apenas uma observância meticulosa da letra da lei. 
A maneira como o cristão se relaciona com a lei está incluída no que a Bí-
blia chama de "experiência da nova aliançá: O livro de Jeremias e o de Hebreus 
nos dizem que a experiência espiritual ideal ocorre quando Deus imprime 
suas leis em nossa mente e as inscreve em nosso coração (Jr 31:31-34; Hb 8:10). 
É normal para o cristão guardar a lei, pois o próprio princípio da lei, que é 
amor a Deus e ao próximo, se acha escrito nas "tábuas de carne" do coração 
(2Co 3:3). Assim, o cristão está mais próximo da lei de Deus do que o legalis-
ta, pois os verdadeiros cristãos "nasceram do alto" (João 3:3, 7, RSV, margem) 
Usos Ilegítimos da Lei I 71 
e tiveram a mente e o coração transformados (Rrn 8:4-7). O desejo de estar 
em harmonia com a lei de Deus é agora parte integrante de sua vida A nova 
atitude para com a lei de Deus é um sinal de que a graça do Senhor os redi-
miu. Voltaremos a esse assunto no capítulos, mas queremos primeiramente 
examinar um pouco mais o processo inicial de ser salvo pela graça. 
' William Barclay, lhe Letter to the Rornans, 2a ed., Daily Study'Bible (Edinburgo, Inglaterra: 
lhe Saint Andrew Press, 1957), p. 53. 
2 Richard Rice, lhe Reign of God: An Introduction to Christian Theology From a Seventh-
clay Adventist Perspective (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1985), p. 245, 
246; Luther, citado em William Barclay, p. 23; Gerrit C. Berkouwer, Faith and Justification 
(Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1954), p. 77, 72, 73, 76. 
3 Berkouwer, p.77. 
Loraine Boettner, Studies in 7heology, 5a ed. (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1960), p. 286. 
Millard J. Erickson, Christian 7heology (Grand Rapids, MI: Baker, 1986), p. 802, 803. 
6 Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo (Tatur, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), p. 76. 	 . 
Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatus, SP Casa Publicadora Brasileira, 1988), p. 436. 
John Wesley, lhe Works of John Wesley, 3 1 ed. (Peabody, MA.: Hendricksán, 1984), v. 5, 
p. 449. 	 ' 
9 Bryan W. Bali, lhe English Connection: lhe Puritan Roais ofSeventhLday Adventist Belief 
(Cambridge, Inglaterra: James Clarke, 1981), p. 131 - 133. 	 - 
110 Hans LaRondelle, O que é Salvação: O que Deus Faz por Nós e em Nós (Tatui, SP: Casa Pu-
blicadora Brasileira, 1988), p. 61; Herrnan N. Ridderbos, lhe Epistle of Paul to the Churches 
of Galatia (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1953), p. 104; Geoffrey W. Bromiley, ed., "Law 
in the NT", 7he International Standard Bible Encyclopedia (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1977- 
1988). 
" John Flavel, citado em Bali, p. 133 (grifo nosso). 
Wesley, v. 5, p. 313, 314. 
13 Berkouwer, p.175; Melvin E. Dieter, 'lhe Wesleyan Perspective,' em Melvin E. Dieter, Anthony 
A. Hoekema, Stanley M. Horton e J. Robertson McQuilkin, eds., Five Views on Sanctification 
(Grand Rapids, MI: Zondervan, 1987), p. 26; Anthony A. Hoekema, "lhe Reformed Perspective; 
em ibid., p.87,88. 
" João Calvin°, A Instituição da Religião Cristã (São Paulo, SP: UNES!', 2009), 2.7.12. 
IS Berkouwer, p. 119. 
16 Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rorr]), p.62. 
" John H. Gerstner citado em Bromiley, "Law in the NT': 
18 Ellen G. White, Spiritual Gifts (Battle Creek, MI: SDA Publishing Association, 1864), v. 3, 
p. 295 (grifo nosso). 
19 Ellen G White, Mensagens Escolhidas (Tatu', SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]) v. 1, p. 220, 230 (grifo nosso.) 
,P72 1 Pecado e Salvação 
Q -° Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo (Tatut, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), p. 109; Ellen G. White, "To Brethren and Sisters of the Iowa Conference': 6 de 
, novembro de 1901, em lhe Ellen G. White 1888 Materiais (Washington, DC: Ellen G. White 
Estate, 1987), p. 1764 (grifo nosso). 
2' Charles Colson, Kingdorns in Conflict (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1987), R: 237 
(grifo nosso). 
22 Ver John Mclntyre, On the Love of God (Nova York, NY: Harpér & Brothers, 1962), p. 240, 
para a relação necessária entre o amor de Deus e o ampr ao próximo. Para outra discussão 
sobre a unidade da lei de Deus, ver Alden Thompsonkinspiration: Hard Questions, Honest 
Answeasj(Washington, DC: Review and Herald, 1991), pp. 110-136. 
Barclay, The Gospel of Mathew, 2° ed., Daily Study Bible (Edinburgh, Inglaterra: 
The Saint Andrew Press, 1958), v, 2, p..57. 
24 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tata SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), v. 1, p. 320, 211. 
Barclay,Matthew, v. 1, p. 363. 	 , 
" Emil Brunner, lhe Letter to the Romans (Philadelphia, PA: Westminster, 1959), p. 140. 
27 John C. Ryle, Holiness: Its Nature, Hindrances, Difficulties, and Roots (Welwyn, Inglaterra: 
Evangelical Press, 1979), p. 26. Ver também, Berkouwer, p. 179-181. 
28 James S. Stewart, A Man in Christ: 77e Vital Elements of St. Paul s Religion (Nova York, NY: 
Harper & Row, 1975), p. 84-87. 
29 Richarcl Rice, The Reign ofGoa': An Introduction to Christian Theology Frorn a Seventh-day 
Adventist Perspective(Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1985), p. 243. 
) Ver George Eldon Ladd, A Theolog,y of theNew Téstament (Grand Rapids, MI; Eerdmans, 
1974), •p. 500; Brunner, p. 140. 
31 William L. Walker, lhe Gospel of Reconciliation or At-one-rnent (Edinburgh, Inglaterra: T & 
T. Clark1909), p. 182. 
22 \ hor Pire n 941; 
CAPÍTULO 4 
Justificação Durante uma Vida, 
Santificação em um Momento 
O smonges e eremitas que viviam no deserto no início da história da 
Igreja são o exemplo extremo de corno não lidar com o pecado. Esses 
homens desejavam desesperadamente se libertar de todas as coisas 
terrenas, sobretudo dos desejos carnais. 
Para realizar essa tarefa, retiravam-se para o deserto egípcio com o 
objetivo de viver na solidão sem pensar em mais nada, a não ser em Deus. 
O mais famoso dos monges solitários foi Antônio (251?-356 d.C.). 
Em seu zelo, Antônio adotou a vida de eremita, jejuou, flagelou o corpo 
e• passou noites sem dormir. Durante 35 anos, ele viveu no deserto, em 
uma batalha ininterrupta contra o diabo. 
O biógrafo de Antônio relata a sua história: 'A. principio, o diabo tentou 
dissuadi-lo da disciplina, sussurrando-lhe ao ouvido a recordação de sua rique-
za, as preocupações com a irmã, as solicitações da família, o amor ao dinheiro 
e à glória, os diversos prazeres da mesa e de outras distrações da vida; por fim, 
tentou-o com as dificuldades da virtude e ,o imenso esforço para obtê-la:' 
Escrevendo sobre o grande conflito que se travou entre as forças do bem 
e do mal na mente de Antônio, seu biógrafo assim se expressou: "O mal lhe 
sugeria pensamentos depravados, mas o bem os neutralizava com orações. 
O mal abria fogo contraj ele com luxúria, enquanto o bem lhe fortalecia o 
corpo com orações, fé e jejum. O próprio diabo, certa noite, assumiu a forma 
de uma mulher, imitando-lhe o comportamento só para seduzir Antônio': 
Durante 35 anos, 'Antônio lutou contra a tentação e no final não estava 
mais perto da vitoria do que no princípio.' 
Antônio, é claro, foi apenas um dos muitos ascetas da igreja primitiva. 
Outro crente desesperado por salvação foi Simeão Stilita (c. 390-459 d.C.). 
Depois de ter ficado enterrado até o pescoço por vários meses, decidiu 
que a melhor maneira de alcançar a santidade era permanecer sentado 
74 I Pecado e Salvação 
em cima de uma coluna de pedra de aproximadamente dezoito metros 
de altura, onde estaria a salvo de toda tentação. Durante 36 anos (até sua 
morte), Simeão permaneceu no topo dessa coluna. Seu corpo "gotejava" 
bichos, mas ele continuava a fazer exercícios excruciantes a quase vinte 
metros de altura do chão do deserto. Ele afirmou certa feita ter realizado a 
proeza de tocar os pés com a cabeça mais de 1,244 vezes seguidas. 
Outros atletas ascéticos se encarceraram em celas tão minúsculas que 
não lhes era possível permanecer lá dentro nem no comprimento total 
nem na altura máxima do corpo. Muitos deles deixaram de se banhar e 
usavam cilício com pelos junto à pele. E outros ainda teriam sobrevivido 
se alimentando apenas de grama cortada com foice? 
Esses homens, sem dúvida, eram bastante sinceros em seu desejo de se 
tornar justos para com Deus. Trilhavam o mesmo caminho percorrido por 
Paulo, o fariseu -- caminho em que tropeçaram depois Martinho Lutero 
e John Wesley, bem corno o autor deste livro (quando declarou, após sua 
"conversão': se tornar o primeiro cristão perfeito desde Cristo). 
Até hoje, muitos ainda levam uma vida de austeridade, em unia tentativa 
frenética de atingir a vida aceitável a Deus. A natureza exata do que eles fazem 
pode mudar, conforme o tempo, e de pessoa para pessoa. Mas o princípio bási-
co permanece .o mesmo: creem que é possível ao ser humano facilitar a obra sal-
vífica de Deus -- algo que possam fazer para melhorar sua posição perante Ele. 
Sinceridade e extrema devoção, porém, não são suficientes. No primei-
ro capítulo deste livro, aprendemos que os seres humanos desde Adão 
nascem com tendência para o mal e "estão debaixo do poder do pecado" 
(Rm 3:9, RSV). Sozinhos não são capazes ,de fazer nada para alcançar 
a justiça ou se justificar perante Deus, não importa o tamanho de sua 
sinceridade nem a intensidade ou frequência de suas tentativas. 
Em segundo lugar, vimos no último capítulo, que a lei não oferece 
nenhuma ajuda ao cristão, embora a pessoa natural deseje usá-la como 
escada para o Céu e como "pretexto para orgulho [...] e justiça própria': 
Ao contrário, adverte Carl Braaten, a lei "lança a pessoa no desespero. Ela 
retira as estacas em que a pessoa se apoia, fazendo-a despencar no lamaçal 
do desânimo, da autoacusação, da ansiedade e. cio suicídio'? 
O mais importante, porém, é que "a lei prepara :o terreno para que ou-
çamos a boa nova da graça divina oferecida gratuitamente' .4 Levando-se 
Justificação Durante uma Vida... I 75 
em conta os fatos pessoais e jurídicos da situação humana, não admira que 
Paulo, Agostinho, Lutero, 'Wesley e inúmeros outros cristãos tenham exul-
tado quando finalmente perceberarn o que Deus fez em favor de uma raça 
decaída por meio de Cristo Jesus. 
A boa notícia, exclama Paulo no texto base do livro de Romanos, é que 
o evangelho (boa nova) "é o poder de Deus para :a salvação de todo aquele 
que crê" (Rni 1:16). Em outra parte diz o apóstolo novamente: "pela graça 
sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus" (Ef 2:8). 
Esses pensamentos inspirados nos levam até o ponto em que nos é pos-
sível começar a compreender a solução para os problemas examinados 
nos três primeiros capítulos. Vamos começar "desempacotando" algumas 
das grandes palavras da salvação. 
RECEBENDO O QUE NÃO MERECEMOS 
Até aqui, uma coisa deve ter ficado clara a respeito dos seres humanos: 
eles não merecem receber nada de Deus, a não seta morte eterna (Rm 6:23). 
Eles se rebelaram contra Ele, colocaram o próprio egoísmo no centro de sua 
vida, estão debaixo da condenação da lei e estão iludidos em seu orgulho e 
prepotência espiritual por características que podem ser definidas como "boas': 
Não admira que a Bíblia se refira aos seres humanos não só corno seres confu-
sos, mas inteiramente perdidos no pecado (ver Lc 19:10; 15..6, 9, 24; Mt 121). 
Ora, se as pessoas merecem punição severa e, em vez disso, recebem 
um belo e precioso dom, estão recebendo o que não merecem. Essa é a 
definição popular do que a Bíblia chama de graça. 
`A livre graça de Deus',' escreve Braaten, "é um amor 'espontâneo' e 'imo-
tivadd Deus ama os seres humanos por causa de sua própria inclinação 
para amar. Não há em nós nenhuma qualidade merecedora de amor que 
venha motivar Deus a nos amar. Peus ama os indignos de seu arnor))Deus 
ama até mesmo os, Ir. pios,os inimigos da religião e da moralidade, os 
publicanos e os pecadores de todas as eras:'s 
Nos alicerces de sua graça está o amor agapé. Deus nos ama apesar de 
nós mesmos. Esse tema percorre a Bíblia toda, de Gênesis até Apocalipse. 
A.ssim, enquanto o "salário" [algo que ganhamos] do pecado é a morte',' 
'o dom gratuito [graça] de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso 
";enhor" (Rm 6:23). "Deus prova «seu próprio amor para conosco pelo 
76 I Pecado e Salvação 
•fato de ter Cristo morrido por nós; sendo nós ainda pecadores [rebeldes 
contra o senhorio de Deus em nossa vida]" (Rm 5:8).(Cristo não morreu 
por pessoas boas, mas "pelos impios9Rm 5:6). 
A graça de Deus brilha através das Escrituras, até mesmo nas passagens 
em que a Bíblia nunca utiliza a palavra, conforme provam os seguintes tex-
tos: "Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, Eu vos escolhi 
a vós outros" (Jo 15:16). "E nós temos visto e testemunhamos que o Pai en-
viou o seu Filho como Salvador do mundo" (1Jo 4:14). `0 Filho do Homem 
[...] não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por 
muitos" (Mt 20:28). Essas passagens, e incontáveis outras, deixam claro que o 
(conceito de graça não surge de uma teoria abstrata sobre a natureza de Deus, 
mas a partirda revelação de seu próprio caráter em ambos os testamentos) 
A graça começa sempre comj a iniciativa amorosa de Deus. É por iSso 
, que o encontramos, imediatamente após a entrada do pecado, buscando 
os indignos Adão e Eva no Éden (cf. Gn 3:8-11); escolhendo Israel no Egito, 
, não por causa de sua justiça, mas por causa de seu desamparo (ver Ez 
16:1-14; Dt 7:6-11); como o pastor buscando a ovelha perdida no deserto, 
como a mulher rastejando entre os escombros de um chão sujo em busca 
ss da dracma perdida ou como o pai correndo ao encontro de um filho que 
;) havia figuradamente "cuspido no seu rosto" (cf. Lc 15). 
5 	Cristo veio morrer não só por prostitutas, por traidores e desonestos 
• oc bradores de impostos como Zaqueu, mas para "buscar e salvar" todos os 
que estavarn "perdidos" (Lc 19:10). "Porque Deus amou ao mundo de tal 
\k maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não 
, pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3:16). 
, 	A salvação na Bíblia é sempre iniciativa de Deus. "Não precisamos pri- 
meiro nos arrepender de nossos pecados para depois ir a Jesus'; escreveu 
James Denney; "é a entrada de Cristo em nossa vida que nos traz primeiro 
o arrependimento e depois as demais bênçãos espirituais2 6 (k parte huma-
na no drama da salvação é apenas corresponder à iniciativa divina) 
A revelação da graça de Deus revolucionou a vida de Paulo. Como fari-
seu, ele acreditava que Deus justificava apenas os que obedeciam à leiOus-
tificação, para ele, era a certificação da bondade humana)Mas, ao se tornar 
cristão, reconheceu que Cristo o havia alcançado e tocado mesmo quando 
Justificação Durante urna Vida... 1 77 
Com essas ideias em mente, é fácil perceber porque o ex-comerciante 
de escravos, John Newton, conseguiu escrever e cantar este hino: 
"Oh, graça excelsa de Jesus! 
Perdido, me encontrou! 
Estando cego, me fez ver; 
Da morte me livrou!" 
Lutero, com sentimento bem parecido, escreveu que Jesus, ao nos en- 
contrar "pobres e perdidos nos arrancou das garras do inferno, nos con- 
quistou, nos libertou e nos reconduziu à bondade e graça do Pai celestial"' 
Como todas as outras palavras relacionadas a pecado e salvação,fraça 
é, acima de tudo, um termo que denota um relacionamento pessoal entre 
a divindade e a humanidade)Representa a amorosa atitude divina que não 
permite abandonar as pessoas perdidas sem fazer o possível para salvá-las, 
mesmo que isso envolva luta e sacrifício pessoal. 
A graça compreende vários aspectos. Dois dos mais importantes no 
2-Am-77 processo de salvação são a _graçaercRloaclora e a_gaça mantenedora. 
Davi exemplificou, esses dois aspectos da graça quando orou a Deus para 
"purificá-lo" e "guardá-lo" de cometer "pecados insolentes" (S119:12, 13, KJV). 
Reinhold Niebuhr expressou esses dois aspectos da graça em termos de 
"graça como poder e graça como perdão'. O enunciado reflete claramente que 
a graça de Deus não só perdoa a rebelião de seus súditos, mas lhes dá força 
para quebrar os grilhões do pecado na vida diária. Poder é uma palavra-chave 
na dinâmica da salvação. De acordo com Paulo, os indivíduos em seu estado 
natural "estão debabw dopoder do pecado; mas o "evangelho [...] é o poder de 
Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 3:9, RSV; Rm 1:16). 
A palavra grega usada pelo apóstolo para expressar "poder" em 
Romanos 1 é dynarnis. E. a raiz do nome do explosivo chamado de di- 
namite. A graça de Deus, enquanto poder, é como dinamite na vida do 
cristão. Assim como uma poderosa explosão de dinamite pode mudar a 
face do solo, também a graça de Deus, enquanto poder, é capaz de transfor- 
mar essa vida mediante .a obra do Espírito Santo. Por isso, E. Glenn Hinson 
se refere à graça de Deus "como o Deus vivo conquistando nossa vida e 
transformando-nos"9 De vez em guando voltaremos a esse tema neste livro. 
78 I Pecado e Salvação 	r 
) Urna das coisas mais notáveis sobre a graça é que ela é gratuita. Gra-
tuita, porém, não deve ser interpretada como barata. Jamais devemos es-
quecer o alto preço pago no calvário para tornar o perdão e a capacitação 
divina disponíveis aos pecadores. 1° 
Apesar do alto custo, as pessoas não podem contribuir em nada para 
a própria salvação. "Tudo que o homem pode fazer no sentido de sua sal-
vação': escreveu Ellen White, "é aceitar o convite?' Essa aceitação, vale 
frisar, é importante.(A salvação não é automática nem universal, como 
ensinam alguns, mas precisa ser aceita pelos indivíduos) Essa ideia nos 
leva ao tema da fé. A 
TOMANDO POSSE DO QUE .00 MERECEMOS 
'FE , F67-1qA 
9PO-VPI 9 A A natureza da fé 
Embora Deus, por meio de sua graça (favor imerecido), tenha tomado 
providências para salvar a todos, nem todos serão salvos. Por. quê? Porque, 
corno observa John Stott, "Deus não nos entrega suas dádivas à força; te-
mos ide recebê-las mediante .a fé':12 De acordo com Jesus, "todo o que nele 
crê" terá "a vida , eterna' (Jo 3:16). Paulo escreveu que somos salvos "pela 
graça [...] mediante a fé" (Ef 2:8). 
Para os escritores da Bíblia,@ fé é a única condição essencial da sal-
vação)Na cruz, Deus providenciou salvação para todos, mas cada pessoa 
precisa aceitá-la para que a providência divina se efetive. 
Essa verdade é ilustrada no livro apócrifo de 2 Macabeus, no qual le-
mos que sete irmãos judeus foram capturados pelo rei Antioco Epifânio. 
(segundo século a.C.). Soldados sírios torturaram os irmãos, um por um, 
na frente dos outros e da mãe deles, por se recusarem a comer carne de 
porco. Depois de ter condenado seis deles à morte, Antioco chamou o sé-
timo e, com juramentos, lhe prometeu que o tornaria rico e feliz, "contanto 
que abandonasse as tradições dos antepassados': 
A seguir, o rei se dirigiu à mãe do jovem e lhe pediu que o ajudasse a 
convencê-lo. Depois de muita insistência, ela concordou em cooperar Mas, 
quando se aproximou do filho, instou com ele para que permanecesse fir-
me, dizendo: "Não tenhas medo desse carrasco. Ao contrário, tornando-te 
digno de teus irmãos, enfrente" a morte, para que eu te recupere com eles 
Justificação Durante uma Vida... 1 79 
no tempo da misericórdia:' A história termina com a morte do sétimo filho, 
que sofreu tortura "ainda mais feroz do que os outros". 3 
Meu objetivo, ao usar essa história, é mostrar que„pi ara o perdão ser eficaz, 
d ele precisa ser aceit)o. Isso vale também para o perdão divino em favor dos peca-
dor s. s. É irnprescin ível que aceitemos a graça de Deus pela fé. Mas o que é fé? 
fé pode ser várias coisaspm elemento importantíssimo para o conceito 
bíblico de fé é a confiança em Deus. Confiança, é claro, implica crença na con-
fiabilidade de uma pessoa. Morris Venilen foi direto ao ponto quando escreveu 
que "o cristianismo e a salvação não se baseiam no que você faz, mas em quem 
você conhece 14 E Jesus nos garante que "a vida eterna é esta: que te conheçam a 
ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17:3). 
A fé não é cega; ela se baseia no conhecimento do caráter de Deus. Desse 
conhecimento é que flui a confiança. Assim Hebreus 11 descreve os fiéis do 
Antigo Testamento: vivendo para Deus, porque o conheciam e nele confia-
vam. Abraão, Moisés, Raabe, Davi e Samuel foram exemplos ilustrativos de 
fé porque confiavam em Deus e viviam com base nessa confiança. 
Morris Venden conta a história do equilibrista que andava sobrej as 
Cataratas do Niágara em uma corda bamba. Depois de fazer a travessia, 
ele perguntou à multidão fascinada: "Quantos acreditam., que eu possa 
atravessar essa corda novamente, desta vez empurrando um carrinho de 
mão com un-ia pessoa sentada dentro?" 
A multidão aplaudiu corwicta de que ele era capaz de realizar aquela 
façanha. Foi então que ele pediu um voluntário para se sentar no carrinho. 
Venden escreve que houve "um profundo silêncio': Essa história é utili-
zada para ilustrar a diferença vital entre crer e conflui' 
(Eu gostaria de sugerir que a fé bíblica inclui tanto a crença quanto a con-
fiança)--uma confiança baseada na crença. Edward Vick captou a essência da 
fé quando escreveu que "ter fé significa confiar. inteiramente. Ter fé em Deus 
significa nos colocar tão completamente aos seus cuidados a ponto de aceitar-
mos a avaliação e o julgamento que Ele faz de nossa humanidade bem como 
sua maneira de lidar conosco em nossos pecados. Ter fé significa permitir, em 
t. no sa condição perdida, que Deus faça conosco o que Ele bem entender'." 
Assim como o primeiro passo para o pecado foi à desconfiança em Deus 
(Gn 3:1-6), da mesma forma, também o primeiro passo ern direção a Ele .é a 
fé confianteyer fé é assumir seriamente o fato de que devemos confiar em 
80 I Pecado e Salvação 
Deus porque ele quer sempre o melhor para nós." A fé é uma expectativa 
confiante de que Deus cumprirá suas promessas. cA fé bíblica, vale ressaltar, é sempre absoluta, nunca moderada)Eis por 
que James Denney escreveu que "a fé não é a aceitação de um acordo legal; 
é a entrega da alma, sem outra esperança a não ser o Salvador [...]. Inclui 
renúncia absoluta de tudo o mais para agarrar-se em Cristo': A fé é uma 
"paixão através da qual uma pessoa se torna cativa e incondicionalmente 
absorta no amor revelado no Salvador?' 
Peter T. Forsyth sugere a mesma coisa ao comentar que a sabedoria 
filosófica grega exalta os valores da moderação, mas não o cristianismo. 
("Não nos é possível amar. a Deus em demasia, acreditar no seu amor em 
5 demasia ou considerá-lo santo em demasia. A fé apropriada nele é confian-
ça absoluta e imoderada."") 
‘ 5- Um segundo aspecto da fé bíblica é que ela constitui um relacionamen- 
r- to com Deus. Fé, conforme já observamos, é muito mais do que a crença 
em um conjunto de proposições a respeito de Deus ou de Jesus. Fé é con-
fiança em uma pessoa. E por ser confiança em uma pessoa, fé implica um 
relacionamento com essa pessoa. É um relacionamento de fidelidade entre 
dois indivíduos. Para Paulo, a fé não era a fé "em alguma coisa'; mas fé 'em 
alguém'', em Deus, em Jesus Cristo (G1 2:16; Rm 3:22, 26.), A vida cristã . 
completa é vivida "na fé" em Deus?' 
"Fé',' escreveu 1 Herbert Douglass, "é o oposto de rebelião?' Se rebelião 
e .constitui a base do relacionamento de pecado para cor eus, então fé cons-
titui a base do relacionamento reconciliado com Deus. ale lembrar que não 
existem outras maneiras de se relacionar com Deus além de rebelião e de fé) 
1 o/ Um terceiro aspecto da fé bíblica é que ela é uma vida de total dedica-
ção a Deus. Quando Cristo channou Mateus de seu cargo na coletoria de 
impostos e Pedro de sua empresa de pesca, ressalta Dietrich Bonhoeffer, 
"em tudo isso se exigia uma única coisa: confiar na palavra de Jesus" me- 
(i dia te um total compromisso de vida." 
Crença, confiança, relacionamento e compromisso são quatro aspectos 
da fé)cujo conceito tem como ápice o compromisso. E por isso que o livro 
de Hebreus considera a "fé mais como algo que se faz do que algo que se tem 
g É uma atividade e não uma posse': Foi assim que Abel ofereceu "mais exce- 
lente sacrifício"; Noé "aparelhou uma arca' e Abraão "partiu" (Mb 114, 7, 8), 
Justificação Durante uma Vida... 1 81 
A crença, a confiança e o relacionamento com Deus os levaram a um com-
promisso total como também à ação. Sem o último passo, a fé deles teria sido 
incompleta. Jiirgen Moltmann sintetizou bem esse ponto quando escreveu 
que "a fé cristã só pode ser entendida como compromisso sem reservas para 
com o 'Deus crucificado".12 
Visto que a fé é proativa em termos de confiança e compromisso, 
EL Wheeler Robinson sugeriu que "ela é fundamentalmente um ato da 
vontade':" Éiti seja, a pessoa faz a escolha de crer, confiar, relacionar-se 
positivamente e comprometer-se com Deus em Crista), 
O papel da vontade 
Mas podemos perguntar: se a vontade humana está decaída e a pessoa 
natural tem propensão para o mal, como é que um indivíduo consegue 
decidir ter uma relação de fé com Deus? 
A resposta é dupla. Primeiramente, é importante notar que, apesar de 
ter sido fraturada e grosseiramente distorcida(a•imagem de Deus no ser hu-
mano não foi totalmente destruída)(Gn 9:6; .1Co 11:7; Tg 3:9). Um resíduo 
da imagem divina continuou a existir na humanidade após a queda. Por-
tantoembora as pessoas estejam pervertidas e perdidas como resultado da 
queda, elas ainda são humanasPe sorte que cada vida humana é o palco , 
de uma grande e constante luta entre as forças do bem e do mal, no qual , 
ambos os lados procuram influenciar para perto ou para longe de Deus. 
Em segundo lugar, o Espírito Santo continua a operar na vida dos seres 
'caídos, procurando influenciá-los para que escolham o bem. A vontade, 
portanto, ainda que naturalmente propensa para o mal, recebe a chance de 
fazer uma escolha pelo lado de Deus, mediante a obra doEspíriito_Santo„ 
Deus dá o primeiro passo. Nós correspondemos. Jesus disse: "Ninguém 
pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer" (Jo 6:44; cf. 12:32). 
John Wesley chamou de graça "preveniente" essa obra do Espirito. 
A graça preveniente, explica Henry O. Wiley, (é essa graça que `se anteci-
pa ou prepara a alma para entrar no estado inicial da salvaçãO\la graça 
preveniente, Deus atua para oferecer a salvação e tornar a pessoa capaz 
de corresponder, ainda que a decisão seja do indivíduo. Deus não força a 
vontade humana a ter fé. Quando muito, ela é persuadida a ter fé mediante 
o amor demonstrado por Deus." 
82 l Pecado e Salvação 
• Conquanto Ellen White não empregue o termo "graça preveniente'; 
esse conceito teológico permeia quase todos os seus escritos. "O pecador': 
afirma ela, "não pode produzir em si o arrependimento, ou preparar-se 
para ir a Cristo. [:.]O primeiro passo em direção de Cristo é dado graças à 
atração do Espirito de Deus; ao atender o pecador a esse atrair, vai ter com 
Cristo a fim de que se arrependa." 27 , 
v* 	Não é só a vontade do indivíduo que sofre a influência da obra do Espí- 
rito; a própria fé constitui um dom do Espírito Santo. En -ibora Deus tenha 
transgressão da lei de Deus, mas também ad-
mitir que o pecado é uma afronta pessoal contra nosso Criador. É por isso 
que Peter T Forsyth afirma:(A confissão salvadora não é apenas dizer 'eu s.N . 
fiz isso e aquilo; mas 'eu fiz isso contra um Deus santo e salvador?) 	- 
O clamor sincero de Davi após o desastroso adultério com Bate-Seba e 
o assassinato de seu marido Urjas, o heteu, e seus homens (ver 2Sm 11:1-- 
12:23), era porque ele havia pecado contra Deus: ''Pequei contra ti, contra 
ti somente" (Si 51:4). Embora seja verdade que o adultério e o assassinato 
são cometidos contra pessoas, em essência,todo pecado atinge a Deus)o 
criador das pessoas a quem ofendemos com nossas ações." 	 c 
A oração de Davi é um modelo de arrependimento: 	 E 
( 
"Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade ç 
Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre c 
diante de mim. 	 . 
Pequei contra ti, contra ti somente 1. I. 
Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. 
Cria em mim, é Deus, um coração puro e renova dentro de mim um 
espirito inabalável. [•..] 
Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espirito 
voluntário. [...] 
Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a mi-
nha língua exaltará a tua justiça' (S151:1-14). 
A súplica de Davi não só reconhece a profundidade de seu pecado e 
a bondade de Deus, mas também pede ao Senhor que o perdoe e restau-
re. Ele vai além e implora que Deus lhe dê forças para endireitar sua vida 
diária. Agradecido pela misericórdia de Deus, o salmista se compromete 
a louvar a Deus e a "ensinar aos transgressores os teus caminhos" (v. 15,13). 
Davi exemplificou o verdadeiro arrependimento mediante um "espirito 
quebrantado" e um "cor ção compungido e contrito" (v. 17). Brunner estava 
correto ao afirmar que( "só nos arrependemos realmente quando sabemos 
que jamais poderemos estar arrependidos o suficientd.'") a 
84 I Pecado e Salva 	 '41 ,-, 
) 	 . 
A oração de Davi revela tanto uma mudança de pensamento como um 
fr,desejo de mudar de comportamento. Combina tanto fé quanto arrepen-
dimento.. : dimento. Ao se afastar de seu pecado, ele se voltou para Deus‘rejeit u um 
) relacionamento de pecado com Deus por um relacionamento de fé. 
) Antes de encerrarmos o tema sobre arrependimento, cumpre obser-
)var duas coisas. Primeiro, o arrependimento não é uma "obra" humana. 
7 `Não menos do que o perdão e a justificação, [o arrependimento] é dom 
) 
!)cle Deus, e não pode ser experimentado a não ser que seja concedido à 
pessoa por Cristd: 34 Paulo deixa claro que "a bondade de Deus é que te 
'-)conduz ao arrependimento" (Rrn 2:4). Nossa própria capacidade de nos 
.-- 
arrepender é outra evidência da graça preveniente de Deus. 
A segunda coisa a considerar é que o arrependimento não é obra de 
um momento, mas um modo de vida. O arrependimento é uma mudan-
ça de coração não só no que diz respeito ao passado ou ao presente, mas 
também ao futuro. É um modo cristão de viver. Marvin Moore captou isso 
primorosamente quando observou queese arrepender significa reconhe-
cer o estilo de vida aprovado por Deus e desejar torná-lo seu 35 i 
Autocrucificação 
Estreitamente relacionado como arrependimento, no papel que ele de-
sempenha tanto no início da experiência crista corno' na sua continuação 
ao longo da vida, esta(a crucificação do eu)Cristo preparou o terreno para 
esse radical e desconfortável ensino em Cesareia de Filipe quando disse a 
seus discípulos: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome 
a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e 
quem perder a vida por minha causa acha-ia-á' (Mt 16:24, 25). 
Para compreender plenamente essa afirmação, precisamos nos co-
locar no lugar dos discípulos. A ideia de ser crucificado não estimula 
muito nossa imaginação do século 21. Nunca vimos uma crucificação. 
Para nós, não passa de uma palavra morta. Mas não para os discípulos. 
Quando eles viam um grupo de soldados romanos escoltando pela ci-
dade uma pessoa carregando ou arrastando parte de uma cruz, sabiam 
que aquela era uma viagem sem retorno. Sabiam que a cruz era a mais 
cruel e humilhante das mortes. para Jesus e os discípulos, a cruz simbo-
lizava a morte) 
L' fI.FV i 	
\ILAYV ; rn 	\- - vo A f r (- Justificação Durante uma Vida... 1 85 
"O que devemos condenar à morte?': perguntamos. O Novo Testamento 
responde: a vida centrada em si mesmo. Para entender o que Cristo quis 
r dizer precisamos nos lei brar do que é o pecado. Em seu sentido mais 
básico, pecado é colocar nosso eu e nossa vontade no centro de nossa vida„ 
ao invés de Deus e sua vontadeyrata-se de rebelião contra Deus, na qual 
decidimos ser o governante+le nossa própria vidalliecado é dizer "não" a 
Deus e "sim'' para si mesmo.) 
O que precisa morrer é o principio de vida centrada em si mesma, que 
nos é tão natural. Bonhoeffer acertou o significado de ser um cristão quan- i , 
do escreveu: "Todo chamado de Jesus conduz à morte2 6 k-= 
L._ 
Jesus chamou a atenção para o problema essencial do ser humano ao 
E 
afirmar que "ninguém pode servir a dois senhores" (Mt 6:24). A questão 
central é: quem vou colocar no trono de minha vida? A mim mesmo ou a 5 
Deus? Minha vontade ou a de Deus? Não posso servir os dois senhores ao 5- 
mesmo tempo. Quando eu ficar frente a frente com as reivindicações de ` 
Cristo, só tenho duas opções: ou o crucifico ou deixo que Ele me crucifi- 
que. Não há meio-termo. 
No centro do conflito está a vontade humana, "o poder que governa a 
natureza do homem': O pecado teve sua origem na obstinação egocêntrica.' 
'A luta contra o próprio eu'; escreve Ellen White, "é a maior batalha que já foi 1 
ferida. A renúncia de nosso eu, sujeitando tudo à vontade de Deus, requer , 
luta; mas a pessoa tem de submeter-se a Deus antes que possa ser renovada' 
em santidade:' Nas palavras de Denney:Nmbora o pecado tenha nascido 
de parto natural, ele não morre de morte natural; em todos os casos, pre-
cisa ser moralmente condenado e mortd")Essa condenação é um ato da 
vontade sob ó impulso do Espirito Santo. Cristo a chamou de crucificação. 
Infelizmente, o meu eu não gosta de permanecer morto. O fariseu que 
há em mim quer reviver e sugere que, já que a crucificação é coisa do pas-
sado, posso me considerar uma pessoa muito boa. Gosto de proclamar 
meu ego em alta voz. O glorificar a si mesmo (ainda que focalizando mi-
nhas boas ações) é um sinal evidente de que a crucificação não é algo que 
ocorre somente uma vez na vida. Essa foi a razão de Paulo ter afirmado 
que precisava morrer "dia após dia" (1Co 15:31). Ou, como expressou o 
compositor de hinos cristãos, Frank Belden: "O eu é pior do que um gato 
de nove vidas; precisa ser morto diariamente pela Palavra138 
86 I Pecado e Salvação 
O cristianismo, felizmente, é mais do que a morte de velhas atitudes e 
antigos comportamentos. E, conforme veremos mais adiante neste capítu-
lo, uma vida positiva baseada em um relacionamento de fé com Cristo 
(cf. Gl 2:20). O arrependirnento e a crucificação do eu são a porta de entrada 
para esse relacionamento de fé. Martinho Lutero mostrou grande discer-
nimento sobre todo o processo quando escreveu: (É da natureza de Deus 
fazer as coisas a partir do nada. É por isso que Deus não pode fazer nada a 
partir de alguém que ainda não seja nada." 21 
JUSTIFICAÇÃO E TEMAS CORRELATOS 
Justificação 
O Novo Testamento emprega muitas figuras de linguagem para a sal-
vação. Dentre elas, acham-se termos como redenção, reconcilictção e pro-
piciação. O primeiro nos remete à linguagem do mercado; o segundo e o 
terceiro, à linguagem da família e do altar de sacrifício, respectivamente. 4° 
No entanto, uma das metáforas mais significativas para a salvação no 
Novo Testamento é justcação — uma palavra que nos remete à lingua-
gem do tribunall0 termo significa essencialmente ser declarado justoj 
Para Martinho Lutero, a justificação era a doutrina centraldas Escritu-
ras. Era "o mestre e governante, o senhor, o governador e juiz sobre todas 
as outras doutrinas': Ela é a única doutrina cristã, queedistingue a nossa 
religião de todas as outras,' Paulo também colocou a justificação pela fé 
no centro de sai evangelho (Rm 1:16, 17; 3:24-26; G12:16-21). 
Parte da razão por que Paulo e Luteto consideravam a justificação funda-
mental para o plano da salvação tinha que ver, sem dúvida, com o tema do 
juízo, que percorre toda a Escritura (ex: Ec 12:14; Dn 7:10, 26; Mt 25:31-46; 
Rm 2:5; Ap 14:7). Mas, para além das figuras retóricas do juízo, estava a expe - 
riência pessoal desses dois homens. Ambos eram fariseus no coração. Cada 
um esperava obter o favor de Deus por intermédio de méritos acumulados 
na balança do juízo. Essa tentativa, conforme ambos aprenderam, era uma 
missão impossível. 
O fracasso de Lutero o deixou em um estado lastimável. Ele entendeu 
que a frase paulina 'a justiça de Deus' 1..1 apontava para a justiça pela qual 
Deus é justo e lida de forma justa ao punir o injusto': Para o reformador 
Justificação Durante uma Vida... 87 
alemão, a justiça de Deus era, portanto, sua terrível justiça retribuidora e 
punitiva. Lutero sabia que estava condenado ao fogo eterno do inferno, 
porque, mesmo sendo "um monge impecável", estava diante de Deus, o juiz 
implacável, na condição de um pecador perdido. 
Nesse estado de espírito, ek não conseguia captar o que Paulo queria 
dizer com a frase `0 justo viverá por fé" (Rm 1:17). Depois de refletir sobre 
o significado da passagem, ele concluiu: "Compreendi então que a justiça 
de Deus é aquela justiça pela qual Deus, por meio de graça e absoluta mi-
sericórdia, nos justifica pela fé. Em razão dessa descoberta, senti que renas-
cera e entrara pelas portas abertas do Paraíso. Toda a Escritura passou a ter 
um novo significado; e, se antes a 'justiça de Deus' me enchia de ódio, agora 
se tornou para mim indizivelmente doce em maior amor; passagem 
de Paulo se tornou, para mim, a porta para o Céu:' 42 
Para Lutero, o Juiz cruel se transformou no Pai amoroso. A justificação 
se tornou para ele, como fora para Paulo, a boa nova da salvação. 
Paulo e Lutero, em seus dias de fariseus, não estavam completamente 
errados. Afinal, a justiça exige mesmo perfeita obediência :à lei. O castigo 
automático para o descumprimento é a ira de Deus e a morte (cf. Rrn 6:23; 
4:15), Eles também• estavam corretos acerca ele suas falhas em obedecer à 
lei COMO Deus exigia. 
(0 que eles se esqueceram de notar foi que risto_guardou a ki perfei-
tamente em benefício daqueles q; e nele creem. A justiça de Deus se acha, 
portanto, "concretizada em Cristo. Recebemos a justiça recebendo-o; e não , 
por meio de penosas lutas)Como resultado, somos "justificados [considera-
dos como se fôssemos justos], por sua graça [de Deus] como um dom", que 
recebemos pela fé (Rm 3:22, 24, 25). Assim, temos a justiça "à parte da lei" 2. 
(Rm 3:2L RSV). Cristo é "nossa justiça" (1Co 1:30, RSV) "A única coisa que C, 
talmente se pode dizer que contribui para a nossa justificação'; observa fE 
Mister McGrath, "é o pecado que Deus nos perdoa tão graciosamentg 49 
Lutero, referindo-se à transação na qual Cristo se faz pecado por nós para que V 
-ecebarnos sua justiça (2Co 5:21), chama-a de `gmaravilhosa trocai' O puritano 
ohn Flavel exaltou com o fato de "Cristo ter sido feito justiça por nós• [...]. 
3m vez de nossa própria, ternos a dele; trocamos esterco por ouro 	\. 
• Justificação, no uso que Paulo faz da palavra, não significa "tornar justo; maS--- 
declarar justo". 'A ideia fundamental na justificação': escreve George Eldon 
88 I Pecado e Salvação 
Ladd, "é a declaração de Deus, o reto juiz, de que a pessoa que crê em Cristo, 
pecadora como seja, passa a ser considerada justa, porque em Cristo ela 
entrou em um relacionamento justo com Deus:' 
UJ efeito de uma pessoa ser vista corno justa é que Deus a trata como se 
elafosse justa)Relacionamento, sugere Ladd, é a chave para compreender a 
justificação. "O homem justificado em Cristo entrou em um novo relacio-
namento com Deus': que agora o vê como justo e o trata dessa forma(m-
bora a nova relação não torne a pessoa intrinsecamente justa, trata-se de 
"justiça real" porque o relacionamento de urna pessoa com Deus em Cristo 
é real)tustificação é o oposto de condenação. "É o decreto de absolvição de 
todas as culpas e litígios; a libertação de toda condenação e do castigo."' 
A justificação bíblica não é uma mera transação legal de perdão. Peter 
Toon ensina que, "enquanto o perdão está envolvido principalmente com 
o cancelamento do pecado, a justificação está relacionada principalmente 
com a mudança exterior em nossa posição pessoal diante de Deus, um 
relacionamento correto com Ele sob a aliança da graça"' 
Vemos esse ponto ilustrado na parábola do filho pródigo, na qual o pai, no 
instante da confissão, não só perdoa o filho, mas lhe dá boas-vindas à família. 
"Depressa!'; exclama o pai. "Tragam a melhor roupa' (Lc 15:22, NVI). 
O fato de Deus, mediante a justificação, declarar justos os pecadores e 
passar a tratá-los como se fossem justos, levou alguns estudiosos bíblicos 
influentes, como \William Sanday e Arthur C. Headlam, a ver a justificação 
como uma ficção lega1. 47 Essa forma de interpretar a justificação parece 
tornar Deus culpado de fraude. et 
, 	 A ° L r- ic irinAc'fAil) 
\ 
ti\ ti u \Jur: te-, , 7:5"-t 4 
Regeneração e conversã l3 ( 3 osi vf \cp,cii,£) O I, -., , ,à escuridão, abraçasse fortemente contra o peito um feio e asqueroso 
sapo pensando tratar-se de um belo e inocente pássaro."' 
A conversão, conforme representada pelo batismo, não é só a morte 
para a velha maneira de viver, mas também a ressurreição para uma nova 
vida em Cristo (Rm 6:1-4; Cl 2:20; cf. Jo 15:4). (o novo nascimento repre-
senta uma reorientação do agapé (amor) de si próprio para com Deus e 
para com os outros. 51 E., pelo novo nascimento que a lei de Deus é inscrita 
nas "tábuas de carne" do coração (2Co 3:3; Mb 8:10).), 
•Ellen V(Thite destacou ..a importância crucial de passarmos pela ex-
periência renovadora da regeneração ou do novo nascimento quando 
90 l Pecado e Salvação 
escreveu: "Sem o processo transformador que só pode advir através do di-
vino poder, as propensões originais para o pecado permanecem no coração 
com toda a sua força, para forjar novas cadeias, para impor uma escravidão 
que nunca pode ser desfeita pela capacidade humana:'" 
Alguns escritores e professores ensinam que certas pessoas "nascem de 
novo" no momento de seu "nascimento natural, assim como ocorreu com 
Cristo': Elas não estão, portanto, "alienadas, separadas de Deus" da mesma 
forma que um pecador não convertidsS m ensino como esse, porém, 
não encontra apoio nas Escrituras. Baseia-se em urna visão inadequada 
do poder e da universalidade do pecado, das propensões pecaminosas da 
natureza humana e de uma concepção equivocada, qudtende a avaliar er-
roneamente o adultério e o assassinato como "pecados maiores" e a autos-
suficiência e o orgulho como "pecados menores) 
Os que defendem esse ponto de vista, altexempIo dos fariseus de ou-
trora) correml o risco de desenvolver um orgulho espiritual destrutivo (e 
quase invisível). Embora seja verdade que alguns não conseguem identifi-
car o momento exato de sua conversão," isso não significa que, enquanto 
bebês, não eram egocêntricos e exigentes, precisando se converter a fim. de 
realocar o eu para fora do centro de sua vida. 
O fator mais importante a considerar na afirmação "algumas pessoas 
nascem boas como Cristo" é a possibilidade de haver no Céu pessoas que 
não precisarão de um Salvador para chegar até lá. Naturalmente, se peca- 
do for entendido apenas como atos específicos, em vez de um pendor ou 
propensão inatos para o pecado (como sugere Ellen White), então essas 
pessoas provavelmente precisariam serperdoadas por um pecado isolado 
aqui e ali, mas certamente não precisariam nascer de novo.(Do ponto de 
vista bíblico, esse ensino é, na melhor das hipóteses, urna teologia estranha) 
Como observou Gustav Aulén, "atos individuais e específicos de pecado 
não se acham isolados nem dissociados entre si, mas têm suas origens na 
inclinação da vontade humana. [...] O pecado não é algo externo, periférico 
nem mesmo 'acidental' no ser humano; de tem sua `sede' no eu interior'
Foi essa realidade que levou Cristo a afirmar que o que contamina uma 
pessoa "vem do coração" (Mt 15:18). É o coração natural, ensina repetidas 
vezes o Novo Testamento, que precisa ser transformado e regenerado. E era 
esse coração com seu l'pendor para o mar e "propensões originais para o 
Justificação Durante uma Vida... 1 91 
pecado' que tanto preocupava Ellen White. `A vida cristã'; escreveu ela, "não 
é uma modificação ou melhoramento da antiga, mas uma transformação da 
natureza,. Tem lugar a morte do eu e do pecado, e uma vida toda nova. Essa 
mudança só se pode efetuar mediante a eficaz operação do Espírito Santo.' 56 
(Teólogos e estudiosos da Bíblia têm, ao longo do tempo, questionado se 
a justificação e o novo nascimento são uma única experiência ou são duas) 
Para Lutero e Wesley, ambos os processos eram inseparáveis. Lutero, que 
costumava empregar o termo justificação de várias maneiras, escreveu: 
"Pois percebemos que uma pessoa justificada ainda não é uma pessoa jus-
ta, mas está caminhando na direção da justiça:' Torna. ele a afirmar: "Nossa 
justificação ainda não está completa H. Acha-se ainda em processo de 
construção. Será completada na ressurreição dos mortos:' 57 
Mas o braço direito de Lutero, Felipe Melâncton, no dizer deI Carl Braaten, 
'cometeu o grande erro de restringir a justificação à declaração de que os pe-
cadores se tornam justos por causa dos méritos externos de Cristo': A atitude 
de Melâncton em Ntringir a justificação a urna declaração judicial mediante 
a qual o pecador . é. reconhecido como justo, infelizmente, foi aceita sern con-
testação por um número expressivo de escritores adventistas do sétimo dia." 
Ellen White é da mesma opinião que Lutero e Wesley. "O perdão de 
Deus': escreveu ela, "não é meramente um ato judicial pelo qual Ele nos livra 
da condenação. E não somente perdão pelo pecado, mas livramento do pe-
cado. É o transbordamento de amor redentor que transforma o coração."" 
Ao fim, podemos concordar com John G. Machen, segundo o qual os 
principais pontos de diferença entre justificação e regeneração não são 
tão importantes assim, já que, 'na realidade, tratam-se deéois aspectosfie 
urna mesma salvação': 6° 
Aliança e certeza da salvação 
Indissoluvelmente entrelaçada com a justificação e a experiência do 
novo nascimento, acha-se também o ensino da adoção no Novo Testa-
mento. É bastante natural que associemos o nascimento com o pertencer 
a uma família. Uma das grandes metáforas bíblicas da salvação é a recon-
ciliação — a reunião de Deus com seus filhos. 
A necessidade de reconciliação tem suas raízes nos relacionamentos 
quebrados devido ao pecado. O pecado, sugere Brunner, "é como o filho 
92 I Pecado e Salvação 
que fere com raiva o •rosto do pai, [...] é a arrogante autoafirmação da von-
tade do filho acima da vontade do pai'" 
Alienados de Deus, os seres humanos se reconciliam com Ele no mo-
mento em que decidem, pela fé, colocar Deus e a vontade divina no centro 
de sua vida4No momento em que abandonam o pecado (arrependimen-
to/conversão) e se voltam para Deus (fé), o Senhor os declara justos (jus-
tificados) e nascidos de novo (regeneração))A reconciliação, conforme 
exemplificada na história do filho pródigo, é completa, imediata e instan-
tânea (Lc 15:19-24; cf. 18:14). 'Amados", reconhece João, "agora, somos fi-
lhos de Deus" (1Jo 3:2). Deus é nosso Pai, e os crentes são chamados "filhos 
de Deus" (Mt 6:9; 1Jo 3:1). "Mas, a todos quantos o receberam [a Jesus], 
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" (Jo 1:12). Aqueles que 
aceitam a Cristo se tornam "morada" para ele (Jo 14:23). E aqueles que acei-
tam a Cristo pela fé, diz Paulo, recebem."a adoção de filhos" (G14:5; Ef 1:5). 
("Mas não somos todos filhos de Deus, cristãos ou não?'; pergunta James 
I. acker. "Certamente que não!'; responde ele)' . ideia de que todos os 
seres humanos são filhos de Deus não se encontra em parte alguma da 
Bíblia» Antigo Testamento mostra Deus como pai, não de todos os ho- 
e mens, mas somente de seu próprio povo, a semente de Abraão." O Novo 
Testamento afirma claramente que somos da descendência de Abraão, se 
tão somente aceitarmos a Cristo (G13:26-29). 
A filiação de Deus não é, portanto, um estatuto universal no qual to-
dos entram pelo nascimento natural. Pelo contrário, trata-se de um dom 
sobrenatural que se recebe por intermédio do aceitar Jesus. [...] 'Mas, a to-
dos guantes o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, 
[...] os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da 
vontade do homem, mas de Deus' (Jo 1:12, 13) XAssim, pois, tornar-se filho 
ou filha de Deus por adoção é um dom da graça que a pessoa aceita no 
momento da conversão. 69 
Precisamos compreender e viver toda a vida cristã sob a ótica da ado-
ção. Em primeiro lugar, ser curado em nosso relacionamento com Deus 
significa ser curado em nossa atitude para com aqueles que Jesus chamou 
seus irmãos e irmãs (Mc 3:35). Assim como a entrada do pecado trouxe 
alienação entre os seres humanos (Gn 3:12; 4:1-16), igualmente a adoção 
na família de Deus traz cura para essesrelacionamentos quebrados. 
Justificação Durante uma Vida... f 93 1/4 
.n. 	 C 
Portanto, o amor a Deus e iao próximo representa dois aspectos do 
grande mandamento de Deus, algo que os cristãos devem ampliar para os 
que ainda estão afastados de Deus e de sua família adotiva (Mt 22:36-40; 
Lc 6:27-36). A adoção deve afetar todos os aspectos da vida dos cristãos, 
enquanto procuram imitar o Pai, glorificar o nome do Pai e da família, e ! 
c viv r uma vida que agrade ao Pai." 	 , 
Estreitamente relacionado com a adoção está o conceito bíblico de ç: 
aliança. 'Aliança;) escreve Karl Barth, "é o termo do Antigo Testamento ' 
para o relacionamento básico entre o Deus de Israel e seu povo." 64 Ele é o ‘ 
Deus deles, e eles são o seu povo a quem Ele escolheu. Uma aliança é um - 
concerto ou acordo entre duas partes, que ficam mutuamente compronie- t 
tidas pelos termos de um contrato.morrem, assim também todos serão 
vivificados em Cristo") para provat ressurreição universal)(ver v. 23). Como 
consequência, mediante esse artificio, a pessoa chega ao universalismo. 
Ao que parece, ,Chaial está correto quando sugere que 
o dom é realmente oferecido a todos, mas que Romanos 5:18 "não exclui a 
possibilidade de nem todos virem, no final, realmente a compartilhar dele': 
Seguindo uma abordagem sernelhante,S estabelece a distin-
ção entre j~potencial efi caçã O verso 19 responde à 
questão quando afirma que "muitos se tornarão justos" por meio de Cristo 
(cf v. 15). "Muitos': é claro, refere-se àqueles que cumpriram a condição 
de fé que Paulo de forma tão enérgica defendeu em Romanos até agora. 71 
Não há dúvida de que Cristo morreu pelos pecados de "todos" (ver Hb 2:9), 
mas isso não implica justificação universal. Outro texto empregado muitas ve-
zes para ensinar a justificação universal é 2 Corintios 5:19, que diz: "Deus esta-
va em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as 
suas transgressões:' Mas a intenção dessa frase é apenas salientar que "o plano 
de salvação não consiste em reconciliar Deus com os homens, mas em recon-
ciliar os homens com Deus': O significado real a respeito de quem é justificado 
em 2 Corintios Sé daqueles que estão 'em Cristo" (v. 17-20). 72 
Alguns• dos adventistas que ensinam que as pessoas "nascem justifi-
cadas" saci muitas vezes cuidadosos em distinguir entre éstarlegálrrse 
justificado" e ser "justificaSjustificação salvadora), embora os 
textos empregados não sirvam de base para esse ensino?' 
O motivo para toda a argumentação a favor da justificação legal uni-
versal feita por Robert Wieland e outros parece ser o de descobrir como a 
mensagem adventista de 1888 sobre justificação pela fé difere da adotada 
por outros protestantes; embora os principais proponentes da doutrina 
em Mineápolis (Ellen White e Waggoner) tenham garantido que se trata 
do mesmo evangelho pregado por Paulo, Lutero e Wesley. 74 
A doutrina da justificação universal se opõe ao ensino tradicional protes-
tante/adventista de guete jjastificação legal é provisória/jate ser aceita pela fé. 
Já os proponentes adventtstas da justificação legal universal afirmam que a 
Justificação Durante uma Vida... I 97 
justificação não é provisória, mas foi consumada na cruz a favor de todos os 
seres humanos. Por essa razão, Robert Wieland escreveuLA ideia comum é 
que o sacrifício de Cristo é apenas provisório, isto é, ele não realiza nada por 
ninguém, a menos que primeiro a pessoa 'aceite a Cristo'. Jesus recuâtonti-
nua a caricaturatcom os braços divinos encruzados, sem fazer nada em prol 
do pecador, até que ele decida 'aceitar'. [...] A verdadeira boa nova é muito 
melhor do que nos fizeram supor. De acordo com a 'preciosa' mensagem 
de 1888, nossa salvação não depende de nossa iniciativa; depende de nossa 
crença de que Deus tomou a iniciativa em nos salvar. ':Z1 Ucteel" WueLPI , 
Se isso fizer parte do núcleo da mensagem de 1888, então os wesleyanos, 
com sua concepção den já a possuíam desde o século dezoi-
to, e Jacobus Arminius (1560-1609) e outros a possuíram antes. Um dos claros 
ensinos da Bíblia é que Deus fez duas coisas pelo Adão culpado. Primeiramen-
te, permitiu que Adão continuasse a viver, para que pudesse se arrepender. Po-
demos chamar isso de ga~i- uma bênção que se estende até o presente. 
Deus deu à posteridade de Adão um tempo de graça para se decidirem por 
Cristo. Durante esse tempo, os dons de Deus descem igualmente sobre justos 
e injustos, para que todos possam ver a sua bondade (cf. Mt 5:45; Rm 1:19, 20; 
Jo 1:94A graça geral de Deus também sugere que ele não imputa pecados 
às pessoas até que elas atinjam a idade da responsabilidade)Assim sendo, a 
salvação daqueles que morrem na infância se torna uma distinta possibilidade. 
•Em segundo lugar, além da graça geral,. Deus estendeu a Adão urna 
preveniente. Foi por isso que o Senhor procurou pelo Adão culpado no 
jardim, assim como tem procurado os pecadores desde então. Uma das c 
principais funções do Espirito Santo é nos procurar e nos convencer do 
pecado, para que possamos ser levados a Cristo (Jo 16:7-15).benhuma 
pessoa será enviada para o inferno': afirma Leo Cox, "porque não dispõe de 
graça, mas porque não utiliza a graça que possui,A questão mais impor- ' 
tante que qualquer pessoa pode enfrentar é aceitar ou rejeitar o que Deus 
fez por ele ou ela na pessoa de Cristo (Jo 3:36). 
•JUSTIFICAÇÃO DURANTE UMA VIDA, SANTIFICAÇÃO EM UM MOMENTO 
Deve estar claro, conforme se percebe da maior parte deste capítulo, quea 
justificação ocorre no instante em que o pecador se apodera da graça de Deus 
pela fé)Sendo assim, a justificação é essencialmente a obra de um momento) 
98 J Pecado e Salvação 
Isso é muito bom; o problema é qu.e os cristãos continuam a pecar. Eles 
precisam, portanto, dkustificação contínuaivisto que "o ser humano não 
armazenou nenhum tesouro de mérito para oferecer pelo pecado': Hans 
•LaRondelle sugere corretamente que necessitamok`ser justificados diaria-
mente pela fé em Cristo, quer tenhamos transgredido conscientemente, 
quer tenhamos errado inconscientementell 
A justificação diária acha-se intimamente relacionada ao ministério de 
Cristo no santuário celestial. Jesus vive "sempre para interceder" por aque-
les "que por Ele se chegam a Deus" (Hb 725; cf. 9:24). Cristo, que "está à di-
reita de Deus [...I intercede por nós" (Rm 8:34). "Se, todavia, alguém pecar, 
temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo" (1Jo 2:1). 
"Jesus,' escreveu Ellen White, "é representado como estando continua-
mente junto ao altar, oferecendo a cada momento o sacrifício pelos pecados 
do mundo. [...] Não mais tem que ser feita a diária e anual expiação simbóli-
ca, mas o sacrifício expiatório por meio de um mediador é necessário, por 
causa do constante cometimento de pecado. [..Alesus apresenta .a oblação 
oferecida por toda ofensa e toda fraqueza do pecador, 
Alguns estudiosos preferem pensar na justificação progressiva como uma 
espécie de "perdão contínuo"79, visto que tia posição do pecador diante de 
Deus foi corrigida no momento de sua conversão e justificação inicial)Vale 
lembrar que a diferença entre os dois termos é fundamentalmente semântica. 
Dia após dia, Cristo continua a servir como mediador em prol de suas irmãs e 
irmãos terrenos e a declará-los justos diante do propiciatório celestial. 
IFaz sentido afirmar não só que a justificação é a obra de uma vida, mas 
também que a santificação, conforme o principal uso bíblico da palavra indica, 
ocorre instantaneamente)0 significado fundamental da palavra hebraica 
traduzida como "santificar" é "dedicar': "consagrar" ou "separar'' .8° Deus disse 
a Moisés para "santificar" ("consagrar': RSV) todo .o povo de Israel ao 
Senhor (Ex 19:10, ARC). Não foram somente os israelitas os que foram 
santificados ou separados para uso santo e propósito consagrado, mas o 
foram também o tabernáculo e os instrumentos empregados no serviço 
do santukrio (Ex 30:25-29; 40:9-11; Lv 8:10-13). 
A palavra do Novo Testamento traduzida como "santificar" significa 
"tornar santds' Um santo (aquele que foi santificado) é uma pessoa sepa-
rada por Deus para uso santo. 
Jusurcaçao Durante uma Vida... j 99 
(.0 Novo Testamento fala muitas vezes da santificação como um fato 
consurnadolAssim, pois, o livro de Hebreus afirn -ia que por 'uma só obla-
ção [oferta] [Cristo] aperfeiçoou para sempre os que são santificados" 
(Hb 10:14, ACF; cf. v. 29). Paulo torna a escrever sobre os corintios como 
"aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (1Co 1:2; cf. 
At 20:32). Os cristãos foram "santificados pela fé'' em Cristo (At 26:18) me-
diante a operação do Espírito Santo (cf. Rm 15:16; cf. 1 Ts 5:23). 
O próprio Paulo indica o momento na vida. das pessoas em que elas fo-
ram santificadas. "Vós vos lavastes'; escreveu ele aos coríntios, 'Tostes santifi-
cados, [...] fostes justificados em o nome doseriam bem melhores se muitos de nós 
nos aproximasse- mos diariamente de Dem fazendo a pergunta central do 
farisaísmo: "Que farei para herdar a vida eterna?" (1,é 10:25; cf Mt 19:16). 
Um povo totalmente dedicado a servir a Deus desde o instante em que se 
levantava, pelaManhã; até á hora em oé se recolhia à noite, 
Os fariseus não só se devotavam intelecnialinente à Prática da jUstiça, 
mas também ad.otayarn o mais alto padrão de moralidade na -vida diária, 
jesus não desmentiu o fariseu que orava rendendo graças a Deus por não 
ser "como os demais homens, roubadores, injustos e adïilteros (Lc 18:11). 
Cristo também não discordou do jovem rico que alegava 'Observar" os 
dez mandamentos desde a meninice (ver Mt 19:18-20). E um exercício até 
cansativo tentar imaginar uni povo' mais determinado do que: os fariseus 
Fariseus São Boas Pessoas I 11 
em obedecei a Deus.e viver, de forniaética. Um breve exanie• eni algumas 
de suas louváveis características nOS ájudara..a éntendê:lás melhor. • • 
• Em primeiro lugar, eles amavam e protegiam á Bíblia corno a Palavra de 
Deus. Estavam decididos a preservar o. significado essencial das Escrituras. 
Esse objetivo só encontrava: obstáculo quando surgiam divergências de 
opinião sobreo significado exato de utriapassagerri bíblica..Como resulta-
do, eles desenvolveram a teoria de que, janto. com . o texto :escrito havia 
(e sempre houvera desde o tempo de.Moisés)..unia•tradição não escrita que 
suplementava o texto •escrito e .:apontava para seu verdade•irci sig,nificada 4 
Portanto; a .tradicãO . oral :dós: fariseus: era, na realidade, O. produto de. sua 
reverência pela sagrada Palavra de Deus', . • • • • • : . • . •• . 
Urn segundo ponto 'positivõ dosfariseus era seu amor e dedicaçãO à lei 
de Deus.:Robert TraVers Herford resume esse aspecto dá fariSaiSmo de for-
ma bem concisa quando afirma que "a preocupaçãó nnals.innpórtante dos 
fariseus era fazer da Torah [lei] o guia supremo dá vida:, em pensamento pa-
lavra e ação; por meio do estudo de seti conteúdo, da obediência a seus pre: 
ceifas, e, acima de tudo, do serviço consciente a Deus --o autor clã íror -ah'i'' 
Os:fariseus estavam tão profundamente comprometidos conto :dever.de 
não infringir a lei de Deus qúe :aclbararn• desenvolvendo utn sistema supos-
tamente capaz de evitar a transgressão. Construíram por meio de suas tradi-
ções'orais, urna `. 1salvagitárda pata a ler; a fim de 'protege1a por meio de regras 
preventivas, que funcionariam como sinais de alerta para deter a pessoa antes 
que ela invadisse a distância de frenagern que a separava do estatuto divino".' 
Foi. :assim, por exemplo, que eles: desenvolveram 1.521 regras orais so: 
mente para o sábado.' No tempo de Cristo, os fariseus possuíam inúmeras 
dessas cercas ou regras, as quais afetavam todos os aspectos cle sua vida diá-
ria. Os judeus da época de :Cristo eram capazes dê dizer qual o peso de urna 
pedra que era :lícito carregar :no:dia de :sábado, o percurso que poderia ser 
feito com ela e a distância a que ela poderia ser arremessada. Sua tradição 
oral abrangia iodos os aspectos da -vida; de modo que a pessoa linha de ser 
bastante zelosa e sincera sobre religião para viver a vidatarisáca. 
Além da estrita Observância do sábado, os fariseus eram dizimistas ativos 
c abnegados, chegando ao ponto de separar pano Senhor cada décimo dás 
folhas de hortelã e de outras ervas (ver IN,1t 23:23).. E, é claro, eles nunca co-
meriam nem tocariam em qualquer alimento ou item considerado imundo. 
12 j Pecado e Salvação 
• . As pessoas podem falar o que quiserem sobre QS fariseus, mas uma coisa 
todos são obrigados a admitir: a vida deles era inteiramente dedicada a ser-
vir a Deus e a obedecer à lei. Jesus os elogiou por levarem esse•tipo devida 
(ver Mt 23:23). Paulo, ao fazenUrna retrospectiva de seus anos de farisaismo 
admitiu que, rfquanto à justiça que há na lei': ele era 'irrepreensível" (Fp 3:6). 
. Um terceiro aspecto elogiava do farisaísmo era seu zelo missionário 
e evangelistico. Eles percorriam "o. mar e a terra para fazer uni proseai; 
(Mt 23:15). Não eratri só gentios a quem os fariseus procuravam conven-
cer de seus pontos de vista, mas ate mesmo judeus de 'outros partidos, • 
•Segundo Joachim jeremias, o grupo farisaico . estabeleceu. as regras de 
pureza fixadas pata a vida cotidiana dos sacerdotes como o ideal a ser 
a lcança d o por todos os judeus. "Pretendiam, dessa forma, construir 
a comunidade santa de Israel' dentro do "verdadeiroIsrael" de Deus (o re-
manescente)..Por conta disso, ainda que o judeu típico não .gostasse dos 
ares de superioridade deles, o .povo comum 'Olhava para os fariseus. L.••] 
como modelos de: piedade e exemplos dá vida idear' 	. 	• . . 	• 
Um quarto. 'aspecto positivo dos fariseus é que eles eram "a.dventistas f: 
Aguardavam anSiosimente•e com expectativaa vinda do reino mes.siânico. 
O problema é que atrelavam .essa vinda. à :fiel observância da lei:Alguns 
acreditavam que o Messias (Cristo): só viria se o povo de Deus guardasse a 
Torah perfeitamente, ainda.que por um único dia. Por consequência, devo-
tavam toda:a vida einalcançar essa, meta por meio de perfeita santidade" 
Os fariseus eram urna.tropa de elite de homens altamente diedicadós,.to-
talizando uru contingente de:seis mil homens na época de Cristo. O Novo .. 
Testamento se.refere aos:eruditos religiosos entre eles como ( escribas' Urna. 
interpretação do termo . far Lseu é "separado': Por extensão,. o termo represei-É; 
taria.'`os santos; a verdadeira:comunidade& Israel»- , • • • • • 
A seita dos fariseus floresceu depois do cativeiro 'babilónico. Deus havia 
permitido que os judeus fosseinlevados em cativeiro por (1) não terernsido 
fiei s.a sua lei e (2) terem adotado os costumes de seus vizinhos pagãos Logo 
depois do cativeiro de 70' anos, Esdras se tornou a figura centrai na condu-
ção dos israelitas para mais perto dos mandamentos de Deus. e, para longe 
da cultura condescendente de sua época. • . 
Os tariSeus surgiram pela. primeira Vez corno gripo organizado no se-
gundo século a.C:, durante a crise dos MaCabeusi Os "separados' adotaram 
Fariseus São Boas Pessoas I 13 
um estilo de vida e uma visão teológica que preservaria a fidelidade a Deus 
para que Israel não precisasse voltar ao cativeiro. 
Foi assim que, em sua busca de santidade, eles se separaram das cul-
turas pagãs que os rodeavam e de seus costumes, das práticas seculares e 
transigentes adotadas pelos saCerclotes saduceus e dos hábitos descuida-
dos das pessoas comuns: Pelo .fato de os fariseu.s. terem tentado preparar 
o terreno para a vinda do Messias por. meio :de urina vida piedosa, suas 
motivações eram louváveis em todos os sentidos." ..• • . • 
Devido a essa visão positiva dos fariseus, um:dos ensi rios . de Cristo mais 
chocantes e revolucionários foi:Y`Se aivossa justiça •não exceder em muito a 
dos escribas e fariseus; jamais entrareis no reind.doscéuS".(Mt 5:20): Como 
pode alguém ser . mais fiel ou levar urna•vldatmais zelosa diante de Deus do 
que essa elite moralista, essa tropa de choque do reino de Deus? • . 
' e 	 'A MOSCA NO AZEITE DO FAR [SAUD 
t.,9 problema central nó enfoque adotado pela tradição dominante' do 
judaísmo farisaico sobre Deus e a salvação era a visão inadequada do peca-
do e de seu deito sobre a capacidade humana de obedecer a Deus. A pers-
pectiva i•abinica 12 passou a Ver o pecado, em geral; Como uni ato específico 
e não eomonma condição do -coração e da mente.) 
De igual modo, a tradição farisaica domina:rite não via nenhuma dife-
rença moral entre Adão e seus descendentes. depois da queda. Em outras 
palavras, para' eles,. os seres- humanos possuíam, desde a queda:: a .rnestna 
capacidade de viver uma vida justa como afizera Adão.antes deles. 
George E Ivloore conCorda: 'Não há o menor indicio de que a constitui-
ção original de Adão tenha sofrido , qualquer alteração em consequência 
da queda, trai nsmitirido a Seus descendentes uma natureza. Cont'aminada, 
na qual os apetiteseSenhor Jesus Cristo" (1Co 6:11). 
(LEm suma, as pessoas são inicialmente santificadato mornentgem que são 
justificadas, regeneradas e adotadas na família pactual de Deus.) 
1.43, pessoas se tornam santificadas no momento em que creem em Jesus 
Cristo. De sorte que a santificação inicial não significa um conceito moral, 
mas um novo relacionamento com Deu9Convertidos a Cristo se consa-
gram a Deus e a seu uso da mesma maneira que os sacerdotes e o taber-
náculo eram consagrados para propósitos santos no Antigo Testamento. 82 
Ser santificado é viver em um estado de dedicação a Deus. Tal dedi-
cação no Novo Testamento, sugere Anthony Hoekerna, "significa d 
coisas: @separação das práticas pecaminosas 	
er 
deste mundo atual (2), 
\ 
	--Enzsa„ MO 'Ene?. (NGpi,v0) 	-- - , consagração ao serviço de eu . 	 kér 
Ellen White compartilha dessa perspectiva. "É necessária genuína conver-
são',' escreveu ela, "não só uma vez em anos, mas diariamente. Essa conversão 
leva a pessoa a nova relação com Deus. As coisas velhas, suas paixões 
naturais e as tendências herdada S ou cultivadas para o mal, dissipam-se 
cela é renovada e santificada. Essa obra, porém, deve ser continua."" 
Essa citação nos remete ao fato de que a santificação não é apenas obra 
de um momento, mas também o resultado de uma vida inteira de submis-
são aos propósitos de Deus.(Pessoas que se tornaram santas na hora do 
novo nascimento são chamadas a ser santas na vida diári&(ver 1Ts 4:3-7; 
Rm 6:19). Coma sugere Donald Guthrie, embora a santificação dos cris-
tãos seja um fato consumado aos olhos de Deus, "ainda é necessário ser 
concretizada na vida dos crentes"" 
É útil pensar na santificação em três níveis: (1) santificação inicial, 
quando a pessoa vem a Cristo e é justificada e regenerada (nasce de novo); 
I 5 MArt r I CA- y10 1//Vil 100 Pecado e Salvação 
(2) santificação progressiva, enquanto' os indivíduos vivem para Cristo e 
crescem em graça na vida diária; e (3) santificação final ou glorificação, 
que ocorre na segunda vinda de Cristo, quando os cristãos serão "trans-
formados" "num momento [..] ao ressoar da última trombeta" (1Co 15:51, 
52). Teremos mais a dizer sobre as duas últimas fases da santificação nos 
capítulos •5 e •10. 
Eu poderia acrescentar, antes de passar para• o outro tema, que estou 
bem dente do fato de que Ellen White escreveu: "Não existe tal coisa como 
santificação instantânea" Ela não estava se opondo nem a Paulo nem a 
outros escritores, mas sim aos excessos de certos crentes da santidade de 
sua época, que reivindicavam ter sido completamente santificados e aper-
feiçoados instantaneamente pelo Espírito Santo, tornando-se depois disso 
incapazes de pecar. Foi devido a esse extremismo que ela sugeriu que as 
pessoas nunca deveriam afirmar estarem santificadas." 
Retirar essas declarações de seu contexto histórico é ir de encontro a 
Paulo, que chegou aponto de chamar de "santos" até mesmo os crentes de 
Corinto. A tríplice compreensão de santificação como umvento passado) - 
presente e futuro nos permite compreender melhor as muitas declarações 
sobre santificação que lernos na Bíblia e em diversos escritores cristãos. 
JUSTIFICAÇÃO E SANTIFICAÇÃO - TERMOS RELATIVOS 
•Gerrit C. Berkouwer mostra que uma das batalhas mais reincidentes 
na história da teologia diz respeito à importância relativa da justificação e 
santificação. "Nessa controvérsia um acusa o outro de permitifilue a justi-
ficação seja assimilada pela santificação, apenas para ser informado de que 
ele, por outro lado, devido a sua preocupação com a justificação, desesti-
mula a santificação" Não há dúvida de que essa discussão esteve no centro 
dos debates adventistas sobre a justificação pela fé que atingiram seu pon-
to culminante em 1888, mas que tem estado em constante agitação desde 
aproximadamente 1956." 
Depois de levantar a questão, Berkouwer declara ser realmente im-
possível falar sobre a justificação ignorando a santificação e vice-versa. 
James Denney estava se referindo a isso quando escreveu quettemos por 
vezes esquecido que a grande questão não é a distinção entre justificação 
e santificação, mas a relação delas; e que justificação ou reconciliação não 
11-U> 1/ 	i 	vf» 
Justificação Durante uma Vida... 1 101 
passa de um delírio, a menos que a vida dos justificados e reconciliados 
seja inevitavelmente e naturalmente uma vida santa': Esses dois aspectos da 
salvação compreendem "a entrega completa e indivisível da alma a Cristd:" 
Os grandes reformistas do século 16 perceberam essa verdade clara-
mente. Calvino chegou a afirmar que "Cristo não justifica ninguém sem ao 
mesmo tempo santificá-lo. [...] Não se pode possuí-lo [a Cristo] sem ter sido ! 
feito participante em sua santificação, porque Ele não pode ser dividido':" 
Lutero também considerava a salvação uma experiência unificada. .. , 
Conforme observamos anteriormente, foi seu principal discípulo (Felipe cf 
Melâncton), quem pôs uma excessiva e doentia ênfase na justificação C 
forense (legal). Infelizmente, muitos teólogos pós-Reforma seguiram 
Melâncton e não Lutero, nesse ponto. Isso acarretou graves distorções que 
ainda afetam a forma de pensar de alguns. 	 ( , 
Mas a distorção pode levar também para outro rumo. William Hulme 
chama a atenção para esse problema quando observa: "É tão artificial sepa-
rar justificação e santificação como é arriscado confundi-las." 9° i 
Vale lembrar que a distinção tem raizes na própria Escritura. Paulo, por 
exemplo, fala da justificação independentemente das obras da lei (Rm 4:6), ` 
embora na mesma carta ele se refira, obviamente, à santificação pro- ,,L 
gressiva quando roga aos crentes que apresentem seu corpo "por sacrifício 
vivo, santo e agradável a Deus" (Rm 12:1). O livro de Romanos desloca a 
discussão sobre justificação pela fé nos primeiros capítulos para a da vida L, 
santificada em seus últimos capítulos. 	 L 
tr. (Para fins teóricos, é possível dissociar justificação e santificação, em- L 
bora na prática diária elas se achem intrinsecamente interligadas)John t 
Macquarrie nos ajuda a fazer uma síntese equilibrada quando escreve: 
o 
"Não devemos pensar em uma separação de fato, mas apenas em aspec-
tos distintivos de um processo unitário: 19 ' 
Bíblia não está tão preocupada em discutir os detalhes distintivos en-
tre justificação e santificação quanto em falar de um cristianismo que valha 
a pena» Novo Testamento não discute se a santificação é mais importan-
te do que a justificação ou se urna vem antes da outra.(0 que realmente 
importa, da perspectiva bíblica, é se a pessoa está em um relacionamento 
de fé com Jesus Cristo.'ecado é a quebra do relacionament9 com Deus, ? 
enquanto fé é a restauração e manutenção desse relacionam nto) ..- 	,. 
102 l Pecado e Salvação 
r Paulo é bastante claro sobre a pessoa estar "em Adão" ou "em Cristo" 
(1Co 15:22; Rm 5:12-214. Aqueles que estão "em Cristo" estão justificados, 
santificados e estão sendo progressivamente santificados e aperfeiçoados. 
A expressão "em Cristo" ocorre 164 vezes nos escritos paulinos, incluindo 
as 11 vezes (contando pronornes e sinônimos) em que figura nas grandio-
sas frases introdutórias de Efésios (1:3-14). 
James Stewart ressalta que "o coração da religião de Paulo é a união 
com Cristo. Isso, mais do que qualquer outra concepção [...] é a chave que 
abre os segredos de sua almatara Paulo, tanto a justificação quanto a san-
tificação perdem toda a realidade se dissociadas do conceito da união corn 
Cristo. É preciso ver a justificação como a união com Cristo mediante a fé) 
Por isso Paulo afirma: 'Agora, pois, já nenhuma condenação há para os 
que estão em Cristo Jesus" (Rm 8:1). (Santificação é a continuação da vida 
das pessoas em Cristo e da vida de Cristo nelas (Gl 2:20),Somente quando 
a união com Cristo ocupa o lugar central'', escreve Stewart, "é que se vê a 
santificação em sua verdadeira natureza, como o desdobramento do caráter 
do próprio Cristo na vida docrente, e só então é possível entender a relação 
essencial entre religião e ética:' 92 
Compreender a importância da união com Cristo ajuda os cristãos a 
se lembrarem de que tos recursos para a vitória não se encontram no in-
divíduo, mas em Cristo. Os cristãos não servem pela força, mas pela sub-
missão)Deus, mediante o poder do Espírito Santo no íntimo da alma e 
da graça de Cristo, lhes possibilita viver como cristãos amorosos. Peter T. 
Forsyth apoiou essa verdade cristã central quando escreveu quet não con-
quistamos a vitória; estamos unidos com o vencedor'.191 
Quando permanecem em Cristo, os cristãos produzem frutos natural-
mente (ver Jo 15:4). Porque a vida cristã é viver em união com Cristo, essa 
vida nunca pode ser fria, austera ou rígida A união com Cristo significa não 
só nossa comunhão com Deus, mas também com os nossos semelhantes." 
"Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramen-
te, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos 
nele: aquele que :diz que permanece nele, esse deve também andar assim 
como Ele andou" (1Jo 2:5, 6). Os próximos dois capítulos vão tratar desse 
tema majestosa Enquanto isso, os indivíduos que estão "em Cristo" podem 
ter a certeza de sua salvação. 
Justificação Durante uma Vida... 103 
' William Barclay, lhe Gospel ofMatthew, Ç éd., Daily Study Bible (Edinburgh, Inglaterra: 
The S.aint Andrew Press, 1958), v 1, p. 146, 147. Ver também F L. Cross e E. A. Livingstone, 
eds., Antony, St, of Egype, lhe Oxibrd Dictionary of the 'Christian Church, 22 ed. (Oxford, 
Inglaterra: Oxford University Press,' 1974); Kenneth Scott Latourette,A History of Christianity 
(Nova York, NY: Harper & Row, 1975), v. 1, p. 225, 226. ' • 
Latourette, R 228; Earle E. Cairns, Christianity 7hrough the Centuries (Grand Rapids, MI: 
Zondervan, 1981), p. 152, 153. 	• 	 • 	• 
Cari E Braaten,JustOcation: lhe Article by Which the Church Stands or Falis (Mineápolis, 
MN: Fortress, 1990), p. 96,97 	 • 	" 
Ibid., p. 97. 	 • 	 • 
s Ibid., p. 88; cf. James I. Packer, Knowing God (Downers Grove, IL:InterVarsity, 1973), 
R 120; Alan Richardson, ed. A '7heological Word Book of the Bible (Nova York,-NY: Colher 
Books, 1950), R 100-102. ' 
James Denney, •The Christian Dóctrine of Reconciliation (Londres, Englaterra: James Clarice, 
1959), p. 16. 
7 Lutero, citado em Gustaf Aulen, Christus Victor, trad. A. G. Hebert (Nova York, NY: 
-Macmillan, 1966), p. 105. 
Reinhold Niebuhr, lhe Nature and Destiny ofMan: A Christian lnterpretation (Nova York, 
NY: Charles Scribner's Sons, 1964), v 2, p. 107. 
9 E Glenn Hinson,!A Contemplative Response,- em Donald L. Alexander, ed., Christian 
Spirituality: Five Views ,ofSanctification (Downers-Grove, IL: InterVarsity, 1988), R 46. 
'6 George R. Knight, 'lhe Cross of Christ: Gocts Work for LIS (liagerstown, MD RevieW and 
Herald, 2008), p. 44-58. 	 .• 	 • 
.' Ellen G White, Mensagens Escolhidas (Tatu, SR Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-
Rom]), v. 1, p. 343. 	 • 	 ' " • 
12 John W Stott, A Cruz de Cristo (São Pálio, SR Editora Vida, 2004), R 61. 
" 2 Macabeus 7:1-41 (CNBB). 	 • 
14 Morris L. Venden, 95 Teses Sobre Justificaçao Pela Fé (Tatui, SR Casa Publicadora Brasileira, 
1990),p 12. 	 • 
" 	Ibid., p. 23. 	 • 	• • 
16 Edward W 1-E Vick, Is Salvation Really Fre? (Washington, DC: Review and Herald, 1983), 
Ver Jack W Provonsha, God Is With Lls (Washington, DC: Review and Herald, 1974), R 128. 
18 James 'Denney, Stuclies in Theotogy (Londres, Inglaterra: Hodder and Stoughton, 1895), 
p. 155; Dertney, Christian Doctrine of Reconciliation, p. 303; cf. R•163, 164. 	' 
19 Peter T Forsyth, The fustifi (catiOn ofGod (Londres, Inglaterra: Latirner House, 1948), R 126. 
29 Emil Brunner, lhe Letter to the Rcimans (Philadelphia, PA: Westminster, 1959), R 142; John 
Murray, Redernption Aceomplishect and Applied (Grand Rapids, MI Eerdmans, 1955), p. 110, 
111; Gustaf Aulén, lhe Faith of the Christian Church, trad. E H. Wahlstrom (Philadelphia, PA 
Muhlenberg, 1960), p. 278. 	 ' 
21 Herbert Douglass, Faith: Saying Yes to God (Nashville, TN: Southerri Pub. Assn., 1978), p. 76. 
22 Dietrich BonhoeffetDisci 	à, 1 0' ed. (São Leopoldo, RS: Sinodal, 2004), p. 37. 
23 Millard J. Erickson, Christian Theology (Grand Rapids, ME 13aker, 1986), R 938; Jürgen 
Moltmann, 7he Crucified God (Nova York, NY: Harper & Row, 1974), p. 39. 
24 Henry W. Robinson, Redernption and Revelation (Londres, Inglaterra: Nisbet, 1942), R 284. 
104 I Pecado e Salvação 
" Ver George R. Knight, Philosophy and Education: An Introduction in Christian Perspective, 
4a ed. (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2006), p. 204-208. Cf. Ellen G. White, 
Educação (Tatu', SP Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rorn] ), p. 15, 29; João Calvin°, 
A Instituição da Religião Crist '4 (São Paulo, SP: IJNESP, 2009), 2.2.12,13. 
Henry O. Wiley, Christian Theology Nansas City, MO: Beacon Hill Press ofKansa ls City, 1952), 
v. 2, p. 344-357; Peter Toon, fustification and Sanctification (Londres, Inglaterra: Marshall 
Morgan arid Scott, 1983), p. 106, 107; cf. Harald Lindstrõm, Wesley and SanctOcation 
(Grand Rapids, MI: Zondervan, 1980), p. 44-50; John Wesley, lhe Works of John Wesley, 
3a ed (Peabody, MA.: Hendrickson, 1984), v. 6, p. 511-513. 
27 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1 p. 390. 
Gerrit. C. Berkouwer, Faith and Sanctification (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1952), p. 80, 86. 
" Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1 p. 389. 
30 Erickson, p. 934-938; Colin Brown, ed., "Conversion, Penitence, Repentance", lhe New 
International Dictionary of New Testament 7heology (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1986). 
s ' Peter. T. Forsyth, lhe Work of Christ (Londres, Inglaterra: Hodder and Stoughton, s.d.), 
p. 151, 152. 
" Derek Kidner, Psalms 1 - 72, Tynclale Old Testament,Commentaries (Downers Grove, IL: 
InterVarsity, 1973), p. 190. 
33 Emil 13runner, lhe Medi ator, trad. Olive Wyon (Nova York, NY: Macrnillan, 1934), p. 534. 
34 Ellen G White, Mensagens Escolhidas, v. 1 p. 391. 	} 	, 
35 Marvin Moore, The Refiner's Fire (Boise, Ia Pacific Press, 1990), p. 87. 
Bonhoeffer, p. 44. 
r Ellen G White, Caminho a Cristo (Tatu, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rom]), 
p. 47, 43; Denney, Christian Doctrine ofReconciliation, p. 198. cf. E W. Dillistone, lhe Significance of 
the Cross (Philaclelphia: Westrninster, 1944), p.155. 
38 Carta de E E. Belden a E. G. White, 26 de setembro de 1895. 
39 Lutero, citado em Helmut Thielicke, How the World Began, trad. J. W. Doberstein (Philadelphia, 
PA: Muhlenberg, 1961), oposto à capa. 
P. Ver Knight, 7he Cross of Christ, p. 62, 63, 68, 74. 
4' Lutero, citado em Mister E. McGrath,Justification by Faith (Grand Rapids, MI: Zondervan, 
1988), p. 147; Lutero, citado em Paul Althaus, lhe Iheology of Martin Luther, tract R. C. 
Schultz (Philadelphia, PA: Fortress, 1966), p. 224. 
42 Lutero, citado em Roland H. Bainton, Here 1 Stancl: A Life of Martin Luther (Nova York, 
NY: New American Library, 1950), p. 49, 50. 
43 Ellen G White i O Maior Discurso de Cristo (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom] ), p. 18; McGrath, p. 132. 
44 Lutero, citado em Akhaus, p. 213; Flavel, citado em 13ryan W. Ball, lhe English Connection: 
lhe Puritan Roots of Seventh - day Adventist Belief (Cambridge, Inglaterra: James Clarke, 
1981), p. 54; Cf .Ellen G. \X(hite,D Desejado de Todas as Nações (Tatui, SP Casa Publicadora 
Brasileira, 2001 [CD-Rorn]), p. 25. 
45 George Eldon,Ladd, A Theology of the New Testament (Grand Rapicls, MI: Eerdtnans, 
1974), p. 437, 443, 445, 446. cf. McGrath, p. 26. 	, 
46 Peter Toon, Bom Again: A Biblical and Theological Study of Regeneration (Grand Rapids, 
MI: Baker, 1987), p. 64. 
47 William Sanday e Arthur C. Headlam, The Epistle to the Romans, 5a ed., The International 
Criticai•Commentary (Edinburgh, Inglaterra: T. St T. Clark, 1902), p. 36. 
Justificação Durante uma Vida... I 105 
" John C. Ryle, .Holiness: Its Nature, Hindrances, Difficulties,and Roots (Welwyn, Inglaterra: 
Evangelical Press, 1979), p. 16. 
49 Ver Alan Richardson, An Introduction to the 7heology of the New Testament (Nova York, 
NY: Harper & Row, 1958), p. 34-38. 
5 O Joseph Alleine, citado em Bali, p. 75. 
" David E Wells, Turning to God: Biblical Conversion in the Modern World (Grand Rapids, 
MI: Baker, 1989), p. 41-43. 
52 • Ellen G. White, Evangelismo (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Romn, 
p. 192 (grifo nosso). 
" Ver, por exemplo, Moore, Refiner's Fire, p. 132, n. 6. Para sermos honestos, essa ideia não 
parece central na teologia de Moore como é para alguns. Sendo assim, o recomendamos 
por sua forma prática e concisa de apresentar sua posição. 
54 Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 57. 	 , 
55 Aulén, p. 240, 242. 
56 Ellen G. White, Educação (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rorn]), p. 29; 
Ellen G. White, Evangelisrno (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rom]), 
p. 192; Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 172. 
57 Lutero citado em Toon, fustification and Sanctification, p. 58, 59; Ver também Althaus, 
p. 226-228; Braaten, p. 13; Leo George Cox, John Wesley's Concept of Perfection (Kansas City, 
MO: Beacon Hill Press of Kansas City, 1964), p. 136. 
" Braaten, p. 13; Toon, Justification and Sanctific,ation, p. 63. Entre os autores adventistas que 
seguiram a concepção de Melâncton estão Desmond Ford, David P. McIVIahon e mais 
recentemente, Robert Brinsmead. Ver também GeoffreylpQcton, O Abalo do Adventismo 
(Rio de Janeiro, RJ: Juerp, 1987). 
59 Ellen G. White, O Maior Discurso de Crista p. 114; Cf. Ellen G. White, 0 Desejado de Todas 
as Nações, p. 555, 556; Robert W Olson, "Ellen G. White on Righteousness by Faith'; em Arthur 
J. Ferch, ed., Toward Righteousness by Faith: 1888 in Retrospect (Wahroonga, Austrália: Divisão 
do Sul do Pacífico da IASD, 1989), p. 102, 103. 
60 J. Gresham Machen, Christianity and Liberalism (Grand Rapids, MI Eerdmaps, 1946), p. 140. 
61 Brunner, p. 462. 
62 Packer, p. 181. 
63 Para um excelente debate sobre adoção, ver ibid., p. 181-208. 
" Karl Barth, Churõh Dogrnatics, trad. G'. W Bromiley (Edinburgh, Inglaterra: T. & T. Clark, 
1956), 4.1.22. 	 , 
65 J. A. Ziesler, 7he Meaningof Righteousness in Paul (Cambridge, Inglaterra: Cambridge Universk 
Press, 1972), p.38; 39; McGrath, p. 24-28, 97, 98, 102, 107. Ver também George Arthur I3uttrick e 
Keith R. Crim, eds., "Righteousness in the NT; lhe Interpreter's Dictionary ofthe Bible (Nashville, TN: 
Abingdon Press, 1981). ,• 
" Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 57, 58. Ver a última seção deste capitulo para melhor 
consideração do que significa estar "em Cristo': 
67 Ver Daniel G. Read, Robert D. Linder, et al., "Universalisrri; Dictionary of Christianity in 
America (Downers Grove, IL: Intervarsity, 1990). 
68 Carta de E. G. 'White to A. T. fones, 17 de fevereiro de 1890; Carta de E. G. White to A. T 
Jones, 9 de abril de 1893; Jack Sequeira, Beyond Belief: lhe Promise, the Powen and the Reality of 
the Everlasting Gospel (I3oise, ID; Pacific Press, 1993), p. 8; Donald K. Short, Sins ofthe Times, 
maio de 2003, p. 3. 
106 I Pecado e Salvação 
69 Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), p. 208); Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 389; Ellen G. White, 
Testemunhos Para Ministros (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rom1), 
p. 92 (grifo nosso). 
79 Robert J. Wieland, Grace on Trial (Meadow Vista, CA: lhe 1888 Message Study Cornmittee, 
1988), p. 43; , conversa pessoal com Dennis Priebe, Indianapolis, IN, julho de 1990. 
71 Charles E B. Cranfield, lhe Epistle to the Romans, 'lhe International Criticai Commentary 
(Edinburgh, Inglaterra T & T Clark, 1975), v. 1, p. 290; Murray, , p. 85; Cf John Murray, lhe 
Epistle to the Romans, lhe New International Commentary on the New Testament (Grand 
Rapids, ME Eerclmans, 1959), v. 1, p. 203. 
72 Francis D.' Nicho!, ed., lhe Seventh-day Adventist Bible Commentary (Washington, DC: 
Review and Herald, 1953-1957), v. 6, p. 869. 
73 Ver, por exemplo, Wieland, p. 43-48. Sobre o consenso entre a concepção de Waggoner 
com a dos grandes reformadores, ver George R. Knight, Angry Saints: Tension.s and Possibilities 
in the Adventist Struggle Over Righteousnes.s by Faith (Washington, DC: Review and Herald, 
74 Wieland, p. 35, 36; Knight, Angry Saints, p. 40-61 	 • 	• 
Wieland, p. 43,47 
76 Cox, p. 189, 190; Arnold Valentin WallenkampE What Every Christian Should Know About 
Being fustified (Washington, DO Review and Herald, 1988), p. 3743, apresenta' uma proveitosa 
discussão sobre graça preverdente e graça geral sob o tópico ''Temporary Universal Justification" 
[Justificação universal temporária"]. 
97 Leon G Hynson, To Worm the Nation: 7heological Foundations of Wesley's Ethics (Grand 
Rapids, ME Zondervan, 1984), p. 104; Hans LaRondelle, O que é Salvação: O que Deus Faz por 
Nós eem Nós (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988), p. 68. 
78 Ellen G White, Mensagens Escolhidas,v. 1, p. 343, 344, 	 ' 
99 Ver, por exemplo, Erickson, p. 963; Cox, p. 191. 	 ' 
80 R. Laird Harris, Gleason L. Archer Jr., Bruce K. Waltke, "Qadash", 7heological Wordbook of 
the Oldrestament (Chicago; IL: Moody Publishers, 2003)'. 
81 Gerhard Kittel, ed., "Hagios, hagiazo, hagiasmos, hagiotes, hagiosyne", Theological Dictionary 
of the New Testament (Grand Rapids, ME Eerdmans, 2006). 
82 Ver Ladd, p. 519,520 
83 Anthony, A. Hoelcema,'"Reforrned Perspective: em Melyin E Dieten Anthony A. Hoekema, 
Stanley M. Horton e J. Robertson McQ filiem eds., Ave Views on Sanctification (Grand Rapids, MI: 
Zondervan, 1987), p. 63: 
84 Ellen G. White, Missa Alta Vocação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), p. 213. 
" Donald Guthrie, New Tèstament 7heology (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1981), p. 669. 
86 , Ellen G. White, Santificação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rona]), 
p. 10; Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-
Rorn]), p. 469-473; Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja .(Tatuí„ SP: Casa Publicadora 
Brasileira, 2001 [CD-Rena]), v. 1, p. 22, 23. 
BerkouWen p. 9. Grande parte da discussão adventista do sétimo dia sobre 'A Mensagem de 
1888" gira em torno da relação entre justificação e santificação. Para sínteses, ver George R. 
Knight, From 1888 to Apostasy: lhe Case of A. T fortes (Washington, DC: Review and Herald, 
1987); George R. Knight, A Mensagem de 1888 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 20031. 
Justificação Durante uma Vida... 1 107 
Para um levantamento distorcido da questão sobre a posição polarizada da justificação forense, 
ver Paxton. 
88 Berkouwer, p. 9, 100; Denney, Christian Doctrine of Reconciliation, p. 297, 300. 
89 Calvin°, 3.16.1. 
9° William E. Hulme, 7he Dynamics of Sancttfication (Mineápolis, MN: Augsburg, 1966), p. 47. 
91 John 1VIacquarrie, Principies of Christian lheology,2a ed. (Nova York, NY: Charles Scribner's 
Sons, 1977), p. 343. 
92 James S. Stewart, A Man in Christ: 'Lhe Vital Elements ofSi. Paul's Religion (Nova York, NY: 
Harper & Row, 1975), p. 147, 152, 153. 
93 Melvin E. Dieter, "The Wesleyan Perspective': em Dieter, p. 35; Forsyth, Justification of 
God, p. 221. 
94 Murray, Redemption Accomplished and Applied, p. 170, 171. 
CAPÍTULOS 
Mais Sobre Santificação 
„
F inalmente',' resmunga o fariseu, "este livro vai tratar da salvação 
de verdade. Passada a fase do leite para bebês recém-nascidos em 
Cristo, estamos prontos para o alimento sólido da vida ama-
dura. Agora que já examinamos a base um tanto insignificante da salvação 
Fiistificação e as entidades a elas relacionada .sj estamos preparados para 
construir a mansão da santificação, e, melhor ainda, da perfeição. Deus fez 
a sua parte; agora está na hora de fazer a nossa!" ' 
Não foram poucas as vezes em quê esse tipo de pensamento domi-
nou a atitude de cristãos sinceros. Gerhard Fordechegou a declarar: 
'A santificação entra em cena {...} para impedir que o bom navio da salva-
ção naufrague nas rochas da graça somente:' A discussão farisaica sobre a 
santificação pode ser perigosa, sugere Forcle, porque "seduz e ilude o velho 
homem a pensar que está no controle? A tentação magistral de Satanás, 
"sereis como Deus" (Gn 3:5, RSV), ainda apela ao coração humano. É extre-
mamente difícil manter o eu pregado na cruz 
Depois da justificação, a vida cristã enfrenta vários e graves perigos. 
O primeiro é o antinomianismo, doutrina segundo a qual a morte de 
Cristo aboliu a lei e, consequentemente, a estrutura moral do universo. 
Para o pensamento antinomiano, o cristão não tem mais a obrigação de 
guardar a lei, visto não se encontrar mais "debaixo da lei" (Rm 6:15). 
ç‘ O perigo oposto é transformar o evangelho em uma nova lei) Para 
/ os que defendem esse modo de pensar, a própria essência da vida cristã 
é uma forma de guardar a lei. Para certas pessoas é o ascetismo monás- 
t tico, enquanto para outras pode ser o perfeccionismo na alimentação, 
) embora a nova lei se torne um fetiche que ocupa o lugar central na ex- 
periência religiosa de todas elas. "A humanidade': escreveu Leon Morris, 
bem uma perversa criatividade em descobrir maneiras de se submeter 
) 
.. à escravidão:1) 
5 (us T/ -ru VO Mais Sobre Santificação I 109 
r -1- 80krA 	 vCA/J) -6 E 
Uma terceira maneira de sair. dos trilhos no tocante à santificação é en-
fatizar a~letotalpor parte d_Q cristão: "Jesus faz tudo:' Eu costuma-
va defender esse ponto de vista, mas finalmente concluí que não poderia 
explicar os muitos imperativos espalhados pelas páginas do Novo Testa-
mento nos ordenando a "lutar': "se esforçar': "trabalhar" e assim por diante. 
Uma quarta forma de interpretar erroneamente a santificação é confundi-
la com a justificação, como se• fosse apenas um aspecto dela. As pessoas 
que adotam esse ponto de vista geralmente confundem os textos bíblicos que 
falam de santificação instantânea (ser separado para uma vida santa) com o 
conceito teológico de santificação progressiva. De acordo com esse ponto /de' 
vista,(a santificação (enquanto justificação) constitui uma entidade )icária.) 
Ao invés de ser algo que Deus faz em nós, a santificaçã é tambén). ligo que 
Cristo faz por nós. Para John Wesley, o ensino da santidade vicaria era j'a. obra-
prima de Satanás': Ele defendia que a santidade é tanto interior quanto exterior' 
O presente capítulo procurará urna rota segura através dos obstáculos que c 
cercam o importante tema da santificação progressiva. Vamos discutir ques-
tões como o significado e a essência da santificação na vida diária de um cris- L 
tão, o papel do Espírito Santo na santificação, o lugar do esforço humano e das 
'obras': a natureza das "boas" e"mas" obras, o lugar das obras no juízo final, e a c 
relação da oração e de outros i'meios da graça para o processo de santificação. c, 
Antes de i• assar à definição do termo, cumpre recordar algumas precau- f 
ções. E • rimeiro lugar , jamais iodemos separar na vida real a santificação 
progressiva da justi cação. En-i .egundo lugar, .1 parte mais central da santifi-
cação é a união . com- Cristo. O comportamento cristão brota naturalmente de c r:5-8). 
Paulo apresenta o mesmo procesSo dinâmico de amadurecimento quando 
exorta os cristãos: "seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele 
que é a cabeça, Cristo" (Ef 4:15). Os cristãos são aqueles que estão sendo "trans-
formados, de glória en-i glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Es-
pírito" (2Co 3:18). A fé deles deve "cresce Lr] sobremaneird (2Ts 1:3); e seu amor, 
aumentar. "mais e mais" (Fp 1:9). .0 processo dinâmico de santificação precisa 
afetar todos ;•s aspectos da vida do cristão: "espírito, alma e corpo" (1Ts 5:23)) 
Os efeitos da santificação vão se manifestar tanto por dentro, na mente; 
como por fora, no comportamento. O resultado será uma compreensão 
mais clara de nossa verdadeira condição. De acordo com o perspicaz co-
mentário de C. S. Lewis, equando uma pessoa melhora, ela percebe cada 
vez mais o mal que nela habita. Quando uma pessoa piora, ela percebe 
cada vez menos a sua própria maldade?) 
112 I F'ecado e Salvação 
A santificação também afeta com9 um todo a experiência comporta-
mental do cristão. Conforme Dietrich Bonhoeffer escreveu, "a graça tudo faz, 
dissera Lutero, e os seus sucessores lhe repetiam literalmente essa afirmação; 
com uma diferença, porém, muito em breve, deixaram de fora, deixaram de 
pensar e dizer aquilo que para Lutero sempre estava implícito em seu pen-
samento: o discipulado': Jamais devemos esquecer quei ra confissão da igreja 
cristã primitiva não era a de Jesus como salvador, mas a de Jesus como senhouP 
"Fazer de Cristo o senhor': afirma John Stott, "é colocai- todas as áreas de nossa 
vida pública e privada sob o controle do Salvado?' Porque fomos "comprados 
por preço, afirmou Paulo, devemos "glorifica[r] a Deus" (1Co 6:20). 
( i, A santificação prog essiva é urn passo vital no processo da salvação. Con-
forme diz Ellen White: 'O pecador não é salvo em seus pecados, mas de seus 
pecados;james Stalker sugeriu a mesma coisa quando escreveu que "todo o 
ensino de Paulo gira em torno de dois polos: o da justiça, por meio da morte 
de Cristo por nós; e o da santidade, por meio da vida de Cristo em nosi's 
çç Boa parte da teologia concebe a justificação como o "título para o Céu" 
Y e a santificação como a "habilitação" para o Céu. Um segundo tema de 
destaque é o de que a justificação liberta da culpa e do castigo do pecado, 
enquanto a santificação liberta do poder do pecado.' 
Uma questão importante que tem confrontado os cristãos nos últimos 
dois mil anos é: "Se Cristo conquistou no calvário a vitória por nós,ipor que 
ainda nos sentimos atraídos e repelidos tanto ao pecado como à justiça no 
cotidiano? Se nascemos de novo, não deviam nossos pensamentos e ações 
ser todos puros e santos?" 
TENSÃO ENTRE O IDEAL E O REAL 
Esse problema ganhou especial relevância para mim anos atrás, quando 
eu ministrava um curso de filosofia. A turma tinha um estudante muçulma- 
no de.pós-g,raduação financiado pelo governo da Arabia Saudita. Meu ami- 
go estudante começou a vir a meu escritório assiduamente para falarmos 
sobre o cristianismo. Então, determinada semana, ele me disse que fora pela 
primeira vez a uma igreja cristã (a batista, no caso), mas saiu de lá perplexo. 
A fonte de sua confusão era que ele tinha visto o pregador "mergulhar" 
alguém na água e, em seguida, declarar que ele era uma "nova pessoa 'Meu 
amigo muçulmano ficou pasmo não só com o "mergulhd; porém muito 
Mais Sobre Santificação 1 113 
mais a respeito da proclamação da "nova pessoa". Afinal, segundo ele, a pes-
soa emergida parecia a mesma que fora submersa na água!• 
Essa experiência me despertou para o fato de que, por vezes, é neces-
sário otolhar externdpara nos auxiliar a ver a profundidade de coisas que 
passam despercebidas por aqueles que foram criados em uma cultura cris-
tã. A pessoa que é batizada, em certos aspectos, se torna urna nova pessoa, 
mas, por outro lado, continua sendo a mesma. 
A Bíblia ensina que o cristão renascido tem um novo relacionamento 
com Deus, bem como urna nova mente, um novo coração e um novo con-
junto de atitudes em relação ao pecado e à justiça{Por outro lado, a pessoa 
recém-batizada continua a existir no mesmo corpojEle ou ela ainda tem o 
mesmo cônjuge e ainda conserva as mesmas características e personalida-
de anteriores. (O cristão renascido é uma nova pessoa, embora não o seja! 
E nisso reside o paradoxo: a tensão entre o velho e o novo.) 
É por isso que o Novo Testamento considera muitas vezes o cristão como 
alguém em estado de guerra contra as forças do mal. Paulo chega a admoestar 
Timóteo .a combater "o bom combate da fé" (1Tni 6:12). Um cristão deve lutar 
não só contra a tentação de seguir os hábitos antigos, mas também contra o dia-
bo, que "anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devo-
rar" (1Pe 58). É ordenado aos cristãos que "resistam ao diabo" (Tg 4:7; cf. Ef4:27). 
Paulo descreve vividamente em Gaiatas 5:16, 17 a essência da guerra 
travada pelos cristãos: "Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à 
concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espí-
rito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, 
porventura, seja do vosso uerer:' 
• sim. olismo da. batalha = o motivo dominante em todo o Novo Tes-
tamento)Paulo se refere a Timóteo como o "bom soldado de Cristo Jesus" 
(2Tm 2:3). Ele sugere que os cristãos estejam armados com "as armas da 
justiçd' (2Co 6:7) e revestidos "de toda a armadura de Deus" (cf Ef 6:10- 17). 
O apóstolo João também fala sobre as recompensas alcançadas pelo 
vencedor" da guerra cristã (Ap 2:7, 11, 17, 26; 3:5, 12, 21). 
Seria maravilhoso se a vida cristã fosse urna vitória instantânea e total 
em todos os aspectos do pecado na vida de alguém, mas essa não é nem de 
longe a imagem bíblica. Daí Paulo ter admitido: "Não que eu o tenha já rece-
bido ou tenha já obtido a perfeição" (Fp 3:12). João declara categoricamente 
114 Pecado e Salvação 
que qualquer cristão que afirma estar sem pecado faz de Deus um "menti-
roso" (1Jo 1:10). Visto continuarem .a .pecar depois do batismo, os cristãos 
podem se alegrar de possuir um "advogado junto ao Pai" para continuar 
mediando o perdão no santuário celestial (1Jo 2:1). 
Cristo obteve na cruz a vitória sobre Satanás e sobre o pecado em be-
neficio de cada pessoa que .o aceita pela fé. Ele venceu o diabo por meio de 
sua vida, morte e ressurreição. O desafio para o ciisião não é obter a yjtdria_ 
cr:0saieDisto já obteve,,,_nyias permanecer unido ao vence . 
'John Stott colocou o dedo no coração do problema que estamos exa-
minando ao comentar que, "embora o diabo tenha sidotderrotado, ele ain-
da não admitiu a derrotatEmbora já tenha sido derrubado, ele ainda não 
foi eliminado»a Hrealiciade, ele continua a exercer grande poder. Esse é 
o motivo da tensão que sentimos tanto em nossa teologia como em nossa. 
experiência". James M. Gustafson abordou a questão ao escrever que 
"Cristo venceu a batalha decisiva. [...] "A vitória final é inquestionável, mas 
as operações de 'limpeza devem continuar até o fim." 2 
Essas "operações de limpeza:' ocorrem não só no universo em geral, mas tam-
bém na vida de cada cristão.t) pn eiro cenario o do grande conflito entre 
Cristo e Satanás no macrocosmo do universo, enquanto, no( - ç n.o c- is . 
mesma batalha é travada no microcosmo da vida diária)A luta contra o próprio 
a "maior batalha [...] já ferida': continuará até a segunda vinda de Jesus." 
Felizmente, a Bíblia aplica a vitória a cada cristão individualmente. 
O pecado, comenta Paulo, já não tem "domínio" sobre os crentes (Rm 
6:14). O pecado não precisa mais reinar em seu corpo mortal, contanto 
que permaneçam submissos a Deus (v. 12,13) tara os que estão "em Cristo': 
20 o pecado deixa de ser um monarca reinante é se torna um estrangeiro ilegal 
e sem direitos, embora ainda não facilmente extraditado) 
"Há urna grande diferença ; admite John Murray, "entre 0.--é-ea-~ i- 
ve 	 t A nte e o pecado reinante; entre a pessoaregenerada que 1u a com o peca o 
e a pessoa não regenerada complacente com pecado. [...] Uma coisa é o ini-
migo ocupar a capital; e outra bem diferente é suas tropas derrotadas apenas 
importunarem as bases militares do reino2 
Embora a justificação, a regeneração e a santificação inicial façam com 
que os crentes adotem uma nova atitude para com o pecado, não lhes alte-
ram os traços arraigados de caráter nem os hábitos. 
c 
Mais Sobre Santificação 1 115 15 
Ellen White reforça o que disseram os escritores da Bíblia, quando afir-
ma que, como cristãos, "poderemos cometer erros, mas odiaremos o peca- ( 
do que causou os sofrimentos do Filho de Deus': Em outro livro, ela torna a c TvgiVO 
A "vantagem" em banalizar a santificação e enfatizar seu aspecto negativo 
é que essas concepções rebaixam o padrão para o nível em que é perfeita-
mente possível obedecer à lei. Jesus, porém, fez uma crítica feroz à banaliza-
ção da santificação no sermão da montanha. Ali Ele acentuou a profundidade 
e a unidanier associando-lhe seus princípios subjacentes. Quando infor-
mou seus ouvintes que a justiça deles devia exceder a dos escribas e fariseus 
(Mt 5:20), o Mestre os estava conduzindo a um padrão mais elevado que o 
previsto pela simplificação da justiça e pela lista de permissões e proibições. 
Mais Sobre Santificação 1 117 
• O cristianismo é-urna "reformulação da alma" e não apenas um modo 
de vida ou um conjunto de novos hábitos. Como resultado, o cristianismo 
é "salvação do egoísmo': até mesmo do egoísmo de sentir orgulho por nos-
sas boas obras e melhorias em valores e atitudes.K0 cristianismo repre-
senta, portanto, salvação do Pecado e não apenas salvação dos pecados )) 
Segundo a Bíblia, a essência da santificação é a transformação total do 
coração, que resulta em uma mudança de vida, incluindo a maneira como 
tratamos e vemos a nós mesmos, a nossos semelhantes e a DeustA san-
tificação progressiva é o processo pelo qual o Espírito Santo transforma 
o e oísmo e o amor-pró rio em • mor a Deus - -os outros e a vida diária) 
Santificação é nada menos do que o processo pelo qual os cristãos se 
tornam progressivamente mais amáveisplão deve surpreender, portan-
to, encontrar Jesus afirmando que toda a estrutura legal do Antigo Tes-
tamento estava alicerçada sobre os princípios do amor a Deus e do amor 
ao próximo (Mt 22:34-40). Da mesma forma, os dois únicos homens que 
perguntaram a Jesus o que precisavam fazer para serem salvos, receberam 
como resposta que deviam amar e servir ao semelhante incondicional-
mente (Mt 19:21, 22; Lc 10:25-37). Nosso Senhor chegou mesmo ao ponto 
de afirmar que a única maneira das pessoas saberem se eram seus discípu-
los era se tivessem "amor uns aos outros" (Jo 13:35). 
Paulo tornou compreensível a mensagem de Cristo repetidas vezes. Ele 
aconselhou os colossenses a colocar, acima de tudo, "o amor, que é o vínculo 
da perfeição" (Cl 3:14). "Toda a lei': ele escreveu aos gálatas, ''se cumpre em 
um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (G15:14; 
cf. Rm 13:8, 10). A seguir, ele estabeleceu o contraste entre as obras da 
carne e o fruto do Espírito.P primeiro conjunto é construído sobre oego : 
ísmo enquanto as características do segundo (no singular, "fruto") fluem 
todas do amo2S (G15:22, 23)j 
Com essas passagens bíblicas em mente, não admira encontrarmos Vincent 
Taylor definindo santificação como "amor perfeito"; os teólogos wesleyanos 
sugerindo que santificação é "amor em ação"; ou Ellen White comunicando 
a seus leitores que "a verdadeira santificação significa perfeito amor, perfeita 
obediência, perfeita conformidade com a vontade de Deus'? Quando relacio-
na o perfeito amor com a R_kt_aol)ediencia ela está seguindo a Paulo e a 
Jesus, ressaltando que(acluele axe ama çgwea lei em.todos os seus aspectos. 4 
118 1 Pecado e Salvaçao 
Mildred Wynkoop parece estar no caminho certo quando escreveque 
o amor agapè (abnegado) do cristão " é a qualidade de uma pessoa. 1...] É um 
princípio pelo qual alguém ordena a vida': O cristão que está sendo santifi-
cado passa a viver cada vez mais em harmonia com os dois grandes princí-
pios da lei de Deus. 0 amora Deus e ao semelhante se torna a fonte da qual 
flui o restante das atividades da vida. Para Ellen White,a obediência que 
não é motivada pelo amor se baseia no egoísmo?) 
A liberdade cristã nunca é liberdade no sentido irresponsável, mas sim a 
oportunidade para ser "servos uns dos outros, pelo amor" (Gl 5:13). John Stott 
afirma que ser discípulo de Jesus não só inclui a submissão de todos os aspectos 
da vida ao controle do Mestre, mas também o chamado ao serviço. De sorte 
que Shum cristão consnor muito tempo viver a nr a si.~ 
Infelizmente, para a causa da santificação verdadeiramente equilibrada, 
comenta Edward Heppenstall, "é mais fácil se sacrificar no altar do extre-- - 
mismo religioso do q_ue amar a Deus e amar aqueles que não ~I:" 
A época atual clama por não por um nível inferior de justiça, mas por 
um nível mais elevado. A justiça banalizada e detalhista não .é hoje mais 
adequada do que quando Cristo censurou os fariseus em seu sermão da 
montanha por almejarem alvos demasiadamente baixos. 
Quando se torna o princípio da vida, o amor não fica dissociado das "boas 
obras': Ao contrário, conforme Leon Morris sugere, o amor cristão se torna o 
fundamento das boas obras?' É para esse tópico que voltaremos agora a nossa 
atenção. Depois de examinar o papel do Espírito Santo no desenvolvimento 
diário da vida cristã, anàisaremos o aspecto humano e a parte desempenha-
da pelas obras, oa atos, na experiência cristã em desenvolvimento. 
O ESPÍRITO SANTO E A SANTIFICAÇÃO 
O Novo Testamento deixa poucas dúvidas de que a santificação é respon-
sabilidade do Espírito Santo. Pedro escreve que os cristãos são "santificados pelo 
Espírito para a obediência a Jesus Cristo" (1Pe 1:2, RSV), e Paulo nos diz que 
Deus é quem santifica (lTs 5:23; cf. Rm 15:16). Foi no contexto da promessa do 
dom do Espírito que Jesus afirmou: "sem. mim nada podeis fazer" (Jo 15:5). E a 
maior realização humana é chamada de "fruto do Espírito" (G15:22, 23). 
Com esses ensinos em mente, Carl Henry escreveu que "o Espírito é o 
princípio dinamico da ética cristã, a instrumentalidade pessoal pela quà 
Mais Sobre Santificação I 119 
Deus entra poderosamente na vida humana para l'bertar o homem da es-
cravidão de Satanás, do pecado, da morte e da lei. IO Espírito de Deus não 
é um personagem secundário no drama da redenção. t o ator principal, 
cujo papel é decisivo para a vida de santidade em todas as suas fases?) 
Os nascidos do Espírito também vivem uma vida cristã de progresso e 
crescimento no poder dessa mesma pessoa divina. (A melhor maneira de 
compreender a santificação progressiva é como sendo uma continuação 
da obra iniciada pelo Espírito Santo na regeneração) 
Referindo-se às pessoas que não entendem a contínua atividade do 
Espirito Santo, Ellen White escreveu: "Muitos têm a ideia de que devem 
fazer parte do trabalho sozinhos. Confiaram em Cristo para o perdão dos 
pecados, mas agora procuram por seus próprios esforços viver corretamente. 
Mas qualquer esforço como este terá de fracas.sar' .'26 
O esforço humano está sempre fadado ao fracasso. Se as pessoas não 
obtêm sucesso, elas ficam espiritualmente desanimadas; mas, se logram 
algum êxito, enfrentam a tentação dok)irgulho espiritual – que é de todos 
os pecados o mais incuráve9A,ssin -i sendo, é não somente impo,ssi_v_el, mas. .....--- — ,---. 
targbémap os_cristãos desenvolverem sua E .02.0 santificação, 
Paulo descobriu o segredo básico da vida cristã quando percebeu que 1 
o poder de Deus "se aperfeiçoa na fraqueza': O apóstolo chegou a afirmar 
que, quando era fraco, então era forte, pois deixava o poder de Deus ope-
rar em sua vida (2Co 12:9, 10). •Ele tinha um pensamento similar em men-
te quando escrevem "já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim", 
mediante o dom do seu Santo Espírito (implícito em Gl 2:20). Em outro 
texto, quando admoestava os filipenses a desenvolver "a vossa salvação': ele 
rapidamente acrescentou que Deus é quem efetuava neles "tanto o querer 
como o realizar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2:12, 13). 
(Comentando Filipenses 2:12 e 13, Gerrit, C. Berkouwer adverte que "progre-
dir na santificação jamais significa operar a salvação de nós mesmos por meio 
de nossa própria iniciativa. Ao contrário, significa operar nossa própria salvação 
por meio de um crescente sentimento de dependência da graça de Deus?59 
O argumento de Berkouwer é crucial para os cristãos compreenderem 
que existem duas maneiras de encarar :o relacionamento do indivíduo 
com o Espírito Santo na santificação progressiva. A primeira delas leva a 
uma independência crescente da graça de Cristo, à medida que a pessoa 
. 	, 
120 1 Pecado e Salvação 	r PO° can-uvuo 	'e -- 
se torna aparentemente mais semelhante a Deus. Esse modelo sugere que 
os cristãos santificados serão algum dia capazes de subsistir sozinhos, sem 
Cristo, pois se tornaram semelhantes a Deus. 
A segunda forma de nos relacionarmos com o Espirito Santo na santifi-
cação implica uma dependência cada vez maior dele. Quanto mais a pessoa 
reconhece seu desamparo e fragilidade, mais suplica pelo poder de Deus 
em sua vida. Esse segundo modelo é o encontrado na Bíblia. Acerca desse 
ponto, Ellen White sugere que "todas as nossas boas obras dependem de 
um poder que não está em nós. [...] ó podemos caminhar com segurança 
por uma constante negação do próprio eu .e dependência em Cristd.' 29 
O constante derramamento do Espírito reflete um importante aspecto 
do ministério celestial de Cristo. A primeira função é o perdão continuo 
possibilitado pela mediação do Salvador. A segunda função é a capacita 
rção contínua mediante o dom do Espirito, a fim de que os cristãos perdoa-
dos e nascidos de novo possam viver urna vida cristã. Ambas decorrem 
da graça de Deus a nós estendida. O fracasso na vida cristã é, em grande 
medida, o fracasso em se apropriar do dom do Espírito Santo. 
Então, somos levados a pensar na parte que cabe ao ser humano no 
plano da salvação. O que dizer das "obras' .e do "esforço" humano? É desse 
tópico que agora trataremos. 
E AS OBRAS? 
Conta-se a história de um pastor luterano que, no leito de morte, acre-
ditava que estaria no Céu, baseado no fato "de não conseguir se lembrar de 
jamais ter feito uma boa obra em sua vida!"" 
O que ele queria dizer, obviamente, era que havia sido inteiramente salvo 
pela justificação. Embora essa afirmação não pareça inteiramente estranha, 
vinda de um pastor luterano, seria completamente fora de propósito para 
muitos ministros adventistas, alguns dos quais tendem para o outro lado. 
Voltaremos a nosso amigo luterano oportunamente; mas antes, preci-
samos examinar alguns textos bíblicos sobre a questão. 
Paulo, o grande apóstolo da salvação pela graça mediante a fé, e sem as 
obras da lei, mostra claramente que a fé, ao invés de anular a lei, na reali-
dade a confirma (Rm 3:31). O livro de Romanos estimula seus leitores, ao 
longo de todo o processo da salvação e de todo o caminho da justificação 
Mais Sobre Santificação 121 
forense (ato de considerar uma pessoa legalmente justa), a viver os princí-
pios da lei na vida diária. Os grandes capítulos éticos de Romanos 12 a 14, 
com todos os seus conselhos sobre a vida cristã e o cumprimento da lei, 
são na verdade o clímax da epistolappeus salva e capacita pessoas a viver 
uma vida verdadeiramente cristã no mundo cotidiano) 
Semelhantemente, a passagem da grande salvação em Efésios 2 se des-
via de seu caminho para ressaltar que somos salvos "pela graça [...] median-
te a fé': e não por obras ("para que ninguém se glorie") e continua a afirmar 
que os cristãos são "criados em Cristo Jesus para boas obras [...] para que 
andássemos nelas" (v. 8-10). 
Tiago é bem conhecido por ter declaradoque "uma pessoa é justifica-
da por obras e não por fé somente" (Tg 2:24). Lutero, recém-saído de um 
catolicismo medieval orientado por obras, não conseguia entender como 
a epístola de Tiago poderia fazer parte do cânon bíblico. O apóstolo certa-
mente não estava na lista dos teólogos aprovados por Lutero. 
Os teólogos da atualidade, porém, não encontram, fundamentalmente, 
nenhum conflito entre Paulo e Tiago.tPara aqueles, o que ocorria é que os . 
dois apóstolos, por estarem se dirigindo a leitores diferentes, aplicavam én- , 
fase a diferentes partes de um mesmo evangelho)Ambos acreditavam ter , 
uma correlação integral entre a forma de crer, e a forma de viver. "Somente 
a fé justifica': escreve Peter Toon, "mas a fé que justifica não está sozinha:' 
Daí J. H. Ropes ter garantido, em seu importante comentário sobre Tiago, que 
a fé não acompanhada pelas obras é uma."fé incompleta. As obras, por sua 
vez, mostram que "a fé era do tipo certo, Completando-a,' O apóstolo Tiago 
resumiu magistralmente .o ensino do Novo Testamento sobre o tema quando ‘, 
afirmou que "a fé, se não tiver, obras, por si só está morta (Tg 2:17; cf. v. 26). 
Os reformistas do século 16 também enxergavam a unidade entre fé 
e obras, incluindo Lutero, quando não estava reagindo excessivamente a 
sua vida monástica direcionada para as obras. É por isso que ele conseguefazer isto ou não? Será que é necessário?'), nem 
se preocupa se é uma boa obra ou não. Ele apenas o faz. Depois que pratica, a 
esquece completamente':" Mas pessoas envolvidas em obras Mortas e obras 
da lei estão sempre procurando crédito, reconhecimento e recompensa) 
• Ellen White enfatiza a importância das obras da fé quando escreve: 
"para que o homem conserve essa justificação, tem de haver obediência 
continua, mediante ativa e viva fé que opera por amor e purifica a alma. [...] 
A fim de que o homem seja justificado pela fé, esta tem de chegar ao ponto 
em que controle as afeições e os impulsos do coração; e é pela obediência 
que a própria fé se aperfeiçoa:' 0 
A sequência entre graça e obras é crucial na distinção entre "boas" e 
"más" obras. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento descrevem Deus 
fornecendo um suprimento constante de graça antes de aguardar a reação 
do pecador (Êx 20:2, 3; Dt 7:6-12; 1Co 6:20; G1 5:1, por exemplo). or_ 
. causa do que Deus fez por eles, os cristãos são impelidos e capacitados 
a espalhar o amor a seus semelhantes. 41 ) 
O relacionamento de fé é um relacionamento dinâmico que motiva o 
cristão a servir aos outros no espirito e na força de Cristo. A vida crista é 
uma vida de serviço expressaria "fé que atua pelo amor" (G15:6). Não se tra-
ta de um isolamento monástico, rnas de uma vida devotada em benefício 
dos outros. John Wesley afirmou pitorescamente que(santos solitários" não 
Mais Sobre Santificação 1 125 
é uma expressão mais coerente com o eVangelho do que "santos adúlteros
As obras da fé são parte integral da vida diária do cristão. 
Esse tema nos conduz à questão do esforçoS humano em obras de fé. 
Deus faz tudo, ou os seres humanostooperam):1e alguma forma com Ele 
nas obras cristãs? rt, ok : r 09, [3 o 4 coo pe Nn) 
/ 	) ' --- cor& 3) euS - 
E O ESFORÇO HUMANO? 0-. Ir A-9 z.-727 rt, 
Alguns escritores cristãos parecem sugerir que "Jesus faz tudo" Nossa par-
te consiste apenas em entregar nossa vida a Deus, que Ele faz o restante. Todo 
o nosso esforço é direcionado apenas para permanecer submissos. Isso era o 
que ensinavam muitos pregadores da santidade do século passado.ssa tam-
bém é a impressão geral quando se lê os escritos de Morris Vendert. 49 
Eu costumava ensinar que todas as obras humanas buscavam a perma-
nência na submissãotmbora eu ainda acredite que há muita verdade nes-
se conseitayheguei à conclusão de que ele não faz justiça tanto à riqueza 
da linguagem bíblica sobre o tema quanto à experiência diária) 
• A Bíblia está repleta de palavras e histórias que sugerem esforço humano 
além do requerido para permanecer submisso. Moisés, por exemplo, (I) é elo-
giado porque 'recusou ser chamado de filho da filha de Faraa,' (2) porque pre-
feriu "ser maltratado junto com" os israelitas, (3) porque valorizou o "opróbrio" 
de Cristo e (4) porque "suportou" um problema após o outro (Hb 11:23-28). 
Além disso, Jesus recomendou aos discípulos que buscassem o reino 
de Deus (Mt 6:33); sendo que Paulo pede para "mortificarmos" os "feitos 
do corpo", para apresentarmos nosso corpo como sacrifício vivo e para 
"andar no Espírito': recusando satisfazer as concupiscências da carne 
(Rm 8:13; 12:1, 2; G15:16). João, por sua vez, exorta-nos a "guardar" os manda-
mentos de Deus (Ap 14:12; cf Jo 14:15; 15:10). 
(0 Novo Testamento está cheio de palavras de ação» imagem pintada 
pela Bíblia não é a de santos sendo levados para o Céu em camas de ociosida-
de. Tampouco ensinam as Escrituras a eficácia do esforço humano dissocia-
do do poder de Deus. "Sem mim", disse Cristo, "nada podeis fazer" (Jo 15:5). 
(A cena bíblica é mais precisamente a de cooperação entre Deus e os seres 
humanospaulo chegou a escrever: "eu também me afadigo, esforçando-me 
o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim"i 
(C1122)ke "tudo posso naquele que me forta1ecelLU131. 
126 Pecado e Salvação r / 	VCR P 	Pfr, C kir-7; 
A ideia da cooperação divino-humana também aparece no Antigo Tes-
tamento. Em Levítico 20:7, o Senhor diz ao povo de Israel para "santificar-se': 
embora afirme no verso seguinte que Ele é quem santifica o seu povo (ver 
2Co 7:1; cf 1 Ts 5:23). Semelhantemente, quando os filhos de Israel estavam 
prestes a atravessar o Mar Vermelho, Moisés os instruiu: "Não temais; 
aquietai-vos e vede o livramento do Senhor que, hoje, vos fará. [...] O Senhor' 
pelejará por vós, e vós vos calareis" (Ex 1413-15). Mas depois Deus ordenou 
ao povo que "marchasse': Embora tenha aberto o caminho, Deus não carre-
gou o povo. Eles atravessaram o leito seco do mar com suas próprias pernas. 
(Existe, portanto, um elemento passivo e una elemento ativo em nossa 
caminhada com Deus. Primeiro vem a submissão; depois vem a ação capa-
citadora do Espírito, que requer o esforço humano) 
Talvez o texto mais claro sobre a interação entre a obra de Deus e o 
esforço humano seja a admoestação de Paulo aos filipenses: "desenvolvei 
a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós 
tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2:12, 13). 
Essa passagern mostra@ papel ativo do cristão em esforçar-se, mas coloca 
o esforço humano no contexto da graça de Deus) 
John Murray esclarece esse ponto quando escreve: Vorque Deus tra-
balha, nós trabalhamosj Nossas obras não ficam suspensas porque Deus 
o, opera, nem suas obras cessam porque nos esforçamos. O esforço cristão 
só ocorre depois de Deus atuar em nosso coração e mente e em constante 
união com °Espírito Santo. "Santificação': escreve Anthony Hoekema, "é a 
obra de Deus ena nós mediante a nossa participação responsável:" 
Com isso em mente, já não :é impossível para mim (como o era antes) em 
L_____ tender por q e Joã.o se referiu 	 no à roupa de linho finíssimo dos santos tempo 
do fim comC "os atos de justiça dos santos': (Ap 19:8),)o comentar esse texto, 
Ro ert Mounce afirma que "isso não nega, de forma alguma, a doutrina paulina 
da justificação baseada na justa obediência de Cristo (Rrn 5:18, 19), mas sugere 
que urna vida transformada é a resposta adequada ao convite do noivo celestial': 
(George Eldon Ladd comenta que "embora a roupa do casamento seja 
um dom divino': a relação do cristão corn a salvação é um relacionamento 
dinâmicaps santos convidados para o banquete do Cordeiro são os que 
exerceram firme resistência, que guardaram os mandamentos de Deus e 
perseveraram na sua fé em Jesus (Ap 14:12):'45 
Mais Sobre Santificação 1 127 
• 'A conversão': explica John C. Ryle, "não é fazer uma pessoa se sentar 
em uma poltrona confortável e levá-la facilmente para o Céu. Ao contrá-
rio, é o início de um poderoso conflito, no qual custa muito alcançar a 
vitória: O esforço na vida cristã constitui um desafio que dura a vida toda. 
"Mas os que esperam contemplar uma transformação mágica em seu 
zaráter sem resoluto esforço de sua parte, para vencer o pecado': escreveu 
Ellen White, "serão decepcionadostsse esforço, porém, para alcançar 
'exito, precisa estar sempre em cooperação com a graça capacitadora de 
Deus e dentro de um relacionamento de fétudo que o homem pode fa-
r,er sem Cristo é poluído pelo egoísmo e pecado; mas aquilo que .é operado 
)ela fé é aceitável a Deus') 
CE, m. resumo, o esforço humano é importante e necessário. Ainda que esse 
esforço não leve á salvação, certamente tem sua origem nela) l3onhoeffer enfa-
izou esse ponto quando sugeriu que "só aquele que crê é obediente: O bispo 
)fle o expressou de maneira ainda mais vívida: quem afirma que o cristão não 
mecisa aplicar os preceitos de Deus na vida diária "não passa de pum lunático, 
Até o momento, passamos boa parte deste capítulo tratando do esforço 
tumano e das loas: obras. Examinaremos agora o papel dessas obras e 
sforços no juízo final ; 
WRAS NO JUÍZO) 
O juízo nunca foi um tema popular para pessoas "normais"; mas, por 
tern ou mal, constitui um fato da realidade, assim como a doença ou a 
norte. Esses temas, é claro, não têm sido muito populares também,mas 
legar-lhes a realidade não resolve a ameaça que representam. 
Ora, não é muito difícil entender por que os descrentes consideram 
lesagradável a ideia do juízo; mas um cristão ficar aborrecido com o tema 
evela que ele não compreende a finalidade do juízo divino, l° juízo tem 
ior objetivo vindicar os redimidos, confirmando que eles estão "em Cristo') 
A boa nova é que "já nenhuma condenação há para os que estão em 
:risto Jesus" (Rm 8:1). "Se Deus é por nós, quem será contra nós? [...] 
: Deus quem os justifica [considera-os justos]. Quem os condenará?" Cris-
D "está à direita de Deus" para interceder "por nós: Nada pode separar os 
;ue estão "em Cristo" do amor de Deus (v 31-39; cf. Zc 3:1-5). O cristão, 
ortanto, pode olhar com paz e alegria para os atos finais do juízo. 
,GD ET(vv --r- 
128 1 Pecado eSalvação 	 El W it' L- 
A realidade do juizo final é um ensino predominante na Bíblia. Quero 
com isso salientar que @ objetivo do juízo final é determinar quem está "em 
Cristo 'IQuern tem o Filho': escreveu João, "tem a vida" (1Jo 5:12; cf. Jo 524). 
"Todo aquele que olhar para o Filho e nele crer': afirmou Jesus, terá '`a vida 
eterna, Eu o ressuscitarei no último (Jo 6:40, NVI). 
Conforme vimos, estar "em Cristo" é urna expressão bíblica que indi-
ca relação total de uma pessoa com Deus. Inclui tanto a justificação (ser 
considerado justo e incluído em um relacionamento correto com Deus) 
quanto a santificação (ser separado para uso santo e corresponder ao amor 
de Deus em uma vida ética mediante a capacitação do Espirito Santo). 
L rl-odas as pessoas ou estão em um relacionamento de fé com Deus ou em 
um relacionamento de pecado (rebelião) contra Ele) 
Assim sendo, da perspectiva do juízo, estar "em Cristd' é uma avalia-
ção relacional. Uma pessoa em Cristo aceitou tanto sua graça perdoadora 
quanto sua maneira de viver. Esses dois itens, conforme vimos no capitulo 4, 
nunca podem ser dissociados. 
O Novo Testamento deixa claro que a vida diária de uma pessoa for-
nece provas para o juízo final. O autor do Apocalipse profetiza que os 
mortos serão julgados "segundo as suas obras" (Ap 20:12). As obras são 
importantes porque a pessoa que está "em Cristo" irá demonstrá-lo em 
ações. O linho finíssimo dos salvos, escreveu João, "são os atos de justiça 
dos santos" (A. i9:8) Para serem justos, esses atos precisam, obviamente, 
terem sido realizados dentro de um relacionamento de fé com Cristo. 
A veste nupcial de Mateus 22:1-14 deve ser vista em termos de sal-
vação total. Os que se revestiram de Cristo estarão vivendo a vida de 
Cristo. Em outras palavras, na vida real (em oposição à especulação teo-
lógica) ka graça justificadora jamais pode ser separada da graça santifica-
doralA pessoa "em Cristo" deve possuir ambas as justificações. Conforme 
revela William Johnsson, o juízo é essencialmente um pronunciamento 
de que homens e mulheres são justos, de que eles estão em um relaciona-
mento de fé com Deus:2 
Tanto a fé corno a obediência são essenciais para o juízo. De acordo 
com o evangelho de João, "quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, 
todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele 
permanece a ira de Deus" (3:36). 
Arcw -~ ere,Pm viril^. 	Mais Sobre Santificação ,1 129 
SALv49A0 stsLicfr (16-(A9, 7e-s -u 5mt.v7erv0RP) 
(A fé isolada não aponta para uma relação salvadora, tampouco as obras 
isoladas)vluitos dos perdidos realizaram "muitos milagres" em nome de 
Cristo (Mt 7:22). Como ressalta Donald Bloesch, "devemos ser julgados 
segundo as nossas obras': mas não salvos por elas. Os que estão "em Cristo" 
terão tanto um relacionamento com o seu Senhor como urna vida que re-
flete esse relacionamento. "As obras de fé" são um desenvolvimento inevi-
tável da fé. "É uma prova de não estar o homem justificado pela fé', escreve 
Ellen White, o fato de "não corresponderem suas obras a sua profissão:' 49 
Para Leon Morris, m dos grandes aie1/435,1oxos da salS, é que ela não 
depende de nada que façamos, mas ninguém é salvo sem urna resposta de 
fé que inclua "uma vida pie dosa.. ) 
A. „. essa altura, é importante destacar o fato de que o juízo não avalia 
as obras a partir da perspectiva das definições farisaicas de pecado e de 
justiça ou a partir da concepção legalista do perfeccionismo moderno.) 
O pecado e a justiça, conforme observamos anteriormente, são formas de 
relacionamento com Deus e com os princípios de sua lei e de seu caráter. 
O grande erro dos fariseus foi minimizar o pecado de tal forma que 
o definiam como uma ação ao invés de uma atitude e um relacionamen-
to corretos com Deus. Mais uma vez, entendemos que tanto os fariseus 
, uanto seus likertr_gs modernos tendem a ver a lei de Deus corno um 
conjunto e proibições negativas distintas, e não um principio positivo de 
amor que permeia todos os aspectos do ser e da vida de uma pessoa. 
Toda essa abordagem induz a uma concepção de juízo que equivoca-
damente especifica uma lista de pecados e boas ações. Referindo-se a esse 
equívoco, Ellen White escreveutMuitos hoje em dia presumem obedecer 
aos mandamentos de Deus, mas [..1 não possuem o amor de Deus para 
transmiti-lo a outros:''') 
Segundo descreveu Jesus, o juízo está definitivamente relacionado às obras. 
A sequência de Mateus 24 e 25 é de importância crucial. Mateus 24 constitui a 
exposição mais completa de Cristo sobre sua segunda vinda, enquanto o capii 
tulo 25 contém três parábolas inteiramente relacionadas com a sua volta. 
A primeira parábola é a das dez virgens (Mt 25:1-13). Nela, Cristo alerta 
todos os cristãos a estarem atentos e preparados para o segundo advento. 
A parábola seguinte, a clos talentos (v. 14-30), sugere que os cristãos devem 
trabalhar e usar seus talentos enquanto aguardam vigilantes a volta de Cristo. 
130 Pecado e Salvação " R (-1 6A re, 1 1V I tiCIV PU rT 
IV O CO \rzi 9 ° 2/C' - nq 0/V7 KM" Onl B9 To" fL) f,„ 1(5) / 
P1 coei lp■ 	eA 	coo o an - '-) Mt- 	7» 
A última parábola (v. 31-46), a cta separação das ovelhas e dos cabritos, 
indica o tipo de obras que Deus vai examinar no juízo final. O pior de tudo, 
pelo menos para os fariseus e para outros ouvintes com inclinações legalis-
tas esor,22520.19,minirnizadas dopecado, que Jesus não exalta a guarda 
do sábado nem a rigidez alimentarjAo contrário, o foco do juízo é se as 
pessoas 'têm .o amor acgapé internalizado no coração, se amam ativamente 
seu semelhante quando eles ficam famintos, doentes ou na prisão. Essa é a 
essência do juízo. 
Ellen White deixa a questão clara quando, ao comentar sobre a pará-
bola das ovelhas e dos cabritos, afirma que Jesus representou as decisões 
do juízo como "girando em torno de um ponto. Quando as nações se reu-
nirem diante dele, não haverá senão duas classes, e seu destino eterno será 
determinado pelo que houverem feito ou negligenciado em fazer por Ele 
na pessoa dos pobres e sofredores"» 
k,Esse processo judiciário não constitui salvação pelas obras. Ele avalia, 
na verdade, se a pessoa aceitou ou não o amor de DeusiA falta de sensibi-
lidade revela que não houve a recepção do amor divino no coração nem a 
transformação do caráter operada pelo amor mediante o poder do Espírito. 
A santificação começa com a renovação do coração da pessoa no 
momento da salvação inicial. Os aspectos progressivos da santificação se 
centralizam em unaa internalização do amável, abnegado e benevolente ca-
ráter de Cristo e numa erradicação gradual das velhas características que 
refletiam atributos COMO egoísmo, dureza de coração e tendência a criticar. 
frito ÇO- corri que praticamos nossas ações diárias é extremamente 
importante, porque "ações repetidas formam hábitos, hábitos formam 
caráter e pelo caráter é decidido nosso destino para este tempo e para 
a eternidade':" 
A SANTIFICAÇÃO E OS"MEIOS DA GRAÇA" 
Os "meios da graçd são'os caminhos pelos quais os seres humanos re-
cebem a graça de Deus. Trata-se, para alguns, de uma espécie de evento 
"mágico': no qual um bebê, ao ser batizado, ficapaixões prevalecem necessariamente sobrea razão .e 
a Virtude: Tampouco foi "a vontade para o bem [:::] debilitacE" 
Embora seja verdade que, conforme ,ensinavarn os rabinos, as pes-
soas possuíssemi uni -yeeser ha-rar (um impulso para o mal); elest ambém 
acreditavam que Deus já: criara Adão com esse impulso: A .inclinação 
para o mal podia, .porém, ser subjugada e colocada a serviço de Deus, 
desde que humanamente controlada pelo estudo elmeditação da Te raiz 
e pela aplicação dela à vida diária. "A mente le a vida] envolv ida deSse 
14 .1 Pecadó e Salvação 
modo na religião': escreve Moore, "exclui as tentações externas eias 
quinacões inierrtas24 
É .nesses termos que Ed Parish Sanders ICSIIMe a posiçao yabinica: 
"Existe a possibilidade de nã.o pecar Apesar da tendência para desobecieT. 
cer, o homem é livre para obedecerou desobedecer Sob este ponto de 
vista, as pessoas poderiam, tecnicamente ou ao menos teoricamente, viver 
por seu próprio etc°, sem pecar. 
Os judeus, porém, admitiam realisticamente que a obédiência.completa 
era coisa rasa, razão por que ensinavam também o arrependimento e per-
dão. No entanto, ate me.smo o arrependimento cra definido, por eles como 
uma espécie de salvação pelas obras, mediante o qual a pessoa abandonava 
ornai e passava a praticar o bem. Assim, pois ) os pecados de:uma pessoa Se 
tornavam 'brancos como a neve" (Is 1:14 por meio de Urna reforma moral. 
Embora os rabinos reconhecessem a realidade do perdão divino, o pon-
to alto de seus ensinos sbbre ti graça Com .° favor imerecido .de Deus era a 
centralidade da obediência à lei corno resposta humana à graça divina na 
relação pactuai celebrada entre Deus e scu.povo. Portanto:o homem:Justo" 
não &na prática, "aqüele qtie obedece à lei :de forma impecável, roas aquele 
que se esforça para pautar sua vida segundo a lei ' c:se arrepende quando 
erra/. George Eldon Ladd chama atencão para o fato de que '`as marcas de. um 
hornem justo" são a sinceridade e a observância prioritária da ki,:bern como 
Ito vigoroso esforço para alcançar essa met.'. : : 
O certo é que, embóni reconhecendo - a. realidade e a: necessidade de 
graça, perdão e .arrependimento, a doutrina judaica colocava seinpre: a 
obediência à. lei como•o centro da relação entre a humanidade e Deus: Isso 
acabou produzindo, na prática, -atitudes legalistas,. ainda que o judaísmo; 
sua melhor forma, reconhecesse e ensinasse que:a questão. de maior 
importância era . o espírito da lei, conforme exemplificado no amor a Deus 
(cf. Dt 6:5; 10:12) e Dá próximo (verliv.19:18). 
Durante : os.seculos em que o farisaísmo :se desenvolveu, •o papel da lei 
sofreu uma mticlariç a significativa no pensamento judaico. Ladd revela que 
a importância da lei chegou a ofuscar O conceito da aliança. divina da:graça ; 
tornando-se mesmo''a condição de ingresso no povo de.Deus? Ainda riais 
grave: á observância da lei se tornonaa base do veredito de : Deus sobre o indi-
víduo. A.ressurreição seria a recompensa daqueles que se dedicassem à lei': 
Fariseus Sâo Boas Pessoas I 15 
A lei se tornou a esperança dos fiéis, peça fundamental para a justificação, 
salvação, justiça e vida? 
Não admira que essa ênfase acabou produzindo uma espécie de con-
tabilidade legalista entre os judeus. Podemos pensar na atitude deles em 
termos de urna balança moral, ria qual pessoas piedosas:são aquelas cujos 
méritos superam as transgressões, enquanto aS pessoas ímpias são aquelas 
erijas transgressões pesam mais. A ivfishnah judaica expressa isso.multo 
bem quando afirma: "O mundo , é julgadci pela graça, rhas tudo é pesado 
pelas obras [boas ou másrg 
Posteriormente o Talrnude apresentou o. mesmo pensamento: 'Aque-
le que realiza predominantemente boas obras, herda o jardim . do tden mas 
aquele que realiza predominantemente transgressões, herda o gerhenna rinfer-
no]:' O verdadeiro problema que se instala no juizo tertique ver, evidentemen-
te, com os ifielos-termos',' aqueles cujos méritos e deméritos se eqUipararn 
Esse problema se tornoú um ponto de contenda entre as escolas farisaicas de 
Hillel e Sbarnrnai no periodo do Novo Testamento, De acordo com uma das 
tradições, a graça de Deus faz pender abalança en favor da justiça. 19 
(0 ponto importante a destacar é que o sisteára Meritocrática de justi-
ça adotado pelos fáriseits simplificava o pecado. Dessa forma; definia-se o 
pecado essencialinente como urna Série de ações, mesino que o jtidaismo, 
em seus momentos de lucidez, reconhecesse o pecado como um estado 
mental de rebeldia e urnatten,sa contra Deus.mi 
Para \Xialtherfichrodt; o que contribuiu, Sem dúvida; para a siinplifica-
ção do pecado em ações específicas foi o fato de que, sempre que se refere 
ao pecado, o Antigo Testarnentolaz recair sua principal ênfase na expres-
são concreta e presente do pecado': Não bastasse isso, o próprio concettó 
farisaico de lei relega:a segundo plano o significado mais' profundo de pe-
cado corno rebelião contra Deus: Se levarmos em conta a metáfora farisai-
ca dos pratos dê urna balança procurando equilíbrio; o pecado é definido 
como a transgressão de cada mandamento dalei:24 
Conforme jáidisserrios anteriornaente, a mánára colhi) os fariseus lida-
vam com a lei eo peCado fez com que eles elaborassem uma quantidade 
cada vez nraior de regras, na esperança de os salvaguardar da transgreSsão 
involuntaria da letra da lei. Visto que os judeus aplicavam sua tradição oral 
a todas as situações da vida, produziu-se como resultado um gigantesco 
16J Pecado e Salvação 
conjunto de leis tanto:escritas quanto orais que estavam obrigados a.ob-
servar. "Violar uma dessas regras era equivalente a rejeitar toda a lei.e.re-
cusar á jugo • . . • : 
: De posse dessa infbrmaçâo, não devemos ficar surpresos como fato de 
.o jovem: rico perguntar a Jesus sobre 'o que de bom' deveria ele fazer "para 
alcançar a -vida. eterna". (N.'it 19:16). Nem devemos ficar -perplexos ao. ver 
Jesus dando .ao jovem doo. uma . resposta conforme a própria perspectiva 
dele, acompanhada de urna lista detalhada dos mandamentos :(v. 18,.19). 
Jesus dialoga com ele .em seu próprio território, embora a Ultimasuges-
tão de Cristo.00rn respeito .à senda da justiça e como se .tornar "perfeito" 
desloque . a questão da simplificada letra da lei para a intenção espiritual do 
amor a Deus .e ao. próxirno.. Ao sugerir que ele abandonasse seu modo de' 
viver egoísta e. centrado • em', si mesrho, Jesus enfatizou a total: dedicação a 
Deus. O jovem aëllou esse Ultimo Conceito. pesado demais e rapidamente 
se afastou. do Mestre que adotava ideais tão elevados .(v. 20-22). É infinita-
mente mais fácil guardara letra da lei do que seu espírito: 
Uma das maiores tragédias do farisaísino é que, em sua sincera tentativa 
de viver à altura dá letrados mandamentos bíblicos. e das regras da tradição 
oral, a intenção do todo fói perdida(O problema dos fariseus consistia essenT 
cialmente emver anatureza do pecado como um Conjunto de atos,. em vez 
de.unna condição do. corsOoe..urna'atitude de rebelião contra Deus) 
(Infelizmente, um conceito. errado .de pecado os levou fatalmente a 
. urna compreensão errônea do que éjustiça. Se definirmos pecado: como 
um conjunto de. açõesio próximo passo, segundo essa lógica, é ver a justiça 
como um conjunto .de ações e comportamentos corretos.) . 
• Foi com essa mentalidade que os fariseus desenvolveram suà abordagem 
de justiça é juízo divino finalcomo pratos de uma balança.Foi também. com 
essa perspectiva que "o jovem ficá , quis saber que obras ele ainda. precisava 
realizar: A resposta de CriSto ,Ne queres ser perfeito") refleté fato de que os 
fáriseus de seu tempo buscavam apressar o reino de Deus.mediante a busca 
de lima vida perfeita Embora a intenção deles fosse.lotivável, sua visãoequi-
voc.ada. de pecado os levava a um conceito equivocado dejustiça.) . 
•kLamentavelmente, a" despeito dos "ensinos do Novo Testamento, 9 es-
forço para apressar o reino de Deus mediante uma visão simplificada de 
pecadoimediatamente livre da 
culpa coma qual supostamente nasceu. Pode ser também uma declaração 
proferida em uma missa que confere bênçãos especiais, independente-
mente da atitude e vida daquele que a recebe. 
(Mais Sobre Santificação ji 131 
o1Err-01)05 c0(n0 st)Lvfr)ÇA 0 ?C7A.5 ORAS. 
tO. ato.de participar da Comunhão, ser batizado, ler a Bíblia, orar ou ouvir 
a Palavra de Deus sendo pregada não possui. mérito ou magiainerente»o 
entanto, quando combinada com a fé, cada uma dessas atividades se torna 
um meio pelo qual Deus estende a mão e comunica sua graça a seu povo. 
O crescimento espiritual não é mais automático do que o crescimento 
físico. Assim como no plano físico é preciso comer, beber e se exercitar 
para conservar a saúde e o crescimento, da mesma forma, também deter-
minadas atividades no plano espiritual promovem a vitalidade. 
'A graça", ressalta Ellen White, "só pode florescer no coração que está 
sendo preparado continuamente. [...] Os espinhos do pecado crescem em 
qualquer solo; não precisam de cultivo especia4mas a graça necessita ser 
cultivada cuidadosamente:') 
O canal principal da graça de Deus é a Bíblia, pois é dela que obte-
mos nosso conhecimento de Cristo. Por isso Pedro exorta os destinãários. 
de suas cartas a crescer na 'graça e no conhecimento de nosso Senhor e 
Salvador Jesus Cristo" (2Pe 3:18). Antes ele havia escrito: "[desejai] o ge-
nuíno leite espiritual, para que, por de, vos seja dado crescimento para 
salvação" (1Pe 2:2; cf. Cl 1:10; Jo 17:17). Quando recebida pela fé, a mensa-
gem da Bíblia "regulará os desejos, purificará os pensamentos e abrandará a 
índole. Vivifica as faculdades do espírito e as energias da alma. Aumenta 
a capacidade de sentir, cie amar': 55 , 
(E impossível crescer em Cristo, sem absorver a palavra de Deus por 
meio do estudo pessoal, do ouvir a pregação da Palavra e meditar nela.) 
Deus escolheu a Bíblia, no que diz respeito à orientação iluminadora do 
Espírito Santo, para ser o principal meio da graça João escreveu seu evangelho 
a fim de que seus leitores cressem "que Jesus té o Cristo, o Filho de Deus, e para 
que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo 20:31; cf. 2Tm 3:15). Os que têm a 
Palavra possuem "as chaves do reino dos céus" (Mt 16:19; cf Lc 11:52; Jo 17:3). 
LA leitura da Bíblia, a pregação e a evangelização são, portanto, canais da graça.) 
Outro importante meio de graça é a oração, definida por alguns como 
a respiração da alma. 'A oração': Ellen White escreveu, "é a chave nas mãos 
da fé para abrir o celeiro do Céu.""(Nlinguém pode ser forte em Cristo sem 
uma vida devocional regulaVal vida devocional é um momento especial 
quando não somente separamos tempo para meditar sobre Deus e seu 
amor, mas quando nos reconsagramos diariamente a Ele. 
132 l Pecado e Salvação 
• Outras vias de acesso à graça inclhem participar de forma significativa 
na Ceia do Senhor como em outros eventos simbólicos da igreja, ter comu-
nhão com outros cristãos na adoração e se envolver em evangelismo e certas 
formas de recreação. Deus comunica sua verdade, conhecimento e amor de 
muitas maneiras e deseja que seus filhos recebam todo o benefício possível. 
Nunca devemos esquecer, porém, que(é possível orar muito, estudar a 
Bíblia diligentemente, ser "fanático por igreja" e• ainda assim estar perdido) 
Esse foi o caso dos fariseus do passado. Eles estudavam rigorosamente tanto 
a Bíblia como o "testemunho direto" de sua tradição oral, sem nunca chegar 
a conhecer a Deus ou o seu amor suavizante. Essas práticas deixaram de ser 
um meio de graça para eles, porque não foram recebidas no contexto de um 
humilde e receptivo relacionamento de fé. Essa possibilidade ainda existe. 
•(Convém lembrar ainda que os meios da graça divina não funcionam 
quando seu foco é direcionado apenas para dentroFer a Bíblia ou orar se 
tornam atividades disfuncionais quando nossa motivação se resume a sen-
tir segurança (senão orgulho e presunção) por estar realizando diariamente 
nossa "hora tranquila" por meditar sobre a vida de Cristo ou estabelecer um 
"registro" aprimorado das realizações "espirituais" do ano anterior.) 
Para serem eficazes, os meios da graça de Deus precisam não só suavi-
zar nosso coração e transformar nossa vida, mas também conduzir a uma 
vida devotada ao serviço do semelhante. Cristãos estagnados são urna im-
possibilidade, uma contradição de termos. 
(LOs meios da graça só funcionam como meios da graça dentro de um 
relacionamento de fé vivificado e fortalecido pelo Espírito de Deus) Fora 
dessa dinâmica e relacionamento, eles não passam de retórica eloquente 
e boa conduta. Dentro, porém, dessa relação dinâmica, essas atividades 
se tornam os ingredientes necessários para o crescimento espiritual em 
santificação progressiva. 
OS 70610 5 ..pj) 6-- rA 9 ,e3) en e tzP I An G uin )2,L.,9 - 
can jcsu.ç) 
' Gerhard O. Forde, 'lhe Lutheran View'; em Donald L. Alexander, ed., Christian Spirituality: 
Five Views of Sanctification (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1988), p. 15, 16. 
Leon Morris, 7he Atonernent (Downers Grove, IL InterVarsity, 1983), p 126. 
John Wesley, lhe Works ofJohn Wesley, 3' ed. (Peabody, MA.: Hendrickson, 1984), v.10, p. 367. 
Mais Sobre Santificação 1 133 
4 James S. Stewart, A Man in Christ: lhe Vital Elements of St. Paurs Religion (Nova York, NY: 
Harper & Row,•1975), p. 192, 196. 
Lutero, citado em Paul Althaus, The Theology of Martin Luther, trad. R. C. Schultz 
(Philadelphia, PA: Fortress, 1966), p. 140. 
6 C. S. Lewis, citado em Arnold Valentin Wallenkampf, What Every Christian Should Know 
About Being Justified (Washington, DC: Review and Herald, 1988), p. 81. 
7 Bonhoeffer, p. 14; John R. W. Stott,• Basic Christianity, 2a ed. (Downers Grove, IL: 
InterVarsity, 1971), p. 113. 
Ellen G. White, Fé e Obras (Tatu!, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Romp, p. 31; 
James Stalker, lhe Example of Jesus Christ (New Canaan, CT: Keats, 1980), p. 11. 
9 Ver, por exemplo, John C. Ryle, Holiness: Its Nature, Hindrances, Dfficulties, and Roots 
(Welwyn, Inglaterra: Evangelical Press, 1979), p. 30; Bryan•W Bali, lhe English Connection: 
lhe Puritan Roots of Seventh-day Adventist Belief (Cambridge, Inglaterra: Jarnes Clarke, 
1981), p. 63; Ellen G. White, Mensagens aos Jovens (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 
2001 [CD-Roml), p. 35; Peter. T. Forsyth, lhe Work of Christ (Londres, Inglaterra: Hodder 
and Stoughton, s.d.), p. 221; Wesley, Works, v. 2, p. 509; Anthony, A. Hoekema, "Reformed 
Perspective: em Melvin E. Dieter, Anthony A. Hoekerna, Stanley M. Horton e J. Robertson 
McQuilkin, eds., Five Views on Sanctification (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1987), p. 61. 
'c' John W. Stott, A Cruz de Cristo (São Paulo, SP: Editora Vida, 2004), p. 216, 240; Ver George 
R. Knight, lhe Cross ofChrist: God's Work for Us (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2008), 
p. 96-100; James M.•Gustafson, Christ and the Moral Life (Chicago, IL: University of Chicago 
Press, 1979), p. 21. 
" Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), p. 43. 
17 John Murray, •edernption Accomplished and Applied (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 
1955), p. 145 (grifo nosso). 
" Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom1), v. 1, p. 360; Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatu!, SP: Casa Publicadora 
Brasileira, 2001 [CD-Rorn]), p. 469, 470. 
14 Robert N. Flew, The Idea ofPerJection (Oxford, Inglaterra: Clarendon Press, 1968), p. 395, 
396; Cf. Morris Venden, 95 Teses Sobre Justificação Pela Fé (Tata SP: Casa Publicadora Brasi-
leira, 1990), p. 92. ' 
Maxie D. Dunnam, Exodus, The Communicator's Commentary (Dallas, TX: Word, 1987), 
p.•173; Cf. Thornas A. Davis, How to Be a Victorious Christian (Washington, DC: Review and 
Herald, 1975), p. 127. 
16 John Wesley, A Plain Account of Christian Perfection (Kansas City, MO: Beacon Hill Press 
ofKansas City, 1966), p. 90. 
17 Edward Heppenstall, Salvation Unlimited: Perspectiveson Righteousness by Faith (Washington, 
DC:Review and Herald, 1974), p. 248. 
" Venden, p. 25; William L. Coleman, lhe Pharisees' Guide to Total Holiness (Minneapolis, 
MI: Bethany House, 1977), p. 16. 
" H. D. McDonald, lhe Atonement of the Death of Christ (Grand Rapids, MI: Baker, 1985), 
p. 16; W L. Walker, What About the New Theology?, 2' ed. (Edinburgh, Inglaterra: T. & T. Clark, 
1907), p. 155-164. 
20 Vincent Taylor, Forgivenes.§ and Reconciliation, 2a ed. (Londres, Inglaterra: Macmillan, 
1946), p. 170-179; Dieter, "lhe Wesleyan Perspective': em Dieter, p. 27; Wilber T. Dayton, 
134 j Pecadó e SalvaçãO • 
"Entire Sanctificatiod, em Charles W Carter, ed., A Contemporary Wesleyan 7heology 
(Grand Rapids, MI: Zondervan, 1983), v. 1, p.5211-523; Ellen G. White, Atos dos Apóstolos 
(Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rom[), p. 565; a Ellen G. White, Parábolas 
de Jesus (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rom]), p. 360; Ellen G. White, 
Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 337; Ellen G. White, Signs of the Times, 19 de maio de 1890, 
p.289,29O. ' 
Mildred Bangs Wynkoop, A Theology of Love (Kansas City, MO: Beacon Hill Press of 
Kansas City, 1972), p, 33; Ellen G. White, O Grande Conflito, 2001 [CD-Rom]), p. 467,469; 
Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tátil, SP:' Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), p. 28. 
22 Stott,Basic Christianity, p. 113. . 
23 Edward Heppenstall, "Let Us Go on to Perfection", ern Herbert E. Douglass, Edward 
ss) I-Ieppenstall, Hans LaRondelle, et al., Perfection: lhe Impossible Possibility (Nashville, TN: 
Southern Pub. Assn., 1975), p. 87. 
Leon Morris, Testaments of Love: A Study of Love in,the Bibk (Grand Rapids, MI: 
Eerdmans, 1981), p;235-239: 
Carl E H. Henry, Christian Personal Ethics (Grand Rapids, MI: Eerdrnans, 1957), R 437. 
" Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 69. 
Gerrit. C. Berkouwer, Faith and Sanctification (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1952), 
p. 112. 	' 
". Ellen G White, Parábolas de Jesus, R 160. 
" Gerhard O. Forde, Justification by Faith — A Matter of Death and Life (Philadelphia: 
Fortress, 1982), p. 39. 
30 Berkouwer, p. 130-139; Peter Toon, fustification and Sanctification (Londres, Inglaterra: 
Marshall Morgan and Scott, 1983), p. 34; J. H. Ropes, lhe Epistle of St. James, The International 
Critical Commentary (Edinburgh, Inglaterra: T & T Clark, 1916), p. 220. 
" Martinho bater°, Commentary on Romans, trad. J. T. Mueller (Grand Rapids, MI: Kregel, 
1976), p. xvii. 
" João Calvino, A Instituição da Religião Cristã (São Paulo, SP: UNESP, 2009), 3.16.1. 
" William Barclay, The Letter to the RoMans, 2a ed., Daily Study Bible (Edinburgh; Inglaterra: 
The Saint Andrew Press, 1957), p. 38. ' 
" Thomas C Oden, After Modernity... What? (Grand Rapids, ME Zondervan, 1990), p138 
Forde, Justification by Faith; p. 42, 19, 21, 39-59. 	 ' 
36 Hugh Montefiore, The Epistle to the Hebrews, Harper's New Testament Commentaries 
(San Francisco, CA: Harper & Row, 1964), p. 105. 
" Lutero, xvii. 
" Arnold Valentin Wallenkampf, What Every Christian Should Know About Being Justified 
(Washington, DC: Review arid Herald, 1988), p. 107; 1 C€ Vincent Taylor, Forgiveness and 
Reconciliation, 22 ed. (Londres, Inglaterra: Macmillan, 1946), p. 145. 
39 Forde, Justification by Faith, p. 55. • 
ti° Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p.366. 	 ( 
41 Para debates proveitosos sobre a relação entre o indicativo e à:imperativo em Paulo, 
ver Herman Ridderbos, Paul: An Outline of Kis Theology, tra.d. J. R. De Witt (Grand Rapids, 
MI: Eerdmans, 1975), p. 253-258; Ronald Y. K. Fung, The Epistle to the Galatians, The New 
Internatiónal Cornmentary on the New Testáment (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1988), 
p. 278-283. , 
Mais Sobre Santificação 1 135 
" John Wesley, lhe Works of John Wesley, 3' ed. (Peabody, MA.: Hendrickson, 1984), v. 14, p. 321. 
43 Ver, por exemplo, Andrew Murray, Absolute Surrencler (Nova York, NY: Fleming H. 
Revell, 1897); Robert Pearsall Smith, Holiness Through Faith (Nova York, NY: Anson D. 
F. Randolph & Co., 1870); Morris L. Venden, Salvation by Faith and Your Will (Nashville, 
TN: Southern Pub. Assn., 1978). , 
44 Murray, Redemption Accomplished and Applied, p. 148, 149; Hoekema, "Response to 
Horton", em Dieter, p. 139. 
" Robert H Mounce, lhe I3ook of Revelation, lhe NeW International Commentary on the New 
Testament (Grand Rapids, MI: Eerdrnans, 1977), p. 340; George Eldon Ladd, A Commentary on 
the Revelation ofJohn (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1972), p. 249. 
46 Ryle, p. 67; Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 336, 364; Cf. Ellen G. White, 
Parábolas de Jesus, p. 56. 	 , 
Bonhoeffer, p. 28; Ryle, p. 26. 	 , 
" William G. Johnsson, Religion iii Overalls (Nashville, TN: Southern Pub. Assn, 1977), 
p. 63. Para um debate proveitoso sobre juízo pelas obras, ver Berkouwer, p. 103-112. 
" Donald Bloesch, Essentials ofEvangelical Iheology (Nova York, NY: Harper 8( Rovv, 1978), 
v. 1, p. 184; Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 397. 
" Leon Morris, lhe Cross M the New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdrnans, 1965), p. 390, 
391; Cf Edward Heppenstall, Our High Priest (Washington, DC: Review and Herald, 1972), 
" Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 279. 
52 ElIgn G. White, 0 Desejado de Todas as Nações, p. 637; Cf. Ellen G. White, A Ciência do 
Bom Viver (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rom]), p. 104, 105. 
53 • Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 356. 	- 
54- 	Ibid., p. 50. 	 , 
56 Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 95. 
CAPÍTULO 6 
Santificação, Perfeição 
• e o Exemplo de Jesus 
rtkatletas fariseus" ainda estão vivos e ativos no século 91 Wide 
I "mente, eles já não se preocupam com o tamanho da pedra que podem 
%/ carregar no dia de sábado, como faziam os fariseus antigos. Eles não se-
guem mais o exemplo de Sirneão Stilita, que evitava a tentação enterrando-se 
na areia até o pescoço durante meses e depois sentando-se no topo de uma 
coluna por décadas, mas posso lhes assegurar citi o ru osaal, existe) 
Tenho ouvido, ao longo dos anos, relatos de muitos fariseus daespjçie, mo-
derna)Sei de um que é tão fiel na reforma de saúde (uma área ideal para realiza- ,— J 
ções, visto ser possível identificar facilmente seus pecados e seus atos de justiça 
como "bocados" mastigáveis) que, mesmo medindo quase 1,83 metro de altura, 
pesa menos de 63 quilos. Em seu caminho rumo à perfeição, ele sempre encon-
tra mais e mais coisas para não comer. Até mesmo o asceta Simeão ficaria im-
pressionado com a proeza desse irmão. Eu me identifico pessoalmente com ele, 
já que, no primeiro ano após a minha conversão, despenquei de 75 quilos para 
54 em minha luta para ser o primeiro cristão perfeito desde o tempo de Cristo. 
aspecto mais paradoxal a respeito da reforma de saúde rígida é que, 
muitas vezes, quanto mais você a pratica, menos saudável você se torna) 
Muitos dos "atletas espirituais" que tenho conhecido pelo pais parecem ter 
a pele amarelada e o corpo fraco. 
Cheguei a ouvir a história de alguém que, por ter sido tão rigoroso no 
regime, fez com que os processos curativos de seu corpo ficassem bastante 
prejudicados. Uma lesão que teria levado semanas para se recuperar aca-
bou levando meses. 
Embora a fidelidade em alcançar um ideal mereça elogios, resta saber o 
que teria isso a ver com reforma de saúde ou cristianismo. Fui tomado pela 
"estranha" impressão de que a reforma de saúde devia tornar as pessoas 
mais fortes, para poderem servir melhor a Cristo. 
Santificação, Perfeição e o Exemplo de Jesus 1 137 
Outros pontos estão relacionados .com o comer• entre as• refeições. 
Alguns círculos, ao que parece, consideram esse vício um dos pecados 
"hediondos': Conta-se, a esse respeito, a história de um pastor leigo que mi-
nistrava fielmente .a comunhão a presidiários, mas se recusava a participar 
dos emblemas junto com eles, pois isso seria comer entre as refeições. Essa 
pequena mostra de "fidelidade" me chamou a atenção em particular,visto 
que a definição do Dicionário Webster para "comunhão" pressupõe uma 
partilha ou participação comum em um acontecimento. 
Se alguém perguntasse a essas pessoas por que adotam tal comporta-
mento, elas provavelmente diriam que estão• buscando desenvolver um 
caráter cristão. Alguns até alegam que, quando conseguirem "reproduzir 
perfeitamente" o "caráter de Cristo',' Jesus então virá outra vez.' Seja como 
for, essa era a justificativa que eu costumava dar às pessoas alguns anos 
atrás, quando estava mais empenhado em seguir essa superexigente estrada 
da "semelhança só,m, Cristo': 
Sobreveio-me recentemente a preocupação de saber em que sentido 
o Jesus bíblico, que vivia "comendo e bebendo': recebendo "publicanos e 
pecadores" (Lc 7:34; 15:1, 2) e oferecendo ajuda para "buscar e• salvar o 
perdido" (Lc 19:10), poderia ser o modelo para as atitudes e atividades 
"espirituais" listadas acima. Também fiquei sem saber como alinhar essas 
concepções de cristianismo com o apóstolo Paulo, que abertamente deda-
rout~,o reino de Deus não é comida nem bebida, mas ill_stiça, e paz, 
e ale,n no Ea" (Rm 14:17)) 
A própria palavra alegria usada no texto é digna de nota; visto que con-
sigo muitas vezes identificar, dentre os presentes em um encontro, apenas 
pela expressão sombria no rosto quem está se esforçando para atingir a 
perfeição. A mensagem que essas pessoas me comunicam é que ser perfei-
to é algo terrivelmente sério. 
Assim como o filho mais velho (que representa os fariseus) na parábola 
do filho pródigo, eles não conseguem suportar muito a alegria e passam a 
ser tão críticos como ele foi (Lc 15:25-32). Para muitas dessas pessoas, a pala-
vra celebração é o verbete mais diabólico no dicionário,' apesar das palavras 
mencionadas acima por Paulo em Romanos 14:17 e a repetida ênfase de 
Jesus na alegria e na celebração (ver, por exemplo, Lc 15:5-7, 9, 10, 20, 22- 
25, 27, 30, 32). 
138 l Pecado .e Salvação 
Se fôssemos remover desse capítulo de Lucas todos os textos que expres-
sam alegria e celebração, ele perderia sua essência. É possível afirmar o mesmo 
sobre a experiência de muitos irmãos. Eles pensam que, por estarern vivendo 
no dia antítipo da expiação, não possuem o direito de se alegrar No entanto, se 
estão "em Cristo,' é de se esperar que se alegrem na certeza da salvação. Agora, 
caso questionem sua vida em Cristo, sua tristeza é compreensível. 
ALÉM DA INTERPRETAÇÃO NEGATIVA DAS BOAS-NOVAS 
Urna das tragédias da história cristã é apontar características grotescas 
da vida cristã de ser parecidas com Jesus e de ser o caminho para vencer o 
pecado. Além das contorções espirituais dos monges da antiguidade, des-
cobrimos também as da Idade Média 
Até mesmo no século 20, encontramos esses "atletas espirituais',' como 
o jesuíta »~e que infligia a si mesmo grandes desconfortos pes-
soais, incluindo o uso de cilício, a exposição a urtigas e água congelada no 
meio da noite e o dormir sobre as pedras geladas da capela.tem esquecer 
que ele tinha de lutar contra o apetite saudável, área de interesse constante 
por parte dos perfeccionistas através da história) 
O caderno de apontamentos de Doyle registra em detalhes suas muitas 
tentações com açúcar, bolo, mel, geleia e outras iguarias: "Violenta tenta-
ção- para, comer bolo, resistida diversas vezes. Vencido o desejo de comer 
geleia, mel e açúcar. Ardente tentação para comer bolo, e etc." "Deus tem 
insistido durante este retiro que eu desista da manteiga completamente"' 
"O rnonasticismo',' comenta Robert N. , Flew, "constitui a mais ousada e 
organizada tentativa de alcançar a perfeição cristã em toda a longa história 
da igreja': kit. motivação por trás desses esforços heroicos era a imitação de 
Cristo. Era de extrema importância manter os olhos em Cristo, ainda que 
isso destruísse os sentimentos humanos) 
Cassiano (c. 360-430), por exemplo, relata a história de um monge que, 
após viver em reclusão por 45 anos, recebeu um pacote de cartas dos pais 
e amigos, masr as lançou no fogo sem sequer abri-las, somente porque as 
cartas poderiam lhe desviar a atenção das coisas celestiais. 4 
O espírito geral que anima 'esses ideais não ficou restrito aos antigos 
nem aos católicos romanos. Os evangélicos refletem com frequência a 
mesma mentalidade, ainda que consigam explica-la em termos diferentes. 
Santificação, Perfeição e o Exemplo de Jesus 1 139 
Stan Mooneyharn, ex-presidente. da World Vision ['Visão Mundial"], 
relata a própria experiência de crescer em uma igreja fundamentalista, 
observando que, em quase todos os lugares aonde vai, encontra sempre 
pessoas nas quais se incutiu ainda no inicio da vida cristã "um evangelho 
legalista e preconceituoso': Mooneyham corretamente chama essa abor-
dagem religiosa de "a interpretação pessimista das boas novas': Essa men-
talidade "pessimista" aparenta estar obcecada com o "medo constante de 
que alguém, em algun-i lugar, esteja se divertindo"' 
Infelizmente, muitas pessoas pensam que essa mentalidade vem de 
Deus. Leis.relàta a história do estudante a quem perguntaram sobre 
como imaginava Deus. "O rapaz respondeu que, pdo que podia enten-
der, Deus é o tip_ocle_pe_ssoaX1~±_pra_gs' ue está sempre de olho 
para ver se alguém está se divertindo para então fazê-lo parar." 6 
Eu posso falar com autoridade sobre o assunto, pois, algumas semanas 
depois de ser batizado, conheci alguns adventistas zelosos que me ajuda-
ram a chegar à mesma conclusão. Levou vários anos e muitas tentativas 
desesperadas de escapar à opressão do Meu "cristianismo" até que perce-
besse que meu espirito critico negativista não tinha nada com o Jesus da 
Bíblia Em meu modo de ver, minha concepção se parecia muito com a de 
Cristo. (Desde aquela época, cheguei à conclusão de que viver com esse 
tipo de Jesus pelos séculos da eternidade não seria muito melhor do que 
estar no lugar de fogo descrito na Bíblia) 
Quando Pedro e outros escritores do Novo Testamento disseram que 
Jesus é "o , nosso exemplo': eles usaram a palavra grega hivoa~ 
que significa literalmente "escrever abaixo': O termo faz referência à sala de 
aula primária, na qual o professor escreve as letras em uma linha pede às 
crianças que as copiem na linha abaixo. Assim sendo, o Novo Testamento, 
conforme sugere SindatFffirgusQn, "está pedindo aos cristãos que escre-
vam a própria biografia, mantendo um olho na vida que Jesus escreveu. 
Imitar o Salvador encarnado é a essência da santificação continua: 7 
Embora seja verdade que Deus deseja que sigamos o exemplo cle Cristo, 
também é verdade que Ele deseja de busquemos descobrir na Bibliaai 
sue consiste esse padrão. Ao seguir a Cristo, o Pai espera que abando-
nemos o negativismo e o espirito crítico dos fariseus, a fim de podermos 
interpretar positivamente as boas-novas. 
140 I Pecado e Sa 
IMITANDO JESUS: O IMPERATIVO DO NOVO TESTAMENTO 
O Novo Testamento .é coerente em insistir que o cristão deve refletir a 
Cristo por meio de urna vida santa. Pedro escreveu que Jesus deixou um 
"exemplo" para que outros seguissem 'Os seus passos" (1Pe 2:21). Em ou-
tro lugar, prossegue o apóstolo: "segundo é santo• aquele que vos chamou, 
tomai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento 
porque escrito está: 'Sede santos, porque Eu sou santo" (1Pe 1:15, 16). 
Jesus incentivou a atitude de imitação quando se referiu a si mesmo 
como "o caminho" (Jo 14:6). Na verdade, o primeiro nome para a religião 
cristã era "o caminho" (ver At 9:2; 19:9, 23; 22:4; 24:14, 22). Depois de lavar 
os pés dos discípulos, Jesus afirmou: "Eu vos dei o exemplo, para que, corno 
Eu vos fiz, façais vós também" (Jo 13:15). 
Refletir o exemplo de Jesus se tornou uma parte importante do "caminho': 
Cristãos eram aqueles que andavam "assim como Ele andou" (1Jo 2:6). Paulo 
chegou a exortar os coríntios para que tivessem "a mente de Cristo" (1Co 2:16) 
e a elogiar os tessalonicenses por serem "imitadores [...] do Senhor" (lTs 1:6). 
t 
Gerrit C. Berkouwer associat imitação de Cristocom a santificação , 
progressivajImitar a Cristo': escrevei ele, "não é só urna forma de iden-
tificação, dentre várias, masSde sua essência." 8 Se assim for, 
convém explorar o tema neste momento. Antes, porem, será preciso situar 
a imitação no contexto mais amplo do plano da salvação. 
Jamais devemos isolar a imitação da graça justificadora de Deus. Pelágio 
(morto c. 419 d.C.) ensinava quEUesus era mais um exemplo de perfeição huma-
na do que um salvador do pecad00 monge irlandês tinha o objetivo de esta-
belecer uma igreja perfeita que servisse de exemplo para o mundo pecaminoso. 
k,A possibilidade de, desenvolver essa igreja perfeita baseava-se no ensino de que 
o pecado original de Adão não havia curvado a vontade humana para o mal) 
Aceitando-se, portanto, a hipótese de que as pessoas nascem sem pro-
pensão para .o pecado, elas seriam capazes de viver uma vida sem pecado 
seguindo o exemplo de CristokA tarefa do cristão, afirmava Pelágio, con-
sistia apenas em escolher entre o mau exemplo de Adão e o bom exemplo 
de Jesusy graça, nessa perspectiva, constitUía o incentivo e a motivação 
divina para a pessoa agir corretamente.' ‘As 4deias centrais do pelagianis-
mo não só favoreceram a vida monástica, mas ainda estão vivas, conforme 
ressaltei anteriormente, em setores da comunidade cristã e adventista) 
1") 
r , 
Santificação, Perfeição e o Exemplo de Jesus I 141 
Aqueles que seguem o raciocínio de Pelágio não só subestimam a gra-
vidade do pecado e seus efeitos, mas também superestimam a capacidade 
humana, destituída de ajuda. O cristianismo, adverte James Orr, é "funda-
mentalmente uma religião de redenção': ,Seguir o exemplo de Cristo não é 
~vir o exemplo de DucLa Ser cristão não é alcançar a vitória median-
te prolongado esforço em busca de justiçatO cristianismo é uma religião de 
salvação, na qual a morte de Cristo liberta as pessoas da culpa e do castigo 
do pecado pela justificação, e pela santificação, do poder do pecado. 11 
(Cristo é um exemplo para o cristão, mas Ele é muito mais do que isso. 
antes e acirna de tudo, o Salvado) Porque foram salvos, os cristãos po-
dem seguir seu exemplo, mediante o dom do Espírito Santa Como disse 
Lutero: "Não é a imitação que faz filhos; mas a filiação que faz imitadores:" 
A Bíblia não deixa dúvida de quets cristãos devem ser vencedores corno Cris-
to o foi (Ap 3:24 de que devem alcançar a "medida da estatura da plenitude de 
Cristo" (Ef 4:13) e de que "esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé" (1Jo 5:4). 
Ellen White tinha a mesma opinião. "Deus': escreveu ela, "nos convida a al-
cançarmos a norma da perfeição, e põe diante de nós o exemplo do caráter de 
Cristo. 0 Salvador mostrou, por meio de sua humanidade consumada por uma 
vida de constante resistência ao mal,. RJ:capem ãoc_S___lacle„.,po-
dem os seres humanos alcancar nesta vida a perfeição de caráter. Esta é a certe- 
"12 1/4c 
--Esse trecho do Eito dePro-feaa, frequentemente mencionado, qua-
se sempre é citado sem mencionar a primeira frase do parágrafo, de que 1/4. 
cada cristão deve desenvolver "a perfeição do caráter cristão" "em sua esfe-
rd Isso sugere que a "esfera' de Cristo pode ser diferente da nossa (voltare-
mos a esse conceito no capítulo 8). 
Em outro lugar, Ellen White escreveu que Cristo veio com a nossa 
hereditariedade "para partilhar de nossas dores e tentações, e dar-nos o 
exemplo de uma vida impecávea 
Antes de passar ao exame da natureza da imitação de Cristo, é importan-
te notar quelembora existam semelhanças entre os seres humanos e Cristo, é 
possível encontrar diferenças também/ Por exemplo, a Bíblia não se refere a ne-
nhuma outra criança corno "Santo, Filho de Deus'' (Lc 135, NVI). Cristo não era 
apenas outra pessoa. Ele nasceu santo, "nascido de novo" desde o seu nascimento. 
Por conta disso, jamais teve inclinação para o mal, como outras crianças. 
nos 	 nós 
142 j Pecado e Salvação 
• Seguindo esse raciocínio, Ellen White escreveu que "não é correto dizer, 
como muitos escritores já o fizeram, que,tristo era como as crianças)J 
Sua inclinação para a justiça era uma constante satisfação para seus pais. [...] Ele 
era o exemplo que todas as crianças deviam se esforçar por imitar [..] Ninguém, 
ao olhar o rosto infantil, brilhando de animação, poderia dizer que Cristo era 
como as outraacrianças': "Nunca; disse ela em outro contexto, "de alguma for-
ma, deixe sobre a mente humana a mais leve impressão de que repousou sobre 
Cristo qualquer mácula de corrupção ou inclinação para corrupção: Ainda em 
outra ocasião, ela escreveu que Cristo "se apresentou ao mundo, desde a sua 
primeira entrada nele, imaculado pela corrupção: Não se pode afirmar isso 
de nenhum outro,ser humano.i 4 
A respeito dos outros seres húmanos (inclusive crianças), ela comen-
tou que eles possuem um "pendor para o mar's Paulo enfatiza que "todos 
pecaram e carecem da glória de Deus" (Rrn 3:23). 
As crianças só podem ter seu "pendor" corrigido, se vierem a Cristo, 
"nascerem de novo" (Jo 3:3, 7) e aceitarem o poder do Espírito Santo em 
sua vida. Como resultado, elas se tornam participantes da natureza divina, 
experimentada por Cristo desde o nascimento, 
,.Ainda assim, elas não se tornam idênticas à humanidade de Cristo, pois 
trazem para sua nova vida hábitos pecaminosos do passado e tendências 
arraigadasj Assim, todas as crianças, ao contrário de Cristo, precisam ser 
justificadas (consideradas justas), regeneradas (receberem o nascimento 
do alto para dar nova direção a suas inclinações) e progressivamente san-
tificadas (reencaminhadas em seus hábitos arraigados). 
Cristo, é claro', não teve de passar por nenhum desses passos. Ele não pre-
cisava ser justificado, porque nunca pecou. Também não precisava ser regene-
rado, porque nasceu com uma "inclinação para a justiça: Ele não precisava ser 
santificado, porque nunca teve hábitos maus a serem modificados 
Por outro lado, Jesus era, sob muitos aspectos, como o restante da hu-
manidade Ellen White afirmou, 'por exemplo, que Cristo "tomou sobre si 
nossa natureza pecaminosa: Visto ter a autora, conforme observamos aci-
ma, afirmado repetidas vezes que Jesus não possuía uma natureza moral-
mente•decaída, suas declarações a respeito de sua "natigeza_pesaminosa' 
devem forçosa,nrientsestar se referindo.afixus aspectos físicos. Daí ela ter 
escrito: "Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida 
Santificação, Perfeição e o Exemplo de Jesus I 143 
por quatro mil anos de pecado. Como qualquer filho de Adão, aceitou os 
resultados da operação da grande lei da hereditariedade:" 
Outra maneira pela qual Cristo, em sua humanidade, era como nós se 
revela em sua decisãokde não usar seu poder divino em beneficio próprio 
durante a encarnação)Depois de ter se "esvaziado" (Fp 2:7), o Deus Filho 
viveu em total dependência do Deus Pai enquanto esteve na Terra, como 
devem viver todas as outras pessoas tementes a Deus (Jo 5:19, 30; 8:28; 
14:10)(Ele não veio à Terra para viver corno Deus, mas para viver em obe-
diência a Deus como um ser humanokara vencer no ponto em que Adão 
e Eva haviam cádo (Rm 5:15-19; Fp 28). 
Para Ellen White, "o poder da divindade do Salvador estava oculto. Ele 
venceu na natureza humana, confiando em Deus, que lhe shpriapt „ader. 
Apesar de passar por "toda provação a que estamos sujeitos'; Cristo "não 
exerceu em seu próprio proveito poder algum que não nos seja abundan-
temente facultado': A exemplo de Cristo, podemos receber o poder dinâ-
mico do Espirito Santo para vencer o pecado? it!, 
Sâlvador era, portanto, semelhante a nós em alguns aspectos e di-
ferente em outros)Quando Paulo afirma que Deus enviou seu Filho "em 
semelhança de carne pecaminosa" CRR8cfjp 27) 4 ele quis dizer seme-
lhante e não idêntico. Os evangelhos empregam a mesma palavra grega 
para sugerir que o reino de Deus é "semelhante" a um grão de mostarda ou 
a um tesouro escondido em um campo (Lc 13:19;;Mt 13:44): A ideiaé de 
similaridade e não de igualdade absoluta. 18,-Com esse conceito em mente, fica mais fácil perceber por que Ellen 
White sugeriu quekcj§sa vitória humana sobre o_prado não seria exata-
mente ,como a cl,e,Cristoitristd: afirmou ela, "é o nosso modelo, o perfeito 
e santo exemplo que nos foi dado para que seguíssemos. Jamais poderemos 
igualar o modelo; podemos, porém imitá -lo e nos assemelhar a ele de acordo 
com nossa capacidade.99 Sendo assim, Cristo tem sua esfera, e nós a nossa. 
Outro ponto a ser lembrado com relação à imitação de Cristo é o fato 
de ser extremamente fácil levar o tema do exemplo ao pé da letra. É por 
isso que, em sua tentativa de "ser como Jesus", alguns adotam o celibato, 
enquanto outros carregam uma cruz de madeira de um lugar ao outro. 
Thomas W Manson parece ter a ideia correta do assunto quando es-
creve que(imitar a Cristo não é fazer "uma cópia exata de seus atos, mas 
C r," evl /A C 0- s 	(47*P, PNV GO' . 144 1 Pecado e Salvação 
reproduzir fielmente sua mente e seu espírito" na vida diári4 Os princípios 
fundamentais da vida do Salvador se tornam normativos para MO 
Precisamos agora examinar os "princípios fundamentais" da vida de Cristo, 
princípios que foram fundamentais para sua vitória sobre o pecado e que se 
acham no centro de seu caráter Essas características principais constituem o 
âmago de seu ser, a essência da qual irradiavam suas ações diárias. 
Essas características fundamentais são de extrema importância no se-
guir o exemplo de Cristo. Sem elas, todas as atividades externas podem ser 
A o tudo, menos cristãs. 	que tudo indica, o centro vida de Cristo conti- 
nha dois elementosia) ) Iu ma vontade submissa (2) m coração amorável 
que se manifestava em uma vida de ações amoráveis. 
A ESSÊNCIA DA TENTAÇÃO E DA VITORIA DE CRISTO 
Com base no que falam algumas pessoas, seria possível supor que a 
tentação tem relação com saber se devemos ou não usar um anel de casa-
mento, comer queijo ou roubar um carro. Essas coisas podem ou não ser 
tentações, mas não são a TENTAÇÃO 
A vida de Cristo ilustra a natureza da TEaque é a mãe de todas 
as tentações. Essa TENTAÇÃO era "fazer as coisas a seu jeito': cuidar de sua 
vida e evitar a sua cruz. 
A chave para compreender a TENTAÇÃO de Cristo é Filipenses 2:5-8: 
"Tende em vós", escreveu Paulo aos crentes, "o mesmo sentimento que hou-
ve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não 
julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, 
assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, 
reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obe-
diente até à morte e morte de cruz xitA m05 
Note que Cristo, o Deus-homern "a si mesmo se esvaziou" de algo, 
quando se tornou um ser humano. Embora o apóstolo não defina o signifi-
cado pleno dessas palavras, parece claro a partir de um estudo do restante 
do Novo Testamento que a parte da qual Jesus se esvaziou voluntariamen-
te no processo de humanização foi das "insígnias e prerrogativas da Divin-
dade': Paulo parece dizer, portanto, que Cristo voluntariamente abdicou 
do uso independente de seus atributos divinos e se submeteu a todas as 
condições da vida humana?' 
Santificação, Perfeição e o Exemplo de Jesus 1 145 
(Elia outras palavras, conforme.svimos acima, Jesus continuou a ser 
Deus, mas escolheu, por vontade própria, não usar os poderes divinos em 
seu benefício própri4Como as outras pessoas, Ele permaneceu depen-
dente do Pai e do poder do Espirito Santo durante sua existência na Terra. 
Enfrentou a acusação de Satanás de que a obediência à lei era impossível.) 
Em sua vida de perfeita obediência, Jesus venceu no ponto em que Adão 
falhou, mas Ele fez isso corno ser humano e não como Deus. Na confiança 
que depositava em seu Pai e no poder do Espírito Santo para a força diária, 
Ele obtinha a mesma ajuda que nos é possível obter em nossa vida diária. 22 
Porque Jesus se esvaziou voluntariamente, Ele poderia retomar o poder 
na hora que quisesse. Diferentemente de outros seres humanos, Jesus po-
dia ter usado suas impressionantes habilidades divinas em urna fração de 
segundote fizesse isso, porém, teria frustrado o plano da salvação e não 
refutaria a afirmação de Satanás de que a lei de Deus não pode ser guarda-
da pelos seres humanos.) 
É nesse momento, no esvaziamento voluntário de Cristo, que encontra-
mos o foco e força das tentações pelas quais foi assediado durante toda a 
sua vida. Se o inimigo conseguisse persuadir Jesus a não se esvaziar e simul-
taneamente fazer com que lançasse mão de seu poder "oculto" em um ato 
de ira ou em benefício próprio, a guerra teria sido rapidamente decidida 
Convém ressaltar que Cristo foi tentado não apenas "em todas as coisas, 
à nossa semelhançá' (Hb 4:15), mas também além do ponto em que os seres 
humanos comuns são tentados, visto que Ele tinha, de fato, o poder de Deus 
na (e não à) mão.4k grande luta de Cristo consistiu em permanecer esvaziado), 
Esse é o sentido da tentação de mandar as "pedras se transform[ar] em 
em pães" (Mt 4:3). Isso não seria tentação para mim, já que não consigo 
fazê-lo. Eu poderia ir ao monte e ordenar o dia todo, e mesmo assim não 
teria sequer um pão para o alrnoço, mas Jesus era capaz de fazê-lo. Na con-
dição de agente natural da criação de tudo o que existe, Ele tinha a capaci-
dade de criar pão até do nada. 
Cristo estava sem comer por mais de um mês quando lhe sobreveio 
essa tentação. Certamente era uma sugestão atrativa. No entanto, se ana-
lisarmos a tentação apenas como uma maneira de satisfazer o apetite, não 
captaremos a essência. A verdadeira TENTAÇÃO consistia em reverter o 
autoesvaziamento de Filipenses 2 e fazer com que Cristo usasse seu poder 
146 I Pecado e Salvação 
divino para satisfação de suas necessidades pessoais. Isso, é claro, indicaria 
que Ele não estava enfrentando o mundo como as outras pessoas. 
Por trás da TENTAÇÃO, encontra-se a insinuação sutil de que, se Ele 
fosse verdadeiramente Deus (Mt 4:3), poderia usar Seus poderes especiais 
em benefício próprio, em vez de confiar no Pai. 
Alguns círculos discutem calorosamente qual o sentidO de Jesus ter sido 
tentado "em todas as coisas, à nossa semelhançá; e ainda assim permanecer 
"sem pecadd" (Hb 4:15). Deduzimos, de uma simples leitura da Bíblia, que 
Jesus, independentemente da constituição de sua natureza humana, supor-
tou tentações muito além do ponto que qualquer outra pessoa poderia ser 
tentada )A maior parte das tentações que o rodearam sequer representam 
tentações para nós, pois nos falta a capacidade de satisfazê-Ia..: 
Conforme demonstrei em lhe Cross ofChrist: God's Workfor Lis ["A Cruz 
de Cristo: a Obra de Deus por Nós"], "todas as tentações de Cristo [...] ti-
nham por objetivo fazê-lo desistir de sua dependência do Pai e assumir o 
controle de sua própria vida, desistindo do ésvaziamento": 23 
Intimamentedrelacionada a essa questão está a tentação de seguir sua 
própria vontade e não a do Pai, sobretudo porque a vontade de Deus o 
levaria a se hurnilhar, "tornando-se obediente até à morte e morte de cruz" 
(Fp 2:8). Conforme escreveu Raoul Dederen, a tentação especial de Cristo 
ao longo de sua vida era "se afastar do cumprimento de sua missão como 
Redentor e se desviar do caminho do sofrimento e da morte, que estava 
necessariamente vinculada a sua missão messiânic: 24 
Isso explica a veemência com que Cristo rejeitou as sugestões de Pedro 
ao insistir que o Mestre não precisava "sofrer muitas coisas dos anciãos, 
'dos» principais sacerdotes e dos escribas, [e] ser morto': 'Arreda, Satanás!" 
foi a repreensão categórica dada por Cristo ao apóstolo (Mt 16:21, 23). 
Em suas viagens, Jesus presenciara crucificações e, como qualquer ser 
humano normal, não lhe agradava muito a ideia de experimentara. morte ex-
cruciante da cruz. Seria muito mais fácil se tornar cuSpolítieQ que os 
judeus (inclusive os discípulos) aguardavam (ver Mt 4:8-10; Is 2:2; Jr 3:17; 
Jo 6:1-15)35 Além do mais, não lhe agradava em nada assumir acondenação do 
mundo e se tornar pecado em prol de toda a humanidade no grande sacrifício 
do Calvário (Jo 12:31-33; 2Co 5:21). Era-lhe abominável o pensamento de ficar 
separado de Deus na cruz, enquanto carregava sobre si os pecados do mundo. 
Santificação, Perfeição e o Exemplo de Jesus I 149 
• A TENTAÇÃO de fazer a própria vontade, evitando a cruz, atingiu o sei, 
auge no Getsêmani, quando Ele ficou frente a frente com o pleno significa-
do da crucificação. A partir daquele instante, Cristo "começou a sentir-se 
tomado de pavor e de angústia" e 'Orava para que, se possível, lhe fosse 
poupada aquela hora" (Mc 14:33,35). 
Ao combater a tentação de fazer a própria vontade e evitar a cruz, Cristo 
passou por um sofrimento tão intenso que nós só podemos ter uma pálida 
ideia. Em grande angústia e temor, Jesus tomou por fim sua decisão. "Meu 
Pai suplicou Ele repetidas vezes, "se não é possível passar de mim este 
cálice sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade" (Mt 26:42). 
(Na cruz, Cristo enfrentou a força combinada de dois aspectos de sua 
TENTAÇÃO: fazer a sua vontade, descendo da cruz, e usar seu poder em be-
neficio próprio.) 
A principal diferença entre a crucificação de Cristo e a de outras cru-
cificações romanas é que Cristo nãozesisava ficar na cruz. , Conforme 
afirmou Donald M. Baillie, "Jesus não morreu como uma vítima indefesa: 
Ele poderia ter escapado?' Corno homem e também Deus, Ele poderia ter 
desistido ,.clo lesvaziárnend e acabado com .a provação. 
Jesus, porém, escolheu morrer na cruz. Sua crucificação foi um ato vo-
luntário de obediência à vontade de Deus. "Eu dou a minha vida [...1. Nin-
guém a tira de mim; pelo contrário, Eu espontaneamente a dou:' "O bom 
pastor dá a vida pelas ovelhas" (Jo 10:17, 18,11). Cristo poderia, portanto, 
ter descido da cruz, mas Ele preferiu não fazê-lo. 
Durante toda a vida de Jesus, Satanás o tentou ase afastar da cruz; pros-
seguiu com a mesma tática durante a crucificação, procurando seduzir 
Jesus a desistir de seu esvaziamento e fazer a própria vontade. Dessa vez, o 
tentador usou as próprias pessoas por quem Cristo iria morrer. 
Observadores zombavam dele, lembrando que Ele havia feito gran-
des declarações sobre o que podia fazer. Se você é quein diz ser, gritavam 
eles desafiadoramente, "salva-te a ti mesmo, descendo da» cruit De igual 
modo, os principais sacerdotes e escribas também entraram em ação, es-
carnecendo e dizendo entre si: "Salvou os outros, a si mesmo não pode 
salvar-se; desça agora da cruz o Cristo, o rei de Israel, para que vejamos e 
creiamos." Enquanto isso, alguns da guarda "escarneciam" dele (Mc 15:29-32, 
Lc 23:36). 
148 1 Pecado e Salvação 
•Como você teria reagido a esses desafios e a esse tratamento, caso tives-
se acesso ao poder de Deus? Eu seria bastante tentado a sair da cruz e dar a 
essas pessoas ingratas exatamente o que elas mereciam. Eu teria demons-
trado exatamente quem eu era. Com certeza elas iam ficar arrependidas 
de terem esgotado minha paciência quando eu estava me empenhando o 
máximo para lhes fazer um favor. 
• Felizmente para o universo, Cristo não cedeu ao estratagema de Satanás. 
Ele resistiu à• tentação de descer da cruz, de colocar sua própria vontade e 
autoridade no centro de sua vida, e, posteriormente, de fazer as coisas "a seu 
próprio modotoi assim que Ele venceu no ponto em que Adão falhou. Sua 
morte não apenas cancela o castigo do pecado, mas sua vida também serve 
de exemplo para os cristãos) 
Obrado: "Está consumado" (Jo 19:30) significa, em parte, que Ele viveu 
uma vida de abnegada obediência, provando uma vez por todas para o uni-
verso que isso pode ser feito. Ele permaneceu na cruz até o fim e, portanto, 
podia proferir essas palavras como um brado de vitória?' 
(5t cruz representa o centro da TENTAÇÃO tanto em nossa vida como 
na vida de CristolLembre-se que Adão e Eva caíram quando se rebelaram 
contra Deus, fizeram da própria vontade o centro de sua vida e puseram o 
próprio eu najosição de cornando que pertencia a Deus. PECADO é• um re-
lacionamento de rebelião e antagonismo contra Deus. Desse relacionamen-
to quebrado brota uma série de atos pecaminosos (pecados). 
O Novo Testamento ordena que cada discípulo de Cristo crucifique seu 
egocentrismo e viva uma nova vida pelo poder da ressurreição (Rm 6:1-11). 
Se alguém quer vir após mim'; disse Jesus, `'a si mesmo se negue, tome a 
sua cruz e siga-me" (Mt 16:24). "Estou crucificado com Cristo', afirma Paulo. 
"Já não sou eu quemi vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, 
tenho ná carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se 
entregou por mim" (Gl 2:19, 20). 
tA crucificação do ego resignado e centrado em si mesmo é a própria 
essência do cristianismol Imitar a Cristo é muito mais do que desenvolver 
um conjunto de hábitos morais. Conforme o demonstraram fariseus de 
todas as épocas(unaa pessoa pode ser moralmente íntegra e ainda assim 
ser egocêntrica e orgulhosa)Martinho Lutero descobriu isso. Quando ele 
entrou para o mosteiro, assinala Bonhoeffer, "abandonara tudo — menos a 
C9 OKGrat (4 ' 41 - 
Santificação, Perfeição e o Exemplo de Jesus 1 149 
r 
si mesmo, o seu piedoso eu': Quando, porém, conheceu a Cristo, "até isso 
lhe foi tirado?' C. çapriirro egocc714ço, 	eKt rra 	ct tÇeri 
O chamado do evangelho é um chamado para crucificação e transformação, 
e não para uma melhoria gradual da vida egocêntrica (Rrn 12:1,2). Passar do es-
pirito egocêntrico, que é natural à humanidade, para o espirito de Cristo, adverte 
Herbert H. Farrner, não é uma questão de crescimento suave ou evolução natu-
ral. Pelo contrário, "é um desenraizan -rento, uma ruptura, uma dilaceração, uma 
fratura, urna quebra, urna espécie de operação cirúrgica, uma H crucificação'2 9 
O palco da luta é a vontade de cada pessoa, "o poder que governa a na-
tureza humana': Daí Ellen White ter escrito que "a luta contra o próprio eu 
é a maior batalha que já foi ferida. A renúncia de nosso eu, sujeitando tudo 
à vontade de Deus, requer luta; mas a alma tem de submeter-se a Deus 
antes que possa ser renovada em santidade"?' 
Como o afirmou James Denney: "Embora o pecado tenha nascido de 
parto natural, ele não morre de morte natural. Em todos os casos, precisa 
ser moralmente condenado e morto:' 3 I Essa condenação é um ato da von-
tade inipulsionada pelo Espirito Santo. 
Como no caso de Cristo, a luta para ir ao encontro de nossa cruz será a luta 
mais severa de nossa vida. Isso porque, conforme ressalta Peter T. Forsythta 
nossa vontade é aquilo que mais estimamos, a coisa a que mais pos apegamos 
e da qual não queremos desistilUnicamente Deus',' escreveu Ellen White, 
"nos pode dar a vitoria" nessa luta contra nosso obstinado eu. Mas ele não pode 
operar e nem vai fazer isso contra a nossa vontade. 'A fortaleza de Satanás" só 
é abatida quando a "vontade" é "colocada ao lado da vontade de Deus': A força 
para a vitória vem de Deus. Se você estiver disposto a colocar sua vontade 
ao lado da vontade de Deus; "Deus efetuará a obra por vosm (cf. Fp 2:12, 13). 
Note, por favor, que os cristãos não abdicam da vontade própria. Ao 
contrário, eles rendem sua vontade ao poder transformador do Espíri-
to de DeustA vontade continua a ser o poder que controla a vida deles, 
mas dessa vez é uma vontade convertida, colocada em harmonia com os 
princípios divinosit2s cristãos não se tornam, portanto, robôs nas mãos 
de Deus, mas agentes responsáveis, que compartilham do ponto de vista 
divino), O coração e a mente dos cristãos nascidos de novo estarão de tal 
forma: em harmonia com a vontade de Deus, "que, obedecendo-lhe': eles 
não estarão senão seguindo seus "próprios impulsos':" 
p-• 	"' •' 150 I Pecado e Salvação 	 Lil„ 
 
Cristo teve sua cruz e nós ternos a nossa. Ele morreu na sua cruz pelos 
nossos pecados, nos quais não tinha participação. Nós morremos na nossa 
cruz para todo oorgulho,e autossuficiência, a fim de podermos participar 
de sua vida. Na cruz deCristo toda a, indetendenciaintelectual e moral de-
saparecem, e nós voluntariamente admitimos nossa dependência de Deus 
em cada aspecto da vida. Do ponto de vista da cruz, as palavras de Cristo 
assumem um novo significado: "quem quiser salvar a sua vida perde-la-d; 
Mas `lquen-t perder a vida por minha causa, esse asalvará' (Lc 9:24). 
Se pudermos conceber o fato de ir ter com Jesus para justificação e 
regeneração como a crucificação inicial, curnpre-nos então considerar a 
(vida santificada como o viver a vida da cruz) Foi por isso que Cristo orde-
nou aos seus discípulos que tornassem sua cruz "dia a dia" (Lc 9:23). Paulo 
testenaunhou: "Dia após dia, morro" (1Co 15:31). 
Assim como a TENTAÇÃO na vida de Cristo era primeiramente depen-
der de si mesmo e não aceitar a cruze,. posteriormente, ern descer da cruz, 
assim também ocorre com os seus seguidores. Essa TENTAÇÃO sempre se 
manifesta na Vontade de descer de nossa cruz e dar às pessoas o que elas 
"merecem': em "fazer do nosso jeitos; na tentativa de nos tornar o deus de 
nossa vida e fazer a escolha de Adão, e não a de Cristo. 
Seguir o exemplo de 0-isto não significa apenas aceitar a cruz,...mas:tam-
bém viver a vida da cruz. "Tende em vós; escreveu o apóstolo, "o mesmo senti-
mento quehouve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo era forma de 
Deus, [...] a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, [...] a si mesmo 
se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz" (Fp 25-8). 
O CARÁTER DE CRISTO 	, 
rs cristãos que seguem .a Cristo não só passarão pela morte que Ele 
morreu, mas também viverão a vida que Ele viveu:Morte sem ressurreição 
hão .é o padrão do evangelho. O cristianismo é, 'antes de 'tudo, uma força 
positiva e não negativa. A morte para o eu, como o centro da existência, 
abre o caminho e arma o cenário para a vida cristã. 
A vida da cruz é uma vida de abnegado amor e serviço pelas outras pes-
soas. Assim como `Deus é amor" (lio 4:8) e amou :o mundo de tal maneira 
que deu seu Filho unigênitd' (Jo 3:16), assim também Cristo "não veio para 
ser servido mas para servir e dar a sua vida' (Mt 20:28). Amor :e serviço aos 
Santificação, Perfeição e o Exemplo de Jesus 1 151 
outros constituem o alicerce do próprio caráter de Cristo, atributos conti-
nuamente evidenciados em seu ministério terreno. 
Os mesmos elementos constituem a base da vida daquele que segue o 
exemplo de Jesus. Estabelecendo o contraste entre os princípios do mun-
do e os da cruz, Jesus reconheceu perante os discípulos que no mundo 
não convertido os grandes exerciam autoridade sobre os pequenos. "Mas", 
ordenou-lhes o Mestre, "entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser 
tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o 
primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem 
não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida" (Mc 10:43-45). 
A vida de Cristo deve ser o padrão para seus seguidores. "Na vida do 
Salvador': assinalou Ellen White, "exemplificaram-,se perfeitamente os 
princípios da lei de Deus — amor a Deus e ao próximo. Benevolência e 
amor abnegado eram a vida de sua alma " Jesus viveu "unicamente para 
confortar e beneficiar,' 
Lutero também chamou a atenção para a essencia do viver segundo o 
exemplo de Cristo. "Eu deveria; escreveu ele, "tornar-me um Cristo para o meu 
próximo e ser para ele o que Cristo é para mim"' O cristão, conforme sugeriu 
Andas Nygren, deve ser "o canal pelo qual flui o,arnor de Deus", 5 
Assim como ocorreu 'na vida de Cristo, o modelo, de igual modo deve 
ocorrer em nossa vida. Se estivermos seguindo o exemplo de Jesus, o amor 
a Deus e ao próximo será o princípio de ação que moldará e orientará 
nossas atividades diárias. Esse conceito e a vida que -dele decorre é a ideia 
central tanto da santificação progressiva quanto da perfeição. 
John Wesley expressou isso muito bem quando escreveu que "a fé que 
atua pelo amor' é o comprimento, a largura, a profundidade e a altura da 
perfeição cristã. [...1 E na verdade, todo aquele que ama seus irmãos, não so- 
mente em palavras, mas como Cristo amou, não pode deixar de ser 'zeloso 
de boas obras'. Essa pessoa sente no íntimo um ardente desejo de gastar-se e 
deixar-se gastar pelos irmãos. [...1 Em todas as oportunidades possíveis, elê, 
assim como seu mestre, 'andará de um lado para o outro fazendo o bem& 
Ter a "mente de Cristo" nos leva não só a praticar atos de amor em nossa 
vida diária, mas também ajuda a odiar o pecado, como o fez Cristo, porque 
percebemos que ele destrói a vida dos filhos de Deus. Assim, pois, o princí- 
pio do amor a Deus e ao próximo afetará todos os aspectos de nossa vida. 
152 Pecado e Salvação 
Nada em nossa vida está fora do alcance do princípio do amor Aquele que 
segue o exemplo de Cristo é o que vive uma vida radicalmente transformada. 
Vimos neste capítulo o que significa imitar a Cristo. Descobrimos pri-
meiramente que seguir o exemplo de Cristo significa crucificar o princípio 
do egoísmo (importantíssimo para a "pessoa natural") e viver uma vida de 
serviço amorável por aqueles com os quais entramos em contato. 
Passemos agora ao tema da perfeição, uma questão importante, uma 
vez que Jesus ordenou a seus seguidores: "sede vós perfeitos como perfeito 
é o vosso Pai celeste" (Mt 5:48). 
Ellen G. White, Parábolas de Jesus (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), p 69. O capitulo 9 tratará mais detalhadamente desta citação. 
2 Os vídeos produzidos pottlit_in Osborne)sobre o tipo de adoração chamado de celebration 
dão essa impressão. 	". 
William DoYle, citado em Karl Menninger, Man against Himself (Nova York, NY: 
Harcourt, Brace & World, A Harvest Book, 1938), p. 123. 
4 Robert N. Flew, 7he Idea of Perfect-fon (Oxford, Inglaterra: Clarendon Press, 1968), p. 158, 
168; Hans K. LaRondelle, Perfection and Perfectionism (Berrien Springs, MI: Andrews 
University Press, 1971), p. 304, 305. 
' Stan Mooneyham, Dancing on Me Straight and Narrow (San Francisco, CA: Harper & 
Row, 1989), p. 12, 13, 
6 •C S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples (São Paulo, SP: ABU Editora, 1992), p. 38. 
7 Sindair B. Ferguson, "The Reformed View; em Donald L. Mexander, ed., Christian Spirituality: 
Five Views ofSanctification (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1988), p. 66. 
Gerrit C. Berkouwer, Fctith and Sanctification (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1952), p. 135. 
9 Ver Alan Richardson e john Bowden,eds.,"Imitation of Christ, The; lhe Wesiminster Dictionary 
ofChristian 7heology (Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 1983); Walter E. Elwell, "Pelagius, 
Pelagianism;EvangelicalDictionary of Theology (Ada, MI: Baker Pub. Group, 1996). 
'° Ver James Orr, Fie Christian View ofGod and the World (Nova York, NY: Charles Scribner's 
'Sons, 1897), p. 287, 288; James Stalker, 7he F,xample of Jesus Christ (New Canaan, CT: Keats, 1980), 
p.15, 16. 
" Lutero, citado em Leon 0.Hynson, To Reform the Nation: Theological Foundations of Wesley's 
Ethics (Wilmore,KY: Francis Asbury Press, 1984) p. 162, n. 17. 	 • 
12 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom1), p. 531. 
13 
 
Ibid.; Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Taiti, SP: Casa Publicadora Brasilei-
ra, 2001 [CD-Rom]), p. 49; Cf. Ellen G. VC/hite, Testemunhos Para Ministros (Tatuí, SP: Casa 
Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rona]), p. 173; Ellen G. White, O Grande Conflito (Tata SP: 
Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Ronal), p. 623. 
Santificação, Perfeição e o Exemplo de Jesus 1 153 
14 Ellen G White, lhe Youth's Instructor, 8 de setembro de 1898, p. 704, 705; Carta de Ellen 
G, White ao Irmão e Irmã Baker, 9 de fevereiro de 1896; Ellen G. White em Seventh- (Jay 
Adventist Bible Commentary, v.7 p. 907. 
's Ellen G. White, Educação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-Rom]), 
p, 29. Para mais informações sobre esse tópico no contexto da Assembleia da Associação 
Geral de 1888, ver George R. Knight, From 1888 to Apostasy: The Caseof A. T fones 
(Washington, DC: Review and Herald, 1987), p. 132-150, 
'6 Ellen G. White, Review and Herald, 15 de dezembro de 1896, p. 789; Ellen G. White, 
O Desejado de Todas as Nações, p. 49. 
'7 Ellen G. White, Fie Youth's Instructor, 25 de abril de 1901, p. 130; Ellen G. White, O Dese-
jado de Todas as Nações, p. 24. 
Walter Bauer, F. Wilbur Gingrich, William E Arndt et. ai, "homoidmari; A Greek English 
Lexicon of the New Testament (Chicago, IL: University of Chicago Press, 1979). 
' 9 Ellen G. White, Review and Herald, 5 de fevereiro de 1895, p. 81. 
20 Thornas W Manson, citado em E. J. Tinsley, Fie Imitation of God in Christ (Philadelphia, 
PA: Westminster, 1960), p. 179. 
2 ' Ver George Arthur Buttrick, Keith George e Crim Butterick, "Kenosis: lhe Interpreter's Bible 
Dictionary (Nashville, TN: Abington Press, 1962); Edward Heppenstall, lhe Man Who Is God 
(Washington, DC: Review and Herald, 1977), p. 67-80. 
Ver Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 24. 
23 George R. Knight, Fie Cross ofChrist: God's Work for Lis (Hagerstown, MD: Review and 
Herald, 2008); p. 86. Esse livro, nas páginas 82-91, apresenta um estudo mais completo sobre a 
tentação de Cristo. 
" Raoul Dederen, Atoning Aspects in Christ's Deatht, em Arnold Wallenkampf and W 
Richard Lesher, &Is., lhe Sanctuary and the Atonement: Biblical, Historical, and Theological 
Studies (Washington, DC: General Conference ofSDA, 1981), p. 307. 
25 Ver Knight, lhe Cross of Christ,p. 85-88. 
26 Donald M. Bailli& God Was in Christ (Nova York, NY Charles Scribner's Sons, 1948), p, 182. 
27 William Barclay, 7he Gospel oflohn, 2a ed., Daily Study Bible (Edinburgh, Inglaterra: The 
Saint Andrew Press, 1956), y. 2, p. 301. 
" John R. W Stott, hasic Christianity, 2' ed. (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1971), 111; 
Dietrich Bonhoeffer,DisdiMado, 10a ed, (São Leopoldo, RS: Sinodal, 2004), p. 
29 Herbert H Farrner, citado em E W. Dillistone,• lhe •Significance of the Cross (Philadelphia: 
Westminster, 1994), p. 155. 
39 Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 
[CD-Rom]), p. 47, 43. 
31 James Denney, lhe Christian Doctrine of Reconciliation (Londres, Inglaterra: James Clarke, 
1959), p. 198. 
32 Peter T. Forsyth, lhe Cruciahty of the Cross (Wake Forest, NC: Chanticleer, 1983), p:92; 
Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-
Rom]), p. 142. , 
33 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p, 668. 
34 Ellen G. White, Caminho a Cristo, p.28; Ellen G. White O Desejado de Todas as Nações, p. 57,70. 
" Lutero, citado em Paul Akhaus, lhe Theology ofMartin Luther, trad. R. C. Schultz (Philadelphia, PA: 
Fortress, 1966), p. 135; Anders Nygren, Agape andEros (Philadelphia, PA: Westminster, 1953), p. 733. 
" John Wesley, Fie Works offohn Wesley,3a ed. (Peabody, MA: Hendricicson, 1984), v. 14, p. 321,322 
, 	CAPÍTULO 7 
Cone - epçao Bíblica de 
Per e Impe a çao fei 	 d a e 
N o início de minha experiência cristã, cheguei ao "paradoxo farisaico 
da perfeição': Depois de tentar ser o primeiro cristão perfeito desde 
Cristo, cheguei por fim a maior frustração da minha vida: por mais 
que eu tentasse, pior me tornava. 
Infelizmente, aqueles que eram obrigados a trabalhar ou conviver co-
migo enxergaram o paradoxo muito mais cedo do que eu. Quando olho 
para trás, me envergonho ao pensar que a minha "superioridade espiritual" 
me tornou duro, critico, exigente e negativafristo que a natureza humana 
não mudotiatravés dos tempos, o espírito do farisaísmo tem hoje a mesma 
natureza que tinha na época de Cristo) 
Donald M. Baillie nos ajuda a desvendar o segredo dckaradoxo da perfeição_ -..,„,---„,..-..-.....„ 
farisai4ao comentar que certos tipos de perfeccionisrnos e desenvolvimentos 
de caráter nos impedem de "pensar sobre nós mesmos': 'Nos tornamos ego-
cêntricos, e é exatamente do egocentrismo que precisamos ser salvos, porque 
ele constitui a essência do pecado. [...] A pior espécie de egocentrismo [...] [é] a 
justiça própria e o orgulho Em vez de nos fazer santos, ele nos torna fariseus".' 
As falsas concepções de perfeição falham porque se concentram no eu 
e no progresso pessoal. A medida que avançarmos neste capítulo, desco-
briremos que a essência da perfeição bíblica está muito distante do ego-
centrismo que infesta o perfeccionismo farisaico. 
SEDE PERFEITOS: UMA ORDEM BÍBLICA 
"Sede vós perfeitos': recomendou Jesus a seus ouvintes, "como perfeito 
é o vosso Pai celeste" (Mt 548). Nesse texto, Jesus não só dá uma ordem, 
mas também estabelece Deus como o padrão da perfeição. 
'Anda na minha presença e sê perfeito',' disse Deus a Abraão reiterando a 
aliança (Gn 17:1). O livro de Hebreus nos ordena a nos debcarrnos "levar para 
Concepção Bíblica de Perfeição e Impecabilidade I 155 
o que é perfeito" (Hb 6:1), e Paulo escreveü aos colossenses sobre seu desejo de 
apresentar "todo homem perfeito em Cristo" (Cl 1:28). Deus concedeu os di- 
versos dons espirituais "com vistas ao aperfeiçoamento dos santos" (Ef4:12, 13). 
Foi com esses e outros textos em mente que Jean Zurcher, reconheceu que 
"toda a Bíblia é um retumbante chamado à perfeição': e queCIZoberf M Flew 
pôde concluir que "cristianismo não é cristianismo, a menos que tenha por ob-
jetivo a perfeição': 'A doutrina da perfeição cristã [...] se encontra não só nas ve-
redas pouco frequentadas da teologia cristã, mas também na estrada principal2 
A única conclusão que se pode obter a partir da Bíblia é que a perfeição é 
possível. Se assim não fosse, seus autores não a exigiriam dos crenteslAssim 
sendo, o que está em questão não é a possibilidade da perfeição,‘mas 
o que os escritores da Bíblia entendem por "perfeição': Estão eles sugerindo 
que podemos alcançar a perfeição durante nossa vida terrena? 
Antes de examinar a Bíblia para determinar o significado da palavra, 
será útil considerar os diversos aspectos preliminares sobre o tema Para 
começar, é possível evitar uma grande confusão quando se recorihece que 
perfeição tem mais de um significado na vida do crente. 
aÉLVinWoredobserva corretamente que, "em certo sentido, somos per-
feitOs em Jesus no momento em que o aceitamos como nosso salvador, por-
que a sua justiça cobre nossos pecados': Ele ressalta, porém, que "a perfeição 
de caráter prossegue durante toda a vidaWor isso encontramos conceitos 
bíblicos de perfeição relacionados tanto com a justificação quanto à santi-
ficação progressiva Veremos no capítulo 10 um terceiro conceito bíblico 
de perfeição relacionado à glorificação — ato pelo qual nossa natureza física 
será transformada por ocasião da segunda vinda de Cristo (1Co 15). 
É crucial reconhecer que a perfeição referente à justificação não é 
aquela a que se refere a Bíblia em textos como Mateus 5:48, Hebreus 6:1 e 
Efésios 4:12, 13 (todos citados acima). Essas passagens falam de um pro-
cesso dinâmico de desenvolvimento do caráter no qual as pessoas se tor-
nam realmente mais e mais semelhantes a seu "Pai celestial': 
Paulo se refere a esse aspecto da perfeição quando sugere aos coríntios que 
aperfeiçoem "[sua] santidade no temor de Deus" (2Co 7:1). É disso que fala o 
autor de Hebreus quando exorta os crentes a avançarem "para o que é perfeito" 
(Hb 6:1) e quando Paulo informa aos corá -idos que eles são "transformados de 
glória em glória, na sua [de Cristo] própria imagem" (2Co 3:18; cf Gl +.19; 2Pe 3:18). 
156 I Pecado e Salvação 
C.Yingent Tayloy lastima.» fato de que a perkição seja vista excessivas 
vezes,conao“urn Raiarão "fixo" e "estático i,' "ao invescle um ideal criseãó -
passive e enriquecimento sem fim. èirfr ugere a mesma coisa quan-
do nos estimula a pensar ern(Rerfeição como uma linha, e não como um 
onto a ser alanclo) 'A palavra ponto': afirma ele perceptivamente, -"é 
excessivamente limitadora. Perfeição deve ser considerada mais como 
um estado, um relacionamento com Jesus, uma forma de viver, do que 
um ponto que se pode medir para saber se foi alcançado1ParaOildred 
Vriterfeiça-o é a profundidade de relacionamento "concernente à 
própria gàpacidade espiritual em um dado momento'.. 
Conforme a descrição bíblica, a capacidade das pessoas aumenta cons-
tantemente, se elas são perfeitas (isto é, se estão sendo aperfeiçoadas). Esse 
crescimento, conforme veremos no capítulo 10, continuará Ror tod.a,a_eter-
nidade. É infinita a "linha" dinâmica de desenvolvimento :do carátettOs cris-
tãos'perfeitos" sempre se tornam mais semelhantes a Deus, sem nunca se 
tornanidênticos a Ele. O Céu será um lugar de infinito crescimento espiritual) 
É lamentável que, ao longo da história, ensinamentos antibíblicos relacio-
nados à perfeição e à impecabilidade tenham sidorepetidas vezes a causa de 
excessos e fanatismos. Não foi sem motivo quejohn V-C-Tere um homem que 
passou a vida inteira ensinando a possibilidade da perfeição, chegou a afirmar 
que alguns perfeccionistas "faziam o próprio nome da perfeição cheirar mar 
Teorias pervertidas da perfeição têm dado origem a diversas aberra-
ções no meio cristão. Uma distorção da doutrina, por exemplo, renuncia a 
clara distinção entre a vontade do crente e a vontade do Espírito Santo. As-
sim sendo, se uma pessoa for considerada "perfeita': tudo uanto faz estará 
correto e santificado. Esse ensino, que floresceu n década de \-1- rouxe 
como resultado os "casan -ientos espirituais", dentre outras perversões que 
surgiram entre cristãos :e adventistas oriundos do milerisrno. 6 
Uma segunda concepção errônea de perfeição conduz ao materialis-
mo. Foi assim que n(aiad,e-1.894;surgiram alguns grupos de santidade 
e de adventistas acreditando que seus cabelos brancos iam recuperar a cor 
natural. E até pregadores, como mtlier ensinavam que quem 
tinha realmente a justiça de Cristo nunca iria adoecer.' 
Um terceiro equívoco gerado pelotperfeccionisrno é o moralismcrue 
exalta a conformidade externa com a lei. Na perfeição moralista, todo ato 
Concepção Bíblica de Perfeição e Impecabilidade 157 
humano passa a ser regulado por leis, que se tornam cada vez mais com-
plexas e que abrangem todos os aspectos da vida como alimentação, recre-
ação, vestuário e assim por diante. 
(Santidade via celibato, autoflagelação, restrições alimentares, e até mes-
mo autocastração, não têm sido incomuns entre os crentes que adotam con-
cepções moralistas acerca da perfeiçãopesesperadas em seu fervor, pessoas 
dessas seitas desenvolvem longas listas de regras, e quanto mais leem, mais 
longas se tornamtmbora os fariseus e os monges tenham sido, no passado, 
os representantes do grupo de perfeccionistas, no mundo moderno, adven-
tistas e cristãos conservadores têm se afiliado a esse grupo) 
Um quarto equívoco acerca da perfeição encontrada no Novo Testa-
mento kio que substitui a Restekk,pzogressiya do 1/2desenvo1yimento dfro 
caraterape~ forense da jij.açASomos perfeitos em Cristo, 
prossegue a teoria, e isso é tudo o que é necessário. Essa teoria ensina, es-
crevteiTiCos) a ficção "de ue o caráter pode ser transferido de uma 
-Z 	P 	ç 	q 
	----r pessoTpara outra': Cristo se torna, portanto, nossnerfeição viçarinDea. ssa 
forma, a "salvação põe um fim à graça': "Embora haja incentivo geral para 
uma vida moralmente correta, ela não é considerada necessária à salvação:' 
Essa crença — é bom que se diga —conduz ao antinornianismo na teoria 
e até mesmo na prática.' Os adventistas do sétimo dia se viram por vezes 
apanhados por essa forrna não bíblica de perfeição, um ensino diretamen-
te relacionado com a teoria de que a justificação pode ser dissociada da 
santificação (discutida no capítulo 4). rop3, o 
	
(001),A 17 "1 	PERFEIÇÃO BÍBLICA 
Um dos problemas mais graves entre os cristãos no que diz respeito à per-
fei ao é que as pessoas trazem suas próprias definições de perfeição para a 
Bi. ia, ao invés de deixar que as Escrituras definam para elas o que é perfeição. 
p,,„ LEsse rocedimento faz com que as pessoas vejam geralmente a perfeição em 
terms o absolutos2 que podem estar de acordo com a filosofia grega, mas não 
fazem parte do emprego bíblico da palavra, 
Para o_pensamento platônico, que exerceu grande influência sobre a igreja 
cristã em seus primeiros séculos, uma coisa era perfeita quando nunca precisava 
mudar. Encontramos esse conceito mais bem representado na alegoria da caverna 
de Platão, que reflete sobre a perfeição das coisas além do âmbito da naudança.9 
158 J Pecado e Salvação 	CHC çe t, C.0 C ( OÁA (4 O 
ÇrSe aplicarmos o conceito grego à teologia cristã, alguém que nunca 
precisou mudar teria .que ser uma pessoa absolutamente sem pecado, 
uma vez que todos os pecadores precisam se libertar de seus hábitos pe-
caminososfoi a identificação der_Relfeisao comoele aljAoluta , 
que armou- o cenário para a vida monástica na igreja primitiva e medieval. 
Apesar de essa definição de perfeição ser parte do desvirtuamento da teo-
logia cristã pela filosofia grega, a Reforma do século 16 não a corrigiu. 
LIVluitos cristãos modernos, inclusive grande Parte dos adventistas do 
y sétimo dia, continuam se do influenciados pela versão grega de perfeição 
ao invés da versão bíblica Embora critiquem a rnaioria dos outros cristãos 
por terem absorvido a contribuição filosófica grega da imortalidade inata 
d da alma, os adventistas têm muitíssimas vezes mantido o erro sobre a defi-
nição de perfeição como impecabilidade absoluta" ti 
O fato é que, conforme veremos a seguir,k Bíblia ensina tanto a iinpe-
cabilicladesuanto a 12,gfeigo, .mas nunca as _e;:qu' ipara)Precisamos ver o 
conceito bíblico de perfeição ser re' —ot mado como parte de uma reforma 
em andamento, que se iniciou no século 16 e continuará até o segundo 
advento, Essa reforma progressiva pretende resgatar todos os ensinos bí-
blicos que foram distorcidos nos primeiros séculos da igreja. 
Importar interpretações não bíblicas sobre perfeição para o texto tem 
não só distorcido o conceito, mas também dificultado sua compreensão. 
Na tentativa de determinar o significado bíblico de perfeição, precisamos 
deixar que o contexto no qual a palavra aparece seja o verdadeiro comen-
tário de seu significado. Além disso, devemos procurar descobrir o sentido 
bíblico das palavras usadas para traduzir nossa palavra perfeição. 
Dos autores dos evangelhos, somente Mateus recorre ao termo perfei-
to, e o emprega apenas três wzes. Os dois primeiros casos se encontram 
na declaração de Mateus 5:48: "Portanto, sede vós perfeitos como perfeito 
é o vosso Pai celeste:' Embora esse texto remeta os leitores a esforços extre-
mos no estilo de vida e disciplinanionástica adotados, com a esperança de 
que, separando-se do mundo, consigam ser tão perfeitos quanto é Deus, o 
contexto não sugere exatamente isso. 
Ser perfeito como o Pai é perfeito, de acordo com os versos 43 a 47, sig-
nifica amar (agapao) não apenas os amigos, mas também os inimigos. "Amai 
vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos 
Concepção Bíblica de Perfeição e Impecabilidade 159 
do vosso Pai celeste" (v. 44, 45). A passagem paralela de Lucas reforça essa 
ideia "Sede misericordiosos" ordenou Jesus no contexto de amar os inimigos 
(Lc 627-35), "como também é misericordioso voo Pai" (v. 36). Portanto, os 
escritores dos evangelhos equi aram o ser misericordioso com o ser perfei-
to. Assim como Deus enviou Cri o para morrer por seus inimigos (Rm 5:6, 
8, 10), também devem seus filhos,Ltar o seu amoroso coração. 
Ao comentar Mateus 5:48, William BarclakSintetiza muito bem a sua 
mensagem: 'A única coisa que nos torna semelhantes a Deus é o amor que 
nunca cessa de cuidar das pessoas, não importa o que elas lhe façam. [...] 
Entramos na perfeição cristã [...] quando aprendemos a perdoar como 
Deus perdoa e amar como Ele ama:" 
A única outra vez em que os evangelhos utilizam a palavra perfeição 
é na conversa de Cristo com o jovem rico. Você deve se lembrar que, em 
seu desejo de ganhar a vida eterna, o homem fora a Cristo com uma lista 
de suas realizaçõesno tocante à observância dos mandamentos. Mas, por 
achar que ainda não havia feito o suficiente para ganhar o prêmio, per-
guntou a Jesus o que ainda precisava fazer. A resposta foi.. "Se queres ser 
perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; 
depois, vem e segue-me" (Mt 19:16-21). 
Cristo não permitiria que o jovem banalizasse a justiça e a minimizasse 
a uma lista de itens. Jesus não só restabeleceu a correlação entre ser perfei-
to e amar o próximo, mas também colocou esse amor no contexto de um 
relacionamento com Ele capaz de transformar vidas. "O que Cristo exigiu 
realmente do jovem rico', escreve&In i,LaRondelle "não foi uma decisão 
de natureza ética [fazer algo], mas de natureza religiosa [relacionamento] 
radical: a completa submissão a Deus: 11 
Relacionar-se com Cristo inclui assimilar e refletir seu caráter de amor. 
Outras passagens bíblicas que tratam do ideal de Deus para os seres hu-
manos acham-se em harmonia com as declarações de Jesus no evangelho 
(ver, por exemplo, 1Jo 2:4-6; Tg 1:27; Mq 6:8). 
A essa altura, é fundamental perceber que perfeição bíblica é uma quali-
dade mais positiva do que negativAA essência da perfeição não é se abster* 
de certas coisas e práticas, mas realizar atos de amor resultantes de uma rela-
ção com CristoY viver a -vida diária demonstrando amor a Deus e ao próxi-
mo de forma semelhante à de CristorPerfeição; escrev4uçai re'r,Ié mais do 
160 I Pecado e Salvação 
que simplesmente não agir errado. É vencer o mal com o bem, em harmonia 
com o princípio básico previsto na regra de ouro [ver Mt 7:121." "Perfeição 
de caráter',' sugeri. C. Mervyn Maxwell, é nada menos que 'viver o amor:" 
O amor, portanto, serve de parâmetro tanto para o pecado como para 
a perfeição cristã. Se, conforme vimos no capítulo 40 pecado consiste 
essencialmente em direcionar meu amor (agapé) para mim mesmo, per-
feição bíblica consiste em direcionar esse amor a Deus e ao meu próximo,i 
Essa transformação, revela Paulo, muda todos os aspectos da minha vida 
diária (Rm 13:8-10; Gl 5:14). 
O amor perfeito, afirma ÇÇjGox não é "'desempenho perfeito' ou 
'habilidade perfeita ou ainda 'natureza humana perfeita": E para ser mais 
exato, definido como obediência e submissão tanto a um relacionamento 
com o Deus de amor como com os grandes princípios subjacentes a sua 
lei." As tentativas de "se tornar perfeito',' dissociadas de um vivo relacio-
namento com Jesus e do coração de sua lei (o amor), se tornarão estéreis, 
frias, Mortas e, não raro, abomináveis. Essa é uma verdade frequentemente 
demonstrada pelas pessoas de disposição farisaica. 
Chegou a hora de concentrarmos nossa atenção nas palavras bíblicas 
usadas para expressar a palavra perfeição em português.kNenhuma delas 
significa impecabilidade ou possui conotação absoluta! A palavra-chave 
do Novo Testamento traduzida por "perfeição" é teleios, a forma adjetiva 
de telos. A ideia or trás de telos entrou para o português por meio da 
nossa palavra tele, ogia, efinida pelo Dicionário Webster como 'Tato ou 
qualidade de ser direcionado a um fim definitivo ou de ter uma causa final': 
•O sentido do termo provém do grego, em que telos significa "uma fina-
lidade': "um propósito': "um alvo" ou "um objetivo': Algo é teleios se cumpre 
a finalidade para a qual foi criado. r_s, pessoas são, .p_ortanto, perfeitas (te-
leios)rgeryclo cumprern_a intenção de Deus ~Bíblia não deixa 
dúvidas quanto à finalidade para a qual Deus criou o ser humano. "Faça-
mos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança,' conta a 
história do Gênesis (Gil 1:26).kEra natural, portanto, Jesus afirmar que o 
ideal cristão é que as pessoas se tornem teleios (perfeitas) em amor, como 
é perfeito o Pai celestial (Mt 5:48; cf. 1Jo 4:8).,11s seres humanos foram 
feitos para agir em amor, em vez de se comportarem como o diabo, como, 
infelizmente, fazem desde a queda em Gênesis 3. 
Concepção Bíblica de Perfeição e Impecabilidade 1 161 
Teleios não significa "impecabilidade'; mas "maduro': "inteiro" ou "indivi-
s6:14 Daí Cristo ter dito ao jovem rico que se ele quisesse ser perfeito (teleios), 
precisava se tornar inteiramente comprometido com Deus (Mt 19:21). 
A ideia de perfeição como maturidade fica explicitamente clara em 
Hebreus 5:13-6:1 (RSV), em que se lê que os cristãos devem avançar da dieta 
líquida (leite), que é para crianças na fé, para o alimento sólido, destinado 
aos "maduros" [teleios]. Os "maduros" na fé são "aqueles que têm as suas fa-
culdades exercitadas pela prática para discernir o bem do mal. Portanto, •[...1 
prossigamos para a maturidade" ripara o que é perfeito': na ARA, de tetos]. 
O leitor perspicaz talvez tenha notado que, quando comecei minha análise 
da perfeição bíblica, quase todas as citações bíblicas vieram da versão King 
James [KIM, em vez da minha prática habitual de usar a versão Revised Standard 
[RSV]. Agi assim porque a RSV e outras versões modernas quase sempre tra-
duzem o adjetivo telos e suas formas cognatas por "maduro" e não por "perfeito': 
(De acordo com os escritores, do No_y_o_Testamento, o cristão "perfeito" é o 
cristão maduro, inteiro, completoPode-se dizer o mesmo a respeito do An-
tigo Testamento, em que as palavras traduzidas como "perfeito" geralmente 
significam "completo': "correto" ou "irrepreensiver no sentido espiritual!' 
É por isso que a Escritura chama Noé, Abraão e Já de "perfeitos" (Gn 6:9; 
17:1; Já 11, 8, KJV),-apesar de esses patriarcas terem demonstrado falhas 
óbvias. O santo perfeito encontrado no Antigo Testamento era a pessoa de 
"coração perfeito" para com o Senhor, enquanto "andava' em seu caminho 
e vontade (1Rs 8:61; Is 38:3; Gn 6:9; 17:1, KJV). A pessoa perfeita, escreve 
Paul Jo annes Du P essis, = aquela que "se submete inteiramente à vontade 
de Deus" e em completa "devoção a seu serviço ; aquela que tem '`um 
relacionamento desimpedido com o Senhor'2 6 
Ao resumir a visão bíblica de perfeição, podemos afirmar que a perfei-
ção bíblica não é o padrão abstrato de perfeição encontrado na filosofia 
grega, m i s "o perfeito relacionamento do homem com Deus e seu seme-
lhante': 17 mbora a perfeição bíblica inclua a conduta ética, ela envolve 
Enoito mais do que o mero comportamento. Centraliza-se no amadureci-
mento das relações r idas durante a rebelião no Éden) 
As definições d 111,11} Wesley obre a perfeição bíblica merecem mais es-
:udo por parte dos adventistas dó que se costuma fazer Segundo as conclusões 
lo clérigo metodista, perfeição é o perfeito amor a Deus e ao próximo, expresso 
162 1 Pecado e Salvação 
em palavras e ações. E amar a Deus, sugeriu ele, é "deleitar-se nele, regozijar-se 
em sua vontade, desejar agradá-lo continuamente, buscar e encontrar nossa fe-
licidade nele, ter sede dia e e ite por urna melhor apreciação do seu caráter:" 
Perfeição, prossegue nitar 'é pureza de intenção, dedicação total a 
Deus. É entregar a Deus todo o coração; permitir que Ele governe todas as . 
nossas disposições. É o devotar, não uma parte, mas tudo o que somos a Deus: 
alma, corpo e espírito. Não é dedicar urna parte, mas todo nosso corpo, alma 
e bens a Deus. Sob outro ponto de vista, é possuir a mente de Cristo, que nos 
capacita a andar como Cristo andou. É a circuncisão do coração de toda a 
imundície, tanto a interna como a externa. É a renovação do coração na com-
pleta imagem de Deus, à semelhança daquele que nos criou. É ainda amar a 
Deus de todo nosso coração e ao nosso próximo como .a nós mesmos': 
É difícil encontrar uma definição melhor do que essa; definição que, 
ara Wesley, descrevia "a completa e única perfeição'2 9 
v‘veY;\ MAU 	 Ne-s5ów7ç-- 
T 1/22, 0 Les 5)0 P CL° 	 - 	conn 01 °' vf,;(70„) 	IMPECABILID ADE ■ 1,13LICA ( fleti\ Ti vm ) 
A Bíblia ensina explicitamente que é •ossível estaïsem decado nesta 
vida. O apóstolo João deixa isso bem clar o em sua primeira epístola: "qual-
quer que permanece nele não peca [...J. e ualquer que é nascido de Deus 
não comete peca-cio" (1Joe justiça. ainda prevaleCe no século .21, inclusive no. adventismo, 
Fariseus São•Boas Pessoas 17 
Na verdade, o mais ,destacado teálogn.clo adventismo nas décadas de. 
1930 e:1940 adotou.a mesmíssima posição dos fariseus com respeito ao 
pecado e à justiça. À• • . • - . . . 
. Discorrendo. sob?? santificação como obra vitalícia. IVIllianl,..Andteasen 
observbu que da começa na conversão e continua ao -longo de toda a vida. 
"Cada vitória:: escreveu ele, 'apressa o processo. Poucos cristãos há que não oly 
tiveram a vitória sobre algumpecado :que:antes os vencia," Muitas pessoas 
que eram escravas do fumo. alcançaram a vitória sobre, o vício, deixando do ser 
para elas uma tentação. 'Nesse ponto esta: santificado. Mini como se tornou . 'vi
torioso sobre urna te~,pode.chegar se'rlo 5.2bre.todo pecada Terminada a 
obra e alcançado triunfosobre o orgulki, a ambição: o amor ao mundo e todo 
o mal, :estará pronio para . a trasladação: Terá sidoprovado.em todos os pon-
tos O maligno terá vindo e nada terá achado. Satanás. não teráMais nenhuma 
tentação para ele. venceu a todos. Estará irrepreensível mesmo perante..0 
trono de Deus. Cristo.pára sobre ele seu selo..[...] 
'Assim sucederá com, a Ultima geração,que vive sobre a Terra. Por.meio 
dela, Deus efetuará a demonstração final do que pode fazer. com a• huma-
nidade.[...1. [Os crentes daiáltirna geração] estarão sujeitos a toda tentação, 
mas não cederão. Provarão que e possível viver sem pecar — demonstra-
ção queo mundo tem .aguardado [.,.]. Será evidente a todos que o evange-
lho pode, com efeito, salvar plenamente... 12. 3 • • . . . 
• . A citação: acima . éde•extreina importância na história adventista. Ten-
dências . e escolas de pensamento: têm se baseado. nessa abordagem do pe-
cado, justiça e perfeição. Wiestno sem negar a capacidade divina de salvar 
plenamente e a necessidade . de uma última . geração.'irrepreensiver que 
viva sobre a. Terra .(Ap 14:F4, tentarei demonstrar neste livro qu(a teoloi 
gia adventista possui duas maneiras distintas de definir o pecado ; as quaiS 
levaram a várias (mais de duas) 'abordagens.diferentes sobre a justiça e a 
perfeição dentro cia . denominação) • - . • 
tpste livro também defende, corri relação a este ponto, que o maior erro 
dos f.arisais.da antiguidade era sua definição de. pecador capitulo 2 abor-
da o. tema do pecada.° restante do livro, do capitulo 4 .até o 10, trata sobre 
justiça, perfeição e 'fé para trasladação: a partir de uma visão bíblica a.rés-
peito. do pecado. Enquanto isso, precisamos passar mais algumlempo cora 
nossos amigos: os fariseus: 
18 ) Pecado e Salvação 
0 PROBLEMA EM SER BOM 
A parábola do fariseu e -do publicam (Lc 18:9-14) é provavelmente á hie-
lhor ilustração do Novo Testamento acerca do problema da bondade hurna: : 
na. 'Dois hornens" conta lesits, 'subiram ao templo com•o propósito de Orar: 
um, fariseu, e o outro, publicam. O fariseu, posto -em pé, orava de si para si 
mesmo, desta fôrma.: eó Deus, graças [eu] te dou porque teu] não sou como 
os deitais homens, rotclores ilniustos e adúlteros, nem ainda corno este 
pubfican o; fedi jejuo duas yeZCS pôr semana e :eu} dou o dizimo de tudo quanto 
gan116. O publicano estando em pé, longe, não ousava neni ainda levantar os 
olhos ao céu, más batia no peito, dizendo: - I6 Deus, sê. propício a mim, peca-
dor!' Digo-vos que este desceu jústifieado para sua casa, e não aquele; porque 
todo o que se exalta será hurnithado; mas o que se humilha será exaltado: 
Precisamos destacar várias coisas a respeito dá oração do fáriseu. Lit 
primeiro lugar, sua oração não passava de um catálogo de suas próprias 
virtudes, tanto de uma perspectiva negativa quanto positiva. Além de não 
ser como as demais pessoas, de faz uma lista de S -euS. méritos. Por cinco ve-
zes, ele emprega o pronome pessoal 'eu' com relação as próprias virtudes. 
Para William Barclay, "o que . o fariseu etava. realmente Tazeádo era apre-
sentar a Deus urna carta de recomendação própria '. °24 Essa apresentação se.: 
baseava, obviamente, na simplificação do: pecado: O fariseu era Capaz dé 
quantificar sua justiça: podia contabilizar seus méritos. 
Em segundo lugar, ele era capaz: não só de quantificar sua justiça., mas 
também de se comparar aé).1 coletor de impostos e se sentir satisfeito consigo 
mesmo. -F.' o pior: ele se aproveitou dos pecados do seu semelhante para. 
construir sua autoirnagern.. Lutas kréscentá que o: fariseu em questão 
não só confiava em si mesmo, mas tambéni"desprezava os outros" qUe não " 
eram tão bons quanto ele_ Esse problema, triste é dizez continuou a infectar 
as personalidades farisaicas através da história. 
Em terceiro lugar, a parábola mostra que o fariseu; apesar de sua bon-
dade, encontrava-se totalmente perdidoespiritu.alinente. Ele orava apenas 
consigõ rrièsito ou de Si - para si mesmo (v -, I 1); rião tendo a menor- ideia 
de que estaVa perdido. Ern seu zelo ecorifiança por ser bom, conclua que 
havia conseguido. Poderíamos c.OrnparaLlo ao @Aúno Sirneon ben "Inchai, 
que afirmou certa vez: SC houver apenas dois homens justos no mundo, 
somos eu e meu filho: mas se houver só um, esse sou cuins I. • - 
Fariseus São Boas Pessoas 19 
•O fariseu da parábola demonstrOu que não compreendia a natUreza nem 
a profundidade do pecado. Suas ações davam a entender que, uri edionte o es-
forço cada vez mais intenso e frequente; ele conseguiria erradicar: o pecado 
de sua natureza. Essa atitude gerava urna forma de 'Santificação corrompida:: 
que cavava um profundo abismo entre a feem Deus e a vida diária. Os resul-
tados eram 'destrutivos para a vérdadeira.religião". 26 	. 
A parábola de Lucas 18 representa, portanto, a maneira pela qual a bus-
ca da justiça pode estar equivocada?? A raiz do problema era que para o 
fariseu, pecado e justiça não paSsavain de uma :série de ações, . em vez de 
uma condição da mente e :um: relacionarnentocom Nus. O fariseu tam-
bém não conseguia enxergar quekos sees1 hW -na:ri:OS são pecadores. por na-
tureza, e que . a bondade huma_na levando:se em contaa práperisão para 
o mal existente no coração só faz aá pessoas mergulharem maíS:profun-
damente no núcleo do pecado; ou seja, no orgulho e na autossnficiência.) 
: Ao opinar sobre o problema, Peter T. Eorsyth observou Tição hálpe-
cado mais sutil do que o pecado da bondade o pecado de "pessoas boas 
que pensam que são boas, mas não sãoni outro contexto, Forsyth iden-
tifica o farisaístno como "anticristão', porque se trata de uma religião cen-
irada noser humano.:Ellen 1,X■rhite concordá com essa avaliação, quando 
escreve que "os princípios nutridos pelos fariseus, porem, são os que for-
mam aá características da humanidade em todos os séculos. O espirito de 
Járlsalskno é oapíríto dá natureza- humánd: 
Sem uma compreensaodaprofundidadedo pecado, as pessoas carecem 
de um 'ingrediente fundamentar pata ry autoconheci mento. Essa wmpre-
ensão nos aluda a entender pcii: que os : seres humanos: praticam determina-
das coisis; desde as:infraçõesmais brandas até os crimes mais hediondos': 
: Um conceito adequado de pecado : nos permite Perceber, conforme 
observa Bernard Rammi que "somoá pecadores no Centro de cornando de 
rioSsa airna"::E desse centro. que saem as ordens para a ação, Perceber a pro-
fundidade e a natureza do :pecado também nes ajuda a compreender não 
só o petádo dá bondade: mas tambein a necessidade humana de depender 
inteiramente da salvação pela misericórdia de Deus1 29.: '• 
• Infelizmente; ofariseu de Lucas 18 não tinha nenhum desses discernitnen-
tos. roi por esse motivo que Jesus afirmou que esse hoinerni o qual procurava 
se autojustificar em sUa oração, não saiu dali justificado. "Pe todos -os pecados': 
20 Pecado e Salvação 
• 
lemos em ~bolas cie lesus, "o orgulho e a presunção" são No[s] que menos es-
perança incute [m] e o[s] Mais irremediáve[isr: Isto acontece porque não sen-
timos necessidade de ser bons. Por este motiVo,. o escritor puritano William 
Perkins caracterizava a bondade3:6, 9, ARC . "Sabemos que todo aquele que é 
nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si 
mesmo, e o maligno não lhe toca" (1Jo 5:18, ARC). 
Tomadas ao pé da, letra, essas passagens isoladas parecem descrever e 
exigir perfeição impecável de todo cristão. Já outros textos na mesma epís-
tola não parecem sugerir o mesrno. Por. exemplo, "se dissermos que não 
temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos"; "se confessarmos os nossos• 
pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados"; "se dissermos que 
não pecamos, fazerno-lo mentiroso"; "estas coisas vos escrevo, para que não 
pequeis: e, se alguém pecar, temos um a advogado para com o Pai, Jesus 
Cristo, o justo" (1 Jo 1:8-2:1, ARC). 
À luz desses dois conjuntos de textos, fica evidente que João estaria bas-
tante confuso ou então está trabalhando com uma definição de pecado,mais 
complexa do que a geralmente reconhecida por aqueles que levianamente o 
citam, dizendo que "Pecado é a transgressão da lei" (1Jo 3:4). ‘Eles ,dão :a esse 
texto uma interpretação baseada puramente no comportamento exterior.) 
Concepção Bíblica de Perfeição e Impecabilidade 1 163 , 
,..1 
O fato de João ter eminente Uma c~calplexaspIe eoado é evi-
dente não só pelas passagens citadas acima, mas também em 1 João 5:16, 
em que o apóstolo escreve que existe pecado "que não leva à morte" e pe-
cado "que leva à morte" (NVI). 1 
(s. diferença entre esse pecado que não deve se achar no crente ("pe-
cado que leva à morte,' 1Jo 3:9, 5:16) e aquele aberto à mediação de Cristo 
("que não leva à morte',' 1Jo 1:9; 2:1) reside na atitude da pessoa$ impor-
tante notar que em todas as passagens de 1João nas quais se exige impeca-
bilidade, os verbos gregos que descrevem as pessoas que pecara estão no 
tempo presente, denotando, assim, indivíduos que vivem em(um estado 
de pecado contínuo ou frequente) 5\-6 v 60 €5- 'P, c( '''S: )(c) ,\, c,F il 
Por outro lado, 1 João 2:1 nos lembra que, se pecarmos, temos uM -nrie-d'r 
diadot Nesse verso, o verbo está no aoristo [um tempo verbal do grego], 
indicando uma ação concluída no passado, que não está mais em curso ehumana corno "urna bela abominacãxf" 
O problema dos fariseus do mundo, porém, não se limita apenas a sua au-
tossuficiência. Os que se orgulham de sua bondade moral e de suas realizações 
religiosas ern geral também se estabelecem como juízes de outras pessoas. 
Ellen White expressou esse Conceito muito bem quando afirmou que 
todo aquele que confia em sua própria bondade, 'desprezará os demais': 
Como o fariseu, lulga a si próprio por outros homens, julga: os outros por si. 
Sua justiça é avaliada pela deles, e quanto piores; melhor ele se sente a seus 
próprios olhos. ''Sua justiça própria leva-o a acusar os. demais. homens" ele 
condena como tranSgessores da lei de Deus"' Ele manifesta, desse módo, o 
próprio espírito de Satanás, o acusador dos irmãos (Ap 12:10). 3 ' 
Esses são os frutos do pecado da bondade. Um dos primeiros sintonias 
visíveis dessa que é a mais grave de todas as enfermidades espirituais é o 
desenvolvimento de una espírito crítico; 
Outro sintoma de farisa(smo é a tendência' de fazer regras e mais regras; 
regulamentos e mais'regulamentostEmbora seja importante adotar padrões 
cristãos elevados; conforme iremos enfatizar nos capítulos subsequentes; cer-
tas maneiras de nos relacionarmos com esses padrões não são saudáveis. As 
coisas se tornam doentias no 'âmbito das regras e dos regulamentos quando 
passam a ser Vistas' como fins em si mesmas, e não corno meios de ajudar uma 
pessoa a amar a Deus e ao próximo de forma mais ampla) - 
OstariSeus multiplicavam regras para proteger a lei de Deus é faziam isso 
com toda a sificerid.ade. Afinal de contas, como diz a "lógica do terreno es-
corregadio; amenor imprudência em relação ao sábado poclelevar à violação 
total do quarto - mandamento. Foi pensando assim que os fariseus desenvol-
veram, conforme foi mencionado anteriormente, 1.521 regras para Proteger 
e resguardar Q sábado Eles também ampliaram suas prescrições alimentares. 
Seu apego exagerado à. pureza cerimonial nos rituais de adoração os levou à 
aplicação fanática da limpeza em todas as áreas da vida: 
Além de criarem esse amontoado de leis Complementares para res-
guardar e proteger a lei de Deus, instituíram outros dispositivos com os 
quais podiam Computar os considerados atos de justiça, conforme as 
Fariseus São Boas Pessoas J 21 
pessoas fossem pesadas diariainente nos pratos da balança da salvação. 
Esse modo de agir, porém, deixou as • pessoas .menos zelosas,: por ter de 
enfrentar árn catálogo cada vez maior, de "pecados': • . 
Essa forma de encarar a lei, o pecado .e , a justiça, ainda que com a boa 
intenção de honrar a Deus e proteger seus .mandamentos, infelizmente 
acabou produzindo um resultado aposto ao que sé esperava. Foi por isso 
que Jesus relembroU aos fariseus que as leis .deles. não tinham todas a mes, 
ma importância, quando afirmou que ao.sábado foi éstabelecido por causa 
do homem; e nao o homem por cosa do sábado" (Mc 2:27): .. • • • 
(Em seu zelo pelas regras que eles próprios haviarn criado, esqueceram -se da 
lei do amor; que. dá sentido a todas as'ilegraspa verdade, foi sua obsessão. por 
regras que os levou a perseguir aqueles que 'pareciam violá,las, como no caso 
do paralítico curado, que foi visto carregando seu leito !, -jo 5945)„e do cego de 
nascença, que foi curado por .Jesus (Jo 9:1-34)„ ambos. em uni dia de sábado.: 
Para os fariseusia letra da lei (neste caso, que nenhuma obra deveria ser 
realizada nó sábado) era•mais importante do que seu espírito! Jesus foi fron-
talmente contra essa ênfase, Infelizmente, a atitude deles, se desenvolveu 
em um ódio cego e fanático, culminando conta morte do Salvador na cruz. 
p papel. dos fariseus na crucificação representou. o clímax . da.coníit-
são espiritual. Em seu desejo de proteger a lei, crucificaram. o Messias, que 
havia promulgado a própria le.i: Embora adotassem unia ortodoxia rígida, 
faltava-lhes o amor. Confundiam bondade moral e ortodoxia com religião; 
Sado de Tarso foi o exemplo típica dessa mentalidade. William Coleman 
descreve Sauloyivannente como alguém que "havia entrado no. círculo se-
Vero daqüeles qUe.assassinariam,por causa do.amar7 1 • • 
• Esse amar; porém, .enfocava o ideai erradoLo porque as pessoas são since-
ras em seus motivos, não significa que estão corretas em suas. aCõesps Odres 
velhos das concepções de Sado acerca dapeeado .e da justiça só se ron-iperam 
quando do passou pela .experi.encia da estrada de Damasco .(Al . .9:1-9). Foi a 
partir de:então que ele passoti a pregar um evangelho diferente.. .. • 
• Um problema estreitamente relacionada com a dureza do coração 
thrisaieo era a tendência .de dar Uma aparência exterior .à religião, Afinal, 
conforme ressalta Çoleman, "qual a vantagem de .viver .urna vida, justa, se 
ninguém sabe disso?' Portanto, cséi há urna coisa mais importante do que 
ser humilde: é parecer hurniide?'• • • • • . • 	. 
22 1 Pecado e Salvação 
• Dois dos sinais exteriores mais evidentes da piedade farisaica. eram o 
uso ostensivo de filactérios (pequenas caixas contendo trechos: escritos da 
lei, presas à testa e ao antebraço esquerdo) e franjas (tiras de fios pendentes 
dos cantos das roupas judaicas que serviam corno lembretes da lei). 
: Foi pensando na maneira pretensiosa como os fariseus usavam esSes 
símbolos, que Jesus afirmou: "Praticam, porém; todas as suas obras com o 
fim de serem vistos dos homens; Pois alargam os Seus filacterios e alongam 
as suas franjas: Amam o primeiro lugar nos:banquetes e as primeiras ca-
deiras nas sinagogas; as saudações nas praças e o serem chamados mestres 
pelos :homens" OvIt 23:5-71: 
.• A aparência se tornou a questão-chave para muitos fariseus, Inúmeras 
de suas praticasteligiosas diárias eram planejadas para obter° efeito maxi 
mo em uma exibição pública: Assim:sendo, :caso chegasse a bora da oração 
e eles estivessein no meio de urna estradase Curvavára alí.mesmo,.. atrapa-
lhando o trânsito, 'ate que a ocasião solene seguisse seu:c urso!' (cf Mt 6:5, 6). 
Repetidas vezes Jesus entrou em conflito :com os farisetis porque eles, em 
geral; enfatizavarn Mais o exterior do que o interior:" ;. 
Foi:parouos aspectos hipócritas. do farisaismo que Cristo dirigiu algu-
mas de suas mais severas reprovações. tem profetizou Isaías a respeito de 
vós, hipócritas, corno está escrito: 'Este povo honra -mei com os lábios; 
Mas o seu coração -'está longe de mini" (Mc 7:6; cf Is 29:13). Em outra 
ocasião, o.'rrieigo Jesus: os acusou - de serena `Iguias cegos'; que :Coavam 
mosquitos; ma.sj'engolfam] camelo?: (Mt 2324). 
. Os antigos judeus:estava:ilibem dentes do problema da hipoérisia fari-
saica. O Talmudeenumera sete classes de fariseus, dós quais cinco eram hi-
pócritas ou toloSexcêntricos: "(1) `o -fariseu ombro;que IS, por assim, dizer, 
suas boas ações ostensivamente sobre os ombros; (2) fariseu espereum-
poucc; que sernpre diz; 'Espere unn pouco até que eu tenha praticado a boa 
ação que me espera:;: (3) 'ó fariseu macliucadc‘ que, a fim de evitar olhar para 
urna mulher, abaixa a cabeça e acaba chocando-se contra o mtiro, ficando 
machucado e sangrando; (4) `o . fariseu pilão; que carninha tão cabisbaixo 
que se parece com um pilão em um: almofarii; (5)@ Fariseu acerfo-de. 
contas' 'que diz: teixé-me saber o que PossoVazet de bom para neutrali-
zar o que fiz de ruim'j(6) fariseu temente a Deus' a exemplo de lio; e (7) 
fariseu que ama a Deus à maneira de Abi,aào.'3n 
Fariseus São Boas Pessoas I 23 
Podemos supor que muitos fariseus pertencentes às duas últimas daS-
ses reagiram positivamente ao chamado de Jesus. Eles também estavam 
fartos dos abusos farisaicos. Essa foi a razão dé alguns deles terem adver-
tido Jesus da conspiração de Herodes (Lc 13:31), ei de Nicodemos ter ar, 
riscado corajosamente sua carreira e sua vida ao desempenhar um papel 
central no sepultamento do Senhor (Jo 3:1;.19:38-40), 
Ao que tudo indica, depois do Pentecostes, muitos fariseus se converte-
ram ao Cristo ressuscitado (At 15:5). EM:boracristãos conversos, tiveram de 
lutarbravamente para se livrar das armadilhas de .sua antiga religião, cheia 
de normas, exterioridades; ênfase nó mérito humano e tendência de criticar 
e até mesmo perseguir os que-não viviam à tira dos padroes qiie impunham 
ai mesmos e à igreja (ver, por exemplo, Atos 15 e o livro de Galatas). 
(0 fato de o espírito farisaico ter se infrindo no cristianismo; fot urna das 
experiências mais infelizes da igreja apostólica: Como o cavalo de Tróia : dos 
tempos hoffiéricos, essa mentalidade se tornou uma a rh eaea. mortal para o ver-
dadeiro cristianismo. Paulo gastou grande parte dé seu mtério combatendo 
o Tarisaísmo bati zaclo,rmas ainda assim não conseguiu destrui-lo totalmente.) 
: 0:FARISMSMO: AINDA VIVE 
A triste verdade e que o farisaismo.continua a existir! na igrejat mesmo 
dentre do adVentisMa A razão pela qualele ainda esta vivo (e bem vivo) é 
que não se trata:de um grupo histórico; mas de um- estado de espírito. Em 
essência, o fariseu éio que a Bíblia. chama: de "o homem natural"; a pessoa 
satisfeita consigo mesma, 'em parte porque confunde a verdadeira justiça 
com uma vida moralmente correta. 
Sob muitos aStieCtOS, á problema principal dos fariseus é sua genuína bonda-
de. Essas pessoas não serrtem necessidade de Cristo. Do ponto de vista humano, 
elas se orgulham -de suas :realizações morais. "É possível fazer Ig0 por um, peca- 
dor endurecido': escreve Peter T. Forsyth. pode ser quebrantado. Mas-não sei 
o que se pode fazer pot una santo viscoso, como aqueles que sé encobrern com la, 
absortosno confOrto de Sua religião, curtidos como couro, n -iácios e:resistentes 
como uma luva porseus frequentese penosos batismos [...j. Existe algo:mais cern-
fortavel, egoísta e sem esperança [...]tuando á religião é desvirtuada para setor-
narapenas um meio de obter conforto e:satisfação, cria-se.uma couraça exterior 
tão duraque nem mesmo agraça de Deus consegue atraveSsar,',"39 
24 1 Pecado e Salvação 
Um dos grandes problemas das•pessoas moralinente. respeitáveis é não 
perceber como estão perdidas em seu estado natural nem .como depen-
ciem inteiratne.nte da graça de Deus. Esse problema se torna ainda mais • 
grave quando esses indivíduos possuem muitos bens materiais. Moradores 
de rua reconhecera sua necessidade, mas aqueles .a quem a Bíblia caracte-
riza como cristãos de Laocliceia não sabem que são infelizes, miseráveis, 
pobres, cegos e nus. Não sentem necessidade de refinamento . "pE.40 fhgo 
de "vestiduras brancas" nem de "colírio" paia ungir os olhos (Ap 3:15-18). 
.Com isso em mente, não é difícil concordar corri a afirmação de Coleman, 
de que "os fariseus são nossos primos não muito distantes. Eles fizeram bem 
pouco afim de que não precisássemos nos esforçar muito para rivaliza-los 
em ação ou em espirito. Costumamos usa-los como saCos de pancada, 
quando na verdade eles se. sairiani.melhor corno espelhos! -7 • 
Seta p‘rimeira tentação do fariseu moderno e se orgulhar de suas realiza-
ções espirituais; a segunda é a de ser crítico dos outros)Como bem o disse 
Einil Brunner, 'mostre-me alguém quenão seja fariseu. Qual de nós não de-
seja wn pequeno trono no qual possa se sentar para julgar os oiatros? • : 
Não pode haver nada mais destrutivo do que um espírito critico. No 
entanto, ainda que pareça .bem estranho, muitos dos chamados cristãos 
vivem criticando seu pastor, sua igreja e todos aqueles. com quem não 
concorclam)Basta apenas parar para escutá-los por um momento; Os fari-
seus modernos são tão "bons" em criticar quanto seus antigos•homologos. 
(Sempre que uma pessoa: está mais disposta a criticar do que a ver os 'poli-
tos positivos, ela apresenta os sintomas de farisaismo.) • 
( Foi esse espirito que dividiu a assembleia da Associação Geral reali; • 
zada em Mineapolis em 1888.3' E o mesmo espirito continua a assolar .o 
adverasino sempre que certos extremistas multiplicam regulamentos :e 
criticam tudo; desde a. maneira corno as pessoas se comportará diante de 
Deus. ate. o que. podem (ou não) comer.) • . . E • • 
pm• dos problemas dos fariseus.e que, embora -conheçam todás as re- • 
.gras sobre a caridade, nunca aprenderam realmente á amar ;as pessoas. Em 
1888, Ellen .White se referiu .a essas pessoas como "icebergs.morais, frios, 
sem alegria; sombrios e hostis 7:4°): 
• Todos nós conhecemos éSses indivíduos, e alguns de. nós (inclusive eu 
mesmo) até já partilhamos de seu espírito em nosso zelo:pelos detalhes da 
Fariseus São Boas Pessoas 25 
doutrina e do estilo de vida adventista: 'ativemos nossos grupos de estudo 
e realizamos infindáveis discuSSões' sobre as nriinúcias dá lei. M.akde vez 
em quando, um choque de realidade nos. atinge, fazendo-nos compreen-
der que é mais fácil passar uma dúzia de liará discutindo aletra da religião. 
do que passar alguns minutos, obedecendo a Seu espírito) 
Para ser sincero, pessoalmente eu :acho mais fácil multiplicar regula-
mentos do que cuidar verdadeiramente dás pessoas. A verdade chocante é 
que por baixo da pele de cada um de nós pode estar escondido um fariseu, 
procurando impor o seu espírito sobre uru:mundo desprevenido e uma 
igreja que considera sem muitos merecimentos.) • 
Somos tentados náo só a il. -11i La r os judeus da antiguidade na recriação 
de um iTivlislwah." de interpretações orais.para impera rlaSSOS semelhan-
tes; mas (pior ainda)41guris de rios procuram colotar a própi'ia cam isa de 
forca teológica erri. Deus. Os fariscus de 'todas as gerações estão ocupados 
"criando' um Deus do Céu a sua própria, imagem religiosa.) . • . 
' Ver George. R. Kl-light ; .'roá's'tfthrist: Géd's Work for lis, (Hagerstbilln, MIE Réview 
and Herald, 2008), p.13-17. 
'Pha.riscesi: Theléwish Encyclopecii,a (Nove York; NY Fiink &Wagha lis, 1905). • 
Cedi Rnth e Geoffroy Wigoder, éds.: "Pfriarisees'; Encyclopmetwludaieá (Nova York, NY 
Idacmillan Ciorripariy, 1972):• • 
4 George. Foot Moore, Judaism in me First Centuries vfthe Christieth Era: lhe Me ofãe 
Tánnaim (Cambridge, MA: Harvard Univerity Fress, 1946); V1, p, 235-262; Isaac Landruary 
ecL tharisees', Trie. Universal ,km:sh Fncyclopedia ',Nova York, NY 'The LiniveiÁál llevvish 
Encyclopedia Inc., 1939-1943. 
Lanfirnáni . 	•• • 	".• 	• ; 	• • 	• 	• 	• • 	• 	• 	• 	• • • • 
•Morim, p. 259. 	• • 1 • 	•• • • 
7 Ibid. ; V. 2, p. 28. Wr exemplog em Doo F. Neufeld e Mia Neuf:cid, eds.,"'SábbatlY;Seventis 
day Aditentist Rible Stúdáits' Sof/scr.:017w' k (Washington, DO Roview and .1 leraki, 1962). • 	• 
• .Jerechfir Jeremias, JeSátefri•in the Tune gr/agi (Philadelphia,'We. Fártress, 1969)0,265-267.. 
9 Bábylonian 22dmud, Sanhedrint 9711, Shabbati 11 Sb; Jru2zfrn rahnuch "rmith 64t. • 
13 Flávio Josefo, A Antiguidade dos Judeus, XVII.2.4; Jeremias, p. 246, 252: 
" • A: resÉ)eito da ascènão dos fariseiis, ver Moore, v. 1, p. 3••• 124. limis finkStein, lhe Pharisees: 
lhe Sociokgical Bactround of 71-kr 	(Pftiladelphia, PÁ: Jewish •Publicálion Society . 
America; 1938), v. 1, p;73 1-81 rJérernia p. 246-267; Geoffrni W. 13rorniley et •ai„ ed s., "Pha- 
risees1; ilie .Internationial Stándard.aibleEntycioPedia (Grand Rapids, 	Vil B. EerdmanS, 
1977-1988). 	 . 
26 I Pecado e Salvação 
rabinisrno judaico floresceu mais nó período p&-bíblico, abonos especialistas no 
assunto acreditem que os pontos de vista rabinicos preçlominav:am entre os fariseus•
época dó Novo Testarrierite. 
As.trés últimas décadas do século 20 testemunharam um viga roso debate sobre ô lugar 
da leito judaísmo e sobre a natureza do próprio•judaismo rabinice. Para urna visão global 
sobre o tema, ver Stephen Westerholm, "The 'New Perspective' Tweniy-five.• em n 1). 
A. Carson, Peter TOBrieri, e Ma& A. Sbilrid, c ds., Justifiátión 'and :Varlgated Nomism, 
(Grand Rapids; MI: Baker Academie, 2004); v 2, p..1-38. 
" Roth e \Vigida "Sin1VInore, v. 1,p, 479. 	. 	. 
14 Moore, v. 1, p. 479, 489492. 	 • 
" E. P. Sariders, Pau! ci áJi Padestinlairlidaísin (Philadelphia; 	PA: Fortress, 1977), IS. 114, 115. 
• Mcioréj'w. 1,11 509, 510, 521; George Eldon I Md, A -Theology of theMS 71-ntament (Gráhci 
1Rapids, MI: EÉrdmans, 1974), 0. 496498, 499: 
Ladd p. 497. 
" Gerhard Kittel ed:, "Dikaios", theological Dictiánary o( the Arem) Tsta.rnent (Grand Rapids, 
MI:Eérdrnans, 2006);Mshiuth, Aboth 3:16 (parênteses no original). 	• 
19 Yerushalmi Peah 1J, citado em Roger Brooks; lhe Spirtt ofthe.1:én Çommandments (San „Fran-
cisco, CA: Harper & R..bw, 1990), p. 10,1Xrernet Foerstet From the Exile to Christ (Philadelphia, 
PA: Tortress, 1964), p. 218; 219;J. Á. Ziesier, 71te iffeáning of R{ghteousness ta Paul (Carribridge, 
Inglaterra: Cambridge University Press, 1972); p:122. 	 : 	 " 
2C1 Para um debate sobre o pecado como rebelião, ver SolomonSchechter;i1spects• ofRabbinic 
777eology; ivlajor Concepts of the lidmtui (Peabody, MA: Hendrickson, 1998), p.219, Bruce D. 
Chilton e jacob Neusner, Classicai Christianity and Rabbinic Judalsm: Comparingilheologies 
(Grand Rapidá. MI: Baker Academie, 2004): p. 185 .-192 
/ 1 Mo-ore, v. i,p. 461, 465, 466; Walther Eichrodt iheology of the Old Testament, trad. j. A. Baliza 
(Londres, Inglaterra: SCM Press, 1967), v. 2, p. é101: . Gerhard Kittel, ed., "IhEamartario; Theological 
Dictionary afthe New Testament 
22 j. Bonsirven, Palestinian Judalsyn. íg the Ilme ofiesus Qrrist. trad..W. Wolf (Nova.York, NY: 
1,:(oit,,Rinehart and Wiusto,n, 1964),p. 95; ver também Mt 11:29; At 15:10.. 	„ 
M. L. Andreasen. °Ritual do Santuário, 3a ed. rev. (Santo André; SP: Casa Publicadora 
Braáleira, 	p. 243 (grifo 'nosso). , „ 
WiIIian : B&clayç Fie Gospel of Lake, 3á ed., D.aily Study Bihie (Edinburgb, Inglaterra: lhe 
Saint Andrew Ptess,1956), p. 232. 	. 	. 	„ 	. 
25 Rabbi Sá-Icon ben joc.hai, citado em ibid., p. 233. 	 . 	. 
Gerrit. C. Berkouwer,Faith and Sanctífication (Grand Rapids, MI Eerdmans, 1952), p. 120. 
21 Peter Toon, Justification and Sanateation (Londres, Inglaterra: Marshall Mórgan and 
&Jati, 1983), f)v 18. •. . 
Peter T Forsyth, citado em A. M. Hunter, Peter-i: Fonyth (Philadelphia, PA: Westminster, 
.1974), p. 58; Peter 1. Forsyth, 71.2e. M.srificatkin of 	(Londres, Inglaterrà: Latimer :House, 
1948), p.,..116; Ellen G White, O Maior Discurso de Cri,sto (Taruf: Casa Publicadora Brasi-
leira ; 2001 lCD-Romj), p. 79 (grifo nosso). : . 	 . 	. 	: 
29 Bernard Ramm,. Offems to Reasnn: A Thc:ology ofSin (San, rancisco, ÇA: 1-larper & Row,
• 1985), p, 116, 1 47 (grifc nosso). 	 • ,•
32•Ellen G. White, PanOolas de Jesus (.Talml: Casa :Publicadora Brasileira, 2001 [02-Rorn]), 
p. 154; Alan - Simpson, Paritanism in 214 and New England (C1-1,.ica..0, MI: Uniyersity of 
Chicaao Press. 1955), n. 
Fariseus São Boas Pessoas I 27 
" Ellen G WI-Lite,fianíboias cieJesuis (Tatuf: Casa Pullieadora Brasileira, 2001 [CD-Rorn] ), p. 151. 
32 William L. Coleman, 7he Phariseed Guide to Total Hohness (Minneapolis, MI: Beth2.ny 
1-fou.se, 1977); p. 113. 
3' 	Ibid., p. 116. 	 , 	, 
p. 29. 	 . 	. 
"Pharisee", 7he Jewish Ffi)clopedia 
33 Peter. 1 Forsyth, 7hÉ 1Vork cif Christ (Londres, Inglaterra: Hodder and Stoughton, 
p. 161, 162. 
Coleman, p. 123. 	 • • 
"32 [mil Brunner; 27;e Mediatpr, trad. Olive :',Xfyon (Nova York, NY Macmillan, 1934), p. 494. 
George R. Knight, Frorn 1888 to Ap6sta:sjii lhe Case it 4 I7ones (Washington, DC: Review 
ancl Herald, 1987); I): 44, 45; GeoràeR. Knight Aúgrj".■ Setüts.: Tensións and Possibilities in thé 
Adyentist.5truÉle ()ver Righteolovess by hzith (Washington; 1),(J: RèviÉw and 1-1epld, 1989), 
p..81199. ; • 
4° Carta de Ellen G White a G. 1. Beller, 14 outubro de 188?..: 
• 	'' 	• 	' 
CAPÍTULO 2 
Pecado Original e Não Original 
Acultura secular moderna, apesar de toda sua riqueza e do conhecimen-
to, torna-se um vácuo paradoxal quando se começa a compreender os 
problemas à nossa frente. "Por mais que tentemos:' escreve o psiquiatra 
Karl,Menninger, "é difícil conceber nosso universo em termos de concórdia; 
ao contrário, somos confrontados em todos os lugares com as provas do con-
flito. Amor e ódio, [ai criação e destruição — a constante guerra de tendências 
opostas é o que parece ser o coração dinâmico do mundo2 
A cultura moderna, entretanto, também fica impotente diante do mal, 
porque jogou fora a chave explicativa. Trinta e cinco anos depois de escre-
ver a declaração acima, Menninger ainda se debatia com a questão, desta 
vez em um volume pioneiro intitulado Whatever Recame of Sin? ["0 que 
Aconteceu com o Pecador]. Ao discutir os fundamentos da cultura mo-
derna, ele ressalta que "pecados se tornaram crimes; e agora, crimes estão 
se convertendo em doenças': O resultado é que o conceito de doença se tor-
nou, na maioria das vezes, um dispositivo para se eximir da responsabilida-
de moral. A sociedade, argumenta ele, não pode recobrar a saúde enquanto 
não considerar seriamente o esquecido conceito de pecado? 
Outro psiquiatra, Orval Hobart Mowrer, colocou a questão de manei-
ra sucinta quando advertiu: "Enquanto negarmos a realidade do pecado, 
estaremos, ao que parece, nos afastando da possibilidade de redenção [re-
cuperação] radical? 
Esses psiquiatras, pertencentes a um grupo profissional tradicional-
mente desfavorável ao cristianismo e ao "pecado': acertaram em cheio no 
problema central da Bíblia e da existência humana. Teólogos cristãos têm 
reconhecido a centralidade do pecado desde os tempos do Novo Testa-
mento. Para G errit C. Berkouwerl,"qualquer tentativa de minimizar nosso 
pecado se opõe radicalmente a toda a mensagem bíblica':fiames Stalker 
acrescenta que ttodas as heresias têm sua origem em uma noção inade-
quada de pecado': 4 j;) 
, 
Pecado Original e Não Original I 29 
O apóstolo Paulo nos ajuda a 'perceber que uma compreensão cor-
reta do pecado, além de ser de suma importância para compreender o 
problema humano, é também o elemento crucial para entender a salva-
ção. O livro de Romanos, por exemplo, embasa seu argumento tanto na 
profundidade como na universalidade do pecado. Enquanto o primeiro 
capítulo demonstra que os gentios são pecadores, o segundo capítulo res-
salta que os judeus não são melhores, já que praticam "as próprias coisas" 
que condenam (Rm 2:1). A pedra fundamental da doutrina paulina da re-
denção é a declaração de que "tanto judeus corno gregos, estão debaixo do 
pecado" "Todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm 3:9, 23). 
Somente depois de levar seus leitores a essa conclusão é que Paulo 
pode começar a desenvolver uma doutrina adequada da salvação. De fato, 
ele inicia a tarefa no versículo subsequente. Visto que todos são pecadores 
(v. 23), todos os que são salvos devem ser "justificados gratuitamente, por 
sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus" (v. 24). 
Nos capítulos seguintes, o apóstolo se empenha em mostrar como 
Deus resolve o problema do pecado na vida humana por meio da justi-
ficação e da santificação; vamos passar bastanteS tempo analisando esses 
termos teológicos nos capítulos 4 e 5. Por enquanto, seguindo a tradição 
iniciada no livro de Romanos, usaremos o restante do presente capítulo 
para estudar a natureza do pecado. 
É importante reconhecer quetuma doutrina inadequada de pecado 
levará inevitavelmente a uma doutrina inadequada de salvação) Edward 
Vick ensina corretamente que "o primeiro elemento na perfeição cristã [ou 
em qualquer outro aspecto da salvação] é reconhecer que somos pecado-
res" Isto, adverte ele, não significa apenas reconhecer que cometemos os 
atos pecaminosos a, b e c "Significa, antes, reconhecer que somos o tipo 
de pessoa que pratica tais coisas. [...]. Reconhecer que somos pecadores 
significa admitir que existe um poder que nos domina e nos impede de ser 
o que Deus quer que sejamos. Esse poder é o poder do pecadd 5 
Por isso, nunca será demais sublinhar a importância da profundidade do pro-
blema do pecado. Quando Paulo escreveu que tanto judeus quanto gentios "es-
tão debaixo do poderdo pecado" (Rm 3:9, RSV), ele quis dizer exatamente isso. 
Por subestimarem o poder do pecado, os fariseus pensavam que poderiam 
vencê-lo deixando de cometer os pecados a, b ec. O problema central com 
30 1 Pecado e Salvação 
essa tendência é que, mesmo depois de parar de cometer os pecados a, b, e c, 
o poder do pecado ainda subsiste, e nós continuamos a ser pecadores. Nosso 
remendo externo, apesar de todo o esforço empregado, não resolve nada. 
Trocando em miúdos, a adequação de nossa concepção de pecado de-
terminará a adequação de nossa concepção de salvação. Millard J. Erickson 
observa com grande lucidez que "se o ser humano for basicamente bom 
e suas faculdades intelectuais e morais estiverem essencialmente intactas, 
então qualquer problema que ele encontra com respeito a sua posição dian-
te de Deus será relativamente menor': 
A dificuldade essencial da vida, para essas pessoas, talvez seja a igno-
rância ou a privação socioeconôrnica. Nesse caso, um ajuste no sistema 
econômico ou a "escolarização resolverá o problema; é possível que tudo 
quanto elas precisem seja de um bom modelo ou exemplo': "Por outro lado, 
se os seres humanos são corruptos ou rebeldes e, portanto, não podem 
ou não querem fazer o que sabem ser correto, será preciso uma cura 
mais radicar.' Portanto, quanto mais grave nossa concepção de pecado, 
"mais sobrenatural será a salvação de que necessitarnos 1: 6 
Os fariseus têm, ao longo dos séculos, minimizado sistematicamente 
o que Paulo chama de o "poder" do pecado na vida humana Como con-
sequência, tem sido superestimada a capacidade humana de lidar com o 
problema do pecado. 
Ellen »Vhite se refere a esse ponto quando escreve que "a educaçã.o, a 
cultura, o exercício da vontade, o esforço humano, todos têm sua devida 
esfera de ação, mas nesse caso são impotentes. Poderão levar a um pro-
cedimento exteriormente correto, mas não podem mudar o coração; são 
incapazes de purificar as fontes da vida É preciso um poder que opere 
interiormente, urna nova vida que proceda do alto, antes que os homens 
possam substituir o pecado pela santidade. Esse poder é Cristo7 
PECADO ORIGINAL 
A universalidade do pecado 
Um dos grandes fatos da vida é o problema do pecado. Deparamo-nos 
com ele por todos os lados. Urna prova de seu poder e prevalência é o fato 
de cada país ter a necessidade de um exército, policiais, juízes, tribunais 
Pecado Original e Não Original 1 31 
e sistemas penais. O teólogo John Macquarrie dá especial relevância ao 
problema quando escreve que ao "olharmos para a condição humana 
atual, percebemos um transtorno enorme na existência, uma patologia 
que parece se estender por toda a vida, quer a consideremos do ponto 
de vista coletivo, quer do individual" Reinhold Niebuhr foi ainda mais 
sucinto quando sentenciou: "Onde há história [...] há pecado:'s 
Portanto, 4jiesmo que a Bíblia não existisse, ainda haveria uma doutrina 
do pecado. O pecado está inscrito na própria estrutura da existência. \ Es-
critores pagãos da antiguidade, bem como filósofos, literatos, sociólogos, 
psicólogos, políticos e outros teóricos da atualidade, atestam-lhe a universa-
lidade. O romancista secular John Steinbeck expressou esse conceito com 
exatidão ao confessar: "Creio que só há uma história no mundo e apenas 
uma [...]. Os seres humanos estão presos em sua vida, em seus pensamen-
tos, em suas fomes e ambições, em sua avareza e crueldade, bem como em 
sua bondade e generosidade, em uma rede tecida pelo bem e o mal? 
Em decorrência dessas percepções, James Orr escreveu: "A doutrina cristã 
da redenção [e da queda] com certeza não se baseia na narrativa de Gênesis 3, 
mas na realidade do pecado e da culpa do mundo, que continuaria a ser um 
fato, ainda que o terceiro capítulo do Gênesis jamais houvesse sido escrito' .'w 
Os cristãos, como seria de se esperar, consideram Gênesis 3o relato do 
pecado original humano. Além• de Gênesis 3, dispomos também de Ro-
manos 5:12 que declara: "por um só homem entrou o pecado no mundo, 
e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, 
porque todos pecaram." 
Mas Romanos 5 não é o único texto bíblico a atestar a universalidade 
do pecado. Romanos 3:9-23 apresenta repetidas vezes o fato de que 
"todos pecaram" enquanto Jeremias 17:9 declara que o coração humano 
é "enganoso [m] , mais do que todas as coisas, e desesperadamente 
corrupto" Efésios também revela que as pessoas são, "por natureza, filhos 
da ira" (Ef 2:3), e Romanos afirma categoricamente que Deus "a todos 
encerrou na desobediência' (Rm 11:32). De acordo com Davi, essa condição 
pecaminosa existe desde o nascimento. "Eu" admite o salmista, "nasci na 
iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe" (S151:5). 
Embora Romanos 5:12 estabeleça os fatos de que (1) Adão pecou e (2) 
todas as pessoas pecaram em decorrência do pecado de Adão, o apóstolo 
32 1 Pecado e Salvação 
"não assume a tarefa de definir a maneira exata como se chegou a esse re-
sultado': Com efeito, conforme sugere Bernard Ramm, "a intenção original 
de Paulo aqui não é acusar a humanidade de ser pecaminosa. Ao contrário, 
o que ele está descrevendo é a gloriosa redenção em Cristo': A acusação 
formal já havia aparecido em Romanos 1:17 a 3:23. 11 
Embora Romanos 5 não explique o processo de transmissão das conse-
quências do pecado de Adão para a sua posteridade, outros textos em ambos 
os testamentos indicam que isso ocorre. (iGênesis 5:3, por exemplo, declara 
que 'Adão [...) gerou um filho a sua semelhança, conforme a sua imagemp-
mos aqui uma distinção bem clara entre o Adão não caído, criado à imagem 
de Deus; e seu filho, gerado à imagem do Adão caído. Esse tema reaparece 
em Gênesis 8:21, em que Deus afirma, ao término da história do dilúvio, que 
"é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade': 
Jesus disse algo parecido a Nicodernos:t0 que é nascido da carne é car-
ne; e o que é nascido do Espírito é espírito" (Jo 3:6))Aqui, como nos escritos 
paulinos (cf. Rm 7:17, 18; 8:5, 8, 9, 13; Gl 5:24), o termo "carne" se refere à 
condição moral da humanidade, e não a sua natureza física. 
Visto de outra perspectiva, o problema do pecado, que se origina em 
Gênesis 3, não termina aí. Continua em Gênesis 4, com a história de Caim 
e Abel; em Gênesis 6, com a geração de Noé; e por toda parte no restante 
das Escrituras e da história humana. { 
(O conceito de pecado original ou inicial nos ajuda a compreender tan-
to a nós mesmos quanto o mundo que nos rodeia, ainda que não consi-
gamos entender plenamente como funciona sua transmissão. Sem uma 
noção do pecado original, escreveu Blaise Pascal, "continuamos incompre-
ensíveis para nós mesmos':") 
A natureza do "pecado original" 
Levando em conta que tanto a Bíblia como nosso mundo cotidiano 
demonstram a universalidade do pecado, a próxima pergunta deve estar 
relacionada com a natureza do pecado. Qual foi o legado recebido pelos 
filhos de Adão como herança da queda? As duas respostas mais populares 
são culpa e natureza decaída. 
Muitos, porém, rejeitaram o conceito de culpa herdada. Um deles foi 
o profeta Ezequiel, que escreveu: `A alma que pecar, essa morrerá; o filho 
Pecado Original e Não Original j 33 
não levará a iniquidade do pai, nem o pai, a iniquidade do filho" (Ez 18:20). 
Moisés empregou o mesmo argumento quando declarou que "os pais não 
serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos, em lugar dos pais; cada 
qual será morto pelo seu pecado'''(Dt 24:16). 
A razão para essas prescrições é que o pecado é uma coisa pessoal. No livro 
de Tiago, lemos: "Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz 
nisso está pecando" (Tg 4;17) (Mas o pecado não é só pessoal, é também moral.) 
Conforme veremos mais adiante neste capítulo, o pecado é uma escolha volun-
tária contra Deus. Pelo fato de o pecado ser tanto moral quanto pessoal, Ramm 
chegou :à justificada conclusão de que "a culpa de uma pessoa não pode ser im-
putada a outrd Um teólogo do século 19, Washington Gladden, se refere à ideia 
de Deus punir indivíduos pelo pecado de Adão como uma "teologia imoral: 2 
Por outro lado, Ellen White, em pelo menos um de seus escritos, parece 
dizer que

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