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Resumo do Cap 8 e 9 - Fundamentos de História do Direito - Wolkmer

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1.5 – CAPÍTULO 8 – A Institucionalização da Dogmática Jurídico
 
       Canônico Medieval
 
 
 
 A Idade Média e o Vínculo Feudal como Instrumento de Dominação através da
     Autoridade
 
         “Foi a partir da derrocada do Império Romano que a Idade Média se desenvolveu economicamente e encontrou fundamentação para justificar socialmente seu discurso de poder.”. Naquela época, dois foram os fenômenos que abalaram a harmonia romana: o modo de produção escravocrata, o qual deixava sem trabalho os homens livres, e o cristianismo como religião oficial, a qual estimulou o aparecimento de seitas  heréticas que traduziam o descontentamento da plebe com a política autoritária no baixo-império. “O acaso do Império Romano ocorreu, finalmente, com a invasão dos nórdicos à Europa central.” (p. 220).
 
         Nesse contexto, algo originado da junção de característica do regime escravocrata com o regime comunitário primitivo das tribos nórdicas fomentou um novo regime social: o regime feudal. “O responsável político pela junção desses dois modos de vida diferenciados foi a Igreja Católica Romana.” (p. 221).
 
         “O direito derivado da igreja servirá, desse modo, para a sedimentação do poder institucional através de fundamentações ‘racionais’ na interpretação da verdade. A razão será o instrumento total que permitirá à prática jurídica subjugar tanto os direitos paralelos, (...), quanto qualquer tipo de contestação expressa em interpretações ‘incompetentes’.” (p.222).
 
         Com isso, o fim das relações públicas entre indivíduo e Estado e a concentração progressiva da propriedade deram origem a relações de produção diferenciadas, organizadas através dos vínculos de subordinação pessoal, característica determinante em todo o período medieval. Além disso, as relações de origem germânica possibilitaram a existência dos feudos como estrutura econômica, jurídica, social, cultural, moral, e política da Idade Média. Por fim, Weber classificou esse tipo de relação senhor/vassalo de feudal.
 
         “Na Idade Média, o direito germânico foi utilizado, como instrumento privilegiado na resolução de conflitos (...). Assim, o processo penal germânico era uma espécie de continuação da luta entre ofendido e o acusado, uma ‘forma ritual de guerra’, que era utilizada substancialmente como método de produção e legitimação da verdade. (...) Como o objetivo aparente não era provar a verdade, e sim a influência social de quem participava da prova, geralmente o vencedor era o mais forte.” (p.224).
 
         O direito germânico trouxe o modelo que originou o laço social mais característico do feudalismo: o vínculo de autoridade baseado no carisma de um líder guerreiro. Embora a dominação carismática não possa ser classificada como um tipo puro de dominação, pode-se dizer que tal crença dará origem, no fim da Idade Média, à utilização do contrato como fundamento político da existência do Estado.
 
 A Igreja Católica Medieval e a Institucionalização do Direito Canônico como
 
     Prática Repressiva
 
         Constantino, com seu Edito de Milão, veio a favorecer o desenvolvimento da Igreja como autoridade religiosa e também temporal após o fim do Império Romano. A igreja era o maior latifundiário, logo estava comprometida com a defesa do feudalismo. “Assim, a Igreja veio a participar como grande senhor feudal (...).” (p.227).
 
         “A partir do século V a Igreja Católica começa um longo e colossal trabalho para unificar na fé cristã todos os recantos da Europa (...)” (p. 227). Além da implantação de mosteiros, figuras como Santo Agostinho foram muito importantes na pregação da fé.
 
         Na Idade Média, nota-se uma verdadeira confusão de legislações, observava-se uma progressiva condensação dos vários direitos, principalmente dos romano e germânico. Essa confusão consistia também na descentralização da justiça e os “diferenciados modos de resolução de litígios que envolviam a aplicação de leis pessoais [os quais] deram sobrevida ao direito romano no ocidente e foram gérmen de alguns princípios do direito internacional privado moderno.” (p. 228).
 
         À medida que crescia a influência da Igreja Católica, os tribunais seculares passaram a ser pressionados para julgar seus litígios a partir do direito canônico. “Os cânones são regras jurídico-sagradas que determinam de que modo devem ser interpretados e resolvidos os vários litígios. Mais que regras, são leis, isto é, são verdades reveladas por um ser superior, onipotente, e a desobediência, muito mais que uma infração, é um pecado. Os cânones são desígnios de Deus (...).” (p. 229).
 
         Estabelecida a legitimidade divina, a Igreja passou a considerar o antigo direito romano como legislação viva, a qual deveria ser interpretada por doutores abalizados pelo clero. Nessa época feudal, a Igreja passou a monopolizar a produção intelectual jurídica. Mais do que revelar a verdade, o jurista canônico externa a vontade política do poder eclesiástico.
 
          Por isso, “percebe-se que ao manifestar-se através do direito canônico, o poder político subtrai toda e qualquer aura de magia ou revelação divina presentes como caracteres tradicionais próprios, revelando que ambos não passam de simples mecanismo de dominação.“ (p. 230) “Pois é disso que se trata a transmissão regrada dos cânones, isto é, trata-se de uma ‘ciência’ universal e sacrossanta de imposição e transmissão do poder (...) ” (p. 231). Após duras críticas, a Igreja não aceita esses questionamentos e, com isso, mobiliza toda uma tecnologia repressiva para controlar os possíveis revoltosos, e essa tecnologia é o discurso jurídico canônico materializado na Santa Inquisição.
 
 
         Alerta Pierre Legendre que o texto sistematizado e glosado na Idade Média se apresenta como discurso dogmático que busca construir o mito da verdade instaurando-se como censura da realidade. O direito canônico aparece, então, como saber sagrado, privilegiado e separado dos outros. Aparece como a premência de dizer o que é a verdade e, com isso, controlar a instituição da própria realidade. No entanto, o direito se realiza como e através de práticas e, com elas, constrói seu sentido de verdade.
 
 
 
1.6 – CAPÍTULO 9 – Aspectos Históricos, Políticos e Legais da Inquisição
 
         A Inquisição é um dos fatos históricos mais controvertidos entre os estudiosos do período em que ela se desenvolveu. Caracterizada como grande cruzada religiosa empreendida pela Igreja Católica contra os hereges e bruxas, a Inquisição ocorreu entre os séculos XV e XVII em toda a Europa Ocidental. No entanto, esse capítulo visa explicitar não o porquê, tampouco as causas desse fenômeno, mas sim as mudanças no direito penal da época.
 
 Aspectos históricos e políticos
 
         Com o Edito de Milão o cristianismo tornou-se a religião oficial do Estado. No entanto, foi no período da Baixa Idade Média que o poder eclesiástico atingiu seu apogeu. “Nesse período é que teve início a Inquisição, criada para combater toda e qualquer forma de contestação aos dogmas da Igreja Católica.” (p. 241).
 
         O Termo heresia seria qualquer ação contrária ao que havia sido determinado pela Igreja, sendo os hereges identificados, julgados e condenados. “Essa tarefa (...), já se encontrava dividida em Tribunais Eclesiásticos e Tribunais Seculares.” (p. 241).
 
         Em ambos os tipos de tribunais o sujeito era aprisionado, mesmo por meros boatos, interrogado, pressionado e condenado. Variando conforme a gravidade do crime, a condenação variava de trabalhos nos navios até a morte na fogueira, sempre acompanhada do confisco dos bens.
 
         “A Inquisição Medieval penetrou em vários países da Europa Ocidental (...), mas foi na época Moderna que ela atingiu seu apogeu (...)”. (p. 242). Inicialmente criada pela Igreja para combater as heresias, a Inquisição, em sua versão moderna, além de mais violento, tornou-se objeto de perseguição utilizado pelos nobres contra os que ameaçavam seu poder.Aspectos legais:
 
         Na época, o direito canônico era um dos únicos redigido, analisado e comentado, por isso sua influencia estendeu-se até aos leigos. Em matéria penal, os Tribunais Eclesiásticos processariam e julgariam todas as pessoas que praticassem alguma infração contra a religião, católico ou não. “Em virtude das relações entre Igreja e Estado, o poder da Igreja acabou refletindo-se sobremaneira nos princípios da lógica de ordenação do direito laico. (...) Igreja e Estado uniram-se no combate à proliferação dos seguidores de Satã, que ameaçavam não somente o poder da Igreja, como o poder do soberano.” (p. 244).
 
O Processo Penal Acusatório
 
         O que realmente propiciou um julgamento intensivo dos hereges foi a mudança ocorrida no sistema penal. O período mais importante na formação dos direitos europeus foi a mudança de um sistema irracional para um racional, ou seja, a mudança do processo acusatório para o processo de inquisição.
 
         “No sistema acusatório, a ação só poderia ser desencadeada por uma pessoa privada (...) Se as provas apresentadas pelo acusados fosse inequívocas ou se o acusado admitisse sua culpa, o juiz decidiria contra ele. (...) Em caso de dúvida, a determinação da inocência era feita de moro irracional, recorrendo-se à intervenção divina para que fornecesse algum sinal contra ou a favor do acusado (...) A forma comumente utilizada era chamado ordálio.” (p. 245).
 
         Além de ordálios, eram freqüentes duelos judiciais e os processos de compargação, no qual ganhava quem obtivesse mais testemunhas sob julgamento. No entanto, esse sistema apresentava várias deficiências como: tornava os crimes ocultos difíceis de serem julgados, consistia num risco para a pessoa do acusar, que responderia um processo em caso de inocência do acusado, entre outros. 
 
O Processo por Inquérito
 
         “O processo por inquérito, que veio substituir o processo acusatório (...), alterou profundamente todo o sistema penal, atribuindo ao juízo humano um papel essencial, condicionado pelas regras racionais ao juízo humano um papel essencial, condicionado pelas regras racionais do direito.” (p. 246). As falhas do antigo sistema aliado à restauração do estudo do direito romano estimularam de forma fundamental a mudança do sistema penal. No entanto, foi a Igreja que influenciou e incentivou a adoção dos novos procedimentos nesse sistema.
 
         Com essa mudança, os ordálios ficaram proibidos, entretanto, essa proibição da Igreja não foi movida por motivos humanitários. Ocorreu principalmente pelo fato de que o novo sistema mostrava-se muito mais eficiente no combate aos crimes de heresia. “A iniciação do processo nesta modalidade facilitou não só o julgamento de todos os crimes, como demonstrou-se muito eficaz na caça aos hereges.” (p. 247).
 
         A oficialização de todas as etapas do processo judicial a partir da denúncia facilitou muito o processo. Agora o juiz já não era mais um arbítro imparcial que presidia um conflito a ser resolvido pelo sobrenatural, ao contrário, ele junto com os demais oficiais assumiam a investigação dos crimes e determinavam a culpabilidade ou não do réu. “As evidências do crime eram investigadas e avaliadas mediante regras formuladas, o que dava ao processo de inquérito o caráter de racionalidade.” (p. 248).
 
A Tortura
 
         “A enorme importância dada à confissão explica o meio utilizado pelos juízes e inquisitores para obtê-la: a tortura.” (p. 249). O argumento para o uso da tortura era o de que, quando uma pessoa fosse submetida ao sofrimento físico durante o interrogatório, inevitavelmente, confessaria a verdade. A tortura foi muito usada na época chegando a arrancar confissões em 95% dos casos.
 
A Condenação
 
“Após a confissão, vinha a condenação e, em seguida, a execução da pena.” (p. 251). Antes disso o condenado era obrigado a se confessar e pedir perdão à Deus na frente de todos. Posteriormente era levado para praça pública para ser queimado. Com a execução da pena os bens da pessoa eram todos confiscados.

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