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O Período Sociológico da Escola Positiva: Ferri Osvaldo Hamilton Tavares (Procurador de Justiça) (Dedico este trabalho ao Dr. Luiz Felipe do Vale Tavares, ao Dr. Túlio Tadeu Tavares e ao Dr. Omar Tavares de Almeida). Enrico Ferri (1856-1929), inspirado na filosofia comteana e nas teorias de Darwin e Lamarke (Salgado Martins, op. Cit., pág.70), inaugurou o período sociológico Criminal, que no seu entender, seria uma ciência enciclopédia do crime, da qual o Direito Penal constituiria um capítulo (Magalhães Noronha, “Direito Penal”, pág.36). Na Introdução de sua “Sociologia Criminal”, Ferri enuncia os princípios da Escola Positiva. Segundo seu entender, A Escola Clássica perdeu-se em estéreis especulações de natureza metafísica, que tão bem sintetiza a teoria Carrara, que via no crime apenas uma entidade jurídica. Desenvolveu Ferri o trimônio causal do crime – fatores biológicos ou antropólogos, físicos ou cosmo-telúricos (estações, temperatura, condições atmosféricas, topografia do solo, produção agrícola etc.) e sociais constituição da família, a religião, a densidade da população, o alcoolismo, a organização política e econômica, o sistema legislativo, a educação). Explanou s tese da negação do livre arbítrio, apresentando a teoria da responsabilidade social: O homem só é responsável porque vive em sociedade. Se o homem não é livre, também não o é o Estado, na sua necessidade de coibir penalmente os delitos, para defesa do direito e da sociedade (Ferri, “La Sociologie Criminelle”, trad. de Léon Terrirer, 1914, pág. 392). Preocupou-se fundamentalmente com a prevenção dos crimes, propondo medidas destinadas a neutralizar as múltiplas condições mesológicas, especialmente as sociais e econômicas, na causação dos delitos. Assim, formulou a conhecida teoria dos substitutivos penais, tornando a profilaxia criminal uma preocupação constante. Com fulcro no trinômio causal dos fatores dos delitos – antropológicos físicos e sociais – classificou os criminosos em cinco categorias: nato, louco, habitual, ocasional e passional. O criminoso nato, na classificação de Ferri, é o tipo instintivo de criminoso, descrito por Lombroso (Basileu Garcia, op. cit., pág.98), produto de fatores endógenos. O criminoso louco abrange não só o alienado, como também os “matóides”, ou indivíduos que se situam numa faixa intermediária entre a sanidade e a insanidade psíquica. O criminoso habitual é o típico produto dos fatores exógenos. Em regra, inicia sua carreira de criminoso bem precoce, por delitos de pouca gravidade. Ao cumprir penas de curta duração, começa a se perverter. Reincide genérica ou especificamente, passando de delitos de pouca monta para os mais graves do Código Penal. O criminoso ocasional é o que delinque impelido pela ocasião, criada por diversos fatores, como a miséria, o espírito de imitação, o sentimento de segurança da impunidade, etc. A fraqueza de espirito pode criar condições favoráveis ao crime. São indivíduos readaptáveis, sendo que as sanções repressivas e as medidas preventivas com que se ocupa o Direitto punitivo respondem a esse desiderato. O criminoso passional é o indivíduo de sensibilidade exagerada e de temperamento sanguíneo ou nervoso. Apresenta características de epileptoide ou sinais de desequilíbrio, mas é, em regra, honesto. Seus traços fisionômicos são normais e até belos. Seu crime, em regra, ocorre na juventude, sob insopitável tempestade psíquica. Atua sem premeditação e confessa amplamente o crime, do qual se arrepende, a ponto de se suicidar ou tentar fazê-lo. Classificando as paixões em sociais e anti-sociais, o eminente representante do Positivismo Penal preconiza brando tratamento penal os crimes impelidos por aquelas. São paixões sociais “as que normalmente têm a função de favorecer e cimentar a vida social e fraterna, e somente por uma aberração momentânea, acompanhada ou não de verdadeiro desequilíbrio psicopatológico, podem conduzir aos excessos do crime”, tais como, o amor, a honra, a paixão política. São paixões anti- socias “as que tendem a desagregar as condições normais da vida humana, individual e coletiva, segundo as exigências da solidariedade”, como a vingança , a cobiça, o ódio. Otelo, famoso homicida shakespeareano, é classificado por Ferri como criminoso passional (“Criminosos na Arte e na Literatura”). Para Lombroso, o crime passional representa apenas 5% da criminalidade geral. Em suma: Para Ferri, o delito é um fenômeno social, em cuja gênese interferem simultaneamente duas ordens de fatores: as condições individuais do criminoso e as do meio e físico e social em que este nasce, vive e atua. “É preciso estudar o delito, ensina Ferri, mas no delinquente”. Nesta assertiva consubstanciava a doutrina da individualização do crime, sustentada pelo positivismo penal. Depois de quarenta anos de exercício da cátedra, publicou, em 1928, seus “Princípios de Direito Criminal”, “exposição doutrinaria de um sistema jurídico-penal segundo as idéias fundamentais da escola” (Anibal Bruno, op. cit.,pág. 103), verdadeira sistematização técnica dos postulados da Escola Positiva. Foi seu último livro, que, aliás, ficou incompleto. No campo das realizações práticas, fundou e dirigiu a revista “Scuola Positiva” e procurou dar configuração legislativa a suas concepções, elaborando seu projeto de Código Penal da Itália, em 1921, como Presidente da Comissão de que faziam parte Garofalo, Florian, Berenini, Ottolenghi e outros, sendo secretários Grispigni, Ricci, Santoro etc. Como assinala Bettiol, Ferri não foi jurista no sentido moderno da palavra, mas estudioso que interpretou os problemas do Direito Penal, em vista de determinada razão política: socialista: (“Em tema de relações entre a Política e o Direito”, in “Estudos de Direito e Processo Penal em Homenagem a Nélson Hungria”, pág.85).
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